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segunda-feira, 21 de novembro de 2016

"AMO A LIBERDADE, POR ISSO DEIXO LIVRE TUDO O QUE TENHO... SE VOLTAR É PORQUE CONQUISTEI, SE NÃO, É PORQUE NUNCA POSSUI". AUTOR DESCONHECIDO.

"NO LIMITE"
LIBERDADE!!!

CAPÍTULO UM
           As horas demoraram a passar, mais do que o costume, pensava Maura ao pegar a bolsa para sair do seu local de trabalho. Ao alcançar a rua, respirou fundo, estava de férias depois de um ano difícil para todos; um país em depressão e muito desemprego. Pensava em dormir até mais tarde, cuidar de suas coisas, que estavam um tanto abandonadas e ficar curtindo sua casa; faltava tempo e sobravam deveres.

          Seguia alegre, cantarolando, tinha um mês inteiro para pensar em si própria e sentia-se livre. Tinha tudo planejado, dez dias para descansar, oito para viajar e ainda restavam alguns dias para relaxar em sua casa. E, então estaria nova para mais um ano de trabalho; tinha sido assim durante os últimos vinte anos.

            Maura estava sozinha fazia um bom tempo, seu casamento terminara depois de muitas brigas. Ela queria somente viver em paz e desfrutar de sua liberdade conquistada com muitas dificuldades. Do marido não queria nem notícias.

           - Que ficasse longe dela, ele ainda poderia lhe causar danos; sempre encontrava um jeito de prejudica-la. Pensava enquanto sentia um calafrio pelo corpo.

           Amava a filha, os netos e gostava do genro, era tudo o que lhe importava naquele momento. Vivia pacificamente e se sustentava sozinha, pensando assim, sentia-se feliz.

               Os dias passaram rápido demais, e ela já estava no aeroporto, aguardando o avião para a viagem que havia planejado. Entretanto, ainda sentia-se cansada, mas, iria se divertir um pouco na casa de sua prima. Érica morava na cidade de Belo Horizonte com o marido e os filhos; as duas cresceram juntas e mesmo depois de casadas mantinham contato regularmente. Nas férias uma visitava a outra, assim matavam as saudades, duas vezes ao ano. Ela sabia que a prima era uma pessoa dinâmica e a levaria para passeios e compras de final de ano, já que estavam em meados de novembro.

           A moça sentou-se no corredor da aeronave e logo chegou seu companheiro de viagem. Era um japonês sisudo, que fez um sinal para ela deixa-lo entrar e, em seguida mergulhou no assento, fechou a cara e dormiu. Maura sentiu-se frustrada, era a terceira vez que tinha como companheiro um homem descendente de japoneses e, eram todos sisudos e mudos ao contrário dela, que gostava de uma prosa. Suspirou profundamente, em seguida fechou os olhos e deu asas à imaginação. Estava voando rumo à felicidade, que era seu desejo mais ardente, o resto não importava.

Érica estava aguardando a prima no aeroporto e deu boas gargalhadas ao saber do japonês; era o terceiro ano que Maura se queixava do companheiro de viagem. Nem mesmo ouvira sua voz, o sujeito entrou mudo e saiu calado.

 – Que falta de sorte! Perdera mais uma oportunidade de fazer novos amigos.
Dizia Érica, ajudando a prima com as malas.


As duas mulheres estavam alegres e seguiram para casa, os demais estavam aguardando as duas para o almoço. Teriam uma semana para matarem as saudades e colocar a fofoca em dia.


Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

"E, DE REPENTE, NUM DIA QUALQUER, ACORDAMOS E PERCEBEMOS QUE JÁ PODEMOS LIDAR COM AQUILO QUE JULGÁVAMOS MAIOR QUE NÓS MESMOS. NÃO FORAM OS ABISMOS QUE DIMINUÍRAM, MAS, NÓS QUE CRESCEMOS". FABÍOLA SIMÕES

A DURAS PENAS
CAPÍTULO DOZE
          A primeira cirurgia aconteceu em uma manhã de segunda feira, com todo o suporte cirúrgico adequado e com o acompanhamento da mãe, que não arredou pé da sala de espera. Só Deus sabe quantas orações foram feitas por aquela mãe, que cansada de sofrer colocou tudo nas mãos de Deus e se calou a espera do término da cirurgia.

         Passava do meio dia quando o médico apareceu para dizer que a cirurgia havia terminado e estava tudo bem. Então, Clara saiu para comer alguma coisa e voltar em seguida para ver a filha. 

           Depois de uma hora ela pode entrar e ver Valentina, que estava agitada reclamando de dores. O coração de Clara se aquietou, depois que a filha tomou uma injeção e dormiu novamente. A mãe previa dias difíceis, pois Valentina era de pouca paciência e chorona por natureza.

             Demorou quarenta e cinco dias para Valentina andar ereta depois da cirurgia; até então, andava segurando a barriga com as mãos e o corpo mantinha encurvado. Não houve intercorrências e a cicatrização foi boa, mas, houveram muitas queixas e lamúrias. Várias visitas ao médico e finalmente fora marcada a próxima cirurgia contra a vontade de Valentina, que nos piores momentos dizia:

            - Não vou fazer mais nada, pois tenho muitas dores e vou morrer solteira, quero ficar feia para sempre. E, saia de cara feia batendo portas.

             Clara chorava em silêncio, pois sabia que a filha já havia sofrido muito e ainda não terminara; havia muita coisa a ser feita. Então, se ajoelhava no chão e pedia a ajuda de Deus; era tudo o que poderia fazer.

           Com seis meses da primeira cirurgia era hora de fazer as mamas. Valentina estava bem e concordou em colocar silicone, sua barriga estava ótima. Feita a correção mamária e observada todas as orientações médicas parecia que, finalmente, o complexo de inferioridade a deixara em paz; ela já não fugia do espelho.

          Tornara-se uma moça bonita e tomara gosto pelo espelho. Valentina começara um namoro com o Ferrugem, que era apaixonado por ela. Dali para o resto das correções foi fácil, havia total colaboração da paciente.

          Em dois anos, todas as correções foram feitas e apareceu uma nova mulher, que queria se casar e ser feliz, como toda jovem. Clara sorria, quando ouvia elogios à sua menina, que um dia tentara o suicídio por ser gorda e se achar feia. Finalmente, a duras penas, se revelara uma beleza pura, todos diziam.

Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

"CADA CICATRIZ QUE TEMOS É A CONFIRMAÇÃO DE QUE UMA FERIDA SARA. CICATRIZES SÃO MARCAS DE SUPERAÇÃO QUE SÓ UM VERDADEIRO GUERREIRO POSSUI". AUTOR DESCONHECIDO


RETALHAR O CORPO

CAPÍTULO ONZE
           Quando Valentina completou dois anos da cirurgia bariátrica, e com o peso estabilizado por seis meses, era hora de enfrentar a nova etapa, em busca da beleza corporal. A moça estava com setenta e oito quilos, mas não poderia ficar de biquíni ou roupa decotada e sem mangas. A magreza trouxera novos problemas para ela, e acentuou o complexo de inferioridade, já existente. Ganhou em leveza, agilidade, saúde, mas estava longe de se achar bonita.

            As peles ficavam penduradas nos braços, nos peitos, nas coxas e na barriga, formando uma pochete sobre a púbis; ela evitava olhar-se no espelho. Odiava aquilo tudo, ainda era virgem e jamais tiraria a roupa diante de um rapaz.

           - Morreria invicta, pensava com raiva do mundo.

           Muitas noites passara chorando, ela não tinha mais jeito. Tratava de se cobrir rapidamente com roupas largas; sentia-se pior do que antes de perder peso.

          Valentina, acompanhada da mãe, saiu do consultório médico com os olhos cheios de lágrimas. A colocação do médico assustou a paciente. Ele disse que para ela tirar todo aquele excesso de pelancas teria que:

          - Retalhar o corpo para tirar todo as sobras de peles, então, se tornará uma moça magra e muito bonita. Afirmou o médico com uma ponta de ironia.

              A mãe ficou na defensiva, tinha medo daquelas palavras, parecia o gado no açougue sendo retalhado depois de abatido. Sentia-se ofendida, mas o médico foi objetivo e claro em sua explanação. Disse que era assim que ele queria, que a sua paciente tomasse um choque de realidade e, então, estaria pronta para iniciar as novas cirurgias.

         Clara conversou com o marido e lhe explicou tudo; Rui concordou em levar Valentina para concluir o que haviam começado. A filha estava magra, porém continuava com complexos de inferioridade, pois vivia de roupas largas e soltas em seu corpo; parecia uma assombração. E, continuava motivo de chacotas dos colegas e conhecidos. Apenas o Ferrugem a acompanhava e a defendia das bocas malditas.

         - Agora, estamos na reta final e ela deve se submeter ao que for preciso para se livrar das peles, que sobram em seu corpo. Afirmou a mãe preocupada.

          O plano cirúrgico foi montado pelo médico. Quatro cirurgias reparadoras no mínimo, em primeiro lugar a abdominoplastia. Em seguida a mamoplastia com colocação de silicone, pois as mamas de Valentina simplesmente sumiram, deixando dois trapinhos murchos pendurados. Quando estivesse recuperada seria feita a intervenção nos braços e por último nas pernas.

         - Mais um ano de lutas com o bisturi, e só restarão cicatrizes em pontos pré-determinados, afirmou o médico para a mãe e a filha, que se mostravam ansiosas.

         Somente então, Valentina poderá dizer que está magra e pronta para a vida, foi a conclusão a que Clara chegou. Havia ainda, um longo caminho a ser percorrido.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"NÃO SOU SEMPRE FLOR. AS VEZES ESPINHO ME DEFINE MELHOR. MAS SÓ ESPETO OS DEDOS DE QUEM ACHA QUE ME TEM NAS MÃOS". CLARICE LISPECTOR.

PASSO A PASSO
CAPÍTULO DEZ
        A cada dia uma nova luta se apresentava, novas conquistas e retrocessos também. Dias de euforia e outros de depressão, e os resultados foram surgindo gradativamente. Cinco, seis meses e a balança continuava a diminuir no seu marcador; trinta, quarenta quilos foram se perdendo e uma linda moça despontava naquela pessoa, que vivia de mal com o mundo.

          Valentina, arrastada por Ferrugem, que ia busca-la em sua casa, passara a frequentar uma academia para fortalecer os músculos e dar forma ao corpo desleixado. A cada visita ao médico era hora de avaliar os ganhos. Ganhos em saúde, autoestima e estética.

         Os seus cabelos, antes desgrenhados, agora diminuíram de volume, pois sofreu uma queda prevista, devido à grande perda de nutrientes impostos ao seu corpanzil. Para Valentina a queda foi benéfica, pois, agora os cabelos adquiriram forma e passaram a ser cuidados. A transformação era visível e a cada dia surgia uma nova faceta daquela figura de moça bonita.

          Até o Ferrugem melhorou sua aparência, agora tinha um corpo delineado e sarado; tornara-se um belo rapaz. Ele exercia influência positiva sobre Valentina, que passara a ver sua vida com outros olhos, pois sua baixa estima foi se dissipando. Ana sua irmã, ajudava com a compra de roupas novas e a melhor maneira de usá-las.  Parecia que ela estava aprendendo a se cuidar, a ter postura e se portar como uma moça. 

             Abandonara hábitos terríveis de desmazelo e relaxo quanto ao seu visual. Os dois amigos frequentavam o mesmo curso, um ajudava o outro. Tomaram gosto pelos estudos e mais um ano estariam formados.

         Quando fez um ano da cirurgia a família festejou feliz. Valentina estava pesando oitenta e cinco quilos; uma vitória para quem pesava cento e quarenta e cinco quilos. Com o acompanhamento médico, da nutricionista e os exercícios físicos, os resultados estavam evidentes e a moça despontava com uma beleza pura.

Mas, havia uma nuvem rondando a cabeça de Valentina. Com a perda de tantos quilos era natural que sobrassem peles em todo seu corpo. E, assim que seu peso estabilizasse, ela teria que se submeter à várias cirurgias para retirar todo o excesso de pele. Somente, então, poderiam descansar e viver uma nova vida. Tinham, pela frente, mais dois anos de lutas para comemorar a vitória completa.

 Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

"NÃO ESPERE O INCENTIVO DE OUTRAS PESSOAS, O PRIMEIRO A ACREDITAR EM SEUS SONHOS TEM QUE SER VOCÊ" AUTOR DESCONHECIDO

      
                       CHORUMELAS

CAPÍTULO NOVE
           Valentina recebeu alta Hospitalar, teria que se recuperar em sua casa. Então, começou o sofrimento de Clara, que tinha que aguentar as chorumelas da filha. A paciente saiu do hospital apoiando o estômago com as mãos e andando vagarosamente; naquele momento dava para perceber que sua recuperação seria lenta e complicada.

A nutricionista, que a acompanhava, entregou as instruções no momento da alta. Nos primeiros quinze dias, deveria se alimentar a cada trinta minutos e, em pequenas quantidades. Cinquenta ml somente de líquidos, para não sentir desconforto e dores estomacais.

Entretanto, ela era uma paciente intolerante e a cada gole soltava uma blasfêmia, que a mãe tinha que aguentar calada. A família não podia se alimentar diante de Valentina, pois ela começava um drama, com direito a choro, lamentações e acusações contra a mãe:

 - Você é a culpada de ter-me feito gorda e os outros não; eu te odeio. Não vou aguentar esta vida, prefiro a morte rápida do que morrer de fome.

Então, não jantavam mais juntos, a família reunida; cada um comia sozinho na cozinha para ela não se estressar. Clara aguentava calada, tinha pena de sua filha. Cada dia, parecia mais complicado que o outro. Durante quinze dias ela teria que tomar o suco fracionado, que  era intercalado com água na mesma proporção e uma sopa de carne com legumes coada em guardanapo de pano, que ela odiava.

Deveria também, ingerir suplementos alimentares em pó, dissolvidos em água, que na maioria das vezes, ela cuspia esbravejando. Os dias foram passando e Valentina estava mais magra, perdera alguns quilos, embora ainda não dava para ser notado.

Quinze terríveis dias se passaram e na visita à nutricionista, mãe e filha constataram que a cirurgia fora um sucesso; mas ainda estava apenas começando, havia muita luta pela frente.

Na segunda quinzena, foram introduzidos alimentos pastosos, que Valentina comia descontente, porém não havia alternativa e ela foi se acalmando, pois já sentia seu corpo mais leve. No segundo mês, foram introduzidos alimentos sólidos, porém, bem cozidos e em pequenas quantidades a cada três horas.  

Com quinze quilos a menos, Clara acompanhou a filha ao cabeleireiro, depois às lojas, queria que ela se sentisse bonita. O Natal estava próximo e ela deveria tomar uma injeção de ânimo. Ferrugem à acompanhava e estava contente que a sua melhor amiga estava ficando bonita e atraente.

No Natal a família pode se reunir em volta da mesa e comer sem os protestos de Valentina. Estava bem arrumada e parecia com sua irmã Ana; as duas eram moças bonitas. Clara sorriu e, pela primeira vez, depois de três meses, ela respirou aliviada dizendo a Rui:

- Nossa filha está ficando bonita! Já perdeu vinte quilos e agora está deixando as chorumelas de lado, louvado seja Deus.

Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sábado, 15 de outubro de 2016

"A APARÊNCIA PODE ATÉ FAZER A DIFERENÇA, MAS ELA NÃO É NADA, PERTO DA BELEZA QUE VEM DO CORAÇÃO'. AUTOR DESCONHECIDO

COMER, COMER...

CAPÍTULO OITO
           Mas, o que todos temiam estava para se concretizar; Valentina teria que cair na realidade. O dia seguinte amanheceu e a paciente estava com a boca seca, acordou da anestesia querendo comida e um refrigerante gelado, do jeito que estava acostumada. Estava agitada e impaciente, tentou se levantar, porém sentiu dor e voltou a posição original.

            Então, a enfermeira explicou que sua dieta seria líquida e em pequenos goles, de seis a oito porções diárias. Valentina arregalou os olhos e disse irritada:

           - Estou morrendo de fome e sede, preciso de comida e refrigerante!!!. Em seguida gemeu de dor, levando a mão ao local da cirurgia.

A enfermeira, então, disse que ela só iria iniciar a alimentação sólida, após dois meses da cirurgia. Exatamente para evitar a dor e o desconforto estomacal e depois ponderou:

- Você recebeu todas as orientações necessárias antes da cirurgia e deveria saber disso. Seu estômago foi reduzido e precisa de um tempo para cicatrizar.

- No entanto, ela não levara as orientações como coisa séria, ignorou todas as explicações recebidas. Interviu sua mãe apreensiva.

Enquanto isso a paciente se contorcia de dor precisando ser medicada e logo depois, adormeceu; ainda estava sob o efeito dos anestésicos.

 - A alimentação ficaria para depois, disse a enfermeira para Clara, que parecia assustada com o seu futuro e o de sua filha.

A profissional sentiu que a mãe estava aflita e lhe explicou que Valentina tomaria suplementos alimentares e vitaminas para evitar a queda de cabelos, o enfraquecimento geral e das unhas. Clara concordou com a cabeça, nada poderia mudar o que estava feito. No segundo dia, logo pela manhã chegou a dieta de Valentina, que esperava outra coisa para comer. A decepção estava visível em seu rosto espantado.

          Em uma bandeja estavam dois copinhos pequenos, aqueles em que são servidos cafezinho. Um continha chá e o outro um suco amarelo, ambos estavam até a metade; aquele era o desjejum de Valentina. Como estava faminta ela apanhou o suco e levou à boca de uma só vez, caiu como uma pedra em seu estômago e ela se contorceu levando a mão ao estômago.

               Mais uma vez a dor a incomodava e enquanto gemia questionava se seria sempre assim. O médico foi chamado e explicou à sua paciente que nos primeiros dias aquela dor era esperada e aos poucos tudo voltaria ao normal; precisava ter paciência e aprender a comer. Por ora teria que se levantar, tomar banho e caminhar um pouco, pois logo teria alta e deixaria o Hospital.
               Clara, que a tudo assistia ficou atenta a reação da filha, que veio imediatamente.


             – E o que eu vou comer? Estou morrendo de fome e não posso comer, que dói meu estômago. E, duas lágrimas rolaram de seus olhos indo morrer em sua boca, seguidas de um gemido doido. Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

"DIREI DO SENHOR: ELE É O MEU DEUS, O MEU REFÚGIO, A MINHA FORTALEZA, E NELE CONFIAREI". SALMOS 91 DA BÍBLIA SAGRADA


                              NAS MÃOS DE DEUS 
                    
CAPÍTULO SETE

Clara tinha muito medo da cirurgia de Valentina, porque o médico dissera que toda cirurgia, sempre, envolve riscos de vida. E, aquela filha já lhe trouxera muitas preocupações, então, suas noites tornaram-se povoadas de pesadelos; aquele pensamento sobre morte, a deixava inquieta.

Desde que o médico autorizou os exames pré-operatórios, que ela não dormia direito; parecia que vivia com uma sombra assustando seus dias e deixando a ansiedade tomar conta dela. Seu coração de mãe estava apertado, acelerado e nada conseguia acalmá-lo.

             Ela intensificara suas idas à Igreja e consequentemente suas orações, precisava se agarrar com Deus. Valentina não se importava com a cirurgia, não demonstrava nenhuma preocupação. Não dava importância à sua vida ou não entendia direito do que se tratava.

          Com certeza, pensava ser apenas um passe de mágica, sem levar em conta o sofrimento e as privações a que seria submetida posteriormente. Clara estava ciente de tudo isso, no entanto, para Valentina era a única saída para se livrar do complexo de inferioridade e dar a ela a oportunidade de se sentir igual aos irmãos, isto é, magra e esbelta.

           Ultimamente havia engordado mais ainda, seus tornozelos viviam inchados de carregar tanto peso. Chegara a pesar cento e quarenta quilos; seu corpo pesado lhe valia cansaço e falta de ar. Chegara ao seu limite; só o bisturi para dar jeito na situação, dissera o médico desanimado. Todos sabiam disso, a moça estava cada dia mais gorda. Valentina estava serena, iria para a forca sem pensar no cadafalso, pensava sua mãe quando olhava a filha obesa.

           E, finalmente o dia da cirurgia chegou para desespero de Clara, que acompanhou a filha até o Hospital. Valentina mostrava-se tranquila, parecia não se importar com a situação. E, quando vieram busca-la para o centro cirúrgico, a mãe ficou rezando para que sua cirurgia corresse bem.

          Foi uma manhã inteira de aflições e medos para aquela pobre mãe; embora Rui, o marido, estivesse ali, ele era impotente e só servia para dar o ombro para Clara chorar. Ela não saberia dizer quantas vezes pediu aos Santos e a Deus pela filha. O casal estava exausto, quando a porta se abriu e chegou a notícia de que a cirurgia havia acabado e a paciente estava na sala de recuperação.

          Os dois se abraçaram, agora começava uma nova etapa na vida da família, talvez a mais difícil de todas; conter a fome de Valentina. Sem dúvida, agora todos, estavam nas mãos de Deus. Pensou a mãe consolada pela notícia alvissareira. Valentina sobrevivera à cirurgia bariátrica...

        Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

"AINDA QUE HAJA NOITE NO CORAÇÃO, VALE A PENA SORRIR PARA QUE HAJA ESTRELAS NA ESCURIDÃO". AUTOR DESCONHECIDO.

UMA LUTA DIÁRIA
CAPÍTULO SEIS

           A mãe, então, tratou de marcar um médico endocrinologista o mais rápido possível, pois temia que Valentina desistisse da ideia. As duas foram ao médico, que educadamente explicou que precisava de exames de sangue para iniciar qualquer tratamento. Mãe e filha foram ao laboratório para colher o sangue da menina e, depois esperar que os exames ficassem prontos para levar ao médico.

             Finalmente estavam com os exames nas mãos e diante do médico endocrinologista. Ele explicou que devido à pouca idade de Valentina, iniciariam o regime com uma reeducação alimentar, onde toda a família deveria estar envolvida. Se quisessem obter êxito na reeducação alimentar da menina, deveriam se comprometer a evitar doces e massas nas refeições.

           O irmão e a irmã da menina protestaram, pois, eram magros e teriam que acompanhar o regime da irmã? Clara chamou os dois para uma conversa.

          – A irmã de vocês está com problemas e toda a família terá que colaborar para ajudá-la a emagrecer; é uma questão de vida ou morte. Enfatizou a mãe para os filhos contrariados, que saíram resmungando contra a situação estabelecida.

         - O cardápio é verde, parece um pasto, muito mato e grãos, dizia Celso inconformado.

         - Pouca carne e massas; de sobremesa frutas e nenhum doce, logo seremos apenas ossos. Choramingava a irmã mais velha, que tinha o corpo com as medidas perfeitas.

         Clara ficava nervosa por ver que os irmãos ironizavam a situação de Valentina, que lhe inspirava cuidados.

        Aos poucos todos se acostumaram ao novo cardápio; Ana e Celso comiam lanches fora de casa e assim, pararam de reclamar. Valentina perdeu quatro quilos em um mês, no entanto, mal dava para se notar. A menina voltou da consulta médica desanimada.

           – Tanto sacrifício com poucos resultados, não quero mais fazer regime. Dizia Valentina choramingando.

          No entanto, Clara e Rui não deixavam que ela desistisse, davam duro para ela manter o regime, com muita conversa e promessas de presentes e passeios. O Ferrugem deixou a bicicleta de lado para a amiga não ficar chateada.

          E, assim a menina emagreceu até chegar aos cento e dez quilos, daí não conseguiu emagrecer mais nada. O médico disse que somente a cirurgia conseguiria deixa-la magra, mas teriam que manter o regime até ela ter idade para fazer a intervenção cirúrgica.

         Foi uma luta diária que durou alguns anos. Clara e a família sofreram até Valentina chegar aos vinte e um anos. Uma moça obesa, arisca, introspectiva, que só gostava do amigo Ferrugem. Ele tornou-se um jovem alto, forte e de cabelos encaracolados da cor da ferrugem. Os dois não se largavam e todos perguntavam quando seria o casamento, então, desconversavam e saiam emburrados.

Valentina mantinha o peso entre cento e vinte e cento e trinta quilos e, já tinha indicação de cirurgia.

Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

"SEMPRE TENHA ESPERANÇA...A MELHOR SENSAÇÃO DO MUNDO É SABER QUE EXISTEM INFINITAS POSSIBILIDADES" AUTOR DESCONHECIDO.

ESPERANÇA

CAPÍTULO CINCO
        Clara, a partir deste dia, passou a tratar o menino com simpatia, pois sentia que ali estava o caminho para chegar ao coração da filha. Ferrugem era tímido, mas com o passar do tempo, parecia mais alegre e mais solto também; passava as tardes na casa de Valentina. Faziam a tarefa da escola e depois jogavam xadrez, dama ou baralho; vez ou outra riam para valer.

         A família estava apreensiva; o pai procurava conversar com a filha, que nem sempre estava receptiva. Ela só se transformava em contato com aquele menino desajeitado, que conseguia penetrar em seu coração. Os dois se entendiam e não se largavam, mas não queriam a companhia de ninguém. Se alguém se aproximava, eles se fechavam e saiam rapidamente.

Com o passar dos dias, Valentina passou a apresentar uma calma estranha, que muitas vezes parecia desinteresse por tudo ao seu redor. Não se abria para conversar com ninguém. Havia uma nuvem pesada pairando no ar e, Clara temia que a filha tentasse contra a própria vida novamente.

Porém, quando o amigo chegava seus olhos brilhavam e ela saia daquele marasmo. Não havia dúvidas de que o menino, fazia com que ela se sentisse menos triste. Os dias passavam e Valentina apresentava altos e baixos. Ora estava alegre e brincalhona, ora ficava trancada em seu quarto. A mãe lhe dava os remédios e esperava ela tomar, pois temia que ela os cuspisse fora.

Era uma situação preocupante, parecia que a paz nunca mais voltaria àquele lugar. Havia uma ameaça permanente assustando a todos. Valentina continuava a mesma menina relaxada e introspectiva; comia muito e agora vivia acompanhada de Ferrugem. Clara tinha medo de proibir essa amizade e ela se revoltar; não sabiam mais o que fazer.

Certo dia, o menino apareceu andando de bicicleta, disse que havia ganhado de presente. Disse que fora um tio quem lhe dera; estava feliz. No entanto, Valentina ficou muito triste, estava gorda para pilotar uma bicicleta. Em sua casa havia duas bicicletas, que eram de seus irmãos, mas ela não conseguia sair do lugar. Passou a tarde toda chorando e se lamentando.

Então, Clara propôs à filha procurar um médico para fazer um regime. E, para sua surpresa ela concordou e ficou feliz com a possibilidade de emagrecer. Clara lhe prometeu uma bicicleta e roupas novas se ela fizesse a dieta prescrita pelo médico.

 Pela primeira vez depois da tentativa de suicídio, Clara sentiu que sua filha estava de volta para eles. Seu coração pulsou forte, ainda restava uma esperança de recuperação para sua filha.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

"SER AMIGO É INTERPRETAR OLHARES, ENTENDER SILÊNCIOS, PERDOAR ERROS, GUARDAR SEGREDOS, PREVENIR QUEDAS E SECAR LÁGRIMAS". PAULO FERNANDES.


FERRUGEM, O AMIGO
CAPÍTULO QUATRO
          Clara pediu férias do seu trabalho para cuidar da filha, que estava em recuperação após a tentativa de suicídio. Valentina se encontrava em um estado lastimável, precisava da mãe perto dela o tempo todo. A situação era grave e Clara temia que a menina cometesse outra loucura. Levantava-se várias vezes durante a noite, para ir ver se a filha estava bem.

          O pai tentava, todas as noites, conversar com Valentina, porém ela apenas respondia com monossílabos evasivos. Foi, então, levada ao psicólogo, que não conseguiu grande coisa também; ela ouvia e não dava retorno. Demonstrava um desânimo total perante à vida, situação preocupante em uma adolescente. Parecia estar sofrendo de uma dor profunda. Sendo, posteriormente, encaminhada ao psiquiatra para ser acompanhada e medicada.

         Os dias foram passando e Valentina voltou a comer desesperadamente, retomando a sua rotina; parecia estar em seu estado normal. Na escola arrumou um amigo, que tinha o apelido de “Ferrugem”, era um menino desengonçado de cabelos vermelhos. No entanto, era ele que conseguia tirar sorrisos da menina. Seu relacionamento com a família era péssimo, falava somente o necessário.

        Clara e Rui não gostavam de ver a filha andando com um menino desleixado, mas o Ferrugem era o único que conseguia conversar com Valentina. Ele deveria saber todos os motivos de sua rebeldia e da tentativa de suicídio. Precisavam conversar com o menino.

         Certo dia, a menina estava na casa da avó e Ferrugem apareceu para chama-la, então, Clara o convidou para entrar e conversar um pouco. Precisava entender o que se passava com sua menina. A conversa foi difícil e truncada, mas esclarecedora.

- Qual o seu nome? Perguntou Clara, que não queria chama-lo pelo apelido, que lhe parecia desrespeitoso.
 – Claudionor, respondeu o Ferrugem.
 – Você gosta de Valentina?
 – Sim, é minha amiga. Então, me ajuda a entender a minha filha por favor, implorou a mulher desesperada.
O menino abaixou a cabeça, era tímido e queria fugir dali.
 - Não sei nada da vida dela, gaguejou o Claudionor.
          - Valentina lhe contou o motivo que a fez tentar acabar com a própria vida? Me responda para eu poder ajuda-la; é muito importante eu saber o que a aflige.
         O menino olhou para a mãe da amiga e sentiu que ela estava muito preocupada e resolveu falar.
          – Valentina quer morrer porque é gorda e feia. Os irmãos dela são bonitos e o pai e a mãe gostam somente deles.   
         – Ela lhe disse isso?
          – Sim, e que vai tentar outra vez.
           Clara ficou pálida diante do menino, que dentro de sua simplicidade demonstrava sua preocupação com a amiga.
          – Não quero que ela morra, eu gosto dela. E, duas lágrimas correram pelo rosto de Claudionor.

          A mulher, comovida, tratou de pegar um copo de suco para dar ao menino. Naquele momento, toda a aversão que sentia por ele, transformou-se em carinho e agradecimento por perceber que ali estava um amigo verdadeiro de Valentina.

Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

"DIFÍCIL É ENCONTRAR ALGUÉM QUE LHE ENTENDA, QUANDO VOCÊ NÃO CONSEGUE POR EM PALAVRAS AQUILO QUE TANTO LHE MACHUCA". AUTOR DESCONHECIDO


DIAS DIFÍCEIS
CAPÍTULO TRÊS
O dia seguinte surgiu e encontrou o casal dormindo sentados na poltrona da recepção do Hospital. Clara e Rui estavam exaustos de tanto chorar e, acabaram caindo no sono abraçados, tentando se consolar. A recepcionista, que rendeu a sua colega do noturno, foi acordá-los pois, já estavam chegando pacientes para serem atendidos.

- Por favor, vão para casa descansar, comer alguma coisa, que não adianta ficar aqui. A paciente está sendo bem cuidada, mais tarde podem retornar, que os deixarei entrar. Afirmou a moça com pena dos pais de Valentina.

Ambos ficaram em pé, estavam assustados e quando se lembraram do motivo pelo qual estavam ali, o desespero ficou estampado em seus rostos. Eles queriam informações sobre a filha, antes de irem para casa.

A enfermeira veio e lhes disse calmamente, que a paciente estava se recuperando lentamente, mas teriam que aguardar a evolução do quadro. Rui parecia desolado e abraçando sua esposa saiu em busca de um pouco de ar puro. Fora uma noite de puro pesadelo, seu corpo parecia moído; as dores estavam por toda parte.

Clara se agarrou ao marido chorando baixinho, precisava de apoio emocional; seu mundo estava de cabeça para baixo. E, ela não via saída; seu futuro estava irremediavelmente comprometido.

 - Como será minha vida daqui para a frente? Nunca mais terei paz, o medo da desgraça viverá como um fantasma me assombrando. Disse ao marido engolindo os soluços. Rui a abraçou com força, sentia o mesmo que ela.

            Vários dias se passaram e Valentina permanecia em coma para desespero da família. Depois de uma semana de tortura, a menina acordou e deu sinais de recuperação. Em três dias ela teve alta hospitalar e foi para casa. Estava emagrecida, mas o maior problema estava na cabeça; parecia dispersa e não queria conversar sobre o assunto. Estava deprimida; queria ficar no escuro e sozinha.

            Os irmãos mal conversam com ela, tinham medo de agravar a situação. Clara perdera o sossego, não saia de casa com medo que a filha fizesse outra loucura. O pai parecia perdido, tinha medo de retornar a casa e receber outra notícia ruim. A família estava em pânico.
 Um texto de Eva Ibrahim

Continua na próxima semana.

sábado, 3 de setembro de 2016

"É SÓ COM O CORAÇÃO QUE CONSEGUIMOS VER DE VERDADE, O QUE É ESSENCIAL É INVISÍVEL AOS OLHOS". O PEQUENO PRÍNCIPE.

DESESPERO
CAPÍTULO DOIS
           Ao adentrar ao seu quarto Valentina tropeçou no tapete, que estava na porta e caiu batendo a cabeça na parede; o barulho foi ensurdecedor. E, todos se levantaram para ver o acontecido. A mãe, o pai, Ana e Celso olhavam atônitos para Valentina, que já estava meio tonta; sofrendo o efeito dos medicamentos. Clara tentou levantar a filha, mas ela estava largada e seu corpo mole, parecia desmaiada.

            O pai e a mãe arrastaram a menina para a cama chamando pelo seu nome, mas não houve resposta. Ansiosos, estranharam quando ela começou a espumar pela boca. Clara desesperada, desconfiou que havia algo errado e correu para a cozinha. Assustada, ela viu as cartelas de remédio de pressão da avó vazias e jogadas sobre a pia.

           A mulher gritou para o pai e ambos se entreolharam apavorados. Clara pegou a chave do carro e deu ao marido. Em seguida, todos arrastaram Valentina até o automóvel, que precisou da ajuda do vizinho para colocá-la no carro, que saiu em desabalada carreira.

            Quando adentraram ao Pronto Socorro a menina estava pálida e desacordada. Clara começou a chorar enquanto os médicos e enfermeiros corriam com a maca até a sala de emergência. E, quando ela tentou adentrar a sala de emergência foi barrada e teve a porta fechada na cara; então, ela se desesperou com a gravidade da situação.

Duas horas se passaram sem que tivessem notícias da filha e o casal continuava ali, estarrecidos com a situação. Os dois irmãos se mantinham calados ao ver o sofrimento dos pais, nunca os tinham visto tão desesperados. Os avós chegaram e ficaram sentados calados, a espera de alguma notícia de Valentina. Podia-se ouvir os soluços de Clara, tão grande era o silêncio que reinava ali.


          Então, a porta se abriu e um médico paramentado de cirurgião entrou se dirigindo ao casal, que mal podia falar de tão nervosos que estavam.  

         - A paciente está estável no momento, foram feitas lavagens estomacais e aplicados todos os recursos disponíveis na área de emergência, pois o estado da paciente é muito grave. Ela está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), onde deverá permanecer até segunda ordem.

         Em seguida ele saiu silenciosamente, enquanto todos se olhavam assustados e perdidos. Então, apareceu uma enfermeira convidando os pais para verem a menina, um de cada vez. Depois todos deveriam deixar o local, pois, na UTI não pode ficar acompanhante. A moça foi categórica em sua colocação.

            Os familiares se retiraram levando Ana e Celso e no local permaneceram os pais de Valentina, que se perguntavam o motivo daquilo tudo. Quando saíssem daquela situação teriam que descobrir a causa que levou à filha a tomar uma atitude tão radical contra a própria vida.
Um texto de Eva Ibrahim.
 Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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