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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

"NÃO DIGA NADA" - MÚSICA ROMÂNTICA - "MAS, SE NADA DISSO LHE INTERESSA, NÃO DIGA NADA, FIQUE CALADA. DEIXA QUE EU PENSE O QUE QUISER, FIQUE CALADA, NÃO DIGA NADA. DEIXA QUE EU TE LEVE POR CAMINHOS, QUE SÓ EU CONHEÇO. DEIXA QUE EU ESQUEÇA DE VOLTAR PRO SEU COMEÇO." GILLIARD

AH! COMO EU TE AMEI
                                                 CAPÍTULO TRÊS
          Vitor ligou para sua mãe e explicou que não poderia viajar para sua casa, precisava ficar e despedir-se de Serena. Para a família ele mandava muitas lembranças e todo o amor fraterno que carregava em seu peito. Mas, para a sua amada daria um final de semana de muito amor. Esperava que todos compreendessem e apoiassem sua decisão, ele os amava de todo o coração.
              - Compreendo meu filho, fica em paz, nos vemos na hora do embarque. Só quero a sua felicidade. Respondeu sua mãe com muito carinho.

             Serena arrumou suas coisas e voou ao encontro de Vitor. Ele a esperava com um sorriso no rosto e o coração cheio de amor. A moça foi recebida com um longo abraço, seguido de beijos há muito desejados.

             Do aeroporto seguiram para um resort e lá fizeram seu ninho de amor. Passaram a noite de sexta-feira, sábado e parte do domingo juntos e abraçados; o tempo todo se amando. A primeira foi uma noite de núpcias, carregada de saudades e de muito amor; estavam praticamente casados de corpo e alma.

             As formalidades ficariam para depois, agora estavam felizes e não queriam saber de mais nada. Ao anoitecer do domingo, Vitor e Serena foram para um Hotel, ela ficaria hospedada ali até a quarta-feira, depois voltaria para São Paulo com os pais dele.

            Ele teria que retornar a sua base militar, ainda no domingo à noite. O embarque seria na quarta-feira e Serena ficaria em Brasília para despedir-se de Vitor, juntamente com a mãe dele, o pai e a irmã, que viriam de São Paulo para um último abraço.

A moça aproveitou para conhecer a capital do país, enquanto aguardava a partida de seu amor. Andou pela Esplanada dos Ministérios, Palácio da Alvorada, Palácio do Itamaraty, Memorial JK e outros, mas o que mais ela gostou foi da Catedral Metropolitana.

Serena entrou e ajoelhou-se em frente ao altar, perdendo a noção do tempo. Passou mais de uma hora conversando com Deus, estava se preparando para uma longa e solitária espera. Precisava da ajuda dos céus, para arrumar forças e não se desesperar enquanto Vitor estivesse no Haiti.

Na manhã de quarta-feira, ela e a família de Vitor foram ao aeroporto para as despedidas. A tropa estava a postos para a execução do Hino Nacional Brasileiro, estavam todos em posição de respeito. 

Vitor se postara ereto, com a mão esquerda no coração e a boina azul brilhando em sua cabeça. Era um legítimo representante de seu país; cheio de garbo e orgulho de sua pátria. Serena sentiu uma pontada de inveja, também queria estar lá.

Quando a banda começou a tocar, as lágrimas começaram a correr de seus olhos, era muito amor por aquele homem que a conquistara um dia. Todos que ali estavam, tinham os olhos marejados de lágrimas; era comum rolar a emoção nessas ocasiões.

Após os últimos acordes, os novos integrantes da força de paz puderam se aproximar de seus parentes, foi uma festa de abraços, beijos e muitas lágrimas. Vitor abraçou seus pais, sua irmã e depois afastou-se para se despedir de sua amada. Entre juras de amor e promessas de fidelidade ele se foi em direção ao avião, que os levaria para a missão de paz.

Serena ficou ali, parecia anestesiada, esperando o avião da Força Aérea decolar. Depois de quarenta minutos ele subiu e foi desaparecendo no espaço, deixando uma mulher estarrecida diante do fato consumado.

 Estaria sozinha por muito tempo, nem sabia quanto. Duas lágrimas correram pelo seu rosto indo morrer em sua boca. Aquele era o gosto da despedida, amargo, muito amargo.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

"NÃO DIGA NADA"- MÚSICA ROMÂNTICA - "...DEIXA QUE EU RELAXE NO SEU CORPO O MEU CANSAÇO. ME ABRIGAR DO FRIO NO CALOR DO SEU ABRAÇO. DEIXA QUE LHE MATE DE PRAZER, LHE DEIXE LOUCA. DEIXE QUE ACABE MINHA SEDE NA SUA BOCA." GILLIARD

A FLOR DA PELE

CAPÍTULO DOIS
           À noite, depois do jantar, tomaram um cálice de vinho e foram dormir abraçados. No entanto, havia uma parede entre eles, que se chamava missão de paz no Haiti. Vitor tentava esconder sua felicidade e Serena permanecia séria e introspectiva, difícil de dialogar. Nada a fazia feliz, porque ela queria uma felicidade duradoura e não apenas momentos felizes.

           Ele não pretendia magoá-la, então, evitava tocar no assunto; havia um vácuo entre eles. E, ela não podia dizer nada, que as lágrimas afloravam em seus olhos; estava com os nervos à flor da pele. Assim, cavaram um silêncio para si próprios, cada um em seu compartimento. A mágoa estava presente e não havia como dissipar aquele sentimento. 

           Uma nuvem pairava no ar e o final de semana foi frustrante para ambos. Mesmo assim, mantiveram as aparências, não queriam brigar. Eles estiveram juntos o maior tempo possível, tentavam forçar uma situação e fazer parecer uma relação estável, para diminuir o desconforto da partida inesperada.

           Serena acompanhou Vitor até a apresentação em sua base e, depois ela se foi chorosa; seu coração estava em pedaços. Vitor procurou não se impressionar com a tristeza de Serena, logo ela ficaria bem, tinha certeza. Era a primeira vez que ficariam longe por tanto tempo, portanto, compreensível a atitude dela.

O batalhão da força de paz partiu para Brasília, lá completariam o treinamento. Todos engajados em dar o melhor de si para a população do Haiti. Enquanto ele estava envolvido com seus treinamentos, Serena estava recolhida em sua solidão.

Os integrantes da força de paz receberam novas instruções sobre a cultura e modo de agir dos nativos do local, onde iriam atuar. Essa é uma operação que busca a manutenção da paz e a reconstrução de países que sofreram conflitos ou agravos da natureza, isto é, terremotos ou furacões devastadores, com iminente risco à população desabrigada.

               Serena fechara a cara e parecia uma viúva triste e desanimada. Familiares e amigos lhe diziam que o tempo passa rápido e ela deveria ficar contente, ao ver que o seu noivo estava realizando um sonho. Mas, ela não se conformava com o adiamento dos próprios sonhos, que era casar-se com Vitor no dia planejado.

          Um mês inteiro se passou e as saudades estavam atormentando os dois lados. Eles conversavam sempre por mensagens, mas era insuficiente; estavam carentes um do outro. Então, veio a novidade. Vitor teria um final de semana de folgas, para se despedir da família antes da viagem.

               Ao invés de ir ao seu encontro, ele propôs a ela que fosse passar o final de semana com ele. Assim, poderiam ficar mais tempo juntos. Com um largo sorriso ela disse:

            -Sim; irei ao seu encontro. Serena sentiu-se feliz, iria rever o seu amor antes da partida. Seu coração batia mais forte, parecia querer saltar do peito.
 Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

"NÃO DIGA NADA" MÚSICA ROMÂNTICA. "DEIXA QUE EU TE FALE COM TERNURA, O QUE EU QUISER FALAR. DEIXA QUE EU TE ABRACE COM LOUCURA, ATÉ TE SUFOCAR. DEIXA QUE EU SEJA SUA SOMBRA, POR ONDE VOCÊ FOR. PARA REFLETIR NO CHÃO QUE PISAS, A IMAGEM DESTE AMOR..." GILLIARD



                        BOINA AZUL
                            EU AMO VOCÊ

CAPÍTULO UM
           O espelho estava embaçado pela fumaça quente que saia do box, Serena não tinha pressa em sair dali; estava desolada. Enquanto a água corria pelos seus cabelos banhando seu corpo, as lágrimas salgavam sua boca. Acontecera o que ela mais temia, seu noivo fora convocado para servir na força de paz da Organização das Nações Unidas (ONU).

          Vitor andava ansioso e parecia inquieto, deixando Serena preocupada. Então, a moça perguntou o que o afligia e ele tirou um papel do bolso entregando para ela ler. Era a convocação para servir no Haiti, em missão de paz, com toda sua tropa. Ficariam lá, pelo menos, durante seis meses, com possibilidade de prorrogação.

             - O que vou fazer? Exclamou apavorada. Ela e Vitor, estavam de casamento marcado para dali a três meses.

            - Como repensar tudo? Desistir de meus sonhos e esperar indefinidamente até meu amor retornar?

            Serena fizera muitos planos, amava o noivo e queria viver ao seu lado. O rapaz também queria casar-se com ela, o amor de sua vida; Vitor afirmava com convicção. Porém, sua carreira era muito importante e não abriria mão dela por nada.

         No começo do ano ele conseguira se formar; um diploma muito almejado. Era só o que faltava para a realização de seu sonho, tornar-se sargento do exército brasileiro, conseguido com muito estudo e garra na escola militar. E, com sua convocação seria mais um soldado boina azul no Haiti; um país arrasado pela natureza.

              Na verdade, ele estava feliz, queria conhecer novos lugares e ajudar aquele povo maltratado. Amava sua noiva, mas era jovem e queria aventurar-se para conhecer o mundo, promovendo a ajuda humanitária tão necessária. O casamento poderia esperar mais um pouco. Estava eufórico, iria viajar, conhecer novos lugares; abrir seus caminhos.

              Serena caiu na cama ainda com os cabelos molhados, estava com os olhos inchados de tanto chorar. Eles teriam uma semana para arrumar tudo e Vitor deveria apresentar-se no seu local de origem, na cidade de São Paulo.

            Sua tropa seguiria para Brasília, a capital do país, lá seria submetida a um treinamento específico, com duração de três meses. Depois dessa fase de preparação intensa, embarcariam no navio brasileiro com destino ao Haiti. Estaria, então, a serviço de sua pátria; o que era motivo de orgulho para o rapaz.

            Serena sofria por antecipação, amava o noivo do fundo de sua alma e temia a solidão que se desenhava no horizonte. A ausência de Vitor poderia durar meses e até anos, ninguém saberia precisar a data de sua volta.

 Ela queria ficar ao lado dele o maior tempo possível, não se conformava em ter que adiar o casamento, com tantas incertezas envolvidas. Entretanto, não poderia reclamar, pois sabia dos desejos do seu amor e conhecia as regras do exército. O que menos importava naquele momento, eram os seus sentimentos.

 A apresentação de Vitor seria na quarta feira, então, planejaram passar o final de semana juntos em um resort campestre. Escolheram uma região montanhosa de Serra Negra, uma cidade turística do interior do estado de São Paulo.

              Na sexta feira a noite saíram com destino ao local combinado, seria uma despedida especial. Mas, Serena sentia o seu coração pesado, não conseguia relaxar. Estava ansiosa e apreensiva, sua vida fora interrompida. Seu futuro era um ponto de interrogação.

             - Como posso deixar meu amado partir? Este pensamento não saia de sua cabeça, parecia um martelo batendo o tempo todo dentro de seu cérebro. 
            - Eu amo você... eu amo você! Ela sussurrava baixinho ao pé do ouvido de seu noivo, enquanto ele dirigia absorto.
Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

"NOITES TRAIÇOEIRAS" - GOSPEL/RELIGIOSO - "...E AINDA SE VIER NOITES TRAIÇOEIRAS, SE A CRUZ PESADA FOR, CRISTO ESTARÁ CONTIGO. O MUNDO PODE ATÉ FAZER VOCÊ CHORAR, MAS DEUS TE QUER SORRINDO..." PADRE MARCELO ROSSI

DEIXAR IR

CAPÍTULO DEZ
          O pastor acolheu o rapaz com um longo abraço, ele sabia o grande amor que unia o casal. Um casamento que ele celebrara com muito gosto. Cirilo Artur chorou no ombro do velho pastor, que estimava como a um segundo pai. Não conseguia falar, estava tomado pela emoção; precisava de colo.

          Abraçados, seguiram para a cozinha da casa pastoral; lá foi oferecido uma xícara de chá com biscoitos para Cirilo Artur, que nem se lembrava de comer. Depois do chá e um pouco mais calmo, conversaram sobre a passagem de Olívia.

         – Onde eu errei pastor, fiz tudo que pude para salvar minha mulher, e perdi a batalha. Deus não gosta de mim, por isso me quer triste e acabado. Disse o rapaz com os olhos marejados de lágrimas.

            – Não se revolte contra Deus, ele deve ter um propósito para você, por isso o deixou sozinho. Afirmou o velho homem, para consolar o irmão necessitado.

           Cirilo Artur simplesmente baixou sua cabeça e chorou.
             – Nunca irei blasfemar contra meu Deus e a minha igreja, me ajude pastor, estou perdido e sem rumo.

                 Os dois homens ficaram conversando, até que Cirilo Artur adormeceu sentado no sofá; não tinha ânimo para voltar para sua casa. Então, o pastor o deitou lentamente, depois jogou uma coberta sobre ele e foi deitar-se. Com olhar piedoso prometeu aos céus cuidar do rapaz. Seria o seu porto seguro e o ajudaria a vivenciar o seu luto, para atravessar a escuridão da solidão.

            Os primeiros dias foram os mais difíceis para Cirilo Artur; muito choro, muita mágoa e revolta também. Mas, uma coisa o fez sorrir em meio a tantas atribulações, precisava buscar a peruca de Olívia. Ela fora confeccionada com seus cabelos; era um pedaço dela que ficaria com ele.

                 Ele voltou com a caixa contendo o seu tesouro, uma peruca dos cabelos de Olívia. Aquilo foi um alento para suas angustias, conhecia aqueles cabelos sedosos, que tantas vezes acariciara.

            Cirilo Artur voltou ao trabalho que o distraia durante o dia, no entanto, as noites eram difíceis de suportar. O pastor, então, lhe propôs uma ocupação, ajuda-lo como seu assessor nos trabalhos da igreja. Teria que fazer um curso para tornar-se missionário.

           Sua missão seria dedicar-se aos muitos trabalhos do ministério e arrebanhar novas ovelhas. Começaria em suas férias e se gostasse teria que deixar o escritório para cumprir suas atividades em tempo integral. O velho pastor prosseguiu explicando o seu intento.

- O propósito do missionário é convidar as pessoas a se aproximarem da obra do evangelho. Servir a Deus incentivando e ajudando a população a conhecer a Bíblia, aumentando sua fé em Jesus Cristo. Aprender a expiar os seus pecados através do arrependimento e do batismo. E, quando receber o Espírito Santo, perseverar até o fim.

Cirilo Artur concordou, estava sem rumo e o convite lhe parecia uma maneira de fazer o que gostava, contribuindo para a aproximação das pessoas na igreja. Ficou três semanas no retiro se preparando para ajudar o pastor e quando voltou estava diferente, havia um brilho em seu olhar.

            Os seus companheiros e irmãos ficaram felizes em ver, que o rapaz se recuperava a olhos vistos. Depois do sermão, que Cirilo Artur assistira embevecido, já no pátio da igreja, o pastor aproximou-se e disse:

            - Vejo amor em seu olhar. Isso me deixa feliz filho.
 Cirilo Artur, imediatamente olhou para cima e lá havia uma estrela brilhando, destacando-se das demais.  

          Ele fez uma prece, com certeza era o seu amor, que o guardava lá de cima. Estas foram as últimas palavras de Olívia: “Vejo amor em seu olhar”.

         - Sim, agora vou deixar ir o meu amor, ficarei com as saudades e as lembranças, para seguir minha missão; a evangelização dos meus irmãos em Cristo. Serei um missionário simples, humilde e dedicado.

 Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

"NOITES TRAIÇOEIRAS" - GOSPEL/RELIGIOSO - "...SEJA QUAL FOR O SEU PROBLEMA, FALE COM DEUS. ELE VAI AJUDAR VOCÊ. APÓS A DOR VEM A ALEGRIA, POIS DEUS É AMOR E NÃO TE DEIXARÁ SOFRER..." PADRE MARCELO ROSSI

                    PÁSSARO FERIDO

CAPÍTULO NOVE 
         O viúvo, desfigurado, aproximou-se da defunta para despedir-se e constatou a frieza da morte. Ali estava um pobre corpo inchado, sofrido, endurecido e frio; em nada se parecia com aquela mulher quente e amável que fora sua amada. Olívia não estava ali, disso ele tinha certeza. 
               - Onde ela estaria?

          Olhou à sua volta e viu algumas pessoas sentadas velando o corpo, outras do lado de fora, que pareciam cochichar. Todas com um olhar estarrecido diante daquele fato triste, que é a morte de uma pessoa tão jovem.

           - Quem sou eu para querer descobrir o maior mistério do mundo? Para onde vamos? Pensou e caiu em si, só lhe restava chorar e pedir perdão ao Deus que ele amava.

           Se Olívia se foi, deve ter sido para alegrar o reino dos céus e ele teria que se conformar e nunca blasfemar. Respirou fundo e quando o cortejo seguiu até a cova, ele foi segurando na alça do caixão; acompanhou a esposa até sua última morada.  
              
          O pastor encomendou o corpo e Cirilo Artur se manteve impassível, para não desabar ali mesmo. Em seguida, todos os parentes e amigos jogaram flores das coroas sobre o caixão no fundo da cova. Entretanto, Cirilo Artur escolheu uma margarida, uma flor que Olívia gostava e jogou sobre o caixão; junto dela, jogou também o seu coração.

                 Depois, amparado por familiares, ele deixou o cemitério; sua alma estava vazia. Não tinha fome e nem sentimentos, apenas um grande vazio. Quis dormir em sua casa, apesar dos protestos de sua mãe. Cirilo Artur precisava ficar sozinho para chorar e aliviar a sua dor, que era da alma. Um sentimento de impotência, de perda irreparável, de angustia, de pena de si mesmo.

                 Deitado no sofá, chorou todas as lágrimas possíveis, até adormecer como um pássaro ferido de morte. Passou a noite ali, sem sonhos ou pesadelos, mergulhou na escuridão do sono reparador.  O Sol já estava alto quando ele acordou. Dormiu 18 horas, precisava recuperar-se um pouco, para manter-se vivo, depois de tantas noites mal dormidas.

                 Assim, a vida continua e ele acordou com a claridade que entrava pelo vitro da sala. Sentou-se no sofá e voltando à realidade ele viu que estava sujo de suor e de tantas dores sofridas; sentiu nojo de si mesmo. Precisava tomar banho, fazer a barba e aprender a conviver com sua dor. Era um homem de fibra e como tal agiria dali para a frente.

                 Vestiu uma camisa preta, que é o que mais combinava com seu estado de espírito e depois fez um café, que tomou como se fosse um remédio para mantê-lo vivo. Cirilo Artur tornou-se um pássaro ferido, que tinha duas opções; ou se escondia do mundo ou procurava a sua família e a igreja para conseguir ajuda e levar a vida adiante.

            Tinha muitas chamadas de sua mãe no celular, mas ele apenas respondeu dizendo que estava bem e precisava ficar sozinho. Cirilo Artur queria pensar em Olívia e entender por que a vida dela fora tão curta. O Deus que ele conhecia era um Deus de amor, mas por que ele o deixara sozinho?

             Buscava respostas para não enlouquecer. Esperou escurecer, não queria encontrar nenhum conhecido, depois seguiu para a sua igreja.

                 Ficou do lado de fora esperando o culto acabar, em seguida, entrou para conversar com o pastor, precisava de ajuda espiritual.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

"NOITES TRAIÇOEIRAS" GOSPEL/RELIGIOSO "...DEUS TE TROUXE AQUI PARA ALIVIAR O TEU SOFRIMENTO. É ELE O AUTOR DA FÉ DO PRINCÍPIO AO FIM, EM TODOS OS SEUS TORMENTOS. E AINDA SE VIER NOITES TRAIÇOEIRAS, SE A CRUZ PESADA FOR, CRISTO ESTARÁ CONTIGO. O MUNDO PODE ATÉ FAZER VOCÊ CHORAR, MAS DEUS TE QUER SORRINDO..." PADRE MARCELO ROSSI

LUGAR NENHUM

CAPÍTULO OITO
            Andou a esmo, atravessou uma feira livre e esbarrou em uma banca de verduras. O dono das verduras olhou feio para Cirilo Artur, que saiu pedindo desculpas e foi sentar-se em um banco do jardim, que ficava em frente a uma igreja católica.

           Não queria pensar em nada, estava entorpecido pela dor da perda da mulher amada. A vida para ele terminava ali; não saberia viver sem Olívia. Foram felizes durante três anos; muito pouco para quem tinha imensos projetos de vida a dois.

            Dentro da igreja havia um alarido de crianças e outras tantas chegando a todo momento, trazidas pelos parentes. Entravam acenando com as mãos para os familiares, que as deixavam ali.

           Crianças! Eles planejavam ter uma também. Despertou sua curiosidade e ele foi verificar, precisava ocupar a mente para não começar a gritar desesperado. Ele tinha um nó na garganta que o sufocava.

           Eram crianças aprendendo o catecismo; então, Cirilo Artur sentou-se no banco logo na entrada e ficou observando. Ele nunca estivera em uma igreja católica e ali havia uma energia contagiante, pensou o rapaz. E, como se tivesse orando começou a balbuciar:

             - Deus está em todos os lugares e aqui dentro também; esta é sua casa. Não importa a religião, Deus é único e vive presente em cada um de nós. Assim dizendo, as lágrimas vieram e ele chorou baixinho, depois suspirando continuou:

            - Meu Deus receba a minha amada esposa e olhe por mim, porque sou fraco e preciso de sua ajuda.

           A igreja era um lugar grande e alto, onde as vozes das crianças faziam eco, quando cantavam.  E, quando paravam de cantar, ficava no ar um burburinho de felicidade. Vez ou outra, para acompanhar o som do órgão, alguns pássaros davam voos rasantes, que quase atingiam o rapaz.

            Depois, pousavam em seus ninhos no cantinho da nave da igreja, que com seus afrescos e vitrais coloridos transmitia paz em sua grandeza. Diante de tanta beleza, Cirilo Artur chegou a esquecer-se, por um momento, que Olívia estava morta.

            No entanto, quando se lembrou do passamento ocorrido naquela manhã, deixou a igreja e voltou, cabisbaixo, para o hospital. Percebeu, então, que aquela dor era só dele e de sua família, pois, a vida continuava lá fora.  Seu coração estava ferido mortalmente, mas havia voltado a bater em ritmo normal. As crianças acalmaram seu coração, que vivia uma emoção intensa.

            Precisava ser forte, porque ele tinha o pior compromisso de sua vida, preparar o funeral de sua esposa. Entretanto, quando chegou, o irmão e um tio já haviam providenciado o velório e os trâmites legais do enterro. A ele restava esperar a liberação do corpo e fazer o seu papel de viúvo; palavra que ele já detestava.

           Sentou-se em frente ao necrotério para esperar o corpo de Olívia. Logo chegaram alguns amigos, parentes e irmãos da igreja e todos diziam para ele ir tomar um banho e comer alguma coisa, que o corpo iria demorar.

         Ele só fazia sinal com a cabeça, não poderia responder, havia uma obstrução em sua garganta. Parecia um bolo de emoção mal resolvida, que o impedia de falar. Não tinha fome e sua vida estava acabada, não precisava de banho, aliás, ele não precisava de nada. Era o dia mais triste de sua vida e seu futuro seria enterrado com sua esposa. 

          O corpo chegou e Cirilo Artur se postara estático ao lado do caixão. O pessoal do escritório também foi prestar solidariedade ao colega. Ele recebia os pêsames e agradecia como se fosse um robô. Seu coração estava morto e seu futuro seria em lugar nenhum.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

"NOITES TRAIÇOEIRAS"- GOSPEL/RELIGIOSO - "DEUS ESTÁ AQUI NESTE MOMENTO. SUA PRESENÇA É REAL EM MEU VIVER. ENTREGUE SUA VIDA E SEUS PROBLEMAS. FALE COM DEUS, ELE VAI AJUDAR VOCÊ..." PADRE MARCELO ROSSI

QUERO DORMIR

CAPÍTULO SETE
            A primeira quimioterapia de Olívia não teve reações significativas. Um mal-estar estomacal, pouco apetite e uma apatia natural devido a fraqueza já estabelecida. No dia seguinte, outra sessão de radioterapia e alternadamente a quimioterapia.

          Tamanha carga de medicação foi minando as forças de Olívia e, em duas semanas ela já não comia e nauseava quando falavam sobre comida. Além das quimioterapias, ela tomava corticoides e isso a estava deixando inchada. Olívia estava cada dia mais empalidecida, fraca e desanimada. Vivia tomando soro e tinha pouca vontade de conversar.

            Durante o dia era sua mãe que lhe fazia companhia e a noite o marido fazia questão de ficar com ela. Ninguém estava contente com aquela situação e, o médico foi categórico ao conversar com Cirilo Artur.

         - A situação está se agravando, porque a doença não estacionou, pelo contrário, está ganhando força. Se continuar assim, logo perderemos o controle sobre ela. Na verdade, estamos perdendo a luta para o câncer, que está se espalhando pelo corpo. Teremos que procurar um doador para o transplante e, precisa ser o mais rápido possível. Coçou a cabeça, estava desolado, então, continuou:

            - O caso de Olívia já chegou complicado, com a doença em estado adiantado e ela está muito fragilizada; temo pelo seu futuro. Vou agilizar o banco de doadores de medula óssea, espero contar com a sorte, afirmou o médico.   
      
            Cirilo Artur prometeu trazer os parentes e amigos para fazerem o teste de compatibilidade; estava muito preocupado. Depois saiu e foi chorar lá fora, encostado em uma parede que dava para lugar nenhum; ninguém precisava ver a sua dor. Ficou ali durante algum tempo, pedindo a ajuda de Deus; ele estava com maus pressentimentos.

           Em seguida, tomou água e lavou o rosto, para que ninguém percebesse sua fraqueza. Na verdade, ele queria morrer para não ver o sofrimento de Olívia. No entanto, tinha que se mostrar forte para ela não desistir da vida, que estava por um fio. Ele havia programado uma surpresa para ela, seria, na semana seguinte, o aniversário de três anos do primeiro encontro. E, agora ela estava entrevada na cama; uma situação inesperada.

             Terceira semana e muitas pessoas se apresentaram para a pesquisa de compatibilidade. Amigos, parentes e irmãos da igreja, que não se cansavam de orar por Olívia. No entanto, ela piorava a olhos vistos, seus cabelos estavam caindo e seu corpo ficando mais inchado a cada dia.

            Quarta semana e a paciente parecia outra pessoa, o seu corpo dobrara de tamanho, já não se alimentava por boca, somente por sonda. O médico dissera ao marido que seus recursos estavam se esgotando e, a situação era tão grave, que não sabia se haveria tempo para o transplante.

            Trinta e dois dias e Olívia amanheceu com muita febre e falta de ar e, quando o médico chegou fez uma cara, que Cirilo Artur identificou como sendo desanimadora. Estava claro que ela estava muito pior.

            Olívia estava irreconhecível, lutava para respirar. Recebia os cuidados necessários, mas aparentava total desânimo A semana arrastou-se entre pequenas melhoras e muitas pioras; já não havia esperança; agora estava com pneumonia. Não respondia aos medicamentos para controlar a infecção.

            - É uma questão de tempo para ela nos deixar, dissera o médico consternado, para o marido desesperado.

           Na manhã de sexta-feira ela foi levada à sala de emergência, estava ofegante, apesar do oxigênio que recebia.

             Cirilo Artur segurava em suas mãos e ela balbuciou:

            - Vejo amor em seu olhar. Me perdoe, já não aguento mais. Quero dormir para descansar.

           E, em seguida, foi sedada e intubada, para ter um melhor suporte respiratório. No entanto, ela nunca mais acordou; seu óbito foi constatado na manhã de sábado, depois de quarenta dias internada. Estavam presentes, os pais, o irmão e o marido.

            Cirilo Artur saiu para a rua, precisava tomar ar ou morreria sufocado. Queria fugir daquela situação insuportável.

Um texto de Eva Ibrahim
MEU MUNDO REINVENTADO.

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