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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

"EU NÃO EXISTO SEM VOCÊ" - "EU SEI E VOCÊ SABE, JÁ QUE A VIDA QUER ASSIM. QUE NADA NESSE MUNDO LEVARÁ VOCÊ DE MIM. EU SEI E VOCÊ SABE QUE A DISTÂNCIA NÃO EXISTE. QUE TODO GRANDE AMOR SÓ É BEM GRANDE SE FOR TRISTE. POR ISSO MEU AMOR NÃO TENHA MEDO DE SOFRER. QUE TODOS OS CAMINHOS ME ENCAMINHAM PRA VOCÊ". TOM JOBIM E VINÍCIUS DE MORAES

SAUDADES DE VOCÊ

CAPÍTULO CINCO
          Marília sentia uma profunda dor na alma; um sentimento triste e melancólico. A visão de seu marido na cama do hospital respirando com a ajuda de aparelhos, tinha o poder de desestabilizá-la emocionalmente. Precisava de ajuda espiritual, isto é, procurar auxílio dos céus. Saiu de sua casa com duas horas de antecedência do horário de visitas na UTI.

          Seu destino era a Igreja da Boa Morte, que ficava bem no alto do morro. Uma igreja onde havia relatos de muitos milagres recebidos e que tinha uma energia poderosa. Ela era católica, mas poucas vezes ia à missa, punha a culpa no trabalho da pizzaria. No entanto, sempre fazia suas orações.

         Todas as vezes em que esteve na igreja, presenciara pessoas ajoelhadas em frente a imagem da Virgem Maria. Certamente, pedindo misericórdia para amenizar suas tragédias, ou simplesmente, fazendo suas orações com devoção e agradecimento. Aquele desejo de procurar a igreja estava crescendo em seu coração, desde quando soube do acidente.

           Depois de uma caminhada concentrada no seu intuito, entrou de mansinho na igreja quase vazia. Era meio da tarde e havia poucas pessoas fazendo suas orações. Aquela era a casa do pai de todos, Deus, que transmitia paz e esperança para o seu coração. Olhou para a cruz e intimamente pensou:

            - Pai, eu voltei com o coração em frangalhos, me acolha por favor. Em seguida, baixou o olhar como se estivesse pedindo perdão, por estar ausente durante tanto tempo.

          Marília se ajoelhou no genuflexório diante da imagem da Virgem Maria, chorosa, implorando por clemência e misericórdia. Ela havia lido em algum lugar, que nenhum pedido sincero feito a mãe de Jesus, ficaria sem resposta. Era uma mãe piedosa e estava sempre pronta para atender aos necessitados.

            - Estou aqui para implorar pela recuperação do Fernando, ele é meu marido e preciso dele para viver. Ela desejava que seu marido se recuperasse sem sequelas do trauma na cabeça.

               Em seguida, baixou a cabeça e com lágrimas nos olhos fez suas orações. Ficou ali esperando uma luz para aliviar sua alma triste e abalada. O tempo não importava naquele lugar e, ela foi se acalmando. Em seu íntimo surgira uma paz cercada de ânimo, que tomou conta de seu coração; precisava lutar pela recuperação do seu amor. Então, voltou a realidade com a certeza de que seu amor ficaria bem.

            Olhou no relógio e ficou surpresa, fazia uma hora e meia que estava ali; deveria se apressar. Beijou a fita azul que descia das mãos da imagem de Maria e se levantou para ir ao hospital visitar Fernando.

            Chegou esbaforida, pois a caminhada foi grande. Adentrou ao hospital e viu o senhor cuja esposa tivera um derrame. Ele também a viu e cumprimentou com a cabeça. Então, ela retribuiu acenando discretamente.  

         – Estamos juntos nessa situação triste. Pensou com o coração aflito, queria ver Fernando.

          Em seguida, a porta de vidro da UTI foi aberta e cada um, com sua identificação, se dirigiu ao leito de seu familiar. Marília beijou a testa do marido, que estava exatamente como o havia deixado no dia anterior, mas, ela estava diferente; trazia no peito esperanças renovadas. Então, disse baixinho no pé do ouvido do marido:

          - Estou com saudades de você, volta para mim. E, duas lágrimas rolaram pelo seu rosto, salgando sua boca.

 Mais uma vez, ele não reagiu.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

"EMBORA MEU OBJETIVO SEJA COMPREENDER O AMOR, E EMBORA SOFRA POR CAUSA DAS PESSOAS A QUEM ENTREGUEI MEU CORAÇÃO, VEJO QUE AQUELES QUE ME TOCARAM A ALMA NÃO CONSEGUIRAM DESPERTAR MEU CORPO, E AQUELES QUE TOCARAM MEU CORPO, NÃO CONSEGUIRAM ATINGIR MINHA ALMA". PAULO COELHO

COM LÁGRIMAS NOS OLHOS

CAPÍTULO QUATRO
            Os dois irmãos chegaram à pizzaria e Marília deixou Celso conversando com os funcionários do estabelecimento. Ele assumiria o comando de tudo até a situação se resolver, por isso ele precisava conhecer o local e os funcionários. Por sorte, Celso estava de férias e poderia ajuda-la neste momento difícil.

            Depois das apresentações, Marília entrou em sua casa, que ficava ao lado da pizzaria. Uma casa pequena, mas aconchegante e muito bem arrumada. Foi construída com esforço e carinho pelo casal; um lugar onde foram felizes.

 Era noite de sexta-feira e havia bastante movimento no local, as mesas estavam cheias de gente comendo e bebendo. A música era mantida com som alto e todos pareciam felizes. No entanto, o coração de Marília estava sangrando, ela sentia um nó na garganta. O que ela mais desejava naquele momento, era que seu marido estivesse atrás daquele balcão, alegre e brincalhão como sempre.

             A mulher precisava de um banho para se livrar daquela sensação de sujeira, que a estava entristecendo ainda mais. Entrou em embaixo do chuveiro e ficou imóvel, precisava de um momento de paz, que a vida lhe roubara nos últimos dias.

          A água tépida caia em sua cabeça, rolando pelo rosto e levando suas lágrimas para o ralo. Ela trazia no peito uma tristeza e uma mágoa sem fim, que chegava a doer fisicamente.

        Estava revoltada com aquela situação, que para ela fora injusta com Fernando, não se conformava em ver o marido naquela cama de hospital. Marília nunca foi religiosa, mas era cristã e acreditava que Deus estava sempre presente cuidando e protegendo seus filhos. Fernando era um homem bom, alegre e brincalhão, não merecia aquilo, pensava Marília.

              - Por que ele foi abatido dessa forma? Preciso entender os desígnios desse Deus, que acreditamos ser nosso pai. Lamentou a mulher chorosa.

             O acidente aconteceu em um momento de esperanças; parecia que iriam superar a crise econômica. A situação esteve tão ruim, que o casal pensou em fechar as portas do estabelecimento. Mas, estavam conseguindo contornar a crise, era só uma questão de tempo. As lágrimas teimavam em se misturar com a água do chuveiro e ela aproveitava para lavar sua alma também.

           Então, percebeu que ela e Fernando eram muito felizes e não sabiam, nunca brigavam, apenas se amavam. Tinham Lorenzo, que era um bom menino. Agora seu amor estava na UTI, não tinha noção de nada e ela estava morrendo por dentro.

            Marília foi se deitar, precisava dormir e recuperar as forças, para poder voltar ao hospital. Tinha um compromisso com a vida de Fernando, teria que ajudá-lo a se recuperar até ficar bom novamente. Ainda bem que seu irmão estava lá para ajudar e tomar conta de tudo, era um problema a menos para ela se preocupar.

             Estava tão cansada que adormeceu logo e, acordou assustada durante a madrugada. Então, olhou para o lugar vazio na cama e a triste realidade voltou a atormentá-la. Marília começou a rezar pedindo pela recuperação de Fernando e assim, ela viu o dia nascer.

               Quando saiu do quarto, viu Celso jogado no sofá com a roupa que estava na noite anterior. Sentiu pena dele, ela se esquecera de arrumar um lugar para ele dormir, no quarto de Lorenzo. Fez café e colocou a mesa para quando os dois homens acordassem. Seu filho estava no período de férias de fim de ano e poderia ajudar na pizzaria.  
         
             Pegou o telefone e ligou para Eloisa, queria notícias do seu marido.

           – Por favor Eloisa, preciso ter notícias de Fernando.

             - Fui vê-lo, assim que cheguei, está estável, mantém o quadro. Marília, não venha fora do horário de visitas, eles não a deixarão entrar. Foi o recado que sua amiga lhe deu.

A visita seria somente as dezesseis horas e ela teria o dia todo para resolver suas coisas e esperar. Saiu para fazer compras e depois fez almoço, mas não tinha fome, então, comeu algumas colheres de arroz e foi se arrumar para ir visitar seu marido. Mas, antes passaria na Igreja, queria pedir pela recuperação de seu esposo, de joelhos e na casa de Deus.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa



quarta-feira, 29 de agosto de 2018

"DE TUDO AO MEU AMOR SEREI ATENTO. ANTES, E COM TAL ZELO, E SEMPRE, E TANTO QUE MESMO EM FACE DO MAIOR ENCANTO, DELE SE ENCANTE MAIS MEU PENSAMENTO". VINÍCIUS DE MORAES


ABRA OS OLHOS, POR FAVOR

CAPÍTULO TRÊS
           A esposa, desesperada, ficou sentada na sala de espera da UTI. Não havia nada que pudesse fazer para mudar a situação, que vivia ali no hospital. Era leiga em assuntos médicos, nunca passara por momentos tão difíceis. Estava sozinha e o medo do desconhecido a deixava fragilizada.

           Avisara o Celso, seu irmão, que morava na cidade vizinha sobre o acidente de Fernando. E agora, aguardava ansiosamente sua presença. Ele era um homem e saberia lidar com tantos problemas, diferente dela, que vivia na sombra de Fernando.

             Pela pressa e correria observadas, ela sentia que o estado de saúde de Fernando era grave. No entanto, não queria alarmar o filho, nem os empregados da pizzaria. Precisavam de dinheiro mais do que antes, o trabalho deveria seguir adiante.

           A todo momento buscava ajuda dos céus, agora era entre ela e Deus. Ele estava solidário, ela sabia disso, pois mandara Eloisa para estar ao seu lado. Este pensamento lhe trazia algum alento. A boa enfermeira deixara o plantão lhe desejando sorte, voltaria no dia seguinte.

           Depois de duas horas, apareceu a maca com o paciente cheio de fios e bombas de medicação. Junto da maca vinham médicos e enfermeiras paramentados, que seguiam rapidamente. Marilia levantou-se, mas foi contida por mãos que indicavam para ela se afastar. Ficou encostada na parede sem ação, apenas com vontade de chorar.

            A mulher continuou a rezar, precisava de toda a ajuda possível. Não tinha sede ou fome, apenas sentia calafrios percorrendo seu corpo. Então, o seu irmão chegou para ajudá-la naquele momento difícil. Soluçando, ela conseguiu contar a ele os últimos acontecimentos com Fernando. Depois, os dois sentaram-se nas cadeiras, para aguardar notícias do paciente.

            Mais uma hora passada lentamente, sem que Marília ouvisse nenhuma palavra sobre os acontecimentos, que envolveram seu esposo. Ali parecia que o tempo não tinha nenhuma importância; um silêncio aterrador tomava conta do ambiente. De vez em quando, passava um médico ou uma enfermeira, que logo desapareciam naqueles longos corredores.  Em dado momento surgiu um senhor, ele estava aflito e disse, olhando para Marília:

               - Minha mulher está aí dentro, teve um derrame e não me conhece mais. Depois, sentou-se perto de Marília e com lágrimas nos olhos continuou.
               - Daqui a pouco começa a hora de visita e, eu venho vê-la todos os dias. Sinto falta dela.

            Marília sentiu pena daquele homem e se viu na mesma situação. Não sabia o que iria acontecer com Fernando.

           Chegaram outras pessoas, todas tinham parentes ali, aguardavam para visita-los. Um guarda se postou em frente a porta de vidro, que dava acesso a UTI e logo formaram fila. Em seguida, foi entrando um de cada vez. Quando chegou a vez de Marília, o guarda disse que ela teria apenas quinze minutos para ver o marido. Celso ficou de lado, não poderia entrar, então esperaria por sua irmã.

           A mulher, aflita, entrou cambaleando, seu coração estava batendo na boca; era muita emoção mesclada de medos. Chorou ao ver a situação em que seu marido se encontrava. Ficou paralisada ao lado da cama, apenas observando o seu amor.

            Fernando tinha um cateter que saia da cabeça enfaixada, um tubo na boca, ligado a um aparelho que respirava por ele. No braço tinha uma punção venosa, que recebia soro de uma bomba. Tinha, também, um cateter no pescoço que recebia líquido de outra bomba. Um colar cervical para manter a cabeça imóvel e erguida a trinta graus da base da cama. E, muitos fios colados ao peito, que eram ligados a um monitor cardíaco automático, que verificava os sinais vitais a cada dez minutos. Ela ficou estática, tinha medo de chegar perto e danificar aquela parafernália.

           O paciente parecia morto, apenas o barulho cadenciado do respirador quebrava o silêncio daquele box. Ao lado, no outro box, havia uma moça chorando baixinho. Marília espiou e viu uma senhora em situação idêntica ao estado de Fernando. Em frente, tinha um jovem cheio de ataduras e uma mulher chorosa ao seu lado, provavelmente, sua mãe.  Eram pacientes graves que estavam lutando pela vida, ela entendeu isso. 

           Então, Marília inclinou sua cabeça perto do ouvido do marido e sussurrou com voz firme:

            - Abra os olhos, por favor.

           No entanto, não obteve resposta, Fernando permaneceu inerte. E, ela teve que sair, acabara a hora de visitas na UTI. Marília seguiu amparada pelo irmão, temia pelo dia de amanhã.

          Em cada box havia um drama terrível e ali eram dez ao todo, Eloisa lhe contou, no dia seguinte.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa


quarta-feira, 22 de agosto de 2018

"DELICADEZA NO AR"- "EU GOSTO DE DELICADEZA. SEJA NOS GESTOS, NAS PALAVRAS, NAS AÇÕES. NO JEITO DE OLHAR, NO DIA A DIA E ATÉ NO QUE NÃO É DITO COM PALAVRAS, MAS FICA NO AR". MANUEL BANDEIRA

                         ME DÊ A MÃO
                                            CAPÍTULO DOIS

         O médico foi chamado pela enfermeira, que ficou assustada com os gritos de Fernando. O neurologista entrou rapidamente, estava alarmado pela gritaria do paciente. Logo chamou outro médico e, juntos decidiram fazer novos exames; outra tomografia. Parecia que o quadro se agravara, Fernando estava com os olhos estalados de dor e apresentando náuseas contínuas. Precisou ser sedado e depois foi levado ao tomógrafo.


        Marília ficou assustada e quando levaram seu marido, ela começou a chorar. Todos saíram e ela ficou sentada na poltrona com as mãos cobrindo seu rosto. Parecia que o mundo desabara sobre ela, temia nunca mais ver o marido vivo; estava desesperada. No entanto, apareceu uma enfermeira com um copo de água para ela se acalmar. A mulher, que aparentava meia idade e muita experiência, foi incisiva quando disse:


             - O paciente está em mãos competentes, mas vamos pedir a Deus que olhe por ele. Em seguida, deu a mão para que Marília se levantasse e a seguisse.


                    As duas mulheres caminharam em direção à capela do hospital, depois a enfermeira despediu-se, dizendo que estaria no posto de enfermagem, se precisasse de alguma coisa.

           Um pouco mais calma, Marília ficou um longo tempo sentada na pequena igreja. Muitos pensamentos de medo, preocupação e pesar pela situação que o seu amor se encontrava, povoavam sua mente. Somente agora, ela podia perceber como o marido era importante para ela, antes nem se importava com o que ele pensava. Fernando tinha muita saúde e vivia brincando, parecia que era imortal, por isso ninguém se preocupava com ele.

               Ficou repetindo as orações que conhecia, como se fossem mantras. Depois de um tempo naquele ambiente tranquilo, ela recobrou as forças e foi procurar por Eloisa, a enfermeira que a ajudou. Então, a mulher lhe disse que seu marido estava na sala de cirurgia.

           Fora constatada uma pressão intracraniana decorrente do trauma sofrido e teriam que fazer uma intervenção cirúrgica, para diminuir a pressão. Era uma situação de emergência e provavelmente o paciente voltaria para a Unidade de Terapia Intensiva, onde as visitas eram restritas.

               Marília ficou desolada, pensava que seu marido teria alta em poucos dias, mas agora a situação se agravara. Voltaram os medos, os problemas e as incertezas. Eloisa a acompanhou até a lanchonete, para que Marília tomasse um café e comesse alguma coisa.

          Precisava estar forte para acompanhar a recuperação do marido. O café quente desceu pela garganta, aquecendo seu corpo, mas não conseguiria comer nada, parecia que tinha um nó na garganta. Não conseguia falar e muito menos comer; mantinha os olhos cheios de lágrimas incontidas.

Depois de duas horas, o médico foi dar notícias para acalmar a esposa do paciente. Chegou sério e compenetrado, o que deixou a mulher mais apreensiva.

                - A situação se agravou, as vezes acontece. No quinto dia aumenta a pressão intracraniana pós trauma e temos que tomar decisões drásticas para salvar o paciente. Fizemos tudo o que foi possível, agora devemos aguardar que ele melhore. Para isso ele deve permanecer sedado e monitorado o tempo todo. Ficará na UTI. Depois saiu com passos firmes, estava com o dever cumprido.

                Os olhos de Marília se encheram de lágrimas e cresceu um nó em sua garganta, não conseguiu dizer nada. A enfermeira se aproximou da mulher e estendendo as mãos foi logo dizendo:

          - Me dê a mão, nada está perdido, ainda temos esperanças. Em seguida, abraçou a esposa do paciente, que ficou soluçando em seu ombro. Marília não sabia o que fazer, estava sem rumo.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

"NA VIDA E NO AMOR NÃO TEMOS GARANTIAS. PORTANTO, NÃO PROCURE POR ELAS... VIVA O QUE TEM QUE SER VIVIDO... SEM MEDOS... O MEDO É UM DOS PIORES INIMIGOS DO AMOR E DA FELICIDADE". ARNALDO JABOR


ENTRE OS LÍRIOS

 A CHUVA FINA

CAPÍTULO UM
           A chuva castigava a região fazia uma semana, os transtornos estavam por toda parte. Quedas de barreiras, rios acima do nível causando inundações e as ruas da cidade cheias de lama, que desceram pelas encostas dos morros. Assim se apresentava o domingo naquela cidade do interior de Minas Gerais.

           As ruas escorregadias provocaram diversos acidentes e entre eles, estava a derrapagem de um motoqueiro. Fernando, o dono da pizzaria daquela região, sofrera um grave acidente ao entardecer daquele dia.

             Ele saíra para fazer uma entrega, pois seu ajudante faltara ao trabalho. Era um domingo e a pizzaria estava cheia, o que o deixava satisfeito, a féria do dia seria boa. Ele precisava saldar dívidas acumuladas há algum tempo.

               Saiu apressado, tinha muito serviço e poucos funcionários. Com a recessão instalada no país sobraram dois funcionários, para ajudar no seu comércio, o restante precisou ser dispensado. Marília, a esposa, ficou encarregada do caixa e Fernando passou a atender o balcão, juntamente com o rapaz que fazia as entregas. Na cozinha ficaram o pizzaiolo e o filho do casal, Lorenzo de 16 anos, que ajudava no preparo das pizzas.

            Durante a semana, o movimento era tranquilo, mas aos domingos o trabalho apertava. Havia indicadores de recuperação do comércio alimentício, deixando Fernando animado. E, naquele dia frio e chuvoso, muita gente apareceu para jantar pizza e, também recebeu outros tantos pedidos, para serem entregues em suas casas. Fernando se desdobrava, mas com a falta do rapaz, que estava doente, ele teve que sair para fazer as entregas. Lorenzo ficou atendendo o balcão.

            O motoqueiro seguia distraído com tantos pensamentos aflitivos, queria dar conta da freguesia, mas estava difícil. Acelerou e derrapou na curva, batendo a cabeça na traseira de um ônibus. A moto entrou para debaixo do veículo e ele ficou estatelado no chão. No primeiro momento, ele tentou se erguer, mas sua cabeça doía muito e corria sangue pelo rosto até sua boca. Um gosto salgado o fez cuspir enojado, era sangue quente, que descia da cabeça.


            Deitou e percebeu que havia muita gente ao seu redor. Tentou se erguer novamente e foi contido por um homem, que tentava estancar o sangue com um pano e acalmá-lo. Então, relaxou e sentiu dores lancinantes em sua perna, que não obedecia ao seu comando. Lágrimas correram pelo seu rosto, misturando-se ao sangue e para piorar começou a chover.

             A demora na chegada do socorro e a chuva fria o estavam enregelando. Ele ficara estendido sobre uma pasta de sangue e lama misturados. A dor era tanta que ele pressentiu que iria desmaiar, então, ouviu a sirene do corpo de bombeiros se aproximar. Em seguida, mergulhou em uma escuridão total, estava inconsciente.

             A conclusão a que chegou, posteriormente, é que se tivesse morrido, não teria sentido nada, pois não se lembrava de nada além da sirene do carro dos bombeiros. O médico explicou que ele sofrera um choque hipovolêmico, pela perda excessiva de sangue e em consequência perdeu a consciência.

            Poderia ter morrido se não fosse atendido prontamente com a reposição de volume no corpo. Na sala de cirurgia ele foi sedado e intubado para proteger seu cérebro. Além do corte profundo no couro cabeludo, havia inchaço no cérebro, o trauma fora violento. Explicou o médico para a esposa de Fernando, que aguardava ansiosa por notícias do marido. 

               Depois de vários dias ele foi extubado para recobrar a consciência. Marília estava ao seu lado quando ele acordou. Fernando abriu os olhos e assustado perguntou:

                - Onde estou, o que aconteceu? Parecia não se lembrar de nada.

                 - Está no hospital, você sofreu um acidente com a moto no domingo. Respondeu sua esposa aflita.

                 A perna direita estava imobilizada com muitas ataduras, em seguida, ele levou a mão à cabeça, que doía em pontadas, e encontrou mais ataduras. Olhou para suas mãos e estas estavam cheias de arranhões. Duas lágrimas correram de seus olhos, então ele indagou:
               – Que dia é hoje?

               – Sexta-feira, hoje faz cinco dias que você está aqui no hospital. Os médicos fizeram uma cirurgia em sua perna, que estava quebrada e suturaram sua cabeça com quinze pontos. Agora está tudo bem, fica sossegado. Concluiu sua esposa, tentando acalmá-lo.

         Fernando tentou se levantar e caiu para trás com dores lancinantes na cabeça. Estava sentindo um enorme vazio, um corpo pesado e não se lembrava de quase nada, apenas da chuva fina molhando seu corpo ferido e uma sensação de morte iminente.

            Com muita dor na cabeça ele forçou a mente e disse que ficou um tempo sentado em meio a uma plantação de lírios brancos. Lá havia muita luz e paz. Em seguida, cobriu os olhos com os braços, começou a gemer e depois passou a gritar de dor.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

"ANDO COM UMA VONTADE TÃO GRANDE DE RECEBER TODOS OS AFETOS, TODOS OS CARINHOS,TODAS AS ATENÇÕES. QUERO COLO, QUERO BEIJO, QUERO CAFUNÉ, ABRAÇO APERTADO E MENSAGEM NA MADRUGADA. QUERO FLORES, QUERO DOCES, QUERO MÚSICA, QUERO VENTO, CHEIROS; QUERO PARAR DE ME DOAR E COMEÇAR A RECEBER". CAIO F. ABREU

AMADA MINHA

CAPÍTULO OITO
              A cada dia que passava, os encontros entre Milena e Otávio tornavam-se mais constantes. O amor estava no olhar, nos gestos e até no andar da moça e também no dia a dia de Otávio. Todos os colegas da farmácia já haviam notado, que ele andava disperso, pensativo e com o olhar perdido no infinito.

             - Olhar de peixe morto e queixo caído, sintomas típicos de pessoas apaixonadas, cochichavam entre si, as más línguas do lugar.

           Milena e Otávio estavam comprometidos e quando se despediam, sentiam que queriam ficar juntos, dentro de um abraço apertado, para nunca mais sair. Um completava o outro, a interação era total.

           O amor cresceu e quando Clara e Rafael foram passar um final de semana na casa da avó, o novo casal aproveitou para ir a um hotel fazenda. Na verdade, era uma viagem de descanso e liberdade, para decidir até onde chegar. Havia um desejo mútuo de total entrega.

           O farmacêutico era um homem respeitador e comedido, nunca avançava o sinal. E, como homem de Deus, não poderia tomar Milena como sua mulher sem estar casado, estaria ofendendo a Deus. Ambos se amavam e tinham os mesmos desejos carnais de todos os seres humanos. Entretanto, se continham, eram pessoas tementes a Deus.

            Então, planejaram pedir a bênção do pastor e ficar noivos diante de Deus e da igreja. Também queriam pedir para o pastor casá-los na informalidade, antes de se entregarem aos desejos, que os afligiam.

             Na sexta-feira instalaram-se no hotel em quartos separados e foram procurar uma igreja evangélica, na cidade vizinha. Depois de muita conversa com o pastor, eles conseguiram arrancar uma promessa para o sábado à noite, durante o culto, uma bênção especial com valor de noivado.  

               O novo casal estava feliz, precisavam da bênção de Deus, antes de qualquer outra coisa. No dia seguinte, saíram para comprar as alianças, para serem abençoadas também.

            À noite, vestidos com roupas sociais, foram se apresentar à nova igreja. Durante o culto, depois de uma pregação sobre o matrimônio, foram chamados ao palco e depois apresentados a comunidade como visitantes. O pastor fez uma breve explanação sobre o desejo do casal e os abençoou diante de todos os presentes. Em seguida, os noivos trocaram as alianças e foram para o hotel, estavam satisfeitos.

Mas, a barreira continuava, não poderiam se unir antes do casamento. Sendo assim e de comum acordo, dormiram em quartos separados. No domingo, voltaram para suas casas e foram à igreja expor ao pastor seu desejo de um casamento abençoado por Deus.

A cerimônia foi marcada para dali a quinze dias, o tempo necessário para a preparação da igreja e dos noivos, além de correr os proclamas. 

            A comunidade evangélica se mobilizou, para proporcionar um clima festivo para o casamento, embora os noivos tivessem dito que queriam uma cerimônia simples. No dia marcado o noivo chegou com as duas filhas e se postou no altar aguardando a noiva. Milena entrou feliz, de braços dados com seus dois filhos. E ladeados com os quatro filhos disseram sim, no altar diante de Deus e, ao beijar a noiva, pode-se ouvir.

       - Amada minha, sou seu. Esses foram os caminhos do coração para chegar até você. Aqui estou para sempre.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa
MEU MUNDO REINVENTADO.

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