COM MUITO AMOR
CAPÍTULO
TREZE
A correria começou na madrugada quando
a bolsa de águas estourou e Celina acordou a sogra. Em seguida as contrações
começaram e a moça passou a gemer de dor; chegara a hora de Bruna nascer. Gilda
parecia abobalhada, não sabia o que fazer tamanha era sua ansiedade. Sandro
pediu que ela chamasse uma ambulância para conduzi-los à maternidade. Trêmula,
a mulher discou o número que estava na lista, depois foi pegar as malas para
acompanhar o casal à maternidade.
O Sol estava nascendo quando adentraram
ao Hospital e logo apareceu uma enfermeira, que conduziu Celina porta adentro,
deixando Gilda e Sandro apreensivos. O rapaz parecia perdido naquele local
estranho. Sua mãe o conduziu até uma poltrona e ambos ficaram aguardando
notícias do nascimento do bebê.
Gilda olhava seu filho que estava para
ser pai e lembrou-se de Danilo. A alegria de ter a neta em seus braços, ele
jamais sentiria; então, a nostalgia do passado voltou, era uma mulher solitária
em se tratando de amor. Uma lágrima silenciosa rolou pelo seu rosto e, ela
tratou de enxugar com o dorso de sua mão para que Sandro não percebesse.
Depois de uma hora de angustia e muita
oração apareceu o médico dizendo que a criança nascera bem e eles poderiam
entrar. Sandro não se cansava de tocar o pequeno rostinho de sua filha; era
muito bonita, dizia comovido. Gilda segurava o bebê no colo para Celina poder
tocá-la e seu pensamento corria solto, estava sentindo muita alegria, como há
muito tempo não sentia. Aquela pequena criança tomaria conta dos pais e ela
poderia morrer tranquila. Em seus piores pesadelos ela deixava o casal sozinho
no mundo e depois acordava suando frio.
Os meses passavam rápidos e Bruna crescia
forte e feliz. Desde pequena aprendera a conduzir o pai e a mãe segurando em
suas mãos. A avó a ensinava a cuidar dos dois; Bruna sorria feliz e ganhava muitos
beijos de seus pais.
A menina entrou na escola e Gilda ou
Sofia a acompanhavam até à entrada da sala de aulas. As duas mulheres tinham
muito cuidado para ensiná-la a conhecer os lugares e os perigos que a rua
apresentava para seus transeuntes. Logo ela poderia acompanhar os pais aos
lugares conhecidos e posteriormente guia-los por toda parte.
O casal já adquirira o controle para se
locomover dentro de casa, isto é, tomaram o poder de suas próprias vidas e
somente na rua precisavam de acompanhante. Mais do que qualquer um, as pessoas
com deficiência visual podem e querem tomar suas próprias decisões, assumindo a
responsabilidade por seus atos; foi assim que Gilda criara seu filho.
Sofia
estava sempre presente na casa de sua prima; dizia ser impossível viver longe
deles. O sonho de Gilda era fazer com que a neta servisse de guia para seus
pais, assim ela poderia descansar; estava ficando velha. Com dez anos de idade,
Bruna já acompanhava a mãe ao comércio, ajudava nas compras e no pagamento. A
menina era inteligente e esperta; aprendia rápido tudo que lhe era ensinado.
Ela
pegava no braço da mãe e a guiava por calçadas esburacadas, degraus, buracos,
pisos escorregadios e obstáculos. Conversava muito e ia descrevendo tudo que
via nas ruas. Celina dizia confiar muito na filha, ela tornara-se a luz de seus
olhos.
Bruna completou dezoito anos e passara
no vestibular; queria ser enfermeira. A moça gostava de prestar cuidados aos
pais e a avó, era amorosa e interessada em tudo que dizia respeito a sua
família.
Gilda
tinha orgulho da neta e queria prepara-la para a vida. Então, lhe ensinou todos
os procedimentos bancários e pagamentos que deveria fazer, para que seus pais
pudessem ter uma vida tranquila. Durante meses ela acompanhou os passos da neta
e só descansou quando sentiu que poderia confiar plenamente nela.
Gilda
adoeceu, estava com pressão alta e diabetes, quase não saia de casa, somente
para ir ao médico. Passava horas deitada na cadeira de balanço e quando via a
neta dar o braço ao pai e a mãe para sair a passeio, sentia-se realizada. Bruna
ficava no meio e os três seguiam felizes.
A
mulher fechava os olhos e se reportava para a mulher negra, que esteve presente
em seus piores momentos; então sorria, sabia que havia um anjo protegendo a
todos. Sua missão fora cumprida e uma alegria muito grande tomava conta de seu
coração; poderia morrer em paz...
Um
texto de Eva Ibrahim
Termina
aqui a história da mãe, que involuntariamente cegara seu único filho.
Na
próxima semana iniciaremos outra história.