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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS"- PADRE MARCELO ROSSI- "(...) FALE COM DEUS, ELE VAI AJUDAR VOCÊ. APÓS A DOR VEM A ALEGRIA, POIS DEUS É AMOR E NÃO TE DEIXARÁ SOFRER. (...)"

A CORDA E AS ROMARIAS

CAPÍTULO QUATRO

            O rapaz chegou trazendo um pouco de conforto para Edileusa, cuja alma vivia num turbilhão de incertezas. Só Caetano conhecia o problema, que sua namorada estava amargando. Com ele, ela podia se lamentar e até chorar, que tinha um ombro para colocar sua cabeça; ele era seu porto seguro.

             O tema da festa do Círio de Nazaré de dois mil e dezenove era: “Maria, Mãe da Igreja”. A cidade estava em alvoroço, muitos turistas por todos os lugares, havia uma previsão de mais de um milhão de pessoas para participar dos festejos daquele ano. Edileusa não se cansava de admirar a evolução, que a festa do Círio tivera nos últimos anos. Era filha da terra e já nem se lembrava mais da beleza das comemorações.

              À noite, sentados no abrigo da casa da mãe de Edileusa, viram passar, ali em frente, dois enormes caminhões carregados com cordas. Caetano ficou surpreso e perguntou:

               - Para que serve tantas cordas? De onde estão vindos esses caminhões?

             Helena, a mãe, sorriu e disse:

              - Essas cordas vêm de Santa Catarina, viajam dias para participar da festa. São um dos símbolos da devoção do povo, quiçá o mais importante, depois do manto da virgem. Somam oitocentos metros de corda de sisal, que são financiadas por anônimos, que fazem esse ato de caridade para homenagear a Virgem de Nazaré.

           Caetano, então, prosseguiu:

               - Como isso é possível? Onde ficam essas cordas?

              A mulher sorriu novamente e continuou: 

              -Desde o século passado, nos idos de um mil oitocentos e oitenta e cinco, houve uma tempestade e uma enchente na hora da procissão. A berlinda, onde estava a Virgem de Nazaré, ficou atolada e os cavalos não conseguiam puxar o andor. Os animais foram soltos e um comerciante do local emprestou uma corda, para que os fiéis puxassem a pequena carruagem. Desde então, a corda é utilizada como o elo entre a população e a santa.

            - A corda vem dividida em duas partes, quatrocentos metros são usados na transladação e os outros quatrocentos na procissão do domingo. Todos querem segurar na corda, ou até mesmo tocá-la para pagar promessas e receber as bênçãos da Virgem de Nazaré.

            A festa acontece durante quinze dias, durante a chamada quadra Nazarena e culmina no segundo domingo de outubro, não tendo uma data fixa. O Círio é uma grande vela, que acompanha a Virgem durante a procissão, de um lugar para outro. Existem vários objetos simbólicos, que atraem as pessoas para admirar e acompanhar o desenrolar da festa religiosa.

           Um deles é a berlinda: um andor em forma de carruagem, que abriga a imagem da Virgem. É carregado de flores, que enfeitam o nicho onde a Santa fica durante o translado e a procissão. Tem, também, além da corda, as romarias, o rosário, o manto, as crianças vestidas de anjos e outros.

             O translado acontece na sexta-feira e marca o percurso da imagem da Virgem de Nazaré pelas ruas de Belém até a Igreja Matriz da cidade de Ananindeua, município vizinho de Belém do Pará. O percurso é feito em carro aberto, no qual a imagem da Santa recebe muitas homenagens e passa a noite na Igreja sob vigília dos fiéis. Essa romaria acontece na sexta-feira para sábado, que antecede o domingo do Círio.

             No dia seguinte, de madrugada acontece a missa antes da partida da imagem da santa. A romaria rodoviária se dá ainda na madrugada e os fiéis, em grande número, aguardam a passagem da comitiva, que é composta de carros oficiais e de romeiros, até a vila de Icoaraci.

            Ali, então, é iniciada a romaria fluvial, que leva cerca de cinco horas em um trajeto pela baia do Guajará. É uma festa muito grande com barcos de todos os tipos e tamanhos, que são enfeitados de flores, fitas coloridas e bandeiras, colorindo a baia em homenagem à Santa.

          Caetano estava admirado, com tantas novidades encontradas naquele lugar. Abraçou sua namorada e a beijou na testa, era um sinal de proteção. Ali existia amor verdadeiro. Estavam ali para uma missão especial, precisavam de um milagre.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa. 

Pesquisa nas páginas da Wikpédia.

 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS" - PADRE MARCELO ROSSI- "(...) ERGA SUA MÃO E ANUNCIA AO MUNDO, AINDA SE VIER NOITE TRAIÇOEIRA, SE A CRUZ PESADA FOR, CRISTO ESTARÁ CONTIGO. O MUNDO PODE ATÉ FAZER VOCÊ CHORAR. MAS DEUS TE QUER SORRINDO. (...)"

                               A VIRGEM DE NAZARÉ

CAPÍTULO TRÊS

             O desejo de Edileusa foi realizado, abraçou a mãe com carinho e olhando em seu rosto cansado, viu muitas rugas, que surgiram depois de sua partida. Ficou com o coração apertado, quanto tempo ela perdeu de conviver com aquela mulher, que era sua genitora. Pensou em seu problema e implorou, em pensamento, para a virgem não permitir mais uma dor para sua mãe.

              Depois tratou de afastar aqueles pensamentos e abriu as malas. Trouxera presentes para todos, mãe e irmãos, que ela acumulara durante os seis longos anos de afastamento da família. Sempre que sobrava um dinheiro, ela comprava uma lembrança para os seus parentes.

              A mãe sorriu, quando viu um lindo casaco xadrez, era um desejo antigo e muito acalentado. Edileusa sabia que ela queria o casaco para ir à igreja. Helena, a mãe da moça, vestiu a peça tão desejada e ficou se olhando no espelho; era visível a sua satisfação.

              A filha se afastou, estava chorando de felicidade, por poder proporcionar aqueles momentos de alegria, para a mulher que lhe dera a vida. Mas, lá no fundo não tinha sossego, precisava ir à igreja, estava com muito medo da doença, que trazia em seu peito. Tomou banho, jantou e foi dormir, estava muito cansada.

             Quando a moça acordou, viu que estava em sua casa, então levantou-se e foi até a cozinha. A mesa estava posta com o café da manhã e mãe e filha sentaram-se na mesa, para fazer a primeira refeição do dia. Havia alegria naquele momento de intimidade. Há muito tempo as duas sonhavam com aquele encontro.

             Entre uma conversa e outra, a moça perguntou se a mãe sabia a origem da Virgem de Nazaré. Então, Helena disse para a filha:

              - É uma longa história, cheia de pequenos milagres. Muita coisa pode ter sido criada pelo povo, mas a essência é muito bonita. O culto como é conhecido, iniciou-se em um povoado chamado “Vigia” e hoje em dia é celebrado em diversos locais. No entanto, o mais conhecido é esse da capital, Belém do Pará, como é conhecido. A história contada pelo povo e repassada de geração para geração é a seguinte:

             - Na região vivia um caboclo chamado Plácido José dos Santos, o qual era descendente de portugueses e índios, ele andava, sempre, por aquelas bandas. Certo dia, caminhando pelas imediações do Igarapé Murutucu, encontrou, jogada entre as pedras, uma pequena estátua de santa. A imagem tinha cerca de 40 centímetros de altura e o rapaz a levou para sua casa.

           - No dia seguinte, a imagem havia sumido. Plácido ficou bravo, pensando que alguém a tinha pegado e saiu a procura da mesma. Teve uma pequena intuição e voltou ao lugar de origem. Para sua surpresa, ela estava no mesmo local do dia anterior. O rapaz a pegou e a levou de volta para sua casa. Mas, no outro dia, ela estava novamente no mesmo local de origem e durante dias essa história se repetiu.

              - Contando o fato para várias pessoas, chegou aos ouvidos do governador, que ordenou leva-la para o palácio do Governo da Província, onde ficou guardada por escolta. Mas, na manhã seguinte ela não estava mais lá. Plácido então, entendeu que a Santa queria continuar no local onde fora encontrada e, o rapaz construiu uma pequena capela para abriga-la.

            - Muitas pessoas começaram a visitar o local e fazer pedidos à Santa. Os fatos se espalharam e os curiosos se aglomeravam para ver a Virgem.

            - Assim, foi erguida uma igreja no local, pois havia aglomeração de peregrinos da região. Hoje em dia, ali está localizada a suntuosa Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, que acolhe a devoção do povo com mais conforto.

            - Iniciaram-se as procissões para depois das missas na Basílica da Virgem de Nazaré, sendo atribuído a Santa muitos milagres. Começaram a chegar as romarias e gente de todos os cantos do país, para acompanhar as procissões do Círio de Nazaré.

          Helena levantou-se, estava emocionada, já havia sido agraciada por um milagre, quando um de seus cinco filhos esteve à beira da morte.

           Edileusa agradeceu a sua mãe pela bela história do encontro da Santa. Estava confiante em ser merecedora de um milagre também.

             A festa programada começa com um mês de antecedência e, é composta de uma sequência de rituais. O seu ponto alto acontece no segundo domingo de outubro, com a procissão que arrasta multidões. Naquele ano, de dois mil e dezenove, estimava-se que haveria mais de um milhão de pessoas na praça em frente à Basílica.

            A moça estava aguardando a volta de Caetano, para iniciar sua romaria em adoração à Virgem de Nazaré. Ele fora visitar sua família, mas deveria voltar no dia seguinte e juntos viveriam aqueles dias de adoração à Virgem de Nazaré.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

PESQUISAS NA WIKIPÉDIA

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS" -PADRE MARCELO ROSSI- " (...) OH! OH!. DEUS TE TROUXE AQUI, PARA ALIVIAR TEUS SOFRIMENTOS, OH! OH! É ELE O AUTOR DA FÉ, DO PRINCÍPIO AO FIM. EM TODOS OS SEUS TORMENTOS. (...)"


 

A ROTA DA ESPERANÇA

CAPÍTULO DOIS

             O casal poderia ter comprado passagens de avião, mas queriam aproveitar a viagem para rever as paisagens, que viram quando se mudaram para São Paulo. Caetano também era do norte do país, de uma pequena cidade do interior do Pará.

            Edileusa queria pensar nos acontecimentos recentes, filtrar as emoções e procurar entender a causa daquilo tudo. Ela nunca se preocupara com a saúde, era forte e saudável. Trabalhava desde menina, nunca ficava doente e agora, aquele caroço na mama acabara com seu sossego.

            A viagem era de dois dias e meio em um ônibus confortável. A noite os passageiros dormiam e pela manhã havia uma parada para a higiene pessoal e café da manhã. Depois retomavam a estrada em direção ao norte do país. Essa poderia ser uma viagem maravilhosa, se não houvesse esse problema martelando em sua cabeça.

          Saíram na segunda-feira e quando o ônibus parou na manhã de terça-feira, tudo o que ela queria era tomar banho. Em uma parada programada havia todas as coisas, que os passageiros precisavam. Edileusa tomou banho, tomou café e comprou salgadinhos, balas e água para degustar no ônibus.

            Seguiram em frente, a próxima parada foi em Goiânia. Almoçaram e prosseguiram viagem; a moça cochilava com a cabeça no ombro de Caetano; parecia que estava tudo bem.

            Já era noite quando o coletivo parou para o jantar em Tocantins. Os passageiros já demonstravam cansaço e ainda estavam na metade da viagem. Edileusa tomou outro banho, o calor era intenso em meio a uma estiagem prolongada.

           - O banho parece aliviar o meu cansaço. Disse para Caetano, que seguiu a namorada e também tomou banho. 

           Em seguida, jantaram e voltaram para o ônibus; teriam outra noite mal acomodados. No entanto, estavam cada vez mais perto de seu destino. A moça trazia um terço na bolsa e antes de adormecer, rezava cada conta com muita emoção. Quando terminava dizia:

           - Estou chegando minha santa, olhe por mim. E, com os olhos cheios de lágrimas, ela se acomodava no banco para mais uma noite na estrada.

              O casal estava sentado no meio do ônibus e lá no banco da frente, uma menina chorava. A mãe estava brava e falava rispidamente com a criança, que não parava de chorar. Aquele choro constante e lamurioso não deixava ninguém dormir.

             Algumas pessoas começaram a resmungar e depois de meia hora, a criança parou de chorar e a paz retornou ao coletivo, que seguiu seu caminho. Aquela era a rota da esperança, muitas pessoas estavam ali para participar da festa do Círio de Nazaré. Durante as paradas podia-se ouvir comentários sobre a expectativa da festa.

           O Sol se punha no horizonte, já era quarta-feira quando o ônibus alcançou os arredores de Belém. Rodou mais um tempo, que parecia uma eternidade, haja vista a ansiedade das pessoas, depois de setenta e oito horas na estrada. As pernas estavam dormentes, o corpo cansado e a mente ansiosa por rever seus familiares. Foi assim, que Edileusa desceu do coletivo na rodoviária de Belém, no Pará.

            De longe podia-se ouvir música regional, alguém disse:

 - É o Carimbó, uma dança típica do Pará.

          A moça sorriu, foi a primeira vez desde que saíram de São Paulo. Depois seguiram o fluxo de gente, até avistar uma aglomeração. Abrindo espaço e pedindo licença, chegaram onde estavam dois casais de dançarinos, rodopiando ao som das músicas típicas do local. Finalmente ela estava em casa, queria abraçar sua mãe e irmãos, o pai já não estava nesse mundo de Deus.

            No táxi, a belenense avistou a matriz da Virgem de Nazaré, onde estava depositada toda sua esperança. Iria se jogar aos pés da santa, iria suplicar até a exaustão se fosse necessário, estava determinada. Voltara em busca de um milagre, fizera todo o trajeto da rota da esperança; agora iria até o fim.

            Caetano seguiria viagem para rever seus familiares, mas retornaria em dois dias. Ele amava Edileusa e nunca a abandonaria, muito menos naquela situação.

         Um texto de Eva Ibrahim Sousa

 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS" -PADRE MARCELO ROSSI- "DEUS ESTÁ AQUI NESTE MOMENTO. SUA PRESENÇA É REAL EM MEU VIVER. ENTREGUE SUA VIDA E SEUS PROBLEMAS, FALE COM DEUS, ELE VAI AJUDAR VOCÊ". "(...)"

O MILAGRE

AS FÉRIAS

CAPÍTULO UM

              O dia demorou a passar, Edileusa já não sabia quantas vezes tinha olhado no relógio. A moça estava ansiosa, era seu último dia de trabalho, antes de suas férias. Ela solicitou as férias para viajar para sua cidade natal, queria rever seus familiares e participar da festa do Círio de Nazaré.

            Precisava, desesperadamente, de um milagre da Virgem de Nazaré. Não queria e não podia contar para ninguém, o que estava acontecendo com ela. Sua mãe já era idosa e não aguentaria uma notícia ruim; tinha a saúde abalada.

           Fazia uma semana que a jovem não conseguia dormir. O pouco que cochilava, acordava aos sobressaltos.

             – Será que vou morrer? Estou me sentindo bem, a morte deve ser outra coisa. Pensava com enorme preocupação. Em seguida, levava a mão ao seio direito; era ali que estava o problema.

           Naquela mama ela sentia um caroço, que a levara a procurar o atendimento no Pronto Socorro. No momento da consulta, ela viu preocupação nos olhos do médico. Quando apalpou sua mama, ele contraiu os lábios e seu rosto se fechou. Com calma, ele foi reticente e cuidadoso ao dizer que precisava fazer uma biópsia, para saber se aquele achado era benigno ou maligno. A moça tremeu e gaguejou:

               - É necessário mesmo, doutor?

              - Sim, quanto antes iniciarmos o tratamento correto, melhor será o prognóstico. Respondeu o médico, que estava concentrado, escrevendo na ficha da paciente.

             Edileusa, que já estava preocupada pelos causos, que ouvira falar sobre caroços nos seios, ficou apavorada. No entanto, ela não tinha outra saída e se submeteu à biópsia. Foi orientada a retornar ao local após vinte dias, para saber o resultado. Esse tempo seria um martírio em sua vida, a não ser que apelasse para a santa de sua fé.

             Ela não tinha mais sossego e foi à igreja fazer uma promessa para a Virgem de Nazaré.  A jovem era nativa de Belém do Pará e quando apareceu uma oportunidade para trabalhar em São Paulo, prontamente ela aceitou, precisava ajudar sua família.

              Assim, o tempo corria e já fazia seis anos desde esse dia e nunca mais tinha voltado à sua terra natal. Mandava dinheiro, mensalmente, para ajudar sua mãe e o pouco que sobrava, ela punha na poupança.

               A nortista, como tantas outras, trabalhava na produção de uma metalúrgica, era pessoa séria e trabalhadora. Morava em uma vila de operários e namorava com Caetano, seu colega de trabalho. Os dois tinham planos de casamento e ele também guardava todo o dinheiro que sobrava, pensando no futuro.

             Sem saber o que fazer, a moça apreensiva, estava à espera do resultado da biópsia e com esse fantasma de doença em sua cabeça, pediu férias. Queria participar do Círio de Nazaré, tinha a esperança de receber o milagre pedido. A santa é conhecida e venerada por seus milagres; a festa em seu louvor, reúne milhares de pessoas de todos os lugares do Brasil.

          O Círio de Nazaré acontecerá no dia treze de outubro de dois mil e dezenove, no domingo. Com certeza, Edileusa e Caetano estarão suplicando aos pés da virgem, que lhes conceda a graça, de fazer aquele caroço ser de origem benigna. Ela tinha somente vinte e oito anos e era jovem demais para morrer; dizia com os olhos cheios de lágrimas.

             Finalmente, o casal estava na rodoviária esperando o ônibus, para uma longa viagem carregada de esperanças.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

 

 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

"FIO DE CABELO"- CHITÃOZINHO & CHORORÓ - "QUANDO A GENTE AMA QUALQUER COISA SERVE PARA RELEMBRAR. UM VESTIDO VELHO DA MULHER AMADA TEM MUITO VALOR. AQUELE RESTINHO DO PERFUME DELA, QUE FICOU NO FRASCO SOBRE A PENTEADEIRA, MOSTRANDO QUE O QUARTO JÁ FOI O CENÁRIO DE UM GRANDE AMOR" "(...) COMPOSITORES: MARCIANO/ DARCI ROSSI

                            MARCAS PROFUNDAS

CAPÍTULO DOZE

          Liana percebeu na fisionomia e na voz de seu pai, a decepção sofrida por ele. Ele a tratou friamente e não se importou, por ela ter que passar mais uma noite na cadeia. Seu pai estava triste, ela estava deprimida, sua tia estava desolada, Otávio estava ferido e sua mãe em crise nervosa, então ela se perguntou:

            - O que eu fiz da minha vida? E das vidas dos outros também?

           A prisioneira não jantou e foi dormir chorando. Ignorou a presença das duas companheiras de cela e se fechou para o mundo. Seu futuro era incerto, sua vida terminara ali. Queria morrer, não aguentaria a prisão e nem ficar sem Otávio.

              O dia amanheceu e Liana estava com o rosto inchado, pálida, emagrecida e desfigurada. Quando seu pai e o advogado chegaram para pagar a fiança e leva-la dali, ficaram espantados com a aparência da moça. Estava sem banho a dois dias e sem pentear os cabelos. Tinha os ombros arriados e andava como se fosse arrastada. O pai teve pena e a abraçou com força, em seguida sussurrou:

           - Calma, tudo isso vai passar.

           Com os olhos cheios de lágrimas, ele conduziu a filha para o táxi, que os aguardava. Era uma situação limite vivida pela sua menina, que não suportou uma traição de amor. Não poderia abandoná-la naquele momento, sentiu remorso por tê-la deixado na noite anterior. Depois entraram no veículo e foram ao encontro de Neiva, que os aguardava ansiosa.

            A mãe, em sua cidade natal, caiu de joelhos diante da Virgem de Nazaré e agradeceu a soltura da filha, seu coração estava contrito pela dor vivida. Liana, que aguardou o noivo com tanta ansiedade, agora era fichada na polícia, por tentativa de assassinato. Ela sentia que precisava cuidar da filha, que estava fragilizada. Seu coração era pura emoção, um amor de mãe nunca foge da luta. Olhou para a imagem da Santa e lágrimas rolaram pelo seu rosto.

          Otávio seguia na UTI em processo de cicatrização das feridas. Muitas dores e incertezas quanto ao futuro. Ele ainda não olhara no espelho, não permitiram; diziam que não havia espelho no local.

            O advogado de Liana conseguiu que ela respondesse ao inquérito em sua cidade natal, voltaria a São Paulo, se fosse preciso. O médico alegou tratamento de saúde emocional, pois a moça estava deprimida depois do drama vivido. Corria risco de suicídio, alertou o médico psiquiatra.

            Vera, a mãe do rapaz, ficou no apartamento dele e todos os dias ia ao hospital saber do filho. Não a deixavam entrar, mas ela permanecia por perto, era a mãe de Otávio e nunca o abandonaria.

            Depois de três meses e algumas cirurgias, o paciente obteve alta hospitalar e pode voltar para seu apartamento. Ainda teria que fazer mais cirurgias, teria sequelas, mas seriam pequenas, em vista da gravidade da situação.

             Júlia esteve presente no primeiro mês, depois se cansou e mudou do apartamento de Otávio, não deixando o endereço. No entanto, a mãe do rapaz permaneceu ali, dizendo que ficará sempre ao seu lado, pelo tempo que for necessário.

              Quando a velha senhora pode vê-lo, estranhou a aparência do filho. Ele parecia outra pessoa, emagrecido, calado e tinha vergonha de sair na rua. Estava afastado do trabalho por tempo indeterminado. Otávio tinha perdido a vivacidade.

             O rapaz teve, ainda, mais duas internações para concluir os enxertos no rosto, mas o que o deixava triste era a orelha. Ele deixou os cabelos crescerem, para tapar a falta do lóbulo da mesma. Havia uma promessa de correção naquele órgão, mas ainda teria que esperar até terminar as outras cirurgias.

             Os dois protagonistas, dessa triste história de traição, tiveram impregnadas no corpo e na alma as marcas da vida. Liana ficou com depressão severa e toma medicamentos contínuos, seu corpo parece que murchou diante do peso das dores sofridas. Foi condenada a fazer trabalhos voluntários, que não fez, por motivos de saúde. E essa decisão está suspensa até hoje.

             Otávio continua em sua luta para melhorar a aparência, hoje em dia é um jovem barbudo, cabeludo, triste e retraído. Logo deverá voltar ao trabalho.

             Julia continua trabalhando e já está com outra pessoa, o drama de Otávio não a prendeu a ele.

              Portanto, Liana e Otávio, com tantos planos e sonhos a serem realizados, foram afastados definitivamente em decorrência de uma traição; e por um momento de loucura, suas vidas ficaram marcadas para sempre.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

"NÃO APRENDI DIZER ADEUS" LEONARDO "NÃO APRENDI DIZER ADEUS. MAS DEIXO VOCÊ IR SEM LÁGRIMAS NO OLHAR. SEU ADEUS ME MACHUCA. O INVERNO VAI PASSAR E APAGA A CICATRIZ". COMPOSITOR: JOEL MARQUES

                                         UM CASO SÉRIO 

CAPÍTULO ONZE

           No hospital, Otávio se contorcia em dores. Os analgésicos tiravam suas dores momentaneamente, mas logo, voltavam a atormentá-lo. A parte da pele que fora atingida pelo ácido, latejava o tempo todo, para dormir lhe davam sedativos potentes. O pouco que dormia, tinha pesadelos horríveis com o ataque de Liana. Ela o odiava e queria vê-lo morto, disso ele tinha certeza. 

            Seu olho esquerdo fora afetado parcialmente. Os exames acusaram lesões sérias, mas parciais, pois em um ato instintivo, ele fechou os olhos na hora do ataque, assim, o líquido não o cegou totalmente. O oftalmologista disse que ele poderá se tornar um deficiente visual, mas terão que esperar, para ver a extensão da lesão. 

           - As feridas no rosto foram profundas e em alguns lugares, necessitam de enxertos. Quanto a orelha, a situação é muito pior; terão que retirar a parte necrosada e ele ficará somente com a aba superior da cartilagem. O rapaz terá um longo tempo de internação e cuidados especiais do cirurgião plástico.    

      Essas informações obtidas por Júlia, foram dadas pelo médico, que atendeu o paciente e o acompanhou nos primeiros socorros, e ela repassou para Neiva. 

            - Diante dessa situação, Otavio mantem a queixa contra sua noiva, jamais a perdoará. A moça fez uma pausa, estava emocionada com a situação do seu amor. Assoou o nariz e prosseguiu:    

            - Ele está revoltado, disse que nunca poderia imaginar que Liana tivesse coragem, de praticar uma agressão tão grave.  O médico dissera que ele ficará com cicatrizes para o resto da vida. A cirurgia plástica fará tudo para minimizar as marcas, mas será difícil, diante da gravidade do quadro, prometer alguma coisa.

           Neiva manteve-se calada, não sabia o que dizer diante de fatos tão graves. Seu silêncio demonstrava sua tristeza, ela sentia que sua sobrinha estava encrencada pra valer. 

              Antônio, o pai de Liana, chegou a São Paulo quando já estava escuro, precisava arrumar um advogado, mas a noite seria difícil.  Deixaria a filha dormir mais uma noite na prisão, assim, ela teria tempo para refletir.

              O homem, revoltado com o problema criado, foi ao hospital, precisava saber da gravidade e extensão do ato praticado pela filha. Lá encontrou-se com a mãe de Otávio, que chegara mais cedo e estava furiosa. O chefe do rapaz, também, estava lá prestando solidariedade. 

              – O que será do meu filho agora? Ele estava feliz com o novo emprego. E começou a chorar. 

              O homem não sabia o que dizer, eram conhecidos de longa data e ele não poderia apoiar o ato insensato de sua filha e nem a traição do rapaz. No entanto, Antônio se comoveu com o sofrimento da mulher e tentou acalmá-la. 

            – Vamos tentar contornar essa situação, em que posso ajudá-la?

 Vera, era o nome da mãe de Otávio, não conseguia falar, estava tomada pela emoção e o homem tratou de pegar um copo com água e oferecer a ela. O desespero maior da mulher era não poder ver seu filho, por causa da pandemia. 

            Depois de algum tempo, a mulher concordou em acompanha-lo até a pensão, em que Neiva estava hospedada. As duas mulheres se acolheram com os olhos cheios de lágrimas; eram conhecidas de longa data. Neiva acompanhou Vera até o apartamento do filho, onde estava Júlia. 

          Antônio foi ao escritório de um advogado, indicado pelo chefe de Otávio para acompanhá-lo até a delegacia. Iria pagar a fiança e libertar sua filha no dia seguinte. Esteve na delegacia e disse isso a ela, a noite não seria possível, pois dependiam de documentos, que seriam obtidos no cartório.

            A moça chorou, mas não teve jeito e tratou de se acomodar no canto do beliche para dormir. Estava arrependida pelo ato praticado, ainda amava Otávio. As duas companheiras de cela ficaram vigiando a moça. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

 


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