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sexta-feira, 6 de março de 2015

"EXISTEM VITÓRIAS QUE PARECEM PEQUENAS PARA SEREM COMEMORADAS; PORÉM, SÃO ESSAS PEQUENAS VITÓRIAS DIÁRIAS, QUE MUDAM NOSSAS VIDAS". ERIC VENTURA. --- MUITAS VEZES, A ALEGRIA VEM DEPOIS DO CHORO. EVA IBRAHIM.

MISSÃO CUMPRIDA
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                                                CAPÍTULO TRÊS
               O profissional de implantodontia nada pensava além de, como recolocar o dente em seu lugar de origem. Com o objeto precioso na mão, ele precisava de soro para manter o dente em boas condições até chegarem à sua clínica. Entretanto, ali não havia nenhum líquido estéril e depois de olhar tudo a sua volta, ele viu um coco da Bahia dentro da geladeira. Não teve dúvidas, pegou a fruta, que já estava gelada e cortou a parte de cima introduzindo o dente naquele líquido, que ainda estava intacto.

                Em seguida todos correram para os dois veículos que estavam estacionados no pátio e saíram em desabalada corrida. Havia muita pressa e o dentista precisava passar em sua casa para pegar a chave da clínica. Ana olhou em seu relógio, já se passara uma hora do acontecido; uma ruga de preocupação surgiu em sua testa.

             Celso, Artur, Saulo e Ana foram no primeiro veículo e os outros no automóvel do pai do acidentado. O dentista seguia rápido, havia urgência naquele caso e ele não queria perder tempo. Então, ele começou a falar sobre o assunto, parecia dizer para si mesmo, como se fosse um mantra conhecido.

           - O segredo para o sucesso na recolocação de um dente é reimplantá-lo no local de onde saiu, o mais rápido possível. Cada minuto perdido, células importantes da raiz morrerão, comprometendo o êxito da pequena cirurgia. Olhando o relógio, Celso continuou falando alto:

            - O êxito do reimplante é maior durante os primeiros trinta minutos, com boas chances até duas horas após o trauma. Já perdemos uma hora, porém, Artur é jovem, saudável e conseguiremos recolocar seu dente. E, olhando para Ana disse:

            - Precisamos ter fé; com a ajuda de Deus tudo ficará bem.

Ana segurava o coco como se fosse a maior relíquia já conquistada, ali dentro estava parte de seu filho, ou seja, o seu dente da frente. Tanta coisa passava pela cabeça da mulher, enquanto olhava o buraco deixado na gengiva de seu menino. Entre uma oração e outra ela olhava para Celso, que naquele momento era um Deus, pronto para ajudá-la. Então, com um solavanco o automóvel parou, haviam chegado à clínica.

            Adentraram ao recinto rapidamente e o dentista acostumado ao procedimento, foi logo tomando as providências necessárias. O menino parecia assustado e a mãe o acalmava permanecendo ao seu lado. Saulo ficou em segundo plano, caso o pai precisasse de alguma coisa, pois ele estava com luvas estéreis, trabalhando em um campo estéril. O coco estava colocado de maneira estratégica para que o dente fosse pinçado e colocado em soro fisiológico antes de ser depositado em seu leito natural, na gengiva do menino.

           O pequeno Saulo tinha orgulho de seu pai e naquele momento sentia-se importante, já que a auxiliar de Celso estava de folga. Assim, ele se tornara um ajudante ocasional.

Serena ouvia o relato de sua amiga e mal podia acreditar na situação que todos viveram; gostaria de ter podido ajudar também.

           Depois de trinta minutos, o dente estava novamente em seu lugar e Celso respirou profundamente. Usou de toda sua experiência e obteve êxito. Tirou a máscara, as luvas e dando a mão ao paciente o sentou na mesa cirúrgica; depois, sorrindo disse:

          - Seu dente está no lugar, agora temos que tomar alguns cuidados para que ocorra a osseointegração do implante de seu próprio dente. Deverá ser igual ou melhor do que em pacientes de mais idade, visto que, as respostas de organismos mais jovens são melhores.

          Artur sorriu e apareceu seu dente no lugar certo, é bem verdade que estava um pouco inchado. No entanto, aquela situação era passageira; disse Celso aliviado.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

"NÃO ESTOU DIZENDO QUE SERÁ FÁCIL, ESTOU DIZENDO QUE VALERÁ A APENA". AUTOR DESCONHECIDO-- A VIDA É CHEIA DE PEQUENOS MOMENTOS ESPECIAIS. EVA IBRAHIM.

PRECISO DE SORTE
CAPÍTULO DOIS
              Serena empalideceu e depois sentou-se para ouvir o que a amiga tinha para contar. Ana suspirou fundo e continuou dizendo, que enquanto socorria seu filho, que sangrava pela gengiva, tentando estancar o sangue, seu marido e Celso, o marido de Serena, chamavam todos que estavam ali, para procurar o dente de Artur. Era um dente permanente, o inciso central, que fora arrancado com a batida da boca no parapeito do escorregador.

Todos empenhados em encontrar o dente, pois o dentista estava ali, pronto para socorrer o filho do amigo da melhor forma possível. Entretanto, o dente poderia ter caído dentro da piscina e seria impossível encontrar um dente em meio a tanta água.

As crianças e a mãe do menino procuravam em cima das pedras de ardósia, que cobriam toda a área ao redor do escorregador e os dois homens decidiram mergulhar na piscina; havia uma grande possibilidade do dente ter caído na água.

Saulo, o filho de Serena e Celso, sentia-se culpado por ter-se chocado com Artur e provocado toda aquela situação. E, também não queria que o amigo ficasse sem o dente da frente, por isso era o mais empenhado em encontrar o dente. O menino vasculhou cada centímetro do local e nada encontrou, então, ele começou a chorar.

Ana ficara nervosa ao ver o buraco deixado pelo dente, seu filho teria que implantar seu próprio dente ou ficaria com uma janelinha até seu desenvolvimento completo, para poder receber uma prótese implantada. Artur tinha apenas nove anos e, demoraria bastante para poder colocar uma prótese naquele local.

 Não existe uma idade máxima para uma pessoa colocar implantes dentários, somente uma idade mínima: nas mulheres a partir de dezessete anos e nos homens a partir dos dezoito anos. Celso explicara rapidamente em meio a procura incessante do dente da criança.

Artur soluçava deitado no colo da mãe, que começara a orar pedindo a Deus que os ajudasse a encontrar o dente do filho, ou ele sofreria discriminação na escola e outros tipos de brincadeiras de mal gosto.

Durante quarenta minutos os dois homens mergulhavam e subiam sem nenhum resultado. Celso estava ficando preocupado, seu tempo poderia estar se esgotando, precisava de muita sorte; não poderia desistir. Teria que remediar o acidente, que seu filho, involuntariamente havia provocado.

Era especialista em implante e primava pela bela aparência do sorriso de qualquer pessoa, não poderia deixar de acudir o filho do amigo. Apreensivo, ele mergulhou novamente e quando subiu para puxar o ar, apoiou o pé no fundo da piscina e sentiu que havia alguma coisa embaixo de seu pé esquerdo. Parecia uma pedrinha, então, pediu ao pai de Artur que mergulhasse naquele local, que ele seguraria o objeto com o pé.

          O homem imediatamente mergulhou e levou a mão ao local indicado. Passando a mão percebeu uma pequena pedra e a pegou com firmeza, precisava emergir para ver o que era. Para felicidade de todos era o dente do menino, estava inteiro, do jeito que fora arrancado.

Os olhos do dentista brilharam, era sua vez de agir; aquela era a maior missão que já se impusera, resgatar o sorriso do filho do amigo.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

"ATITUDE É UMA PEQUENA COISA, QUE FAZ UMA GRANDE DIFERENÇA". CLARICE LISPECTOR--- AS PALAVRAS MACHUCAM... EVA IBRAHIM

NO LUGAR CERTO
PRIMEIRO CAPÍTULO
Serena chegou à sua casa, que estava vazia e na penumbra; suspirou fundo, sentia-se muito cansada. Aquele fora um dia exaustivo de trabalho e, pensou em deitar-se para repousar um pouco, depois decidiria se iria reunir-se ao marido, filhos e amigos, que estavam fazendo churrasco em uma chácara.

Jogou-se no sofá e tentou sentir cada parte de seu corpo, precisava relaxar, aquele fora um dia difícil. Serena trabalhava como enfermeira em um grande Hospital; tinha dias que o seu trabalho lhe exigia muito. Cochilou ali mesmo e quando acordou sentou-se no sofá, estava assustada; tivera um pesadelo com seus filhos. 

Tratou de ligar no celular do marido, que dava sinal de ocupado, então, ela resolveu dar um jeito na casa. Colocou cada coisa em seu lugar, comeu um lanche e foi tomar banho. Esperaria que eles retornassem para casa, ela havia decidido que não iria ao encontro deles; estava sem disposição para sair, queria descansar.

           Ligou outras vezes no celular de Celso, o marido, e continuava dando sinal de ocupado. Ela estranhou, pois seu esposo era dentista e ficava à disposição de seus clientes, que eram muitos e, vez ou outra, havia alguma emergência para ele atender. O celular nunca ficava desligado, o marido era cuidadoso e prestativo.

             - Será que teria acabado a bateria?
               Serena ficou preocupada, entretanto, ela sabia que o marido não a deixaria sem notícias se houvesse acontecido alguma coisa diferente. 

           Já estava escurecendo e sua ansiedade aumentava, então, ela tentou falar com a Ana, a esposa do amigo, que também estava na chácara com os filhos. O telefone da amiga estava mudo e a espera começou a afligi-la. Serena sentou-se no sofá e ficou aguardando alguma notícia.

Quando o telefone tocou, ela correu para atender, estava nervosa. Era Ana, a amiga que estava com o marido e os filhos aguardando por ela, para juntar as duas famílias. A voz de Ana parecia aflita e foi logo dizendo que houve um acidente com o filho dela e Saulo, o filho de Serena.

A enfermeira, acostumada a ver os piores acidentes, não conseguia responder, ficava imaginado seu menino machucado. Saulo tinha somente nove anos de idade, era o seu caçula e ela sentiu seu coração disparar. Ana dizia que ficasse calma, que já haviam tomado as providências necessárias.

 – Diga logo, o que houve com Saulo? Gritou Serena desesperada.

Do outro lado da linha, a amiga dizia que Saulo estava bem, o problema era com Artur, o filho dela. Os dois meninos estavam brincando no escorregador da piscina e bateram com as cabeças, uma na outra e o Artur bateu a boca na proteção do brinquedo. 

             Com o impacto, o dente foi arrancado e caiu dentro da piscina. Era um dente permanente, ele não poderia perder aquele dente. Celso, o marido de Serena e dentista especialista em implante de dentes, ficou desesperado, precisava encontrar o dente do menino.

 Um texto de Eva Ibrahim. 
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

"EU NÃO SOU ASSIM TÃO FORTE O TEMPO TODO...AS VEZES PRECISO DE COLO TAMBÉM..." CRIS PIZZIMENTI---O MEU FUTURO É HOJE...EVA IBRAHIM



“QUEM DERA SER UM PEIXE”

CAPÍTULO QUATRO

Finalmente chegou a minha vez e, eu fui conduzida a um aposento, onde me deram um avental para vestir, uma toca para cobrir os cabelos e sapatos cirúrgicos. Depois fui levada à sala de anestesia, estava com o coração apertado; o medo me deixava aflita. Eu não sabia o que iria acontecer, isto é, a dinâmica da cirurgia. Na sala ampla, de cores claras e ar refrigerado, estavam o anestesista e um profissional da enfermagem, alegres e brincalhões.

Havia duas poltronas reclináveis, uma já estava ocupada pela paciente que fora chamada antes de mim, que logo foi conduzida ao centro cirúrgico. Recebi as orientações de praxe, uma punção venosa com soro e muitos pingos de colírios no olho doente. Fiquei aguardando a minha vez, confortavelmente instalada e trocando uma prosa leve com o anestesista. Ao fundo havia uma música sendo cantada pelo cantor Fagner: “Borbulhas de amor”. A sala de cirurgia ficava ao lado e através da enorme porta de vidro, dava para ver as pessoas circulando a cirurgia, que ocorria lá dentro.

Era uma situação de muita calma e tranquilidade, nada que justificasse o meu nervosismo. Entretanto, meu coração estava apertado pelo medo do desconhecido, que eu estava vivendo naquele local. Fiquei ouvindo a música e me deixando levar pela voz que dizia: “Quem dera ser um peixe...”. Eu também queria ser um peixe para estar bem longe dali e não precisar vivenciar aquele momento.

           Mas, como tudo tem sua hora, a minha também chegou e eu enfrentei a cirurgia com muita garra. Correu tudo bem e quando sentei na mesa para me levantar percebi que continuava enxergando com o olho operado. Caiu por terra o meu medo de ficar cega e sai dali acompanhada de uma enfermeira, que me conduziu ao quarto onde ficaram minhas roupas. Depois me serviu um café da manhã. Estava tudo bem, agradeci a Deus.

As primeiras vinte e quatro horas são difíceis, os olhos ficam lacrimejando e parece que tem areia dentro. É o momento para repousar em um quarto a meia luz, com a televisão ligada ao fundo. Nos horários determinados é preciso pingar os colírios e ficar longe dos perigos já alertados.

As orientações foram a seguinte: ficar longe do fogão, proibido cozinhar, lavar, passar roupas e abaixar abaixo da cintura. Então, o que fazer?
Nada, nada e nada. Ficar deitada repousando e deixar o tempo passar, pois, depois de sete dias teria a cirurgia do segundo olho. No dia seguinte há o retorno ao consultório médico e as melhoras vão acontecendo a cada dia. Podemos ler, escrever, assistir televisão e usar o computador, com certa dificuldade, é bem a realidade.

Quando chegou o dia da cirurgia do outro olho, foi tudo muito mais tranquilo, pois, já conhecia a rotina e o que é conhecido não inspira medo. Na verdade eu queria sumir dali, porém, não dava para ficar com uma lente de graus em um lado só do rosto; seria motivo de risos, com certeza.

A cirurgia do segundo olho aconteceu com o fundo musical na voz de Maria Bethânia, cantando “Casinha branca” da autoria de Peninha. Isto é, ...Eu queria ter na vida simplesmente, um lugar de mato verde pra plantar e pra colher...”

A recuperação aconteceu rapidamente e eu voei para minha casa, deixando o aconchego do lar da minha filha, onde quebrei meus paradigmas.

Aqui termina a história de uma catarata que não existe mais e eu estou muito bem, vendo tudo com lentes de zero graus e sem óculos.
Um texto de Eva Ibrahim.
Iniciaremos uma nova história na próxima semana.


sábado, 7 de fevereiro de 2015

"APRENDI QUE A CORAGEM NÃO É A AUSÊNCIA DO MEDO, MAS O TRIUNFO SOBRE ELE". NELSON MANDELA---NINGUÉM PODE CAMINHAR POR VOCÊ. EVA IBRAHIM

ESTRELINHAS LUMINOSAS
           CAPÍTULO TRÊS.
Depois de muitos anos usando os óculos, ele se tornara parte do meu corpo, só descansava quando eu dormia. Assim mesmo, ficava sobre o criado-mudo, dentro do meu alcance, pois, a primeira coisa que eu fazia ao acordar era colocá-lo sobre o meu nariz. Há três anos eu percebi que meus óculos estavam ficando fracos muito rapidamente, passei a visitar o oftalmologista pelo menos duas vezes ao ano.

Os óculos pareciam embaçados e eu os lavava e enxugava carinhosamente; porém, no dia seguinte estavam embaçados novamente. O especialista prescrevia nova receita e eu trocava as lentes; melhorava por algum tempo, entretanto, logo começava a ficar ruim novamente.

Em uma dessas visitas ao médico, ele me disse que estava próximo o dia em que eu teria que trocar os cristalinos, pois o meu olho direito estava iniciando uma catarata. E, que sempre começa com a impressão de que os óculos estão sempre embaçados; surgem os lacrimejamentos e o desconforto visual. Com o passar do tempo, eu comecei a ter dificuldades para dirigir de frente para o Sol.

Mandei colocar a película protetora nos vidros de meu carro de uma cor mais escura. Não adiantou nada, a claridade excessiva me cegava de um jeito, que eu tinha que encostar o automóvel para não bater em outro veículo. Algumas vezes, precisava aguardar o trânsito melhorar e procurar caminhos alternativos em diagonal, para fugir do astro rei.

Sou uma pessoa de pensamento positivo e sempre acreditei que essa situação seria passageira; era só trocar as lentes dos óculos, que voltaria a enxergar normalmente; tenho uma negação constante quando se trata de doenças.

Eu estava muito ocupada com trabalho, escola e minha casa, então, não dispunha de tempo para procurar o médico especialista. Quando pudesse, iria fazer uns óculos escuro de graus, para poder dirigir e tudo ficaria bem. Eu não queria nem pensar na possibilidade de fazer uma cirurgia em meus olhos.

Entretanto, no ano passado outro fato aconteceu para aumentar o meu medo e consequentemente a minha negação. Quando eu deitava em minha cama para assistir televisão e fechava o olho esquerdo, a televisão ficava embaçada. Depois começou a surgir pequenos relâmpagos no canto do olho ruim. Eram pequenas estrelinhas brilhantes, que me incomodavam e deixavam assustada. Sabia que deveria procurar o médico com urgência, mas, eu não queria ouvir a opinião dele.

Depois de alguns meses, eu vivia lavando aquele olho com soro fisiológico, parecia que melhorava um pouco. O tempo passava e a minha visão piorava, no entanto, eu insistia que estava tudo bem, até o dia em que precisei renovar minha carteira de habilitação.

Quando fui fazer o exame médico fui reprovada, pois, não enxergava as letras no fundo do aparelho de teste da visão, com o olho direito. Depois de vários exames e o compromisso de procurar um oftalmologista eu consegui minha carteira novamente. No entanto, evitava dirigir enquanto aguardava a consulta com o especialista.

O médico foi categórico, somente uma cirurgia resolveria a opacidade do meu olho direito, que estava com catarata.  E, o olho esquerdo também teria o cristalino trocado, assim, eu deixaria de usar os óculos. Essa possibilidade me deixou alegre, afinal, era a única coisa boa de toda aquela história dantesca.

Uma semana antes da data marcada eu tentei fugir da cirurgia criando empecilhos, porém, minha família não permitiu e eu fui obrigada a assumir a cirurgia de catarata.
 Então, com o coração apertado cheguei à sala de espera do centro cirúrgico de oftalmologia.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

"QUANDO FALAR COMIGO, OLHA DENTRO DOS MEUS OLHOS... AS RESPOSTAS QUE NÃO SAÍREM DA MINHA BOCA, SAIRÃO DO FUNDO DELES". NÁDINA F. SANTOS.--SE TE FAZ FELIZ, VALE A PENA. EVA IBRAHIM

 O VELHO COMPANHEIRO

           CAPÍTULO DOIS
                     Eu dispunha de um bom tempo para tomar a decisão de fazer ou não a cirurgia, que me apavorava. Havia a possibilidade de fugir daquela situação. Nunca ouvira falar de alguém que fizera uma cirurgia de catarata, que é eletiva, a força; mesmo porque teria que retornar para fazer o outro olho. Havia tempo para pensar e amadurecer a ideia; queria refletir e entender como a catarata se instalou em meu olho. Puxaria o fio da lembrança para ligar os fatos que me levaram até aquela situação; seria uma explicação e um alerta para outras pessoas.

Planejar é o início de tudo e eu comecei meu projeto catarata; uma coisa de cada vez e a resolução final sobre a cirurgia, ficaria em último lugar.

          O local da cirurgia ficava distante de minha casa, portanto, comprei as passagens de avião. Eu ficaria hospedada na casa de minha filha, ainda que não fizesse a cirurgia. Pensava na situação criada, na necessidade da intervenção cirúrgica e na minha covardia. Parecia que todo mundo vinha me contar sobre cirurgias de catarata; chegava a sentir inveja de quem já havia feito à operação. Entrei na internet para ver vídeos sobre a cirurgia e quase desisti; o procedimento parecia muito agressivo, me arrependi de olhar aquilo.

        As festas de fim de ano terminaram e eu tinha que enfrentar a situação, alguns itens do projeto deveriam ser cumpridos. Exames pré-operatórios, avaliação cardiológica e outros itens para o pós-operatório, tais como: muitos colírios, quatro para o olho esquerdo, quatro para o olho direito, remédio para dor, muitos lenços de papel e óculos escuros.

         Senti uma pontada no peito, eu tinha resistência em abandonar meu velho companheiro, os óculos de graus. Eu possuía vários óculos que vinha colecionando ao longo de várias décadas, feios, bonitos, ridículos; alguns foram reaproveitados, outros abandonados, porém todos tiveram sua glória em algum momento de minha vida.

            O uso dos óculos já tinha décadas, pelo menos três; uma necessidade incontestável. Como todo mundo, eu comecei com óculos para ler e depois incorporei o assistente, que passou a ser a luz dos meus olhos. Não conseguia ir ao banheiro sem o sujeito sobreposto em meu nariz. Amigo para todas as horas; ás vezes entrava debaixo do chuveiro e só então, percebia que ainda estava de óculos. Outras vezes, me deitava e depois sentia que os óculos permaneciam montados sobre o meu nariz. Então, tinha que tirá-lo para que ele não amanhecesse todo torto, como já acontecera em outras ocasiões.

Certo dia, quando fui adentrar ao Banco para fazer um pagamento, a lente do lado direito dos meus óculos saltou, caindo no chão. Em seguida foi escorregando e parou no pé de um jovem que, espantado deu um passo para trás; que sorte, daria para resgatá-la, pensei ansiosa. Ele a entregou para mim, estava sorrindo disfarçadamente; afinal, lentes de óculos não ficam pulando por ai. Quando olhei para trás, pude ver o rapaz e suas colegas cochichando entre risinhos de contentamento, pela situação vexatória que presenciaram.

Desisti de pagar a conta e fui procurar uma Ótica, pois estava me sentindo envergonhada com o buraco deixado pela lente e também enxergando muito pouco. A atendente da Ótica me conhecia de outros atendimentos e aproveitou para polir e ajustar os óculos na máquina; ficou ótimo e sai feliz de volta ao Banco. Ele fazia parte de mim, sem ele eu não faria nada, como poderia abandoná-lo?
 O projeto catarata tinha a finalidade de corrigir o problema constatado e aposentar os óculos. E, eu ainda não sabia como sobreviveria sem eles.

Com a troca do cristalino, o médico garantiu que eu não precisaria mais usar óculos de graus, entretanto, o medo criara um bloqueio em meu pensamento. Não queria pensar naquilo, por enquanto era somente um projeto de saúde.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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