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quarta-feira, 7 de outubro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS" -PADRE MARCELO ROSSI- " (...) OH! OH!. DEUS TE TROUXE AQUI, PARA ALIVIAR TEUS SOFRIMENTOS, OH! OH! É ELE O AUTOR DA FÉ, DO PRINCÍPIO AO FIM. EM TODOS OS SEUS TORMENTOS. (...)"


 

A ROTA DA ESPERANÇA

CAPÍTULO DOIS

             O casal poderia ter comprado passagens de avião, mas queriam aproveitar a viagem para rever as paisagens, que viram quando se mudaram para São Paulo. Caetano também era do norte do país, de uma pequena cidade do interior do Pará.

            Edileusa queria pensar nos acontecimentos recentes, filtrar as emoções e procurar entender a causa daquilo tudo. Ela nunca se preocupara com a saúde, era forte e saudável. Trabalhava desde menina, nunca ficava doente e agora, aquele caroço na mama acabara com seu sossego.

            A viagem era de dois dias e meio em um ônibus confortável. A noite os passageiros dormiam e pela manhã havia uma parada para a higiene pessoal e café da manhã. Depois retomavam a estrada em direção ao norte do país. Essa poderia ser uma viagem maravilhosa, se não houvesse esse problema martelando em sua cabeça.

          Saíram na segunda-feira e quando o ônibus parou na manhã de terça-feira, tudo o que ela queria era tomar banho. Em uma parada programada havia todas as coisas, que os passageiros precisavam. Edileusa tomou banho, tomou café e comprou salgadinhos, balas e água para degustar no ônibus.

            Seguiram em frente, a próxima parada foi em Goiânia. Almoçaram e prosseguiram viagem; a moça cochilava com a cabeça no ombro de Caetano; parecia que estava tudo bem.

            Já era noite quando o coletivo parou para o jantar em Tocantins. Os passageiros já demonstravam cansaço e ainda estavam na metade da viagem. Edileusa tomou outro banho, o calor era intenso em meio a uma estiagem prolongada.

           - O banho parece aliviar o meu cansaço. Disse para Caetano, que seguiu a namorada e também tomou banho. 

           Em seguida, jantaram e voltaram para o ônibus; teriam outra noite mal acomodados. No entanto, estavam cada vez mais perto de seu destino. A moça trazia um terço na bolsa e antes de adormecer, rezava cada conta com muita emoção. Quando terminava dizia:

           - Estou chegando minha santa, olhe por mim. E, com os olhos cheios de lágrimas, ela se acomodava no banco para mais uma noite na estrada.

              O casal estava sentado no meio do ônibus e lá no banco da frente, uma menina chorava. A mãe estava brava e falava rispidamente com a criança, que não parava de chorar. Aquele choro constante e lamurioso não deixava ninguém dormir.

             Algumas pessoas começaram a resmungar e depois de meia hora, a criança parou de chorar e a paz retornou ao coletivo, que seguiu seu caminho. Aquela era a rota da esperança, muitas pessoas estavam ali para participar da festa do Círio de Nazaré. Durante as paradas podia-se ouvir comentários sobre a expectativa da festa.

           O Sol se punha no horizonte, já era quarta-feira quando o ônibus alcançou os arredores de Belém. Rodou mais um tempo, que parecia uma eternidade, haja vista a ansiedade das pessoas, depois de setenta e oito horas na estrada. As pernas estavam dormentes, o corpo cansado e a mente ansiosa por rever seus familiares. Foi assim, que Edileusa desceu do coletivo na rodoviária de Belém, no Pará.

            De longe podia-se ouvir música regional, alguém disse:

 - É o Carimbó, uma dança típica do Pará.

          A moça sorriu, foi a primeira vez desde que saíram de São Paulo. Depois seguiram o fluxo de gente, até avistar uma aglomeração. Abrindo espaço e pedindo licença, chegaram onde estavam dois casais de dançarinos, rodopiando ao som das músicas típicas do local. Finalmente ela estava em casa, queria abraçar sua mãe e irmãos, o pai já não estava nesse mundo de Deus.

            No táxi, a belenense avistou a matriz da Virgem de Nazaré, onde estava depositada toda sua esperança. Iria se jogar aos pés da santa, iria suplicar até a exaustão se fosse necessário, estava determinada. Voltara em busca de um milagre, fizera todo o trajeto da rota da esperança; agora iria até o fim.

            Caetano seguiria viagem para rever seus familiares, mas retornaria em dois dias. Ele amava Edileusa e nunca a abandonaria, muito menos naquela situação.

         Um texto de Eva Ibrahim Sousa

 

quarta-feira, 30 de setembro de 2020

"NOITES TRAIÇOEIRAS" -PADRE MARCELO ROSSI- "DEUS ESTÁ AQUI NESTE MOMENTO. SUA PRESENÇA É REAL EM MEU VIVER. ENTREGUE SUA VIDA E SEUS PROBLEMAS, FALE COM DEUS, ELE VAI AJUDAR VOCÊ". "(...)"

O MILAGRE

AS FÉRIAS

CAPÍTULO UM

              O dia demorou a passar, Edileusa já não sabia quantas vezes tinha olhado no relógio. A moça estava ansiosa, era seu último dia de trabalho, antes de suas férias. Ela solicitou as férias para viajar para sua cidade natal, queria rever seus familiares e participar da festa do Círio de Nazaré.

            Precisava, desesperadamente, de um milagre da Virgem de Nazaré. Não queria e não podia contar para ninguém, o que estava acontecendo com ela. Sua mãe já era idosa e não aguentaria uma notícia ruim; tinha a saúde abalada.

           Fazia uma semana que a jovem não conseguia dormir. O pouco que cochilava, acordava aos sobressaltos.

             – Será que vou morrer? Estou me sentindo bem, a morte deve ser outra coisa. Pensava com enorme preocupação. Em seguida, levava a mão ao seio direito; era ali que estava o problema.

           Naquela mama ela sentia um caroço, que a levara a procurar o atendimento no Pronto Socorro. No momento da consulta, ela viu preocupação nos olhos do médico. Quando apalpou sua mama, ele contraiu os lábios e seu rosto se fechou. Com calma, ele foi reticente e cuidadoso ao dizer que precisava fazer uma biópsia, para saber se aquele achado era benigno ou maligno. A moça tremeu e gaguejou:

               - É necessário mesmo, doutor?

              - Sim, quanto antes iniciarmos o tratamento correto, melhor será o prognóstico. Respondeu o médico, que estava concentrado, escrevendo na ficha da paciente.

             Edileusa, que já estava preocupada pelos causos, que ouvira falar sobre caroços nos seios, ficou apavorada. No entanto, ela não tinha outra saída e se submeteu à biópsia. Foi orientada a retornar ao local após vinte dias, para saber o resultado. Esse tempo seria um martírio em sua vida, a não ser que apelasse para a santa de sua fé.

             Ela não tinha mais sossego e foi à igreja fazer uma promessa para a Virgem de Nazaré.  A jovem era nativa de Belém do Pará e quando apareceu uma oportunidade para trabalhar em São Paulo, prontamente ela aceitou, precisava ajudar sua família.

              Assim, o tempo corria e já fazia seis anos desde esse dia e nunca mais tinha voltado à sua terra natal. Mandava dinheiro, mensalmente, para ajudar sua mãe e o pouco que sobrava, ela punha na poupança.

               A nortista, como tantas outras, trabalhava na produção de uma metalúrgica, era pessoa séria e trabalhadora. Morava em uma vila de operários e namorava com Caetano, seu colega de trabalho. Os dois tinham planos de casamento e ele também guardava todo o dinheiro que sobrava, pensando no futuro.

             Sem saber o que fazer, a moça apreensiva, estava à espera do resultado da biópsia e com esse fantasma de doença em sua cabeça, pediu férias. Queria participar do Círio de Nazaré, tinha a esperança de receber o milagre pedido. A santa é conhecida e venerada por seus milagres; a festa em seu louvor, reúne milhares de pessoas de todos os lugares do Brasil.

          O Círio de Nazaré acontecerá no dia treze de outubro de dois mil e dezenove, no domingo. Com certeza, Edileusa e Caetano estarão suplicando aos pés da virgem, que lhes conceda a graça, de fazer aquele caroço ser de origem benigna. Ela tinha somente vinte e oito anos e era jovem demais para morrer; dizia com os olhos cheios de lágrimas.

             Finalmente, o casal estava na rodoviária esperando o ônibus, para uma longa viagem carregada de esperanças.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

 

 

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

"FIO DE CABELO"- CHITÃOZINHO & CHORORÓ - "QUANDO A GENTE AMA QUALQUER COISA SERVE PARA RELEMBRAR. UM VESTIDO VELHO DA MULHER AMADA TEM MUITO VALOR. AQUELE RESTINHO DO PERFUME DELA, QUE FICOU NO FRASCO SOBRE A PENTEADEIRA, MOSTRANDO QUE O QUARTO JÁ FOI O CENÁRIO DE UM GRANDE AMOR" "(...) COMPOSITORES: MARCIANO/ DARCI ROSSI

                            MARCAS PROFUNDAS

CAPÍTULO DOZE

          Liana percebeu na fisionomia e na voz de seu pai, a decepção sofrida por ele. Ele a tratou friamente e não se importou, por ela ter que passar mais uma noite na cadeia. Seu pai estava triste, ela estava deprimida, sua tia estava desolada, Otávio estava ferido e sua mãe em crise nervosa, então ela se perguntou:

            - O que eu fiz da minha vida? E das vidas dos outros também?

           A prisioneira não jantou e foi dormir chorando. Ignorou a presença das duas companheiras de cela e se fechou para o mundo. Seu futuro era incerto, sua vida terminara ali. Queria morrer, não aguentaria a prisão e nem ficar sem Otávio.

              O dia amanheceu e Liana estava com o rosto inchado, pálida, emagrecida e desfigurada. Quando seu pai e o advogado chegaram para pagar a fiança e leva-la dali, ficaram espantados com a aparência da moça. Estava sem banho a dois dias e sem pentear os cabelos. Tinha os ombros arriados e andava como se fosse arrastada. O pai teve pena e a abraçou com força, em seguida sussurrou:

           - Calma, tudo isso vai passar.

           Com os olhos cheios de lágrimas, ele conduziu a filha para o táxi, que os aguardava. Era uma situação limite vivida pela sua menina, que não suportou uma traição de amor. Não poderia abandoná-la naquele momento, sentiu remorso por tê-la deixado na noite anterior. Depois entraram no veículo e foram ao encontro de Neiva, que os aguardava ansiosa.

            A mãe, em sua cidade natal, caiu de joelhos diante da Virgem de Nazaré e agradeceu a soltura da filha, seu coração estava contrito pela dor vivida. Liana, que aguardou o noivo com tanta ansiedade, agora era fichada na polícia, por tentativa de assassinato. Ela sentia que precisava cuidar da filha, que estava fragilizada. Seu coração era pura emoção, um amor de mãe nunca foge da luta. Olhou para a imagem da Santa e lágrimas rolaram pelo seu rosto.

          Otávio seguia na UTI em processo de cicatrização das feridas. Muitas dores e incertezas quanto ao futuro. Ele ainda não olhara no espelho, não permitiram; diziam que não havia espelho no local.

            O advogado de Liana conseguiu que ela respondesse ao inquérito em sua cidade natal, voltaria a São Paulo, se fosse preciso. O médico alegou tratamento de saúde emocional, pois a moça estava deprimida depois do drama vivido. Corria risco de suicídio, alertou o médico psiquiatra.

            Vera, a mãe do rapaz, ficou no apartamento dele e todos os dias ia ao hospital saber do filho. Não a deixavam entrar, mas ela permanecia por perto, era a mãe de Otávio e nunca o abandonaria.

            Depois de três meses e algumas cirurgias, o paciente obteve alta hospitalar e pode voltar para seu apartamento. Ainda teria que fazer mais cirurgias, teria sequelas, mas seriam pequenas, em vista da gravidade da situação.

             Júlia esteve presente no primeiro mês, depois se cansou e mudou do apartamento de Otávio, não deixando o endereço. No entanto, a mãe do rapaz permaneceu ali, dizendo que ficará sempre ao seu lado, pelo tempo que for necessário.

              Quando a velha senhora pode vê-lo, estranhou a aparência do filho. Ele parecia outra pessoa, emagrecido, calado e tinha vergonha de sair na rua. Estava afastado do trabalho por tempo indeterminado. Otávio tinha perdido a vivacidade.

             O rapaz teve, ainda, mais duas internações para concluir os enxertos no rosto, mas o que o deixava triste era a orelha. Ele deixou os cabelos crescerem, para tapar a falta do lóbulo da mesma. Havia uma promessa de correção naquele órgão, mas ainda teria que esperar até terminar as outras cirurgias.

             Os dois protagonistas, dessa triste história de traição, tiveram impregnadas no corpo e na alma as marcas da vida. Liana ficou com depressão severa e toma medicamentos contínuos, seu corpo parece que murchou diante do peso das dores sofridas. Foi condenada a fazer trabalhos voluntários, que não fez, por motivos de saúde. E essa decisão está suspensa até hoje.

             Otávio continua em sua luta para melhorar a aparência, hoje em dia é um jovem barbudo, cabeludo, triste e retraído. Logo deverá voltar ao trabalho.

             Julia continua trabalhando e já está com outra pessoa, o drama de Otávio não a prendeu a ele.

              Portanto, Liana e Otávio, com tantos planos e sonhos a serem realizados, foram afastados definitivamente em decorrência de uma traição; e por um momento de loucura, suas vidas ficaram marcadas para sempre.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

"NÃO APRENDI DIZER ADEUS" LEONARDO "NÃO APRENDI DIZER ADEUS. MAS DEIXO VOCÊ IR SEM LÁGRIMAS NO OLHAR. SEU ADEUS ME MACHUCA. O INVERNO VAI PASSAR E APAGA A CICATRIZ". COMPOSITOR: JOEL MARQUES

                                         UM CASO SÉRIO 

CAPÍTULO ONZE

           No hospital, Otávio se contorcia em dores. Os analgésicos tiravam suas dores momentaneamente, mas logo, voltavam a atormentá-lo. A parte da pele que fora atingida pelo ácido, latejava o tempo todo, para dormir lhe davam sedativos potentes. O pouco que dormia, tinha pesadelos horríveis com o ataque de Liana. Ela o odiava e queria vê-lo morto, disso ele tinha certeza. 

            Seu olho esquerdo fora afetado parcialmente. Os exames acusaram lesões sérias, mas parciais, pois em um ato instintivo, ele fechou os olhos na hora do ataque, assim, o líquido não o cegou totalmente. O oftalmologista disse que ele poderá se tornar um deficiente visual, mas terão que esperar, para ver a extensão da lesão. 

           - As feridas no rosto foram profundas e em alguns lugares, necessitam de enxertos. Quanto a orelha, a situação é muito pior; terão que retirar a parte necrosada e ele ficará somente com a aba superior da cartilagem. O rapaz terá um longo tempo de internação e cuidados especiais do cirurgião plástico.    

      Essas informações obtidas por Júlia, foram dadas pelo médico, que atendeu o paciente e o acompanhou nos primeiros socorros, e ela repassou para Neiva. 

            - Diante dessa situação, Otavio mantem a queixa contra sua noiva, jamais a perdoará. A moça fez uma pausa, estava emocionada com a situação do seu amor. Assoou o nariz e prosseguiu:    

            - Ele está revoltado, disse que nunca poderia imaginar que Liana tivesse coragem, de praticar uma agressão tão grave.  O médico dissera que ele ficará com cicatrizes para o resto da vida. A cirurgia plástica fará tudo para minimizar as marcas, mas será difícil, diante da gravidade do quadro, prometer alguma coisa.

           Neiva manteve-se calada, não sabia o que dizer diante de fatos tão graves. Seu silêncio demonstrava sua tristeza, ela sentia que sua sobrinha estava encrencada pra valer. 

              Antônio, o pai de Liana, chegou a São Paulo quando já estava escuro, precisava arrumar um advogado, mas a noite seria difícil.  Deixaria a filha dormir mais uma noite na prisão, assim, ela teria tempo para refletir.

              O homem, revoltado com o problema criado, foi ao hospital, precisava saber da gravidade e extensão do ato praticado pela filha. Lá encontrou-se com a mãe de Otávio, que chegara mais cedo e estava furiosa. O chefe do rapaz, também, estava lá prestando solidariedade. 

              – O que será do meu filho agora? Ele estava feliz com o novo emprego. E começou a chorar. 

              O homem não sabia o que dizer, eram conhecidos de longa data e ele não poderia apoiar o ato insensato de sua filha e nem a traição do rapaz. No entanto, Antônio se comoveu com o sofrimento da mulher e tentou acalmá-la. 

            – Vamos tentar contornar essa situação, em que posso ajudá-la?

 Vera, era o nome da mãe de Otávio, não conseguia falar, estava tomada pela emoção e o homem tratou de pegar um copo com água e oferecer a ela. O desespero maior da mulher era não poder ver seu filho, por causa da pandemia. 

            Depois de algum tempo, a mulher concordou em acompanha-lo até a pensão, em que Neiva estava hospedada. As duas mulheres se acolheram com os olhos cheios de lágrimas; eram conhecidas de longa data. Neiva acompanhou Vera até o apartamento do filho, onde estava Júlia. 

          Antônio foi ao escritório de um advogado, indicado pelo chefe de Otávio para acompanhá-lo até a delegacia. Iria pagar a fiança e libertar sua filha no dia seguinte. Esteve na delegacia e disse isso a ela, a noite não seria possível, pois dependiam de documentos, que seriam obtidos no cartório.

            A moça chorou, mas não teve jeito e tratou de se acomodar no canto do beliche para dormir. Estava arrependida pelo ato praticado, ainda amava Otávio. As duas companheiras de cela ficaram vigiando a moça. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

 


quarta-feira, 9 de setembro de 2020

"NÃO APRENDI DIZER ADEUS" -LEONARDO- "(...) NÃO APRENDI DIZER ADEUS, MAS TENHO QUE ACEITAR, QUE AMORES VEM E VÃO. SÃO AVES DE VERÃO. SE TENS QUE ME DEIXAR, QUE SEJA ENTÃO, FELIZ. (...)" COMPOSITOR: JOEL MARQUES

ATRÁS DAS GRADES

CAPÍTULO DEZ
             Dois policiais, um homem e uma mulher, escoltaram a moça até a cela. Liana parou na porta e com um leve toque no braço, foi coagida a entrar na cela. Titubeou diversas vezes, mas quando o policial disse que sua situação poderia piorar muito, se resistisse, ela entrou. Em seguida, foi empurrada para um beliche de cimento e a cela foi trancada.

            Naquele pequeno espaço estavam duas prisioneiras aguardando averiguações. As duas mulheres, que assistiam à chegada da nova recolhida, olhavam para a moça com muita curiosidade. Enquanto isso, Liana se encolhia de medo, não sabia como agir e começou a chorar. Sentia-se abandonada em um lugar hostil.

             A mulher, de meia idade e cabelos oxigenados, tinha cara de mau e aproximou-se com ar de poucos amigos. Encarou a novata e foi logo dizendo:

          - Pode parar com esse chororô, não vamos suportar baixo astral aqui. 

      Parou em frente ao beliche, impondo respeito. A outra moça, de cabelos encaracolados e pele morena, chegou mais perto de Liana e completou a fala da primeira:

                – Trata de ficar boazinha ou iremos te dar uma lição. Abre o bico e conta o fez para se juntar a nós?

              A nova encarcerada calou-se imediatamente, percebeu que corria perigo ali. As duas mulheres ficaram paradas, esperando ela contar o motivo, pelo qual estava presa. Liana tremia de medo e gaguejando falou:

              - Eu atirei ácido no rosto do meu noivo, que me traiu.

             As duas mulheres começaram a rir alto.

            – Então, a franguinha é corajosa, ela é das nossas! Frisou a mais velha e a outra concordou com a cabeça.

            Em seguida, a loira deu alguns tapas nas costas de Liana, aquele era seu jeito amistoso de aprovação. Depois, as duas inquisidoras, voltaram para seus lugares. Pareciam satisfeitas, por terem uma companheira ferrada com a justiça. As duas estavam no cárcere, por terem sido presas por tráfico de drogas.

           Liana se encolheu no canto da cama beliche, o colchão era fino e duro, engoliu o choro e gemeu baixinho, até adormecer. Acordou assustada, com a mulher oxigenada batendo em seu ombro.

            – Acorda! O café já chegou.

          A moça, sentou-se na cama e viu na mesinha de madeira uma caneca, que continha café com leite e um pão com margarina ao lado. O dia havia amanhecido e ela tinha muitas dúvidas em seu coração.

             - Como estará o Otávio? Será que minha tia vai conseguir o dinheiro para eu sair daqui? Serei presa? Meus pais não vão me perdoar.  
              
            Esses pensamentos bailavam em sua cabeça. Havia uma nuvem pairando no ar. Sua realidade era muito triste.

             Precisava fazer sua higiene, mas não tinha nada de seu naquele local. O banheiro era precário, feio e sujo, então ela fez xixi, jogou uma água no rosto e tratou de sair dali.

             Olhou para a caneca e sentiu-se mal, nunca imaginou estar numa situação tão precária em sua vida. As duas mulheres estavam esperando ela tomar o café com leite. No entanto, Liana pegou o pão, deu uma mordida e devolveu o restante à bandeja.

           - Menina! Trata de se alimentar, não sabe a que horas poderá comer novamente. 
Alertou, a loira mais falante, que se colocava como líder ali.

            Liana começou a chorar, não tinha apetite.

           Recolheram as bandejas de café, mas o pão ficou em cima da mesinha. Foi um pedido de suas companheiras de cela, estavam com pena dela.

           Enquanto isso, Neiva já havia ligado para a família, expondo a situação e pedindo o dinheiro para a fiança.

             A mãe ficou chocada com a notícia e o pai da moça resolveu viajar para São Paulo e se inteirar da situação, pessoalmente.

             O dia se arrastava lentamente e o almoço chegou; era uma quentinha. A marmita cheia de arroz com feijão, farofa e linguiça, comida suficiente para um homem trabalhador da construção civil.

            No entanto, ela queria uma coisa leve com verduras, legumes e sobremesa. Porém,  resolveu comer um pouco, a fome a estava maltratando. Comeu pouco e encostou a marmita longe, perto da parede.

            O dia se arrastava, o fim da tarde chegou e a moça estava desesperada, esperando notícias de sua tia. Não aguentaria mais uma noite naquele local. Liana parecia um bicho acuado, encolhida no canto do beliche.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

"NÃO APRENDI DIZER ADEUS" CANTOR: LEONARDO "(...) NÃO TENHO NADA PRA DIZER, SÓ O SILÊNCIO VAI FALAR POR MIM. EU SEI GUARDAR A MINHA DOR E APESAR DE TANTO AMOR, VAI SER MELHOR ASSIM. (...)" COMPOSITOR: JOEL MARQUES

O DRAMA

CAPÍTULO NOVE
               Neiva chegou esbaforida na pensão em que, as duas, tia e sobrinha estavam hospedadas. Entrou rapidamente e correu para ver se Liana estava lá dentro. Não viu nada e parou na porta do quarto, não sabia o que fazer. Quando ia deixar o recinto, ouviu um soluço, que vinha debaixo de uma das camas. Era Liana que se escondera naquele local escuro.

              A mulher abaixou-se para ver o que estava acontecendo com sua sobrinha. A moça, assustada, não queria sair do seu esconderijo, sabia que tinha feito uma besteira. Neiva tentou acalmá-la, no entanto, ela estava com muito medo das consequências de seu ato extremo. Parecia arrependida, agira em um momento de raiva.

              Depois de muita conversa e argumentos, Liana começou a ceder. Demorou, mas ela acabou saindo debaixo da cama.

            Queria saber o que fizeram com Otávio e onde ele estava.

            A tia tentava amenizar a situação, que por si só já era grave.

           - Qual substância você jogou nele? Perguntou, olhando firmemente para a sobrinha.

            E ela respondeu chorosa, não adiantava mentir.

              - É ácido sulfúrico, que comprei em uma farmácia de manipulação.

              - Isso é loucura, como você pode fazer uma coisa dessas? Poderá ser presa por isso. Vamos ao hospital agora. E, pegando na mão da moça disse:

             - Onde está o frasco? Vamos levá-lo junto conosco.

              Neiva chamou um táxi e disse o nome do hospital, que tinham encaminhado o rapaz. Chegaram ao Pronto socorro e foram ao balcão perguntar por Otávio. A recepcionista fez um sinal ao policial, que estava de plantão e ele veio atender ao chamado, imediatamente.  

           A tia ficou branca como cera, percebeu que havia algo errado no ar.

            – Qual é o seu nome? O policial perguntou a Liana.

           A moça, assustada, gaguejou e disse:

            - Liana Pimentel. Por que?

           - Porque terá que me acompanhar até a delegacia, para esclarecimentos. Afirmou o representante da lei.

          - A moça deu um passo para trás, não poderia ser verdade aquilo tudo.

         Neiva se aproximou e abraçou a sobrinha, querendo protege-la.

           - Qual é a acusação que pesa sobre ela?

          A acusação de lesão grave, com a intenção de matar.

            -Não, gemeu Liana, eu só queria assustá-lo. Eu o amo, não quero que morra. Ele é meu noivo e me traiu, por isso eu agi assim.

          Tenho ordens para conduzi-la a delegacia, vai por bem ou devo algemá-la? Perguntou o policial sério.

             Neiva se apressou dizendo:

             - Vamos resolver isso, não precisa de algemas.

            Quando chegaram à delegacia deram de cara com Júlia, que acabara de acusar Liana do ataque sofrido por Otávio.

Enquanto isso, o rapaz gemia desesperado, apesar das medicações para sanar suas dores. O paciente aguardava a avaliação do oftalmologista, pois corria sério risco de perder a visão do lado esquerdo. Sua orelha estava arroxeada, poderia perder partes dela também.

A pele que foi atingida, queimava como fogo em sua vermelhidão. Otávio estava na Unidade de Terapia Intensiva em estado grave. Precisava de cuidados intensivos do oftalmologista e da cirurgia plástica. Júlia não se conformava com o ataque sofrido por seu amor.

Na delegacia foi lavrado o auto em flagrante, e a moça indiciada em inquérito. Teria que permanecer presa ou pagar uma fiança para responder em liberdade.

A fiança era de dois mil reais e Neiva precisava de tempo para conseguir essa quantia. Assim, Liana passaria a noite presa em uma cela da delegacia. Não teve jeito e a acusada foi levada contra a vontade da tia, que saiu na noite escura, sem saber como agir.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

MEU MUNDO REINVENTADO.

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