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quarta-feira, 17 de junho de 2020

"VOLTA PRA MIM" "(...) SEMPRE DEPOIS DAS BRIGAS, NÓS NOS AMAMOS MUITO, DIA E NOITE A SÓS, O UNIVERSO ERA POUCO PRA NÓS. O QUE ACONTECEU PRA VOCÊ PARTIR ASSIM. SE TE FIZ ALGO ERRADO, PERDÃO! VOLTA PRA MIM". COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI. BANDA "ROUPA NOVA"

ENTRE QUATRO PAREDES

CAPÍTULO OITO
             A primeira noite em sua casa foi tranquila, assim Alana definiu sua volta para casa. Ela dormiu praticamente sentada, recostada em travesseiros, mas estava em casa e isso fazia toda a diferença. Saulo ficou no quarto das crianças, que ficava ao lado do quarto do casal; ele deveria permanecer longe de sua esposa.

          O médico pediu esse afastamento, para que ela pudesse se recuperar mais rapidamente. Estava muito fragilizada e não deveria ter contato com pessoas, que estiveram na rua. Em seguida frisou:

            - Se tiver uma recaída, será gravíssimo e até fatal.

            Vanda, de máscara e luvas, limpava o quarto enquanto a paciente tomava banho e, depois de ajuda-la, saia e só voltava para deixar a comida em uma banqueta, que ficava do lado de fora da porta. A comunicação com o mundo exterior se dava por ali, abria a porta, recolhia e depois devolvia; reclusão total.

           O marido deu a sua mulher uma bengala, que deveria bater na parede, toda vez que precisasse de alguma coisa, durante a noite. E, ela também poderia fazer uma chamada no celular. Saulo dormia encostado na parede, qualquer barulho ele pulava da cama.

         Alana tinha televisão, rádio, livros e notebook para se distrair, mas não sentia vontade de mexer com essas coisas, precisava dormir, sentia-se fraca. Os primeiros dias foram de repouso e recuperação alimentar, ela dormia a maior parte do tempo, fazendo uso de oxigênio.

           Depois de uma semana, ela já estava mais forte e passou a ver TV, abrir os e-mails e folear revistas. Tudo limpo e higienizado por Vanda, que dormia na casa desde que a patroa chegara. Estava à disposição da paciente, não saia na rua para nada. Saulo se encarregava de abastecer a casa e manter as contas em dia.

          No sábado, o marido apareceu com uma novidade, uma cartinha escrita pela filha mais velha e com beijos de batom das duas meninas. Poucas palavras, que continham uma mensagem de amor:

              -“Mamãe, fique boa logo, estamos com saudades. Nós a amamos. Beijos”

             Alana chorou, estava magoada com a vida, suas filhas estavam sofrendo e ela não poderia fazer nada. O marido ouviu os soluços e falou com ela no whatsApp por um longo tempo, depois ela adormeceu, a emoção fora grande.

           No dia seguinte, a convalescente percebeu que alguma coisa havia mudado dentro dela. Estava mais sentimental, chorona e carente. O isolamento a estava deprimindo e ela precisava fazer alguma coisa, para se livrar daqueles sentimentos depressivos. Precisava lutar para sair bem daquela provação e cuidar das suas filhas.

           Alana era uma moça formada em pedagogia, mas não exercia sua profissão. O casal estava com a situação financeira controlada e ela se dedicava aos cuidados da família. Era ativa frequentadora do clube de campo, onde levava as meninas para as diversas atividades, que havia no local. Tinha compromissos todos os dias, sua vida era cheia de amigos, festas e divertimentos.

           No entanto, pegou o famigerado vírus, que a jogou numa cama e impôs uma solidão forçada. A mulher sabia que tinha inteligência suficiente para mudar aquela situação, precisava reagir. Então, passou um dia inteiro pensando no que fazer para preencher o seu tempo ocioso.

           Quando viu uma reportagem sobre pacientes internados por Covid 19, na qual a família não tinha nenhuma informação efetiva do que se passava com eles, surgiu uma ideia. Iria fazer vídeos para contar como foi pegar o Coronavírus. Contaria detalhes de tudo que passou e também de sua recuperação. Pensava em ajudar pessoas e esclarecer fatos.

               Mandou uma mensagem para Saulo comprar um tripé e uma câmera profissional, para ela gravar seus vídeos. Iria aprender como mexer nos aparelhos e como montar um canal no youtuber. Estava empolgada, era assim que ela era, guerreira até o fim.

           O marido queria ajudá-la a superar o trauma da doença e se dispôs a facilitar o seu desejo. Conhecia uma pessoa que poderia criar um canal para sua esposa e orientá-la para se iniciar como youtuber.

             Na semana seguinte, o técnico com todos os apetrechos necessários foi levado à casa de Alana. Ela estava muito feliz e o acompanhou na instalação da câmera para os testes. Começava uma nova fase em sua vida.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 10 de junho de 2020

BANDA "ROUPA NOVA" "VOLTA PRA MIM" AMANHECI SOZINHO, NA CAMA UM VAZIO, MEU CORAÇÃO QUE SE FOI. SEM DIZER SE VOLTAVA DEPOIS. SOFRIMENTO MEU, NÃO VOU AGUENTAR. SE A MULHER QUE EU NASCI PRA VIVER, NÃO ME QUER MAIS" "(...).CANTORES: CONJUNTO "ROUPA NOVA" COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI"

UM DIA DE CADA VEZ

CAPÍTULO SETE
             Alana estava melhorando, mas era visível o cansaço que apresentava ao falar. O médico explicou, que o pulmão da paciente fora severamente comprometido e sua regeneração seria lenta. Poderia demorar meses, para ela voltar a viver normalmente.

                 O caso de Alana fora um dos mais graves acolhidos naquele hospital, então, deveriam ter paciência. Ela estava desenganada, quando reagiu inesperadamente; era um milagre estar viva. Falou e olhou para cima, queria agradecer a Deus.

             Depois, o médico continuou explicando, parecia comovido.

           - A paciente ainda ficará algum tempo no hospital. Precisa tomar antibióticos para combater a pneumonia e receber a fisioterapia respiratória e muscular. Suspirou e, por um momento, parecia pensar no que diria a seguir, depois prosseguiu:

               - Qualquer paciente que fica deitado por mais de quarenta e oito horas, começa a perder o tônus muscular. O corpo humano foi projetado para estar em constante movimento, se ficar parado perde a higidez física.

            - Assim, uma paciente que ficou por duas semanas internada e entubada por dez dias, necessita de fisioterapia passiva desde os primeiros dias, ou perderá a força muscular, que é tão necessária para sua recuperação.

           - No entanto, em tempos de pandemia é impossível atender a todos os pacientes com esses cuidados complementares. Focamos em mantê-los vivos e nem sempre obtemos êxito. Se sobrevivem, então pensamos em sua recuperação motora.

             Em seguida se afastou, havia muitos pacientes que precisavam dele.

            No dia seguinte, Saulo chegou para visitar sua esposa e a encontrou dormindo. Imediatamente ficou preocupado.

           - Será que ela piorou? Está pálida e respira dentro da máscara de oxigênio, parece enfraquecida. Com esses pensamentos o homem procurou a enfermeira.

              – O que está acontecendo? Alana piorou? Perguntou assustado.

            – Não, ela está debilitada, por isso precisa dormir bastante, para recuperar suas forças. Respondeu a mulher, prestativa. Depois continuou:

               - A paciente precisa de assistência especializada para se recuperar. Fisioterapia para fortalecer a musculatura e voltar a ter os movimentos dos membros ativos. No momento, ela não consegue ficar em pé ou pentear os cabelos.

            - A assistência aqui no hospital é a melhor possível, mas insuficiente. O senhor deverá contratar um profissional, para acompanha-la diariamente. Esperamos que reaja e tenha grandes progressos, uma vez que é jovem. A recuperação pode ser longa e demorada; Alana deverá viver um dia de cada vez.

Os dias foram passando e a paciente ganhando forças para se recuperar. O marido esteve ao seu lado no hospital, todos os dias, para lhe dar apoio e acompanhar sua recuperação. Quando completou vinte e cinco dias de internação, a moça recebeu alta.

  A situação era boa, mas carecia de acompanhamento, ela dava alguns passos dentro do quarto, usava um andador. Não tinha o equilíbrio suficiente para se manter em pé. Sabia que faltava muito, para voltar a ser o que era antes.

Saulo recebeu a notícia e ficou muito feliz. Saiu cedo para buscar sua esposa. Estava aguardando no corredor quando ela apareceu de cadeira de rodas; foi emocionante. Os funcionários, os enfermeiros e os médicos fizeram um cordão dos dois lados do corredor, enquanto ela passava, todos, batiam palmas e cantavam, para homenagear a paciente recuperada.

O marido chegou as lágrimas, sua esposa estava de volta para sua família. Intimamente agradeceu a Deus pela sua felicidade.  Chegando em casa, onde já estava tudo preparado para recebê-la e a Vanda a sua espera, Alana se emocionou.

Mais tarde, Saulo foi buscar as filhas para ver a mãe. Ficariam mais algum tempo com a tia, pois a mãe deveria descansar. O quarto fora adaptado com umidificador, oxigênio, bombinha para inibir a falta de ar e mais uma porção de remédios, que a paciente poderia precisar. Deveria permanecer isolada para sua proteção, pois estava enfraquecida e poderia piorar em contato com outras pessoas.

 As meninas viram a mãe da porta do quarto e depois voltaram para a casa da tia. A mãe falava com dificuldade e tossia entre as falas, cansava-se facilmente e sempre recorria à bombinha para asma. Ali, em sua casa começaria sua recuperação de vida, depois de uma quase morte.

Precisava fortalecer o corpo e alimentar a alma, que estava fragilizada, mas isso se daria batalhando um dia de cada vez.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

"CADA VOLTA É UM RECOMEÇO" "(...) COMO SE A SAUDADE FOSSE A COISA MAIS BANAL. E EU CHEGANDO SEMPRE COMO UM LOUCO, PRA DIZER QUE AMO VOCÊ. AMO VOCÊ, AMO VOCÊ, EU AMO VOCÊ, AMO VOCÊ". COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB VALLE/ NELSON DE MORAIS FILHO. CANTORES: ZEZÉ DI CAMARGO E LUCIANO


                 UM RAIO DE LUZ

                                             CAPÍTULO SEIS
          Saulo entrou rapidamente no hospital, precisava ver sua esposa viva, já não acreditava mais nessa possibilidade. Fora avisado de que ficaria apenas cinco minutos dentro do box, em que Alana se encontrava, era o semi intensivo. A paciente estava debilitada e precisava de descanso; não poderia falar, porque isso a deixava cansada.

         Depois de lavar as mãos, colocar máscara e avental, ele foi conduzido até o box vinte e três. Então, Saulo viu sua esposa por detrás da máscara de oxigênio. Ela sorriu para ele, que se derreteu em lágrimas. Alana estava de volta a vida. O marido ficou chorando, silenciosamente, em pé diante da cama da mulher.

         A paciente estava muito fragilizada, pálida, emagrecida, depois de estar internada durante treze dias, era fácil entender a situação atual. Alana ficara intubada durante dez dias e fora uma guerreira incessante, ou teria ficado pelo caminho, foi o que o médico disse para Saulo.

           Sua luta foi diária, lenta e constante, isso a fez continuar viva, era o que importava naquele momento. Estava em guerra contra um vírus invisível e ainda teria uma longa recuperação pela frente. De uma coisa Saulo tinha certeza, faria tudo que pudesse para que ela ficasse bem.

            O marido ficou algum tempo parado em frente a cama, custava a acreditar que sua esposa estava viva. Parecia uma menina no leito, estava menor e mais magra, apenas seus olhos grandes brilhavam como sempre.

           O homem, em sua solidão, tivera muitos pesadelos nos últimos dias e o pior deles fora a morte de Alana. As informações eram péssimas e ninguém deixava ele subir para ver sua esposa. Assim, sua imaginação corria solta para o pior lado possível. Mas, agora estava ali e precisava aproveitar para saber mais dela e lhe dar apoio.

             Então, ele se aproximou do leito e disse:

           -Nós a amamos, força meu amor; precisamos de você. E, novamente, duas lágrimas rolaram pelo seu rosto. A paciente não podia falar, estava com a máscara de oxigênio, então ela fez que sim com a cabeça.

             Em seguida, a enfermeira disse que ele deveria se retirar, Alana precisava descansar.

               Saulo não poderia se aproximar dela e lhe mandou um beijo de longe, ela sorriu e com a mão fez sinal de positivo. Depois foi saindo e olhando para trás, estava emocionado. Sentia-se mais tranquilo, mas algo o incomodava, ela estava muito fraca e uma ponta de preocupação o atormentava.

- Será que ela vai se recuperar? Parecia tão mal e eles disseram que ela estava melhor! Se agora estava assim, como estaria anteriormente? Com esses pensamentos ele se retirou, voltaria no dia seguinte.

                O homem foi dormir preocupado com a situação de sua mulher. Pela manhã, se levantou e adiantou todos os seus compromissos, para depois do almoço ir visitar Alana. Poderia ficar apenas por cinco minutos, mas seriam suficientes para perceber se ela estava melhor ou não.

                Entrou e foi até o box vinte e três e seu coração disparou quando viu sua mulher. Ela estava recostada nos travesseiros e com um aspecto bem mais animador, que o dia anterior. Ainda permanecia com oxigênio, mas respirava melhor. A enfermeira se aproximou e falou:

               - Ela está progredindo e se continuar assim, poderá ir para a enfermaria e dali para casa. Disse isso sorrindo e se afastou um pouco.

              Saulo agradeceu e sorriu para Alana, que fez um esforço e perguntou:  

                          - Como e onde estão as meninas?  E ele respondeu:

             - Estão com minha irmã, fique tranquila. Ele, então, teve certeza que ela estava se recuperando e tudo poderia voltar ao normal. Aquele fora um raio de luz na escuridão dos últimos dias.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 27 de maio de 2020

"CADA VOLTA É UM RECOMEÇO" "(...) NESSES DESENCONTROS EU INSISTO EM TE ENCONTRAR, COMO SE EU PARTISSE, JÁ PENSANDO EM VOLTAR. COMO SE NO FUNDO, EU NÃO PUDESSE EXISTIR SEM TER VOCÊ. TODA VEZ QUE VOLTO, EU TE VEJO SEMPRE IGUAL.(...)" COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB VALLE / NELSON DE MORAIS FILHO. CANTORES: ZEZÉ DI CAMARGO E LUCIANO

DIAS ESCUROS

CAPÍTULO CINCO
              O homem estava tão triste, que se jogou na cama sem jantar. No dia seguinte, acordou quando o Sol já estava alto, o cansaço e as emoções vividas o derrubaram. Levantou-se e procurou alguma coisa para comer. Depois saiu para comprar alimentos e máscaras; todos deveriam usar máscaras, ele ouviu na televisão. Saulo estava emocionalmente aniquilado.

             Ele sabia que deveria ficar em casa, mas estava tão ansioso, que não poderia ficar parado, esperando notícias sobre a saúde de sua mulher. Iria até o hospital e depois passaria no escritório, precisava trabalhar para ocupar sua mente.

                  No hospital, disseram que o boletim diário já havia saído, se quisesse poderia verificar no quadro da parede. Saulo se dirigiu até o painel e lá estava escrito:

            “Os pacientes, que se encontram internados na Unidade de Terapia Intensiva desse hospital (UTI), continuam com o mesmo quadro crítico. Não houve mudanças significativas no estado de saúde de nenhum deles”.

            Saulo sentiu uma dor no coração, sua esposa continuava lutando pela vida e ele não poderia fazer nada, nem mesmo vê-la. Voltou ao escritório, precisava trabalhar para mudar o foco, ou acabaria enlouquecendo. Ficaria em casa trabalhando, assim como seus colegas.

             A casa seria seu lugar de refúgio contra o Coronavírus, um lugar vazio de vida, que se tornara frio com a falta da mulher e das filhas. A foto da família na estante dava um toque de nostalgia na sala, onde podia-se observar a bagunça, já estabelecida na casa.

             Roupas jogadas por todos os lados, na pia da cozinha havia uma porção de louças sujas. Na mesa havia restos de pães, papéis espalhados e outros utensílios usados e o lixo transbordava. Naquele lugar faltava asseio.

          Saulo era um homem sem prendas domésticas e a falta de uma mão feminina era visível. Ele pensou em chamar a Vanda, mas ela estava de quarentena e ele teria que se virar sozinho.

           Lavou as louças, que estavam na pia e deixou escorrendo no apoiador. Pegou as roupas sujas e colocou na máquina de lavar. Seguiu o manual para colocar sabão, amaciante e a ligou a seguir. Olhando ao redor, ficou satisfeito, parecia ter melhorado o aspecto da residência.

             Quando ele se sentou em frente ao computador, a campainha tocou, era seu irmão mais velho, de nome Olavo. Ele soubera que a cunhada estava no hospital e queria ajudar o irmão, no que fosse preciso. Saulo chorou ao contar o ocorrido, não poderia perder sua esposa, ele e as meninas precisavam dela.

           Olavo foi comprar comida e os dois almoçaram juntos. A tarde passou rápido, o rapaz agradeceu a visita ao irmão, sentia-se menos angustiado. Trabalhou até tarde e quando o cansaço chegou, deitou e dormiu. Os dias pareciam se repetir, foram dez longos dias, todos parecidos.

             No décimo segundo dia, o rapaz recebeu a ligação de uma assistente social do hospital. Ele tremeu de medo e na mesma hora pensou:

              - Será que Alana morreu? Sua voz embargou, mas a notícia era boa.

             – Alana, sua esposa, teve uma melhora e hoje foi retirada do tubo que a ligava à máquina. Em dois ou três dias irá para o quarto, então poderá receber sua visita. A mulher falou e desligou em seguida.

            Ele caiu sentado no sofá, estava surpreso, já não tinha esperanças. Sua esposa estava melhorando e ele precisava contar para sua irmã, que cuidava de suas filhas. Saulo parecia uma criança, que ganhou um presente. Ligou para Vanda e pediu que assim que saísse da quarentena, viesse cuidar da casa para preparar a volta de sua esposa.

               O homem ficou elétrico, a vida estaria de volta naquela casa, em poucos dias. Foi ao escritório contar para seu chefe, que estava com esperanças para o retorno de Alana. Mais dois dias e a notícia tão esperada chegou, ele poderia visitar sua mulher.

           Tratou de se arrumar, passou em uma floricultura e comprou um maço de miosótis. São florezinhas pequenas e charmosas, que sua esposa gostava muito. Chegando na recepção do hospital, foi informado de que as flores ficariam ali mesmo, eram proibidas nos quartos. Saulo sorriu e disse:

           - Deixe-as aí, pois representam a recuperação do meu coração, que enfeitem esse lugar. Eu preciso da minha mulher.

            Em seguida entrou sorrindo, fazia muitos dias que aquele homem só chorava.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

            

quarta-feira, 20 de maio de 2020

"(...) MAS É PAIXÃO E ESSAS COISAS DE PAIXÃO, NÃO TEM EXPLICAÇÃO. É SIMPLESMENTE SE ENTREGAR, DEIXAR ACONTECER. EU SEMPRE ACABO ME ENVOLVENDO COM VOCÊ." "(...)"COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB / NELSON DE MORAIS FILHO. CANTORES: ZEZÉ DI CAMARGO E LUCIANO

      UM FIO DE ESPERANÇA

                               CAPÍTULO QUATRO
             O marido estava exausto, as notícias eram péssimas e seu coração estava escuro. Deprimido, ele deitou e dormiu um sono agitado, teve uma porção de pesadelos, estava ansioso demais para relaxar. Em meio a madrugada, ele se levantou, a cama parecia conter espinhos. Então, Saulo precisava de uma bebida quente e foi fazer um café, era a única coisa que dominava na cozinha.

            Levou o café amargo a boca e sentiu seu gosto ruim, na realidade ele não sabia fazer café, mais parecia um remédio. Sorveu aquele líquido, como se fosse uma xícara de fel e, entre caretas trocou suas roupas para sair. Precisava ir ao hospital para saber de Alana, não davam informação por telefone.

           Chegou cedo e ficou andando de um lado para outro, depois juntou-se a outras pessoas. Era um grupo que tinha parentes internados no hospital e também aguardava notícias. As pessoas se apresentavam nervosas e apreensivas, com medo das informações que iriam receber.

Passado algum tempo, que parecia uma eternidade, o médico apareceu acompanhado por dois colegas. Todos com semblante de preocupação e cansaço. Aproximaram-se do grupo e começaram a falar da situação calamitosa, que estavam vivendo.

Muitos pacientes graves e poucos respiradores, tornavam o trabalho deles penoso e pouco eficiente. Pareciam cansados da luta incessante contra um inimigo desconhecido e letal. Depois do desabafo, atenderam uma pessoa de cada vez, para dar notícias dos enfermos.

Um dos médicos se aproximou de Saulo, que aguardava ansioso para saber de Alana. Ele olhou com ternura para o homem, cuja mulher estava em uma situação muito ruim. Então ele disse:

- Alana foi colocada em um respirador, que vagou hoje, não dava para ela esperar mais. Agora está sedada e o aparelho a mantém viva.

Saulo queria perguntar mais sobre o estado de sua esposa, mas sua voz não saia, tinha um nó na garganta. O médico percebeu a emoção do rapaz e falou:

 - Tenha calma, sua esposa é jovem e poderá se recuperar, assim que a febre ceder e os remédios começarem a fazer efeito. Vá para sua casa e peça auxílio para Deus. Amanhã daremos novas notícias, estamos cuidando dela para você.

 Em seguida se afastou, carregava as esperanças de um homem aflito, em meio a enorme carga de responsabilidades, que acumulava naquele momento difícil. Fazia dias que ele não voltava para sua casa, tinha muito trabalho pela frente.

O marido saiu dali e foi respirar ar puro lá fora, parecia que iria sufocar. Precisava passar no escritório e avisar que não tinha condições para trabalhar. Parecia perdido, não conseguia se concentrar em nada. Ligou para sua irmã e perguntou das filhas, que estavam bem, para seu alívio.

No escritório, ele chorou, não pode se conter a tamanha carga de emoções, estava aniquilado. Recebeu o apoio dos colegas, que se preparavam para trabalhar em casa, pois deveriam fazer o isolamento social. Quanto a ele, se pudesse também poderia trabalhar em casa, assim que Alana melhorasse.

Saulo sentia-se perdido e entrou em uma igreja, precisava conversar com Deus. Ajoelhado diante do altar, expôs todo o seu temor de perder a mulher e pediu clemência. Apresentava-se com a alma desnudada, pedindo a cura de sua esposa. De seus olhos corriam lágrimas de dor, que iam morrer em sua boca, deixando um gosto salgado em seus lábios.

Depois, ele saiu dali e foi para casa, precisava tomar banho, sentia-se sujo. Levava no peito um fio de esperança, acreditava na ciência e sobretudo na oração feita com sinceridade.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 13 de maio de 2020

"CADA VOLTA É UM RECOMEÇO" "(...) QUE ME LEVE PELA VIDA O CORAÇÃO, COMO VERSOS PRA CANÇÃO. VOLTO PRA VOCÊ, VOLTO PELO AMOR. NÃO IMPORTA SE É UM SONHO PELO AVESSO. CADA VOLTA É UM RECOMEÇO. UO UO. "(...). COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB VALLE/ NELSON DE MORAIS FILHO. CANTORES: ZEZÉ DI CAMARGO E LUCIANO.

DOR DA ALMA

CAPÍTULO TRÊS
             As horas passaram rápido e Saulo sentiu fome, passava do meio dia, precisava voltar para sua casa. Olhou para o enorme prédio do hospital, parecia frio em sua aparência cinzenta e sentiu uma dor na alma. Havia muitas janelas em toda a extensão do segundo e terceiro andares e, ele ficava imaginando onde estaria sua mulher.

            Queria dar apoio a Alana, pegar em suas mãos, afagar seus cabelos e dizer que estava ali, para o que der e vier. Ela fora tirada do seu lado abruptamente; ele não tivera tempo de se despedir. O médico disse:

           - Suspeita de Covid 19 e rapidamente foi levada para o interior do prédio.

            Saulo não pudera acompanhar sua esposa no momento da internação, não permitiram por causa da pandemia estabelecida. Alana estava lá dentro em estado grave, ele precisava tentar, mais uma vez, entrar no hospital para vê-la.

                Foi até o balcão conversar com a recepcionista, tentou argumentar, mas encontrou uma barreira. A moça foi taxativa:

              - Ninguém entra no hospital, estamos em quarentena.

            E para reforçar a resposta da moça, havia dois guardas na porta de acesso, com caras de poucos amigos. Saulo estava tão debilitado física e mentalmente, que não teria forças para enfrentar um gato, quanto mais dois leões de chácara.

                 Desanimado, o homem saiu daquele lugar, apanhou seu veículo e ficou rodando pelas redondezas. Dos seus olhos corriam lágrimas de preocupação, seu mundo estava desmoronando. Voltou para casa e foi tomar banho, sentia-se sujo e contaminado, precisava se livrar daquela sensação ruim.

                 Depois do banho foi até a cozinha e comeu o resto do jantar do dia anterior. Em seguida se jogou na cama e adormeceu, queria esquecer os últimos acontecimentos. Aquilo tudo era um pesadelo e ele desejava ardentemente, acordar e retomar sua vida normalmente. Mas, o pesadelo era a sua realidade.

              Despertou com o celular tocando, eram seus amigos querendo notícias de Alana. No entanto, ele não queria falar a respeito e desligou o aparelho. Queria se esconder do mundo, estava muito triste, com um nó na garganta e não atenderia ninguém. Em seguida, ele chorou todas as lágrimas contidas, desde a noite anterior, queria sua família de volta.

A noite chegou e ele continuava deitado no sofá, no escuro. Queria saber de Alana, ela era forte e teria que resistir ao ataque do novo vírus.

- Mas, quem poderia garantir que ela iria resistir?

 Tentou, novamente, obter notícias, ligou para o hospital, outra recepcionista atendeu e disse:

 - Amanhã, as dez horas o médico irá dar um boletim sobre os pacientes com Coronavírus, é só o que podemos dizer. Em seguida desligou.

Saulo largou o telefone e respirou fundo, nada poderia fazer a não ser esperar. Em seguida caiu de joelhos, sua esperança estava em Deus. Orou, chorou, clamou, ficou ali por um longo tempo, depois seu coração se acalmou.

 O homem precisava saber o que estava acontecendo lá fora. Assim, ligou a televisão e as notícias eram sobre o novo vírus, que viera da China e estava assolando o mundo. Enquanto isso no hospital a situação era caótica.

Não havia suporte respiratório suficiente, para todos que estavam com falta de ar. Os médicos procuravam manter os pacientes em máscaras de oxigênio, com a esperança que melhorassem, sem a necessidade de depender da máquina, para se manter vivo.

Alana estava entre eles, mantinha um quadro grave de pneumonia, que não respondia aos medicamentos. A única esperança era de que seu corpo reagisse e ela melhorasse sem precisar ficar entubada.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

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