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quarta-feira, 1 de julho de 2020

"ROUPA NOVA" "(...) EU TE AMO E VOU GRITAR PRA TODO O MUNDO OUVIR. TER VOCÊ É MEU DESEJO DE VIVER. SOU MENINO E TEU AMOR É QUE ME FAZ CRESCER. E ME ENTREGO CORPO E ALMA PRA VOCÊ. SEMPRE DEPOIS DAS BRIGAS, NÓS NOS AMAMOS MUITO". "(...)' COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI

                                   O DESPERTAR

CAPÍTULO DEZ
              As curtidas e inscrições no canal de Alana foram surpreendentes, em uma semana ela acumulava vinte mil inscritos e quase trinta mil curtidas. Era evidente que muita gente tinha curiosidade em saber, o que estava acontecendo com os pacientes dentro dos hospitais, que acolhiam os infectados por Coronavírus.

              Ela ficou contente com o sucesso do relato sobre sua doença, acometida pelo vírus desconhecido. Os fatos relatados ocorreram antes dela estar entubada, num leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Por mais que tentasse, não se lembrava de nada, parecia que aqueles dez dias não existiram.

             Em certo momento, a moça levou a mão aos lábios, no qual havia uma ferida no canto esquerdo da boca. Antes de sair do hospital, ela perguntou para a enfermeira o que havia ferido a sua boca e a resposta a surpreendeu:

              - O tubo foi amarrado desse lado de sua boca e deve ter ficado esfregando enquanto você respirava, por isso acabou causando o ferimento. Havia muitos pacientes para serem cuidados, que quando perceberam sua boca já estava ferida. Logo vai sarar, fique tranquila. Afirmou a enfermeira responsável pela UTI. A paciente resignada percebeu, que nada poderia ser feito.

                  Estava cicatrizando, mas era um ferimento marcante, então, depois da explicação, Alana iniciou seu relato final:

            - Essa ferida é apenas uma amostra, de tudo que eu passei durante vinte e cinco dias no hospital. Além de algumas coisas ruins, muitas outras boas aconteceram. Sou agradecida a todos os funcionários daquele estabelecimento, que contribuíram para me manter viva.

             Parou por um momento, estava emocionada e depois de um suspiro continuou:

                - É um esforço continuo e enorme de todos eles, são pessoas dedicadas, que apesar do medo de contaminar suas famílias, continuam na luta diária. São médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e além deles, temos também que nos lembrarmos do pessoal da nutrição, do pessoal da higiene, do pessoal da manutenção, do pessoal da recepção e do pessoal do transporte, todos merecem serem reconhecidos como mantenedores de vidas.

           -Muitos deles perderão a própria vida, por estarem na linha de frente da pandemia, mesmo assim continuam em suas lutas solitárias. Muitos terão a marca da máscara, para sempre, crivadas em seus rostos, pois quebraram cadeias de músculos faciais, por uso contínuo da proteção contra o famigerado vírus.

            Alana parou de falar e levou um copo de água à boca, tinha a garganta seca do esforço exagerado e emocionado, ao citar tantos heróis anônimos. Depois continuou:

           - Quando abri os olhos, não sabia onde estava e custei a me lembrar quem eu era. Acordei de um pesadelo mortal, inanimado, profundo e inexplicável. Onde eu estivera durante aqueles dias? Não sei dizer, estava inerte para o mundo conhecido.

            - Mas, aos poucos fui retornando a vida e voltei a ser a mulher que está aqui. Fragilizada, no entanto, inteira e pronta para recuperar a saúde e continuar a lutar pela vida. Quero falar dos últimos doze dias, que passei me recuperando no hospital.

                – Foram dias difíceis, pois eu sentia uma fraqueza extrema, meus membros não me obedeciam, estava prostrada no leito. Qualquer esforço, até o ato de abrir a boca, me cansavam. Eu pensava que estava condenada a ser um vegetal na cama. Entretanto, eu estava enganada, havia um exército de pessoas para me tirar daquela letargia.

              Alana parou para enxugar algumas lágrimas, que teimavam em cair e salgar seus lábios, provocando dor na ferida. Depois continuou:

              -Aos poucos fui recuperando as forças através da alimentação por via oral e venosa. Pelo esforço constante das fisioterapeutas, assistência psicológica, a competência dos médicos e enfermeiros que estiveram ao meu lado o tempo todo, fizeram com que eu recuperasse parte de minha antiga vitalidade..

          - Foi muito difícil, mas estou me restabelecendo bem. Faz dois meses que tudo começou, ainda falta muito para eu voltar a ser a mulher, que eu era antes do Coronavírus.

         - Mas tenho certeza de que serei uma pessoa muito melhor, quando tudo isso acabar. Serei mais humana e consciente de que todos temos que ser mais solidários com o próximo.

            - A vida é tênue e precisamos entender o que move o mundo, que é o amor fraterno. Esse amor esteve por detrás de tantas máscaras, que foram colocadas nos rostos de profissionais de saúde do mundo inteiro. Eu acredito que essa tenha sido a mensagem, que Deus nos enviou, mais solidariedade e amor fraterno entre os seres humanos.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 24 de junho de 2020

"VOLTA PRA MIM" "(...) ESSA PAIXÃO É MEU MUNDO, UM SENTIMENTO PROFUNDO. SONHO ACORDADO UM SEGUNDO, QUE VOCÊ VAI LIGAR. O TELEFONE QUE TOCA, EU DIGO ALÔ SEM RESPOSTA, MAS NÃO DESLIGA, ESCUTA O QUE EU VOU TE FALAR. (...)" ROUPA NOVA. COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI

                 COM LÁGRIMAS NOS OLHOS

CAPÍTULO NOVE
         Alana estava melhorando aos poucos e já conseguia dizer algumas frases, sem precisar parar para tossir. Treinou durante uma semana para sua apresentação. Era o primeiro vídeo que ela fazia para o youtube e sua expectativa era muito grande.

           A convalescente ainda ficava muito tempo dentro do seu quarto, a fraqueza estabelecida durante o tempo de sua internação, custava a ser vencida. Mesmo tendo uma alimentação balanceada e farta, não tinha apetite. Os alimentos não tinham gosto de nada, parecia que eram pastas insossas.

           Passava grande parte do tempo deitada, sentia-se muito cansada aos menores esforços realizados. O médico disse que poderia demorar bastante, para a paciente se recuperar; seu caso fora muito grave.

            O técnico em informática a ensinou a mexer com o sistema da internet e, ela passou dias construindo um projeto. Em outros dias, Alana esteve aprendendo como criar, editar e postar vídeos no youtube. Queria esclarecer as pessoas sobre o Coronavírus, do ponto de vista de uma paciente.

           O primeiro vídeo seria sobre os três dias anteriores a sua intubação, pois durante os dez dias em que ela esteve sedada, não se lembrava de nada. Era um intervalo sem lembranças em sua vida, poderia ter morrido, que não saberia ou sentiria qualquer coisa. Aqueles dias faziam parte do grande mistério, que envolve a eternidade.  

            As gravações foram feitas aos poucos, por isso o vídeo teria que ser editado. A nova youtuber parou, muitas vezes, para descansar, era um esforço desgastante. Respirava fundo e depois de tomar fôlego, continuava. Foram horas de gravação, para completar o roteiro. Saulo contratou um webmaster para assessorar sua esposa, ele queria ajuda-la em sua recuperação; a amava e queria fazê-la voltar a se ocupar de coisas úteis.

            Alana abriu a apresentação de dentro do seu quarto e foi logo dizendo, que o propósito daquele vídeo era o de ajudar as pessoas. Queria esclarecer fatos sobre a tão terrível doença. Assim, seu relato começou:

         - A última vez que saí da minha casa, foi para fazer compras no mercado, acompanhada da minha secretária do lar. Não tivemos nenhuma intercorrência relevante, que pudesse explicar o fato de eu ter pegado o Covid 19.

           - Depois dos acontecimentos, nós, eu e a Vanda, nos lembramos que, dias antes, estivemos na manicure. Lá havia uma cliente que estava com gripe, segundo informações dela própria. Conversamos durante a espera do atendimento, possivelmente tratava-se de Coronavirus, mas nunca saberemos. Não sei o nome dela e muito menos o endereço, era uma freguesa ocasional do salão de beleza, esclareceu a dona do estabelecimento.

         - Também não importa de onde veio o vírus, mesmo porque o médico disse que poderia ter vindo de qualquer lugar, até de uma correspondência do correio, ou no próprio mercado, uma vez que ele está no ar e é altamente transmissível.

            - À noite, que precedeu a minha ida ao hospital, foi a mais terrível possível. Dores no corpo, febre, diarreia, dor de cabeça e falta de ar foram os motivos da minha internação.  Nos dias seguintes, apesar de tomar uma porção de remédios na veia, eu só piorava.

          - A falta de ar era insuportável e o esforço para aspirar o oxigênio era enorme, parecia sufocar. No terceiro dia, eu pensei que iria morrer, estava ofegante e com muita febre; não conseguia deitar, tamanha era a dor nas costas, ficava sentada na cama.

          - Nesse dia, eu ouvi o médico dizer para a enfermeira, que tinha vagado um respirador e que ela deveria me preparar para o mesmo. Não poderiam esperar mais, ou iriam me perder.

            – Eu estava tão mal, que não entendi o que eles disseram. Qualquer coisa para que eu pudesse respirar, seria bem-vinda.

            Então, seus olhos se encheram de lágrimas, a emoção tomou conta de sua voz. Ela respirou fundo para terminar o vídeo e agradeceu a todos que assistiam. 

           E no final, disse que continuaria o relato no próximo vídeo, a emoção a fez parar por ali.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.


quarta-feira, 17 de junho de 2020

"VOLTA PRA MIM" "(...) SEMPRE DEPOIS DAS BRIGAS, NÓS NOS AMAMOS MUITO, DIA E NOITE A SÓS, O UNIVERSO ERA POUCO PRA NÓS. O QUE ACONTECEU PRA VOCÊ PARTIR ASSIM. SE TE FIZ ALGO ERRADO, PERDÃO! VOLTA PRA MIM". COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI. BANDA "ROUPA NOVA"

ENTRE QUATRO PAREDES

CAPÍTULO OITO
             A primeira noite em sua casa foi tranquila, assim Alana definiu sua volta para casa. Ela dormiu praticamente sentada, recostada em travesseiros, mas estava em casa e isso fazia toda a diferença. Saulo ficou no quarto das crianças, que ficava ao lado do quarto do casal; ele deveria permanecer longe de sua esposa.

          O médico pediu esse afastamento, para que ela pudesse se recuperar mais rapidamente. Estava muito fragilizada e não deveria ter contato com pessoas, que estiveram na rua. Em seguida frisou:

            - Se tiver uma recaída, será gravíssimo e até fatal.

            Vanda, de máscara e luvas, limpava o quarto enquanto a paciente tomava banho e, depois de ajuda-la, saia e só voltava para deixar a comida em uma banqueta, que ficava do lado de fora da porta. A comunicação com o mundo exterior se dava por ali, abria a porta, recolhia e depois devolvia; reclusão total.

           O marido deu a sua mulher uma bengala, que deveria bater na parede, toda vez que precisasse de alguma coisa, durante a noite. E, ela também poderia fazer uma chamada no celular. Saulo dormia encostado na parede, qualquer barulho ele pulava da cama.

         Alana tinha televisão, rádio, livros e notebook para se distrair, mas não sentia vontade de mexer com essas coisas, precisava dormir, sentia-se fraca. Os primeiros dias foram de repouso e recuperação alimentar, ela dormia a maior parte do tempo, fazendo uso de oxigênio.

           Depois de uma semana, ela já estava mais forte e passou a ver TV, abrir os e-mails e folear revistas. Tudo limpo e higienizado por Vanda, que dormia na casa desde que a patroa chegara. Estava à disposição da paciente, não saia na rua para nada. Saulo se encarregava de abastecer a casa e manter as contas em dia.

          No sábado, o marido apareceu com uma novidade, uma cartinha escrita pela filha mais velha e com beijos de batom das duas meninas. Poucas palavras, que continham uma mensagem de amor:

              -“Mamãe, fique boa logo, estamos com saudades. Nós a amamos. Beijos”

             Alana chorou, estava magoada com a vida, suas filhas estavam sofrendo e ela não poderia fazer nada. O marido ouviu os soluços e falou com ela no whatsApp por um longo tempo, depois ela adormeceu, a emoção fora grande.

           No dia seguinte, a convalescente percebeu que alguma coisa havia mudado dentro dela. Estava mais sentimental, chorona e carente. O isolamento a estava deprimindo e ela precisava fazer alguma coisa, para se livrar daqueles sentimentos depressivos. Precisava lutar para sair bem daquela provação e cuidar das suas filhas.

           Alana era uma moça formada em pedagogia, mas não exercia sua profissão. O casal estava com a situação financeira controlada e ela se dedicava aos cuidados da família. Era ativa frequentadora do clube de campo, onde levava as meninas para as diversas atividades, que havia no local. Tinha compromissos todos os dias, sua vida era cheia de amigos, festas e divertimentos.

           No entanto, pegou o famigerado vírus, que a jogou numa cama e impôs uma solidão forçada. A mulher sabia que tinha inteligência suficiente para mudar aquela situação, precisava reagir. Então, passou um dia inteiro pensando no que fazer para preencher o seu tempo ocioso.

           Quando viu uma reportagem sobre pacientes internados por Covid 19, na qual a família não tinha nenhuma informação efetiva do que se passava com eles, surgiu uma ideia. Iria fazer vídeos para contar como foi pegar o Coronavírus. Contaria detalhes de tudo que passou e também de sua recuperação. Pensava em ajudar pessoas e esclarecer fatos.

               Mandou uma mensagem para Saulo comprar um tripé e uma câmera profissional, para ela gravar seus vídeos. Iria aprender como mexer nos aparelhos e como montar um canal no youtuber. Estava empolgada, era assim que ela era, guerreira até o fim.

           O marido queria ajudá-la a superar o trauma da doença e se dispôs a facilitar o seu desejo. Conhecia uma pessoa que poderia criar um canal para sua esposa e orientá-la para se iniciar como youtuber.

             Na semana seguinte, o técnico com todos os apetrechos necessários foi levado à casa de Alana. Ela estava muito feliz e o acompanhou na instalação da câmera para os testes. Começava uma nova fase em sua vida.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 10 de junho de 2020

BANDA "ROUPA NOVA" "VOLTA PRA MIM" AMANHECI SOZINHO, NA CAMA UM VAZIO, MEU CORAÇÃO QUE SE FOI. SEM DIZER SE VOLTAVA DEPOIS. SOFRIMENTO MEU, NÃO VOU AGUENTAR. SE A MULHER QUE EU NASCI PRA VIVER, NÃO ME QUER MAIS" "(...).CANTORES: CONJUNTO "ROUPA NOVA" COMPOSITORES: CLEBERSON HORSTH VIEIRA DE GOUVEIA/ RICARDO GEORGES FEGHALI"

UM DIA DE CADA VEZ

CAPÍTULO SETE
             Alana estava melhorando, mas era visível o cansaço que apresentava ao falar. O médico explicou, que o pulmão da paciente fora severamente comprometido e sua regeneração seria lenta. Poderia demorar meses, para ela voltar a viver normalmente.

                 O caso de Alana fora um dos mais graves acolhidos naquele hospital, então, deveriam ter paciência. Ela estava desenganada, quando reagiu inesperadamente; era um milagre estar viva. Falou e olhou para cima, queria agradecer a Deus.

             Depois, o médico continuou explicando, parecia comovido.

           - A paciente ainda ficará algum tempo no hospital. Precisa tomar antibióticos para combater a pneumonia e receber a fisioterapia respiratória e muscular. Suspirou e, por um momento, parecia pensar no que diria a seguir, depois prosseguiu:

               - Qualquer paciente que fica deitado por mais de quarenta e oito horas, começa a perder o tônus muscular. O corpo humano foi projetado para estar em constante movimento, se ficar parado perde a higidez física.

            - Assim, uma paciente que ficou por duas semanas internada e entubada por dez dias, necessita de fisioterapia passiva desde os primeiros dias, ou perderá a força muscular, que é tão necessária para sua recuperação.

           - No entanto, em tempos de pandemia é impossível atender a todos os pacientes com esses cuidados complementares. Focamos em mantê-los vivos e nem sempre obtemos êxito. Se sobrevivem, então pensamos em sua recuperação motora.

             Em seguida se afastou, havia muitos pacientes que precisavam dele.

            No dia seguinte, Saulo chegou para visitar sua esposa e a encontrou dormindo. Imediatamente ficou preocupado.

           - Será que ela piorou? Está pálida e respira dentro da máscara de oxigênio, parece enfraquecida. Com esses pensamentos o homem procurou a enfermeira.

              – O que está acontecendo? Alana piorou? Perguntou assustado.

            – Não, ela está debilitada, por isso precisa dormir bastante, para recuperar suas forças. Respondeu a mulher, prestativa. Depois continuou:

               - A paciente precisa de assistência especializada para se recuperar. Fisioterapia para fortalecer a musculatura e voltar a ter os movimentos dos membros ativos. No momento, ela não consegue ficar em pé ou pentear os cabelos.

            - A assistência aqui no hospital é a melhor possível, mas insuficiente. O senhor deverá contratar um profissional, para acompanha-la diariamente. Esperamos que reaja e tenha grandes progressos, uma vez que é jovem. A recuperação pode ser longa e demorada; Alana deverá viver um dia de cada vez.

Os dias foram passando e a paciente ganhando forças para se recuperar. O marido esteve ao seu lado no hospital, todos os dias, para lhe dar apoio e acompanhar sua recuperação. Quando completou vinte e cinco dias de internação, a moça recebeu alta.

  A situação era boa, mas carecia de acompanhamento, ela dava alguns passos dentro do quarto, usava um andador. Não tinha o equilíbrio suficiente para se manter em pé. Sabia que faltava muito, para voltar a ser o que era antes.

Saulo recebeu a notícia e ficou muito feliz. Saiu cedo para buscar sua esposa. Estava aguardando no corredor quando ela apareceu de cadeira de rodas; foi emocionante. Os funcionários, os enfermeiros e os médicos fizeram um cordão dos dois lados do corredor, enquanto ela passava, todos, batiam palmas e cantavam, para homenagear a paciente recuperada.

O marido chegou as lágrimas, sua esposa estava de volta para sua família. Intimamente agradeceu a Deus pela sua felicidade.  Chegando em casa, onde já estava tudo preparado para recebê-la e a Vanda a sua espera, Alana se emocionou.

Mais tarde, Saulo foi buscar as filhas para ver a mãe. Ficariam mais algum tempo com a tia, pois a mãe deveria descansar. O quarto fora adaptado com umidificador, oxigênio, bombinha para inibir a falta de ar e mais uma porção de remédios, que a paciente poderia precisar. Deveria permanecer isolada para sua proteção, pois estava enfraquecida e poderia piorar em contato com outras pessoas.

 As meninas viram a mãe da porta do quarto e depois voltaram para a casa da tia. A mãe falava com dificuldade e tossia entre as falas, cansava-se facilmente e sempre recorria à bombinha para asma. Ali, em sua casa começaria sua recuperação de vida, depois de uma quase morte.

Precisava fortalecer o corpo e alimentar a alma, que estava fragilizada, mas isso se daria batalhando um dia de cada vez.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 3 de junho de 2020

"CADA VOLTA É UM RECOMEÇO" "(...) COMO SE A SAUDADE FOSSE A COISA MAIS BANAL. E EU CHEGANDO SEMPRE COMO UM LOUCO, PRA DIZER QUE AMO VOCÊ. AMO VOCÊ, AMO VOCÊ, EU AMO VOCÊ, AMO VOCÊ". COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB VALLE/ NELSON DE MORAIS FILHO. CANTORES: ZEZÉ DI CAMARGO E LUCIANO


                 UM RAIO DE LUZ

                                             CAPÍTULO SEIS
          Saulo entrou rapidamente no hospital, precisava ver sua esposa viva, já não acreditava mais nessa possibilidade. Fora avisado de que ficaria apenas cinco minutos dentro do box, em que Alana se encontrava, era o semi intensivo. A paciente estava debilitada e precisava de descanso; não poderia falar, porque isso a deixava cansada.

         Depois de lavar as mãos, colocar máscara e avental, ele foi conduzido até o box vinte e três. Então, Saulo viu sua esposa por detrás da máscara de oxigênio. Ela sorriu para ele, que se derreteu em lágrimas. Alana estava de volta a vida. O marido ficou chorando, silenciosamente, em pé diante da cama da mulher.

         A paciente estava muito fragilizada, pálida, emagrecida, depois de estar internada durante treze dias, era fácil entender a situação atual. Alana ficara intubada durante dez dias e fora uma guerreira incessante, ou teria ficado pelo caminho, foi o que o médico disse para Saulo.

           Sua luta foi diária, lenta e constante, isso a fez continuar viva, era o que importava naquele momento. Estava em guerra contra um vírus invisível e ainda teria uma longa recuperação pela frente. De uma coisa Saulo tinha certeza, faria tudo que pudesse para que ela ficasse bem.

            O marido ficou algum tempo parado em frente a cama, custava a acreditar que sua esposa estava viva. Parecia uma menina no leito, estava menor e mais magra, apenas seus olhos grandes brilhavam como sempre.

           O homem, em sua solidão, tivera muitos pesadelos nos últimos dias e o pior deles fora a morte de Alana. As informações eram péssimas e ninguém deixava ele subir para ver sua esposa. Assim, sua imaginação corria solta para o pior lado possível. Mas, agora estava ali e precisava aproveitar para saber mais dela e lhe dar apoio.

             Então, ele se aproximou do leito e disse:

           -Nós a amamos, força meu amor; precisamos de você. E, novamente, duas lágrimas rolaram pelo seu rosto. A paciente não podia falar, estava com a máscara de oxigênio, então ela fez que sim com a cabeça.

             Em seguida, a enfermeira disse que ele deveria se retirar, Alana precisava descansar.

               Saulo não poderia se aproximar dela e lhe mandou um beijo de longe, ela sorriu e com a mão fez sinal de positivo. Depois foi saindo e olhando para trás, estava emocionado. Sentia-se mais tranquilo, mas algo o incomodava, ela estava muito fraca e uma ponta de preocupação o atormentava.

- Será que ela vai se recuperar? Parecia tão mal e eles disseram que ela estava melhor! Se agora estava assim, como estaria anteriormente? Com esses pensamentos ele se retirou, voltaria no dia seguinte.

                O homem foi dormir preocupado com a situação de sua mulher. Pela manhã, se levantou e adiantou todos os seus compromissos, para depois do almoço ir visitar Alana. Poderia ficar apenas por cinco minutos, mas seriam suficientes para perceber se ela estava melhor ou não.

                Entrou e foi até o box vinte e três e seu coração disparou quando viu sua mulher. Ela estava recostada nos travesseiros e com um aspecto bem mais animador, que o dia anterior. Ainda permanecia com oxigênio, mas respirava melhor. A enfermeira se aproximou e falou:

               - Ela está progredindo e se continuar assim, poderá ir para a enfermaria e dali para casa. Disse isso sorrindo e se afastou um pouco.

              Saulo agradeceu e sorriu para Alana, que fez um esforço e perguntou:  

                          - Como e onde estão as meninas?  E ele respondeu:

             - Estão com minha irmã, fique tranquila. Ele, então, teve certeza que ela estava se recuperando e tudo poderia voltar ao normal. Aquele fora um raio de luz na escuridão dos últimos dias.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 27 de maio de 2020

"CADA VOLTA É UM RECOMEÇO" "(...) NESSES DESENCONTROS EU INSISTO EM TE ENCONTRAR, COMO SE EU PARTISSE, JÁ PENSANDO EM VOLTAR. COMO SE NO FUNDO, EU NÃO PUDESSE EXISTIR SEM TER VOCÊ. TODA VEZ QUE VOLTO, EU TE VEJO SEMPRE IGUAL.(...)" COMPOSITORES: PAULO SÉRGIO KOSTENB VALLE / NELSON DE MORAIS FILHO. CANTORES: ZEZÉ DI CAMARGO E LUCIANO

DIAS ESCUROS

CAPÍTULO CINCO
              O homem estava tão triste, que se jogou na cama sem jantar. No dia seguinte, acordou quando o Sol já estava alto, o cansaço e as emoções vividas o derrubaram. Levantou-se e procurou alguma coisa para comer. Depois saiu para comprar alimentos e máscaras; todos deveriam usar máscaras, ele ouviu na televisão. Saulo estava emocionalmente aniquilado.

             Ele sabia que deveria ficar em casa, mas estava tão ansioso, que não poderia ficar parado, esperando notícias sobre a saúde de sua mulher. Iria até o hospital e depois passaria no escritório, precisava trabalhar para ocupar sua mente.

                  No hospital, disseram que o boletim diário já havia saído, se quisesse poderia verificar no quadro da parede. Saulo se dirigiu até o painel e lá estava escrito:

            “Os pacientes, que se encontram internados na Unidade de Terapia Intensiva desse hospital (UTI), continuam com o mesmo quadro crítico. Não houve mudanças significativas no estado de saúde de nenhum deles”.

            Saulo sentiu uma dor no coração, sua esposa continuava lutando pela vida e ele não poderia fazer nada, nem mesmo vê-la. Voltou ao escritório, precisava trabalhar para mudar o foco, ou acabaria enlouquecendo. Ficaria em casa trabalhando, assim como seus colegas.

             A casa seria seu lugar de refúgio contra o Coronavírus, um lugar vazio de vida, que se tornara frio com a falta da mulher e das filhas. A foto da família na estante dava um toque de nostalgia na sala, onde podia-se observar a bagunça, já estabelecida na casa.

             Roupas jogadas por todos os lados, na pia da cozinha havia uma porção de louças sujas. Na mesa havia restos de pães, papéis espalhados e outros utensílios usados e o lixo transbordava. Naquele lugar faltava asseio.

          Saulo era um homem sem prendas domésticas e a falta de uma mão feminina era visível. Ele pensou em chamar a Vanda, mas ela estava de quarentena e ele teria que se virar sozinho.

           Lavou as louças, que estavam na pia e deixou escorrendo no apoiador. Pegou as roupas sujas e colocou na máquina de lavar. Seguiu o manual para colocar sabão, amaciante e a ligou a seguir. Olhando ao redor, ficou satisfeito, parecia ter melhorado o aspecto da residência.

             Quando ele se sentou em frente ao computador, a campainha tocou, era seu irmão mais velho, de nome Olavo. Ele soubera que a cunhada estava no hospital e queria ajudar o irmão, no que fosse preciso. Saulo chorou ao contar o ocorrido, não poderia perder sua esposa, ele e as meninas precisavam dela.

           Olavo foi comprar comida e os dois almoçaram juntos. A tarde passou rápido, o rapaz agradeceu a visita ao irmão, sentia-se menos angustiado. Trabalhou até tarde e quando o cansaço chegou, deitou e dormiu. Os dias pareciam se repetir, foram dez longos dias, todos parecidos.

             No décimo segundo dia, o rapaz recebeu a ligação de uma assistente social do hospital. Ele tremeu de medo e na mesma hora pensou:

              - Será que Alana morreu? Sua voz embargou, mas a notícia era boa.

             – Alana, sua esposa, teve uma melhora e hoje foi retirada do tubo que a ligava à máquina. Em dois ou três dias irá para o quarto, então poderá receber sua visita. A mulher falou e desligou em seguida.

            Ele caiu sentado no sofá, estava surpreso, já não tinha esperanças. Sua esposa estava melhorando e ele precisava contar para sua irmã, que cuidava de suas filhas. Saulo parecia uma criança, que ganhou um presente. Ligou para Vanda e pediu que assim que saísse da quarentena, viesse cuidar da casa para preparar a volta de sua esposa.

               O homem ficou elétrico, a vida estaria de volta naquela casa, em poucos dias. Foi ao escritório contar para seu chefe, que estava com esperanças para o retorno de Alana. Mais dois dias e a notícia tão esperada chegou, ele poderia visitar sua mulher.

           Tratou de se arrumar, passou em uma floricultura e comprou um maço de miosótis. São florezinhas pequenas e charmosas, que sua esposa gostava muito. Chegando na recepção do hospital, foi informado de que as flores ficariam ali mesmo, eram proibidas nos quartos. Saulo sorriu e disse:

           - Deixe-as aí, pois representam a recuperação do meu coração, que enfeitem esse lugar. Eu preciso da minha mulher.

            Em seguida entrou sorrindo, fazia muitos dias que aquele homem só chorava.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

            

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.