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quarta-feira, 11 de março de 2020

"A NOITE DO MEU BEM" "HOJE, EU QUERO A ROSA MAIS LINDA QUE HOUVER, QUERO A PRIMEIRA ESTRELA QUE VIER, PARA ENFEITAR A NOITE DO MEU BEM. HOJE, EU QUERO PAZ DE CRIANÇA DORMINDO E O ABANDONO DE FLORES SE ABRINDO, PARA ENFEITAR A NOITE DO MEU BEM.(...) COMPOSITORA E CANTORA: DOLORES DURAN

ME ENGANA, QUE EU GOSTO.

CAPÍTULO CINCO
             A partir desse dia, Lívia abriu seus olhos e ouvidos, não tinha vocação para ser traída. Sentia que havia outra mulher entre ela e seu marido. Murilo estava estranho, tentava agir normalmente, mas não convencia. Mostrava-se preocupado com a aparência e estava usando perfumes para trabalhar. Ele sempre fora um homem simples e bastante desleixado, até a pouco tempo; a mudança era visível.

            Toda vez, que ela se encostava nele à noite, ele se retraia e inventava uma desculpa. A rejeição à esposa era sentida e magoava Lívia. O mecânico agradava os filhos, mas tratava a mulher com reservas; queria se esquivar de suas obrigações matrimoniais.

            Lívia estava atenta e alguns dias depois do carnaval, o marido avisou que iria chegar mais tarde, pois tinha muito serviço para entregar no dia seguinte. Ela deixou as crianças com a vizinha e pegou um táxi, para verificar a veracidade da situação. Quando chegou em frente à oficina, ela viu seu marido saindo com uma mulher, então, voltou para casa. Iria espera-lo para uma conversa.

            A amante de seu marido era uma morena bonita e vistosa, capaz de tirar qualquer homem de sua família. Saíram abraçados, estavam rindo e pareciam felizes. No entanto, ela não deixaria que isso acontecesse. As crianças precisavam do pai e, não seria qualquer uma, que estragaria sua vida.

Quando o automóvel adentrou à garagem, já passava das vinte e três horas. Era fato que Murilo estivera com sua amante durante, pelo menos, quatro horas. Lívia queimava de raiva por dentro, mas resolveu manter a calma. Respirou fundo e recebeu o marido com um beijo, o verdadeiro beijo de Judas.

 Percebeu que Murilo estava cheiroso, era loção de barba com perfume feminino. Se estivesse trabalhando, estaria fedendo a graxa e óleo, mas estava com a roupa de domingo e quando abria a boca, cheirava a cerveja.

- A farra, com certeza, fora muito intensa, mas, daria o troco. Concluiu a mulher traída.

Lívia correu para a cama e ficou esperando o marido, que demorava para se deitar, certamente, estava esperando ela dormir. Quando o relógio bateu meia noite, ele foi para o quarto. Chegou lentamente, para que ela não acordasse. Virou para o lado contrário e ficou quieto. Entretanto, sua mulher estava acordada e o agarrou exigindo dele, seu papel de homem.

 O homem gaguejou, tentou fugir dizendo estar cansado, porém não adiantou, sua mulher estava insaciável. Lívia não deixou o marido dormir, queria deixa-lo exausto. Passava das quatro horas da manhã, quando Murilo pode dormir, agora estava, realmente, cansado.

A esposa sentia-se vingada, ele teria que ser um super-homem, para aguentar o trabalho e duas mulheres em uma atividade intensa. Era o que ele merecia, estava enganando sua esposa descaradamente. Então, ele iria sentir na pele, quem era a mãe de seus filhos. Lívia era uma mulher pacata, mas se tornava uma guerreira, quando se tratava de defender sua família.

O relógio marcava sete horas da manhã e a esposa chacoalhou seu marido, para que se levantasse, era hora de trabalhar. Murilo resmungou, não iria trabalhar, pois estava muito cansado.

               - Você vai trabalhar de qualquer jeito, a oficina está com muito serviço e os funcionários estão esperando por você. A mulher foi taxativa.

               Murilo arregalou os olhos, nunca sua mulher falara daquela maneira durante todos aqueles anos de casamento. E, ela continuava em pé ao lado da cama. Então, o marido resolveu se levantar para ir trabalhar.

               Saiu da cama resmungando e foi para o banheiro, enquanto isso a mulher se mantinha em pé na porta. Começava o jogo duro e, o homem não teria saída, tinha que trabalhar e comparecer à noite com seus deveres matrimoniais.

Lívia começava a vasculhar as roupas do marido, precisava juntar provas para dar um xeque mate.

Naquela noite, Murilo chegou cedo em sua casa e depois do banho caiu na cama, estava muito cansado. Apagou a luz e deixou seu celular em cima do criado-mudo; depois se entregou a um sono profundo. Lívia pegou o celular e foi até a sala, iria vasculhar o aparelho. Tinha a certeza que descobriria os podres de Murilo.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 4 de março de 2020

"MÁSCARA NEGRA" "(...) FOI BOM TE VER OUTRA VEZ, TÁ FAZENDO UM ANO, FOI NO CARNAVAL QUE PASSOU, EU SOU AQUELE PIERROT, QUE TE ABRAÇOU, E TE BEIJOU, MEU AMOR. NA MESMA MÁSCARA NEGRA, QUE ESCONDE TEU ROSTO, EU QUERO MATAR A SAUDADE. VOU BEIJAR-TE AGORA, NÃO ME LEVE A MAL, HOJE É CARNAVAL" COMPOSITORES: HILDEBRANDO PEREIRA MATOS/ JOSÉ FLORES DE JESUS. CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA..

COM DOR NO CORAÇÃO

CAPÍTULO QUATRO
             O último componente da escola passou e o portão foi fechado. Todos se cumprimentaram, abraços aconteceram e lágrimas rolaram manchando os rostos, com a maquiagem derretida no calor do Rio de Janeiro. Pareciam eufóricos, fizeram uma boa apresentação e conseguiram chegar dentro do tempo permitido. Havia esperança de uma boa classificação e consequentemente, o afastamento do medo do rebaixamento. Enfim, havia felicidade em cada olhar.

                   Raquel, com seu adorno de cabeça nas mãos, olhou para os lados, procurava por Murilo, voltara à realidade. Ele tentava chegar até ela, mas havia uma multidão entre eles. Era um grande obstáculo humano e a moça não sabia para que lado ir, a última vez que vira o seu amor, ele estava acompanhando a bateria. Mas agora, em meio a um mar de gente, temia que ele tivesse ficado atrás do portão fechado.

              Cansada de tanto dançar, a moça sentou-se em um canto. Acomodou seu adorno em uma mureta, tirou as sandálias, que machucavam seus pés e aguardou a multidão se dispersar, com a certeza de que Murilo a encontraria. Depois de uns quarenta minutos, alguém bateu em seu ombro, era ele, que finalmente a encontrara.

             Sentou-se ao seu lado e enlaçou os seus ombros, puxando-a para junto de si. Em seguida, a beijou calorosamente, estavam matando as saudades. Alguém passou e assoviou, fazendo-os voltarem à vida; estavam no mundo dos sonhos. Perceberam que deveriam deixar o local e seguir para a casa de Raquel.

                   Ela morava em uma comunidade, bem no pé do morro. Lá, a rainha da bateria tomou banho para se livrar do suor, conseguido com uma hora de intensos passos de dança enaltecendo sua escola, em frente da bateria. Depois foram dormir abraçados, estavam felizes como se fossem recém-casados em lua de mel.

            Enquanto isso, sua esposa Lívia estava dormindo na casa de sua sogra, com seus três filhos. Nem por isso, Murilo sentia algum remorso pela traição, estava feliz nos braços de sua amante. Ele postergava as preocupações para a quarta-feira de cinzas, ainda teria três dias de folia pela frente.

            O mecânico vivia momentos de puro prazer na casa de sua amada. Á tarde, eles saiam para caminhar na praia, tomavam um banho de mar e voltavam para casa. O casal curtia o seu ninho de amor com intensos carinhos, depois jantavam e seguiam para o Sambódromo. Curtiam as outras escolas de samba até a madrugada, depois retornavam à casa de Raquel.

            Na segunda feira saíram mais cedo, iriam participar dos blocos de rua atrás do trio elétrico. Passearam, riram, brincaram e a noite terminaram tomando banho de mar. Quando chegaram em casa o Sol já estava nascendo.

            Murilo parecia outro homem, mais jovem e com um grande sorriso nos lábios. Sua vida com Lívia parecia ter ficado no passado, apenas sentia falta das crianças, que ele amava muito. Sua esposa era uma mulher insipida, fria e ele não sabia como se casara com ela. Parecia que Lívia não tinha nenhuma qualidade, apenas defeitos.

           – Eu estava cego ou fui vítima de algum despacho, para ter gostado daquela pedra de gelo. Era isso que ele repetia para si mesmo, tentando relevar seus atos falhos.

            – Raquel sim, é uma mulher de verdade, linda, carinhosa e topa qualquer parada. E assim, com essas afirmações, ele se iludia mais e mais.

             Tinha uma mulher fogosa na cama e disposta a compartilhar todos os seus desejos. Aquilo sim que era vida, o mecânico pensava todos os dias, mas a terça-feira estava acabando e, ele teria que voltar para sua família.

            Era um homem responsável, que tinha que trabalhar para pôr comida na mesa de sua casa. Raquel tinha uma pensão do marido morto e vivia sozinha na comunidade, então não se preocupava muito, com nada. E, agora estava apaixonada por Murilo, que retribuía com muito carinho. Estava feliz e não se importava com seu futuro.

O rapaz custou a se despedir, tinha uma dor no coração, mas o dever falava mais alto e ele se foi depois do jantar. Dali para Niterói era uma hora na estrada, que tinha muito trânsito. Chegou e sua família já estava à sua espera, a vida voltava a rotina.

Naquela noite, Lívia o abraçou e se recostou nele, que se virou dizendo estar cansado. Fugiu de seus carinhos, estava satisfeito com sua amante, precisava dormir.

Sua mulher aceitou conformada:

- A pescaria exigia muitas energias, era compreensível seu cansaço, embora ele não tivesse trazido nenhum peixe. Sua mulher concluiu, estava desconfiada.

Murilo se justificou, no dia seguinte, dizendo que pegaram poucos peixes e comeram a maioria.  Os peixes, que restaram, ficaram para os mais velhos do grupo. Ele não poderia exigir nada, apenas fora convidado a participar por Leonel, seu amigo.

 Lívia entendeu e não tocou mais no assunto, mas estranhou o fato, de ele estar limpo e perfumado. Porque nas outras vezes, que seu marido fora pescar, ele voltava sujo e fedendo a peixe. Agora, ela teria que manter seus olhos bem abertos, havia alguma coisa estranha no ar.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

"MÁSCARA NEGRA" "TANTO RISO. OH! QUANTA ALEGRIA, MAIS DE MIL PALHAÇOS NO SALÃO. ARLEQUIM ESTÁ CHORANDO PELO AMOR DA COLOMBINA, NO MEIO DA MULTIDÃO." (...). CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA. COMPOSITORES: HILDEBRANDO PEREIRA MATOS/ JOSÉ FLORES DE JESUS.:

NO MUNDO DAS FANTASIAS

CAPÍTULO TRÊS
           Murilo estava radiante com os últimos acontecimentos, saíra ileso da situação em que se encontrava. Leonel o salvou e agora ele estava livre para curtir o carnaval na Sapucaí. Vestido com uma bermuda branca, uma camisa florida e colar havaiano, estava pronto para se divertir.

           Adentrou o recinto e procurou um lugar na pista, do qual ele pudesse ver a evolução da bateria e encher seus olhos de orgulho. Ele estava feliz, por ter conquistado uma mulher tão bonita, sua musa do carnaval, Raquel. Iria acompanhar a bateria e sua amada, até a chegada na dispersão.

            Na verdade, Murilo estava muito apaixonado e não pensava mais em sua condição de homem casado e pai de família. A rainha da bateria era uma boa mulher, mas fora ferida pela vida e trazia no peito uma grande mágoa contra a sociedade.

             A morte de seu companheiro por bala perdida criou uma revolta dentro de seu coração.  E, ela não se importava se estava ou não ferindo outras pessoas. Encontrara em Murilo um bálsamo para suas feridas, era só o que ela buscava.

O tema da escola de samba era sobre as lendas da floresta amazônica e a música sugestiva, falava sobre fatos criados ou contados por nativos, que juravam serem verídicos. A bateria dava o tom para o puxador do samba e Raquel fazia evoluções na pista do Sambódromo.

A comissão de frente era formada por indígenas e o carro abre-alas trazia uma grande onça pintada, que rugia de tempos em tempos. A plateia aplaudia freneticamente a apresentação, que continha muitos efeitos especiais.

As letras do samba enalteciam a floresta e sua população de nativos, animais, aves e toda a vida ali existente. A evolução do tema da escola acontecia no esquema exigido, pelas regras estabelecidas anteriormente.

 Havia luzes piscando, névoas coloridas sendo lançadas na avenida e sons característicos de cada animal ou pássaro, que aparecia nos muitos carros alegóricos. As alas formadas por pessoas fantasiadas, com roupas alusivas ao tema escolhido, ficavam preenchendo os espaços entre os carros.

A bateria avançava atrás do carro abre-alas e Murilo a seguia com os olhos pregados em Raquel. Lá no fundo, ele acalentava a ideia de pedir para ela abandonar a escola de samba. Ele sentia-se aflito e ansioso ao vê-la rodopiar na pista, com tão pouca roupa; sentia ciúmes dela. Era sua mulher e ele acalentava uma fantasia, de abandonar Lívia e viver com Raquel.

Os carros alegóricos são distribuídos, estrategicamente, entre as alas, compondo o enredo em consonância com a letra da música tema. Os componentes do grupo, que dançam e cantam no chão da pista do Sambódromo, vestem as fantasias coloridas com as cores da escola, para fazer pano de fundo à história desenvolvida na avenida.

 Muitas pessoas seguem a música acompanhando a escola de samba. Em dado momento, a bateria entra em um bolsão de retirada e fica aguardando a evolução da escola, depois segue atrás, até a dispersão. Murilo ficou parado junto da bateria, apreciando Raquel em sua apresentação, estava vigiando o seu amor.

 Os juízes analisam os seguintes quesitos: bateria, samba-enredo, harmonia, evolução, conjunto, enredo, alegorias e adereços. Também serão contabilizadas as notas recebidas sobre as fantasias, desempenho da rainha da bateria, comissão de frente, mestre-sala e porta-bandeiras, além de observado o tempo do desfile, que deve ficar em torno de uma hora. Se o tempo for além do permitido, haverá penalização com perda de pontos.

Muitas alas são fixas e devem ser apresentadas conforme cronograma pré-estabelecido. As fantasias são elaboradas, ricas em enfeites, cores, plumas e pedrarias. Principalmente os destaques de cada carro alegórico, a rainha da bateria e os casais de porta-bandeiras. A comissão de frente deve surpreender o público, sempre, com inovações.

               A apresentação de cada escola deve se preparar para cumprir as regras e obrigatoriedades, que foram criadas para que a avaliação, seja o mais justa possível. A escola que menos erros apresentar, terá maiores chances de vencer e se tornar a campeã do ano em curso.

             Observando também, que deverá conquistar o público presente com sua beleza, desenvoltura e consistência no enredo. A escola que levanta o público, arrancando aplausos e elogios será, provavelmente, uma das primeiras colocadas.

            Podemos tomar como exemplo o casal de mestre-sala e porta-bandeiras. O mestre-sala não deve ficar de costas para sua companheira. Deve cortejá-la, rodopiar ao seu redor, dando a entender que é seu protetor. E, ela não pode deixar a bandeira se enrolar, mas mantê-la sempre aberta e altiva.

           Assim, em meio à multidão euforicamente agitada, o tempo passava e a apresentação da escola, a qual Raquel representava, chegava ao seu final.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

"BANDEIRA BRANCA, AMOR" (...) SAUDADE MAL DE AMOR, DE AMOR. SAUDADE DOR QUE DÓI DEMAIS. VEM MEU AMOR, BANDEIRA BRANCA EU PEÇO PAZ." CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA. COMPOSITOR: MAX NUNES

A PESCARIA

CAPÍTULO DOIS
           O dia já estava terminando e Murilo não conseguia pensar em nada, para ficar fora de sua casa naquela noite. Sua esposa iria desconfiar, se ele saísse na noite de carnaval. Ultimamente, Lívia estava tentando agradá-lo, parecia estar pressentindo alguma coisa.

             Permanecia acordada na maioria das noites e o marido era quem arrumava desculpas, para não fazer amor. A situação tornara-se estranha, fora invertida. Muitas vezes, Murilo voltava de encontros calorosos com a amante e não tinha energia para novos desempenhos. Sua mulher cobrava mais amor, mais carinho e ele justificava a falta, alegando cansaço por trabalho exaustivo.

           Raquel havia telefonado marcando um encontro na Sapucaí, depois do desfile da escola, que ela representava como a rainha da bateria. O amante não poderia dizer não, pois também queria estar presente no desfile e ver sua amada brilhar.

             O mecânico ficava alerta e seu coração disparava ao pensar, que sua deusa estaria exposta ao público. Precisava vigiar ou não teria sossego e, assim que acabasse a apresentação, ele queria estar na dispersão, esperando por ela.

Quando já estava perdendo as esperanças, apareceu um amigo, que fazia tempo ele não via. Leonel era uma boa pessoa, que o mecânico conhecia desde criança e sempre, quando aparecia, era para pedir dinheiro emprestado, que pagava religiosamente.

 Dessa vez, era para passar uns dias na fazenda de um conhecido, em Minas Gerais. Fazia parte de uma turma de pescadores, que tinham o intuito de descansar e fazer retiro no carnaval.

                Dentro da cabeça do mecânico acendeu uma luz, era a solução para o seu problema e poderia render pelos quatro dias de carnaval.

             – Sim, eu empresto o dinheiro em troca de um grande favor. E abriu um largo sorriso. Leonel ficou surpreso e disse:

            - Claro, o que você precisar, lhe devo muitos favores.

            Murilo tratou de fechar a oficina e no caminho foi detalhando, aquilo que o rapaz deveria fazer.

              – Vamos até a minha casa e você vai dizer para Lívia, que me convidou para passar o carnaval em um rancho de pescaria, em Minas Gerais.

                 Leonel ficou espantado e perguntou:

              - O que você vai fazer?

             - Descansar pescando com você e a turma, somente isso. Estou estressado de tanto trabalhar.

                Em seguida, deu uma piscada e Leonel entendeu, não deveria perguntar mais nada. Sua missão seria convencer a esposa do amigo, que ele precisava descansar pescando com os conhecidos.

                Chegaram a casa de Murilo e com a cara mais deslavada do mundo, os dois, encenaram o ato de pobres pescadores em retiro de carnaval. A mulher ficou contente, em saber que seu marido iria descansar durante o carnaval.

             - Ele está precisando, pois, ultimamente anda muito nervoso. Concluiu Lívia.

                 Murilo pediu para sua esposa arrumar as malas e as crianças, porque a deixaria na casa da mãe dela, enquanto ele estivesse fora. Todos ficaram felizes. Lívia queria visitar sua mãe e matar as saudades. A casa da sogra de Murilo ficava do outro lado da ponte rio Niterói, na cidade do mesmo nome. Não era muito longe, mas era longe o suficiente, para o rapaz sentir-se livre.

                Foi uma correria até Niterói, mas o mecânico estava feliz, com quatro dias de liberdade para se divertir ao lado da mulher amada. Estava apaixonado e parecia um colegial ansioso pelos carinhos, do objeto de seus desejos.

             Levou suas coisas para a oficina, pois não poderia voltar para sua casa. Os vizinhos poderiam vê-lo e contar para Lívia. Era melhor se precaver, não queria problemas com sua mulher.

           Quando Murilo voltou de Niterói para o Rio de Janeiro, já era tarde, onze horas da noite de sexta-feira de carnaval, mas ele ainda teria tempo para se arrumar e ir ao encontro de Raquel. A escola de samba que ela participava, seria a terceira a desfilar, daria tempo de aplaudi-la.

           Depois, a noite seria apenas uma criança, nos braços de sua rainha. Murilo estava muito feliz, agora era desfrutar de toda aquela euforia, que existia na Sapucaí.

            Assim, ele chegou no Sambódromo, o mundo mágico das fantasias; ali era o local onde apenas os sonhos mais loucos, eram permitidos.

                 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

"BANDEIRA BRANCA, AMOR" "BANDEIRA BRANCA, AMOR, NÃO POSSO MAIS, PELA SAUDADE, QUE ME INVADE, EU PEÇO PAZ".(...) CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA. COMPOSITOR: MAX NUNES

BANDEIRA BRANCA, AMOR

AMOR BANDIDO

CAPÍTULO UM
            O dia amanheceu radiante com um Sol maravilhoso, depois de uma noite de tormentas. O Rio de Janeiro, como sempre, estava lindo diante do mar azul, seria um dia de muita gente nas praias. Apesar do açoite dos ventos durante a noite, pela manhã, o mar calmo e a luz do Sol prometiam uma festa de cores.

           As pessoas pareciam apressadas, precisavam terminar suas fantasias; era o primeiro dia de carnaval na Marquês de Sapucaí, no Sambódromo da cidade do Rio de Janeiro. A população, em sua maioria, estava envolvida nos festejos carnavalescos.

             A cidade ficava cheia de turistas trazendo divisas para o país, movimentando a rede hoteleira e o comércio em geral. É conhecida como a maior festa regional do Brasil. Os envolvidos nas apresentações trabalham o ano inteiro, para mostrar ao mundo suas criações, envolvendo as belezas, fatos políticos e personalidades artísticas, que existem nessa terra de tupiniquins.

           São quatorze escolas que desfilam em duas noites, apresentam músicas alusivas aos enredos. São cerca de quatro mil figurantes em cada escola de samba, desenvolvendo histórias em alas, com cenas teatrais acompanhadas de carros alegóricos, danças e músicas tocadas pela bateria de cada escola, cujo enredo é cantado por seu puxador de samba. O desfile de cada escola dura uma hora e perde pontos se exceder no tempo.

              Murilo estava distraído, o freguês entrou e ele não viu, depois ficou com medo. A oficina mecânica, instalada na periferia, estava cheia de trabalho e o dono com seus três ajudantes, muito ocupados.

           Financeiramente, Murilo estava muito bem, a oficina faturava o suficiente para uma vida tranquila. O mecânico tinha apenas trinta anos e estava casado a dez anos com Lívia, que lhe dera três filhos; assim, a vida corria leve.

           Havia rumores de assaltos naquela região, e todos recomendavam cuidado. Principalmente em tempos de carnaval, que havia pessoas de todos os lugares do Brasil e do exterior, transitando por ali.  As autoridades sempre recomendavam cautela, pois em meio as pessoas de bem, sempre poderia haver alguns marginais.

           - E se fosse um ladrão? Com certeza, Murilo estaria perdido, pois estava distraído.
           Saiu de baixo do veículo que estava arrumando e atendeu o rapaz, que viera buscar o seu automóvel. Depois ficou olhando a rua, onde já se viam movimentos de foliões em blocos variados, com suas fantasias e muita alegria. Coçou a cabeça, teria que arrumar uma desculpa para passar a noite fora de casa.

           Lívia, sua esposa, era uma excelente mãe e dona de casa, no entanto, como amante deixava muito a desejar. A paixão dos primeiros anos ficou para trás, atualmente ela estava, sempre, com dores de cabeça; o que o deixava desanimado.

           Em alguns momentos, pensara em se divorciar, mas, amava os filhos e não poderia abandoná-los. Dois meninos e uma menina: Artur, Denis e Luana, crianças lindas e inteligentes, em idade escolar.

                Certo dia, já fazia alguns meses, apareceu na oficina uma moça bonita, rolando os óculos escuros nas mãos, visivelmente nervosa. Pedindo para ele rebocar seu carro, que havia morrido em uma estrada vicinal.

            Murilo não gostava de fazer socorros, poderia ser perigoso, não conhecia a jovem. Mas, chamou um ajudante e os três foram buscar o automóvel danificado. Deixou o endereço e um aviso para o outro colaborador:

               - Se demorarmos para voltar, é para acionar a polícia.

             O nome da moça era Raquel, uma morena vistosa, que disse ser a rainha da bateria, de uma escola de samba da região. Trouxeram o veículo e a jovem foi embora, prometendo voltar no dia seguinte. O mecânico, que andava carente, ficou pensativo, poderia se perder com uma morena dessas.

             No dia seguinte, a moça voltou para buscar o veículo, estava mais bonita ainda, com um lindo vestido vermelho e muito charme. O mecânico gaguejou, estava enfeitiçado, mas teria que segurar a onda. Raquel se foi e ele tratou de se conformar, era um homem casado.

            Naquela noite, Lívia fingiu estar dormindo, mais uma vez. Três dias se passaram e a moça retornou à oficina, precisava trocar um farol, que havia queimado.

            Murilo já estava fechando a porta do galpão, quando ela chegou. Estava alegre, iria para o ensaio da escola de samba. Ele disse que o conserto ficaria para o dia seguinte, entretanto lhe daria uma carona. E assim, os dois saíram rumo à escola de samba.

            Raquel o envolveu, também estava interessada nele.  Quando chegaram, ela o convidou para conhecer o barracão. Murilo saiu dali depois da meia noite. Sua esposa nem percebeu, pois estava dormindo.

           O rapaz não conseguia tirar a moça da cabeça, ela tinha o poder de mexer com seus sentimentos. O seu bom senso dizia para se afastar dela, mas ela estava sempre ali, em sua frente. Tornara-se sua freguesa e, ele ficara totalmente submisso.

             Raquel era uma moça sofrida, seu companheiro fora morto por engano, em um tiroteio entre facções criminosas. Joel voltava do trabalho e foi atingido por uma bala perdida. Murilo ouviu atentamente e teve pena dela, mais uma história triste.

               Foram novamente para o barracão, riram, dançaram e cantaram, era uma festa da alegria. Depois do ensaio, saíram para andar na praia; já estavam perdidamente apaixonados. Terminaram se amando ali mesmo, sob a luz do luar.

               Quando Murilo chegou em sua casa já passava das três horas da madrugada e acabou dormindo no sofá. Não queria acordar Lívia. No dia seguinte ele disse que estava tão cansado, que dormiu ali mesmo. Ela pareceu não desconfiar de nada. Até o beijou profundamente, como bônus por seu esforço:

              - É um bom marido e ótimo pai, frisou a esposa.

               O marido sentiu remorso, pois a estava enganando. 

             Assim, os meses foram passando, sempre com desculpas de muito trabalho para entregar e de cansaços extremos, a ponto de rejeitar sua esposa, que já não o atraia mais.

             Ao menos duas vezes por semana, ele saia com a rainha da bateria, que agora tomara conta do seu coração. E, secretamente, Murilo fazia planos, que incluía Raquel, estava perdidamente apaixonado.

            O carnaval chegou e o mecânico já havia comprado uma fantasia, queria cair na folia com seu amor. A moça não poderia ficar sozinha nas noites de carnaval, ele tinha ciúmes. Precisava bolar um plano para sua mulher não desconfiar de nada.  

           Não era hora de discutir a relação. Queria somente viver seu amor bandido, com todo o calor que havia entre eles.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

A CADA DIA QUE VIVO, MAIS ME CONVENÇO DE QUE O DESPERDÍCIO DA VIDA ESTÁ NO AMOR QUE NÃO DAMOS, NAS FORÇAS QUE NÃO USAMOS, NA PRUDÊNCIA EGOÍSTA QUE NADA ARRISCA, E QUE, ESQUIVANDO-SE DO SOFRIMENTO, PERDEMOS TAMBÉM A FELICIDADE. A DOR É INEVITÁVEL. O SOFRIMENTO É OPCIONAL". CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



             NO ACONCHEGO DO SEU AMOR



CAPÍTULO OITO
                  As mães de prematuros formam um grupo de mulheres unidas pela mesma dor, um amor sofrido, incerto e esperançoso ao mesmo tempo. Mulheres que se propõem a lutar, para conservar a vida de seus filhos fora do ventre. Presos ao lugar mais quente e amoroso do corpo humano, junto ao coração de suas mães, os pequenos têm uma melhor oportunidade de vida saudável.

             Esse é o projeto Canguru, que mantém o prematuro aquecido pele a pele, proporcionando maiores chances de sobrevivência, para bebês pequenos e frágeis. É um projeto já implantado e consagrado em muitos hospitais, de vários países do mundo.    

             Daniela sentia-se solitária naquele local e sempre pensava, que tinha muitas coisas para fazer fora dali. A situação se apresentava muito diferente de tudo, que ela havia imaginado para sua vida. No entanto, a vida de sua filha dependia de sua paciência e dedicação, então, suspirava e seguia em frente.

            Ás vezes, Mateus ia busca-la para ir até sua casa, tomar um banho, trocar de roupas e comprar algumas guloseimas, para dividir com suas companheiras de alojamento. Depois retornava ao hospital, estava de licença maternidade e seu único foco era a filha, que estava na UTI neonatal.  

             A moça não tinha sossego, precisava ficar perto de Vitória, tinha um sentimento de medo, quando estava longe. No íntimo, temia não encontra-la viva quando voltasse ao hospital. Era um pedacinho de gente, frágil e dependente, uma boneca.

A menina passava grande parte do dia, colada ao corpo de sua mãe. Estava aprendendo a mamar e logo tirariam a sonda, para ela ter um aleitamento exclusivo, no peito de sua mãe. Dissera a enfermeira para Daniela.

As poucas distrações que havia no alojamento era a televisão, algumas revistas, livros ou crochês, para quem gostava. As mães Cangurus assistiam as novelas e programas vespertinos de variedades, então interagiam para passar o tempo.

Assim, os dias iam passando e os bebês cangurus se recuperando da condição de prematuros. Eles apresentavam menos problemas de saúde, pois tinham a proteção de anticorpos do leite materno e do aconchego de suas mães. Depois de um mês inteirinho, Vitória já estava pesando um quilo e quinhentos gramas, precisava somente de mais um quilo, para poder sair do hospital.

No entanto, pela manhã Vitória apresentou febre e desconforto respiratório, não quis mamar. A menina estava prostrada, ofegante e pálida, para desespero de sua mãe. Os médicos vieram e levaram a menina para a sala de emergência. Enquanto isso, Daniela chamava Mateus para encontrá-la no hospital, estava desesperada.

Mateus chegou e logo o médico apareceu para conversar com o casal:

  - A menina Vitória está com um forte resfriado, com o pulmão cheio de secreção, por isso ela voltou para o respirador. Deverá ficar monitorada dia e noite, para receber a assistência que o caso necessita. Concluiu o médico.

– Por favor doutor, cure a minha filha, não posso ficar sem ela. Choramingou Daniela.

                 Mateus a abraçou e ambos choraram lágrimas de dor. Dias terríveis estavam por vir; eles precisavam da misericórdia divina.

             Durante uma semana, a menina ficou na incubadora recebendo suporte respiratório e antibióticos. A mãe permanecia no alojamento, não poderia voltar para casa sem a filha. A maior parte do tempo, ela passava na igreja rezando, para Deus curar sua menina.

                 Lentamente Vitória foi se recuperando e finalmente, depois de dez dias, Daniela pode pegá-la no colo novamente. Levou mais um mês para a menina se recuperar de toda aquela enfermidade e somente no terceiro mês, ela voltou a ganhar peso. E, no final do quarto mês, ela apresentava condições de ir para casa.

           Quando o casal saiu do hospital com a menina no colo, foram à igreja. E lá, em frente ao altar, apresentaram a criança ao padre dizendo:

           - Padre, o seu nome é Vitória Cristina e queremos a sua bênção.

          O padre sorriu e abençoou a menina, era mais uma Vitória da fé em Deus.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa
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