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quarta-feira, 27 de maio de 2020

"CADA VOLTA É UM RECOMEÇO" "(...) NESSES DESENCONTROS EU INSISTO EM TE ENCONTRAR, COMO SE EU PARTISSE, JÁ PENSANDO EM VOLTAR. COMO SE NO FUNDO, EU NÃO PUDESSE EXISTIR SEM TER VOCÊ. TODA VEZ QUE VOLTO, EU TE VEJO SEMPRE IGUAL.(...)" COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB VALLE / NELSON DE MORAIS FILHO. CANTORES: ZEZÉ DI CAMARGO E LUCIANO

DIAS ESCUROS

CAPÍTULO CINCO
              O homem estava tão triste, que se jogou na cama sem jantar. No dia seguinte, acordou quando o Sol já estava alto, o cansaço e as emoções vividas o derrubaram. Levantou-se e procurou alguma coisa para comer. Depois saiu para comprar alimentos e máscaras; todos deveriam usar máscaras, ele ouviu na televisão. Saulo estava emocionalmente aniquilado.

             Ele sabia que deveria ficar em casa, mas estava tão ansioso, que não poderia ficar parado, esperando notícias sobre a saúde de sua mulher. Iria até o hospital e depois passaria no escritório, precisava trabalhar para ocupar sua mente.

                  No hospital, disseram que o boletim diário já havia saído, se quisesse poderia verificar no quadro da parede. Saulo se dirigiu até o painel e lá estava escrito:

            “Os pacientes, que se encontram internados na Unidade de Terapia Intensiva desse hospital (UTI), continuam com o mesmo quadro crítico. Não houve mudanças significativas no estado de saúde de nenhum deles”.

            Saulo sentiu uma dor no coração, sua esposa continuava lutando pela vida e ele não poderia fazer nada, nem mesmo vê-la. Voltou ao escritório, precisava trabalhar para mudar o foco, ou acabaria enlouquecendo. Ficaria em casa trabalhando, assim como seus colegas.

             A casa seria seu lugar de refúgio contra o Coronavírus, um lugar vazio de vida, que se tornara frio com a falta da mulher e das filhas. A foto da família na estante dava um toque de nostalgia na sala, onde podia-se observar a bagunça, já estabelecida na casa.

             Roupas jogadas por todos os lados, na pia da cozinha havia uma porção de louças sujas. Na mesa havia restos de pães, papéis espalhados e outros utensílios usados e o lixo transbordava. Naquele lugar faltava asseio.

          Saulo era um homem sem prendas domésticas e a falta de uma mão feminina era visível. Ele pensou em chamar a Vanda, mas ela estava de quarentena e ele teria que se virar sozinho.

           Lavou as louças, que estavam na pia e deixou escorrendo no apoiador. Pegou as roupas sujas e colocou na máquina de lavar. Seguiu o manual para colocar sabão, amaciante e a ligou a seguir. Olhando ao redor, ficou satisfeito, parecia ter melhorado o aspecto da residência.

             Quando ele se sentou em frente ao computador, a campainha tocou, era seu irmão mais velho, de nome Olavo. Ele soubera que a cunhada estava no hospital e queria ajudar o irmão, no que fosse preciso. Saulo chorou ao contar o ocorrido, não poderia perder sua esposa, ele e as meninas precisavam dela.

           Olavo foi comprar comida e os dois almoçaram juntos. A tarde passou rápido, o rapaz agradeceu a visita ao irmão, sentia-se menos angustiado. Trabalhou até tarde e quando o cansaço chegou, deitou e dormiu. Os dias pareciam se repetir, foram dez longos dias, todos parecidos.

             No décimo segundo dia, o rapaz recebeu a ligação de uma assistente social do hospital. Ele tremeu de medo e na mesma hora pensou:

              - Será que Alana morreu? Sua voz embargou, mas a notícia era boa.

             – Alana, sua esposa, teve uma melhora e hoje foi retirada do tubo que a ligava à máquina. Em dois ou três dias irá para o quarto, então poderá receber sua visita. A mulher falou e desligou em seguida.

            Ele caiu sentado no sofá, estava surpreso, já não tinha esperanças. Sua esposa estava melhorando e ele precisava contar para sua irmã, que cuidava de suas filhas. Saulo parecia uma criança, que ganhou um presente. Ligou para Vanda e pediu que assim que saísse da quarentena, viesse cuidar da casa para preparar a volta de sua esposa.

               O homem ficou elétrico, a vida estaria de volta naquela casa, em poucos dias. Foi ao escritório contar para seu chefe, que estava com esperanças para o retorno de Alana. Mais dois dias e a notícia tão esperada chegou, ele poderia visitar sua mulher.

           Tratou de se arrumar, passou em uma floricultura e comprou um maço de miosótis. São florezinhas pequenas e charmosas, que sua esposa gostava muito. Chegando na recepção do hospital, foi informado de que as flores ficariam ali mesmo, eram proibidas nos quartos. Saulo sorriu e disse:

           - Deixe-as aí, pois representam a recuperação do meu coração, que enfeitem esse lugar. Eu preciso da minha mulher.

            Em seguida entrou sorrindo, fazia muitos dias que aquele homem só chorava.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

            

quarta-feira, 20 de maio de 2020

"(...) MAS É PAIXÃO E ESSAS COISAS DE PAIXÃO, NÃO TEM EXPLICAÇÃO. É SIMPLESMENTE SE ENTREGAR, DEIXAR ACONTECER. EU SEMPRE ACABO ME ENVOLVENDO COM VOCÊ." "(...)"COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB / NELSON DE MORAIS FILHO. CANTORES: ZEZÉ DI CAMARGO E LUCIANO

      UM FIO DE ESPERANÇA

                               CAPÍTULO QUATRO
             O marido estava exausto, as notícias eram péssimas e seu coração estava escuro. Deprimido, ele deitou e dormiu um sono agitado, teve uma porção de pesadelos, estava ansioso demais para relaxar. Em meio a madrugada, ele se levantou, a cama parecia conter espinhos. Então, Saulo precisava de uma bebida quente e foi fazer um café, era a única coisa que dominava na cozinha.

            Levou o café amargo a boca e sentiu seu gosto ruim, na realidade ele não sabia fazer café, mais parecia um remédio. Sorveu aquele líquido, como se fosse uma xícara de fel e, entre caretas trocou suas roupas para sair. Precisava ir ao hospital para saber de Alana, não davam informação por telefone.

           Chegou cedo e ficou andando de um lado para outro, depois juntou-se a outras pessoas. Era um grupo que tinha parentes internados no hospital e também aguardava notícias. As pessoas se apresentavam nervosas e apreensivas, com medo das informações que iriam receber.

Passado algum tempo, que parecia uma eternidade, o médico apareceu acompanhado por dois colegas. Todos com semblante de preocupação e cansaço. Aproximaram-se do grupo e começaram a falar da situação calamitosa, que estavam vivendo.

Muitos pacientes graves e poucos respiradores, tornavam o trabalho deles penoso e pouco eficiente. Pareciam cansados da luta incessante contra um inimigo desconhecido e letal. Depois do desabafo, atenderam uma pessoa de cada vez, para dar notícias dos enfermos.

Um dos médicos se aproximou de Saulo, que aguardava ansioso para saber de Alana. Ele olhou com ternura para o homem, cuja mulher estava em uma situação muito ruim. Então ele disse:

- Alana foi colocada em um respirador, que vagou hoje, não dava para ela esperar mais. Agora está sedada e o aparelho a mantém viva.

Saulo queria perguntar mais sobre o estado de sua esposa, mas sua voz não saia, tinha um nó na garganta. O médico percebeu a emoção do rapaz e falou:

 - Tenha calma, sua esposa é jovem e poderá se recuperar, assim que a febre ceder e os remédios começarem a fazer efeito. Vá para sua casa e peça auxílio para Deus. Amanhã daremos novas notícias, estamos cuidando dela para você.

 Em seguida se afastou, carregava as esperanças de um homem aflito, em meio a enorme carga de responsabilidades, que acumulava naquele momento difícil. Fazia dias que ele não voltava para sua casa, tinha muito trabalho pela frente.

O marido saiu dali e foi respirar ar puro lá fora, parecia que iria sufocar. Precisava passar no escritório e avisar que não tinha condições para trabalhar. Parecia perdido, não conseguia se concentrar em nada. Ligou para sua irmã e perguntou das filhas, que estavam bem, para seu alívio.

No escritório, ele chorou, não pode se conter a tamanha carga de emoções, estava aniquilado. Recebeu o apoio dos colegas, que se preparavam para trabalhar em casa, pois deveriam fazer o isolamento social. Quanto a ele, se pudesse também poderia trabalhar em casa, assim que Alana melhorasse.

Saulo sentia-se perdido e entrou em uma igreja, precisava conversar com Deus. Ajoelhado diante do altar, expôs todo o seu temor de perder a mulher e pediu clemência. Apresentava-se com a alma desnudada, pedindo a cura de sua esposa. De seus olhos corriam lágrimas de dor, que iam morrer em sua boca, deixando um gosto salgado em seus lábios.

Depois, ele saiu dali e foi para casa, precisava tomar banho, sentia-se sujo. Levava no peito um fio de esperança, acreditava na ciência e sobretudo na oração feita com sinceridade.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 13 de maio de 2020

"CADA VOLTA É UM RECOMEÇO" "(...) QUE ME LEVE PELA VIDA O CORAÇÃO, COMO VERSOS PRA CANÇÃO. VOLTO PRA VOCÊ, VOLTO PELO AMOR. NÃO IMPORTA SE É UM SONHO PELO AVESSO. CADA VOLTA É UM RECOMEÇO. UO UO. "(...). COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB VALLE/ NELSON DE MORAIS FILHO. CANTORES: ZEZÉ DI CAMARGO E LUCIANO.

DOR DA ALMA

CAPÍTULO TRÊS
             As horas passaram rápido e Saulo sentiu fome, passava do meio dia, precisava voltar para sua casa. Olhou para o enorme prédio do hospital, parecia frio em sua aparência cinzenta e sentiu uma dor na alma. Havia muitas janelas em toda a extensão do segundo e terceiro andares e, ele ficava imaginando onde estaria sua mulher.

            Queria dar apoio a Alana, pegar em suas mãos, afagar seus cabelos e dizer que estava ali, para o que der e vier. Ela fora tirada do seu lado abruptamente; ele não tivera tempo de se despedir. O médico disse:

           - Suspeita de Covid 19 e rapidamente foi levada para o interior do prédio.

            Saulo não pudera acompanhar sua esposa no momento da internação, não permitiram por causa da pandemia estabelecida. Alana estava lá dentro em estado grave, ele precisava tentar, mais uma vez, entrar no hospital para vê-la.

                Foi até o balcão conversar com a recepcionista, tentou argumentar, mas encontrou uma barreira. A moça foi taxativa:

              - Ninguém entra no hospital, estamos em quarentena.

            E para reforçar a resposta da moça, havia dois guardas na porta de acesso, com caras de poucos amigos. Saulo estava tão debilitado física e mentalmente, que não teria forças para enfrentar um gato, quanto mais dois leões de chácara.

                 Desanimado, o homem saiu daquele lugar, apanhou seu veículo e ficou rodando pelas redondezas. Dos seus olhos corriam lágrimas de preocupação, seu mundo estava desmoronando. Voltou para casa e foi tomar banho, sentia-se sujo e contaminado, precisava se livrar daquela sensação ruim.

                 Depois do banho foi até a cozinha e comeu o resto do jantar do dia anterior. Em seguida se jogou na cama e adormeceu, queria esquecer os últimos acontecimentos. Aquilo tudo era um pesadelo e ele desejava ardentemente, acordar e retomar sua vida normalmente. Mas, o pesadelo era a sua realidade.

              Despertou com o celular tocando, eram seus amigos querendo notícias de Alana. No entanto, ele não queria falar a respeito e desligou o aparelho. Queria se esconder do mundo, estava muito triste, com um nó na garganta e não atenderia ninguém. Em seguida, ele chorou todas as lágrimas contidas, desde a noite anterior, queria sua família de volta.

A noite chegou e ele continuava deitado no sofá, no escuro. Queria saber de Alana, ela era forte e teria que resistir ao ataque do novo vírus.

- Mas, quem poderia garantir que ela iria resistir?

 Tentou, novamente, obter notícias, ligou para o hospital, outra recepcionista atendeu e disse:

 - Amanhã, as dez horas o médico irá dar um boletim sobre os pacientes com Coronavírus, é só o que podemos dizer. Em seguida desligou.

Saulo largou o telefone e respirou fundo, nada poderia fazer a não ser esperar. Em seguida caiu de joelhos, sua esperança estava em Deus. Orou, chorou, clamou, ficou ali por um longo tempo, depois seu coração se acalmou.

 O homem precisava saber o que estava acontecendo lá fora. Assim, ligou a televisão e as notícias eram sobre o novo vírus, que viera da China e estava assolando o mundo. Enquanto isso no hospital a situação era caótica.

Não havia suporte respiratório suficiente, para todos que estavam com falta de ar. Os médicos procuravam manter os pacientes em máscaras de oxigênio, com a esperança que melhorassem, sem a necessidade de depender da máquina, para se manter vivo.

Alana estava entre eles, mantinha um quadro grave de pneumonia, que não respondia aos medicamentos. A única esperança era de que seu corpo reagisse e ela melhorasse sem precisar ficar entubada.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 6 de maio de 2020

"CADA VOLTA É UM RECOMEÇO" "(...) NESSES DESENCONTROS, EU INSISTO EM TE ENCONTRAR. COMO SE EU PARTISSE, JÁ PENSANDO EM VOLTAR. COMO SE NO FUNDO, EU NÃO PUDESSE EXISTIR SEM TER VOCÊ. TODA VEZ QUE VOLTO, EU TE VEJO SEMPRE IGUAL. COMO SE A SAUDADE FOSSE A COISA MAIS BANAL. E EU CHEGANDO SEMPRE COMO UM LOUCO, PRA DIZER QUE AMO VOCÊ, AMO VOCÊ" COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB VALLE/ NELSON DE MORAIS FILHO - CANTORES: ZEZÉ DI CAMARGO E LUCIANO

                                  ÁGUAS TURVAS

CAPÍTULO DOIS
              Saulo foi para sua casa e perguntou para Vanda, se tinha acontecido alguma coisa no dia anterior.

              – Não senhor, não aconteceu nada ontem. A moça respondeu com convicção.

              – Você se lembra se tinha alguém com gripe ou tosse, nos lugares em que vocês estiveram?  Perguntou o homem, estava nervoso. 

            - Não senhor, mas a semana passada quando fomos à manicure, havia uma moça, que estava esperando para ser atendida, com muita tosse e gripe. Vanda contou para seu patrão, havia se lembrado daquele fato.

              – Meu Deus, será que a pessoa estava com o Coronavírus? Como você não pegou nada? Perguntou Saulo para a colaboradora.

               – Eu estava do outro lado da sala, a senhora ficou conversando com ela, estavam bem perto uma da outra.

             - Alana ficou internada e terei que levar as meninas para minha irmã cuidar. O médico disse que temos que deixar as crianças longe daqui, até que passe o tempo da incubação em mim e em você, que tivemos contato com ela. São quatorze dias que devemos ficar em casa, longe de nossos familiares. Você ficará fora do serviço, até que passe esse prazo; está dispensada.

                Saulo pegou uma mochila, colocou roupas para as filhas e foi para a casa de sua irmã. Despediu-se no portão, em seguida dirigiu-se ao hospital, queria notícias de sua esposa.

              Ficou duas horas esperando para falar com o médico, que atendeu Alana e quando ele apareceu, as notícias não eram boas.

            - Sua esposa não está nada bem, estamos tentando tudo, para que ela não precise ser entubada. No entanto, a situação é grave, estamos coletando exames para chegar a um diagnóstico. O raio x indica comprometimento pulmonar. Por enquanto é só o que eu posso dizer e se afastou, tinha muita gente esperando por ele.

           Saulo ficou na portaria sem saber o que fazer, queria ver sua mulher, mas ninguém podia entrar no hospital. Estava instalada a maior pandemia já vista, no planeta terra. O homem saiu dali cabisbaixo, estava aniquilado, não sabia o que fazer.

               Havia um mal-estar geral na população com as últimas notícias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) havia decretado pandemia mundial de um novo vírus, descoberto na China e que ganhava proporções mundiais. Falava-se em isolamento social e ninguém sabia como seria o dia seguinte.

A cada nova notícia nos meios de comunicação, a população ficava mais atenta e temerosa. Falavam em mortes provocadas pelo vírus desconhecido e letal; as notícias eram terríveis. E, em consequência disso, providências austeras e temidas seriam instaladas. Corriam notícias que iriam fechar as estradas, o comércio, os cinemas, os teatros, os hotéis e que as pessoas teriam que ficar restritas em casa.

As crianças não poderiam ficar com seus avós, que eram o principal grupo de risco, que morriam rapidamente sob o ataque do novo vírus. 

No dia vinte de março, com a população de olhos pregados na tela da televisão, as autoridades, com ar solene, determinaram o fechamento das escolas, comércio e a proibição de qualquer atividade ou reunião de pessoas. Ninguém deveria sair de casa, somente em caso de extrema necessidade.

                A população, estarrecida, ouviu dos seus dirigentes aquelas palavras, como se fosse uma sentença de morte. Como seria dali para a frente? Essa pergunta martelava na cabeça da maioria das pessoas; era o isolamento social.

            Somente as farmácias e supermercados ficariam abertos. Estava decretado o medo na população mundial. Medo de morrer, medo de perder algum ente querido, medo de perder o emprego, medo de não ter dinheiro para as necessidades básicas, medo de passar fome, esses eram os sentimentos de todos.

               Saulo sentou-se num banco do jardim do hospital, estava sem rumo; precisava pensar. Não poderia perder sua mulher, agora se dava conta de quanto a amava.

              Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 29 de abril de 2020

"CADA VOLTA É UM RECOMEÇO" "MEU CORAÇÃO ESQUECE TUDO O QUE VOCÊ ME FEZ. E EU VOLTO PARA ESSE AMOR INSANO SEM PENSAR EM MIM. PRA RECOMEÇAR, JÁ SABENDO O FIM. MAS É PAIXÃO E ESSAS COISAS DE PAIXÃO, NÃO TEM EXPLICAÇÃO. É SIMPLESMENTE SE ENTREGAR, DEIXAR ACONTECER. EU SEMPRE ACABO ME ENVOLVENDO COM VOCÊ" COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB / NELSON DE MORAES FILHO. CANTORES: ZEZÉ DE CAMARGO E LUCIANO S

POR DETRÁS DA MÁSCARA

O CÉU ESCURECEU

CAPÍTULO UM.

             Alana saiu cedo de sua casa, tinha muitos planos para comemorar o aniversário de Saulo, seu marido. Estavam casados fazia dez anos, entre altos e baixos chegaram à uma união vitoriosa. Nos últimos tempos, estavam vivendo em harmonia e felizes.

            O casal tinha duas filhas, Rebeca e Raquel, nove e seis anos, duas meninas bonitas e cheias de vida.  As meninas davam cor aos seus dias, levando alegria e felicidade à casa. Valia a pena lutar por elas e manter a família unida, esse foi o consenso encontrado, para resolver seus problemas.   

            No sétimo ano, quase se separaram, havia muitos problemas de compatibilidade, mas o bom senso prevaleceu e continuaram juntos. Foram tempos difíceis, que conseguiram superar com boa vontade. Estavam vivendo uma nova lua de mel, cheia de atitudes de carinho e demonstração de amor, de ambas as partes.

          Era segunda-feira, no final da semana seria o aniversário de Saulo e Alana queria preparar uma surpresa para ele. Ela e Vanda, sua colaboradora, iriam ao mercadão central. Aquele era o melhor lugar da cidade onde moravam, para comprar ingredientes para um jantar especial, no sábado à noite.

              Seria uma reunião de amigos, que ambos gostavam e no domingo fariam um churrasco para a família. Tudo planejado nos mínimos detalhes. O casal gostava de receber os amigos, nas sextas-feiras à noite, já era rotina do grupo. Alana queria que no aniversário, ele tivesse sua comida preferida e os amigos para comemorar.

            As duas mulheres deixaram as crianças na escola e foram comprar os ingredientes necessários, para fazer uma Paella de frutos do mar. Saulo era descendente de espanhóis e sua mãe sempre fazia esse prato, muito apreciado por ele. Seria uma reunião regada a um bom vinho e queijos como petiscos. Depois do jantar, os casais, que eram quatro, iriam jogar baralho até tarde da noite.

               Com o auxílio de sua ajudante, Alana deixaria tudo limpo e pronto para o preparo do jantar no sábado. Andaram de banca em banca, escolhendo as melhores ofertas. Passaram a manhã toda fazendo compras e depois de um lanche no centro, voltaram para casa.

              O resto do dia foi dedicado a limpar e acondicionar os alimentos para congelar, assim ficariam tranquilas até o dia do jantar. Saulo chegou e Alana não disse nada, seria uma surpresa para o aniversário dele.

            À noite, a moça estava cansada e foi dormir cedo. Foi um sono conturbado, acordou no meio da noite, com muita dor na nuca. Sua cabeça latejava, parecia que tinha um coração pulsante dentro dela. A garganta raspava quando engolia e sentia um mal-estar generalizado. Alana pensou que estava ficando gripada.

               Levantou-se e foi tomar um analgésico na cozinha. Quando ficou em pé sentiu uma dor atrás dos olhos, que piorava ao andar. Tentou voltar para o quarto, mas sentiu tonturas e quase caiu; pensou que iria desmaiar.

            Cambaleando e com a visão turva, seguiu segurando nos batentes das portas, no entanto, ela não aguentou e escorregou até o chão. Ficaria ali esperando a tontura passar. Depois de algum tempo, ela tentou, mas não conseguiu se levantar. Sentia fraqueza nas pernas, a dor atrás dos olhos era terrível e surgiram as náuseas. Gemeu alto e chamou pelo marido.

               - Saulo, me ajuda por favor.

             O marido, que dormia, acordou assustado e levantou-se ao ver, que Alana não estava na cama. Nesse momento, ela gritou novamente, já estava chorando. Ele correu para ajudar sua esposa, que estava desesperada. O rapaz precisou usar a força para que ela se levantasse, em seguida a amparou até a cama.

               - O que houve? Ele perguntou assustado.

             - Não sei, estou me sentindo muito mal, parece que levei uma surra. A moça respondeu ao marido.

               Alana foi colocada na cama novamente, estava com muito frio, era febre. Saulo não sabia o que fazer, então ligou para o médico, que orientou usar antitérmicos e aguardar até o dia amanhecer. Se piorasse deveria procurar o hospital.

             O dia amanheceu e o casal estava aflito, a febre persistia e agora, além das náuseas, a moça sentia dores abdominais. Quando Vanda chegou para trabalhar, o casal foi para o hospital, era terça-feira, dia dezessete de março de dois mil e vinte.

             Quando chegaram ao hospital, ela teve uma crise de vômitos e diarreia. Em consequência do agravamento do quadro, ela foi internada, para investigação e posterior diagnóstico.

           O marido ficou olhando a maca sumir no corredor, levando sua mulher. Seu coração batia desesperadamente, queria acompanhar sua esposa, mas não permitiram. Estava começando a luta contra o Coronavirus e não podiam deixar entrar acompanhantes. Havia muitos casos suspeitos naquele momento.

               O rapaz foi abordado pela assistente social do hospital e recebeu as instruções para se proteger e também à sua família. Era o início de um pesadelo, parecia que o céu escureceu.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 22 de abril de 2020

"AMOR DE ALMA" VOCÊ ME DEU A MÃO, ME LEVOU PRA TÃO DISTANTE. TÃO DISTANTE DO SEU AMOR. PEDIU PRA NÃO SONHAR E PRA FICAR, FICAR DISTANTE. ENTÃO ME DIZ COMO. AQUELE NOSSO BEIJO, BEIJO DE AMOR. AMOR QUE NÃO SE FAZ POR AÍ. AMOR DE ALMA, AMOR QUE ACALMA". COMPOSITOR: VICTOR CHAVES. CANTORES: VICTOR E LÉO

EU QUERO COLO

CAPÍTULO DOZE
Alguns dias se passaram e nada mudou. Murilo sentia-se só, precisava ir até a casa de Lívia, queria ver seus filhos. Tomou banho, passou uma colônia, que ele sabia que sua esposa gostava e partiu rumo à sua família. Iria começar a provocação, para tentar reatar seu casamento.

Estava ansioso, sentia-se envergonhado e arrependido, ainda assim, teria que tentar reaver o amor de sua mulher. Seria difícil, mas faria tudo para voltar atrás e tentar apagar seus erros. Lívia estava resistente, não queria saber dele; andava quieta e introspectiva, o que o deixava preocupado.

Era sexta-feira à noite e ele foi visitar os filhos, iria se manter alheio à presença de sua mulher. Quem sabe assim, ela veria o homem que estava perdendo, era um jogo arriscado, mas Murilo teria que tentar tudo.

As crianças acolheram o pai com alegria, sentiam sua falta, pensavam que ele estava trabalhando longe de casa. Não percebiam a situação grave da separação dos pais. Lívia jamais colocaria os filhos contra Murilo, ele sempre fora um ótimo pai e marido também.

A mulher ficou sem jeito, não sabia onde ficar, se na sala junto deles, ou no quarto sozinha. Ainda guardava mágoa do marido, mas já conseguia olhar para ele sem ódio no coração. O pai ficou duas horas com as crianças, trouxera doces, chocolates e sorvetes. Os pequenos, depois de se fartarem, saíram para brincar e o casal ficou sozinho.

                Os dois estavam completamente sem saber como agir. Murilo tomou a iniciativa, tirou um maço de dinheiro do bolso e disse:

            - Aqui está o dinheiro para as despesas da casa e um extra para você comprar um presente para o seu aniversário, que será na semana que vem.

Lívia hesitou em pegar, mas precisava pagar as contas da casa, então suspirou e apanhou o dinheiro, que ele depositara sobre a mesinha da sala. Ficara surpresa por ele ter se lembrado do aniversário dela, que estava próximo. Em seguida, ela se levantou, estava desarmada e disse:

- Obrigada, vou comprar um vestido novo. E, saiu da sala com o dinheiro na mão, Murilo sempre fora generoso e ela foi verificar quanto havia ali.

                Ela ficou surpresa, era uma bela quantia em dinheiro. As crianças voltaram e o marido foi embora. A noite foi longa, a visita do marido mexera com ela. Lembrou-se das coisas boas que haviam passado juntos, depois chorou até pegar no sono. Murilo ainda estava vivo em seu coração, no entanto, ela estava ferida pela traição e nunca mais poderia confiar nele.

                Mais alguns dias se passaram e o aniversário de Lívia chegou. Já era noite e ele nem sequer telefonara para lhe desejar felicidades. Era o primeiro aniversário dela, que o marido não estava presente. Ela chorou, várias vezes, durante o dia, que foi difícil. As lembranças povoavam seus pensamentos e quando a noite caiu, ela sentiu-se abandonada.

                Já passava das vinte horas, quando um veículo parou em frente à sua casa. Ela foi ver quem era e seu coração disparou, era Murilo descendo do automóvel com algumas caixas nas mãos. E, com um largo sorriso, se aproximou dela. Em seguida, deu um beijo em sua face dizendo:

              - Parabéns querida, eu lhe desejo todas as felicidades do mundo, ao meu lado.

             Lívia ficou sem jeito, percebeu que ele insinuara uma volta para casa. Seu coração disparou, estava fragilizada e ele a surpreendeu com aquelas palavras.

           As crianças receberam o pai com muita alegria e todos foram abrir os pacotes. Lívia arrumou a mesa e com a família reunida, puderam cantar parabéns, foi um momento de paz. Murilo não tirava os olhos de sua mulher, que estava muito bonita, um pouco mais magra, mas atraente como sempre.

           Depois de recolher a louça na pia, foram para a sala. Sentaram-se no sofá, ficaram lado a lado e então, o marido a puxou para si e disse:

             - Bandeira branca, amor, eu quero colo. E, a beijou ardentemente.

            Lívia ficou mole em seus braços, aquele era o seu lugar, não poderia resistir mais. Murilo ficou até as crianças dormirem, então sua mulher disse:

              - Vem, vamos dormir, seu lugar é aqui.

              - Sim querida, eu te amo, me perdoa por favor.

                Dentro de um abraço, seguiram para o quarto. Era um recomeço, estavam felizes.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.