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quarta-feira, 5 de agosto de 2020

"ROUPA NOVA" "LINDA DEMAIS" "(...) LINDA CONTE A MIM TEU SEGREDO. PRO MEU SONHO DIGA QUEM É VOCÊ. LIVRE, NUNCA MAIS TENHA MEDO, POIS QUEM AMA TUDO PODE VENCER. VEM FAZER DIFERENTE O QUE MAIS NINGUÉM FAZ. FAZ PARTE DE MIM, ME INVENTA OUTRA VEZ. (...)" COMPOSITORES: EURICO PEREIRA DA SILVA FILHO/ LUIZ OTÁVIO PAES DE OLIVEIRA


O TRIÂNGULO

CAPÍTULO CINCO

           Otávio chegou em sua casa mais confuso do que quando saiu, estivera com as duas mulheres, que estavam tirando seu sono e nada fora resolvido. Passava das vinte e três horas, seus pais já haviam se recolhido e ele se jogou na cama. Ficou um tempo deitado pensando, estava preocupado, pois não sabia o que fazer para sair daquela situação. Tinha pressa em encontrar uma solução. 

             Depois, levantou-se e foi tomar um analgésico, pois seu ombro latejava. Em seguida, retornou e adormeceu. Teve pesadelos em um sono agitado por fantasmas, que insistiam em rodeá-lo. Otávio foi acusado por Liana e Júlia de traição, ele estava na berlinda diante da família da noiva. As duas gritavam e apontavam para ele dizendo: 

             - Canalha! Canalha! Canalha! 

             O rapaz não conseguiu se defender e acordou suando. Não dava mais para suportar aquela pressão psicológica, iria conversar com Liana. Ficaria ali somente mais aquela semana e esperava se livrar daquele noivado, que mais parecia uma prisão. No entanto, se ela soubesse que ele estava se relacionando com Júlia, seria muito difícil ela aceitar o rompimento. 

          Com esses pensamentos ele adormeceu novamente. Resolveria tudo, antes que sua companheira de voo descobrisse que ele estava noivo. Um namoro de três anos, que teve muitas promessas e juras de amor. Iria magoar a mulher que jurara levar ao altar; sentia-se um verdadeiro canalha. 

            Tinha muitas coisas a explicar, outras para desfazer, tais como: os móveis comprados juntos, os eletrodomésticos e principalmente os sonhos de uma jovem, que dizia amá-lo. Na verdade, ele queria mandar uma mensagem desistindo do noivado, ou dar um telefonema acabando com tudo. Entretanto, sua mãe o proibiu de agir como um canalha. Teria que ir pessoalmente e falar com os pais dela. 

           O dia seguinte surgiu lindo e ensolarado, era domingo. Liana ligou e convidou Otávio para o almoço na casa dela. Ele tentou se desvencilhar do convite, mas não obteve êxito. Ela não aceitou nenhuma desculpa, queria o noivo junto dela. Sem saída, ele compareceu à reunião familiar. 

              O rapaz não pode, nem sequer, abordar o assunto para romper o noivado, pois a família inteira estava presente. Todos queriam saber qual seria a data do casamento e ele fugiu do assunto, colocando a culpa do adiamento na pandemia. Foi uma tarde difícil, as conversas tomavam rumos contrários aos seus desejos; queriam casá-lo a força. 

            Quando ele conseguiu sair dali, já estava anoitecendo e ao chegar em sua casa ligou para Júlia: queria vê-la. O rapaz estava chateado com a pressão sofrida durante o almoço, queria esquecer toda aquela história. Passou o resto do domingo com a companheira de voo, que o deixara encantado. Estava vivendo num verdadeiro inferno. 

             Não queria magoar sua noiva, mas não poderia se casar com uma pessoa que não amava mais, os dois seriam infelizes. Já era tarde quando retornou à sua casa e num surto, arrumou suas malas e resolveu cair fora. Não conseguiria desmanchar seu noivado, então iria fugir dali. Acordou bem cedo e saiu deixando um bilhete para sua mãe. 

           – Mãe, vou embora, pois tenho que me apresentar na empresa, estão precisando de mim. Avisa a Liana que depois telefono para ela. Beijos 

            Em seguida se dirigiu à rodoviária e pegou o primeiro ônibus rumo ao aeroporto. Era um canalha sim, não se importava com mais nada. Quando chegasse em São Paulo, ligaria para Júlia ir ao seu encontro. Liana teria que se conformar com a separação. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

quarta-feira, 29 de julho de 2020

"ROUPA NOVA"- "LINDA DEMAIS"(...) VEM, FAZER DIFERENTE O QUE NINGUÉM FAZ. FAZ PARTE DE MIM, ME INVENTA OUTRA VEZ. VEM CONQUISTAR MEU MUNDO, DIVIDIR O QUE É SEU, MIL BEIJOS DE AMOR. EM MUITOS LENÇÓIS SÓ EU E VOCÊ. (...)" COMPOSITORES: EURICO PEREIRA DA SILVA FILHO/ LUÍS OCTÁVIO PAES DE OLIVEIRA.

CORAÇÃO ALADO

CAPÍTULO QUATRO
             Otávio ficou parado em frente ao portão, então Júlia o convidou a entrar e ficaram se olhando, como se estivessem hipnotizados. A conversa discorreu entre citações de medos passados, durante a aterrissagem do avião, e as dores sofridas pelos ferimentos. Havia ansiedade no olhar do rapaz, queria falar de Liana, mas temia que Júlia se afastasse dele, então calou-se.     
          
          A moça tinha o tornozelo dentro de uma tala ortopédica e a testa com um curativo fechado. Ela estava mais bonita com bandagens e aquele ar de carência afetiva, sem dúvida, ansiava por carinho.

           O rapaz mantinha o braço esquerdo em uma tipoia, dizia ter muitas dores aos pequenos movimentos e ao se mexer na cama, a dor era lancinante. Quando dizia isso, fazia uma cara de horror, que comovia a todos. Eram dois sobreviventes, que tinham a sorte de ter resistido a um acidente de avião.

           Depois das apresentações, a mãe da moça convidou o rapaz para o jantar, estava agradecida por ele ter ajudado sua filha. Queria demonstrar o quanto apreciava seu gesto. Júlia também demonstrou gosto, pela presença dele no jantar.

             Ele concordou dizendo que voltaria mais tarde, queria conhecer melhor a moça. Na verdade, seu coração já estava irremediavelmente encantado com a companheira de viagem. Percebeu nos olhares dela a mesma aceitação, que havia em seu coração.

             Otávio saiu dali com uma certeza incontestável, teria que romper seu noivado, antes de se declarar à Júlia. Sentia que estava em uma enrascada, não queria sair da situação como um canalha. Mas precisava de um milagre para Liana aceitar o rompimento. Os anseios de sua noiva iam na direção contrária, do que ele desejava.

              Chegou em sua casa rapidamente, nem reparou nas coisas que havia pelo caminho; Otávio estava absorto. Foi se deitar dizendo estar com dores, queria ficar sozinho e pensar em uma solução para acabar com seu noivado; estava confuso.

              Acabou adormecendo e quando acordou, sua mãe disse que a sua noiva havia ligado três vezes. Então, ele sentou-se na cama e pediu para sua mãe sentar-se ali perto, queria conversar. Expôs a ela a situação em que se encontrava. Helena, sua mãe, franziu a testa e perguntou?

              – Que conversa é essa? Como você vai explicar isso para os pais de Liana?

             - Mãe, eu sou jovem e tenho que pensar no meu futuro, o mundo está lá fora cheio de promessas e eu quero conquista-lo. Além do mais, conheci a Júlia que me encantou imediatamente, hoje vou jantar na casa dela.

             - Meu Deus! Isso me preocupa muito, vai ver sua noiva por favor e pense bem, antes de falar qualquer coisa que possa magoá-la. Retrucou sua mãe.

            Otávio foi até a casa de Liana, no entanto, não queria nenhum contato físico com ela. Mas, a moça estava sedenta por abraçá-lo e beijá-lo depois de seis meses de separação. Foi agarrado e teve que corresponder aos abraços, não dava para se esquivar.

            O rapaz foi subjugado ao amor de sua noiva, estava constrangido, mas não conseguiu fugir. Ela não percebeu nada, pensou que ele sentia dores, por isso se afastava dela. Passou duas horas, durante a tarde, com Liana e a noite teria o jantar com Júlia. Sentia-se um verdadeiro traidor, não resistiu ao assédio de sua noiva.

             A noite chegou e ele foi ao jantar na casa de Júlia; estava cheio de remorsos, mas não poderia recusar um convite tão amável. Tinha o propósito de contar a ela sobre seu noivado, mas lhe faltava coragem. Depois do jantar, os dois foram sentar-se na sala, queriam ficar a sós; havia muita coisa no ar.

            Ela estava tão bonita e ele a mantinha encostada em seu ombro, sentia um perfume suave, que exalava de seus cabelos, deixando-o entregue aos seus desejos mais íntimos. Ali estava a mulher de seus sonhos, mas era proibida para ele. Seu coração estava alado, pulava de um lado para outro. Era Liana se impondo e Júlia se insinuando.

          -O que fazer? Precisava de uma luz para sair daquela situação ou estaria perdido.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 22 de julho de 2020

"ROUPA NOVA"- "LINDA DEMAIS" "SÓ VOCÊ ME FASCINA, TE DESEJO, MUITO ALÉM DO PRAZER. VISTA MEU FUTURO EM TEU CORPO E ME AMA COMO EU AMO VOCÊ. (...)" COMPOSITORES: EURICO PEREIRA DA SILVA / LUIZ OCTÁVIO PAES DE OLIVEIRA

DESAMOR

CAPÍTULO TRÊS
              O rapaz não queria ter essa conversa com a noiva, mas estava cada vez mais certo de que era necessária. Gostava dela e não queria magoá-la, apenas não desejava mais cumprir o prometido, que era casar-se com ela.

              Otávio sabia que seria difícil se desvencilhar daquela situação, pois fazia quatro anos de namoro e um ano de noivado. O casal já havia comprado parte dos móveis e dividido o valor, assim fora planejado o enlace matrimonial. O rompimento seria traumático e causaria muita dor; teria que tomar cuidado.

               Entretanto, iria se aproveitar da pandemia para manter distância da moça, que ainda estava de quarentena. Depois do café, ele tomou coragem e foi até a casa da noiva. Ela estava confinada no quarto e ele ficou na sala a sua espera.

               Depois de algum tempo, Liana entrou na sala com a máscara na mão e se aproximou do noivo para beijá-lo, porém foi repelida. Usando a desculpa do vírus, ele se afastou dizendo:

                - Por favor, fique longe de mim, não quero pegar essa doença.

             A moça deu um passo para trás e decepcionada respondeu:

             - Hoje é meu último dia de quarentena, não há mais perigo de passar o vírus para você. Depois, chorosa, perguntou:

               - O que aconteceu para você demorar a vir aqui?

                Então, ele respondeu:

              - O avião teve que fazer um pouso forçado e alguns passageiros ficaram feridos. Eu tive uma luxação no ombro esquerdo, fui levado ao Pronto Socorro para colocar meu ombro no lugar.  Demorou para sermos liberados, eu estava muito cansado e com dores, então tomei um analgésico e adormeci, assim que cheguei na casa de minha mãe.

             Liana ficou satisfeita com a explicação e o convidou para sentar-se. Otávio se acomodou em um sofá e ela em outro, era visível o embaraço do rapaz. Entre eles houve um silêncio constrangedor, parecia que eram dois estranhos tentando dialogar. A moça estava ansiosa para perguntar quando seria o casamento, queria ir morar com ele em São Paulo.

             Otávio percebeu a ansiedade de Liana e começou a reclamar do serviço. Foi logo dizendo que teriam de adiar todos os planos formados anteriormente, pois o Coronavírus veio para atrapalhar todos os projetos da sua empresa. Depois completou profetizando:

              - Até que essa pandemia acabe, nada poderá ser feito e todos terão que esperar essa fase ruim passar. Depois olhou para sua noiva e disse:

               - Nossos projetos também estão adiados, até que essa doença seja controlada.
             A moça retrucou:

             - Mas, será que não podemos nos casar somente com a presença das pessoas mais chegadas da família?

              - Não, o futuro é incerto e eu não vou tirar você da casa de seus pais, é muito perigoso. Ele afirmou com veemência.

              A mãe dela, que ouviu a conversa, entrou e disse concordar com o rapaz, teriam que esperar a situação melhorar. Precisavam de um pouco de segurança, para assumir um compromisso tão sério como o casamento. Ele ficou mais um pouco na casa da moça e depois saiu dizendo:

              - Estou com muita dor no meu ombro, preciso tomar um remédio e descansar um pouco.

               Otávio saiu sem tocar nela e Liana ficou muito chateada. Dali ele foi até a casa de Júlia, queria saber como ela estava. Ao se aproximar da residência da moça, seu coração disparou. Era um sentimento novo, que o deixava ansioso para rever a companheira de viagem.

                 Ele sabia que estava agindo errado, mas o seu coração e os seus pensamentos estavam focados na moça, que conhecera no avião. Ele tocou a campainha e quando ela apareceu na porta, o dia se iluminou, era a mulher que ele queria para levar ao altar.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa


quarta-feira, 15 de julho de 2020

"ROUPA NOVA" "(...) EU TE AMO E VOU GRITAR PRA TODO OUVIR, TER VOCÊ É MEU DESEJO DE VIVER. SOU MENINO E TEU AMOR É QUE ME FAZ CRESCER E ME ENTREGO CORPO E ALMA PRA VOCÊ". COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI

A ATERRISSAGEM

CAPÍTULO DOIS
               O avião baixou de altitude e começou a dar voltas e mais voltas, sem descer o suficiente para tocar o solo. Os passageiros que estavam agoniados, começaram a rezar e lamentar alto dentro da aeronave, deixando os mais vulneráveis em pânico. As mulheres e as crianças começaram a chorar, inclusive a Júlia, que se agarrou ao corpo de Otávio.

            Alguém cogitou de qual seria o motivo da demora, para a aeronave tocar o solo:

            - O comandante deve estar gastando o combustível, para minimizar a possibilidade de pegar fogo. E outros passageiros concordaram:

            - É isso mesmo! Ouviu-se em coro.

            Trinta longos minutos se passaram, até que se ouviu a voz do comandante novamente:

            - Segurem-se todos, aqui vamos nós.

           Houve um silêncio mortal dentro do avião e quando ele bateu no solo, todos gritaram. Foram momentos terríveis, houve uma pressão intensa no interior, coisas caindo de dentro dos bagageiros, bancos que se soltaram, algumas pessoas ficaram feridas e todos os passageiros estavam assustados. Júlia ficou com o pé preso no banco que se soltou e bateu a cabeça no encosto do banco da frente.

              Quando a aeronave parou e desligou os motores, todos se entreolharam e agradeceram a Deus por estarem vivos. Otávio olhou para fora e viu uma grande área com espumas brancas, muitos carros do corpo de bombeiros e ambulâncias ao redor do avião.

              Então, ele percebeu o perigo que haviam passado e o motivo da demora em aterrissar. O comandante estava esperando a preparação do socorro, além de gastar combustível. Nesse momento, as comissárias de bordo começaram a organizar a descida e avaliar os feridos.

            Otávio tratou de ajudar Júlia a soltar seu pé e deu um guardanapo, que sobrara do lanche, para ela apertar o ferimento na testa e estancar o sangue. Era um corte de cerca de três centímetros, que sangrava muito escorrendo até sua boca.

           Havia pânico dentro do avião, todos queriam sair rapidamente. Do lado de fora foi colocada uma esteira, para as pessoas deslizarem até os colchões de ar, que recebiam os passageiros no solo. Dali, os socorristas encaminhavam os feridos até as ambulâncias.

As comissárias tentavam organizar a descida, colocando os feridos mais graves, as mulheres e as crianças na frente. Em seguida, aos poucos foram descendo os passageiros  com ferimentos leves e por último os homens que não se feriram. Júlia desceu antes de Otávio, além de ser mulher, tinha um sangramento na testa e não conseguia andar.

A moça foi levada para dentro da ambulância, na qual seria examinada. Depois de receber um curativo na testa, foi colocada em uma cadeira de rodas ao lado do veículo, ficara aguardando o rapaz, que acabara de conhecer. Deveria ser encaminhada ao pronto socorro para fazer uma sutura no ferimento e um Raio x do tornozelo.

Otávio sentia dores no ombro e na cabeça, pois caiu uma bolsa do bagageiro, que possivelmente tinha um notebook em seu interior, em cima de sua cabeça e resvalou no ombro. Ambos deveriam ser encaminhados ao Pronto Socorro. As ambulâncias do terminal aéreo estacionaram e os feridos foram direcionados para o atendimento necessário.

A moça e o rapaz foram atendidos e encaminhados para o Raio x. Não foram constatadas fraturas, mas o tornozelo da moça sofreu uma torção e estava bastante inchado. O ombro do rapaz teve um deslocamento, que precisou de uma redução. Júlia levou três pontos de sutura na testa e ambos tomaram analgésicos na veia, para diminuir suas dores.

                Quando estavam para serem liberados, chegaram os familiares dos dois, que ficaram sabendo do acidente pela mídia. Assim, cada um seguiu para a casa de seu familiar.

            A sobrevivente precisou tomar calmantes para poder dormir, estava ansiosa e chorosa demais. O rapaz estava tão cansado que adormeceu logo, nem se lembrou da noiva que o esperava.

            Quando acordou pela manhã, lhe disseram que Liana estava ligando de meia em meia hora, pois queria notícias. Ela estava de quarentena em sua casa, era o décimo quarto dia de isolamento. Otávio sentou-se na cama, tinha dores no ombro e queria tomar um banho, depois iria até a casa da noiva.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 8 de julho de 2020

"ROUPA NOVA"- "VOLTA PRA MIM" "(...) ESSA PAIXÃO É MEU MUNDO, UM SENTIMENTO PROFUNDO. SONHO ACORDADO UM SEGUNDO, QUE VOCÊ VAI LIGAR. O TELEFONE TOCA, EU DIGO ALÔ SEM RESPOSTA. MAS, NÃO DESLIGA, ESCUTA O QUE EU VOU TE FALAR. (...)" COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI

AS MARCAS DA VIDA

EMERGÊNCIA A BORDO

CAPÍTULO UM    
                Chovia torrencialmente e o táxi ficara parado no trânsito de São Paulo, quando conseguiu chegar ao aeroporto de Guarulhos e estacionou, o passageiro saiu voando e seguiu rapidamente rumo ao seu interior.

                Ele sabia que estava atrasado para embarcar no avião, seu nome fora chamado no microfone, por diversas vezes. Quando Otávio Moreira chegou ao portão de embarque, estava esbaforido, com o coração acelerado. Parou por um momento, precisava de um pouco de ar; o esforço fora grande. Iria visitar sua noiva e sua mãe, que moravam em Fortaleza.

             Fazia seis meses que ele estava trabalhando em São Paulo, era engenheiro civil e conseguira emprego em uma grande empresa construtora de estradas. Um sonho, que acalentara durante todo o seu curso na faculdade. Com apenas trinta anos, sentia-se abençoado por Deus, era jovem e estava bem empregado.

         Durante todo esse tempo, ele e Liana, sua noiva, mantiveram contato por Skype, mas, ultimamente ele estava criando obstáculos para falar com ela, parecia estar fugindo. A distância o estava afastando da moça, que dizia amá-lo muito.  Havia muitas coisas importantes, que ele queria fazer antes de se casar; vivia pensando nisso. Ainda gostava da noiva, mas queria adiar aquela conversa de casamento e não sabia como entrar nesse assunto.

             Nesse meio tempo, a moça pegou o Coronavirus e estava fragilizada. A mãe dela pediu a ele, que fosse visita-la, para dar um pouco de ânimo à Liana, que estava deprimida, emagrecida e carente.

                Ele aproveitou um feriado prolongado para concretizar a visita, assim poderia matar as saudades da mãe e da noiva. Entrou no avião e foi procurar seu assento, que já tinha um lugar ocupado, era uma moça bonita. Aquele voo duraria cerca de três horas e meia, então ele pensou que seria ótimo estar, todo aquele tempo, ao lado de alguém tão interessante.

               Sentou-se e sorriu para a moça, que retribuiu prontamente. O avião subiu e eles começaram a conversar. Júlia era o nome da moça, que se apresentou como designer de modas e estava voltando a Fortaleza para visitar a família. Moravam na mesma cidade e por coincidência perto de Otávio. Frequentavam os mesmos lugares, mas nunca se viram ou se esbarraram.

                  A conversa fluía fácil e o rapaz percebia que poderiam ser amigos e marcar encontros em São Paulo. Era uma saída para diminuir sua solidão. Então ele perguntou:

               - Você tem namorado?

                 Júlia abaixou a cabeça e disse num tom choroso:

                 - Meu namorado morreu faz um mês, foi um acidente de moto.

               - Perdoe-me, eu não poderia imaginar, vamos mudar de assunto. Otávio disse e se aquietou no banco, não queria magoar a moça. O tempo passou rápido e chegou o lanche, então voltaram a conversar e ele omitiu o fato de ser noivo.

                   Depois percebeu que fizera aquilo sem a intenção de mentir, dissera que estava solteiro. Aquela afirmação saíra normalmente de sua boca, parecia um fato acontecido. Uma coisa era certa, precisava resolver aquela situação com sua noiva e tinha que ser o mais rápido possível. Queria ficar livre para decidir outros caminhos em sua vida.

                     Otávio olhava para Júlia e sentia-se atraído pelos seus olhos verdes intensos. Liana teria que entender que as coisas haviam mudado. Iria pedir um tempo para pensar, não poderia enganá-la. Sentia-se preso e não queria se casar naquele momento. O avião chegava ao seu destino e pouco antes da aterrissagem, o piloto entrou em contato com os passageiros, pedindo a atenção dos mesmos. Com voz solene e em tom grave, o comandante disse:

                     - Temos um problema nos trens de pouso, estão emperrados e teremos que fazer um pouso forçado. Os comissários de bordo vão instruir todos os passageiros para se protegerem do impacto com o solo. Mantenham a calma e sigam as instruções. E que Deus nos proteja.

                     Júlia ficou aterrorizada e Otávio tentou acalmá-la. A moça chorosa se encostou no rapaz e começou a chorar. Os comissários de bordo começaram as instruções de praxe:

            - Mantenham os bancos eretos, mantenham os cintos de segurança ajustados, coloquem as bolsas no chão, retirem os sapatos, mantenham a cabeça baixa, as mãos sobre a cabeça e rezem muito.
              Otávio auxiliou a moça a se preparar para o impacto e ambos começaram a rezar.

             - Estamos juntos, não a deixarei sozinha, fique tranquila. Afirmou o rapaz enquanto todos invocavam a Deus.


Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 1 de julho de 2020

"ROUPA NOVA" "(...) EU TE AMO E VOU GRITAR PRA TODO O MUNDO OUVIR. TER VOCÊ É MEU DESEJO DE VIVER. SOU MENINO E TEU AMOR É QUE ME FAZ CRESCER. E ME ENTREGO CORPO E ALMA PRA VOCÊ. SEMPRE DEPOIS DAS BRIGAS, NÓS NOS AMAMOS MUITO". "(...)' COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI

                                   O DESPERTAR

CAPÍTULO DEZ
              As curtidas e inscrições no canal de Alana foram surpreendentes, em uma semana ela acumulava vinte mil inscritos e quase trinta mil curtidas. Era evidente que muita gente tinha curiosidade em saber, o que estava acontecendo com os pacientes dentro dos hospitais, que acolhiam os infectados por Coronavírus.

              Ela ficou contente com o sucesso do relato sobre sua doença, acometida pelo vírus desconhecido. Os fatos relatados ocorreram antes dela estar entubada, num leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Por mais que tentasse, não se lembrava de nada, parecia que aqueles dez dias não existiram.

             Em certo momento, a moça levou a mão aos lábios, no qual havia uma ferida no canto esquerdo da boca. Antes de sair do hospital, ela perguntou para a enfermeira o que havia ferido a sua boca e a resposta a surpreendeu:

              - O tubo foi amarrado desse lado de sua boca e deve ter ficado esfregando enquanto você respirava, por isso acabou causando o ferimento. Havia muitos pacientes para serem cuidados, que quando perceberam sua boca já estava ferida. Logo vai sarar, fique tranquila. Afirmou a enfermeira responsável pela UTI. A paciente resignada percebeu, que nada poderia ser feito.

                  Estava cicatrizando, mas era um ferimento marcante, então, depois da explicação, Alana iniciou seu relato final:

            - Essa ferida é apenas uma amostra, de tudo que eu passei durante vinte e cinco dias no hospital. Além de algumas coisas ruins, muitas outras boas aconteceram. Sou agradecida a todos os funcionários daquele estabelecimento, que contribuíram para me manter viva.

             Parou por um momento, estava emocionada e depois de um suspiro continuou:

                - É um esforço continuo e enorme de todos eles, são pessoas dedicadas, que apesar do medo de contaminar suas famílias, continuam na luta diária. São médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e além deles, temos também que nos lembrarmos do pessoal da nutrição, do pessoal da higiene, do pessoal da manutenção, do pessoal da recepção e do pessoal do transporte, todos merecem serem reconhecidos como mantenedores de vidas.

           -Muitos deles perderão a própria vida, por estarem na linha de frente da pandemia, mesmo assim continuam em suas lutas solitárias. Muitos terão a marca da máscara, para sempre, crivadas em seus rostos, pois quebraram cadeias de músculos faciais, por uso contínuo da proteção contra o famigerado vírus.

            Alana parou de falar e levou um copo de água à boca, tinha a garganta seca do esforço exagerado e emocionado, ao citar tantos heróis anônimos. Depois continuou:

           - Quando abri os olhos, não sabia onde estava e custei a me lembrar quem eu era. Acordei de um pesadelo mortal, inanimado, profundo e inexplicável. Onde eu estivera durante aqueles dias? Não sei dizer, estava inerte para o mundo conhecido.

            - Mas, aos poucos fui retornando a vida e voltei a ser a mulher que está aqui. Fragilizada, no entanto, inteira e pronta para recuperar a saúde e continuar a lutar pela vida. Quero falar dos últimos doze dias, que passei me recuperando no hospital.

                – Foram dias difíceis, pois eu sentia uma fraqueza extrema, meus membros não me obedeciam, estava prostrada no leito. Qualquer esforço, até o ato de abrir a boca, me cansavam. Eu pensava que estava condenada a ser um vegetal na cama. Entretanto, eu estava enganada, havia um exército de pessoas para me tirar daquela letargia.

              Alana parou para enxugar algumas lágrimas, que teimavam em cair e salgar seus lábios, provocando dor na ferida. Depois continuou:

              -Aos poucos fui recuperando as forças através da alimentação por via oral e venosa. Pelo esforço constante das fisioterapeutas, assistência psicológica, a competência dos médicos e enfermeiros que estiveram ao meu lado o tempo todo, fizeram com que eu recuperasse parte de minha antiga vitalidade..

          - Foi muito difícil, mas estou me restabelecendo bem. Faz dois meses que tudo começou, ainda falta muito para eu voltar a ser a mulher, que eu era antes do Coronavírus.

         - Mas tenho certeza de que serei uma pessoa muito melhor, quando tudo isso acabar. Serei mais humana e consciente de que todos temos que ser mais solidários com o próximo.

            - A vida é tênue e precisamos entender o que move o mundo, que é o amor fraterno. Esse amor esteve por detrás de tantas máscaras, que foram colocadas nos rostos de profissionais de saúde do mundo inteiro. Eu acredito que essa tenha sido a mensagem, que Deus nos enviou, mais solidariedade e amor fraterno entre os seres humanos.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

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