MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

domingo, 25 de janeiro de 2015

"AO ABRIR O CORAÇÃO PARA DEUS, O CÉU ENTRA PELA PORTA PARA REALIZAR SEUS SONHOS". SILMAR COELHO. É PRECISO LUZ PARA APRECIAR A VIDA. EVA IBRAHIM



A SOMBRA DA CATARATA
          CAPÍTULO UM
          Eu estava sentada na sala de espera do centro cirúrgico da clínica de oftalmologia, acompanhada de mais duas pessoas. Uma mulher com aparência de trinta e cinco, outra com mais de oitenta anos e eu com sessenta e alguns; as duas conversavam sobre a cirurgia de catarata. Estávamos ali aguardando a chamada para a intervenção cirúrgica do primeiro olho. A ansiedade não me deixava prestar atenção à conversa, mal respondi as perguntas que me fizeram.

         Estava passando pelo pior dia da minha vida e não queria conversas inúteis e fúteis. Aquele momento era entre eu e Deus; havia necessidade de uma profunda reflexão.  Mesmo sendo a melhor clínica e o melhor médico da região, ainda havia o medo do desconhecido e a agressão a um órgão especial do meu corpo, os olhos.

         Meu pensamento estava focado em todas as divindades: anjos, arcanjos, Maria Santíssima, Santa Luzia entre outros santos conhecidos e o todo poderoso filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Rezei e orei todas as orações conhecidas, mantras e pedidos de ajudas que me vinham à cabeça; era a hora da verdade, eu estava ali como paciente.

        A demora se estendia por um bom tempo; olhei no relógio da parede e percebi que já haviam decorridos trinta minutos. Em seguida, chamaram a velha senhora. Fiquei mais nervosa do que já estava; teria que ser eu, pensava ansiosa, porque ela parecia tranquila. Entretanto, cronologicamente teria prioridade, então, a seguinte seria eu. A pergunta que teimava em pular dentro da minha cabeça era aquela:

         - Por que eu?

 Trabalho na área da saúde a mais de quarenta anos e confesso que tenho medo de cirurgias. Portanto, tenho conhecimento e li o papel que assinei quando entreguei os documentos da minha autorização cirúrgica. Ali estava descrito que todas as cirurgias têm riscos; existe sempre uma possibilidade de não dar certo ou ocorrer alguma complicação.

         O médico era um especialista, seguro, experiente e fui eu quem o escolheu como sua paciente particular, depois de várias indicações de parentes e conhecidos. Queria garantir um bom atendimento e correr o menor número de riscos possíveis, já que não tinha como fugir daquela situação, pois, logo ficaria cega do olho direito. E, com o passar do tempo, do olho esquerdo também.

                “A catarata é a opacificação do cristalino, lente natural do olho, normalmente incolor e transparente, que tem como objetivo focalizar os objetos que enxergamos. Essa perda da transparência vai dificultando a luz de chegar à retina, e a visão vai diminuindo, tornando-se embaçada”. Explicou o médico pausadamente. Depois continuou dizendo que, não existem colírios que retardem ou curem a catarata; o único tratamento disponível no momento é a cirurgia. A recuperação da visão é rápida e, quase sempre completa. A catarata é a maior causa de cegueira tratável no mundo, concluiu o médico especialista. Estava decretada minha sentença, era isso ou a cegueira progressiva.

Foram feitos todos os tipos de exames disponíveis na clínica antes do Natal e marcada a cirurgia para o começo do ano seguinte. Respirei fundo, teria tempo para pensar. O diagnóstico era de catarata senil não especificada, então, eu fui pesquisar sobre o assunto e descobri que me enquadrava em alguns motivos causais. Envelhecimento, carga genética, pois minha avó e meu irmão, também tiveram a doença. E, a catarata que ocorre em função do uso de medicamentos, principalmente o corticoide quando é usado por longos períodos. Tudo isso é suposição minha, em busca do conhecimento dessa sombra que me perseguia.

Era a hora de pagar o preço por ter usado esse tipo de medicação. O trauma sofrido no joelho esquerdo depois de uma queda da própria altura em dois mil e nove e, sua imensa carga de dor, foi o motivo de muitas receitas de corticoides, prescritas pelos diversos ortopedistas consultados. Naquele momento, o mais importante era sanar a dor lancinante que acometia o meu joelho; a qual gerava muito sofrimento. 

Uma residente me alertou sobre os malefícios do corticoide tomado por longos períodos, porém, era o que tirava a dor rapidamente e me permitia trabalhar. O amanhã seria outro dia, o que contava era a necessidade do momento.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.