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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

"AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER; É FERIDA QUE DÓI E NÃO SE SENTE; É UM CONTENTAMENTO DESCONTENTE; É DOR QUE DESATINA SEM DOER." LUIS VAZ DE CAMÕES--SÓ SOBRARAM LEMBRANÇAS...EVA IBRAHIM


SEM VOLTA
CAPÍTULO DEZ
A decadência de Alcir estava evidente, depois que Sila foi embora, ele tornou-se um rapaz desleixado. Sua casa vivia desarrumada e suja; havia roupas e panelas jogadas por toda parte, nada mais importava. Se não estivesse no bar, com certeza, estaria jogado em algum canto, dopado. Tornara-se um farrapo humano, pouco restara do rapaz bonito e cheiroso que se apaixonara por Sila. Muitas coisas que havia na casa foram vendidas para comprar drogas. Por último ele vendeu o automóvel, precisava pagar as contas da casa e de seu fornecedor. Ainda lhe restara à motocicleta, que ganhara no jogo de cartas.

Seus pais tentaram leva-lo para morar com eles novamente, porém, ele não aceitava falar sobre isso. Lá no fundo ele ainda tinha esperanças de que sua mulher voltasse para casa. Alcir sentia que se ele deixasse a casa, seria como se estivesse rompendo definitivamente com seu amor. E, essa ideia o deixava louco, preferia morrer a ver Sila acompanhada de outro homem. A moça era sua para sempre e ninguém a tiraria dele; seu peito doía quando pensava nela.

Depois de três meses de separação, Alcir estava emagrecido; não comia, vivia nos bares. Sua mãe queria interna-lo em uma clínica de recuperação para drogados. Quando soube disso, ele ficou uma fera, até a mãe que ele gostava tanto, não entendia o que ele estava passando, lamentava o rapaz.

 - Que ela nunca mais tocasse no assunto, ele pararia de usar drogas quando quisesse, disse o filho indignado para a mãe sofrida.

A mulher seguiu para sua casa, estava desolada, não sabia que atitude tomar diante da rebeldia de seu menino. Então, a mulher foi procurar a nora, quem sabe ela conseguiria que Alcir se tratasse. Sila se recusou a falar com ele, tinha medo dele. O marido estava transtornado e ela queria sossego, não voltaria para ele, pois se revelara um homem violento, que não confiava nela. Desde que ele jogara a moto em cima dela e de Celso, que era somente um colega de escola, ela desistira dele definitivamente.

Sila saia de casa somente para trabalhar e ir à escola, ela queria dar um tempo para Alcir esquecê-la e assinar o divórcio. Seu casamento fora precipitado, ela tinha muita coisa para fazer antes de se prender a alguém. Não voltaria atrás, para ela o assunto estava encerrado.
Mais um mês se arrastou e sua formatura estava próxima, então, ela se deu conta de que alguns de seus documentos ficaram na casa de Alcir. Teria que pegá-los quando ele não estivesse lá; aproveitaria para apanhar o restante de suas roupas, que ficaram na casa.

Às seis horas da tarde, quando saiu do serviço, Sila resolveu passar em sua antiga casa; iria resolver aquela situação de uma vez. Se o marido não estivesse lá, ela entraria na casa com sua chave; era coisa rápida, ele nem iria perceber que ela esteve lá.

Era um fim de tarde de inverno, estava frio e escurecendo depressa, então ela se aproximou da casa e viu que estava às escuras. A moto não estava na garagem e a moça concluiu que o marido havia saído. Abriu o portão e entrou sem fazer barulho, pegaria suas coisas e sairia rapidamente. Entrou na sala, e acendeu a luz; ficou horrorizada com a sujeira e o abandono do lugar, que ela gostava e tinha boas lembranças. Em seguida foi até o quarto, os documentos estavam na gaveta da cômoda.

Quando Sila abriu a porta do quarto, Alcir deu um pulo da cama, estava só de bermuda e parecia drogado. Agarrou sua mulher pelo braço tentando beijá-la; ela o empurrou, estava cheirando a álcool e devia fazer tempo que não tomava banho, disse a moça indignada. Não estava ali para reatar o casamento, viera apenas pegar uns documentos, que estava precisando. Ele tentou segurá-la, porém, ela foi saindo e Alcir pediu para que ela voltasse para pegar suas coisas, não iria agarrá-la mais.

Ele foi para a cozinha enquanto ela pegava os documentos no quarto. Ao sair ele estava na sala e disse que iria perguntar somente mais uma vez.

 - Você pode voltar para mim? Eu amo você.
Ela retrucou horrorizada.
 - Nunca mais, você está perdido nas drogas.

Alcir sentiu-se desprezado e humilhado, em seguida tirou as mãos das costas onde escondia o revolver, que apanhara no armário da cozinha. Com muito ódio ele retrucou:
- Se não for minha, não será de mais ninguém.

E, antes dela abrir a boca, ele deu cinco tiros à queima roupa no peito de Sila, que surpresa caiu ao chão.
Em segundos o sangue tomou conta de sua boca e entre rápidos espasmos a moça ficou sangrando caída no chão da sala da casa, que um dia fora sua também.

Alcir ficou parado olhando o que fizera; não podia acreditar que matara o amor de sua vida. Abaixou-se e tentou levantá-la; ela estava inerte em meio a uma poça de sangue. Horrorizado o rapaz afastou-se, o que fizera não tinha perdão, teria que fugir para longe, onde ninguém o alcançasse.

Sua moto estava atrás da casa, por isso Sila não viu. Pulou em cima da motocicleta, estava de meias e bermuda, nada mais. Enquanto os vizinhos saiam para ver o que fora aqueles estampidos, Alcir passava por eles desesperado e ganhava a rodovia que o levaria até a cidade vizinha, deixando para trás o corpo inerte de seu amor.

Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

"SEMPRE HÁ UMA OUTRA CHANCE, UMA OUTRA AMIZADE, UM OUTRO AMOR, UMA NOVA FORÇA. PARA TODO O FIM, UM RECOMEÇO." O PEQUENO PRÍNCIPE--- AMOR SÓ EXISTE À DOIS. EVA IBRAHIM

        AS FERIDAS DA ALMA!

                                                                         CAPÍTULO NOVE
Do outro da linha telefônica somente o tu, tu se fazia ouvir, o que deixava Alcir furioso, pois tinha vagas lembranças da besteira que fizera. Ele percebeu que havia sangue na cabeça de Sila, porém, estava tão “chapado”, que não conseguiu ajuda-la a se levantar, antes disso ele caiu no sofá e apagou. Alcir havia misturado bebida com cocaína, estava alucinado e perdera a consciência, mergulhando num sono profundo. Acordou assustado, pegou o telefone e novamente tentou comunicação com a casa da sogra.

O dia estava amanhecendo e ele não conseguia efetuar a ligação. Das duas uma, ou ela não queria atende-lo ou estavam no Hospital.
 -Como saber para onde levaram sua mulher? Estava muito preocupado, não queria perder seu amor.

Depois que amanheceu ele pegou a moto que havia ganhado no jogo e saiu para ir à casa da sogra. Encontrou a casa fechada e depois de haver tocado a campainha por diversas vezes, chegou à conclusão de que não havia ninguém ali. Então, sentou-se na sarjeta e ficou esperando que alguém aparecesse; estava decidido a pedir perdão à Sila e leva-la para casa novamente.

Já passava das dez horas quando o automóvel do sogro apareceu na esquina. Alcir deu um pulo, eram eles que chegavam do Hospital, onde a moça ficara em observação com três pontos na cabeça. O sogro desceu dizendo para Alcir ficar longe de sua filha ou ele chamaria a polícia.

Sila saiu do veículo e nem olhou para ele. Ainda bem que os cunhados não se encontravam ali, porque Alcir poderia ser agredido por eles. A sogra saiu blasfemando que ele era um sem vergonha e desocupado, pois, até o emprego já havia perdido. Que ficasse longe deles, sua filha não voltaria àquela casa.

Alcir não conseguiu abrir a boca, estavam todos contra ele e com razão. Então, ficou algum tempo parado ali na frente da casa e depois resolveu ir se queixar para sua mãe; ela poderia ajuda-lo. Ver o amor de sua vida passar e não falar com ele o deixou abalado, teria que reverter à situação ou morreria de remorso.

A mãe de Alcir, dona Rosa, ligou para a casa dos pais de Sila, queria saber da nora. Foi mal atendida e ainda teve que ouvir desaforos, pois, seu filho estava demonstrando ser um canalha, disse a mãe da moça do outro lado do telefone. Assustada a mulher sentou-se no sofá e perguntou ao filho o que havia acontecido. Ele desconversou e saiu rapidamente, estava envergonhado e foi parar no bar; precisava afogar suas mágoas. Saiu dali quando o estabelecimento fechou.  

Sila foi à sua casa quando o marido não estava, pegou algumas roupas e objetos pessoais; pegaria o restante depois. Os dias corriam lentamente para Alcir que passava a maior parte do tempo no bar com seus amigos e a noite ia esperar Sila para tentar reatar seu casamento. Porém, a moça estava cada dia mais distante dele e não queria conversar. Ela queria a separação, pois Alcir andava drogado e em más companhias.                                                                                                                        
Quando o advogado de Sila procurou Alcir para tratar da separação, o homem quase apanhou.
 –Nunca daria o divórcio a sua esposa, só a morte o separaria dela, enfatizou o rapaz.
O causídico saiu assustado e pediu que a moça tomasse cuidado; o marido parecia perigoso, além de alucinado. Alcir ficava, todas as noites, esperando sua esposa chegar da faculdade e a seguia até a casa dos sogros. Sila sentia medo dele e não queria conversar.

Uma pessoa conhecida contou para Sila que seu marido estava vendendo os eletrodomésticos da casa deles. A moça ficou furiosa, aqueles aparelhos também lhe pertenciam e na casa ainda havia objetos pessoais dela. Ela teria que retirar o restante de suas coisas que haviam ficado na casa ou seriam vendidos. Teria que ir até lá quando Alcir estivesse ausente.

Sila não disse nada a seus pais para não aborrecê-los, teria que resolver aquela situação sozinha. Pensava que depois de formada iria morar na capital, na casa de uma tia, assim ficaria longe de Alcir e poderia reconstruir sua vida.

A tarde, quando saiu do serviço ela pensou que seria uma boa hora para buscar suas coisas, o marido, provavelmente estava no bar se embebedando. Entretanto seu colega de classe, o Celso, a viu na rua e parou para conversarem. Nesse momento Alcir estava passando de moto e viu sua mulher conversando com o colega de escola e jogou a moto em cima do casal, que pulou para os lados para não ser atingido.

Houve uma aglomeração de pessoas ali no local e Alcir tratou de fugir, deixando Sila assustada. Ninguém se machucou, porém, ficou claro que o marido não estava para brincadeiras; se tornara um homem violento. Mas, o pior é que a partir desse dia ele passou a andar armado e Sila não sabia de nada. Alcir criara uma armadura no lugar de seu amor, não tinha mais sentimentos; era uma fera ferida.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

"O AMOR É ISSO, NÃO PRENDE, NÃO APERTA, NÃO SUFOCA... PORQUE QUANDO VIRA NÓ, JÁ DEIXOU DE SER UM LAÇO." MÁRIO QUINTANA--- UM DIA TODOS MUDAM...EVA IBRAHIM


O TEMPO FECHOU

CAPÍTULO OITO
Alcir estava visivelmente alterado, Sila ficou espantada ao ver seu marido tão exaltado. Ele fechou a cara e disse que não gostava de vê-la rindo alto como se fosse uma mulher qualquer. Era sua esposa e deveria se comportar, ou ele a impediria de frequentar as aulas. Ela retrucou dizendo que ninguém a tiraria da escola e se tivesse que escolher, não seria ele o escolhido. Pronto, o tempo fechou; os dois estavam emburrados. Ela entrou no automóvel e ele arrancou cantando pneus. Não se falaram mais depois disso.

À noite, enquanto Sila dormia, Alcir andava pela casa, estava inquieto. Não poderia deixa-la sair sem fazer as pazes, ele a amava e teria que ter paciência ou a perderia. Sila ficara furiosa com o ataque de ciúmes do marido. Depois de uma noite de insônia, Alcir resolveu arriscar e abraçou sua mulher antes dela se levantar; ela se aconchegou em seus braços. O marido ficou surpreso, pensou que seria repelido.

Ela o tratou com naturalidade, depois disse que percebeu que ele havia bebido, por isso não levaria em conta a discussão da noite anterior. Porém, esperava que ele não bebesse mais, pois, ninguém aguenta bebedeira, nem ela.

A partir daquele dia ele bebia com os amigos e depois comia alguma coisa, lavava o rosto e escovava os dentes para ela não perceber, então ia espera-la. Ele se continha para não magoá-la, detestava aquela escola e os colegas de curso de Sila.

E, quando ela começou a falar em fazer trabalhos de escola, nas casas dos colegas, ele surtou. Ela não iria participar de trabalho nenhum; reunião de homens e mulheres não poderia ser coisa boa. Se não houvesse outro jeito de fazer trabalhos, então, eles teriam que vir à sua casa. Ele ficaria vigiando o tempo todo, pensou o rapaz desconfiado.

Foi um verdadeiro fiasco, Alcir ficou sentado ao lado de Sila, durante a reunião. O grupo, que era composto de três mulheres e dois rapazes, não conseguiu se entrosar e acabaram por transferir a reunião para outro dia. Naquela casa não voltariam mais; aquele marido era um chato, só atrapalhava a reunião, que não deu em nada, decidiram os integrantes do grupo.

A cada reunião marcada para realizar os trabalhos, Alcir arrumava briga com Sila, tinha ciúmes de Celso, um dos rapazes do grupo e o mais esperto. Entretanto, ele ficava calado desde que ela o ameaçou dizendo que voltaria para a casa dos pais, se ele a impedisse de estudar. Ele recuou e enquanto ela estudava ele ficava no bar bebendo e jogando. Certa noite ele se esqueceu de busca-la e apareceu em sua casa de madrugada, estava muito bêbado. Mais uma vez houve discussão, foram três dias sem conversar; havia mágoa entre eles.

Em oito meses de casamento a situação só piorava, havia muitos desentendimentos. Alcir estava enturmado com gente ligada às drogas. O rapaz ficava no bar e foi sendo conquistado pelas piores coisas, bebida, jogos e drogas. Sila andava descontente com o rumo que as coisas estavam tomando. O marido não parava mais em casa, vivia acompanhado dos novos amigos. O dinheiro não dava para as despesas da casa, simplesmente desaparecia ou estava sendo desviado para coisas erradas. Sila estava desconfiada de que, o marido jogava partidas de carteado valendo dinheiro.

Certa noite ele chegou bastante alterado, parecia drogado e Sila o repreendeu, então, ele avançou e lhe deu um empurrão. A moça caiu e bateu com a cabeça na quina da porta. Em seguida ela se levantou e levou a mão à cabeça, que latejava como se ali tivesse um coração. Olhou para sua mão que estava suja de sangue. Depois a moça saiu correndo para a casa de seus pais. Alcir se jogou no sofá, estava entorpecido; precisava descansar.

Durante a madrugada, ele acordou assustado. Tinha vagas lembranças do ocorrido na noite anterior. Procurou por Sila, que não estava. Lembrou-se da queda e da pancada na porta e, mais nada.

 - Será que ela se machucou e a levaram ao Hospital? Onde estaria sua mulher?
Pensou e se desesperou, precisava saber e ligou para a casa da sogra.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"PORQUE EU SÓ PRECISO DE PÉS LIVRES, DE MÃOS DADAS E DE OLHOS BEM ABERTOS." GUIMARÃES ROSA.---SE O DIA NÃO ESTÁ BOM, PACIÊNCIA, OUTROS MELHORES VIRÃO. EVA IBRAHIM

        DE MÃOS DADAS...
                 CAPÍTULO SETE
Com os olhos arregalados ela tratou de pegar a toalha e correu para ver a mão que sangrava. Alcir estava pálido, suando frio e com os olhos cheios de lágrimas, então, ele murmurou:
 - Eu queria cortar o peixe para adiantar o almoço de amanhã, desculpe-me, não queria assustá-la.

Ela pegou sua mão e abriu a toalha para ver o tamanho do ferimento. O corte era no polegar e tinha uns três centímetros de comprimento; pequeno, porém, profundo. E, como a mão estava pendurada, sangrava muito. Sila tratou de embrulhar a mão de Alcir novamente e pediu para ele comprimir, que iriam para o Pronto Socorro.

Enquanto ela ligava para seu pai vir ajuda-los, Alcir sentou-se na cadeira da cozinha, estava satisfeito, ela não iria à escola naquele dia. Alguns minutos se passaram e Sila entrou na cozinha de calças jeans e uma blusinha preta. O marido gostou do que viu, a escola tinha ido para o ralo... Segurando a mão na altura do coração, gemeu alto para comovê-la ainda mais. Lá no fundo ele se achava o máximo, conseguira seu intento, sucesso total.

O sogro chegou para leva-los ao PS, era caso de urgência, até a sogra estava com ele, lamentando o ocorrido. Depois de duas horas de espera e três pontos no polegar, Alcir foi liberado e os quatro retornaram à casa do casal. A sogra se prontificou para preparar uma sopa ou um chá, “pobre genro”, queria ajudar sua filha e sofreu um acidente.

Alcir olhou as horas, vinte e uma, tarde demais para ir à escola, sorriu baixinho, precisava de amor e carinho. Sila demonstrava preocupação com sua mão e parecia uma gueixa de tão prestativa que estava; ela o atendia ao menor gemido. Depois, condoída com a ocorrência, ela fez cafuné em sua cabeça até ele pegar no sono e quando Alcir acordou, ela já havia saído para trabalhar. Entretanto, Sila deixara o café preparado sobre a mesa com um bilhete.  Pedindo para ele comer e descansar, que ela voltaria na hora do almoço para vê-lo; o marido estava de atestado médico.

Alcir comeu e depois voltou para a cama, ligou a televisão e ficou cismando ali deitado, como um lobo aguardando a sua presa. Pouco antes de sua amada chegar ele tomou banho e ficou na espreita debaixo das cobertas. Não era um pequeno corte no dedo que o impediria de amar e ser amado; estava pronto para puxar Sila para seus braços; era um homem sedento de amor.
Estava alegre, era jovem, tinha a mulher que amava, portanto fora abençoado por Deus, pensava feliz. A faculdade era somente uma pedra em seu caminho, que ele daria um jeito, sem magoar sua mulher.

A chegada de Sila aconteceu exatamente como ele planejou, sobrou carinho e amor ao pobre acidentado! Depois almoçaram e ela saiu para trabalhar, porém, antes de sair para o trabalho, ela disse que iria à escola de ônibus, como sempre. Alcir tentou argumentar, mas ela não queria ouvir e continuou caminhando.

Ele deu um soco na parede e sentiu a dor no corte do dedo. Gemeu alto esbravejando, teria que aceitar ou ela se zangaria de verdade.

A tarde corria lenta, Alcir saiu para dar uma volta e foi à casa de sua mãe desabafar; não queria que sua mulher continuasse a estudar. Sua mãe, mais uma vez, tentou acalmar o filho dizendo que, se insistisse nisso perderia Sila. Ela estava para se formar e não sairia da escola, ele sabia disso; deveria se conformar. Ele saiu cantando pneu, estava muito estressado...

Depois do jantar ficou esperando sua mulher para leva-la até o ponto do ônibus, estava visivelmente contrariado, não queria conversar. Ela o beijou e correu para dentro do veículo, estava feliz por rever os amigos. O ônibus saiu e Alcir foi seguindo o coletivo, mantinha certa distância para que ninguém o visse. Ele foi até a cidade vizinha, onde ficava a faculdade de Sila.

Ficou um longo tempo em frente à escola, depois voltou para sua cidade, teria que segurar a onda até ela voltar. Parou em um bar e ficou conversando com velhos conhecidos. Quando olhou no relógio viu que estava na hora de esperar sua mulher, estava ansioso e meio bêbado, havia tomado bebida alcoólica. O ônibus encostou e Sila desceu sorridente, Alcir ficou irritado.
- Estava feliz com o quê? Teria visto o passarinho verde? Perguntou o rapaz irado.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

'EU SEM VOCÊ, SOU SÓ DESAMOR, UM BARCO SEM MAR, UM CAMPO SEM FLOR." VINICIUS DE MORAES--- NÃO DESISTA JAMAIS, HÁ SEMPRE UMA LUZ NO FINAL DO TÚNEL.EVA IBRAHIM

AMOR SEM MEDIDA
CAPÍTULO SEIS
      Em clima de festa, o casal foi recebido pelos pais, que procuraram ajudar a suprir as necessidades da nova casa. Sila e Alcir irradiavam alegria, parecia que a felicidade se instalara naquele local para ficar brincando de amor. Arrumaram a casa, guardaram os presentes e com eles uma parte da magia do casamento ficou suspensa no ar; era hora de se conhecerem melhor.

     Entre beijos e abraços a rotina foi se instalando naquela casa, não dá para viver só de amor, essa é a grande verdade. Sila e Alcir voltaram ao trabalho, tinham muitos projetos em mente e precisavam de dinheiro. Alcir vendeu a moto e comprou um automóvel, pensava em ter filhos e a moto não era apropriada.

    Sila não se pronunciou a respeito da conversa sobre ter filhos, não queria desiludir o marido, pois, filho estava fora de questão naquele momento. Teriam tempo para conversar e decidir sobre muita coisa a respeito do futuro, pensou a moça com uma pitada de preocupação.

    Com o passar dos dias foram surgindo às divergências, Alcir não queria que sua mulher estudasse à noite; tinha ciúmes. Entretanto ele sabia que ela não deixaria a Escola. Era um sonho antigo terminar a faculdade para arrumar um emprego melhor. Seus pais sempre a incentivaram para concluir os estudos e ela queria dar esse gosto a eles.

      Em apenas um mês, o casal já havia discutido seriamente por duas vezes. Ambos tinham gênio forte e não abriam mão de suas ideias. As aulas tinham data marcada para começar e Alcir já estava sofrendo por antecipação. Na verdade, ele queria que sua mulher ficasse em casa cuidando dele, porém, ela não deixaria o trabalho e muito menos a escola. Ele sabia disso e temia a própria reação.

     Ele odiava a ideia de ficar em casa sozinho esperando por seu amor; Alcir sabia que estava em seu limite, tinha o pavio curto. Foi se aconselhar com sua mãe, que tentou amenizar a situação mostrando a ele que a moça tinha razão, precisava terminar os estudos. 

Quando ela chegava do serviço, os dois se abraçavam e ele ficava alegre; depois do jantar ele se aninhava naqueles braços tão queridos e dormia feliz. Bastava à presença de sua mulher para Alcir se esquecer de seus temores; tentava se acalmar para Sila não perceber o drama que estava vivendo.

     Depois de alguns dias, ela chegou contente, trazia nos braços os cadernos que comprara para voltar às aulas na faculdade.  Uma campainha disparou dentro dele; sua saga iria começar. Deu um sorriso amarelo e mal correspondeu ao beijo que recebeu; tinha uma faca, chamada faculdade, cravada em seu peito.

     Alcir lutava contra seu sentimento de revolta enquanto Sila tomava banho. Pela primeira vez pensou em impedir sua mulher de sair, porém, ela poderia não gostar e até abandoná-lo. Teria que usar de diplomacia e pensar em uma estratégia para prendê-la em casa. Precisava agir rápido ou teria que leva-la ao ponto do ônibus.

    Abriu o freezer e pegou um peixe congelado, depois o colocou sobre a tábua de cortar carne e sem titubear pegou a faca mais afiada que havia ali e mandou sobre seu próprio dedo. O grito foi lancinante e verdadeiro; a dor foi insuportável.

    Quando Sila ouviu o grito saiu do banheiro só de toalha, o marido estava encostado na pia da cozinha. Alcir ficara pálido, em meio a uma poça de sangue. O rapaz segurava a mão enrolada em um guardanapo branco, sujo de sangue, parecia que iria desfalecer a qualquer momento.

     A moça parou estarrecida, deixando a toalha cair no chão e ficou olhando aquela cena dantesca. Não sabia se gritava, corria ou vestia sua roupa, estava nua e impotente.
Um texto de Eva Ibrahim. 

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

"BUSCAMOS, NO OUTRO, NÃO A SABEDORIA DO CONSELHO, MAS O SILÊNCIO DA ESCUTA; NÃO A SOLIDEZ DO MÚSCULO, MAS O COLO QUE ACOLHE." RUBEM ALVES---A VIDA É UM MISTÉRIO A SER VIVIDO. EVA IBRAHIM



O BEM MAIS PRECIOSO

 CAPÍTULO CINCO
        Alcir abaixou a cabeça, a emoção tomou conta de sua voz, então, ele começou a gaguejar e as lágrimas desceram fartas de seus olhos. Dirceu levantou-se e pegou um copo com água da moringa, que ficava na mesinha perto do beliche, dentro da cela. Enquanto o companheiro sorvia o líquido, Dirceu perguntou se ele queria parar por ali.

       –Não, de jeito nenhum. Gaguejou o rapaz com a voz embargada.
Ele precisava contar tudo para se livrar do peso que trazia na alma. O sofrimento reprimido por oito anos e a armadura que usava para se apresentar a todos, estava lhe fazendo muito mal; iria contar tudo até o final.
      Respirando fundo, Alcir continuou sua história.

      - Amava a sua mulher com toda a força de seu coração. Respirou fundo e tomando fôlego, continuou.
      Era um sentimento verdadeiro, que viera de um jeito que doía seu peito, o coração disparava quando pensava nela. Ela representava a luz do Sol, a alegria de viver; um sorriso dela encantava seu dia. Desde o momento que a viu pela primeira vez, Sila tornou-se o centro de seu Universo. Gostava de vê-la caminhar em sua direção, balançando seus fartos cabelos louros e quando se aninhava em seus braços ele ficava completo; era seu bem mais precioso.

     Os dois saíram da casa nova com o Sol brilhando alto e, quando chegaram à casa de Sila, a mãe dela os estava esperando, sentada na varanda da casa. A mulher apresentava as feições endurecidas pelo semblante fechado. Levantou-se e com as mãos na cintura perguntou se tinha cara de palhaço. Alcir abaixou a cabeça dizendo que não e Sila começou a chorar.

      - Com certeza estavam pensando que o mal feito ficaria escondido. Disse a mulher irada, em seguida prosseguiu.
     Por enquanto, somente ela sabia que os dois tornaram-se amantes, mas, Alcir teria que marcar a data do casamento naquele mesmo dia, ou ela contaria ao pai e aos filhos, que certamente tomariam providências danosas para ambos.

     Enquanto a moça chorava, o noivo aquiesceu.
     - Casaria com Sila a qualquer momento, já tinham casa para morar.
      Diante de tanta veemência, a mulher depôs as armas, esperaria até a noite para acertarem as datas. Contava com a presença dos pais dele, para se certificar de que estava falando sério.

      Alcir não cabia em si de tamanha felicidade, Sila era seu bem mais precioso e a levaria para o altar com muito amor. Os pais do noivo foram pegos de surpresa e pediram um prazo de dois meses para que tudo fosse arrumado para o casamento. A data foi marcada para a véspera do carnaval, assim eles poderiam viajar e curtir a lua de mel.

      A mãe chamou a atenção da filha com dureza, para a realidade que a aguardava.
     –Será que ela não estaria jogando sua sorte pela janela? Era muito jovem, ainda não estava formada e o noivo parecia muito ciumento. Temia que ele não deixasse ela terminar os estudos, enfatizou a mulher.

     Sila ouviu calada, a mãe poderia ter razão, porém, não queria pensar nisso naquele momento. Estava feliz com a novidade, também amava Alcir e queria desfrutar dessa fase de sua vida, o casamento.

      O dia do casamento chegou e a felicidade estava estampada no rosto dos noivos. Tudo saiu perfeito, a cerimônia, a festa e a saída estratégica do casal de noivos para a viagem ao litoral; Sila queria aproveitar o calor para curtir a praia.

      O carnaval acontecia nas ruas e salões e os dois passeavam agarradinhos pela orla marítima, depois iam dormir de conchinha. Alcir nunca foi tão feliz, queria permanecer ali para sempre. Foi uma semana inteira de muito amor, depois voltaram para casa. Era chegada a hora de enfrentar a realidade que os esperava, cheia de novos compromissos.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"O CAMINHO QUE EU ESCOLHI, É O DO AMOR... NO MEU CAMINHO, O ABRAÇO É APERTADO, O APERTO DE MÃO É SINCERO... É SÓ ASSIM QUE EU ENXERGO A VIDA E, É SÓ ASSIM QUE EU ACREDITO QUE VALHA A PENA VIVER..." CLARICE LISPECTOR--- O AMOR ESQUENTA O CORPO E A ALMA . EVA IBRAHIM

UM BRINDE AO AMOR
CAPÍTULO QUATRO
       Ninguém percebeu nada; era dia de festa. A maioria dos presentes estava de ressaca, passaram a noite comemorando. Alcir parecia uma sombra atrás de Sila, entretanto, não despertou suspeitas, ninguém imaginava que a moça se entregara a ele na noite de Natal. Alcir era um homem apaixonado e todos sabiam disso, estava zelando pela mulher amada.

     Era natural o noivo ficar agarrado a sua noiva, ainda mais agora que ela se tornara sua mulher. Este pensamento o deixava excitado, ele queria ficar a sós com ela novamente, seu corpo tinha necessidade dela. Sila o afastou dizendo que estava toda dolorida e que ele segurasse a onda, teriam a vida toda para se amar. Ele emburrou, não poderia compreender a frieza dela.
      -Será que ela estava arrependida? Ele perguntou baixinho.
  -Não, não estava arrependida, mas, queria um amor tranquilo, sem promessas e urgências; os encontros deveriam acontecer naturalmente, como o da noite anterior.

     Sila o beijou e afagou seus cabelos, depois saiu para ajudar sua mãe. Alcir ficou sentado no sofá, sentindo-se rejeitado; o pior dos sentimentos, que o magoava muito. Agora ele era seu senhor, teriam que se casar logo ou ele não teria mais sossego. Não suportava a ideia de deixa-la na casa dos pais e voltar para sua casa. O rapaz vivia dentro de um turbilhão de pensamentos contraditórios; hora sentia-se feliz, em seguida um derrotado.

     Iria se mudar para a casa que arrumara para ser um ninho de amor; ficaria lá até poder morar com Sila para sempre. Naquela noite ele dormiu sozinho na casa nova; estava deprimido. Demorou a pegar no sono, a cama estava vazia; ele a queria ali novamente. Planos, aquele coração quase não cabia em seu peito, ele ficava deitado fazendo planos com sua amada. Ela o enfeitiçara, não conseguia imaginar a vida longe dela. Alcir chorou baixinho, nada poderia fazer, senão esperar.

     Uma semana e a moça não voltou àquela casa; ela dizia que seus pais não poderiam saber do ocorrido, por isso teriam que tomar cuidado. Alcir contava com a passagem de ano para ser feliz novamente. Sila também queria passar a noite com ele, ela o amava e lhe daria mais uma noite de prazer.

     No último dia do ano, o rapaz estava eufórico, chegava a sentir dor no peito quando pensava em sua noiva. Aquela seria outra noite de muito amor. A casa estava limpa e pronta para receber os dois; ficariam um pouco na casa dos pais de Sila. E, depois diriam que os pais dele os estavam esperando e iriam para seu ninho de amor...

    Tudo aconteceu como ele planejara, depois do brinde, Sila o acolheu em seus braços com todo carinho, até o dia amanhecer. Quando o dia clareou ele estava enrolado no corpo dela. Alcir sorriu, estava muito feliz; aquela era a vida que ele queria viver. 

A moça acordou sobressaltada, sua mãe estava desconfiada desde o dia de Natal; eles teriam que se explicar ou ela quebraria o silêncio. Uma nuvem negra pairou dentro do quarto.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

"TE AMO, NÃO POR QUEM TU ÉS, MAS POR QUEM SOU QUANDO ESTOU CONTIGO." GABRIEL GARCIA MARQUES---SAUDADE É A AUSÊNCIA QUE INCOMODA. EVA IBRAHIM

ALÉM DAS ESTRELAS
CAPÍTULO TRÊS
       Sila tinha outras prioridades, antes de pensar em casamento, entretanto, Alcir tinha pressa; parecia que pressentia algo de ruim se não agarrasse a moça de uma vez. Discutiram, algumas vezes, por esse motivo. Ela queria terminar os estudos, arrumar um emprego melhor e depois montar sua casa do jeito que sempre sonhou.

       –Não, de jeito nenhum, ele não conseguiria esperar tanto tempo, ela faria tudo isso estando junto dele, dizia o rapaz com convicção.

       Conversa vai, conversa vem e muita pressão de Alcir que ela acabou cedendo.
        – Iria ficar noiva, porém, o casamento teria que esperar.

       Alcir ficou radiante, depois de noivos tudo seria mais fácil; Sila cederia aos poucos, até se tornar sua mulher. Esse pensamento povoava sua cabeça, não conseguia focar em outra coisa. Ser feliz, para ele, era uma necessidade urgente.

       Sua avó construíra uma casa, com dinheiro de uma herança, para alugar e completar sua aposentadoria. Era uma construção simples, mas bem feita e ficava perto da casa de seus pais, então, Alcir foi pedir à sua avó se poderia alugar para ele e ela concordou. A noiva não gostou da pressa do rapaz, ele estava atropelando os seus planos e ela não iria se submeter aos seus caprichos, seria melhor dar um tempo.

        A discussão foi fervorosa e Alcir saiu da casa de Sila muito bravo, ela não o amava, por isso não queria se casar. Passou em um bar, encontrou uns amigos e beberam até o bar fechar. No dia seguinte ele não foi trabalhar, estava com enxaqueca e de mal com o mundo; não queria ver ninguém.

       Sila não o procurou, queria um tempo para pensar; casamento era coisa séria e ela só tinha vinte anos de idade. Amava seu noivo, porém, ele teria que entender que ela queria o melhor para ambos e casar as pressas não estava em seus planos.

Alguns dias se passaram e Alcir não resistiu, foi à procura de Sila; não poderia viver longe dela. Conversaram muito e ele concordou em esperar o ano acabar para falar em casamento novamente, estavam no mês de maio.

       Ele não disse nada à noiva, mas tinha um plano para ela se entregar a ele, mesmo sem se casar. Os dois, sempre conversavam sobre a futura casa e como seriam os móveis. Um dia eles estavam passeando e ela parou em frente a uma loja de móveis mostrando a ele as coisas que ela queria comprar. Foi o suficiente para ele se antecipar e colocar os móveis na casa que ele mantinha sem ela saber. De maio a dezembro ele economizou tudo que pode e o restante financiou. Na véspera de Natal a casa estava toda mobiliada, como ela queria e ele suspirou aliviado.

      Alcir estava feliz e convidou sua noiva para ver a casa que ele pretendia comprar e como uma teia ele foi envolvendo a moça. Ela ficou surpresa com o empenho dele, além de gostar da casa percebeu o grande amor que Alcir lhe dedicava. Na casa tinha vinho e salgados, que ele levara mais cedo para que a surpresa fosse completa.

      Os dois ficaram vendo televisão e bebericando até tarde, a conversa fluía fácil; estava tudo perfeito. Já era tarde para sair e eles foram ficando ali, inebriados pela bebida; depois foram levados pela paixão até o quarto, onde ela se esqueceu de seus propósitos e se rendeu ao amor.

      O dia amanheceu com Alcir fungando em meio aos cabelos louros de sua amada, estava realizado; Sila se tornara sua para sempre. Quando a moça acordou, deu um salto.

      - Como iria se explicar? Seus pais ficariam furiosos. Alcir ponderou que:

      - Seria melhor não dizer nada para não magoá-los; diga que dormiu na casa de uma amiga; a festa acabou tarde e todos estavam bêbados.

      Ela concordou, afinal, era dia de Natal e os familiares de Alcir  iriam comemorar com um almoço na casa dos pais de Sila. Aconteceria à reunião das duas famílias, uma aproximação necessária para a felicidade dos filhos. O amor desfrutado seria um segredo entre os dois, um presente de Natal, que os conduziu além das estrelas.

       Foi ai que o rapaz teve que engolir seco e limpar as lágrimas que caiam de seus olhos. Dirceu o abraçou, entendeu a emoção do companheiro, tinha sentimentos parecidos. Entretanto, tanto um como o outro usavam uma armadura para mostrar à sociedade.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

"AH! O AMOR... QUE NASCE NÃO SEI ONDE, VEM NÃO SEI COMO E DÓI NÃO SEI PORQUÊ. LUÍS DE CAMÕES---SONHE, POIS, LÁ O MUNDO É TODO SEU! EVA IBRAHIM

Ah! O AMOR É LINDO...
Capítulo dois.
       Alcir conheceu Tarsila em um show de músicas sertanejas. O clima era de alegria e o público jovem cantava a plenos pulmões, dançava e agitava os braços demonstrando total entrega. No palco acontecia o tributo à dor de cotovelo, cantada em versos românticos pelas duplas de cantores conhecidos. Ela passou por ele rebolando e balançando seus cabelos dourados, estava acompanhada de uma amiga. Ele ficou olhando até ela desaparecer em meio à multidão, parecia enfeitiçado. 

      A moça chamou sua atenção de um jeito que ele ficou extático, então, apareceu seu amigo Dinho e lhe deu um susto. Espantado ele recobrou a lucidez e disse que uma “deusa” havia passado por ali. Dinho retrucou dizendo que ele conhecia a moça e se Alcir quisesse poderia ser apresentado a ela. E, foi assim que ele conheceu Tarsila; uma linda jovem com um nome estranho.

     Ela lhe explicou que seu pai estava folheando uma revista, em um consultório dentário, enquanto aguardava ser atendido e viu a foto de um quadro que lhe chamou a atenção. Era um quadro de Tarsila do Amaral, uma pintora famosa. Seu pai guardou aquele nome e quando a filha nasceu ele não perguntou a sua esposa o nome que ela daria ao bebê, pois, ele já tinha o nome: Tarsila.

       A mãe não gostou e passou a chama-la de Sila, portanto, ele também poderia chama-la de Sila. Ele sorriu, o nome era apropriado, bonito como a dona; queria conhece-la, estava encantado. A partir desse dia Alcir só tinha olhos para Sila, que correspondia ao seu amor. A moça era a filha de número cinco do casal e os outros quatro filhos eram homens. Além de ser paparicada pelos quatro irmãos, era a caçula e os pais a mimavam. Então, ele percebeu que ali, naquela família, ele teria que ser correto. Se quisesse a Sila, teria que se casar ou seria massacrado pelos irmãos dela.

     A moça trabalhava em uma loja de departamentos e estudava à noite; queria ser Assistente Social para ajudar muita gente. Alcir ficava furioso em pensar que ela poderia falar com outros rapazes. A primeira briga surgiu por conta de seus ciúmes exagerados. Ele viu sua namorada trocando algumas palavras com um colega da escola em frente ao seu trabalho. Alcir quase bateu em Sila de tão furioso que ficou; não aceitou suas explicações e saiu cantando pneus. 

      Foram dias difíceis para ele, mal conseguia trabalhar; teria que resolver a situação, amava aquela mulher. Ela reunia todos os desejos de seus sonhos mais íntimos; era perfeita para ele. Depois de alguns dias ele não resistiu e foi pedir perdão à sua amada. Foi perdoado com um longo beijo; ela também o amava.

      Alcir trabalhava em uma revendedora de motos, que era a segunda mais importante paixão de sua vida, depois de Sila. Ele possuía uma moto vermelha, que chamava a atenção de todos e a Sila adorava passear agarradinha em sua cintura. O rapaz ficava feliz em exibir seus dois troféus, a moto e seu amor.  Ele estava empenhado em construir uma família com aquela jovem, seria o único jeito de tê-la em seus braços e chama-la de sua.

      Os dois se amavam, entretanto, quando ele ia avançar o sinal ela o brecava; prometera aos pais que se casaria virgem. Ela sonhava em se casar vestida de noiva com véu e grinalda, como mandava o figurino. Queria ter uma noite de núpcias com tudo que a tradição envolvia. Alcir ficava maluco, não conseguiria esperar muito tempo, queria fazer dela a sua mulher. Porém, eram muito jovens e seus pais não concordariam com o casamento apressado.

      À noite, Alcir sonhava com ela lhe fazendo carinhos, acordava suando. Iria à casa de Sila pedir permissão aos seus pais para ficarem noivos. O aniversário dela estava próximo e seria um belo dia para firmar um compromisso. Pensava nela o tempo todo, para ele o mundo se reduzira à sua Sila e nada mais importava; estava muito feliz. Precisava apressar os preparativos para o casamento e viver plenamente todos os seus sonhos com a mulher de sua vida.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

"A SAUDADE SE PARECE MUITO COM A FOME. A FOME TAMBÉM É UM VAZIO. O CORPO SABE QUE ALGUMA COISA ESTÁ FALTANDO. A FOME É A SAUDADE DO CORPO. A SAUDADE É A FOME DA ALMA." RUBEM ALVES-- OS FANTASMAS ESTÃO POR TODA PARTE. EVA IBRAHIM

                  A ARMADURA
                   ATRÁS DAS GRADES                                                                            CAPÍTULO UM
       O Diretor da Penitenciária mandou chamar o detento, que estava sentado no pátio tomando Sol. Precisava lhe dar uma notícia boa, mas ele temia que o detento não pensasse da mesma maneira. Era um preso jovem, quando chegou tinha somente vinte e cinco anos; introspectivo, mal humorado e briguento. Depois de sete anos de rebeldia, ele teve uma melhora de comportamento no último ano, por isso seu advogado pediu que lhe fosse concedida a liberdade condicional.
       Alcir teria sua liberdade provisória depois de oito anos de prisão, dos quais muitos dias e noites passados na solitária. Quando chegou ali parecia alucinado, agressivo, exaltado e dando pouca importância ao futuro. Alguns dias depois, tentou se suicidar fazendo cordas de lençol para se enforcar, mas foi impedido pelo colega de cela.
       - Chegara do inferno e nada mais importava em sua vida, que valia menos que um toco de cigarro, confidenciou ao colega de cela. Depois se fechou, não comia, não falava e não queria conversa com ninguém, nem mesmo com seus pais.
        A mãe insistia em vê-lo, porém, ele não queria ver ninguém, estava morto por dentro; desistira de viver. A mulher não se dava por vencida e sempre levava cigarros para seu filho. Ficava sentada no pátio até acabar o horário de visitas à espera de seu menino; depois entregava o pacote ao carcereiro. Alcir não saia da cela, entretanto, aceitava os cigarros deixados por sua mãe.
       O rapaz emagrecera vinte quilos no primeiro ano que passou na penitenciara. Ficou um mês na enfermaria da instituição, tomando medicamentos para se recuperar da fraqueza que fora acometido. Sua família fora chamada, temiam pela sua vida; então, ele passou a aceitar a presença de sua mãe nos dias de visitas. A mãe amava o filho incondicionalmente, nunca questionava sua conduta e assim foi ganhando sua confiança.
       Quando melhorou e pode voltar à sua cela, ele pediu a ela um rádio para ouvir músicas. O aparelho se tornou seu melhor companheiro; Alcir passava horas ouvindo músicas sertanejas, seu colega de cela também gostava do rádio e durante o dia, os dois ouviam rádio juntos. À noite, Alcir passava a maior parte do tempo com o radio na mão e o fone no ouvido.
       Quando saia para tomar Sol, ele acabava se envolvendo em brigas e por causa disso passou dias na enfermaria curando suas lesões, que se tornaram cicatrizes no corpo e na alma. Outras vezes ia parar na solitária, pois, não queria trabalhar e vivia desacatando os funcionários do local; era tido como um caso perdido.
       Ele passava as horas deitado no colchão, que ficava no fundo de sua cela; um corpo imóvel jogado na vida. Na cadeia não há o que fazer e o tempo demora a passar, por isso, depois de dois longos anos, ele concordou em trabalhar para ganhar algum dinheiro e dar para sua mãe comprar livros, revistas, cigarros, chocolates entre outras coisas. Precisava de uma ocupação ou enlouqueceria, disse à psicóloga, que acompanhava seu caso.
       Com o trabalho de ajudante na lavanderia ele conheceu outras pessoas e arrumou um amigo e confidente. Os dois tinham histórias parecidas, mataram suas esposas. Dirceu tinha cinquenta anos e estava preso há seis anos, não recebia visitas. Os filhos o desprezavam, nunca o perdoaram pela morte da mãe.
      Alcir estava sendo forjado a ferro e fogo no pior lugar do mundo, a cadeia, onde ele usava uma armadura para encobrir a culpa e a saudade que trazia no peito. Durante as noites de insônia ele chorava baixinho, com o rosto enfiado no travesseiro para ninguém ouvir. Durante o dia era um presidiário carrancudo e violento com seus desafetos; assim ele se escondia do mundo atrás de uma armadura agressiva e perigosa.
       Procurava esquecer que havia vida lá fora e quando recebeu o aviso de sua liberdade condicional, chorou como criança para surpresa do diretor do presídio. Dirceu tentou consolá-lo e se dispôs a ouvir sua história.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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