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quarta-feira, 25 de novembro de 2020

"ESTÃO VOLTANDO AS FLORES" - EMÍLIO SANTIAGO- " VÊ, ESTÃO VOLTANDO AS FLORES, VÊ, NESSA MANHÃ TÃO LINDA! VÊ, COMO É BONITA A VIDA, VÊ, HÁ ESPERANÇA AINDA. (...)"COMPOSITOR: PAULO SOLEDADE

                            A ÁRVORE DA VIDA

MEU FLAMBOYANT

CAPÍTULO UM

                  O dia amanheceu cinzento, com nuvens pesadas rondando a cidade, era um prenúncio de muita chuva. Aquele clima pesado influenciava no humor da maioria das pessoas, deixando-as deprimidas. Era a semana do Natal e nada deixava Laura motivada para as comemorações.

                 - Se ao menos tivesse um Sol brilhante! Ela pensou desanimada.

               O ano fora difícil para todos, muitos perderam seus entes queridos; ela perdeu uma amiga e vizinha. Nunca imaginou que Olga fosse para outro plano tão cedo. Num piscar de olhos, a moça adoeceu e faleceu, ainda é difícil acreditar. Por tudo isso ela andava desanimada, não queria fazer nada naquele final de ano.

             Era segunda-feira da semana do Natal e ela levantou-se bem cedo, precisava sair para fazer umas compras e depois passar na Igreja. Como de costume, Laura queria pegar o folheto do programa das festas natalinas. Gostava de frequentar a igreja e principalmente a Missa do Galo. Deixava tudo pronto em sua casa e quando voltava da celebração, fazia a ceia com todos da família.

           No entanto, esse foi um ano complicado, a pandemia do Corona vírus pegou a todos de surpresa e continua influenciando a vida da humanidade em geral. A maioria das comemorações públicas estão suspensas e cada família irá comemorar na privacidade de seus lares, com cuidados especiais.

            Saiu da igreja com algumas sacolas das compras nas mãos e o folheto desejado, estava cansada e resolveu sentar-se no banco da praça, queria tomar fôlego.

            – A idade está pesando, já não consigo fazer caminhadas sem sentir cansaço. Pensou com tristeza.

           Era uma senhora com mais de setenta anos e sofria de nostalgia. Passou meses confinada, os filhos e netos a evitavam, pois fazia parte do grupo de risco, ao qual foi imposta uma solidão forçada. No último mês, os governantes abriram o comércio e diminuíram as restrições, então, o tal grupo de risco voltou a ter um pouco de liberdade. Assim, Laura retornou a seus afazeres rotineiros.

             Ali, debaixo da árvore, havia uma sombra gostosa, podia-se ouvir o barulho dos pássaros e o farfalhar das folhas ao sabor da brisa, que roçava seu rosto. A senhora respirou fundo, olhou para cima e viu muitas flores vermelhas em galhos pendentes. Formavam cortinas de ramas, que quase encostavam na terra.

             Olhou para o chão e viu as raízes grossas, que saíram da terra formando bancos ao redor do seu tronco. Era uma árvore idosa também, do seu grupo de risco. Bem na sua frente, havia uma procissão de formigas cortadeiras, carregando pequenos pedaços de folhas de uma roseira do jardim. Não conseguiu avistar o formigueiro, somente a longa procissão.

           – Esse é um trabalho árduo e constante, será que os filhotinhos de formigas estão preparando suas caixas para receber o presente do Papai Noel? A mulher pensou e sorriu largamente.

           Aquele fato a fez lembrar-se de quando era criança, lá nos idos de um mil novecentos e cinquenta e seis. Os belos anos dourados, onde os sonhos eram abundantes.

           O país vivia uma euforia com o início da construção da nova capital no centro oeste brasileiro. Havia muita pressa para a construção de Brasília e as notícias eram alvissareiras, o Brasil dava um grande passo à frente no após guerra. Para as crianças era permitido sonhar em um mundo restrito, sem internet, sem telefone e no qual as notícias boca a boca eram um importante meio de comunicação.

            Laura era pequena e acreditava em Papai Noel, nesse ano ela pediu ao pai uma caixa com maquiagem. Pó de arroz, batom, lápis de olhos, rímel, esmalte, fixadores de cabelos, grampos e presilhas, a lista era grande, igual aos sonhos da menina. Ela vira tudo isso na revista de sua mãe: “Jornal das moças”. Queria praticar maquiagem em suas bonecas de louça, que ganhara de sua avó.

           A menina esperava a noite de Natal ansiosamente e na véspera pegou uma caixa de sapatos, que estava guardada para a ocasião e foi até o outro lado da rua. Lá morava uma grande árvore de Flamboyant, então, a menina apanhou um galho cheio de flores, que se arrastava até o chão e o levou para sua casa.

        Desmanchou cada pétala da flor da árvore, para forrar o fundo de sua caixa, na qual o seu presente deveria ser colocado. As folhas ficaram para seu irmão forrar a caixa dele, pois ali seriam colocados os soldadinhos de chumbo, que ele tanto queria.

             Lembranças de um passado simples e bonito, no qual sua família estava reunida, acalentou seu coração. As nuvens negras se afastaram e a beleza do sentido do Natal tomou conta da sua alma. A mulher levantou-se e sorrindo fez um carinho no tronco da árvore, depois sussurrou baixinho:

              - Meu Flamboyant

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa


quarta-feira, 18 de novembro de 2020

"NOSSA SENHORA"(...) E AQUELES QUE EU FIZ SOFRER, PEÇO PERDÃO. SE EU CURVAR MEU CORPO NA DOR, ME ALIVIA O PESO DA CRUZ. INTERCEDA POR MIM MINHA MÃE, JUNTO A JESUS. (...)"COMPOSITORES: ROBERTO CARLOS E ERASMO CARLOS.

                         UMA GRAÇA RECEBIDA

CAPÍTULO OITO

            O rapaz amparou a namorada e a ajudou a sentar-se na cadeira. Ela precisava se acalmar, estava diante do médico e a hora da verdade havia chegado. Caetano apanhou uma revista e começou a abanar a moça. Aos poucos ela voltou a si, estava muito abalada.

             - O que o médico quis dizer com fazer a cirurgia? Ela sussurrou para Caetano, precisava de uma explicação, estava aguardando que ele dissesse o resultado do exame. No entanto, ele fez uma cara estranha e falou em cirurgia.

            O mastologista que observava tudo, se manifestou:

             - Minha senhora, eu disse que irá para a cirurgia remover esse nódulo, mas ele deu negativo para o câncer. Será um procedimento necessário para que seu seio volte ao normal. Deverá tomar alguns medicamentos e tudo isso poderá ser esquecido. Não irá tomar quimioterapia e nem perderá seus cabelos.

             Edileusa começou a chorar e balbuciar:

             -É verdade? A Virgem aceitou a minha promessa e me livrou de um câncer perigoso?

             - A senhora teve muita sorte, apesar da aparência de malignidade do nódulo, o exame não acusou nenhum câncer. Mas, apenas um nódulo benigno, que precisa ser retirado. O médico afirmou e continuou escrevendo na pasta da paciente, parecia satisfeito com o resultado obtido na biópsia. Depois completou:

              -Vamos marcar para a sexta-feira bem cedo, a retirada do nódulo. Esteja aqui, as sete horas da manhã em jejum, que iremos resolver isso.  Levantou-se e foi até a moça, entregando-lhe o agendamento da cirurgia. Ele parecia bastante otimista. Depois se retirou da sala, deixando o casal estupefato.

           A moça demorou para se recompor, estava emocionada. Em seguida, Caetano a abraçou e saiu conduzindo-a para fora. O ar puro batendo em seu rosto a fez sentir-se melhor, estava salva daquela sentença de morte. Era quarta-feira e ela teria mais um dia antes da cirurgia, precisava agradecer à Virgem de Nazaré.

            O casal seguiu para a Catedral, lá era o santuário de todas as versões da Virgem Maria. Edileusa se ajoelhou em frente ao altar e chorou copiosamente, agradeceu e rezou para a Santa. Então, seguiram para casa, estavam aliviados, iriam se preparar para a internação na sexta-feira.

             O dia amanheceu ensolarado e encontrou a moça pronta para ir ao hospital. O rapaz a acompanhou até a recepção, onde ela foi atendida e encaminhada para o consultório. Dalí seguiu para a enfermaria, na qual iria aguardar ser conduzida para o centro cirúrgico.

           A cirurgia demorou quatro horas e depois de mais duas horas na sala de recuperação, Caetano foi liberado para ver sua namorada. Edileusa estava sonolenta, mas feliz como uma criança. Sorriu para o companheiro e continuou dormindo, estava em paz.

            Recebera um milagre da Santa e agora teria uma vida inteira pela frente. O fantasma da doença fora afastado, queria viver e ser feliz ao lado de Caetano, que nunca a abandonara.

             Para sua mãe, nunca diria nada, não queria que se preocupasse com aquele problema, que a estivera rondando. Seguiria sua vida agradecida à Santa e nos anos seguintes voltaria à Basílica Da Virgem de Nazaré para agradecer. Teria a vida inteira para reverenciar, aquela que lhe concedera a graça de um milagre valioso.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

"NOSSA SENHORA" "CUBRA-ME COM SEU MANTO DE AMOR, GUARDA-ME NA PAZ DESSE OLHAR. CURA-ME AS FERIDAS E A DOR, ME FAZ SUPORTAR. QUE AS PEDRAS DO MEU CAMINHO, MEUS PÉS SUPORTEM PISAR. MESMO FERIDO DE ESPINHOS ME AJUDE A PASSAR. SE FICARAM MÁGOAS EM MIM, MÃE TIRA DO MEU CORAÇÃO.(...)" COMPOSITORES: ROBERTO CARLOS/ ERASMO CARLOS.

                                           O MONÓLOGO

CAPÍTULO SETE

               Mais alguns dias e o casal teria que retornar ao seu domicílio, o trabalho os esperava. Edileusa estava esperançosa, havia cumprido a promessa feita na hora da angustia, no entanto, queria ir à Basílica e se ajoelhar diante da Santa. Pensava que precisava reiterar seu pedido, pois entre milhares de promessas de peregrinos queria ter a certeza, de que seria ouvida.

               A missa terminou, mas a moça continuou sentada no banco, não estava com pressa. Na verdade, ela aguardava uma oportunidade, queria conversar a sós com a Santa. A maioria dos fiéis deixaram a Basílica, os objetos litúrgicos utilizados para a bênção da hóstia foram guardados, o Bispo e os padres se recolheram. Algumas pessoas se demoravam por ali, pequenos grupos rezavam em silêncio.

              Os pássaros, moradores dos vãos do teto e da nave da igreja, começaram seus voos rasantes, pareciam felizes. O órgão deu seus últimos acordes e sua tampa baixou. As mãos, que tocavam músicas alusivas ao Círio de Nazaré, foram retiradas e seu dono apanhou as partituras. Em seguida, o organista saiu de mansinho, com jeito de dever cumprido; era o fim de mais uma cerimônia religiosa.

               O silêncio se estabeleceu ali e qualquer som fazia um eco assombroso. A Basílica era grande e suntuosa, vazia chegava a ser assustadora. Edileusa levantou-se e observou, que havia apenas umas dez pessoas ali no recinto. Então, encaminhou-se até o altar e ajoelhou-se diante da Virgem. Do seu coração começou a sair o monólogo mais sincero, que já dissera para si mesma.

              - Mãe Santíssima, estou aqui de joelhos lhe implorando, que aceite o meu gesto e a promessa que eu fiz e cumpri. Voltarei para meus afazeres e ficarei sabendo o resultado do meu exame. Para mim, significa a vida ou a morte. Me conceda a vida senhora e, eu lhe serei grata para sempre. Amém.

             As lágrimas foram inevitáveis, estava sob pressão intensa. O médico não lhe dera esperanças, tudo levava a crer tratar-se de um câncer agressivo. 

             Caetano, que aguardava lá fora, entrou para ver porque sua namorada demorava tanto.

              A Basílica já estava vazia nesse momento e ele tocou o ombro da moça, que parecia em transe, então disse:

          - Vamos, já é tarde. E ficou parado esperando ela levantar-se.

            Edileusa, chorando, o abraçou e seguiram em frente, nada mais poderia ser feito, estavam nas mãos divinas. O rapaz, emocionado, disse para sua amada:                             

            - Tem que confiar, você não poderia estar em melhores mãos, são as mais piedosas possíveis.

             No dia seguinte, arrumaram as malas, voltariam de avião, estavam cansados da grande jornada vivida e não aguentariam outra viagem de ônibus. A moça não contou o motivo da visita para sua mãe, não queria assustá-la. Á noite, despediram-se de Helena no aeroporto e embarcaram de volta para casa.

            Quando já estavam acomodados, Edileusa, em um gesto instintivo, levou a mão ao seio comprometido e constatou, que o caroço continuava crescendo em seu corpo. Caetano percebeu o gesto de sua namorada e a apertou num abraço. O casal levava consigo a esperança do milagre pretendido.

            O tempo passou rápido e chegou o dia da consulta médica, na qual seria revelado o resultado do exame de biopsia da mama de Edileusa. Ela não conseguiu dormir, estava muito ansiosa. Faltavam duas horas para a consulta e ela já estava pronta, esperando Caetano se preparar.

             A paciente tomou um copo de leite e nada mais passava em sua garganta; parecia ter um nó parado ali. O rapaz dirigia em um trânsito caótico e ela queria que ele fosse rápido.  Ele pedia calma, mas ela não conseguia se acalmar, parecia enlouquecida.

             Finalmente, estavam na sala de espera do mastologista, esperando a chamada do nome da paciente. E, quando chamaram, Caetano teve que amparar a namorada.

            Com calma o médico pegou o envelope e abriu. Parou por alguns momentos para certificar-se do resultado e disse:

            - Vamos marcar cirurgia para a retirada desse nódulo, será o mais breve possível.

           A moça ficou desfigurada e começou a tremer.

           Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS" -PADRE MARCELO ROSSI- "(...) E AINDA SE VIER NOITE TRAIÇOEIRA, SE A CRUZ PESADA FOR, CRISTO ESTARÁ CONTIGO". O MUNDO PODE ATÉ FAZER VOCÊ CHORAR, MAS DEUS TE QUER SORRINDO".

                            UM BUQUÊ DE ROSAS

CAPÍTULO SEIS

           Na manhã de sexta-feira, começa o translado da imagem da Virgem Peregrina. Bem cedo é rezada a missa na Basílica da Virgem de Nazaré e as oito horas da manhã, acontece a procissão do Círio, que é o translado até a cidade de Ananindeua.

              A saída ocorre em frente a Basílica e percorre cerca de cinquenta quilômetros, até chegar à Igreja de Nossa senhora das Graças, na cidade vizinha. A caminhada dura dez horas, chegando ao destino as dezoito horas. Durante o trajeto, essa procissão deve envolver mais de um milhão de pessoas.

              Edileusa e Caetano estavam prontos, para acompanhar a imagem da Santa até Ananindeua. Ela queria cumprir sua promessa, que consistia em rezar um rosário inteiro, durante a romaria. Com muita fé no coração, os dois seguiam a multidão, da qual emanava muita energia positiva. Milhares de pessoas em oração são agradáveis aos olhos dos céus e ali, não havia nenhuma nuvem no horizonte de Belém do Pará, era um dia perfeito.

              O religioso que celebrou a missa pela manhã, seria o mesmo que celebraria a missa vespertina, antes de iniciar a vigília noturna. Durante toda a noite, milhares de devotos permaneceram em frente à igreja de Nossa Senhora das Graças. Assim, aconteceu o translado da imagem da Virgem Peregrina.

            No sábado de manhã, a romaria rodoviária saiu em direção a cidade de Icoaraci. Durante o trajeto, a imagem da Santa recebeu homenagens dos devotos em bares, restaurantes, postos de combustíveis, condomínios e vilas a beira da estrada. Por onde passou, em carro aberto, foi aplaudida e reverenciada.

          Caetano e Edileusa pegaram carona em uma caminhonete de conhecidos e fervorosamente acompanhavam a procissão de milhares de veículos. A moça tinha o pensamento fixo no rosário, que trazia nas mãos. Ela procurou em diversas lojas de produtos religiosos, para encontrar um rosário. Diferente do terço, o rosário tem vinte dezenas e duzentas Ave-Marias, que correspondem a quatro terços.

           “Segundo a tradição católica, o nome de Rosário foi dado, pois a cada Ave-Maria que rezamos é como se entregássemos uma rosa à Nossa Senhora. No final de duzentas rezas, entregamos um lindo buquê de rosas à Virgem Santíssima”.

              Edileusa continuava suas orações em voz baixa e concentrada, era a sua promessa para a Virgem de Nazaré. Sentada no fundo da carroceria do veículo, nada a dispersava. Caetano se mantinha próximo para protege-la de solavancos, que poderiam machucá-la.

             Chegando a Icoaraci iniciou-se o posicionamento da comitiva da imagem da Santa, para começar a romaria do Círio fluvial. A imagem seguiu de barco pela baia de Guajará de Icoaraci, até o porto de Belém. Formou-se uma procissão de barcos pesqueiros, jet Skis, canoas, iates enfeitados e outros, para homenagear a santa.

             O casal continuava firme no propósito de acompanhar a imagem, até sua chegada à Basílica. Edileusa continuava com o Rosário nas mãos, em uma súplica contínua. Quando o barco em que o casal se encontrava passou pela embarcação, em que a Santa estava, a moça jogou uma rosa, com seu pedido de socorro.

           Ela não percebeu, mas a rosa ficou enroscada no barco entre outras flores. A romaria seguiu em frente até o porto de Belém e a partir da Estação das Docas iniciou-se a moto-romaria. Era composta de muitas motocicletas enfeitadas, que partiram buzinando freneticamente em homenagem a Virgem, até o Colégio Gentil Bitencourt. Por todo o trajeto anunciavam a passagem da Imagem da Santa.

          Então, na noite do sábado ocorreu a transladação, que é realizada a pé.  A Imagem peregrina é colocada em uma berlinda, que é atrelada a uma corda de 400 metros e puxada pelos devotos até a Catedral da Sé. A corda é feita de sisal e é disputada pelos fiéis, que querem segurá-la para ficar bem perto da berlinda, onde está a imagem, formando assim, um cordão humano ao longo da corda.

               Além dos carros de promessas, onde pode-se observar velas do tamanho das pessoas, existem os membros humanos em cera, esculturas de partes do corpo, casas, barcos e outros bens em miniaturas, oferecidos pelos devotos, em agradecimento aos milagres recebidos. Vale tudo para demonstrar agradecimentos, os fiéis vão descalços, com crucifixos, com imagens da santa e outros objetos relacionados aos milagres recebidos. Pode-se observar crianças vestidas de anjos, para cumprir promessas de seus pais, que vão acompanhando a romaria.

            A procissão do Círio reúne cerca de dois milhões de pessoas e é o ponto alto da festa, que sai da Catedral da Sé até a Basílica de Nazaré.

             Edileusa e Caetano, também, estavam segurando na corda, que tinha quatrocentos metros e pesava setecentos quilos. E, ao chegar ao destino, a romaria se concentrou em frente à Basílica e os devotos atacaram a corda, cortando-a, para cada um levar um pedaço para casa, pois acreditam dar sorte.

            A moça saiu com um palmo da corda, que o seu namorado conseguiu cortar com um canivete. Ambos estavam orgulhosos pelo feito, a corda lhes passava a certeza da promessa cumprida.

          O rosário foi dependurado na parede da sala de sua mãe, com a recomendação de deixa-lo ali para sempre. Edileusa estava serena, entregara o buquê de rosas prometido à Virgem de Nazaré e tinha consigo o pedaço da corda, que para ela era uma relíquia.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

Pesquisas no YouTube e no blogspot “Nossa sagrada família”.

 

 

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS" - PADRE MARCELO ROSSI- "(...) ESCUTE: OH! OH! DEUS TE TROUXE AQUI, PARA ALIVIAR O SEU SOFRIMENTO. OH! OH! É ELE O AUTOR DA FÉ, DO PRINCÍPIO AO FIM EM TODOS OS SEUS TORMENTOS. E AINDA SE VIER NOITES TRAIÇOEIRAS, SE A CRUZ PESADA FOR, CRISTO ESTARÁ CONTIGO. (...)".

O MANTO DA VIRGEM

CAPÍTULO CINCO.

            A cidade estava cheia de turistas, que se amontoavam nas lojas, hotéis, bares, restaurantes e feiras; havia muita gente comprando e consumindo, fazendo a alegria do comércio local. Parecia uma festa permanente, muitos sorrisos e manifestações de contentamento. Estar ali, era a realização de um sonho para muitas pessoas.

             Uma festa religiosa que alimenta a esperança de devotos e demonstra o agradecimento da massa popular, pelos milagres e graças recebidas. A maioria tem algum pedido que foi atendido, para contar aos amigos e parentes.

             Edileusa estava ali porque era devota da virgem e precisava ser agraciada pela cura da doença, que se desenhava em seu corpo. Colocou a mão sobre o seio direito, na esperança do caroço ter sumido. No entanto, ele continuava lá, e parecia ter aumentado de tamanho. Uma ruga profunda vincou em sua testa:

              - Será que está piorando? Fez essa pergunta ao seu coração e imediatamente voltou seus olhos para o céu. Então, suplicou por misericórdia:

               - Não permita Mãe Santíssima, que essa pedra permaneça em meu caminho. Imploro que me conceda a graça da libertação dessa doença. E duas lágrimas rolaram pelo seu rosto.

             A semana passou rápido e quando chegou a quinta-feira, havia uma expectativa na maioria da população local e nos turistas também. Helena explicou para sua filha e o namorado dela, que durante a missa das dezoito horas, na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, seria apresentado o Manto da Virgem para o ano de dois mil e dezenove.

            Confeccionado com fidelidade ao tema do ano, estabelecido pela Diocese do lugar, o Manto era uma verdadeira joia, que envolveria a imagem da Virgem nas procissões e atos religiosos.

            Todos os anos, um novo Manto é confeccionado para cobrir a imagem, nas celebrações das festas do Círio de Nazaré. A peça é desenhada e confeccionada por profissionais especializados, que doam seu tempo e seu trabalho para agraciar a virgem com todo esplendor, que ela merece. É custeado por doações de fiéis, alguns, que já receberam um milagre da Santa.

              O Manto deve ter como características, o simples e o belo. Os elementos de destaque do ano de dois mil e dezenove são: as flores das sumaumeiras, a cruz e o broche.

          A sumaumeira é considerada, entre os povos da região amazônica, como a rainha das árvores, que representa a vida entre nós. Á delicadeza da virgem é representada por pequenas flores da árvore, distribuídas harmonicamente ao redor do manto. A cruz foi confeccionada na parte de trás do Manto e trabalhada com pedrarias sobre uma base reluzente. E fechando a frente do Manto, temos o broche dourado, que homenageia os trezentos anos da Diocese de Belém.

             Como o tema daquele ano foi: “Maria, Mãe da Igreja”, havia toda uma celebração para expressar o valor da vida cristã, ancorada no mistério da cruz e na defensora dos oprimidos, a mãe do redentor.

             Edileusa estava animada para ir à missa na Basílica, queria ver a apresentação do Manto da Virgem. Caetano e Helena iriam acompanhar a moça, todos estavam curiosos para ver a nova peça do vestuário da Santa.

            A certa altura da missa, as luzes foram apagadas para a apresentação do Manto da Virgem Peregrina, que seria usado na festa daquele ano. Em meio a escuridão podia-se ouvir o som da floresta, pássaros com seus cânticos e animais noturnos com pios e sons diversos. Mas, logo se fez silêncio, aguçando a percepção do público.

           Nesse momento, apareceu a Virgem com seu Manto reluzente de pedrarias e no fundo uma voz feminina cantando a “Ave Maria”. Diante do silêncio da Basílica lotada de fiéis, cada um prestou sua homenagem particular.  

            Muitos choraram de emoção, alguns permaneceram mudos e outros se ajoelharam. Na verdade, todos se renderam àquele momento mágico. Um Manto esplendoroso, com sua beleza majestosa, enfeitava a Mãe da Igreja.

          Nas mãos do religioso, ela pode ser filmada e fotografada pelos profissionais que ali estavam e pelos fiéis, que se acotovelavam para garantir um melhor ângulo. A imagem foi conduzida por entre os bancos e colunas da Basílica e os fiéis aplaudiam, fervorosamente, sua passagem.

           Edileusa parecia estar em transe, com seus olhos pregados na Santa, não se cansava de pedir sua misericórdia. Helena nada percebeu em meio a todo aquele burburinho. Caetano se mantinha ao lado da moça, queria protege-la a qualquer custo. No templo havia muitas esperanças e energia de amor ao próximo; um momento de paz entre os seres humanos.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

Pesquisas no Youtube e na Wikipédia.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS"- PADRE MARCELO ROSSI- "(...) FALE COM DEUS, ELE VAI AJUDAR VOCÊ. APÓS A DOR VEM A ALEGRIA, POIS DEUS É AMOR E NÃO TE DEIXARÁ SOFRER. (...)"

A CORDA E AS ROMARIAS

CAPÍTULO QUATRO

            O rapaz chegou trazendo um pouco de conforto para Edileusa, cuja alma vivia num turbilhão de incertezas. Só Caetano conhecia o problema, que sua namorada estava amargando. Com ele, ela podia se lamentar e até chorar, que tinha um ombro para colocar sua cabeça; ele era seu porto seguro.

             O tema da festa do Círio de Nazaré de dois mil e dezenove era: “Maria, Mãe da Igreja”. A cidade estava em alvoroço, muitos turistas por todos os lugares, havia uma previsão de mais de um milhão de pessoas para participar dos festejos daquele ano. Edileusa não se cansava de admirar a evolução, que a festa do Círio tivera nos últimos anos. Era filha da terra e já nem se lembrava mais da beleza das comemorações.

              À noite, sentados no abrigo da casa da mãe de Edileusa, viram passar, ali em frente, dois enormes caminhões carregados com cordas. Caetano ficou surpreso e perguntou:

               - Para que serve tantas cordas? De onde estão vindos esses caminhões?

             Helena, a mãe, sorriu e disse:

              - Essas cordas vêm de Santa Catarina, viajam dias para participar da festa. São um dos símbolos da devoção do povo, quiçá o mais importante, depois do manto da virgem. Somam oitocentos metros de corda de sisal, que são financiadas por anônimos, que fazem esse ato de caridade para homenagear a Virgem de Nazaré.

           Caetano, então, prosseguiu:

               - Como isso é possível? Onde ficam essas cordas?

              A mulher sorriu novamente e continuou: 

              -Desde o século passado, nos idos de um mil oitocentos e oitenta e cinco, houve uma tempestade e uma enchente na hora da procissão. A berlinda, onde estava a Virgem de Nazaré, ficou atolada e os cavalos não conseguiam puxar o andor. Os animais foram soltos e um comerciante do local emprestou uma corda, para que os fiéis puxassem a pequena carruagem. Desde então, a corda é utilizada como o elo entre a população e a santa.

            - A corda vem dividida em duas partes, quatrocentos metros são usados na transladação e os outros quatrocentos na procissão do domingo. Todos querem segurar na corda, ou até mesmo tocá-la para pagar promessas e receber as bênçãos da Virgem de Nazaré.

            A festa acontece durante quinze dias, durante a chamada quadra Nazarena e culmina no segundo domingo de outubro, não tendo uma data fixa. O Círio é uma grande vela, que acompanha a Virgem durante a procissão, de um lugar para outro. Existem vários objetos simbólicos, que atraem as pessoas para admirar e acompanhar o desenrolar da festa religiosa.

           Um deles é a berlinda: um andor em forma de carruagem, que abriga a imagem da Virgem. É carregado de flores, que enfeitam o nicho onde a Santa fica durante o translado e a procissão. Tem, também, além da corda, as romarias, o rosário, o manto, as crianças vestidas de anjos e outros.

             O translado acontece na sexta-feira e marca o percurso da imagem da Virgem de Nazaré pelas ruas de Belém até a Igreja Matriz da cidade de Ananindeua, município vizinho de Belém do Pará. O percurso é feito em carro aberto, no qual a imagem da Santa recebe muitas homenagens e passa a noite na Igreja sob vigília dos fiéis. Essa romaria acontece na sexta-feira para sábado, que antecede o domingo do Círio.

             No dia seguinte, de madrugada acontece a missa antes da partida da imagem da santa. A romaria rodoviária se dá ainda na madrugada e os fiéis, em grande número, aguardam a passagem da comitiva, que é composta de carros oficiais e de romeiros, até a vila de Icoaraci.

            Ali, então, é iniciada a romaria fluvial, que leva cerca de cinco horas em um trajeto pela baia do Guajará. É uma festa muito grande com barcos de todos os tipos e tamanhos, que são enfeitados de flores, fitas coloridas e bandeiras, colorindo a baia em homenagem à Santa.

          Caetano estava admirado, com tantas novidades encontradas naquele lugar. Abraçou sua namorada e a beijou na testa, era um sinal de proteção. Ali existia amor verdadeiro. Estavam ali para uma missão especial, precisavam de um milagre.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa. 

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