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domingo, 22 de março de 2020

"A NOITE DO MEU BEM" "(...) HOJE EU QUERO O AMOR, O AMOR MAIS PROFUNDO. EU QUERO TODA A BELEZA DO MUNDO, PARA ENFEITAR A NOITE DO MEU BEM. AI, COMO ESSE BEM DEMOROU A CHEGAR. EU JÁ NEM SEI SE TEREI NO OLHAR, TODA A TERNURA QUE EU QUERO LHE DAR." CANTORA E COMPOSITORA DOLORES DURAN

OLHOS NOS OLHOS

CAPÍTULO SETE
              Lívia teve o dia todo para deglutir aquela história, que embrulhava seu estômago. Não almoçou e mal conseguiu tomar um gole de café, alguma coisa estava entalada em sua garganta. Só conseguia pensar na mulher, que era a responsável por tudo aquilo. Agora, ela sabia o nome, que seu marido devia balbuciar nos ouvidos dela.

             Chorou algumas vezes ao se lembrar de momentos felizes e, da cumplicidade que ambos tinham. O amor jurado no altar, reafirmado a cada aniversário e demonstrado quando os filhos nasceram, estava agonizando. Ela era uma mulher tranquila, tinha certeza do amor do marido. E, o seu mundo desmoronou tão rapidamente, que ela custava a acreditar.

            Completou o curso de administração, mas nunca trabalhou fora de casa. Murilo não queria que os filhos ficassem em creches, preferia que sua esposa cuidasse deles. Assim, tinha tranquilidade para trabalhar, era o que ele costumava dizer.

            – Como farei para sobreviver sem o dinheiro de Murilo? Como farei para criar os meus filhos? Eram perguntas que dançavam em sua mente. Lívia não tinha nenhuma experiência no mercado de trabalho.

             - O que direi para minha família? Minha mãe já é idosa e poderá não resistir a uma notícia dessas.

             A mulher estava desesperada, não sabia como abordar o assunto com o marido. Precisava resolver aquela situação, ou não teria mais paz. Foi buscar as crianças na escola e se distraiu um pouco, no entanto, quando entrou em casa, sentiu que o problema continuava presente em sua vida. Teria que encontrar uma solução urgente, estava vivendo num inferno.

          Depois do jantar, as crianças foram dormir e a mulher ficou sozinha com o marido. Murilo sentou-se na sala e ligou a televisão, enquanto isso, Lívia arrumava a cozinha. Seus pensamentos fervilhavam, ela começou a suar, então respirou fundo e tomou um copo de água.

           Depois, ela foi juntar-se ao marido na sala, que estava assistindo o jornal da noite. Ele não percebeu o nervosismo dela, estava atento à televisão. Lívia sentou-se no sofá e ficou olhando fixamente para Murilo. Quando entrou o comercial, ele percebeu que ela estava diferente, então perguntou:

- Aconteceu alguma coisa? Por que está calada?

A mulher juntou toda sua coragem e perguntou:

 - Quem é Raquel?

O marido ficou pálido, como ela sabia de sua amante? Então, respondeu:
             
  - Que Raquel, não sei.

    Sua esposa levantou-se, estava muito nervosa e despejou tudo de uma vez:

- Uma morena que vi saindo com você da oficina, naquela noite que você disse, que faria serão até tarde.

 Murilo também se levantou, estava pálido e tentou se justificar.

– Era uma freguesa da oficina, onde você foi buscar essa informação?

- Eu vi com meus próprios olhos e vocês estavam de mãos dadas. Não tente negar, eu li as mensagens no seu celular.

 Ela disse isso e se afastou, estava com medo da reação dele. A mulher saiu da sala e ele foi atrás, agora era ele que queria conversar.

               A pegou pelos braços e forçou que se sentasse na cadeira da cozinha, então, em pé diante dela ele disse:

              - É verdade, estou apaixonado por Raquel, ela me dá a atenção e carinho, que já não encontro em você. Ainda estou nessa casa por amor aos meus filhos, senão já teria ido morar com ela.

               A mulher ficou enfurecida com as palavras dele e olhando olhos nos olhos vociferou:

            - Vai embora daqui agora, me deixa em paz. E começou a chorar.

           Com tanto barulho, as crianças acordaram, estavam assustadas. Lívia os levou de volta ao quarto e ficou lá até que se acalmassem. Isso demorou, mais ou menos, uma hora e meia. Até que, ela ouviu o automóvel de Murilo sair da garagem e arrancar acelerando. Olhou para as crianças que adormeceram novamente, então, ela foi verificar o que o marido havia feito, na ausência dela.

              Abriu o guarda-roupas e ele levara a maioria de suas coisas, a verdade era que ela fora abandonada, por causa de outra mulher. Não sabia o que fazer ou pensar, fechou as portas da casa e foi se deitar. Havia um silêncio estranho na casa, que a incomodava muito.

            O dia amanheceu e ela ainda estava acordada, pensando em tudo que havia acontecido. Estava só e com um sentimento de vazio, que inundara seu coração. Precisava arrumar forças para continuar.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 18 de março de 2020

"A NOITE DO MEU BEM" "(...)" "QUERO A ALEGRIA DE UM BARCO VOLTANDO, QUERO A TERNURA DE MÃOS SE ENCONTRANDO, PARA ENFEITAR A NOITE DE MEU BEM". "(...)" CANTORA E COMPOSITORA: DENISE DURAN

UM RIO DE LÁGRIMAS

CAPÍTULO SEIS
           Murilo dormiu tão rapidamente que o seu celular não apagou e Lívia conseguiu mantê-lo aberto. Sentada no sofá da sala, ela podia ver o marido e ouvir seu ronco. Sentiu pena dele, era um bom homem e muito trabalhador, mas ela teria que descobrir o que estava acontecendo. Por que o marido a estava traindo?

             -Serei eu a culpada? Onde foi que errei? Pensou e correu um filme em sua cabeça, no entanto, não se lembrou de nada significativo, para justificar a atitude dele.

             Abriu o Messenger, depois parou por um instante, hesitou em continuar.
   
             - Será que irei me arrepender de vasculhar a intimidade de Murilo?

            Fez o sinal da cruz e pediu perdão a Deus, mas teria que continuar, pois lembrou-se da moça, que vira rindo ao lado do pai de seus filhos, então, perdeu o pudor.

                 Os dois se tratavam por meu amor. A maioria das mensagens eram iniciadas por:
            -Oi, meu amor, como você está hoje?    
     
              E, prosseguiam com elogios e desejos de se encontrarem logo. A medida que ela avançava nas mensagens, seus olhos se enchiam de lágrimas e seu coração sangrava. Lívia custava a acreditar, que estava lendo as mensagens de seu marido, para outra mulher.

                  Havia promessas de Murilo para Raquel, de ficarem juntos. A certa altura, ele dizia que iria se divorciar, não amava mais sua mulher, que era ela. Naquele momento, Lívia levantou-se do sofá e abriu a porta, parecia sufocar, precisava de ar puro.

             Seu casamento estava acabado e ela tinha três filhos para criar. Sentiu vontade de mata-lo, iria dar uma paulada na cabeça dele enquanto dormia, assim, tudo aquilo estaria acabado. Pensou melhor, não gostava de ver sangue e poderia não ter força suficiente para mata-lo.

            Sendo assim, seria melhor envenená-lo.

            - Mas onde arrumaria o veneno? Não poderia sair por aí comprando veneno, chamaria a atenção das pessoas.  Quem sabe, uma ação mais rápida seria a solução.  

             - Um tiro no coração? Seria fácil, mas ela não tinha arma e não sabia atirar.

             Deu um longo suspiro, estava pronta para morrer, não conseguiria sobreviver com aquela traição. Sentia-se humilhada, impotente, desvalorizada pelo homem que ela amava.
           Entrou e foi ao banheiro lavar seu rosto, precisava pensar melhor.

          - Não seria fácil mata-lo e também, poderia ser presa.   
      
          - E as crianças? Ficariam sem pai e sem mãe. Não, não, isso não.

              Precisava tirar essas ideias da cabeça, então começou a rezar. Ajoelhada no tapete da sala, implorou a Deus um pouco de lucidez; ficou ali durante um longo tempo. Depois, cansada, esticou seu corpo no sofá e adormeceu.

                 Acordou com o despertador, era hora de se levantar. Correu e depositou o celular do marido, no lugar que ele deixara, depois entrou no banheiro. Olhou no espelho e viu que estava com a cara inchada de tanto chorar. Lavou o rosto com bastante água fria, precisava disfarçar que tinha conhecimento da traição do marido.

                 Murilo se levantou para trabalhar, parecia mais descansado e até se aproximou dela, para dar-lhe um beijo. Ela o repeliu, dizendo estar resfriada. Ele saiu e ela ficou com o maior problema de sua vida. Foi até o quarto das crianças e ficou olhando os filhos adormecidos, eram anjos e não tinham culpa da canalhice do pai.

                 O Sol brilhava lá fora, quando Lívia saiu para leva-los à escola, o que contrastava com seus sentimentos, que eram escuros e pesados. A vizinha passou por ela e acenou com a mão, todos pareciam alegres e tranquilos, mas ela tinha um nó na garganta. Aquele seria o dia mais importante de sua vida, teria que tomar uma decisão, que traria muitas consequências para todos.

          Entrou em uma igreja, precisava desabafar ou ficaria louca. Ajoelhada diante do ofertório e olhando fixamente para a vela, que estava acesa, rezou e pediu uma luz para Jesus de Nazaré. Ficou ali durante algum tempo, chorou um rio de lágrimas, estava muito emocionada.

       Quando Lívia se levantou, viu que havia alguém parado olhando para ela. Era o padre Giovane, um italiano de muita idade e olhar doce, que a chamou para conversar. Ouviu toda aquela história de mágoas e traições; deixou que ela desabafasse e então ele disse:

           - Minha filha, a traição é como um punhal na alma de quem foi traído, no entanto, é hora de você ter uma conversa sincera com seu marido. Depois, conforme a justificação dele, você tomará a atitude mais conveniente. E, sorrindo ele a abraçou, depois a conduziu até a porta da saída. Lívia respirou fundo e disse em voz alta:

               - Obrigada padre, o senhor tem razão, não dá para fugir dessa conversa. Depois, seguiu em frente, estava triste, mas sua alma estava mais leve.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 11 de março de 2020

"A NOITE DO MEU BEM" "HOJE, EU QUERO A ROSA MAIS LINDA QUE HOUVER, QUERO A PRIMEIRA ESTRELA QUE VIER, PARA ENFEITAR A NOITE DO MEU BEM. HOJE, EU QUERO PAZ DE CRIANÇA DORMINDO E O ABANDONO DE FLORES SE ABRINDO, PARA ENFEITAR A NOITE DO MEU BEM.(...) COMPOSITORA E CANTORA: DOLORES DURAN

ME ENGANA, QUE EU GOSTO.

CAPÍTULO CINCO
             A partir desse dia, Lívia abriu seus olhos e ouvidos, não tinha vocação para ser traída. Sentia que havia outra mulher entre ela e seu marido. Murilo estava estranho, tentava agir normalmente, mas não convencia. Mostrava-se preocupado com a aparência e estava usando perfumes para trabalhar. Ele sempre fora um homem simples e bastante desleixado, até a pouco tempo; a mudança era visível.

            Toda vez, que ela se encostava nele à noite, ele se retraia e inventava uma desculpa. A rejeição à esposa era sentida e magoava Lívia. O mecânico agradava os filhos, mas tratava a mulher com reservas; queria se esquivar de suas obrigações matrimoniais.

            Lívia estava atenta e alguns dias depois do carnaval, o marido avisou que iria chegar mais tarde, pois tinha muito serviço para entregar no dia seguinte. Ela deixou as crianças com a vizinha e pegou um táxi, para verificar a veracidade da situação. Quando chegou em frente à oficina, ela viu seu marido saindo com uma mulher, então, voltou para casa. Iria espera-lo para uma conversa.

            A amante de seu marido era uma morena bonita e vistosa, capaz de tirar qualquer homem de sua família. Saíram abraçados, estavam rindo e pareciam felizes. No entanto, ela não deixaria que isso acontecesse. As crianças precisavam do pai e, não seria qualquer uma, que estragaria sua vida.

Quando o automóvel adentrou à garagem, já passava das vinte e três horas. Era fato que Murilo estivera com sua amante durante, pelo menos, quatro horas. Lívia queimava de raiva por dentro, mas resolveu manter a calma. Respirou fundo e recebeu o marido com um beijo, o verdadeiro beijo de Judas.

 Percebeu que Murilo estava cheiroso, era loção de barba com perfume feminino. Se estivesse trabalhando, estaria fedendo a graxa e óleo, mas estava com a roupa de domingo e quando abria a boca, cheirava a cerveja.

- A farra, com certeza, fora muito intensa, mas, daria o troco. Concluiu a mulher traída.

Lívia correu para a cama e ficou esperando o marido, que demorava para se deitar, certamente, estava esperando ela dormir. Quando o relógio bateu meia noite, ele foi para o quarto. Chegou lentamente, para que ela não acordasse. Virou para o lado contrário e ficou quieto. Entretanto, sua mulher estava acordada e o agarrou exigindo dele, seu papel de homem.

 O homem gaguejou, tentou fugir dizendo estar cansado, porém não adiantou, sua mulher estava insaciável. Lívia não deixou o marido dormir, queria deixa-lo exausto. Passava das quatro horas da manhã, quando Murilo pode dormir, agora estava, realmente, cansado.

A esposa sentia-se vingada, ele teria que ser um super-homem, para aguentar o trabalho e duas mulheres em uma atividade intensa. Era o que ele merecia, estava enganando sua esposa descaradamente. Então, ele iria sentir na pele, quem era a mãe de seus filhos. Lívia era uma mulher pacata, mas se tornava uma guerreira, quando se tratava de defender sua família.

O relógio marcava sete horas da manhã e a esposa chacoalhou seu marido, para que se levantasse, era hora de trabalhar. Murilo resmungou, não iria trabalhar, pois estava muito cansado.

               - Você vai trabalhar de qualquer jeito, a oficina está com muito serviço e os funcionários estão esperando por você. A mulher foi taxativa.

               Murilo arregalou os olhos, nunca sua mulher falara daquela maneira durante todos aqueles anos de casamento. E, ela continuava em pé ao lado da cama. Então, o marido resolveu se levantar para ir trabalhar.

               Saiu da cama resmungando e foi para o banheiro, enquanto isso a mulher se mantinha em pé na porta. Começava o jogo duro e, o homem não teria saída, tinha que trabalhar e comparecer à noite com seus deveres matrimoniais.

Lívia começava a vasculhar as roupas do marido, precisava juntar provas para dar um xeque mate.

Naquela noite, Murilo chegou cedo em sua casa e depois do banho caiu na cama, estava muito cansado. Apagou a luz e deixou seu celular em cima do criado-mudo; depois se entregou a um sono profundo. Lívia pegou o celular e foi até a sala, iria vasculhar o aparelho. Tinha a certeza que descobriria os podres de Murilo.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 4 de março de 2020

"MÁSCARA NEGRA" "(...) FOI BOM TE VER OUTRA VEZ, TÁ FAZENDO UM ANO, FOI NO CARNAVAL QUE PASSOU, EU SOU AQUELE PIERROT, QUE TE ABRAÇOU, E TE BEIJOU, MEU AMOR. NA MESMA MÁSCARA NEGRA, QUE ESCONDE TEU ROSTO, EU QUERO MATAR A SAUDADE. VOU BEIJAR-TE AGORA, NÃO ME LEVE A MAL, HOJE É CARNAVAL" COMPOSITORES: HILDEBRANDO PEREIRA MATOS/ JOSÉ FLORES DE JESUS. CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA..

COM DOR NO CORAÇÃO

CAPÍTULO QUATRO
             O último componente da escola passou e o portão foi fechado. Todos se cumprimentaram, abraços aconteceram e lágrimas rolaram manchando os rostos, com a maquiagem derretida no calor do Rio de Janeiro. Pareciam eufóricos, fizeram uma boa apresentação e conseguiram chegar dentro do tempo permitido. Havia esperança de uma boa classificação e consequentemente, o afastamento do medo do rebaixamento. Enfim, havia felicidade em cada olhar.

                   Raquel, com seu adorno de cabeça nas mãos, olhou para os lados, procurava por Murilo, voltara à realidade. Ele tentava chegar até ela, mas havia uma multidão entre eles. Era um grande obstáculo humano e a moça não sabia para que lado ir, a última vez que vira o seu amor, ele estava acompanhando a bateria. Mas agora, em meio a um mar de gente, temia que ele tivesse ficado atrás do portão fechado.

              Cansada de tanto dançar, a moça sentou-se em um canto. Acomodou seu adorno em uma mureta, tirou as sandálias, que machucavam seus pés e aguardou a multidão se dispersar, com a certeza de que Murilo a encontraria. Depois de uns quarenta minutos, alguém bateu em seu ombro, era ele, que finalmente a encontrara.

             Sentou-se ao seu lado e enlaçou os seus ombros, puxando-a para junto de si. Em seguida, a beijou calorosamente, estavam matando as saudades. Alguém passou e assoviou, fazendo-os voltarem à vida; estavam no mundo dos sonhos. Perceberam que deveriam deixar o local e seguir para a casa de Raquel.

                   Ela morava em uma comunidade, bem no pé do morro. Lá, a rainha da bateria tomou banho para se livrar do suor, conseguido com uma hora de intensos passos de dança enaltecendo sua escola, em frente da bateria. Depois foram dormir abraçados, estavam felizes como se fossem recém-casados em lua de mel.

            Enquanto isso, sua esposa Lívia estava dormindo na casa de sua sogra, com seus três filhos. Nem por isso, Murilo sentia algum remorso pela traição, estava feliz nos braços de sua amante. Ele postergava as preocupações para a quarta-feira de cinzas, ainda teria três dias de folia pela frente.

            O mecânico vivia momentos de puro prazer na casa de sua amada. Á tarde, eles saiam para caminhar na praia, tomavam um banho de mar e voltavam para casa. O casal curtia o seu ninho de amor com intensos carinhos, depois jantavam e seguiam para o Sambódromo. Curtiam as outras escolas de samba até a madrugada, depois retornavam à casa de Raquel.

            Na segunda feira saíram mais cedo, iriam participar dos blocos de rua atrás do trio elétrico. Passearam, riram, brincaram e a noite terminaram tomando banho de mar. Quando chegaram em casa o Sol já estava nascendo.

            Murilo parecia outro homem, mais jovem e com um grande sorriso nos lábios. Sua vida com Lívia parecia ter ficado no passado, apenas sentia falta das crianças, que ele amava muito. Sua esposa era uma mulher insipida, fria e ele não sabia como se casara com ela. Parecia que Lívia não tinha nenhuma qualidade, apenas defeitos.

           – Eu estava cego ou fui vítima de algum despacho, para ter gostado daquela pedra de gelo. Era isso que ele repetia para si mesmo, tentando relevar seus atos falhos.

            – Raquel sim, é uma mulher de verdade, linda, carinhosa e topa qualquer parada. E assim, com essas afirmações, ele se iludia mais e mais.

             Tinha uma mulher fogosa na cama e disposta a compartilhar todos os seus desejos. Aquilo sim que era vida, o mecânico pensava todos os dias, mas a terça-feira estava acabando e, ele teria que voltar para sua família.

            Era um homem responsável, que tinha que trabalhar para pôr comida na mesa de sua casa. Raquel tinha uma pensão do marido morto e vivia sozinha na comunidade, então não se preocupava muito, com nada. E, agora estava apaixonada por Murilo, que retribuía com muito carinho. Estava feliz e não se importava com seu futuro.

O rapaz custou a se despedir, tinha uma dor no coração, mas o dever falava mais alto e ele se foi depois do jantar. Dali para Niterói era uma hora na estrada, que tinha muito trânsito. Chegou e sua família já estava à sua espera, a vida voltava a rotina.

Naquela noite, Lívia o abraçou e se recostou nele, que se virou dizendo estar cansado. Fugiu de seus carinhos, estava satisfeito com sua amante, precisava dormir.

Sua mulher aceitou conformada:

- A pescaria exigia muitas energias, era compreensível seu cansaço, embora ele não tivesse trazido nenhum peixe. Sua mulher concluiu, estava desconfiada.

Murilo se justificou, no dia seguinte, dizendo que pegaram poucos peixes e comeram a maioria.  Os peixes, que restaram, ficaram para os mais velhos do grupo. Ele não poderia exigir nada, apenas fora convidado a participar por Leonel, seu amigo.

 Lívia entendeu e não tocou mais no assunto, mas estranhou o fato, de ele estar limpo e perfumado. Porque nas outras vezes, que seu marido fora pescar, ele voltava sujo e fedendo a peixe. Agora, ela teria que manter seus olhos bem abertos, havia alguma coisa estranha no ar.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

"MÁSCARA NEGRA" "TANTO RISO. OH! QUANTA ALEGRIA, MAIS DE MIL PALHAÇOS NO SALÃO. ARLEQUIM ESTÁ CHORANDO PELO AMOR DA COLOMBINA, NO MEIO DA MULTIDÃO." (...). CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA. COMPOSITORES: HILDEBRANDO PEREIRA MATOS/ JOSÉ FLORES DE JESUS.:

NO MUNDO DAS FANTASIAS

CAPÍTULO TRÊS
           Murilo estava radiante com os últimos acontecimentos, saíra ileso da situação em que se encontrava. Leonel o salvou e agora ele estava livre para curtir o carnaval na Sapucaí. Vestido com uma bermuda branca, uma camisa florida e colar havaiano, estava pronto para se divertir.

           Adentrou o recinto e procurou um lugar na pista, do qual ele pudesse ver a evolução da bateria e encher seus olhos de orgulho. Ele estava feliz, por ter conquistado uma mulher tão bonita, sua musa do carnaval, Raquel. Iria acompanhar a bateria e sua amada, até a chegada na dispersão.

            Na verdade, Murilo estava muito apaixonado e não pensava mais em sua condição de homem casado e pai de família. A rainha da bateria era uma boa mulher, mas fora ferida pela vida e trazia no peito uma grande mágoa contra a sociedade.

             A morte de seu companheiro por bala perdida criou uma revolta dentro de seu coração.  E, ela não se importava se estava ou não ferindo outras pessoas. Encontrara em Murilo um bálsamo para suas feridas, era só o que ela buscava.

O tema da escola de samba era sobre as lendas da floresta amazônica e a música sugestiva, falava sobre fatos criados ou contados por nativos, que juravam serem verídicos. A bateria dava o tom para o puxador do samba e Raquel fazia evoluções na pista do Sambódromo.

A comissão de frente era formada por indígenas e o carro abre-alas trazia uma grande onça pintada, que rugia de tempos em tempos. A plateia aplaudia freneticamente a apresentação, que continha muitos efeitos especiais.

As letras do samba enalteciam a floresta e sua população de nativos, animais, aves e toda a vida ali existente. A evolução do tema da escola acontecia no esquema exigido, pelas regras estabelecidas anteriormente.

 Havia luzes piscando, névoas coloridas sendo lançadas na avenida e sons característicos de cada animal ou pássaro, que aparecia nos muitos carros alegóricos. As alas formadas por pessoas fantasiadas, com roupas alusivas ao tema escolhido, ficavam preenchendo os espaços entre os carros.

A bateria avançava atrás do carro abre-alas e Murilo a seguia com os olhos pregados em Raquel. Lá no fundo, ele acalentava a ideia de pedir para ela abandonar a escola de samba. Ele sentia-se aflito e ansioso ao vê-la rodopiar na pista, com tão pouca roupa; sentia ciúmes dela. Era sua mulher e ele acalentava uma fantasia, de abandonar Lívia e viver com Raquel.

Os carros alegóricos são distribuídos, estrategicamente, entre as alas, compondo o enredo em consonância com a letra da música tema. Os componentes do grupo, que dançam e cantam no chão da pista do Sambódromo, vestem as fantasias coloridas com as cores da escola, para fazer pano de fundo à história desenvolvida na avenida.

 Muitas pessoas seguem a música acompanhando a escola de samba. Em dado momento, a bateria entra em um bolsão de retirada e fica aguardando a evolução da escola, depois segue atrás, até a dispersão. Murilo ficou parado junto da bateria, apreciando Raquel em sua apresentação, estava vigiando o seu amor.

 Os juízes analisam os seguintes quesitos: bateria, samba-enredo, harmonia, evolução, conjunto, enredo, alegorias e adereços. Também serão contabilizadas as notas recebidas sobre as fantasias, desempenho da rainha da bateria, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeiras, além de observado o tempo do desfile, que deve ficar em torno de uma hora. Se o tempo for além do permitido, haverá penalização com perda de pontos.

Muitas alas são fixas e devem ser apresentadas conforme cronograma pré-estabelecido. As fantasias são elaboradas, ricas em enfeites, cores, plumas e pedrarias. Principalmente os destaques de cada carro alegórico, a rainha da bateria e os casais de porta-bandeiras. A comissão de frente deve surpreender o público, sempre, com inovações.

               A apresentação de cada escola deve se preparar para cumprir as regras e obrigatoriedades, que foram criadas para que a avaliação, seja o mais justa possível. A escola que menos erros apresentar, terá maiores chances de vencer e se tornar a campeã do ano em curso.

             Observando também, que deverá conquistar o público presente com sua beleza, desenvoltura e consistência no enredo. A escola que levanta o público, arrancando aplausos e elogios será, provavelmente, uma das primeiras colocadas.

            Podemos tomar como exemplo o casal de mestre-sala e porta-bandeiras. O mestre-sala não deve ficar de costas para sua companheira. Deve cortejá-la, rodopiar ao seu redor, dando a entender que é seu protetor. E, ela não pode deixar a bandeira se enrolar, mas mantê-la sempre aberta e altiva.

           Assim, em meio à multidão euforicamente agitada, o tempo passava e a apresentação da escola, a qual Raquel representava, chegava ao seu final.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

"BANDEIRA BRANCA, AMOR" (...) SAUDADE MAL DE AMOR, DE AMOR. SAUDADE DOR QUE DÓI DEMAIS. VEM MEU AMOR, BANDEIRA BRANCA EU PEÇO PAZ." CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA. COMPOSITOR: MAX NUNES

A PESCARIA

CAPÍTULO DOIS
           O dia já estava terminando e Murilo não conseguia pensar em nada, para ficar fora de sua casa naquela noite. Sua esposa iria desconfiar, se ele saísse na noite de carnaval. Ultimamente, Lívia estava tentando agradá-lo, parecia estar pressentindo alguma coisa.

             Permanecia acordada na maioria das noites e o marido era quem arrumava desculpas, para não fazer amor. A situação tornara-se estranha, fora invertida. Muitas vezes, Murilo voltava de encontros calorosos com a amante e não tinha energia para novos desempenhos. Sua mulher cobrava mais amor, mais carinho e ele justificava a falta, alegando cansaço por trabalho exaustivo.

           Raquel havia telefonado marcando um encontro na Sapucaí, depois do desfile da escola, que ela representava como a rainha da bateria. O amante não poderia dizer não, pois também queria estar presente no desfile e ver sua amada brilhar.

             O mecânico ficava alerta e seu coração disparava ao pensar, que sua deusa estaria exposta ao público. Precisava vigiar ou não teria sossego e, assim que acabasse a apresentação, ele queria estar na dispersão, esperando por ela.

Quando já estava perdendo as esperanças, apareceu um amigo, que fazia tempo ele não via. Leonel era uma boa pessoa, que o mecânico conhecia desde criança e sempre, quando aparecia, era para pedir dinheiro emprestado, que pagava religiosamente.

 Dessa vez, era para passar uns dias na fazenda de um conhecido, em Minas Gerais. Fazia parte de uma turma de pescadores, que tinham o intuito de descansar e fazer retiro no carnaval.

                Dentro da cabeça do mecânico acendeu uma luz, era a solução para o seu problema e poderia render pelos quatro dias de carnaval.

             – Sim, eu empresto o dinheiro em troca de um grande favor. E abriu um largo sorriso. Leonel ficou surpreso e disse:

            - Claro, o que você precisar, lhe devo muitos favores.

            Murilo tratou de fechar a oficina e no caminho foi detalhando, aquilo que o rapaz deveria fazer.

              – Vamos até a minha casa e você vai dizer para Lívia, que me convidou para passar o carnaval em um rancho de pescaria, em Minas Gerais.

                 Leonel ficou espantado e perguntou:

              - O que você vai fazer?

             - Descansar pescando com você e a turma, somente isso. Estou estressado de tanto trabalhar.

                Em seguida, deu uma piscada e Leonel entendeu, não deveria perguntar mais nada. Sua missão seria convencer a esposa do amigo, que ele precisava descansar pescando com os conhecidos.

                Chegaram a casa de Murilo e com a cara mais deslavada do mundo, os dois, encenaram o ato de pobres pescadores em retiro de carnaval. A mulher ficou contente, em saber que seu marido iria descansar durante o carnaval.

             - Ele está precisando, pois, ultimamente anda muito nervoso. Concluiu Lívia.

                 Murilo pediu para sua esposa arrumar as malas e as crianças, porque a deixaria na casa da mãe dela, enquanto ele estivesse fora. Todos ficaram felizes. Lívia queria visitar sua mãe e matar as saudades. A casa da sogra de Murilo ficava do outro lado da ponte rio Niterói, na cidade do mesmo nome. Não era muito longe, mas era longe o suficiente, para o rapaz sentir-se livre.

                Foi uma correria até Niterói, mas o mecânico estava feliz, com quatro dias de liberdade para se divertir ao lado da mulher amada. Estava apaixonado e parecia um colegial ansioso pelos carinhos, do objeto de seus desejos.

             Levou suas coisas para a oficina, pois não poderia voltar para sua casa. Os vizinhos poderiam vê-lo e contar para Lívia. Era melhor se precaver, não queria problemas com sua mulher.

           Quando Murilo voltou de Niterói para o Rio de Janeiro, já era tarde, onze horas da noite de sexta-feira de carnaval, mas ele ainda teria tempo para se arrumar e ir ao encontro de Raquel. A escola de samba que ela participava, seria a terceira a desfilar, daria tempo de aplaudi-la.

           Depois, a noite seria apenas uma criança, nos braços de sua rainha. Murilo estava muito feliz, agora era desfrutar de toda aquela euforia, que existia na Sapucaí.

            Assim, ele chegou no Sambódromo, o mundo mágico das fantasias; ali era o local onde apenas os sonhos mais loucos, eram permitidos.

                 Um texto de Eva Ibrahim Sousa
MEU MUNDO REINVENTADO.

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