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quinta-feira, 2 de abril de 2015

"EU TAMBÉM SOU VÍTIMA DE SONHOS ADIADOS, DE ESPERANÇAS DILACERADAS. MAS, APESAR DISSO, EU AINDA TENHO UM SONHO, PORQUE A GENTE NÃO PODE DESISTIR DA VIDA". MARTIN LUTHER KING. -- REFLITA E VIVA UM DIA DE CADA VEZ. EVA IBRAHIM


UM DIA DE CADA VEZ

CAPÍTULO TRÊS

         Amanheceu um lindo dia de Sol e Celina estava com os olhos inchados de tanto chorar. Desolada, a moça olhava seu marido dormir um sono forçado por medicamentos diversos. Teria que esperar Fernando acordar, estava dopado, conforme o que lhe dissera o enfermeiro. Ele teria que passar o dia todo no Hospital, para aguardar o Neurologista e sua conduta naquele caso.

Celina fora alertada de que Fernando poderia ficar internado para fazer exames ou até mesmo ser submetido a algum procedimento cirúrgico. Ela estava triste e com sono, sua noite fora longa e estressante; precisava descansar. Quando sua sogra chegou para ver o filho, ela desabou; estava emocionalmente fragilizada. E, abraçada à mãe do marido chorou copiosamente e baixinho resmungou; “o meu mundo caiu”.

Não demorou muito e o rapaz acordou, estava confuso, não sabia o que estava acontecendo e depois das explicações dadas pelas duas mulheres ele disse lembrar-se vagamente do ocorrido. Então, o enfermeiro entrou dizendo que o paciente iria tomar banho, que as duas saíssem para dar uma volta. Sogra e nora se abraçaram e foram até a lanchonete para tomar um café.

A velha senhora tentava consolar a nora, que estava curtindo sua lua de mel com o coração na mão e pedindo a Deus pela cura de seu marido. Depois de uma hora, elas retornaram ao quarto.  Fernando estava sendo preparado para uma tomografia, que o neurologista havia solicitado.

As próximas horas seriam decisivas para Celina saber sobre a doença de seu marido e como seria sua vida dali para a frente. As duas mulheres sentaram-se no sofá da sala de espera e não demorou muito para Celina recostar a cabeça e adormecer; seus olhos estavam tão pesados que foram fechando sem ela consentir.

                  A sogra observava a nora e pensava se ela ficaria com Fernando, caso a sua doença fosse grave. Então, tratou de andar um pouco para tirar aquele pensamento da cabeça; a espera e a ansiedade a deixavam nervosa.

         Depois de um longo tempo, surgiu uma maca no final do corredor com dois homens vestidos de branco empurrando-a. Era Fernando sendo conduzido ao quarto, o rapaz havia adormecido após os exames a que fora submetido. Celina acordou sobressaltada e pediu desculpas à sogra por ter cochilado. Queria saber do marido e se estava bem; o enfermeiro disse para a mulher aguardar que o médico daria notícias.

Aquela espera era assustadora, teria que se acalmar ou ficaria doente também, pensou Celina em um momento de lucidez. Mais tarde, depois que Fernando acordara, apareceu um senhor de meia idade com óculos de lentes grossas, bigodes fartos e expressão séria, estava apressado. Entrou com uma porção de papéis nas mãos e foi logo abordando o paciente e dizendo que já tinha um diagnóstico baseado na tomografia.

            - Tudo indica que foi uma crise epilética que você teve.

Falou diretamente para Fernando e depois olhou para as duas mulheres que que estavam ao lado da cama. Então, continuou:

           - Durante a crise o paciente perde a consciência, apresenta espasmos musculares, que sacodem o corpo ou pode, simplesmente, deixar a pessoa confusa e desatenta.     
                
          - Como ele adquiriu essa doença? Perguntou a mãe de Fernando.

E, o médico especialista em neurologia começou a explicar:

         -É difícil estabelecer uma causa, precisamos investigar

        - A epilepsia é uma doença do sistema nervoso, a maioria dos casos é de fácil tratamento. Porém, existem casos mais severos que precisam, muitas vezes, de cirurgia. As crises epiléticas podem ser desencadeadas por mudanças súbitas de intensidades luminosas, tais como: luzes piscando, privação do sono, bebidas alcoólicas, febre alta, ansiedade, cansaço, drogas e outros.

          Vamos deixa-lo internado para entrar com a medicação para diminuir o número e a intensidade das crises. Se amanhã ele estiver melhor darei alta para ele. Daqui para a frente ele terá que viver um dia de cada vez. Dizendo isso ele saiu do quarto deixando a mãe e a esposa de Fernando boquiabertas. Tudo aquilo era novo e terrível para o casal de recém-casados.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sábado, 28 de março de 2015

"O AMOR NÃO É VIVER FELIZES PARA SEMPRE, ISSO É UM CONTO DE FADAS. O AMOR É SABER COMO ENFRENTAR A VIDA JUNTOS." S. STREMIZ --QUE A DOR NOS UNA AINDA MAIS.EVA IBRAHIM

O PIOR PESADELO

CAPÍTULO DOIS
           O tio e padrinho do casamento dirigia o automóvel que conduzia o rapaz ao Hospital e ao seu lado estava sua esposa, a tia de Celina. No banco detrás, deitado sobre as pernas da esposa, Fernando tinha contrações musculares intensas e Celina procurava segurá-lo, porém sem sucesso. Em seguida começou a espumar pela boca e ela começou a gritar que ele estava morrendo. O tio pisou no acelerador e quase pegou um transeunte, a tia se agarrou no puxador e começou a rezar alto, pedindo para Deus ajuda-los.

          Entraram no pátio do P.S. buzinando e cantando pneus. Então, dois homens de jaleco branco colocaram o rapaz em cima de uma maca e rapidamente desapareceram, ela não teve tempo de dizer nada, ainda estava vestida de noiva e não sabia o que fazer. Celina começou a chorar pensando que o marido estava morrendo, por isso sumiram com ele.
Em seguida chegaram seus pais e os pais de Fernando tentando acalmá-la. Celina foi levada a uma sala reservada onde lhe deram água, ela estava muito nervosa. O relógio na parede parecia não cumprir seu papel, pois, as horas não passavam. Quanto mais ela olhava, menos ele andava; Celina precisava ter notícias do marido ou enlouqueceria. Então, apareceu uma enfermeira que a conduziu à sala de observação, onde estava o seu amor.

Fernando dormia profundamente; estava pálido e com as roupas do Hospital. Celina não se conformava com a situação, eles deveriam seguir para a lua de mel, no entanto, estavam no Pronto Socorro e ela desesperada sem saber o que o marido tivera.

O médico entrou para conversar com a família e explicou a situação, dizendo que Fernando estava bem. Dormia por causa do efeito das medicações que tomara para controlar a convulsão. Era jovem e forte, porém, deveria procurar um médico neurologista para se submeter a uma porção de exames. Tudo indicava que ele tivera um ataque epilético, mas seria prematuro afirmar isso sem o resultado de exames. Permaneceria em observação até o dia seguinte, quando seria avaliado novamente e se estivesse bem poderia retornar à sua casa.

           A mãe de Celina precisou ampará-la, aquela seria sua noite de núpcias e onde ela depositara todos os seus sonhos de menina. O seu príncipe encantado estava adormecido e ela teria que voltar à sua casa para tirar seu vestido de noiva. A festa seria cancelada e a viagem de lua de mel adiada, na melhor das hipóteses.

               A mãe de Fernando ficou fazendo companhia ao filho, enquanto Celina voltava para a casa de seus pais para trocar suas roupas. Em seguida, a moça desolada, retornou ao Hospital, passaria a noite ao lado do marido. Depois de algumas horas ele acordou, estava estranho, parecia não se lembrar do ocorrido. Celina chamou a enfermeira, queria saber por que o marido estava confuso. Em seguida o médico foi chamado e confirmou suas suspeitas. Fernando apresentava lapsos de memória e seu estado poderia ser mais grave do que o previsto.

          Ela deveria ficar alerta e a menor suspeita de convulsão que tocasse a campainha. Durante a madrugada ele teve outra convulsão e foi sedado novamente. O médico disse que chamaria o neurologista que certamente pediria uma tomografia do crânio de Fernando. O caso dele poderia ser pior do que parecia e inspirava muitos cuidados.


A noite foi longa e triste, Celina quis ficar sozinha com Fernando, para seus pais poderem descansar. Duas lágrimas correram pelo seu rosto, casara-se com seu amor, entretanto, estava solitária em sua primeira noite de casada. Nem mesmo em seu pior pesadelo ela poderia imaginar sua noite de núpcias em um Hospital. Olhou pela janela e viu as luzes acesas em meio ao silêncio da noite; ao longe um cão latia sem parar.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

domingo, 22 de março de 2015

"ALGUM DIA, TUDO FARÁ SENTIDO. ENQUANTO ISSO, RIA DA CONFUSÃO, CHORE UM POUCO. E, ENTENDA QUE TUDO ACONTECE POR ALGUMA RAZÃO". PAULO COELHO--- SÃO DEMAIS OS PERIGOS DA VIDA. EVA IBRAHIM

MEU MUNDO CAIU
O CASAMENTO
CAPÍTULO UM
       Celina acordou muito cedo, ainda estava escuro quando levantou-se e foi até a cozinha. Enquanto passava o café pelo coador pensava que aquele seria seu último dia de solteira; precisava vive-lo intensamente. Sua mãe ouviu barulho e levantou-se; mãe e filha sentaram–se para tomar o café enquanto falavam sobre a importância daquele dia.

Elza dizia para a filha que aquele seria um dia mágico, onde ela e Fernando seriam os atores principais. Era um dia que ela nunca apagaria da memória, acontecesse o que fosse, aquele sempre seria lembrado como sendo o dia de seu casamento. Um marco em sua vida, o casal seria o foco de todos os olhares para elogios e críticas também.

O salão paroquial já estava todo enfeitado com flores de diversos tons de amarelo. A noiva queria que a sua festa de casamento fosse alegre, com música e muita dança. O buffet chegaria logo após o almoço e quando o sino da Matriz tocasse cinco badaladas, ela subiria as escadas para realizar seu grande sonho de amor, casar-se com Fernando.

 Enquanto a moça tomava banho para se preparar para o casamento no cartório civil ela pensava em como fora difícil conquista-lo. Algumas de suas amigas faziam questão de se insinuar e dar em cima do rapaz. A Leila chegou a namorá-lo e atualmente as duas moças nem se falavam mais. Entre muitas fofocas e desavenças ela e Fernando começaram a namorar. E, depois de três anos de idas e vindas o casal de namorados resolveu casar-se.

                 Formavam um bonito casal, ele trabalhava no Banco do Brasil e ela na Escola Municipal, era professora primária. O apartamento estava mobiliado e parecia que o convívio se daria com muita cumplicidade e consequentemente seriam felizes.

          Celina estava bonita em seu vestido azul de seda, que realçava seus cabelos negros. Fernando estava bem vestido em seu traje social e quando se encontraram no cartório, o noivo a beijou com satisfação. Era evidente que estavam apaixonados. Em seguida, cada um foi para sua casa, onde haveria um almoço para os padrinhos, entretanto, os dois só iriam se encontrar as dezessete horas na entrada da Igreja.

O dia de Celina voava e, logo após o almoço chegou a maquiadora para prepara-la para as bodas. Arrumar o cabelo a maquiagem e por último o vestido que estava disposto sobre a cama. A mãe e uma prima estavam à disposição para ajudar no que fosse preciso; queriam que tudo saísse perfeito.

Na hora combinada, a Igreja estava cheia de parentes, convidados e os pais e padrinhos faziam fundo para o noivo, que estava impaciente aguardando a moça. A porta da nave principal foi aberta, o coro de vozes da Igreja começou a tocar e a noiva, deslumbrante, adentrou ao recinto acompanhada de seu pai e duas daminhas de honra; tudo em grande estilo.

               Fernando recebeu Celina com um beijo na testa, em seguida ajoelharam–se diante do altar. A cerimônia corria normalmente e quando o padre pediu que ficassem em pé para o juramento final, Fernando levantou-se, cambaleou e caiu sobre o vestido de Celina. Foi levantado pelos padrinhos e depois de algum tempo na Sacristia, conseguiu voltar ao lugar de origem e dizer o tão esperado sim.

               O novo casal permaneceu durante algum tempo na festa, porém, Fernando ficou sentado, estava pálido, parecia que iria desmaiar a qualquer momento. Saíram dali diretamente para o Pronto Socorro mais próximo do local. Durante o trajeto o rapaz começou a convulsionar, para desespero da recém-casada.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 13 de março de 2015

"SOMOS FEITOS PARA A FELICIDADE, PARA A TROCA, PARA A PAZ. PARA A BONDADE E PARA FACILITARMOS A EXISTÊNCIA UNS DOS OUTROS. PARA A CORAGEM E A ALEGRIA DE SIMPLESMENTE SER." ANA JÁCOMO ---NÃO PERCA A CAPACIDADE DE SORRIR. EVA IBRAHIM

CORAÇÃO PARTIDO
CAPÍTULO QUATRO.
         Finalmente, Ana se despediu de Serena dizendo que ligaria para que combinassem outro churrasco, já que aquele do domingo não vingou. Serena ficou a espera de sua família para abraça-los; estava emocionada pelo empenho que demonstraram diante do acidente de Artur. Ela e Celso estavam criando os três filhos do casal com todo amor do mundo. E, eles correspondiam demonstrando amizade, solidariedade e cuidados com os amigos e conhecidos.

Todos foram dormir com a sensação do dever cumprido. Estavam cansados, a correria fora grande. Serena acariciou os cabelos de Celso, em seguida o beijou; amava aquele homem bonito, charmoso e competente. Entretanto, a noite não foi muito calma, Saulo acordou assustado e foi para a cama de Serena; queria saber se o amigo ficaria bem.
- Artur ficará ótimo, apenas deverá tomar uma série de cuidados até o dente aderir novamente ao osso, explicou a mãe para o filho.
O menino voltou para a sua cama, estava tranquilo e feliz, pois, ele tinha o seu pai herói, que reparara o acidente de seu amigo Artur.

 No dia seguinte, Ana levou Artur ao consultório do amigo para uma nova avaliação. Recebeu as recomendações e cuidados que deveria ter com o dente implantado e os alimentos que poderia ingerir na primeira semana. Estava tudo bem e o dente ficaria do mesmo jeito que era antes do acidente; aquele dia e o susto ficariam no passado. Disse orgulhoso, o profissional especializado em implantes; seu trabalho fora minucioso; estava contente.

              Somente depois de ouvir de Celso que estava tudo bem, Ana saiu com os olhos marejados de lágrimas. Então, sentou-se no banco do jardim em frente à clínica para chorar. Artur não entendia porque sua mãe estava chorando, afinal tudo acabara bem. A mulher abraçou o filho e pediu para ele ficar quieto, ela precisava desabafar; o medo do desconhecido fora grande.

              Ana seguiria todas as orientações do dentista, que agora passara a ser  considerado além de amigo, um irmão. Queria combinar um novo churrasco, para demonstrar a sua gratidão à família de Celso. A mulher pediu à Serena que a encontrasse na lanchonete, precisa contar todos os acontecimentos em seus mínimos detalhes e desabafar toda sua emoção. Seu coração estava em frangalhos e precisava juntar os pedaços. Somente um coração de mãe sabe o significado de uma aflição daquele tamanho; a dor do filho dói na carne da mãe.

Durante os primeiros dias, o menino deveria tomar sopas, vitaminas e sucos sob a supervisão de sua mãe. Ana deveria vigiar o filho o tempo todo, para ele não cair e bater a boca; o implante estava, ainda, muito recente; foi a orientação final de Celso.

 Diante de tanta pressão, a mulher precisava de um conforto espiritual e procurou o Pastor de sua Igreja para conversar. Ele lhe abriu os olhos e a orientou a agradecer a Deus pelo sucesso obtido no implante e por ter, naquele momento, alguém capacitado, que pode atender o seu filho.

- Foi Deus que colocou a pessoa certa, no lugar certo e por vontade dele. Portanto, ela deveria esquecer o acontecido e tocar sua vida para a frente. O passado é morto e o que importa é o presente; o futuro virá em função deste, por isso devemos ser alegres e felizes, enfatizou o religioso.

Ana saiu dali aliviada; recebera uma bênção do pai celestial e precisava comemorar com os amigos. Seu coração, que estava partido, começava a cicatrizar. O medo seria substituído pela confiança em Deus, que sempre fora seu porto seguro.

Quando adentrou a lanchonete e viu a amiga, Ana a abraçou e chorou em seu ombro, depois contou toda a história do acidente do filho, com detalhes. Finalmente, disse que jamais poderia pagar ao Celso o bem que ele lhe fizera. O dentista estava no lugar certo e na hora certa para salvar o dente de seu filho e sua autoestima de adolescente, permitindo assim, que Artur tivesse uma vida normal.
Um texto de Eva Ibrahim.

 Aqui termina a história do acidente que arrancou o dente da frente de Artur.

sexta-feira, 6 de março de 2015

"EXISTEM VITÓRIAS QUE PARECEM PEQUENAS PARA SEREM COMEMORADAS; PORÉM, SÃO ESSAS PEQUENAS VITÓRIAS DIÁRIAS, QUE MUDAM NOSSAS VIDAS". ERIC VENTURA. --- MUITAS VEZES, A ALEGRIA VEM DEPOIS DO CHORO. EVA IBRAHIM.

MISSÃO CUMPRIDA
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                                                CAPÍTULO TRÊS
               O profissional de implantodontia nada pensava além de, como recolocar o dente em seu lugar de origem. Com o objeto precioso na mão, ele precisava de soro para manter o dente em boas condições até chegarem à sua clínica. Entretanto, ali não havia nenhum líquido estéril e depois de olhar tudo a sua volta, ele viu um coco da Bahia dentro da geladeira. Não teve dúvidas, pegou a fruta, que já estava gelada e cortou a parte de cima introduzindo o dente naquele líquido, que ainda estava intacto.

                Em seguida todos correram para os dois veículos que estavam estacionados no pátio e saíram em desabalada corrida. Havia muita pressa e o dentista precisava passar em sua casa para pegar a chave da clínica. Ana olhou em seu relógio, já se passara uma hora do acontecido; uma ruga de preocupação surgiu em sua testa.

             Celso, Artur, Saulo e Ana foram no primeiro veículo e os outros no automóvel do pai do acidentado. O dentista seguia rápido, havia urgência naquele caso e ele não queria perder tempo. Então, ele começou a falar sobre o assunto, parecia dizer para si mesmo, como se fosse um mantra conhecido.

           - O segredo para o sucesso na recolocação de um dente é reimplantá-lo no local de onde saiu, o mais rápido possível. Cada minuto perdido, células importantes da raiz morrerão, comprometendo o êxito da pequena cirurgia. Olhando o relógio, Celso continuou falando alto:

            - O êxito do reimplante é maior durante os primeiros trinta minutos, com boas chances até duas horas após o trauma. Já perdemos uma hora, porém, Artur é jovem, saudável e conseguiremos recolocar seu dente. E, olhando para Ana disse:

            - Precisamos ter fé; com a ajuda de Deus tudo ficará bem.

Ana segurava o coco como se fosse a maior relíquia já conquistada, ali dentro estava parte de seu filho, ou seja, o seu dente da frente. Tanta coisa passava pela cabeça da mulher, enquanto olhava o buraco deixado na gengiva de seu menino. Entre uma oração e outra ela olhava para Celso, que naquele momento era um Deus, pronto para ajudá-la. Então, com um solavanco o automóvel parou, haviam chegado à clínica.

            Adentraram ao recinto rapidamente e o dentista acostumado ao procedimento, foi logo tomando as providências necessárias. O menino parecia assustado e a mãe o acalmava permanecendo ao seu lado. Saulo ficou em segundo plano, caso o pai precisasse de alguma coisa, pois ele estava com luvas estéreis, trabalhando em um campo estéril. O coco estava colocado de maneira estratégica para que o dente fosse pinçado e colocado em soro fisiológico antes de ser depositado em seu leito natural, na gengiva do menino.

           O pequeno Saulo tinha orgulho de seu pai e naquele momento sentia-se importante, já que a auxiliar de Celso estava de folga. Assim, ele se tornara um ajudante ocasional.

Serena ouvia o relato de sua amiga e mal podia acreditar na situação que todos viveram; gostaria de ter podido ajudar também.

           Depois de trinta minutos, o dente estava novamente em seu lugar e Celso respirou profundamente. Usou de toda sua experiência e obteve êxito. Tirou a máscara, as luvas e dando a mão ao paciente o sentou na mesa cirúrgica; depois, sorrindo disse:

          - Seu dente está no lugar, agora temos que tomar alguns cuidados para que ocorra a osseointegração do implante de seu próprio dente. Deverá ser igual ou melhor do que em pacientes de mais idade, visto que, as respostas de organismos mais jovens são melhores.

          Artur sorriu e apareceu seu dente no lugar certo, é bem verdade que estava um pouco inchado. No entanto, aquela situação era passageira; disse Celso aliviado.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

"NÃO ESTOU DIZENDO QUE SERÁ FÁCIL, ESTOU DIZENDO QUE VALERÁ A APENA". AUTOR DESCONHECIDO-- A VIDA É CHEIA DE PEQUENOS MOMENTOS ESPECIAIS. EVA IBRAHIM.

PRECISO DE SORTE
CAPÍTULO DOIS
              Serena empalideceu e depois sentou-se para ouvir o que a amiga tinha para contar. Ana suspirou fundo e continuou dizendo, que enquanto socorria seu filho, que sangrava pela gengiva, tentando estancar o sangue, seu marido e Celso, o marido de Serena, chamavam todos que estavam ali, para procurar o dente de Artur. Era um dente permanente, o inciso central, que fora arrancado com a batida da boca no parapeito do escorregador.

Todos empenhados em encontrar o dente, pois o dentista estava ali, pronto para socorrer o filho do amigo da melhor forma possível. Entretanto, o dente poderia ter caído dentro da piscina e seria impossível encontrar um dente em meio a tanta água.

As crianças e a mãe do menino procuravam em cima das pedras de ardósia, que cobriam toda a área ao redor do escorregador e os dois homens decidiram mergulhar na piscina; havia uma grande possibilidade do dente ter caído na água.

Saulo, o filho de Serena e Celso, sentia-se culpado por ter-se chocado com Artur e provocado toda aquela situação. E, também não queria que o amigo ficasse sem o dente da frente, por isso era o mais empenhado em encontrar o dente. O menino vasculhou cada centímetro do local e nada encontrou, então, ele começou a chorar.

Ana ficara nervosa ao ver o buraco deixado pelo dente, seu filho teria que implantar seu próprio dente ou ficaria com uma janelinha até seu desenvolvimento completo, para poder receber uma prótese implantada. Artur tinha apenas nove anos e, demoraria bastante para poder colocar uma prótese naquele local.

 Não existe uma idade máxima para uma pessoa colocar implantes dentários, somente uma idade mínima: nas mulheres a partir de dezessete anos e nos homens a partir dos dezoito anos. Celso explicara rapidamente em meio a procura incessante do dente da criança.

Artur soluçava deitado no colo da mãe, que começara a orar pedindo a Deus que os ajudasse a encontrar o dente do filho, ou ele sofreria discriminação na escola e outros tipos de brincadeiras de mal gosto.

Durante quarenta minutos os dois homens mergulhavam e subiam sem nenhum resultado. Celso estava ficando preocupado, seu tempo poderia estar se esgotando, precisava de muita sorte; não poderia desistir. Teria que remediar o acidente, que seu filho, involuntariamente havia provocado.

Era especialista em implante e primava pela bela aparência do sorriso de qualquer pessoa, não poderia deixar de acudir o filho do amigo. Apreensivo, ele mergulhou novamente e quando subiu para puxar o ar, apoiou o pé no fundo da piscina e sentiu que havia alguma coisa embaixo de seu pé esquerdo. Parecia uma pedrinha, então, pediu ao pai de Artur que mergulhasse naquele local, que ele seguraria o objeto com o pé.

          O homem imediatamente mergulhou e levou a mão ao local indicado. Passando a mão percebeu uma pequena pedra e a pegou com firmeza, precisava emergir para ver o que era. Para felicidade de todos era o dente do menino, estava inteiro, do jeito que fora arrancado.

Os olhos do dentista brilharam, era sua vez de agir; aquela era a maior missão que já se impusera, resgatar o sorriso do filho do amigo.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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