A MÚSICA TOCA O CORAÇÃO
CAPÍTULO SETE
Gilda
foi à Igreja agradecer ao Padre Guima por tê-la encaminhado ao Instituto para
cegos. A escola para crianças cegas era
mantida pelo governo do Estado, Prefeitura local e comunidade. E, nada deixava
a desejar em comparação às melhores escolas particulares da região. A pastoral
da criança e o padre Guima também ajudavam na manutenção de tão importante
projeto.
Naquele
local eram aceitas crianças de toda a região, muitas viajavam todos os dias com
condução cedida pela prefeitura, devido à distância de suas casas. O velho
pároco ficou feliz por saber que a vida de Gilda estava em uma fase melhor,
então, ele cobrou a presença de sua família na missa.
No
domingo ela arrumou o filho e lhe disse que iriam à missa na Igreja do padre
Guima. O marido não quis acompanha-los, pois, estava de ressaca da noite
anterior. Sandro sentou-se no banco da frente entre a mãe e Sofia. O menino ficou
encantado com as músicas tocadas na Igreja. Ele queria saber que instrumento
era tocado e quem tocava. Em dado momento ele parou de falar e, extático pediu
silêncio à sua mãe com o dedinho em riste na boca. Gilda ficou pasma esperando
o que ele queria dizer com aquilo. Então, veio à surpresa.
-Aqui
na Igreja podemos ouvir o eco da música, toca aqui e responde lá; isso é muito
legal. Eu quero vir aqui outras vezes para ouvir esse som.
Gilda
respondeu que voltariam ali quando a Igreja estivesse vazia para ele sentir o
eco. Sandro estava contente, fazia novas descobertas e aguçava seus sentidos.
O
pai não conseguia superar o acontecimento, se entregara à bebida. Era um bom
homem, trazia todo seu salário e entregava à sua mulher, não queria que
faltasse nada ao filho. Ele procurava agradar o menino, depois se fechava e
saia para beber. “Queria afogar seu desgosto”, dizia a quem lhe perguntasse por
que bebia. Na verdade era uma fuga para
não enlouquecer.
Gilda
e Sofia construíram uma bela amizade, fruto de tamanha desgraça. Juntas
decidiram fazer tapeçaria nas horas em que o menino estava na escola, depois
vendiam e sempre conseguiam um dinheiro para suas despesas pessoais.
Na
escola havia aulas de música para que as crianças sentissem a vibração das
notas musicais. Cada criança sente a frequência a sua maneira, algumas
cantarolam, outras ficam em silêncio e outras entram em euforia. A presença da
música no dia a dia auxilia no desenvolvimento físico, pessoal, social,
intelectual e emotivo, melhorando sua qualidade de vida e favorecendo sua
inclusão no grupo.
No
Instituto havia muitas atividades para movimentar o corpo. Os alunos de séries
mais avançadas formaram grupos de danças folclóricas ao som de músicas. De mãos
dadas eles ensaiavam danças típicas da região no galpão de lazer da escola.
Nesse projeto esperava-se desenvolver a confiança de cada criança em seu
companheiro, incentivando o equilíbrio e a desenvoltura do corpo. Sandro ficava
sentado em um banco do salão ouvindo as músicas e o barulho dos sapatos no
chão; parecia enfeitiçado.
No
final do ano houve uma comemoração Natalina e o professor de música formou um
coral com crianças de todas as séries. Ao todo eram trinta vozes e Sandro
estava na fileira da frente com sua roupa de gala.
A
festa foi muito bonita e o menino estava feliz. Gilda não se conteve e chorou
ao ver o filho cantando. Danilo a puxou para perto de si, também estava
emocionado. Por um momento a mulher sentiu que seu marido voltara a ser como era
antes do acidente de Sandro. E, na noite de Natal o menino ganhou o presente
tão esperado, um teclado musical infantil.
Com o presente nas mãos ele sorria e
dizia que iria tocar igual a “moça” da Igreja. O menino experimentava o
instrumento sentindo a vibração de cada nota proferida. O teclado tornou-se o
seu brinquedo favorito, uma necessidade de brincar descobrindo cada nota
musical, escondida atrás das teclas. Assim, o menino ia aumentando suas
descobertas e criando um novo mundo onde a música tocava o seu coração.
Um
texto de Eva Ibrahim.
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