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quarta-feira, 15 de julho de 2020

"ROUPA NOVA" "(...) EU TE AMO E VOU GRITAR PRA TODO OUVIR, TER VOCÊ É MEU DESEJO DE VIVER. SOU MENINO E TEU AMOR É QUE ME FAZ CRESCER E ME ENTREGO CORPO E ALMA PRA VOCÊ". COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI

A ATERRISSAGEM

CAPÍTULO DOIS
               O avião baixou de altitude e começou a dar voltas e mais voltas, sem descer o suficiente para tocar o solo. Os passageiros que estavam agoniados, começaram a rezar e lamentar alto dentro da aeronave, deixando os mais vulneráveis em pânico. As mulheres e as crianças começaram a chorar, inclusive a Júlia, que se agarrou ao corpo de Otávio.

            Alguém cogitou de qual seria o motivo da demora, para a aeronave tocar o solo:

            - O comandante deve estar gastando o combustível, para minimizar a possibilidade de pegar fogo. E outros passageiros concordaram:

            - É isso mesmo! Ouviu-se em coro.

            Trinta longos minutos se passaram, até que se ouviu a voz do comandante novamente:

            - Segurem-se todos, aqui vamos nós.

           Houve um silêncio mortal dentro do avião e quando ele bateu no solo, todos gritaram. Foram momentos terríveis, houve uma pressão intensa no interior, coisas caindo de dentro dos bagageiros, bancos que se soltaram, algumas pessoas ficaram feridas e todos os passageiros estavam assustados. Júlia ficou com o pé preso no banco que se soltou e bateu a cabeça no encosto do banco da frente.

              Quando a aeronave parou e desligou os motores, todos se entreolharam e agradeceram a Deus por estarem vivos. Otávio olhou para fora e viu uma grande área com espumas brancas, muitos carros do corpo de bombeiros e ambulâncias ao redor do avião.

              Então, ele percebeu o perigo que haviam passado e o motivo da demora em aterrissar. O comandante estava esperando a preparação do socorro, além de gastar combustível. Nesse momento, as comissárias de bordo começaram a organizar a descida e avaliar os feridos.

            Otávio tratou de ajudar Júlia a soltar seu pé e deu um guardanapo, que sobrara do lanche, para ela apertar o ferimento na testa e estancar o sangue. Era um corte de cerca de três centímetros, que sangrava muito escorrendo até sua boca.

           Havia pânico dentro do avião, todos queriam sair rapidamente. Do lado de fora foi colocada uma esteira, para as pessoas deslizarem até os colchões de ar, que recebiam os passageiros no solo. Dali, os socorristas encaminhavam os feridos até as ambulâncias.

As comissárias tentavam organizar a descida, colocando os feridos mais graves, as mulheres e as crianças na frente. Em seguida, aos poucos foram descendo os passageiros  com ferimentos leves e por último os homens que não se feriram. Júlia desceu antes de Otávio, além de ser mulher, tinha um sangramento na testa e não conseguia andar.

A moça foi levada para dentro da ambulância, na qual seria examinada. Depois de receber um curativo na testa, foi colocada em uma cadeira de rodas ao lado do veículo, ficara aguardando o rapaz, que acabara de conhecer. Deveria ser encaminhada ao pronto socorro para fazer uma sutura no ferimento e um Raio x do tornozelo.

Otávio sentia dores no ombro e na cabeça, pois caiu uma bolsa do bagageiro, que possivelmente tinha um notebook em seu interior, em cima de sua cabeça e resvalou no ombro. Ambos deveriam ser encaminhados ao Pronto Socorro. As ambulâncias do terminal aéreo estacionaram e os feridos foram direcionados para o atendimento necessário.

A moça e o rapaz foram atendidos e encaminhados para o Raio x. Não foram constatadas fraturas, mas o tornozelo da moça sofreu uma torção e estava bastante inchado. O ombro do rapaz teve um deslocamento, que precisou de uma redução. Júlia levou três pontos de sutura na testa e ambos tomaram analgésicos na veia, para diminuir suas dores.

                Quando estavam para serem liberados, chegaram os familiares dos dois, que ficaram sabendo do acidente pela mídia. Assim, cada um seguiu para a casa de seu familiar.

            A sobrevivente precisou tomar calmantes para poder dormir, estava ansiosa e chorosa demais. O rapaz estava tão cansado que adormeceu logo, nem se lembrou da noiva que o esperava.

            Quando acordou pela manhã, lhe disseram que Liana estava ligando de meia em meia hora, pois queria notícias. Ela estava de quarentena em sua casa, era o décimo quarto dia de isolamento. Otávio sentou-se na cama, tinha dores no ombro e queria tomar um banho, depois iria até a casa da noiva.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 8 de julho de 2020

"ROUPA NOVA"- "VOLTA PRA MIM" "(...) ESSA PAIXÃO É MEU MUNDO, UM SENTIMENTO PROFUNDO. SONHO ACORDADO UM SEGUNDO, QUE VOCÊ VAI LIGAR. O TELEFONE TOCA, EU DIGO ALÔ SEM RESPOSTA. MAS, NÃO DESLIGA, ESCUTA O QUE EU VOU TE FALAR. (...)" COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI

AS MARCAS DA VIDA

EMERGÊNCIA A BORDO

CAPÍTULO UM    
                Chovia torrencialmente e o táxi ficara parado no trânsito de São Paulo, quando conseguiu chegar ao aeroporto de Guarulhos e estacionou, o passageiro saiu voando e seguiu rapidamente rumo ao seu interior.

                Ele sabia que estava atrasado para embarcar no avião, seu nome fora chamado no microfone, por diversas vezes. Quando Otávio Moreira chegou ao portão de embarque, estava esbaforido, com o coração acelerado. Parou por um momento, precisava de um pouco de ar; o esforço fora grande. Iria visitar sua noiva e sua mãe, que moravam em Fortaleza.

             Fazia seis meses que ele estava trabalhando em São Paulo, era engenheiro civil e conseguira emprego em uma grande empresa construtora de estradas. Um sonho, que acalentara durante todo o seu curso na faculdade. Com apenas trinta anos, sentia-se abençoado por Deus, era jovem e estava bem empregado.

         Durante todo esse tempo, ele e Liana, sua noiva, mantiveram contato por Skype, mas, ultimamente ele estava criando obstáculos para falar com ela, parecia estar fugindo. A distância o estava afastando da moça, que dizia amá-lo muito.  Havia muitas coisas importantes, que ele queria fazer antes de se casar; vivia pensando nisso. Ainda gostava da noiva, mas queria adiar aquela conversa de casamento e não sabia como entrar nesse assunto.

             Nesse meio tempo, a moça pegou o Coronavirus e estava fragilizada. A mãe dela pediu a ele, que fosse visita-la, para dar um pouco de ânimo à Liana, que estava deprimida, emagrecida e carente.

                Ele aproveitou um feriado prolongado para concretizar a visita, assim poderia matar as saudades da mãe e da noiva. Entrou no avião e foi procurar seu assento, que já tinha um lugar ocupado, era uma moça bonita. Aquele voo duraria cerca de três horas e meia, então ele pensou que seria ótimo estar, todo aquele tempo, ao lado de alguém tão interessante.

               Sentou-se e sorriu para a moça, que retribuiu prontamente. O avião subiu e eles começaram a conversar. Júlia era o nome da moça, que se apresentou como designer de modas e estava voltando a Fortaleza para visitar a família. Moravam na mesma cidade e por coincidência perto de Otávio. Frequentavam os mesmos lugares, mas nunca se viram ou se esbarraram.

                  A conversa fluía fácil e o rapaz percebia que poderiam ser amigos e marcar encontros em São Paulo. Era uma saída para diminuir sua solidão. Então ele perguntou:

               - Você tem namorado?

                 Júlia abaixou a cabeça e disse num tom choroso:

                 - Meu namorado morreu faz um mês, foi um acidente de moto.

               - Perdoe-me, eu não poderia imaginar, vamos mudar de assunto. Otávio disse e se aquietou no banco, não queria magoar a moça. O tempo passou rápido e chegou o lanche, então voltaram a conversar e ele omitiu o fato de ser noivo.

                   Depois percebeu que fizera aquilo sem a intenção de mentir, dissera que estava solteiro. Aquela afirmação saíra normalmente de sua boca, parecia um fato acontecido. Uma coisa era certa, precisava resolver aquela situação com sua noiva e tinha que ser o mais rápido possível. Queria ficar livre para decidir outros caminhos em sua vida.

                     Otávio olhava para Júlia e sentia-se atraído pelos seus olhos verdes intensos. Liana teria que entender que as coisas haviam mudado. Iria pedir um tempo para pensar, não poderia enganá-la. Sentia-se preso e não queria se casar naquele momento. O avião chegava ao seu destino e pouco antes da aterrissagem, o piloto entrou em contato com os passageiros, pedindo a atenção dos mesmos. Com voz solene e em tom grave, o comandante disse:

                     - Temos um problema nos trens de pouso, estão emperrados e teremos que fazer um pouso forçado. Os comissários de bordo vão instruir todos os passageiros para se protegerem do impacto com o solo. Mantenham a calma e sigam as instruções. E que Deus nos proteja.

                     Júlia ficou aterrorizada e Otávio tentou acalmá-la. A moça chorosa se encostou no rapaz e começou a chorar. Os comissários de bordo começaram as instruções de praxe:

            - Mantenham os bancos eretos, mantenham os cintos de segurança ajustados, coloquem as bolsas no chão, retirem os sapatos, mantenham a cabeça baixa, as mãos sobre a cabeça e rezem muito.
              Otávio auxiliou a moça a se preparar para o impacto e ambos começaram a rezar.

             - Estamos juntos, não a deixarei sozinha, fique tranquila. Afirmou o rapaz enquanto todos invocavam a Deus.


Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 1 de julho de 2020

"ROUPA NOVA" "(...) EU TE AMO E VOU GRITAR PRA TODO O MUNDO OUVIR. TER VOCÊ É MEU DESEJO DE VIVER. SOU MENINO E TEU AMOR É QUE ME FAZ CRESCER. E ME ENTREGO CORPO E ALMA PRA VOCÊ. SEMPRE DEPOIS DAS BRIGAS, NÓS NOS AMAMOS MUITO". "(...)' COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI

                                   O DESPERTAR

CAPÍTULO DEZ
              As curtidas e inscrições no canal de Alana foram surpreendentes, em uma semana ela acumulava vinte mil inscritos e quase trinta mil curtidas. Era evidente que muita gente tinha curiosidade em saber, o que estava acontecendo com os pacientes dentro dos hospitais, que acolhiam os infectados por Coronavírus.

              Ela ficou contente com o sucesso do relato sobre sua doença, acometida pelo vírus desconhecido. Os fatos relatados ocorreram antes dela estar entubada, num leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Por mais que tentasse, não se lembrava de nada, parecia que aqueles dez dias não existiram.

             Em certo momento, a moça levou a mão aos lábios, no qual havia uma ferida no canto esquerdo da boca. Antes de sair do hospital, ela perguntou para a enfermeira o que havia ferido a sua boca e a resposta a surpreendeu:

              - O tubo foi amarrado desse lado de sua boca e deve ter ficado esfregando enquanto você respirava, por isso acabou causando o ferimento. Havia muitos pacientes para serem cuidados, que quando perceberam sua boca já estava ferida. Logo vai sarar, fique tranquila. Afirmou a enfermeira responsável pela UTI. A paciente resignada percebeu, que nada poderia ser feito.

                  Estava cicatrizando, mas era um ferimento marcante, então, depois da explicação, Alana iniciou seu relato final:

            - Essa ferida é apenas uma amostra, de tudo que eu passei durante vinte e cinco dias no hospital. Além de algumas coisas ruins, muitas outras boas aconteceram. Sou agradecida a todos os funcionários daquele estabelecimento, que contribuíram para me manter viva.

             Parou por um momento, estava emocionada e depois de um suspiro continuou:

                - É um esforço continuo e enorme de todos eles, são pessoas dedicadas, que apesar do medo de contaminar suas famílias, continuam na luta diária. São médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e além deles, temos também que nos lembrarmos do pessoal da nutrição, do pessoal da higiene, do pessoal da manutenção, do pessoal da recepção e do pessoal do transporte, todos merecem serem reconhecidos como mantenedores de vidas.

           -Muitos deles perderão a própria vida, por estarem na linha de frente da pandemia, mesmo assim continuam em suas lutas solitárias. Muitos terão a marca da máscara, para sempre, crivadas em seus rostos, pois quebraram cadeias de músculos faciais, por uso contínuo da proteção contra o famigerado vírus.

            Alana parou de falar e levou um copo de água à boca, tinha a garganta seca do esforço exagerado e emocionado, ao citar tantos heróis anônimos. Depois continuou:

           - Quando abri os olhos, não sabia onde estava e custei a me lembrar quem eu era. Acordei de um pesadelo mortal, inanimado, profundo e inexplicável. Onde eu estivera durante aqueles dias? Não sei dizer, estava inerte para o mundo conhecido.

            - Mas, aos poucos fui retornando a vida e voltei a ser a mulher que está aqui. Fragilizada, no entanto, inteira e pronta para recuperar a saúde e continuar a lutar pela vida. Quero falar dos últimos doze dias, que passei me recuperando no hospital.

                – Foram dias difíceis, pois eu sentia uma fraqueza extrema, meus membros não me obedeciam, estava prostrada no leito. Qualquer esforço, até o ato de abrir a boca, me cansavam. Eu pensava que estava condenada a ser um vegetal na cama. Entretanto, eu estava enganada, havia um exército de pessoas para me tirar daquela letargia.

              Alana parou para enxugar algumas lágrimas, que teimavam em cair e salgar seus lábios, provocando dor na ferida. Depois continuou:

              -Aos poucos fui recuperando as forças através da alimentação por via oral e venosa. Pelo esforço constante das fisioterapeutas, assistência psicológica, a competência dos médicos e enfermeiros que estiveram ao meu lado o tempo todo, fizeram com que eu recuperasse parte de minha antiga vitalidade..

          - Foi muito difícil, mas estou me restabelecendo bem. Faz dois meses que tudo começou, ainda falta muito para eu voltar a ser a mulher, que eu era antes do Coronavírus.

         - Mas tenho certeza de que serei uma pessoa muito melhor, quando tudo isso acabar. Serei mais humana e consciente de que todos temos que ser mais solidários com o próximo.

            - A vida é tênue e precisamos entender o que move o mundo, que é o amor fraterno. Esse amor esteve por detrás de tantas máscaras, que foram colocadas nos rostos de profissionais de saúde do mundo inteiro. Eu acredito que essa tenha sido a mensagem, que Deus nos enviou, mais solidariedade e amor fraterno entre os seres humanos.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 24 de junho de 2020

"VOLTA PRA MIM" "(...) ESSA PAIXÃO É MEU MUNDO, UM SENTIMENTO PROFUNDO. SONHO ACORDADO UM SEGUNDO, QUE VOCÊ VAI LIGAR. O TELEFONE QUE TOCA, EU DIGO ALÔ SEM RESPOSTA, MAS NÃO DESLIGA, ESCUTA O QUE EU VOU TE FALAR. (...)" ROUPA NOVA. COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI

                 COM LÁGRIMAS NOS OLHOS

CAPÍTULO NOVE
         Alana estava melhorando aos poucos e já conseguia dizer algumas frases, sem precisar parar para tossir. Treinou durante uma semana para sua apresentação. Era o primeiro vídeo que ela fazia para o youtube e sua expectativa era muito grande.

           A convalescente ainda ficava muito tempo dentro do seu quarto, a fraqueza estabelecida durante o tempo de sua internação, custava a ser vencida. Mesmo tendo uma alimentação balanceada e farta, não tinha apetite. Os alimentos não tinham gosto de nada, parecia que eram pastas insossas.

           Passava grande parte do tempo deitada, sentia-se muito cansada aos menores esforços realizados. O médico disse que poderia demorar bastante, para a paciente se recuperar; seu caso fora muito grave.

            O técnico em informática a ensinou a mexer com o sistema da internet e, ela passou dias construindo um projeto. Em outros dias, Alana esteve aprendendo como criar, editar e postar vídeos no youtube. Queria esclarecer as pessoas sobre o Coronavírus, do ponto de vista de uma paciente.

           O primeiro vídeo seria sobre os três dias anteriores a sua intubação, pois durante os dez dias em que ela esteve sedada, não se lembrava de nada. Era um intervalo sem lembranças em sua vida, poderia ter morrido, que não saberia ou sentiria qualquer coisa. Aqueles dias faziam parte do grande mistério, que envolve a eternidade.  

            As gravações foram feitas aos poucos, por isso o vídeo teria que ser editado. A nova youtuber parou, muitas vezes, para descansar, era um esforço desgastante. Respirava fundo e depois de tomar fôlego, continuava. Foram horas de gravação, para completar o roteiro. Saulo contratou um webmaster para assessorar sua esposa, ele queria ajuda-la em sua recuperação; a amava e queria fazê-la voltar a se ocupar de coisas úteis.

            Alana abriu a apresentação de dentro do seu quarto e foi logo dizendo, que o propósito daquele vídeo era o de ajudar as pessoas. Queria esclarecer fatos sobre a tão terrível doença. Assim, seu relato começou:

         - A última vez que saí da minha casa, foi para fazer compras no mercado, acompanhada da minha secretária do lar. Não tivemos nenhuma intercorrência relevante, que pudesse explicar o fato de eu ter pegado o Covid 19.

           - Depois dos acontecimentos, nós, eu e a Vanda, nos lembramos que, dias antes, estivemos na manicure. Lá havia uma cliente que estava com gripe, segundo informações dela própria. Conversamos durante a espera do atendimento, possivelmente tratava-se de Coronavirus, mas nunca saberemos. Não sei o nome dela e muito menos o endereço, era uma freguesa ocasional do salão de beleza, esclareceu a dona do estabelecimento.

         - Também não importa de onde veio o vírus, mesmo porque o médico disse que poderia ter vindo de qualquer lugar, até de uma correspondência do correio, ou no próprio mercado, uma vez que ele está no ar e é altamente transmissível.

            - À noite, que precedeu a minha ida ao hospital, foi a mais terrível possível. Dores no corpo, febre, diarreia, dor de cabeça e falta de ar foram os motivos da minha internação.  Nos dias seguintes, apesar de tomar uma porção de remédios na veia, eu só piorava.

          - A falta de ar era insuportável e o esforço para aspirar o oxigênio era enorme, parecia sufocar. No terceiro dia, eu pensei que iria morrer, estava ofegante e com muita febre; não conseguia deitar, tamanha era a dor nas costas, ficava sentada na cama.

          - Nesse dia, eu ouvi o médico dizer para a enfermeira, que tinha vagado um respirador e que ela deveria me preparar para o mesmo. Não poderiam esperar mais, ou iriam me perder.

            – Eu estava tão mal, que não entendi o que eles disseram. Qualquer coisa para que eu pudesse respirar, seria bem-vinda.

            Então, seus olhos se encheram de lágrimas, a emoção tomou conta de sua voz. Ela respirou fundo para terminar o vídeo e agradeceu a todos que assistiam. 

           E no final, disse que continuaria o relato no próximo vídeo, a emoção a fez parar por ali.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.


quarta-feira, 17 de junho de 2020

"VOLTA PRA MIM" "(...) SEMPRE DEPOIS DAS BRIGAS, NÓS NOS AMAMOS MUITO, DIA E NOITE A SÓS, O UNIVERSO ERA POUCO PRA NÓS. O QUE ACONTECEU PRA VOCÊ PARTIR ASSIM. SE TE FIZ ALGO ERRADO, PERDÃO! VOLTA PRA MIM". COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI. BANDA "ROUPA NOVA"

ENTRE QUATRO PAREDES

CAPÍTULO OITO
             A primeira noite em sua casa foi tranquila, assim Alana definiu sua volta para casa. Ela dormiu praticamente sentada, recostada em travesseiros, mas estava em casa e isso fazia toda a diferença. Saulo ficou no quarto das crianças, que ficava ao lado do quarto do casal; ele deveria permanecer longe de sua esposa.

          O médico pediu esse afastamento, para que ela pudesse se recuperar mais rapidamente. Estava muito fragilizada e não deveria ter contato com pessoas, que estiveram na rua. Em seguida frisou:

            - Se tiver uma recaída, será gravíssimo e até fatal.

            Vanda, de máscara e luvas, limpava o quarto enquanto a paciente tomava banho e, depois de ajuda-la, saia e só voltava para deixar a comida em uma banqueta, que ficava do lado de fora da porta. A comunicação com o mundo exterior se dava por ali, abria a porta, recolhia e depois devolvia; reclusão total.

           O marido deu a sua mulher uma bengala, que deveria bater na parede, toda vez que precisasse de alguma coisa, durante a noite. E, ela também poderia fazer uma chamada no celular. Saulo dormia encostado na parede, qualquer barulho ele pulava da cama.

         Alana tinha televisão, rádio, livros e notebook para se distrair, mas não sentia vontade de mexer com essas coisas, precisava dormir, sentia-se fraca. Os primeiros dias foram de repouso e recuperação alimentar, ela dormia a maior parte do tempo, fazendo uso de oxigênio.

           Depois de uma semana, ela já estava mais forte e passou a ver TV, abrir os e-mails e folear revistas. Tudo limpo e higienizado por Vanda, que dormia na casa desde que a patroa chegara. Estava à disposição da paciente, não saia na rua para nada. Saulo se encarregava de abastecer a casa e manter as contas em dia.

          No sábado, o marido apareceu com uma novidade, uma cartinha escrita pela filha mais velha e com beijos de batom das duas meninas. Poucas palavras, que continham uma mensagem de amor:

              -“Mamãe, fique boa logo, estamos com saudades. Nós a amamos. Beijos”

             Alana chorou, estava magoada com a vida, suas filhas estavam sofrendo e ela não poderia fazer nada. O marido ouviu os soluços e falou com ela no whatsApp por um longo tempo, depois ela adormeceu, a emoção fora grande.

           No dia seguinte, a convalescente percebeu que alguma coisa havia mudado dentro dela. Estava mais sentimental, chorona e carente. O isolamento a estava deprimindo e ela precisava fazer alguma coisa, para se livrar daqueles sentimentos depressivos. Precisava lutar para sair bem daquela provação e cuidar das suas filhas.

           Alana era uma moça formada em pedagogia, mas não exercia sua profissão. O casal estava com a situação financeira controlada e ela se dedicava aos cuidados da família. Era ativa frequentadora do clube de campo, onde levava as meninas para as diversas atividades, que havia no local. Tinha compromissos todos os dias, sua vida era cheia de amigos, festas e divertimentos.

           No entanto, pegou o famigerado vírus, que a jogou numa cama e impôs uma solidão forçada. A mulher sabia que tinha inteligência suficiente para mudar aquela situação, precisava reagir. Então, passou um dia inteiro pensando no que fazer para preencher o seu tempo ocioso.

           Quando viu uma reportagem sobre pacientes internados por Covid 19, na qual a família não tinha nenhuma informação efetiva do que se passava com eles, surgiu uma ideia. Iria fazer vídeos para contar como foi pegar o Coronavírus. Contaria detalhes de tudo que passou e também de sua recuperação. Pensava em ajudar pessoas e esclarecer fatos.

               Mandou uma mensagem para Saulo comprar um tripé e uma câmera profissional, para ela gravar seus vídeos. Iria aprender como mexer nos aparelhos e como montar um canal no youtuber. Estava empolgada, era assim que ela era, guerreira até o fim.

           O marido queria ajudá-la a superar o trauma da doença e se dispôs a facilitar o seu desejo. Conhecia uma pessoa que poderia criar um canal para sua esposa e orientá-la para se iniciar como youtuber.

             Na semana seguinte, o técnico com todos os apetrechos necessários foi levado à casa de Alana. Ela estava muito feliz e o acompanhou na instalação da câmera para os testes. Começava uma nova fase em sua vida.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 10 de junho de 2020

BANDA "ROUPA NOVA" "VOLTA PRA MIM" AMANHECI SOZINHO, NA CAMA UM VAZIO, MEU CORAÇÃO QUE SE FOI. SEM DIZER SE VOLTAVA DEPOIS. SOFRIMENTO MEU, NÃO VOU AGUENTAR. SE A MULHER QUE EU NASCI PRA VIVER, NÃO ME QUER MAIS" "(...).CANTORES: CONJUNTO "ROUPA NOVA" COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI"

UM DIA DE CADA VEZ

CAPÍTULO SETE
             Alana estava melhorando, mas era visível o cansaço que apresentava ao falar. O médico explicou, que o pulmão da paciente fora severamente comprometido e sua regeneração seria lenta. Poderia demorar meses, para ela voltar a viver normalmente.

                 O caso de Alana fora um dos mais graves acolhidos naquele hospital, então, deveriam ter paciência. Ela estava desenganada, quando reagiu inesperadamente; era um milagre estar viva. Falou e olhou para cima, queria agradecer a Deus.

             Depois, o médico continuou explicando, parecia comovido.

           - A paciente ainda ficará algum tempo no hospital. Precisa tomar antibióticos para combater a pneumonia e receber a fisioterapia respiratória e muscular. Suspirou e, por um momento, parecia pensar no que diria a seguir, depois prosseguiu:

               - Qualquer paciente que fica deitado por mais de quarenta e oito horas, começa a perder o tônus muscular. O corpo humano foi projetado para estar em constante movimento, se ficar parado perde a higidez física.

            - Assim, uma paciente que ficou por duas semanas internada e entubada por dez dias, necessita de fisioterapia passiva desde os primeiros dias, ou perderá a força muscular, que é tão necessária para sua recuperação.

           - No entanto, em tempos de pandemia é impossível atender a todos os pacientes com esses cuidados complementares. Focamos em mantê-los vivos e nem sempre obtemos êxito. Se sobrevivem, então pensamos em sua recuperação motora.

             Em seguida se afastou, havia muitos pacientes que precisavam dele.

            No dia seguinte, Saulo chegou para visitar sua esposa e a encontrou dormindo. Imediatamente ficou preocupado.

           - Será que ela piorou? Está pálida e respira dentro da máscara de oxigênio, parece enfraquecida. Com esses pensamentos o homem procurou a enfermeira.

              – O que está acontecendo? Alana piorou? Perguntou assustado.

            – Não, ela está debilitada, por isso precisa dormir bastante, para recuperar suas forças. Respondeu a mulher, prestativa. Depois continuou:

               - A paciente precisa de assistência especializada para se recuperar. Fisioterapia para fortalecer a musculatura e voltar a ter os movimentos dos membros ativos. No momento, ela não consegue ficar em pé ou pentear os cabelos.

            - A assistência aqui no hospital é a melhor possível, mas insuficiente. O senhor deverá contratar um profissional, para acompanha-la diariamente. Esperamos que reaja e tenha grandes progressos, uma vez que é jovem. A recuperação pode ser longa e demorada; Alana deverá viver um dia de cada vez.

Os dias foram passando e a paciente ganhando forças para se recuperar. O marido esteve ao seu lado no hospital, todos os dias, para lhe dar apoio e acompanhar sua recuperação. Quando completou vinte e cinco dias de internação, a moça recebeu alta.

  A situação era boa, mas carecia de acompanhamento, ela dava alguns passos dentro do quarto, usava um andador. Não tinha o equilíbrio suficiente para se manter em pé. Sabia que faltava muito, para voltar a ser o que era antes.

Saulo recebeu a notícia e ficou muito feliz. Saiu cedo para buscar sua esposa. Estava aguardando no corredor quando ela apareceu de cadeira de rodas; foi emocionante. Os funcionários, os enfermeiros e os médicos fizeram um cordão dos dois lados do corredor, enquanto ela passava, todos, batiam palmas e cantavam, para homenagear a paciente recuperada.

O marido chegou as lágrimas, sua esposa estava de volta para sua família. Intimamente agradeceu a Deus pela sua felicidade.  Chegando em casa, onde já estava tudo preparado para recebê-la e a Vanda a sua espera, Alana se emocionou.

Mais tarde, Saulo foi buscar as filhas para ver a mãe. Ficariam mais algum tempo com a tia, pois a mãe deveria descansar. O quarto fora adaptado com umidificador, oxigênio, bombinha para inibir a falta de ar e mais uma porção de remédios, que a paciente poderia precisar. Deveria permanecer isolada para sua proteção, pois estava enfraquecida e poderia piorar em contato com outras pessoas.

 As meninas viram a mãe da porta do quarto e depois voltaram para a casa da tia. A mãe falava com dificuldade e tossia entre as falas, cansava-se facilmente e sempre recorria à bombinha para asma. Ali, em sua casa começaria sua recuperação de vida, depois de uma quase morte.

Precisava fortalecer o corpo e alimentar a alma, que estava fragilizada, mas isso se daria batalhando um dia de cada vez.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

MEU MUNDO REINVENTADO.

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