OLHOS
NOS OLHOS
CAPÍTULO
SETE
Lívia teve o dia todo para
deglutir aquela história, que embrulhava seu estômago. Não almoçou e mal
conseguiu tomar um gole de café, alguma coisa estava entalada em sua garganta. Só
conseguia pensar na mulher, que era a responsável por tudo aquilo. Agora, ela
sabia o nome, que seu marido devia balbuciar nos ouvidos dela.
Chorou algumas vezes ao se
lembrar de momentos felizes e, da cumplicidade que ambos tinham. O amor jurado no
altar, reafirmado a cada aniversário e demonstrado quando os filhos nasceram,
estava agonizando. Ela era uma mulher tranquila, tinha certeza do amor do
marido. E, o seu mundo desmoronou tão rapidamente, que ela custava a acreditar.
Completou o curso de administração,
mas nunca trabalhou fora de casa. Murilo não queria que os filhos ficassem em
creches, preferia que sua esposa cuidasse deles. Assim, tinha tranquilidade
para trabalhar, era o que ele costumava dizer.
– Como farei para sobreviver sem o
dinheiro de Murilo? Como farei para criar os meus filhos? Eram perguntas que dançavam
em sua mente. Lívia não tinha nenhuma experiência no mercado de trabalho.
- O que direi para minha família? Minha
mãe já é idosa e poderá não resistir a uma notícia dessas.
A mulher estava desesperada, não
sabia como abordar o assunto com o marido. Precisava resolver aquela situação,
ou não teria mais paz. Foi buscar as crianças na escola e se distraiu um pouco,
no entanto, quando entrou em casa, sentiu que o problema continuava presente em
sua vida. Teria que encontrar uma solução urgente, estava vivendo num inferno.
Depois, ela foi juntar-se ao marido
na sala, que estava assistindo o jornal da noite. Ele não percebeu o nervosismo
dela, estava atento à televisão. Lívia sentou-se no sofá e ficou olhando
fixamente para Murilo. Quando entrou o comercial, ele percebeu que ela estava
diferente, então perguntou:
- Aconteceu alguma coisa? Por
que está calada?
A
mulher juntou toda sua coragem e perguntou:
O
marido ficou pálido, como ela sabia de sua amante? Então, respondeu:
- Que Raquel, não sei.
Sua esposa levantou-se, estava muito
nervosa e despejou tudo de uma vez:
-
Uma morena que vi saindo com você da oficina, naquela noite que você disse, que
faria serão até tarde.
Murilo também se levantou, estava pálido e
tentou se justificar.
–
Era uma freguesa da oficina, onde você foi buscar essa informação?
Ela disse isso e se afastou, estava com medo
da reação dele. A mulher saiu da sala e ele foi atrás, agora era ele que queria
conversar.
A pegou pelos braços e forçou que
se sentasse na cadeira da cozinha, então, em pé diante dela ele disse:
- É verdade, estou apaixonado por
Raquel, ela me dá a atenção e carinho, que já não encontro em você. Ainda estou
nessa casa por amor aos meus filhos, senão já teria ido morar com ela.
A mulher ficou enfurecida com as palavras dele e
olhando olhos nos olhos vociferou:
- Vai embora daqui agora, me deixa
em paz. E começou a chorar.
Com tanto barulho, as crianças
acordaram, estavam assustadas. Lívia os levou de volta ao quarto e ficou lá até
que se acalmassem. Isso demorou, mais ou menos, uma hora e meia. Até que, ela
ouviu o automóvel de Murilo sair da garagem e arrancar acelerando. Olhou para
as crianças que adormeceram novamente, então, ela foi verificar o que o marido
havia feito, na ausência dela.
Abriu o guarda-roupas e ele
levara a maioria de suas coisas, a verdade era que ela fora abandonada, por
causa de outra mulher. Não sabia o que fazer ou pensar, fechou as portas da
casa e foi se deitar. Havia um silêncio estranho na casa, que a incomodava
muito.
O dia amanheceu e ela ainda estava
acordada, pensando em tudo que havia acontecido. Estava só e com um sentimento de
vazio, que inundara seu coração. Precisava arrumar forças para continuar.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa