A
SOMBRA DA CATARATA
CAPÍTULO
UM
Eu estava sentada na sala de espera
do centro cirúrgico da clínica de oftalmologia, acompanhada de mais duas pessoas.
Uma mulher com aparência de trinta e cinco, outra com mais de oitenta anos e eu
com sessenta e alguns; as duas conversavam sobre a cirurgia de catarata. Estávamos ali aguardando a chamada para a intervenção cirúrgica do primeiro olho. A ansiedade não me deixava prestar atenção à conversa, mal respondi as
perguntas que me fizeram.
Estava
passando pelo pior dia da minha vida e não queria conversas inúteis e fúteis.
Aquele momento era entre eu e Deus; havia necessidade de uma profunda
reflexão. Mesmo sendo a melhor clínica e
o melhor médico da região, ainda havia o medo do desconhecido e a agressão a um
órgão especial do meu corpo, os olhos.
Meu pensamento estava focado em todas
as divindades: anjos, arcanjos, Maria Santíssima, Santa Luzia entre outros
santos conhecidos e o todo poderoso filho de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo. Rezei
e orei todas as orações conhecidas, mantras e pedidos de ajudas que me vinham à
cabeça; era a hora da verdade, eu estava ali como paciente.
A demora se estendia por um bom tempo;
olhei no relógio da parede e percebi que já haviam decorridos trinta
minutos. Em seguida, chamaram a velha senhora. Fiquei mais nervosa do que já estava; teria que ser eu, pensava ansiosa, porque
ela parecia tranquila. Entretanto, cronologicamente teria prioridade, então, a
seguinte seria eu. A pergunta que teimava em pular dentro da minha cabeça era
aquela:
- Por que eu?
Trabalho na área da saúde a mais de quarenta
anos e confesso que tenho medo de cirurgias. Portanto, tenho conhecimento e li o papel
que assinei quando entreguei os documentos da minha autorização cirúrgica. Ali
estava descrito que todas as cirurgias têm riscos; existe sempre uma
possibilidade de não dar certo ou ocorrer alguma complicação.
O médico era um especialista, seguro,
experiente e fui eu quem o escolheu como sua paciente particular, depois de
várias indicações de parentes e conhecidos. Queria garantir um bom atendimento
e correr o menor número de riscos possíveis, já que não tinha como fugir daquela
situação, pois, logo ficaria cega do olho direito. E, com o passar do tempo, do
olho esquerdo também.
“A catarata é a opacificação do cristalino,
lente natural do olho, normalmente incolor e transparente, que tem como
objetivo focalizar os objetos que enxergamos. Essa perda da transparência vai
dificultando a luz de chegar à retina, e a visão vai diminuindo, tornando-se embaçada”.
Explicou o médico pausadamente. Depois continuou dizendo que, não existem
colírios que retardem ou curem a catarata; o único tratamento disponível no
momento é a cirurgia. A recuperação da visão é rápida e, quase sempre completa.
A catarata é a maior causa de cegueira tratável no mundo, concluiu o médico
especialista. Estava decretada minha sentença, era isso ou a cegueira
progressiva.
Foram
feitos todos os tipos de exames disponíveis na clínica antes do Natal e marcada
a cirurgia para o começo do ano seguinte. Respirei fundo, teria tempo para
pensar. O diagnóstico era de catarata senil não especificada, então, eu fui
pesquisar sobre o assunto e descobri que me enquadrava em alguns motivos
causais. Envelhecimento, carga genética, pois minha avó e meu irmão, também
tiveram a doença. E, a catarata que ocorre em função do uso de medicamentos,
principalmente o corticoide quando é usado por longos períodos. Tudo isso é
suposição minha, em busca do conhecimento dessa sombra que me perseguia.
Era
a hora de pagar o preço por ter usado esse tipo de medicação. O trauma sofrido
no joelho esquerdo depois de uma queda da própria altura em dois mil e nove e,
sua imensa carga de dor, foi o motivo de muitas receitas de corticoides, prescritas pelos diversos ortopedistas consultados. Naquele momento, o mais
importante era sanar a dor lancinante que acometia o meu joelho; a qual gerava
muito sofrimento.
Uma residente me alertou sobre os malefícios do corticoide tomado por longos períodos, porém, era o que tirava a dor rapidamente e me permitia trabalhar. O amanhã seria outro dia, o que contava era a necessidade do momento.
Uma residente me alertou sobre os malefícios do corticoide tomado por longos períodos, porém, era o que tirava a dor rapidamente e me permitia trabalhar. O amanhã seria outro dia, o que contava era a necessidade do momento.
Um
texto de Eva Ibrahim.
Continua
na próxima semana.