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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

"NA VIDA E NO AMOR NÃO TEMOS GARANTIAS. PORTANTO, NÃO PROCURE POR ELAS... VIVA O QUE TEM QUE SER VIVIDO... SEM MEDOS... O MEDO É UM DOS PIORES INIMIGOS DO AMOR E DA FELICIDADE". ARNALDO JABOR


ENTRE OS LÍRIOS

 A CHUVA FINA

CAPÍTULO UM
           A chuva castigava a região fazia uma semana, os transtornos estavam por toda parte. Quedas de barreiras, rios acima do nível causando inundações e as ruas da cidade cheias de lama, que desceram pelas encostas dos morros. Assim se apresentava o domingo naquela cidade do interior de Minas Gerais.

           As ruas escorregadias provocaram diversos acidentes e entre eles, estava a derrapagem de um motoqueiro. Fernando, o dono da pizzaria daquela região, sofrera um grave acidente ao entardecer daquele dia.

             Ele saíra para fazer uma entrega, pois seu ajudante faltara ao trabalho. Era um domingo e a pizzaria estava cheia, o que o deixava satisfeito, a féria do dia seria boa. Ele precisava saldar dívidas acumuladas há algum tempo.

               Saiu apressado, tinha muito serviço e poucos funcionários. Com a recessão instalada no país sobraram dois funcionários, para ajudar no seu comércio, o restante precisou ser dispensado. Marília, a esposa, ficou encarregada do caixa e Fernando passou a atender o balcão, juntamente com o rapaz que fazia as entregas. Na cozinha ficaram o pizzaiolo e o filho do casal, Lorenzo de 16 anos, que ajudava no preparo das pizzas.

            Durante a semana, o movimento era tranquilo, mas aos domingos o trabalho apertava. Havia indicadores de recuperação do comércio alimentício, deixando Fernando animado. E, naquele dia frio e chuvoso, muita gente apareceu para jantar pizza e, também recebeu outros tantos pedidos, para serem entregues em suas casas. Fernando se desdobrava, mas com a falta do rapaz, que estava doente, ele teve que sair para fazer as entregas. Lorenzo ficou atendendo o balcão.

            O motoqueiro seguia distraído com tantos pensamentos aflitivos, queria dar conta da freguesia, mas estava difícil. Acelerou e derrapou na curva, batendo a cabeça na traseira de um ônibus. A moto entrou para debaixo do veículo e ele ficou estatelado no chão. No primeiro momento, ele tentou se erguer, mas sua cabeça doía muito e corria sangue pelo rosto até sua boca. Um gosto salgado o fez cuspir enojado, era sangue quente, que descia da cabeça.


            Deitou e percebeu que havia muita gente ao seu redor. Tentou se erguer novamente e foi contido por um homem, que tentava estancar o sangue com um pano e acalmá-lo. Então, relaxou e sentiu dores lancinantes em sua perna, que não obedecia ao seu comando. Lágrimas correram pelo seu rosto, misturando-se ao sangue e para piorar começou a chover.

             A demora na chegada do socorro e a chuva fria o estavam enregelando. Ele ficara estendido sobre uma pasta de sangue e lama misturados. A dor era tanta que ele pressentiu que iria desmaiar, então, ouviu a sirene do corpo de bombeiros se aproximar. Em seguida, mergulhou em uma escuridão total, estava inconsciente.

             A conclusão a que chegou, posteriormente, é que se tivesse morrido, não teria sentido nada, pois não se lembrava de nada além da sirene do carro dos bombeiros. O médico explicou que ele sofrera um choque hipovolêmico, pela perda excessiva de sangue e em consequência perdeu a consciência.

            Poderia ter morrido se não fosse atendido prontamente com a reposição de volume no corpo. Na sala de cirurgia ele foi sedado e intubado para proteger seu cérebro. Além do corte profundo no couro cabeludo, havia inchaço no cérebro, o trauma fora violento. Explicou o médico para a esposa de Fernando, que aguardava ansiosa por notícias do marido. 

               Depois de vários dias ele foi extubado para recobrar a consciência. Marília estava ao seu lado quando ele acordou. Fernando abriu os olhos e assustado perguntou:

                - Onde estou, o que aconteceu? Parecia não se lembrar de nada.

                 - Está no hospital, você sofreu um acidente com a moto no domingo. Respondeu sua esposa aflita.

                 A perna direita estava imobilizada com muitas ataduras, em seguida, ele levou a mão à cabeça, que doía em pontadas, e encontrou mais ataduras. Olhou para suas mãos e estas estavam cheias de arranhões. Duas lágrimas correram de seus olhos, então ele indagou:
               – Que dia é hoje?

               – Sexta-feira, hoje faz cinco dias que você está aqui no hospital. Os médicos fizeram uma cirurgia em sua perna, que estava quebrada e suturaram sua cabeça com quinze pontos. Agora está tudo bem, fica sossegado. Concluiu sua esposa, tentando acalmá-lo.

         Fernando tentou se levantar e caiu para trás com dores lancinantes na cabeça. Estava sentindo um enorme vazio, um corpo pesado e não se lembrava de quase nada, apenas da chuva fina molhando seu corpo ferido e uma sensação de morte iminente.

            Com muita dor na cabeça ele forçou a mente e disse que ficou um tempo sentado em meio a uma plantação de lírios brancos. Lá havia muita luz e paz. Em seguida, cobriu os olhos com os braços, começou a gemer e depois passou a gritar de dor.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

"ANDO COM UMA VONTADE TÃO GRANDE DE RECEBER TODOS OS AFETOS, TODOS OS CARINHOS,TODAS AS ATENÇÕES. QUERO COLO, QUERO BEIJO, QUERO CAFUNÉ, ABRAÇO APERTADO E MENSAGEM NA MADRUGADA. QUERO FLORES, QUERO DOCES, QUERO MÚSICA, QUERO VENTO, CHEIROS; QUERO PARAR DE ME DOAR E COMEÇAR A RECEBER". CAIO F. ABREU

AMADA MINHA

CAPÍTULO OITO
              A cada dia que passava, os encontros entre Milena e Otávio tornavam-se mais constantes. O amor estava no olhar, nos gestos e até no andar da moça e também no dia a dia de Otávio. Todos os colegas da farmácia já haviam notado, que ele andava disperso, pensativo e com o olhar perdido no infinito.

             - Olhar de peixe morto e queixo caído, sintomas típicos de pessoas apaixonadas, cochichavam entre si, as más línguas do lugar.

           Milena e Otávio estavam comprometidos e quando se despediam, sentiam que queriam ficar juntos, dentro de um abraço apertado, para nunca mais sair. Um completava o outro, a interação era total.

           O amor cresceu e quando Clara e Rafael foram passar um final de semana na casa da avó, o novo casal aproveitou para ir a um hotel fazenda. Na verdade, era uma viagem de descanso e liberdade, para decidir até onde chegar. Havia um desejo mútuo de total entrega.

           O farmacêutico era um homem respeitador e comedido, nunca avançava o sinal. E, como homem de Deus, não poderia tomar Milena como sua mulher sem estar casado, estaria ofendendo a Deus. Ambos se amavam e tinham os mesmos desejos carnais de todos os seres humanos. Entretanto, se continham, eram pessoas tementes a Deus.

            Então, planejaram pedir a bênção do pastor e ficar noivos diante de Deus e da igreja. Também queriam pedir para o pastor casá-los na informalidade, antes de se entregarem aos desejos, que os afligiam.

             Na sexta-feira instalaram-se no hotel em quartos separados e foram procurar uma igreja evangélica, na cidade vizinha. Depois de muita conversa com o pastor, eles conseguiram arrancar uma promessa para o sábado à noite, durante o culto, uma bênção especial com valor de noivado.  

               O novo casal estava feliz, precisavam da bênção de Deus, antes de qualquer outra coisa. No dia seguinte, saíram para comprar as alianças, para serem abençoadas também.

            À noite, vestidos com roupas sociais, foram se apresentar à nova igreja. Durante o culto, depois de uma pregação sobre o matrimônio, foram chamados ao palco e depois apresentados a comunidade como visitantes. O pastor fez uma breve explanação sobre o desejo do casal e os abençoou diante de todos os presentes. Em seguida, os noivos trocaram as alianças e foram para o hotel, estavam satisfeitos.

Mas, a barreira continuava, não poderiam se unir antes do casamento. Sendo assim e de comum acordo, dormiram em quartos separados. No domingo, voltaram para suas casas e foram à igreja expor ao pastor seu desejo de um casamento abençoado por Deus.

A cerimônia foi marcada para dali a quinze dias, o tempo necessário para a preparação da igreja e dos noivos, além de correr os proclamas. 

            A comunidade evangélica se mobilizou, para proporcionar um clima festivo para o casamento, embora os noivos tivessem dito que queriam uma cerimônia simples. No dia marcado o noivo chegou com as duas filhas e se postou no altar aguardando a noiva. Milena entrou feliz, de braços dados com seus dois filhos. E ladeados com os quatro filhos disseram sim, no altar diante de Deus e, ao beijar a noiva, pode-se ouvir.

       - Amada minha, sou seu. Esses foram os caminhos do coração para chegar até você. Aqui estou para sempre.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

"MELHOR SORRISO" "DESEJO QUE O SEU MELHOR SORRISO, ESSE AÍ TÃO LINDO, ACONTEÇA INCONTÁVEIS VEZES PELO CAMINHO. QUE CADA UM DELES CURE UM POUCO MAIS O QUE AINDA LHE DÓI. QUE CADA UM DELES CANTE UMA LUZ QUE, MESMO QUE NINGUÉM PERCEBA, AMACIE UM BOCADINHO AS DUREZAS DO MUNDO". ANA JÁCOMO

POR UM SORRISO SEU

CAPÍTULO SETE
             A hora passou voando e quando a campainha tocou Milena deu um pulo, ainda estava penteando os cabelos. Finalizou a maquiagem com um batom suave e rapidamente foi abrir a porta. Otávio estava em pé com uma pizza na mão direita e uma rosa na mão esquerda. Ficou ali parado por um momento; estava sorrindo e esperando o convite para entrar.

               – Olá, tudo bem? Como passou de ontem? Ele perguntou e ela gaguejou:
               - Tudo bem.

             Mesmo que ela estivesse determinada a coibir as suas investidas, não conseguiria fazê-lo naquele momento. Ele parecia um monumento olhando para ela, impossível não se encantar. Então, ela, com um leve aceno de cabeça, se afastou para ele adentrar ao ambiente. Mecanicamente, fechou a porta, desejando que ele permanecesse ali para sempre.

             O jantar foi alegre; as crianças comeram a pizza e foram para o quarto jogar vídeo game. Milena e Otávio ficaram sentados em frente à televisão, porém, nada sabiam sobre o que estava passando na telinha. Havia um encanto ao redor deles, era alguma coisa mágica, que os deixava paralisados ao olhar para o outro.

            Ele se aproximou e segurou sua mão, depositou um beijo na palma de uma delas e depois a fechou, dizendo:

           - Você é a mulher que eu quero para viver comigo, como esposa, amiga e companheira. Quero ser seu namorado desde hoje.

             Milena tremeu, será que ele estava falando sério? Pensou e sorriu para ele. Aquele sorriso tinha o valor de um consentimento e ele a puxou para si, beijando-a em seguida. Foi um beijo profundo e caloroso. Tomando fôlego ela sussurrou:

           - Sim, eu quero namorar e me casar com você, que me completa e me excita.

             O primeiro beijo e todos os outros que se seguiram, deixavam claro o compromisso assumido com o coração.

             Ficaram sentados no sofá abraçados, curtindo um ao outro, até tarde da noite. Então, ela se levantou dizendo que precisava dormir, porque deveria trabalhar no dia seguinte. Otávio concordou, também teria que trabalhar e ambos foram até a porta para as despedidas.

             Quando Milena fechou a porta, tinha a certeza de que nunca mais ficaria só. Os dois se davam tão bem, parecia que se conheciam há muito tempo.  Pela manhã, quando ela saiu para trabalhar e viu que ele estava na janela, sentiu-se muito amada. Otávio queria vê-la antes que ela saísse, estava clara a delicadeza de propósito.

            Eram essas pequenas coisas que faziam falta em sua vida, carinho, amor e atenção. Milena estava feliz como há muito tempo não se sentia. A hora passava rápido com seus pensamentos em turbilhão e quando chegou a hora do lanche, havia uma surpresa para ela. Uma caixa de chocolates com um pequeno cartão:

           -“Por um sorriso seu, eu a amo” Otávio

           Milena ficou pasma, estava rendida e apaixonada por aquele homem, que sabia como cativar uma mulher.
 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 25 de julho de 2018

"ASSIM COMO A NUVEM SÓ EXISTE SE CHOVER, ASSIM COMO O POETA SÓ É GRANDE SE SOFRER, ASSIM COMO VIVER SEM AMOR, NÃO É VIVER. NÃO HÁ VOCÊ SEM MIM, EU NÃO EXISTO SEM VOCÊ". VINÍCIUS DE MORAES

 NUVENS ESCURAS

CAPÍTULO SEIS
            Milena demorou para pegar no sono, estava mexida com a possibilidade de um novo relacionamento. Passou boa parte da noite pensando em tudo que havia acontecido; foi uma grande surpresa. Nunca tinha reparado no vizinho da janela, embora o tenha visto em diversas ocasiões, fazia parte do ambiente. Entretanto, fora surpreendida com a doçura e carinho demonstrados por ele. Era um homem bonito, bem cuidado, charmoso; um jovem cinquentão, cheio de vida.

             Desde que se separara, Milena tivera muitos momentos de devaneios, sentia falta do carinho de um namorado, porém, procurava não pensar nisso. No entanto, os presentes inesperados de Otávio, sua presença na noite do dia dos namorados, teve um significado, que mexeu com suas convicções.

            A postura masculina, sua persuasão e até atrevimento, conseguiram reavivar uma parte do seu coração, que estava adormecida.  Milena dormiu pensando na possibilidade de um ombro para recostar sua cabeça, dividir seus medos e dúvidas com alguém, que lhe dedicasse amor. Este, era um sonho antigo e muito desejado.

             Quando pegou no sono já era madrugada e, em consequência disso acordou atrasada. A moça teve que se apressar, para conseguir chegar ao trabalho em tempo. Ela trabalhou com a cabeça ocupada, pensando em seu vizinho, que agora tinha nome, Otávio.

            Estava ansiosa com os últimos acontecimentos; sentia-se exposta emocionalmente. Então, seus medos tomaram conta de seus pensamentos, dando vida aos mais obscuros. Temia sair ferida de outra relação, que seus filhos pudessem sofrer com sua mudança de comportamento, que Otávio estivesse brincando com seus sentimentos. Com tantas dúvidas, acabou se fechando como uma ostra; aquilo tudo não passara de um grande embuste.

             Seguiu para sua casa com a cara amarrada, deixara a alegria da noite anterior tomar conta de seu coração e agora entendia, que tudo fora apenas uma ilusão. Por mais que doesse, teria que colocar um ponto final naquela história. O coração batia forte diante de novos sentimentos, mas deveria ouvir a razão.

              Estava resolvida a esquecer aquela noite e continuar sozinha. Assim, não teria desilusões e não sofreria mais. Entretanto, essa decisão teria que esperar, pois, ao chegar em frente ao seu prédio, ela avistou Otávio. Como nos últimos meses, ele estava debruçado na janela, sorrindo e acenando para ela. Milena sentiu um arrepio percorrer por todo seu corpo, então, ele gritou:

             - Daqui a uma hora vou conversar com você, me espere, por favor.

             Ela sorriu e assentiu com a cabeça, seria uma conversa definitiva. Seguiu em frente, tinha que se preparar, não queria ser taxada de desleixada.

         Seu coração estava aos pulos e sua cabeça desnorteada; não se responsabilizava por seus atos diante daquele homem sedutor. Sorrindo, correu para o chuveiro, queria ficar bonita...

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 18 de julho de 2018

"PRECISO BUSCAR O AMOR ONDE ESTIVER, MESMO QUE ISSO SIGNIFIQUE HORAS, DIAS, SEMANAS DE DECEPÇÃO E TRISTEZA. PORQUE NO MOMENTO EM QUE PARTIMOS EM BUSCA DO AMOR, ELE TAMBÉM PARTE AO NOSSO ENCONTRO". PAULO COELHO


SOU TODO SEU
CAPÍTULO CINCO
          A situação ficou tensa, mas Clara, a filha de Milena, que observava tudo com surpresa, levantou-se e pegou as flores, para colocar no vaso grande da sala de jantar. A moça ficou com o cartão na mão e finalmente conseguiu perguntar:

            - O que está acontecendo, qual o significado disso tudo?

           Otávio levantou-se, estava nervoso; no entanto, conseguiu falar em meio a gaguejos e pausas.
           - É tudo o que está escrito aí, estou apaixonado por você e resolvi lutar para ter uma chance. Faz seis meses que eu fico olhando você da janela do meu apartamento. Abaixou os olhos, estava mais tímido do que de costume, mas precisava se fazer entender.

                 Milena não esperava viver aquela situação inusitada e não sabia o que dizer diante da sinceridade do rapaz. Então, fez uma cara de surpresa, precisava sair dali e respirar ar puro. Em seguida, pediu licença, foi até a cozinha e tomou um copo de água gelada.

            Depois de algum tempo, voltou trazendo uma toalha, uma faca e alguns pratos de sobremesa com garfos. Arrumou tudo e colocou o bolo para ser cortado, depois, chamou o filho para comerem juntos. Aquela reunião, parecia a de uma família tradicional, sentados à mesa comendo bolo. Milena percebeu isso.

                 Não havia muitas coisas para serem ditas, mal se conheciam. Otávio perguntou ao garoto se gostava de futebol e este sorriu fazendo comentários sobre os jogos mais recentes. Clara comia prazerosamente e Milena curtia um pedaço do bolo, enquanto observava toda aquela cena. Fazia tempo que estava sozinha e quase nunca recebiam visitas.

                 A moça estava com uma sensação estranha, não sabia se era boa ou ruim; era, no mínimo, surpreendente. Estar sentada em sua sala de jantar com um estranho, que dizia estar apaixonado por ela, a transportava ao passado. As lembranças de seu casamento, o amor que sentia por Leandro e toda a decepção que lhe causara. Não queria nenhum relacionamento, estava, ainda, muito ferida. 

              Queria perguntar muitas coisas para o vizinho, no entanto, não poderia falar diante das crianças, poderia assusta-las. Milena manteve-se calada, enquanto observava o entrosamento de Otávio com seus filhos. Ele era uma pessoa comum, ela nunca havia reparado nele como homem; era apenas o vizinho da janela. Jamais poderia imaginar que ele ficava na janela para vê-la.

                 Nos últimos cinco anos, ela não tivera nenhum relacionamento, temia pela segurança dos filhos. Entretanto, aquele homem parecia deixar a casa e seus filhos muito mais seguros. Estavam alegres e sorridentes; o bolo estava uma delícia e as flores enfeitavam o ambiente. Otávio fizera daquela noite, uma data especial.

           Ficaram entretidos em frente à televisão, enquanto Milena abria uma garrafa de licor, que estava guardada fazia tempo. Era uma bebida doce e todos poderiam tomar, até mesmo as crianças. Então, beberam e brindaram pela saúde de todos, depois, o rapaz levantou-se e disse que iria deixá-los descansar. Mas, antes de sair queria seu número de celular para poder conversar.

            Milena sorriu e disse o número pausadamente, estava gostando daquela situação inesperada. Queria que ele saísse logo, pois, precisava ficar sozinha. Tinha muito o que pensar naquela noite; estava viva para o amor e não se dera conta disso. Otávio saiu deixando um leve perfume de colônia masculina no ar, aquele cheiro mexia com os sentimentos de Milena.

            Depois de uma hora, ela e as crianças já estavam deitadas; seria uma longa noite dos namorados. Então, o celular tocou. Ela pegou e havia uma mensagem:

           - Sou todo seu... Otávio
 A moça sorriu, sua noite dos namorados estava salva.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

"A MATURIDADE ME PERMITE OLHAR COM MENOS ILUSÕES, ACEITAR COM MENOS SOFRIMENTOS, ENTENDER COM MAIS TRANQUILIDADE E QUERER COM MAIS DOÇURA". LIA LUFT


                     AO AMOR, COM CARINHO

                                          CAPÍTULO QUATRO
            Otávio passou a manhã do dia dez de junho trabalhando, parecia meio alheio ao que estava acontecendo na farmácia. Saiu apressado, assim que foi rendido pelo seu colega; o destino era a padaria, que ficava no final da avenida. Entrou e foi até a atendente do estabelecimento. Depois de um leve cumprimento, pediu que ela lhe dissesse qual era o bolo que o rapaz, na semana anterior, havia encomendado para sua namorada. Otávio era frequentador assíduo do lugar e a moça já o conhecia, por isso a conversa fluiu fácil.

            - Por favor, eu quero um bolo igual ao dele e com morangos em cima. A moça tomou nota do pedido e marcou para ser retirado na tarde do dia seguinte, véspera do dia dos namorados. O rapaz saiu alegre, estava confiante, iria se declarar à Milena.

                 Seguiu andando pela avenida, que estava cheia naquele horário, entretanto, ele parecia flutuar e não percebia o movimento ao seu redor; estava feliz. Um estado de espírito há muito tempo esquecido. Então, avistou uma floricultura, era o que estava procurando. Otávio queria encomendar um ramalhete de rosas vermelhas e deixar um cartão para ser entregue com as flores. Estas, deveriam estar nas mãos de Milena ao cair da noite do dia onze; exatamente as dezenove horas, precisou o rapaz.

                 “Ao amor, com carinho.
Milena, para mim você representa o amor e a felicidade; me dê uma chance por favor. Beijos”
                Otávio

                 Pagou e saiu andando, precisava respirar ar puro para se acalmar. A sorte fora lançada e agora era só esperar o dia seguinte.

                 Em sua cabeça passou um filme e reviu o seu casamento, o nascimento de suas duas filhas e todos os desentendimentos que culminaram com a separação do casal. Maria, sua esposa, se dissolvera em alguma parte do seu passado. Hoje em dia, era apenas a mãe das meninas. Não sentia nenhuma emoção, carinho, nada; tornara-se uma estranha para ele.

             Otávio não acreditava que algum dia voltasse a amar, mas, agora estava apaixonado. Sentia o mesmo frio na espinha de quando era jovem ou até com mais intensidade. Tinha experiência e sabia quais erros evitar, completara cinquenta anos e sentia que tinha muita vida pela frente. No entanto, precisava de uma nova oportunidade para provar que o amor é importante, porque a solidão deprime e mata.

                 Naquela noite, Otávio rolou na cama durante algumas horas, estava muito ansioso e não conseguia dormir. Já na madrugada ele adormeceu e acabou acordando com o Sol na vidraça da sala, que refletia em seu quarto; não ouviu o despertador.  Chegou esbaforido em seu trabalho, suscitando espanto por parte de seus colegas. Era um homem correto demais, para chegar atrasado no serviço.

         - Otávio está diferente, com um brilho no olhar, será que está apaixonado? Cochicharam as atendentes do local.

              À tarde, saiu do trabalho e passou na padaria para pegar o bolo, teria que entregar pouco antes das dezenove horas, queria estar lá, quando as flores chegassem.

                 As dezoito e quarenta e cinco ele já estava pronto, e postado em frente ao espelho. Otávio estava limpo e cheiroso, precisava demonstrar asseio para a moça que queria conquistar.  

             Chegou na portaria do prédio de Milena com a caixa nas mãos. Pediu ao porteiro para perguntar se ele poderia subir, para levar um bolo para ela e as crianças. A moça estranhou, mas, educadamente disse que poderia subir:
            - Por que será que o vizinho vai trazer bolo para mim e as crianças? O que estará acontecendo? Não teve tempo para mais nada, ele já estava ali; a campainha tocou.

            Milena, que acabara de chegar do trabalho foi atender a porta. A situação era estranha, ela conhecia o vizinho de vê-lo na janela, apenas isso. E, agora ele estava ali com uma caixa nas mãos. A moça ficou vermelha e o convidou a entrar, não poderia fazer diferente; era uma moça educada. Ele entregou o bolo dizendo:

              - Milena, eu trouxe um bolo para você e as crianças, para comemorar o dia dos namorados.

            Ela ficou sem jeito e o convidou a sentar-se; não esperava passar por aquela situação. Passou alguns minutos e o interfone tocou novamente. Era o porteiro avisando que estava subindo um entregador de flores. Ela ficou parada, meio paralisada com tantas novidades.

            A campainha tocou e ela recebeu um lindo ramalhete de rosas vermelhas com um cartão. A moça, trêmula, abriu o cartão e ficou de queixo caído. O cartão era do vizinho, que estava sentado em seu sofá.

           Otávio ficou olhando e sorrindo para a moça, que estava espantada com as flores e o cartão nas mãos.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

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