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quarta-feira, 1 de abril de 2020

"FIO DE CABELO" "(...) E HOJE, O QUE ENCONTREI ME DEIXOU MAIS TRISTE, UM PEDACINHO DELA QUE EXISTE, UM FIO DE CABELO NO MEU PALETÓ. LEMBREI DE TUDO ENTRE NÓS, DO AMOR VIVIDO. AQUELE FIO DE CABELO COMPRIDO JÁ ESTEVE GRUDADO EM NOSSO SUOR. (...)" COMPOSITORES: DARCI ROSSI/ MARCIANO. CANTORES: CHITÃOZINHO E CHORORÓ

VIVER A VIDA

CAPÍTULO NOVE
           A segunda-feira foi longa e angustiante, Lívia aguardou alguma notícia de Murilo, mas ele não deu sinal de vida. A noite chegou e ela foi dormir sem jantar. Chorou até pegar no sono, ainda não acreditava, que ele se esquecera da família por um rabo de saia; estava confusa, não sabia o que fazer. Mas, pelo menos ela e os filhos ficariam protegidos, pois, as fechaduras foram trocadas.

            Como esposa de Murilo sentia-se ofendida, pensava em ir até a oficina, fazer um escândalo e envergonhar o marido traidor. Em seguida, vinha no pensamento o seu amor próprio, não poderia se rebaixar ao nível dele, não queria envergonhar os filhos. Então, levou as crianças para a escola e na volta passou na Igreja, para desabafar com o padre Giovane.

             Foi acolhida com carinho e ouvida com olhos de bondade. Depois dessa conversa, ela sentiu-se aliviada, precisava recuperar seu amor próprio. Tomou banho, escolheu um vestido novo, que ganhara do marido, passou batom, perfume e calçou sandálias de salto alto, depois saiu para fazer compras no supermercado.

             Chamou o Uber, que chegou rapidamente e ela sentou-se no banco traseiro, com ares de rainha. Era assim que ela iria se comportar dali para a frente. Nunca mais iria chorar por um marido canalha, mostraria sua garra.

Demorou pouco mais de uma hora e quando virou a esquina, viu o automóvel de Murilo em frente à sua casa. Ele andava de um lado ao outro, parecia impaciente e quando a viu, ficou espantado. O Uber encostou e ela desceu do veículo com as compras nas mãos, parecia outra pessoa.

Certamente, ele estava pensando encontrar sua mulher inconformada com a situação, desmantelada e triste, mas, ela estava muito bonita e imponente. Os conselhos do padre lhe fizeram muito bem, erguer a cabeça e seguir em frente. Nunca esmorecer, confiar em Deus, sempre.

                 A sogra estava com o filho e explicou que o acompanhara para evitar atritos diante das crianças. Lívia foi buscar forças no fundo do seu coração, para enfrentar aquela situação. Murilo estava irado e perguntou:

                - Por que você trocou as fechaduras das portas?

                 - Porque sou uma mulher sozinha, com três crianças para cuidar e preciso de um mínimo de segurança. Fui abandonada pelo homem que me prometeu amor, segurança e fidelidade, agora vou cuidar da minha vida.

             O homem não acreditava no que estava acontecendo, estava tudo dando errado. Levou a mãe com ele, para não ter que aguentar as lamúrias da mulher, no entanto, ela estava arrumada demais, altiva e inacessível. Então, ele viu que a estava perdendo e perguntou:

              - O que você quer dizer com isso? Disse quase gritando.

             - Que vou arrumar um emprego e pedir o divórcio. É simples assim.

                 Murilo não avançou sobre ela, porque sua mãe estava ali e ela o segurou.

                 - Afinal, o que você quer aqui? Onde está a vagabunda da sua amante? Lívia conseguiu afrontá-lo.

                 O homem estava muito nervoso e entrou no veículo, em seguida, sua mãe sentou-se ao seu lado e, ele arrancou cantando pneus. Não podia acreditar no que ouvira. Ele não queria que os filhos ficassem na creche, Lívia não poderia trabalhar fora.

                 - Murilo, agora ela é uma mulher livre e fará o que quiser, daqui para a frente.

                - Você a abandonou e não pode fazer mais nada.

            Rosa disse pausadamente, para ele compreender o tamanho da atitude que tomara.

                 - Não pode ser, eu vou sustentar a casa e ela terá que ficar cuidando das crianças. Ele retrucou sem convicção, então, percebeu que perdera sua mulher.

                 - Lívia é uma mulher jovem, bonita, poderá trabalhar fora e também arrumar um namorado, pense nisso.

               A mãe falou olhando para o filho, que reagiu imediatamente.

                 - Nunca vou aceitar que outro homem crie os meus filhos. Eu mato essa mulher.

           Ele estava furioso, percebera que cometera um ato impensado. A mulher sorriu, conseguiu atingir os sentimentos do filho, que estava cego e iludido por outra mulher. E num quase sussurro ele disse:

           - Eu só queria viver a vida como ela é, não pensei na reação da minha mulher. Raquel me mostrou outro lado da vida, que muito me atraiu.

           Rosa podia sentir a raiva que exalava do filho. Ele precisava de um presta atenção e pôr a mão na consciência, antes que fosse tarde demais.

           Alguma coisa se quebrou dentro dele, precisava pensar em tudo o que estava acontecendo.  Lívia era a mãe de seus filhos e teria que se comportar como uma mulher de família. Ele não aguentaria ver Lívia com outro homem, disso ele tinha certeza.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 25 de março de 2020

""FIO DE CABELO" "QUANDO A GENTE AMA QUALQUER COISA SERVE PARA RELEMBRAR. UM VESTIDO VELHO DA MULHER AMADA TEM MUITO VALOR. AQUELE RESTINHO DO PERFUME DELA, QUE FICOU NO FRASCO SOBRE A PENTEADEIRA. MOSTRANDO QUE O QUARTO JÁ FOI CENÁRIO DE UM GRANDE AMOR." "(...)" COMPOSIÇÃO: DARCI ROSSI E MARCIANO. CANTORES: CHITÃOZINHO E CHORORÓ/

UMA FLOR MURCHA

CAPÍTULO OITO
A mulher virou-se na cama e sentiu falta de Murilo, nos últimos dez anos seu corpo esteve ali, junto dela. O travesseiro, que mantinha o cheiro característico do marido, continuava ao lado do seu. Aquele odor misturado de shampoo e suor, que muitas vezes a incomodou, era a lembrança viva do seu amor. Agora parecia um perfume, que ela abraçava entre lágrimas.

           - Onde será que ele dormiu? Terá ido diretamente para a casa de Raquel? Será que fizeram amor, rindo de mim?

            Essas perguntas bailavam em sua mente. Sentou-se na cama, precisava levantar-se e verificar como estavam as crianças. Fez sua higiene pessoal chorando, olhava no espelho e via uma pessoa acabada. Estava sem a vivacidade costumeira, parecia ter envelhecido dez anos, na última noite.

             Lívia não levou as crianças para a escola, não queria ver ninguém. Sentia-se envergonhada, por ter perdido o marido para outra mulher. Passou o dia meio morta, levantava-se para atender as crianças, dar de comer ao cachorro, mas seu corpo pedia cama; estava aniquilada moral e fisicamente. De uma coisa ela tinha certeza, aquela história ninguém saberia de sua boca. Estava calada, vivendo o mais profundo luto da morte do seu casamento.

                    O final de semana chegou e ela continuava na mesma. Fazia três dias que o marido deixara sua casa. O telefone tocou várias vezes, porém, ela não atendeu. Lívia estava de mal com o mundo, não queria contato com ninguém, que estivesse fora de sua casa.

              Era domingo e já passava das dez horas da manhã, quando a campainha tocou, as crianças foram para a frente da casa. Em seguida, entraram correndo e gritando:
               - A vovó está chamando você, mamãe.

             Lívia se apressou a olhar pela janela, era sua sogra. Foi passar um pente no cabelo antes de abrir a porta, então percebeu, que estava envelhecida e desleixada. Entretanto, não havia tempo para se arrumar, a mãe de Murilo estava entrando, as crianças abriram o portão.

              - O que está acontecendo nesta casa? A mulher falou espantada, olhando a bagunça que havia ali, o que não era normal.

              - O seu filho nos abandonou por outra mulher. Lívia disse e começou a chorar.

          Rosa, a mãe de Murilo, tratou de abraçar a nora e confortá-la.

          - Vamos conversar, me conte tudo o que aconteceu, por favor.

        Entre soluços ela contou o motivo, pelo qual o marido havia ido embora. A velha senhora chorou junto com a nora; temia pelo futuro dos netos.

            - Nunca pensei ter que presenciar uma situação como essa. O que posso fazer para ajudar? 

           Lívia não soube responder, estava emocionada, gostava da sogra e via nela uma amiga. Fez almoço e todos comeram juntos, as crianças estavam felizes com a presença da avó. Rosa trouxe, também, um pouco de alívio para o coração da nora.

                    Depois do almoço, a sogra saiu dizendo que iria conversar com o filho; ele tinha obrigações a cumprir. A nora ficou olhando a mulher partir e sentiu vontade de reagir. Não poderia continuar naquela morbidade, em que se encontrava naquele momento. Sentia-se como se fosse uma flor murcha.

            Murilo tinha deixado para trás, muitas coisas importantes, inclusive documentos de uso pessoal. Na pressa de sair de casa, pegou a carteira e as roupas que estavam no guarda-roupas, mas havia outras peças no cesto de roupas sujas e na bancada para passar o ferro.

          No quartinho de despejo ficaram todas as suas ferramentas, as varas e apetrechos de pesca, além de acessórios do automóvel. Quase tudo que havia naquele lugar era de Murilo, apenas as vassouras e produtos de limpeza pertenciam à sua mulher. Então, era apenas uma questão de tempo para ele voltar e pegar suas coisas.

             Lívia respirou fundo, estaria ali quando ele voltasse. Assim, teria com seu marido a conversa mais importante de suas vidas. Ele poderia ficar com sua amante, mas teria que arcar com todas as responsabilidades, que tinha com os filhos.

            A primeira providência a ser tomada, seria trocar as fechaduras das portas de entrada, desse modo ela não teria nenhuma surpresa. Ela tinha uma quantia de dinheiro em casa, Murilo era generoso e nunca deixava faltar nada. Dessa maneira, ela poderia chamar o chaveiro e quando ele voltasse, teria que tocar a campainha.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

domingo, 22 de março de 2020

"A NOITE DO MEU BEM" "(...) HOJE EU QUERO O AMOR, O AMOR MAIS PROFUNDO. EU QUERO TODA A BELEZA DO MUNDO, PARA ENFEITAR A NOITE DO MEU BEM. AI, COMO ESSE BEM DEMOROU A CHEGAR. EU JÁ NEM SEI SE TEREI NO OLHAR, TODA A TERNURA QUE EU QUERO LHE DAR." CANTORA E COMPOSITORA DOLORES DURAN

OLHOS NOS OLHOS

CAPÍTULO SETE
              Lívia teve o dia todo para deglutir aquela história, que embrulhava seu estômago. Não almoçou e mal conseguiu tomar um gole de café, alguma coisa estava entalada em sua garganta. Só conseguia pensar na mulher, que era a responsável por tudo aquilo. Agora, ela sabia o nome, que seu marido devia balbuciar nos ouvidos dela.

             Chorou algumas vezes ao se lembrar de momentos felizes e, da cumplicidade que ambos tinham. O amor jurado no altar, reafirmado a cada aniversário e demonstrado quando os filhos nasceram, estava agonizando. Ela era uma mulher tranquila, tinha certeza do amor do marido. E, o seu mundo desmoronou tão rapidamente, que ela custava a acreditar.

            Completou o curso de administração, mas nunca trabalhou fora de casa. Murilo não queria que os filhos ficassem em creches, preferia que sua esposa cuidasse deles. Assim, tinha tranquilidade para trabalhar, era o que ele costumava dizer.

            – Como farei para sobreviver sem o dinheiro de Murilo? Como farei para criar os meus filhos? Eram perguntas que dançavam em sua mente. Lívia não tinha nenhuma experiência no mercado de trabalho.

             - O que direi para minha família? Minha mãe já é idosa e poderá não resistir a uma notícia dessas.

             A mulher estava desesperada, não sabia como abordar o assunto com o marido. Precisava resolver aquela situação, ou não teria mais paz. Foi buscar as crianças na escola e se distraiu um pouco, no entanto, quando entrou em casa, sentiu que o problema continuava presente em sua vida. Teria que encontrar uma solução urgente, estava vivendo num inferno.

          Depois do jantar, as crianças foram dormir e a mulher ficou sozinha com o marido. Murilo sentou-se na sala e ligou a televisão, enquanto isso, Lívia arrumava a cozinha. Seus pensamentos fervilhavam, ela começou a suar, então respirou fundo e tomou um copo de água.

           Depois, ela foi juntar-se ao marido na sala, que estava assistindo o jornal da noite. Ele não percebeu o nervosismo dela, estava atento à televisão. Lívia sentou-se no sofá e ficou olhando fixamente para Murilo. Quando entrou o comercial, ele percebeu que ela estava diferente, então perguntou:

- Aconteceu alguma coisa? Por que está calada?

A mulher juntou toda sua coragem e perguntou:

 - Quem é Raquel?

O marido ficou pálido, como ela sabia de sua amante? Então, respondeu:
             
  - Que Raquel, não sei.

    Sua esposa levantou-se, estava muito nervosa e despejou tudo de uma vez:

- Uma morena que vi saindo com você da oficina, naquela noite que você disse, que faria serão até tarde.

 Murilo também se levantou, estava pálido e tentou se justificar.

– Era uma freguesa da oficina, onde você foi buscar essa informação?

- Eu vi com meus próprios olhos e vocês estavam de mãos dadas. Não tente negar, eu li as mensagens no seu celular.

 Ela disse isso e se afastou, estava com medo da reação dele. A mulher saiu da sala e ele foi atrás, agora era ele que queria conversar.

               A pegou pelos braços e forçou que se sentasse na cadeira da cozinha, então, em pé diante dela ele disse:

              - É verdade, estou apaixonado por Raquel, ela me dá a atenção e carinho, que já não encontro em você. Ainda estou nessa casa por amor aos meus filhos, senão já teria ido morar com ela.

               A mulher ficou enfurecida com as palavras dele e olhando olhos nos olhos vociferou:

            - Vai embora daqui agora, me deixa em paz. E começou a chorar.

           Com tanto barulho, as crianças acordaram, estavam assustadas. Lívia os levou de volta ao quarto e ficou lá até que se acalmassem. Isso demorou, mais ou menos, uma hora e meia. Até que, ela ouviu o automóvel de Murilo sair da garagem e arrancar acelerando. Olhou para as crianças que adormeceram novamente, então, ela foi verificar o que o marido havia feito, na ausência dela.

              Abriu o guarda-roupas e ele levara a maioria de suas coisas, a verdade era que ela fora abandonada, por causa de outra mulher. Não sabia o que fazer ou pensar, fechou as portas da casa e foi se deitar. Havia um silêncio estranho na casa, que a incomodava muito.

            O dia amanheceu e ela ainda estava acordada, pensando em tudo que havia acontecido. Estava só e com um sentimento de vazio, que inundara seu coração. Precisava arrumar forças para continuar.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 18 de março de 2020

"A NOITE DO MEU BEM" "(...)" "QUERO A ALEGRIA DE UM BARCO VOLTANDO, QUERO A TERNURA DE MÃOS SE ENCONTRANDO, PARA ENFEITAR A NOITE DE MEU BEM". "(...)" CANTORA E COMPOSITORA: DENISE DURAN

UM RIO DE LÁGRIMAS

CAPÍTULO SEIS
           Murilo dormiu tão rapidamente que o seu celular não apagou e Lívia conseguiu mantê-lo aberto. Sentada no sofá da sala, ela podia ver o marido e ouvir seu ronco. Sentiu pena dele, era um bom homem e muito trabalhador, mas ela teria que descobrir o que estava acontecendo. Por que o marido a estava traindo?

             -Serei eu a culpada? Onde foi que errei? Pensou e correu um filme em sua cabeça, no entanto, não se lembrou de nada significativo, para justificar a atitude dele.

             Abriu o Messenger, depois parou por um instante, hesitou em continuar.
   
             - Será que irei me arrepender de vasculhar a intimidade de Murilo?

            Fez o sinal da cruz e pediu perdão a Deus, mas teria que continuar, pois lembrou-se da moça, que vira rindo ao lado do pai de seus filhos, então, perdeu o pudor.

                 Os dois se tratavam por meu amor. A maioria das mensagens eram iniciadas por:
            -Oi, meu amor, como você está hoje?    
     
              E, prosseguiam com elogios e desejos de se encontrarem logo. A medida que ela avançava nas mensagens, seus olhos se enchiam de lágrimas e seu coração sangrava. Lívia custava a acreditar, que estava lendo as mensagens de seu marido, para outra mulher.

                  Havia promessas de Murilo para Raquel, de ficarem juntos. A certa altura, ele dizia que iria se divorciar, não amava mais sua mulher, que era ela. Naquele momento, Lívia levantou-se do sofá e abriu a porta, parecia sufocar, precisava de ar puro.

             Seu casamento estava acabado e ela tinha três filhos para criar. Sentiu vontade de mata-lo, iria dar uma paulada na cabeça dele enquanto dormia, assim, tudo aquilo estaria acabado. Pensou melhor, não gostava de ver sangue e poderia não ter força suficiente para mata-lo.

            Sendo assim, seria melhor envenená-lo.

            - Mas onde arrumaria o veneno? Não poderia sair por aí comprando veneno, chamaria a atenção das pessoas.  Quem sabe, uma ação mais rápida seria a solução.  

             - Um tiro no coração? Seria fácil, mas ela não tinha arma e não sabia atirar.

             Deu um longo suspiro, estava pronta para morrer, não conseguiria sobreviver com aquela traição. Sentia-se humilhada, impotente, desvalorizada pelo homem que ela amava.
           Entrou e foi ao banheiro lavar seu rosto, precisava pensar melhor.

          - Não seria fácil mata-lo e também, poderia ser presa.   
      
          - E as crianças? Ficariam sem pai e sem mãe. Não, não, isso não.

              Precisava tirar essas ideias da cabeça, então começou a rezar. Ajoelhada no tapete da sala, implorou a Deus um pouco de lucidez; ficou ali durante um longo tempo. Depois, cansada, esticou seu corpo no sofá e adormeceu.

                 Acordou com o despertador, era hora de se levantar. Correu e depositou o celular do marido, no lugar que ele deixara, depois entrou no banheiro. Olhou no espelho e viu que estava com a cara inchada de tanto chorar. Lavou o rosto com bastante água fria, precisava disfarçar que tinha conhecimento da traição do marido.

                 Murilo se levantou para trabalhar, parecia mais descansado e até se aproximou dela, para dar-lhe um beijo. Ela o repeliu, dizendo estar resfriada. Ele saiu e ela ficou com o maior problema de sua vida. Foi até o quarto das crianças e ficou olhando os filhos adormecidos, eram anjos e não tinham culpa da canalhice do pai.

                 O Sol brilhava lá fora, quando Lívia saiu para leva-los à escola, o que contrastava com seus sentimentos, que eram escuros e pesados. A vizinha passou por ela e acenou com a mão, todos pareciam alegres e tranquilos, mas ela tinha um nó na garganta. Aquele seria o dia mais importante de sua vida, teria que tomar uma decisão, que traria muitas consequências para todos.

          Entrou em uma igreja, precisava desabafar ou ficaria louca. Ajoelhada diante do ofertório e olhando fixamente para a vela, que estava acesa, rezou e pediu uma luz para Jesus de Nazaré. Ficou ali durante algum tempo, chorou um rio de lágrimas, estava muito emocionada.

       Quando Lívia se levantou, viu que havia alguém parado olhando para ela. Era o padre Giovane, um italiano de muita idade e olhar doce, que a chamou para conversar. Ouviu toda aquela história de mágoas e traições; deixou que ela desabafasse e então ele disse:

           - Minha filha, a traição é como um punhal na alma de quem foi traído, no entanto, é hora de você ter uma conversa sincera com seu marido. Depois, conforme a justificação dele, você tomará a atitude mais conveniente. E, sorrindo ele a abraçou, depois a conduziu até a porta da saída. Lívia respirou fundo e disse em voz alta:

               - Obrigada padre, o senhor tem razão, não dá para fugir dessa conversa. Depois, seguiu em frente, estava triste, mas sua alma estava mais leve.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 11 de março de 2020

"A NOITE DO MEU BEM" "HOJE, EU QUERO A ROSA MAIS LINDA QUE HOUVER, QUERO A PRIMEIRA ESTRELA QUE VIER, PARA ENFEITAR A NOITE DO MEU BEM. HOJE, EU QUERO PAZ DE CRIANÇA DORMINDO E O ABANDONO DE FLORES SE ABRINDO, PARA ENFEITAR A NOITE DO MEU BEM.(...) COMPOSITORA E CANTORA: DOLORES DURAN

ME ENGANA, QUE EU GOSTO.

CAPÍTULO CINCO
             A partir desse dia, Lívia abriu seus olhos e ouvidos, não tinha vocação para ser traída. Sentia que havia outra mulher entre ela e seu marido. Murilo estava estranho, tentava agir normalmente, mas não convencia. Mostrava-se preocupado com a aparência e estava usando perfumes para trabalhar. Ele sempre fora um homem simples e bastante desleixado, até a pouco tempo; a mudança era visível.

            Toda vez, que ela se encostava nele à noite, ele se retraia e inventava uma desculpa. A rejeição à esposa era sentida e magoava Lívia. O mecânico agradava os filhos, mas tratava a mulher com reservas; queria se esquivar de suas obrigações matrimoniais.

            Lívia estava atenta e alguns dias depois do carnaval, o marido avisou que iria chegar mais tarde, pois tinha muito serviço para entregar no dia seguinte. Ela deixou as crianças com a vizinha e pegou um táxi, para verificar a veracidade da situação. Quando chegou em frente à oficina, ela viu seu marido saindo com uma mulher, então, voltou para casa. Iria espera-lo para uma conversa.

            A amante de seu marido era uma morena bonita e vistosa, capaz de tirar qualquer homem de sua família. Saíram abraçados, estavam rindo e pareciam felizes. No entanto, ela não deixaria que isso acontecesse. As crianças precisavam do pai e, não seria qualquer uma, que estragaria sua vida.

Quando o automóvel adentrou à garagem, já passava das vinte e três horas. Era fato que Murilo estivera com sua amante durante, pelo menos, quatro horas. Lívia queimava de raiva por dentro, mas resolveu manter a calma. Respirou fundo e recebeu o marido com um beijo, o verdadeiro beijo de Judas.

 Percebeu que Murilo estava cheiroso, era loção de barba com perfume feminino. Se estivesse trabalhando, estaria fedendo a graxa e óleo, mas estava com a roupa de domingo e quando abria a boca, cheirava a cerveja.

- A farra, com certeza, fora muito intensa, mas, daria o troco. Concluiu a mulher traída.

Lívia correu para a cama e ficou esperando o marido, que demorava para se deitar, certamente, estava esperando ela dormir. Quando o relógio bateu meia noite, ele foi para o quarto. Chegou lentamente, para que ela não acordasse. Virou para o lado contrário e ficou quieto. Entretanto, sua mulher estava acordada e o agarrou exigindo dele, seu papel de homem.

 O homem gaguejou, tentou fugir dizendo estar cansado, porém não adiantou, sua mulher estava insaciável. Lívia não deixou o marido dormir, queria deixa-lo exausto. Passava das quatro horas da manhã, quando Murilo pode dormir, agora estava, realmente, cansado.

A esposa sentia-se vingada, ele teria que ser um super-homem, para aguentar o trabalho e duas mulheres em uma atividade intensa. Era o que ele merecia, estava enganando sua esposa descaradamente. Então, ele iria sentir na pele, quem era a mãe de seus filhos. Lívia era uma mulher pacata, mas se tornava uma guerreira, quando se tratava de defender sua família.

O relógio marcava sete horas da manhã e a esposa chacoalhou seu marido, para que se levantasse, era hora de trabalhar. Murilo resmungou, não iria trabalhar, pois estava muito cansado.

               - Você vai trabalhar de qualquer jeito, a oficina está com muito serviço e os funcionários estão esperando por você. A mulher foi taxativa.

               Murilo arregalou os olhos, nunca sua mulher falara daquela maneira durante todos aqueles anos de casamento. E, ela continuava em pé ao lado da cama. Então, o marido resolveu se levantar para ir trabalhar.

               Saiu da cama resmungando e foi para o banheiro, enquanto isso a mulher se mantinha em pé na porta. Começava o jogo duro e, o homem não teria saída, tinha que trabalhar e comparecer à noite com seus deveres matrimoniais.

Lívia começava a vasculhar as roupas do marido, precisava juntar provas para dar um xeque mate.

Naquela noite, Murilo chegou cedo em sua casa e depois do banho caiu na cama, estava muito cansado. Apagou a luz e deixou seu celular em cima do criado-mudo; depois se entregou a um sono profundo. Lívia pegou o celular e foi até a sala, iria vasculhar o aparelho. Tinha a certeza que descobriria os podres de Murilo.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 4 de março de 2020

"MÁSCARA NEGRA" "(...) FOI BOM TE VER OUTRA VEZ, TÁ FAZENDO UM ANO, FOI NO CARNAVAL QUE PASSOU, EU SOU AQUELE PIERROT, QUE TE ABRAÇOU, E TE BEIJOU, MEU AMOR. NA MESMA MÁSCARA NEGRA, QUE ESCONDE TEU ROSTO, EU QUERO MATAR A SAUDADE. VOU BEIJAR-TE AGORA, NÃO ME LEVE A MAL, HOJE É CARNAVAL" COMPOSITORES: HILDEBRANDO PEREIRA MATOS/ JOSÉ FLORES DE JESUS. CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA..

COM DOR NO CORAÇÃO

CAPÍTULO QUATRO
             O último componente da escola passou e o portão foi fechado. Todos se cumprimentaram, abraços aconteceram e lágrimas rolaram manchando os rostos, com a maquiagem derretida no calor do Rio de Janeiro. Pareciam eufóricos, fizeram uma boa apresentação e conseguiram chegar dentro do tempo permitido. Havia esperança de uma boa classificação e consequentemente, o afastamento do medo do rebaixamento. Enfim, havia felicidade em cada olhar.

                   Raquel, com seu adorno de cabeça nas mãos, olhou para os lados, procurava por Murilo, voltara à realidade. Ele tentava chegar até ela, mas havia uma multidão entre eles. Era um grande obstáculo humano e a moça não sabia para que lado ir, a última vez que vira o seu amor, ele estava acompanhando a bateria. Mas agora, em meio a um mar de gente, temia que ele tivesse ficado atrás do portão fechado.

              Cansada de tanto dançar, a moça sentou-se em um canto. Acomodou seu adorno em uma mureta, tirou as sandálias, que machucavam seus pés e aguardou a multidão se dispersar, com a certeza de que Murilo a encontraria. Depois de uns quarenta minutos, alguém bateu em seu ombro, era ele, que finalmente a encontrara.

             Sentou-se ao seu lado e enlaçou os seus ombros, puxando-a para junto de si. Em seguida, a beijou calorosamente, estavam matando as saudades. Alguém passou e assoviou, fazendo-os voltarem à vida; estavam no mundo dos sonhos. Perceberam que deveriam deixar o local e seguir para a casa de Raquel.

                   Ela morava em uma comunidade, bem no pé do morro. Lá, a rainha da bateria tomou banho para se livrar do suor, conseguido com uma hora de intensos passos de dança enaltecendo sua escola, em frente da bateria. Depois foram dormir abraçados, estavam felizes como se fossem recém-casados em lua de mel.

            Enquanto isso, sua esposa Lívia estava dormindo na casa de sua sogra, com seus três filhos. Nem por isso, Murilo sentia algum remorso pela traição, estava feliz nos braços de sua amante. Ele postergava as preocupações para a quarta-feira de cinzas, ainda teria três dias de folia pela frente.

            O mecânico vivia momentos de puro prazer na casa de sua amada. Á tarde, eles saiam para caminhar na praia, tomavam um banho de mar e voltavam para casa. O casal curtia o seu ninho de amor com intensos carinhos, depois jantavam e seguiam para o Sambódromo. Curtiam as outras escolas de samba até a madrugada, depois retornavam à casa de Raquel.

            Na segunda feira saíram mais cedo, iriam participar dos blocos de rua atrás do trio elétrico. Passearam, riram, brincaram e a noite terminaram tomando banho de mar. Quando chegaram em casa o Sol já estava nascendo.

            Murilo parecia outro homem, mais jovem e com um grande sorriso nos lábios. Sua vida com Lívia parecia ter ficado no passado, apenas sentia falta das crianças, que ele amava muito. Sua esposa era uma mulher insipida, fria e ele não sabia como se casara com ela. Parecia que Lívia não tinha nenhuma qualidade, apenas defeitos.

           – Eu estava cego ou fui vítima de algum despacho, para ter gostado daquela pedra de gelo. Era isso que ele repetia para si mesmo, tentando relevar seus atos falhos.

            – Raquel sim, é uma mulher de verdade, linda, carinhosa e topa qualquer parada. E assim, com essas afirmações, ele se iludia mais e mais.

             Tinha uma mulher fogosa na cama e disposta a compartilhar todos os seus desejos. Aquilo sim que era vida, o mecânico pensava todos os dias, mas a terça-feira estava acabando e, ele teria que voltar para sua família.

            Era um homem responsável, que tinha que trabalhar para pôr comida na mesa de sua casa. Raquel tinha uma pensão do marido morto e vivia sozinha na comunidade, então não se preocupava muito, com nada. E, agora estava apaixonada por Murilo, que retribuía com muito carinho. Estava feliz e não se importava com seu futuro.

O rapaz custou a se despedir, tinha uma dor no coração, mas o dever falava mais alto e ele se foi depois do jantar. Dali para Niterói era uma hora na estrada, que tinha muito trânsito. Chegou e sua família já estava à sua espera, a vida voltava a rotina.

Naquela noite, Lívia o abraçou e se recostou nele, que se virou dizendo estar cansado. Fugiu de seus carinhos, estava satisfeito com sua amante, precisava dormir.

Sua mulher aceitou conformada:

- A pescaria exigia muitas energias, era compreensível seu cansaço, embora ele não tivesse trazido nenhum peixe. Sua mulher concluiu, estava desconfiada.

Murilo se justificou, no dia seguinte, dizendo que pegaram poucos peixes e comeram a maioria.  Os peixes, que restaram, ficaram para os mais velhos do grupo. Ele não poderia exigir nada, apenas fora convidado a participar por Leonel, seu amigo.

 Lívia entendeu e não tocou mais no assunto, mas estranhou o fato, de ele estar limpo e perfumado. Porque nas outras vezes, que seu marido fora pescar, ele voltava sujo e fedendo a peixe. Agora, ela teria que manter seus olhos bem abertos, havia alguma coisa estranha no ar.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

MEU MUNDO REINVENTADO.

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