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domingo, 10 de março de 2013

BÓRIS, O DESAJEITADO. ---"SAIBA VALORIZAR QUEM TE AMA. ESTES SIM, MERECEM O SEU RESPEITO. QUANTO AO RESTO, BOM, NINGUÉM NUNCA PRECISOU DE RESTOS PARA SER FELIZ". CLARICE LISPECTOR.


O CÃO E O VAGABUNDO.
           O burburinho na Rodoviária era grande, as pessoas apressadas puxavam malas e carregavam bolsas pesadas; até crianças levavam mochilas nas costas. A correria era intensa, pois o feriado fez com que o fim de semana ficasse mais longo e todos queriam viajar. O ônibus que iria para a capital estava atrasado e se formara um aglomerado de gente inquieta. Muita conversa e reclamações faziam a fila serpentear para os lados perdendo sua forma original.           
           Ninguém viu de onde surgiu um homem visivelmente bêbado, cambaleava e falava coisas sem sentido. Ele começou a incomodar as pessoas que estavam na fila pedindo dinheiro e cigarros. As pessoas ansiosas ficavam de costas, outros disfarçavam para fugir daquela conversa inoportuna. Cada pessoa estava focada em embarcar o mais rápido possível e fugir daquela aglomeração.
           De repente apareceu um cachorro Rottweiler preto, velho e manso; seus cotovelos estavam gastos e seu corpanzil parecia flácido, isto é, magro. Ele chegou rápido e foi lamber a mão daquele homem, que mais parecia um farrapo humano. O bêbado  olhou para ele e ordenou com o dedo indicador em riste, que ficasse sentado ali, naquele lugar. O cão, que deveria pertencer ao molambo, ergueu as patas para que ele as segurasse, mas, ele ignorou a atitude do cão e reforçou a ordem dada em tom exacerbado.
             Extático, o cachorro permaneceu sentado, somente as orelhas estavam alertas esperando uma contra ordem para sair dali. O vagabundo andava e olhava para trás para ter certeza que o cão obedecera a sua ordem. O homem parou para conversar com outro bêbado e o rottweiler permanecia no mesmo lugar. As pessoas que estavam alvoroçadas pararam para observar a cena, era incrível como o cachorro obedecia á ordem de seu dono. Não havia outra explicação para uma atitude tão servil e aquele bêbado com certeza não tinha comida para alimentar um cachorro daquele tamanho.
            Durante dez minutos o rottweiler permaneceu sentado no chão sem tirar os olhos do dono, que agora conversava com outra pessoa. A atenção das pessoas foi concentrada na situação inédita em que o poder do vagabundo sobre o cachorro era de se admirar. De repente o homem foi andando e o cachorro erguia as orelhas quase pedindo socorro, mas, em sua completa fidelidade ele não saiu do lugar. Quando o bêbado lembrou-se do cão, já estava á cinquenta metros de distância e ai ele assoviou e o cachorro mais feliz do mundo saiu correndo para lamber a mão do homem, que cheirava á álcool. Ali estava a prova de que o cão é o maior amigo do homem, seja ele quem for. O amor incondicional pelo seu dono e a obediência total.
Os dois, o cão e o vagabundo, deixaram a Rodoviária e seguiram seu caminho diante dos olhares espantados das pessoas. Um texto de Eva Ibrahim.

sábado, 2 de março de 2013

"É MUITO FÁCIL SER PEDRA, O DIFÍCIL É SER VIDRAÇA".--- PROVÉRBIO CHINÊS.---DURMA COM IDÉIAS E ACORDE COM ATITUDES. EVA IBRAHIM.


                           HOMEM DE ALUGUEL.
          Era verão e o calor abafado deixava as pessoas mais lentas e nervosas; quase todas as tardes caia uma chuva torrencial, que alagava as principais ruas da cidade. Durante aquela semana a chuva comparecera todos os dias. As paredes já mostravam sinais verdes de bolor; a umidade estava por toda parte.
         Sara acordou cedo, estava preocupada, não sabia o que fazer para acabar com um vazamento de água que a estava atormentando há dias. A água vertia da parede e escorria pelo chão, era um vazamento no registro do lado de fora da cozinha. Olhou e entrou desolada, que falta fazia um homem prendado, isto é, aquele que quebra todos os galhos de uma residência; conserta chuveiro, ferro de passar roupas, troca lâmpadas, faz pequenos consertos em fechaduras, pinta paredes e limpa o quintal, sem chiar. Animal em extinção nos dias de hoje.
        Ela se apoiou na pia da cozinha e fitando o dedão do pé sentiu pena de si mesma; não tivera sorte. Seu marido nunca foi chegado em fazer consertos, não gostava de sujar as unhas, se julgava chique para tais afazeres. Agora que estava separada tinha que resolver tudo sozinha; a filha casada morava com ela, mas o marido, um rapaz jovem e sem nenhuma habilidade, era carta fora do baralho; podia piorar ainda mais a situação do vazamento.
        Não conhecia ninguém que consertasse encanamentos obsoletos, tinha que pensar...
Uma frase não saia de sua cabeça: “você não é quadrada, se vira”, dizia sua mãe, quando Sara era criança. Agora ia se virar como soubesse ou pudesse. 
Decidida, pegou uma lista telefônica e sentou-se no sofá, tinha que achar uma solução urgente.
         Folheando a lista deparou com uma loja de materiais de construção e pensou que era ali que estava á solução, discou o número e aguardou para ser atendida. Uma voz feminina do outro lado perguntou o que ela desejava e Sara disse:
         - Preciso de um homem de aluguel. A moça horrorizada disse um palavrão e desligou. A mulher ficou atônita. Onde foi que errou? Sara estava assustada, mas não iria desistir, teria que tentar novamente, talvez a moça da loja tenha interpretado errado o que ela disse. Não queria um homem para programas escusos, mas para consertos de encanamentos.
         Procurou outra loja de materiais de construção e ligou, agora seria  mais explicita, precisava dar certo.
Foi um rapaz que a atendeu e ela explicou o problema dizendo que precisava de um encanador; O homem se mostrou compreensivo e lhe deu um número de telefone para ela ligar e tentar contratar o serviço.
Finalmente o encanador fêz o trabalho e por um serviço de duas horas levou uma grana preta, mas acabou com o vazamento.
         -Que alívio! Estava satisfeita, resolvera o problema.
        Depois de alguns dias ao acender a luz da cozinha percebeu que estava queimada, era uma luz de mercúrio;
       - E agora? - O que fazer?
Sara precisava de outro homem de aluguel, um eletricista, mas já era tarde; deixaria para o dia seguinte.
        Foi dormir com aquele pensamento, ligaria para uma loja de ferragens, daria certo novamente.
A tensão era grande e ela sonhou que em frente á sua casa havia um enorme cartaz com letras pintadas em vermelho:

       ”PRECISA-SE DE UM HOMEM DE ALUGUEL”.

        No portão, vestidos com uma sunga preta, estavam cinco homens musculosos se oferecendo para o serviço; a mulher corou e entrou rapidamente, fechando a porta.
        - O que a vizinhança pensaria dela? Que horror! Era honesta e não gostava de desfrutes, porque aquela situação estava acontecendo? Será que a moça da loja havia mandado aqueles homens ali?
Sara começou a suar em bicas, se via nua em frente á filha, o genro e os netos; queria morrer. Não suportaria tamanha afronta.
De repente uma campainha soou e ela acordou, era o despertador; Surpresa e aliviada ela percebeu que estava sonhando. Levantou-se rapidamente e respirou profundamente, não fora exposta a maledicência pública.
        Sara jurou para si mesma, que nunca mais diria que precisava de um “Homem de aluguel” e sim de um eletricista, encanador, pedreiro e outros. A mulher havia compreendido o poder da palavra. 
        Um texto de Eva Ibrahim

domingo, 24 de fevereiro de 2013

MARINA VESTIDA DE NOIVA NA FESTA JUNINA DA ESCOLA.--- "DESEJO A VOCÊS: (...) NAMORO NO PORTÃO. DOMINGO SEM CHUVA. SEGUNDA SEM MAU HUMOR. SÁBADO COM SEU AMOR (...)" CARLOS DRUMOND DE ANDRADE.


                                                           É PRA CASAR.
         Estava sentada na rodoviária aguardando o embarque para minha viagem anual de férias, quando duas jovens se aproximaram e na despedida se beijaram no rosto; um de cada lado. Porém, a mais velha puxou a amiga dizendo que faltava um.
       - Tem que ser três beijinhos, é pra casar.
         A moça partiu e eu fiquei pensando que no século vinte e um ainda há pessoas preocupadas em seguir rituais que as levem ao altar. O matrimonio, instituição tão desacreditada, que facilmente se desfaz, ainda povoa a mente da maioria das mulheres. São jovens, viúvas, separadas e homens também; todos são sensíveis ao acasalamento de papel passado.
        Como podemos acreditar que os sonhos acabaram se os presenciamos todos os dias. Somos seres humanos bastante desenvolvidos e práticos, mas na verdade somos seres espirituais, tão vulneráveis quanto os nossos antepassados. Podemos constatar esse fato nas telenovelas, nos livros, na delegacia e dentro de nossas famílias, pois todos nós conhecemos alguém muito apaixonado. Aquele parente com cara de bobo, que é capaz de matar por amor.
        Outro dia eu ia para o trabalho de carona com uma colega e conversávamos futilidades, isto é, "papo cabeça". Eu estava lhe contando o assunto de uma palestra que havia assistido em um seminário de autoajuda. O palestrante dizia que a nossa mente é poderosa e tudo que quisermos conquistar deve partir do nosso íntimo. Podemos concretizar nossas metas com afirmações positivas e até fotos para ficarmos receptivos aos nossos desejos.
         A minha amiga está á procura de uma casa para comprar e eu sugeri que pregasse uma foto de uma casa na porta da geladeira, para ver se dá certo. Com um sorriso maroto ela me perguntou se poderia colocar uma foto de um par de alianças perto da casa. Surpresa, eu disse que para uma mulher que havia acabado de sair de um casamento tumultuado ela estava bastante animada. Sugeri, então, que colocasse também os noivinhos e se possível uma foto do bolo.
         Rimos bastante, o que alegrou o nosso dia; fizemos algumas considerações sobre a falta de bons partidos para trocar alianças, mas, concluímos que um ombro para colocar nossas cabeças é indispensável. O aconchego é calmante e protetor.
         O fato é que a carência afetiva está nas ruas, jornais, revistas, agências de casamento e até nas rádios. As pessoas querem consultar o tarô, horóscopos, videntes e todo tipo de previsões que a mídia oferece. É uma fábrica para alimentar os sonhos das pessoas, que se iludem propositalmente para escapar da solidão.
         Passei a observar o modo de cumprimentar das pessoas e me surpreendi com a quantidade de beijinhos distribuídos em nome de um futuro casamento.
Todos querem companhia, decididamente não nascemos para viver sós; até os mais velhos, com experiências anteriores desastrosas, querem tentar novamente. Vale tudo para desencalhar. Apelar para Santo Antônio com promessas, praticar rituais obsoletos e três beijinhos, que os antigos garantem ser infalíveis.
         Abri o jornal semanal para dar uma olhada e fiquei surpresa com a notícia do casamento de uma solteirona da vizinhança. A moça, tida como virgem e adepta dos beijinhos, conseguira se casar. O comentário foi geral:
        - Se a Lucinda conseguiu casar, qualquer uma casa, é só seguir o ritual.
Com essa história eu quero dizer para todas as mulheres que estiverem sós, que ainda resta uma esperança; não custa nada, é só tentar. A partir de hoje só devem aceitar cumprimentos acompanhados de três beijinhos, porque é pra casar.
        Um texto de Eva Ibrahim.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

GUILHERME E MARINA NO DIA DA FORMATURA DELE------"A EDUCAÇÃO É MAIS QUE UMA ARMA QUE PODE MUDAR O MUNDO, É UMA BANDEIRA QUE PÕE FIM À IGNORÂNCIA".----- PROF. IVANILSON




                                       DOCE, DOCE MEL!

Em dezembro, no Brasil, o calor é uma constante, pois acontece o final da primavera e o início do verão. As festas são muitas, além do Natal e da passagem do ano há as comemorações escolares; formaturas das escolas infantis e de primeiro grau.
Na segunda quinzena os professores já finalizaram seus trabalhos e preparam os alunos para danças e teatrinhos apresentados em uma grande festa com a presença de familiares dos alunos. Os pátios das escolas são enfeitados e os professores apresentam suas considerações sobre o ano letivo e em seguida ocorre a entrega dos certificados de conclusão de curso, aos alunos promovidos.
São apresentados os bons momentos vivenciados na escola durante o ano letivo em slides com registros dos eventos mais importantes. É valorizado todo o trabalho dos profissionais envolvidos com o bom andamento escolar. Os alunos homenageiam os professores e a direção da escola. Aqueles que se destacaram nos estudos apresentam poesias e textos alusivos à data.
Olivia era a mãe de um dos formandos do primeiro grau e queria apresentar-se muito bonita na festa. Seu filho Eduardo foi um bom aluno e ela queria prestigiá-lo, pois estava muito orgulhosa.
Levantou-se cedo e concluiu seus afazeres para poder ir ao salão de beleza. A mulher queria fazer depilações e arrumar os cabelos para combinar com o vestido novo, que ganhara do marido. Passou a tarde se preparando no salão de beleza e quando chegou a sua casa não teve tempo para tomar banho. Vestiu-se rapidamente, pois seu marido a aguardava ansioso; estava na hora da apresentação que seu filho iria participar.
Quando o casal chegou à escola ficou em pé junto ao gramado, pois os melhores lugares já estavam ocupados. O teatro estava começando e seu filho fazia o papel  principal na peça apresentada. Olivia ficou na ponta dos pés para poder enxergar melhor. De repente a mulher começou a sentir alguma coisa subindo pelas suas pernas. Assustada deu um passo atrás e olhou no chão. Ficou surpresa, pois estava em cima de um formigueiro, que se formara após as chuvas. Todos olharam e suas pernas estavam cheias de formigas mordedoras. A mulher desesperada saiu à procura de uma torneira de água, para lavar as pernas e se livrar das formigas. O marido assustado ficou sem palavras e tratou de acompanhar Olivia.
As pernas da mulher estavam vermelhas e cheias de picadas, que ardiam muito. Teria que procurar o Pronto Socorro para tomar um antialérgico. Deixou uma amiga responsável pelo seu filho e foi ao PS acompanhada do marido. O médico estranhou o fato das formigas atacarem suas pernas daquela maneira e perguntou se ela havia passado alguma coisa nas pernas. Olivia pensou e lembrou-se que a cera de depilação que a depiladora do salão de beleza usara era feita a base de mel. A mulher chorosa dizia que não teve tempo de tomar banho por isso as formigas a atacaram.
O médico sorriu e observou:
- As formigas adoram doces e suas pernas estavam doces, doce mel!
O marido, encabulado, tratou de entrar no automóvel e aguardar sua mulher....
Um texto de Eva Ibrahim.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

MARINA E JÚLIA PRONTAS PARA OS FESTEJOS CARNAVALESCOS.------ "TANTO RISO! OH! QUANTA ALEGRIA! MAIS DE MIL PALHAÇOS NO SALÃO. ARLEQUIM ESTÁ CHORANDO PELO AMOR DA COLOMBINA, NO MEIO DA MULTIDÃO"..... "MÁSCARA NEGRA"-----ZÉ KETI.


                             CARNAVAL, SEMPRE CARNAVAL.
         Enquanto as crianças faziam fila para receber a maquiagem, Carla desenhava em cada rosto uma figura diferente. Traços coloridos para enfeitar e combinar com a fantasia. Os meninos escolhiam traços que os deixavam parecidos com monstros; Otávio era o Frankenstein, João e Luís dois vampiros. Ainda havia um pirata e um homem aranha. As meninas gostavam de pinturas de animais, principalmente onça e gatos. Saias longas, capas, perucas, chapéus e óculos coloridos compunham os tipos mais esquisitos do grupo de crianças, que iriam brincar o carnaval.
       Adentraram o salão, que estava enfeitado com muitas cores e brilhos, com os olhinhos espertos e um sorriso nos lábios; estavam num mundo de fantasias. Eram crianças de cerca de dez anos e prontos para descobrir o mundo. Otávio, que parecia liderar o grupo começou a explicar aos outros como seria a matinê no salão. Abriram caminho entre os personagens mais estranhos possíveis; era carnaval e cada um se vestia como queria. Era hora de dar asas à imaginação. Os tios, Raul e Sara fizeram questão de acompanhar a turma toda ao baile; queriam a felicidade das crianças.
       A banda começou a tocar uma música atemporal, presente em todos os bailes de carnaval. Uma marchinha muito conhecida: “O abre alas” de Chiquinha Gonzaga. As crianças seguiram o cordão que se formara e saíram na maior festança. A alegria acontecia entre confete, serpentina, passos de dança e muita cantoria.
        Foram horas de euforia, todos suados e com as maquiagens escorridas pelo rosto ouviram os últimos acordes da banda de carnaval. Cansados e felizes seguiram cantarolando pela avenida já com saudades do carnaval. A magia contagiante que aflora no carnaval encanta crianças e adultos, pois é a festa da alegria. Raul e Sara prometeram que no ano que vem tem mais carnaval, sempre carnaval e as crianças sorriram.
        Um texto de Eva Ibrahim.                             



sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

"AS PESSOAS NÃO SE PRECISAM, ELAS SE COMPLETAM... NÃO POR SEREM METADES, MAS POR SEREM INTEIRAS, DISPOSTAS À DIVIDIR OBJETIVOS COMUNS, ALEGRIAS E VIDA". -----MÁRIO QUINTANA------ CARNAVAL 2013.


                                          O CAMINHO DA FELICIDADE.

        Álvaro chegara do trabalho por volta das vinte horas e depois de um banho para tirar a “inhaca” como dizia sua mãe, comeu um sanduíche e ligou a televisão; era sexta-feira de carnaval.
        Estava triste, pois fazia uma semana que discutira com Raissa e não a vira mais. Orgulhoso como era não iria se rebaixar e pedir desculpas, muito pelo contrário ele esperava que ela se retratasse. Ele estava apaixonado e sentiu-se ofendido quando ela disse que iria estudar à noite. Álvaro bateu o pé, não queria que sua namorada saísse todas as noites sem a sua companhia. A discussão aconteceu e ambos sentiam-se donos da razão, não houve acordo e pela primeira vez o rapaz a deixou sem despedir-se. Há quatro meses eles estavam saindo para se conhecer e essa fora a primeira briga do casal.
        Ele queria muito falar com ela, mas se voltasse atrás perderia o respeito por si próprio e além do mais ele não mudara de ideia. Álvaro temia que sua amada conhecesse alguém e o passasse para trás. Raissa argumentou que precisava trabalhar para ajudar seus pais e o jeito seria estudar à noite. Um dilema que envolvia a família da moça e ele poderia perder a razão, por isso estava tão triste.
       O telefone não tocou e o rapaz resolveu sair para arejar a cabeça; havia muita bagunça nas ruas. Ele sentou-se em uma mureta para ver os blocos desfilarem pela avenida. Álvaro estava enfraquecido emocionalmente e sentia-se solitário em meio aquela grande festa. Resolveu andar um pouco para aliviar o peso da amargura que sentia naquele momento. Com as mãos no bolso ele seguia cabisbaixo pensando em seu amor; não poderia viver sem ela.
       O jeito de andar e o modo como sorria eram insubstituíveis, ele amava aquela moça e morreria sem ela; parecia que tudo estava escuro e feio. Não via graça em nada e ainda teria mais quatro dias de carnaval para curtir sozinho.
        Álvaro imaginava Raissa afagando seus cabelos e beijando-o ardentemente; precisava dela. Perdido em seus pensamentos ele não percebeu que havia andado bastante; estava perto da casa do seu amor. Assustado, o rapaz se escondeu atrás de uma árvore para não ser visto; havia música na rua e os blocos de carnaval passavam promovendo uma grande folia.
        –Será que ela estaria assistindo aos festejos? A possibilidade era grande, ninguém iria dormir com aquela algazarra na rua, concluiu o rapaz. Álvaro, muito ansioso, passou a olhar com atenção para todos os lados. Seu coração pulsava rapidamente quando ele viu o objeto de sua paixão, Raissa estava encostada no muro de sua casa conversando com uma amiga.
        O coração do rapaz parecia não caber em seu peito, sua amada estava a cinquenta metros de distância e ele queria abraça-la e beijá-la até matar a saudade, que o estava matando. Ela não sabia que ele estava ali e também parecia triste. Álvaro não se continha, teria que percorrer aquela distância, que para ele representava ser o caminho da felicidade.
        Foi o caminho mais longo que Álvaro já percorreu em toda sua vida e quando Raissa o viu abriu os braços com um belo sorriso. O beijo foi inevitável, ambos se amavam e teriam que resolver suas diferenças para poderem ser felizes. Seguiram abraçados em meio aos foliões; teriam a noite toda para se entender, afinal era noite de carnaval. O amor estava no ar e havia um convite ao prazer e a felicidade.
       Um texto de Eva Ibrahim.
MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.