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domingo, 25 de janeiro de 2015

"AO ABRIR O CORAÇÃO PARA DEUS, O CÉU ENTRA PELA PORTA PARA REALIZAR SEUS SONHOS". SILMAR COELHO. É PRECISO LUZ PARA APRECIAR A VIDA. EVA IBRAHIM



A SOMBRA DA CATARATA
          CAPÍTULO UM
          Eu estava sentada na sala de espera do centro cirúrgico da clínica de oftalmologia, acompanhada de mais duas pessoas. Uma mulher com aparência de trinta e cinco, outra com mais de oitenta anos e eu com sessenta e alguns; as duas conversavam sobre a cirurgia de catarata. Estávamos ali aguardando a chamada para a intervenção cirúrgica do primeiro olho. A ansiedade não me deixava prestar atenção à conversa, mal respondi as perguntas que me fizeram.

         Estava passando pelo pior dia da minha vida e não queria conversas inúteis e fúteis. Aquele momento era entre eu e Deus; havia necessidade de uma profunda reflexão.  Mesmo sendo a melhor clínica e o melhor médico da região, ainda havia o medo do desconhecido e a agressão a um órgão especial do meu corpo, os olhos.

         Meu pensamento estava focado em todas as divindades: anjos, arcanjos, Maria Santíssima, Santa Luzia entre outros santos conhecidos e o todo poderoso filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Rezei e orei todas as orações conhecidas, mantras e pedidos de ajudas que me vinham à cabeça; era a hora da verdade, eu estava ali como paciente.

        A demora se estendia por um bom tempo; olhei no relógio da parede e percebi que já haviam decorridos trinta minutos. Em seguida, chamaram a velha senhora. Fiquei mais nervosa do que já estava; teria que ser eu, pensava ansiosa, porque ela parecia tranquila. Entretanto, cronologicamente teria prioridade, então, a seguinte seria eu. A pergunta que teimava em pular dentro da minha cabeça era aquela:

         - Por que eu?

 Trabalho na área da saúde a mais de quarenta anos e confesso que tenho medo de cirurgias. Portanto, tenho conhecimento e li o papel que assinei quando entreguei os documentos da minha autorização cirúrgica. Ali estava descrito que todas as cirurgias têm riscos; existe sempre uma possibilidade de não dar certo ou ocorrer alguma complicação.

         O médico era um especialista, seguro, experiente e fui eu quem o escolheu como sua paciente particular, depois de várias indicações de parentes e conhecidos. Queria garantir um bom atendimento e correr o menor número de riscos possíveis, já que não tinha como fugir daquela situação, pois, logo ficaria cega do olho direito. E, com o passar do tempo, do olho esquerdo também.

                “A catarata é a opacificação do cristalino, lente natural do olho, normalmente incolor e transparente, que tem como objetivo focalizar os objetos que enxergamos. Essa perda da transparência vai dificultando a luz de chegar à retina, e a visão vai diminuindo, tornando-se embaçada”. Explicou o médico pausadamente. Depois continuou dizendo que, não existem colírios que retardem ou curem a catarata; o único tratamento disponível no momento é a cirurgia. A recuperação da visão é rápida e, quase sempre completa. A catarata é a maior causa de cegueira tratável no mundo, concluiu o médico especialista. Estava decretada minha sentença, era isso ou a cegueira progressiva.

Foram feitos todos os tipos de exames disponíveis na clínica antes do Natal e marcada a cirurgia para o começo do ano seguinte. Respirei fundo, teria tempo para pensar. O diagnóstico era de catarata senil não especificada, então, eu fui pesquisar sobre o assunto e descobri que me enquadrava em alguns motivos causais. Envelhecimento, carga genética, pois minha avó e meu irmão, também tiveram a doença. E, a catarata que ocorre em função do uso de medicamentos, principalmente o corticoide quando é usado por longos períodos. Tudo isso é suposição minha, em busca do conhecimento dessa sombra que me perseguia.

Era a hora de pagar o preço por ter usado esse tipo de medicação. O trauma sofrido no joelho esquerdo depois de uma queda da própria altura em dois mil e nove e, sua imensa carga de dor, foi o motivo de muitas receitas de corticoides, prescritas pelos diversos ortopedistas consultados. Naquele momento, o mais importante era sanar a dor lancinante que acometia o meu joelho; a qual gerava muito sofrimento. 

Uma residente me alertou sobre os malefícios do corticoide tomado por longos períodos, porém, era o que tirava a dor rapidamente e me permitia trabalhar. O amanhã seria outro dia, o que contava era a necessidade do momento.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

"RENDA-SE, COMO EU ME RENDI. MERGULHE NO QUE VOCÊ CONHECE COMO EU MERGULHEI. NÃO SE PREOCUPE EM ENTENDER, VIVER ULTRAPASSA QUALQUER ENTENDIMENTO". CLARICE LISPECTOR. --- A VIDA CONTINUA. EVA IBRAHIM


        INACEITÁVEL

                              CAPÍTULO DOZE

            O homem fechou a cara e tratou de tirar a mulher dali; depois conversariam, disse Antônio para Olívia. Ela percebeu que ele não aceitaria sua gravidez como sendo dele; pairava muita desconfiança no ar. Olívia sentiu medo, o marido poderia agir com violência quando soubesse quem era o pai da criança.

Durante o trajeto até a residência do casal, Antônio não disse uma única palavra, apenas olhava de rabo de olhos para sua mulher, que chorava baixinho. A situação já demonstrava que o marido tinha razão em sua desconfiança; porém, ele queria ouvir da boca de Olívia sobre sua gravidez.

 - Ele era um homem curtido pela vida, um velho “lobo” da estrada e ninguém o enganaria sobre uma possível traição de sua mulher. Até então, ele pensava que Olívia era uma dona de casa exemplar.  Antônio precisava pensar em tudo o que estava acontecendo, pois, sua mulher quase não saia de casa e vivia fugindo de seus carinhos, como ficara grávida?

O médico dissera que na menopausa é possível engravidar, entretanto, tiveram tão poucas relações nos últimos meses, que aquele filho não poderia ser dele. Sua esposa, com certeza, havia arrumado um amante.

         Olhou para Olívia e sentiu ódio, mataria o amante dela e depois a poria na rua; que se virasse sozinha. Não iria criar filho bastardo de ninguém, então, pensou em Renato e Raquel. Os filhos dele sentiriam vergonha da mãe e do pai se ele fosse para a cadeia. Devia pensar melhor, afastou a ideia de matar o pai da criança; cadeia não era lugar bom.

Chegaram a residência e entraram na sala, então ele pegou os dois punhos de Olívia e a sentou rispidamente no sofá. Era a hora da verdade, que ela falasse tudo que estava acontecendo ali.

-De quem era aquele filho? Em seguida lhe acertou um tapa no rosto, que ardeu feito fogo. Ela começou a chorar e gaguejou o nome de João Paulo; então, levou outro tapa no outro lado do rosto. Ele não estava para brincadeiras e queria toda a verdade; sentou-se em sua frente e ficou esperando a explicação de sua mulher. Entre lágrimas ela contou a história de amor que estava vivendo com o filho da vizinha.

O homem perdeu a paciência e abriu a porta mandando ela ir embora daquela casa, sem levar nada, somente a roupa do corpo. Que ela não voltasse aquela casa ou ele mataria os dois, sua mulher e seu amante. Os filhos não estavam em casa e Olívia saiu para se abrigar na casa de D. Estela. Nada mais poderia fazer, teria que aceitar a decisão de Antônio e esperar seu amor sair da cadeia para refazer sua vida. Seus filhos não quiseram saber dela. Olívia foi condenada por todos, família, amigos e vizinhos; todos diziam que ela errou e deveria pagar por isso.

Para sua sorte havia ficado em sua bolsa a chave de sua casa e ela pode pegar roupas e objetos pessoais, quando não havia ninguém na casa. Ela ficou morando com D. Estela, que a acolheu como filha. Queria ver a felicidade de seu filho quando ganhasse a liberdade. O tempo corria e ela soube que Antônio estava morando com outra mulher na cidade vizinha e vinha uma vez por mês para ver os filhos, que moravam sozinhos na antiga casa de Olívia.

Essa era sua história, tinha o bebê nos braços e aguardava ansiosamente a saída de João Paulo da cadeia para viver aquele amor tardio. Amor de mulher madura é cheio de paixão, pois ela está na idade da loba e tudo pode acontecer.

Um texto de Eva Ibrahim.

Capítulo doze
Aqui termina a história de Olívia e seu amor tardio.
Iniciaremos uma nova história na próxima semana.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

"E, AS HORAS LÁ SE VÃO, LOUCAS OU TRISTES... MAS, É TÃO BOM, EM MEIO AS HORAS TODAS, PENSAR EM TI; SABER QUE TU EXISTES." MARIO QUINTANA-- VIRE A PÁGINA E RECOMECE A ESCRITA. EVA IBRAHIM!

A ENCRUZILHADA

                                                  CAPÍTULO ONZE
         Olívia guardaria aquele segredo enquanto pudesse; ainda tinha alguns meses pela frente.  Não diria nada a ninguém, apenas contaria a novidade ao seu amor, ele ficaria feliz e o laço que os unia se tornaria mais forte. Ela precisava sentir o amor e o apoio de João Paulo, para decidir o que fazer de sua vida; estava em uma encruzilhada.

Passados quinze dias, D. Estela pediu à vizinha que a acompanhasse ao presídio, pois não tinha segurança em viajar sozinha. Era uma senhora idosa e precisava de companhia, além do que, seu filho ficaria feliz em vê-la, argumentou a velha senhora. Olívia sorriu, também queria vê-lo, estava ansiosa; muito mais do que a vizinha poderia imaginar. Não contaria sobre a gravidez à D. Estela para não deixa-la preocupada.

          Antônio viajou e ela se preparou para contar a novidade ao seu amante. A reação de João Paulo seria determinante para sua decisão de contar sobre seu estado ao marido. Olívia estava ansiosa para reencontrar João Paulo; seu coração batia aceleradamente. Ele a cativara e passara a ser o homem que ela sempre imaginara. Ao rever o seu amor, a mulher teve a certeza de que, o amor que sentia por ele estava acima de tudo; não hesitaria em abandonar o marido e os filhos para viver com ele.

      Depois de um longo abraço, ela disse que trazia uma grande novidade para ele e, depois que a velha mãe se afastou e ficaram a sós, Olívia fez a revelação inesperada. Eles teriam um filho juntos e ela esperava que fosse parecido com ele.

 O rapaz ficou pálido, não sabia o que pensar; era uma situação inusitada. Ele gostava da mulher, entretanto, precisava refazer sua vida antes de assumir compromisso sério. João Paulo sempre desejou ter um filho, porém, em outra situação. Queria acompanhar a gestação e dar toda a assistência a sua mulher. Aquele não era o melhor momento, teria que cumprir o restante de sua pena e não daria tempo de ver seu filho nascer.

Entre abraços e lágrimas ele a fez prometer que esperaria até o dia das mães para tomar uma atitude. João Paulo tinha bom comportamento e por isso acreditava que sairia da prisão novamente, para passar o feriado com sua mãe. Por ela ser uma mulher idosa, seria possível conseguir o indulto, argumentou o rapaz.

Olívia nada pode resolver; se abrisse a boca, seria expulsa de casa e não saberia o que fazer. Mal dormia à noite, que eram povoadas de pesadelos horríveis. Comia pouco para não engordar e dar na vista. A criança já mexia em seu ventre e ela tinha curiosidade em saber o sexo do bebê, porém, nunca fora ao médico, temia que alguém descobrisse o seu segredo.

A mulher sempre arrumava brigas com Antônio, para que ele não a tocasse, entretanto, ele andava desconfiado do jeito de sua esposa. Ela estava engordando e sempre indisposta, teria que pressioná-la para saber o que a fazia agir assim. Olívia sempre fora uma mulher tranquila e cordata, agora vivia na defensiva; algumas vezes parecia odiá-lo.

Ela não poderia tirar a roupa diante de Antônio, pois ele perceberia sua barriga protuberante. Durante esse tempo o casal teve três relações sexuais, que Olívia não conseguiu evitar, mas estava escuro e o marido não percebeu nada.

Certo dia, a gestante foi ao açougue comprar carne e teve uma queda de pressão. Olívia desfaleceu e foi levada ao Pronto Socorro da cidade. Lá chamaram o marido, que ficou boquiaberto ao ouvir o médico dizer, que sua esposa estava grávida de cinco meses.

Um texto de Eva Ibrahim.


Continua na próxima semana.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

"JAMAIS SE DESESPERE EM MEIO AS MAIS SOMBRIAS AFLIÇÕES DE SUA VIDA, POIS DAS NUVENS MAIS NEGRAS CAI ÁGUA LÍMPIDA E FECUNDA." PROVÉRBIO CHINÊS---AMAR, TALVEZ, SEJA ISSO. EVA IBRAHIM.

           SEM PERDÃO

                                CAPÍTULO DEZ
        Olívia tinha que aceitar o marido, não por escolha, mas por obrigação; esperava ele dormir para deitar-se. Fazia aquilo como se fosse um ritual, silenciosamente se enfiava na cama e permanecia imóvel; depois se levantava antes dele. Na maioria das vezes dava certo, entretanto, algumas vezes ela tinha que ceder; Antônio forçava a situação. João Paulo perguntou à Olívia se ela e Antônio mantiveram relação sexual e a mulher negou; tornara-se mentirosa também.

         Aquele era um caminho sem volta; Olívia caminhava para a decadência moral. Seus valores se reduziram a quase nada, tinha um caso com um detento da Penitenciária, que fora preso por tráfico de drogas. Se alguém descobrisse seria apontada na rua, pois, Antônio a expulsaria de casa. Pensava nos filhos e sentia-se envergonhada, entretanto, o amor que tinha dentro do peito falava mais alto e lhe dava coragem para enfrentar o mundo.

O marido saiu para acertar novas viagens e ela correu à casa de D. Estela, queria se despedir de João Paulo. Trancaram-se no quarto onde aconteceu mais uma entrega de amor. Uma relação tão forte que o casal não queria mais sair dali; era um ninho perfeito, apenas os pássaros estavam errados.

Olívia voltou a si quando ouviu o ronco do caminhão de Antônio, parando do outro lado da rua. Então, ela disse um “até breve” ao seu amor e esgueirando-se pelo muro foi para casa. O marido estava no banheiro e ela aproveitou para lavar seu rosto no tanque; queria tirar o sabor dos beijos de João Paulo ou acabaria contando ao marido a sua traição.

O marido nem percebeu que a mulher estava nervosa; ele disse alguma coisa e saiu sem esperar a resposta. Olívia respirou fundo, sua consciência estava pesada; era muita culpa por tanta felicidade obtida de maneira pecaminosa. Estava muito envolvida, jamais conseguiria voltar a ser aquela mulher simples e ingênua de algum tempo atrás.

               A ansiedade não deixara a mulher dormir; queria, ao menos, ouvir quando João Paulo saísse para retornar ao presídio. E, quando ouviu o portão fechar ela chorou baixinho; seu amor partira sem data para voltar. Os dias perderam a luz, nada mais tinha sentido. Olívia tornara-se uma flor murcha, não queria conversa com ninguém; estava deprimida.

               Antônio, em suas idas e vindas não dava muita importância à frieza da mulher. Ele pensava que a menopausa estava mexendo com o humor de sua esposa, afinal, ela era uma mulher de quarenta e cinco anos, que não tinha mais o viço das jovens de vinte.

               O mês de janeiro passou e quando fevereiro chegou Olívia estava com problemas estomacais; vivia vomitando pelos cantos. Suas regras de menstruação não apareceram, entretanto, o médico disse que era normal a menstruação diminuir quando a mulher está no climatério.
               O tempo corria e durante uma visita à Penitenciária, João Paulo reparou que Olívia estava diferente, isto é, mais magra, pálida e com um olhar diferente. Com ar de preocupação pediu que ela procurasse o médico; poderia estar doente mesmo e não apenas fingindo. Ela concordou, iria ao médico, pois não se sentia nada bem, vivia vomitando.
               A mulher foi submetida a vários exames e depois recebeu o diagnóstico, que quase a enfartou; estava grávida. Ela foi levada ao céu e depois ao inferno, o filho era de João Paulo, que era mulato escuro, teria que contar a verdade ao marido.

Quando a criança nascesse, todos saberiam de sua traição. A data provável de quando engravidara, não deixava nenhuma dúvida, pois não tivera relação sexual com Antônio, portanto, tinha certeza de que o pai era João Paulo. Antônio era branco, descendente de italianos e não aceitaria um filho mulato, sem duvidar da honestidade da mulher.

Olívia teria que pensar muito e tomar uma decisão; queria muito aquele filho, fruto de muito amor.

Um texto de Eva Ibrahim. 

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

"E, QUE A MINHA LOUCURA SEJA PERDOADA. PORQUE METADE DE MIM É AMOR E A OUTRA METADE, TAMBÉM..." FERNANDO PESSOA-- NÃO HÁ MEDIDA PARA O AMOR. EVA IBRAHIM.

AMOR BANDIDO
                                              CAPÍTULO NOVE
          Quando Antônio saiu para trabalhar ainda estava escuro, era sábado de manhã; as festas para ele continuariam nas estradas. Estaria de volta somente na sexta-feira seguinte, após o ano novo; era a forma de prover o sustento de sua família. Ele já estava acostumado, era um velho lobo da estrada, que passava muitos dias fora de casa. 

       Partiu preocupado com Olívia, a mulher estava arredia, não aceitou seus carinhos; dizia estar doente. Antônio gostava dela, a chama dos primeiros tempos havia se apagado, entretanto, ficara o afeto, o companheirismo; Olívia era seu porto seguro. Ele não imaginava que ao viajar, fazia dela uma mulher feliz.

Durante alguns dias ela poderia desfrutar do amor de João Paulo. Olívia não se reconhecia mais, tornara-se uma nova mulher, muito mais astuta. Estava apaixonada e louca para estar ao lado de seu novo amor. Mesmo sabendo que corria riscos de ser descoberta pelos filhos ou algum vizinho. Era um sentimento tão profundo que parecia sufoca-la de ansiedade; tinha que contar até dez para não dar na vista.

O amor torna a pessoa imprudente, pondo em risco a própria reputação, João Paulo alertava a mulher. Além do que ele teria que voltar a prisão e, consequentemente, não poderia assumir compromisso oficial com ela. Ainda tinha três anos de pena para cumprir, então, quando saísse queria ficar com ela, porém, agora ela deveria ter cautela.

Aquele amor precisava permanecer em segredo para o bem dela; dariam tempo ao tempo para descobrir o melhor caminho a seguir. Ele poderia receber a liberdade condicional se tivesse bom comportamento e assim, sair mais cedo da cadeia. Ela precisava da proteção do marido, o amor dos filhos e o abrigo da casa, para ele poder ter tranquilidade. Depois da liberdade conquistada voltariam a conversar, disse João Paulo, com uma ruga de preocupação na testa.

D. Estela já estava entregue a degeneração natural que acompanha a velhice e ia deitar-se logo ao escurecer. Então, Olívia aguardava os filhos saírem de casa para cair nos braços de João Paulo. Aninhada naqueles braços fortes, sentia-se a mulher mais feliz desse mundo. Os dias passavam rapidamente e o casal se preocupava com o retorno do marido e a volta de João à Penitenciária.

A sexta-feira chegou e Olívia sentiu seu coração pular no peito, estava desconsolada, queria que Antônio nunca mais voltasse para casa. Então, pensou em Deus, vivia em pecado e estava desejando a morte do marido; em seguida se arrependeu.

- Perdão, meu Deus, não me castigue, pois, ninguém precisa morrer para eu viver; há de se dar um jeito. Um arrepio subiu pelo corpo da mulher. Sua condição de traidora começava a pesar em seus ombros.

–Como iria encarar o marido? E se ele quisesse toca-la? Não poderia trair João Paulo e aquela história da doença não se sustentaria por muito tempo. Sua cabeça chegava a doer de tanto pensar, estava desolada. Seu amor voltaria à prisão na segunda-feira e com Antônio em casa ela não poderia dizer adeus, amando-o pela última vez.

            Logo cedo, ela ouviu o ronco do caminhão de Antônio e ele desceu do veículo sorridente; trazia nas mãos um saco de mangas. Ele sabia que ela gostava daquela fruta e sempre lhe trazia algumas; era uma forma de agradá-la. Entregou o saco com uma mão e com a outra a puxou para si, beijando-a de surpresa. Depois perguntou se ela havia melhorado, estava preocupado com sua saúde.

            Olívia percebeu que Antônio não aceitaria desculpas, estava sedento de amor. Ele a puxou para o quarto, tinha urgência em amá-la. A mulher sentiu repulsa pelo marido, não queria trair seu novo amor, entretanto, não teve forças para resistir.

          Antônio possuiu sua mulher enquanto ela pensava em João Paulo, depois a deixou e foi para o banho. Olívia sentiu o gosto salgado das lágrimas que corriam pelo seu rosto; cometera a traição da traição e sentia-se suja e miserável.

Um texto de Eva Ibrahim.
 Continua na próxima semana.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"UM DIA DESCOBRIMOS QUE APAIXONAR-SE É INEVITÁVEL E, QUE AS MELHORES HISTÓRIAS DE AMOR SÃO, NA VERDADE, AS MAIS SIMPLES." MÁRIO QUINTANA-- NÃO DESISTA, SORRIA. EVA IBRAHIM

COM MUITO AMOR
                                            CAPÍTULO OITO
         O jantar foi mágico, olho no olho com o coração disparado. Ao mais leve toque, o corpo de Olívia se incendiava, estava pronta para o amor de João Paulo. Ele a abraçou e, lentamente a conduziu ao seu quarto; Olívia estava enfeitiçada e não opôs resistência. Em seguida, com muitos beijos, afagos e carinhos ele a despiu. Depois se deitou ao seu lado na cama e viveram horas de muito amor, nada mais importava; estavam felizes e completos.

        Os dois adormeceram abraçados, o amor venceu quase todas as barreiras; poderiam ficar ali para sempre. Entretanto, o pior ainda estava por vir, o marido traído era a realidade de Olívia. Antônio não poderia desconfiar do que estava acontecendo ou viraria um assassino. A mulher acordou assustada e olhando o relógio viu que já estava tarde. Eram três horas da manhã, teria que voltar para sua casa. Seus filhos logo voltariam e ela deveria estar lá, junto do marido, que dormia profundamente.

        João Paulo resistiu em deixa-la sair de seus braços, fazia tempo que ele não tinha uma mulher e aquela era especial, pois despertara o amor que estava adormecido dentro dele. O rapaz queria se regenerar e viver com Olívia, ela sabia cuidar dele; era amante e mãe ao mesmo tempo.

        Ela saiu na calada da noite e esgueirando-se junto ao muro entrou em sua casa, estava feliz, porém, com medo que alguém percebesse sua traição. Olhou no espelho e viu que seu rosto estava corado; sentiu-se envergonhada, tornara-se amante de um rapaz mais novo que ela. Então, ouviu a conversa dos filhos, Renato e Raquel entravam pelo portão rindo e brincando. Olívia correu para deitar-se ao lado de Antônio.  Ficou quieta, mal respirava para que eles pensassem que estava adormecida. O filho abriu a porta e disse a sua irmã que os pais estavam dormindo e foram dormir também.

         Olívia olhava o marido roncando e pensava que não o amava mais, queria a separação para ficar com João Paulo. No entanto, ela sabia que ele nunca aceitaria a separação; em diversas ocasiões ele dissera que a mataria se fosse traído. Não sabia qual seria o seu futuro, mas tinha a certeza que não desistiria de viver aquele amor.

Aos quarenta e cinco anos de vida e vinte e cinco de casamento, era de se esperar que Olívia se comportasse como uma dona de casa tradicional. Seus dois filhos, Renato e Raquel eram adultos, já não davam trabalho; ela tinha todo o tempo que quisesse disponível.

           Antônio acreditava que sua esposa cuidava da família, frequentava a Igreja e ficava a espera dele, pronta para amá-lo sem questionamentos. Entretanto, ultimamente ela não queria saber dele, mas estava doente; isso explicava a situação estabelecida.

           O dia de Natal amanheceu com uma luz diferente, havia um brilho especial e Olívia tinha vontade de dançar, estava muito feliz. Depois do almoço foi à casa de D. Estela para levar uma travessa de comida e um presente. Gostava muito da velha senhora, que já não tinha disposição nem saúde para os afazeres domésticos e, também queria ver o seu amor. Antônio fazia a sesta enquanto ela se encontrava com o vizinho. Trocaram abraços e beijos furtivos, entre muitas promessas de amor.

         Naquele dia Olívia não poderia encontra-lo, porém, seu marido viajaria no dia seguinte e ela teria vários dias para viver aquele amor louco. Com relutância ela voltou para sua casa, mas seu pensamento ficaria ali, dissera para João Paulo ao se despedir. Amava aquele homem apaixonadamente como nunca amara ninguém antes.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana. 
MEU MUNDO REINVENTADO.

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