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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

"BANDEIRA BRANCA, AMOR" "BANDEIRA BRANCA, AMOR, NÃO POSSO MAIS, PELA SAUDADE, QUE ME INVADE, EU PEÇO PAZ".(...) CANTORA: DALVA DE OLIVEIRA. COMPOSITOR: MAX NUNES

BANDEIRA BRANCA, AMOR

AMOR BANDIDO

CAPÍTULO UM
            O dia amanheceu radiante com um Sol maravilhoso, depois de uma noite de tormentas. O Rio de Janeiro, como sempre, estava lindo diante do mar azul, seria um dia de muita gente nas praias. Apesar do açoite dos ventos durante a noite, pela manhã, o mar calmo e a luz do Sol prometiam uma festa de cores.

           As pessoas pareciam apressadas, precisavam terminar suas fantasias; era o primeiro dia de carnaval na Marquês de Sapucaí, no Sambódromo da cidade do Rio de Janeiro. A população, em sua maioria, estava envolvida nos festejos carnavalescos.

             A cidade ficava cheia de turistas trazendo divisas para o país, movimentando a rede hoteleira e o comércio em geral. É conhecida como a maior festa regional do Brasil. Os envolvidos nas apresentações trabalham o ano inteiro, para mostrar ao mundo suas criações, envolvendo as belezas, fatos políticos e personalidades artísticas, que existem nessa terra de tupiniquins.

           São quatorze escolas que desfilam em duas noites, apresentam músicas alusivas aos enredos. São cerca de quatro mil figurantes em cada escola de samba, desenvolvendo histórias em alas, com cenas teatrais acompanhadas de carros alegóricos, danças e músicas tocadas pela bateria de cada escola, cujo enredo é cantado por seu puxador de samba. O desfile de cada escola dura uma hora e perde pontos se exceder no tempo.

              Murilo estava distraído, o freguês entrou e ele não viu, depois ficou com medo. A oficina mecânica, instalada na periferia, estava cheia de trabalho e o dono com seus três ajudantes, muito ocupados.

           Financeiramente, Murilo estava muito bem, a oficina faturava o suficiente para uma vida tranquila. O mecânico tinha apenas trinta anos e estava casado a dez anos com Lívia, que lhe dera três filhos; assim, a vida corria leve.

           Havia rumores de assaltos naquela região, e todos recomendavam cuidado. Principalmente em tempos de carnaval, que havia pessoas de todos os lugares do Brasil e do exterior, transitando por ali.  As autoridades sempre recomendavam cautela, pois em meio as pessoas de bem, sempre poderia haver alguns marginais.

           - E se fosse um ladrão? Com certeza, Murilo estaria perdido, pois estava distraído.
           Saiu de baixo do veículo que estava arrumando e atendeu o rapaz, que viera buscar o seu automóvel. Depois ficou olhando a rua, onde já se viam movimentos de foliões em blocos variados, com suas fantasias e muita alegria. Coçou a cabeça, teria que arrumar uma desculpa para passar a noite fora de casa.

           Lívia, sua esposa, era uma excelente mãe e dona de casa, no entanto, como amante deixava muito a desejar. A paixão dos primeiros anos ficou para trás, atualmente ela estava, sempre, com dores de cabeça; o que o deixava desanimado.

           Em alguns momentos, pensara em se divorciar, mas, amava os filhos e não poderia abandoná-los. Dois meninos e uma menina: Artur, Denis e Luana, crianças lindas e inteligentes, em idade escolar.

                Certo dia, já fazia alguns meses, apareceu na oficina uma moça bonita, rolando os óculos escuros nas mãos, visivelmente nervosa. Pedindo para ele rebocar seu carro, que havia morrido em uma estrada vicinal.

            Murilo não gostava de fazer socorros, poderia ser perigoso, não conhecia a jovem. Mas, chamou um ajudante e os três foram buscar o automóvel danificado. Deixou o endereço e um aviso para o outro colaborador:

               - Se demorarmos para voltar, é para acionar a polícia.

             O nome da moça era Raquel, uma morena vistosa, que disse ser a rainha da bateria, de uma escola de samba da região. Trouxeram o veículo e a jovem foi embora, prometendo voltar no dia seguinte. O mecânico, que andava carente, ficou pensativo, poderia se perder com uma morena dessas.

             No dia seguinte, a moça voltou para buscar o veículo, estava mais bonita ainda, com um lindo vestido vermelho e muito charme. O mecânico gaguejou, estava enfeitiçado, mas teria que segurar a onda. Raquel se foi e ele tratou de se conformar, era um homem casado.

            Naquela noite, Lívia fingiu estar dormindo, mais uma vez. Três dias se passaram e a moça retornou à oficina, precisava trocar um farol, que havia queimado.

            Murilo já estava fechando a porta do galpão, quando ela chegou. Estava alegre, iria para o ensaio da escola de samba. Ele disse que o conserto ficaria para o dia seguinte, entretanto lhe daria uma carona. E assim, os dois saíram rumo à escola de samba.

            Raquel o envolveu, também estava interessada nele.  Quando chegaram, ela o convidou para conhecer o barracão. Murilo saiu dali depois da meia noite. Sua esposa nem percebeu, pois estava dormindo.

           O rapaz não conseguia tirar a moça da cabeça, ela tinha o poder de mexer com seus sentimentos. O seu bom senso dizia para se afastar dela, mas ela estava sempre ali, em sua frente. Tornara-se sua freguesa e, ele ficara totalmente submisso.

             Raquel era uma moça sofrida, seu companheiro fora morto por engano, em um tiroteio entre facções criminosas. Joel voltava do trabalho e foi atingido por uma bala perdida. Murilo ouviu atentamente e teve pena dela, mais uma história triste.

               Foram novamente para o barracão, riram, dançaram e cantaram, era uma festa da alegria. Depois do ensaio, saíram para andar na praia; já estavam perdidamente apaixonados. Terminaram se amando ali mesmo, sob a luz do luar.

               Quando Murilo chegou em sua casa já passava das três horas da madrugada e acabou dormindo no sofá. Não queria acordar Lívia. No dia seguinte ele disse que estava tão cansado, que dormiu ali mesmo. Ela pareceu não desconfiar de nada. Até o beijou profundamente, como bônus por seu esforço:

              - É um bom marido e ótimo pai, frisou a esposa.

               O marido sentiu remorso, pois a estava enganando. 

             Assim, os meses foram passando, sempre com desculpas de muito trabalho para entregar e de cansaços extremos, a ponto de rejeitar sua esposa, que já não o atraia mais.

             Ao menos duas vezes por semana, ele saia com a rainha da bateria, que agora tomara conta do seu coração. E, secretamente, Murilo fazia planos, que incluía Raquel, estava perdidamente apaixonado.

            O carnaval chegou e o mecânico já havia comprado uma fantasia, queria cair na folia com seu amor. A moça não poderia ficar sozinha nas noites de carnaval, ele tinha ciúmes. Precisava bolar um plano para sua mulher não desconfiar de nada.  

           Não era hora de discutir a relação. Queria somente viver seu amor bandido, com todo o calor que havia entre eles.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

A CADA DIA QUE VIVO, MAIS ME CONVENÇO DE QUE O DESPERDÍCIO DA VIDA ESTÁ NO AMOR QUE NÃO DAMOS, NAS FORÇAS QUE NÃO USAMOS, NA PRUDÊNCIA EGOÍSTA QUE NADA ARRISCA, E QUE, ESQUIVANDO-SE DO SOFRIMENTO, PERDEMOS TAMBÉM A FELICIDADE. A DOR É INEVITÁVEL. O SOFRIMENTO É OPCIONAL". CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE



             NO ACONCHEGO DO SEU AMOR



CAPÍTULO OITO
                  As mães de prematuros formam um grupo de mulheres unidas pela mesma dor, um amor sofrido, incerto e esperançoso ao mesmo tempo. Mulheres que se propõem a lutar, para conservar a vida de seus filhos fora do ventre. Presos ao lugar mais quente e amoroso do corpo humano, junto ao coração de suas mães, os pequenos têm uma melhor oportunidade de vida saudável.

             Esse é o projeto Canguru, que mantém o prematuro aquecido pele a pele, proporcionando maiores chances de sobrevivência, para bebês pequenos e frágeis. É um projeto já implantado e consagrado em muitos hospitais, de vários países do mundo.    

             Daniela sentia-se solitária naquele local e sempre pensava, que tinha muitas coisas para fazer fora dali. A situação se apresentava muito diferente de tudo, que ela havia imaginado para sua vida. No entanto, a vida de sua filha dependia de sua paciência e dedicação, então, suspirava e seguia em frente.

            Ás vezes, Mateus ia busca-la para ir até sua casa, tomar um banho, trocar de roupas e comprar algumas guloseimas, para dividir com suas companheiras de alojamento. Depois retornava ao hospital, estava de licença maternidade e seu único foco era a filha, que estava na UTI neonatal.  

             A moça não tinha sossego, precisava ficar perto de Vitória, tinha um sentimento de medo, quando estava longe. No íntimo, temia não encontra-la viva quando voltasse ao hospital. Era um pedacinho de gente, frágil e dependente, uma boneca.

A menina passava grande parte do dia, colada ao corpo de sua mãe. Estava aprendendo a mamar e logo tirariam a sonda, para ela ter um aleitamento exclusivo, no peito de sua mãe. Dissera a enfermeira para Daniela.

As poucas distrações que havia no alojamento era a televisão, algumas revistas, livros ou crochês, para quem gostava. As mães Cangurus assistiam as novelas e programas vespertinos de variedades, então interagiam para passar o tempo.

Assim, os dias iam passando e os bebês cangurus se recuperando da condição de prematuros. Eles apresentavam menos problemas de saúde, pois tinham a proteção de anticorpos do leite materno e do aconchego de suas mães. Depois de um mês inteirinho, Vitória já estava pesando um quilo e quinhentos gramas, precisava somente de mais um quilo, para poder sair do hospital.

No entanto, pela manhã Vitória apresentou febre e desconforto respiratório, não quis mamar. A menina estava prostrada, ofegante e pálida, para desespero de sua mãe. Os médicos vieram e levaram a menina para a sala de emergência. Enquanto isso, Daniela chamava Mateus para encontrá-la no hospital, estava desesperada.

Mateus chegou e logo o médico apareceu para conversar com o casal:

  - A menina Vitória está com um forte resfriado, com o pulmão cheio de secreção, por isso ela voltou para o respirador. Deverá ficar monitorada dia e noite, para receber a assistência que o caso necessita. Concluiu o médico.

– Por favor doutor, cure a minha filha, não posso ficar sem ela. Choramingou Daniela.

                 Mateus a abraçou e ambos choraram lágrimas de dor. Dias terríveis estavam por vir; eles precisavam da misericórdia divina.

             Durante uma semana, a menina ficou na incubadora recebendo suporte respiratório e antibióticos. A mãe permanecia no alojamento, não poderia voltar para casa sem a filha. A maior parte do tempo, ela passava na igreja rezando, para Deus curar sua menina.

                 Lentamente Vitória foi se recuperando e finalmente, depois de dez dias, Daniela pode pegá-la no colo novamente. Levou mais um mês para a menina se recuperar de toda aquela enfermidade e somente no terceiro mês, ela voltou a ganhar peso. E, no final do quarto mês, ela apresentava condições de ir para casa.

           Quando o casal saiu do hospital com a menina no colo, foram à igreja. E lá, em frente ao altar, apresentaram a criança ao padre dizendo:

           - Padre, o seu nome é Vitória Cristina e queremos a sua bênção.

          O padre sorriu e abençoou a menina, era mais uma Vitória da fé em Deus.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

'SE O PRIMEIRO E O ÚLTIMO PENSAMENTO DO SEU DIA FOR ESSA PESSOA, SE A VONTADE DE FICAR JUNTOS CHEGA A APERTAR O CORAÇÃO: É O AMOR!"CARLOS DRUMMOND ANDRADE

VITÓRIA CRISTINA

CAPÍTULO SETE
          Daniela se recuperou da anestesia e no dia seguinte, depois do café da manhã, ela foi conhecer a pequena Vitória. Mateus a levou na cadeira de rodas, pois estava enfraquecida e temia um desmaio repentino. A moça estava ansiosa, ainda não tinha visto sua filha, pois estava anestesiada no momento do nascimento. Tem vagas lembranças da sala de parto, parece que viveu um sonho.

              Foi levada até a incubadora, era a mãe e tinha o direito de conhecer a filha. A jovem ficou embevecida olhando para a pequena Vitória, queria muito que ela se recuperasse rapidamente. Era o amor de sua vida, mas não poderia pegá-la no colo; ficou triste, seus braços estavam vazios.

Mateus amparou a esposa, para que ela pudesse tocar a filha. Era uma bonequinha, linda e perfeita, mas teria que ficar na incubadora até ganhar peso. A mãe não se conformava com isso, precisava ficar junto da pequena criança. Voltou para o quarto da enfermaria, estava triste e chorosa; não conseguiu se alimentar, embora tentasse.

O pai da menina também estava preocupado, sabia que sua mulher não ficaria bem, se voltasse para casa sozinha. A enfermeira percebeu que havia alguma coisa errada naquela situação, a moça poderia entrar em depressão.

Então, a profissional experiente levantou a hipótese de Daniela participar do novo projeto, que fora implantado no hospital; o projeto Canguru. Explicou para Mateus, em que consistia o novo relacionamento entre mãe e filho, mantendo contato pele a pele.

 Ele ficou entusiasmado, iria conversar com o pediatra e verificar se haveria possibilidade de sua esposa participar. Não diria nada a Daniela, antes de ter certeza, para que não se decepcionasse, caso não desse certo a participação da menina, no novo projeto. O médico sorriu e disse:

 – Sim, já pensamos na possibilidade de sua filha participar do Canguru. Ela ficará mais uns dias em observação e se estiver bem, poderemos iniciar o acolhimento pele a pele com a mãe. Antes de sua mulher ter alta vamos fazer uma tentativa.

       Mateus agradeceu e foi contar a novidade para sua esposa, que surpresa se agarrou ao marido e chorou muito. Lavou sua alma, precisava se preparar para ajudar a pequena Vitória. A psicóloga foi conversar com o casal, para explicar a importância do contato pele a pele de mãe e filha e o benefício dessa relação. Disse também, que o pai pode participar do projeto, acolhendo a filha em seu peito.

                   Na manhã seguinte, a puérpera acordou animada e foi visitar a filha na UTI. A enfermeira perguntou se ela queria carregar a menina.

                   Com lágrimas nos olhos ela disse que sim. Então, uma cadeira foi colocada ao lado da incubadora e a pequena Vitória foi acolhida em seu peito, dentro da camisola. A criança precisa de estímulo para aprender a mamar. Ela estava com o oxigênio e a sonda orogástrica para alimentação, mas poderia receber o calor do corpo da mãe, mesmo assim.

                   Ficaram em contato pele a pele por trinta minutos e depois a menina voltou para a incubadora. Á tarde, fariam outra experiência, assim ocorreria a aproximação de Daniela e Vitória. A recém-nascida permanecia quietinha, em contato com a pele de sua mãe. Mateus fez essa observação.

                   A puérpera não queria deixar o hospital, precisava ficar junto da filha. No entanto, no terceiro dia ela voltou para casa. O médico disse que haveria um período de adaptação para a mãe e o pai. Os dois eram importantes para a recuperação da filha e explicou como os trabalhos se iniciam:

               - No começo, o casal poderá visitar a filha uma vez por dia e ficar uma hora com ela, no contato pele a pele. Tanto o pai como a mãe iniciam o contato com a filha de forma precoce, de modo crescente, pelo tempo que se sentirem confortáveis. Concluiu o pediatra, se afastando do local.

              Logo, a enfermeira se propôs a dar novos esclarecimentos ao casal:

              - Depois da adaptação, será trocada a sonda atual por outra, será inserida a sonda nasogástrica, liberando a boca do bebê. Então, começará o processo de amamentação pele a pele, complementado pela sonda.

             - Quando a criança começa a sugar na mãe é hora de aumentar o tempo de permanência do bebê canguru, no contato pele a pele, isto é, obter o calor da mãe o maior tempo possível. Esta passa a permanecer noite e dia no alojamento da neonatologia.                              
               - A complementação passa a ser ofertada no copinho, com leite materno. Um dos pilares do método Canguru é o aleitamento materno exclusivo.

            - A presença da mãe em contato com seu filho, estimula a produção de leite materno, favorece o vínculo entre os dois, reduz o estresse da separação, concluiu a enfermeira.

            Com todas as informações necessárias, a moça concordou em ir para sua casa descansar; precisava recuperar as forças para ajudar sua filha.

             Duas semanas se passaram e Daniela estava encantada com a pequena Vitória, que ganhava alguns gramas diários. Agora, a mãe permanecia no alojamento destinado às mães Cangurus. Com ela estavam outras mulheres, inclusive uma, com dois bebês de baixo peso; eram gêmeos.

                    As mães Cangurus são pessoas dedicadas e persistentes, com o firme propósito de levar os filhos para suas casas, o mais rapidamente possível. É uma luta diária para manter os pequenos saudáveis e bem alimentados, o que nem sempre ocorre.

           Um texto de Eva Ibrahim Sousa


quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

"EU GOSTO DE OLHOS QUE SORRIEM, DE GESTOS QUE SE DESCULPAM, DE TOQUES QUE SABEM CONVERSAR E DE SILÊNCIOS QUE SE DECLARAM". MACHADO DE ASSIS

UMA BONECA

CAPÍTULO SEIS
            Daniela foi conduzida à sala de parto e o bebê veio ao mundo antes da hora. Mateus não pode presenciar o parto, pois o médico pediu que aguardasse na sala de espera. A situação era delicada e ele poderia ficar nervoso e comprometer, ainda mais, aquele momento difícil. Ele compreendeu, estava tremendo de ansiedade, seria melhor esperar lá fora.

            Andou pelos corredores do hospital e foi parar em frente à lanchonete, tomou um copo de água, depois sentou-se em um banco. Em dado momento, ficou olhando para o céu, precisava de ajuda. Fez uma oração, estava perdido em pensamentos controversos, queria fugir dali. No entanto, voltou para a sala de espera, não tinha sossego.

           Havia mais pessoas naquele local; um senhor perguntou o que ele estava aguardando. Foi bom, ele se distraiu contando o que estava acontecendo e ouvindo a história do outro. Estavam solidários com o sofrimento de cada um, afinal, ninguém escapa de problemas, apenas deveriam aprender a contornar a ansiedade e aumentar a fé em Deus. Os dois concordaram com isso.

            Depois de algum tempo, recebeu a notícia do nascimento da filha. A enfermeira que trouxe a novidade, o conduziu até a sala de recuperação, onde estava Daniela. A moça parecia dormir, ainda estava sob o efeito da anestesia.

           Mateus se aproximou e sentiu um carinho imenso por aquela mulher, que dividia a vida com ele. Ela estava pálida e com um cateter de oxigênio no nariz, então ele se abaixou e depositou um beijo em seu rosto.

           Nesse momento, o médico entrou e olhando para o rapaz, que aparentava nervosismo disse:

             - Foi um parto difícil, mas as duas vão ficar bem.

Mateus arregalou os olhos e perguntou do bebê:

            - Onde está a minha filha?

           – Ela foi levada para a incubadora, precisa de cuidados especiais, pois nasceu prematura e com baixo peso. Concluiu o médico.

          - Posso vê-la? O rapaz perguntou, estava ansioso.

            – Sim, a enfermeira vai conduzi-lo até a Unidade de Terapia Intensiva, lá está sua filha.

             O novo papai olhava pelo vidro, não poderia chegar perto, era um bebê muito pequeno e estava envolto em aparelhos. A menina parecia uma boneca cor de rosa e pesava, somente, um quilo e duzentos gramas. Foi a enfermeira que informou ao pai.

            O rapaz sentiu medo, não saberiam como cuidar de uma criança tão pequena. Saiu dali e foi até a Capela, precisava rezar, nada mais poderia fazer. Ficou lá durante um bom tempo e depois voltou à sala de espera. Teria que aguardar Daniela ser transferida para o quarto, então ficaria mais tranquilo. 

          Já estava escurecendo quando a enfermeira disse, que ele poderia ficar com sua esposa. Seu estômago roncava, não se alimentara durante todo o dia, na verdade, nem pensara nisso. Precisava ver sua mulher, depois comeria alguma coisa.

Ele sabia que passariam por momentos difíceis, mas estava desesperado, queria sair dali com as duas mulheres da sua vida. No entanto, isso parecia impossível, sua bebê ficaria no hospital, precisava ganhar peso e aprender a mamar. O médico obstetra foi categórico, disso dependia a vida dela. Sendo assim, Mateus foi conversar com o pediatra, precisava de respostas para dar à Daniela.

 - A sua liberação levará algumas semanas ou até meses, precisa de cuidados intensivos e oxigênio ou não resistirá. Falou o médico da UTI.

Em seguida, ele entrou no quarto, onde sua esposa estava. Ela sorriu e perguntou da filha. Ele respondeu dizendo:

- É uma boneca pequenina. Mas, ficará bem, disse o doutor.

 - Meu amor, eu quero colocar o nome de Vitória em nossa filha, pois poderíamos ter ficado sem ela. Foi Deus que a salvou. E, duas lágrimas rolaram do rosto da jovem mãe.
Mateus, então completou:

 - Vitória Cristina, filha de um casal de cristãos tementes a Deus.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

"A FELICIDADE" "(...) A MINHA FELICIDADE ESTÁ SONHANDO NOS OLHOS DA MINHA NAMORADA. É COMO ESTA NOITE, PASSANDO, PASSANDO, EM BUSCA DA MADRUGADA. FALEM BAIXO, POR FAVOR PRA QUE ELA ACORDE ALEGRE COM O DIA, OFERECENDO BEIJOS DE AMOR". VINÍCIUS DE MORAES

BATE CORAÇÃO

CAPÍTULO CINCO
              Os dias se sucediam e os enjoos e vômitos se multiplicavam. Daniela já perdera alguns quilos nos dois primeiros meses da gestação e até precisou ficar internada, para controlar a hiperemese gravídica. Mas não reclamava, fazia tudo que o médico mandava. Deitada, apalpava a pequena barriga, que despontava em seu ventre, queria muito sentir a presença do bebê.

            O casal chegou à conclusão de que não poderiam esperar mais, ou todos iriam perceber a gravidez prematura da jovem. Mateus tinha apenas um irmão, que morava em outra cidade com sua esposa e dois filhos. Então, marcaram o enlace para a pequena cidade do interior de Minas Gerais, onde morava a família de Daniela.

            O enlace aconteceu no domingo, antes do Natal. A noiva entrou na igreja pelos braços de seu pai, estava muito bonita em seu vestido branco. Ninguém percebeu nada, pois estava mais magra do que o costume. Essa condição era devida aos constantes enjoos e vômitos no início da gestação.

                Na hora de receber os cumprimentos na porta da igreja, Daniela ficou pálida, sentiu a visão turva e teve que ser amparada para não desmaiar. Algumas convidadas cochicharam.  
           
                – Será que a noiva está gravida?  E outras afirmaram:

              - Não, ela não teria coragem de fazer isso com seus pais, que são conservadores ao extremo.

            No entanto, agora estava casada e seus pecados seriam perdoados, era assim que sempre acontecia por aquelas bandas. O pai poderia ficar algum tempo sem falar com ela, mas quando visse a carinha do bebê, seu coração perdoaria tudo e Daniela sabia disso. Acreditava que seus pais a amavam e não a abandonariam por seu deslize, por isso estava tranquila.

               A cada dia que passava ela temia que, mais uma vez, sua gestação não desse certo. A gravidez corria cheia de apreensões, pois a moça não ganhava peso e continuava com vômitos frequentes. Mateus se desdobrava para atender a todos os seus pedidos. A futura mamãe carregava a frustração da primeira gravidez e o peso das incertezas da segunda gestação.

              Ela estava ansiosa para saber o sexo da criança, pois com o primeiro filho ficou uma grande interrogação, o bebê nem sequer tinha nome. A moça pensava nele como sendo um anjo, apenas isso.

              Finalmente chegaram ao terceiro mês e os enjoos diminuíram, ao ponto de ela ganhar alguns quilos. Daniela estava melhorando e já começara a comprar roupinhas para o recém-nascido. Mateus a acompanhava às compras e as consultas médicas, estavam esperançosos.

                Logo foi marcado o primeiro ultrassom, poderiam ver o sexo do bebê. O casal estava empolgado e foi emocionante ouvir o coraçãozinho, batendo dentro de sua barriga. A gestante não conseguiu conter as lágrimas, enquanto isso o marido segurava suas mãos. Em dado momento o médico, sorriu e perguntou:

              -Querem saber o sexo do bebê?

             - Por favor doutor, estamos ansiosos. Respondeu Mateus.

            – É uma menina e está tudo bem com ela, afirmou o médico.

           Daniela não conseguiu segurar as lágrimas, estava muito feliz. Faria tudo para que sua filha nascesse com saúde, já a amava intensamente.

           E, assim foram passando os dias, alguns piores e outros melhores. Daniela precisou ficar internada mais duas vezes, por vômitos persistentes. A gestante já estava no sexto mês e mal aparentava sua gestação, tinha um pequeno volume aumentado na região do abdômen. Fazia quatro meses que se casara e somente agora, seus pais ficaram sabendo que seriam avós.

            Na última visita, o médico disse estar preocupado, pois o desenvolvimento do bebê estava aquém do esperado. Passou vitaminas para Daniela tomar e incentivou uma alimentação mais frequente, depois marcou retorno em quinze dias, para um novo ultrassom.

             A gestação completara vinte e oito semanas e o bebê apresentava baixo peso, deixando todos apreensivos. O médico demonstrara sua preocupação e o casal saiu dali, bastante abatido. Mais cinco semanas se passaram e quando a gestante entrou na trigésima semana, surgiu uma dor na região lombar.

             Dois, três dias e as dores tornaram-se constantes. A moça foi internada para analgesia e observação. Mais uma semana se passou e ela teve alta hospitalar. Foi afastada do trabalho e em casa passava a maior parte do tempo em repouso.

              Assim, a moça conseguiu levar a gestação mais um pouco. Com trinta e uma semanas, ela amanheceu com cólicas e um pequeno sangramento. Daniela estava aflita, não poderiam perder a filha, precisavam de ajuda.

            Mateus a levou para o hospital, onde ficou internada, com início de trabalho de parto prematuro.

            O médico disse que a criança era muito pequena e teria que ficar na incubadora, mas tinha possibilidades de ficar bem. Enquanto cuidavam de sua esposa, ele sentou-se na sala de espera e começou a rezar, precisava do olhar bondoso do pai celestial. Clamava baixinho por misericórdia, precisavam daquela criança para continuar a vida, pois Daniela não aguentaria outro golpe.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

"A FELICIDADE" "(...) A FELICIDADE É UMA COISA BOA E TÃO DELICADA TAMBÉM. TEM FLORES E AMORES DE TODAS AS CORES. TEM NINHOS DE PASSARINHOS, TUDO DE BOM ELA TEM. E É POR ELA SER ASSIM, TÃO DELICADA, QUE EU TRATO DELA SEMPRE MUITO BEM. TRISTEZA NÃO TEM FIM, FELICIDADE SIM". '(..) VINÍCIUS DE MORAES

COMO UMA PLUMA

CAPÍTULO QUATRO

            Foi a primeira noite que Daniela dormiu em paz, depois do aborto. As palavras do padre caíram como um bálsamo em seu coração. No dia seguinte, a moça foi com Mateus buscar seus pertences no apartamento, onde morava com uma amiga. Então, passou a morar com seu noivo, que assim poderia ficar mais tranquilo, sabendo que ela estava bem. Todos os dias saiam juntos para o trabalho.

            Daniela precisava de apoio, para se recuperar do trauma sofrido ao perder o bebê. Era uma dor sem muita consistência, um sonho de acalentar o filho, que nunca viu ou sentiu. O aborto aconteceu prematuramente e não havia lembranças físicas de sua presença.

            O noivo agia como um psicólogo em relação ao assunto, para ele o bebê ficou no passado e ele queria sua mulher de volta, pois a amava muito. Precisava reconstruir a relação de cumplicidade, que havia entre eles, antes do episódio traumático.

            Aos poucos e com muito carinho e compreensão, Daniela voltava a sorrir, apesar de algumas vezes, dormir chorando. A tristeza tomava conta da moça, especialmente quando via crianças com suas mães, ou quando parava em frente a vitrines de lojas especializadas em roupas para recém-nascidos. Mateus evitava lugares onde a moça pudesse ficar emocionada.

            Assim, a vida continuava e o casamento estava adiado, para quando a noiva se sentisse recuperada. Disseram ao pai dela, que a situação estava difícil e iriam esperar mais um pouco para o enlace. Portanto, ganhavam tempo para arrumar as coisas necessárias para as bodas.

                Pouco a pouco, ela foi voltando a ser a mesma moça alegre, que Mateus conhecera e se apaixonara. O final do ano se aproximava e eles faziam planos para o casamento e, quem sabe, uma nova gravidez. Havia se passado cinco meses do aborto e decidiram que já estava na hora de regularizar a situação.

             Voltaram à casa dos pais da jovem e combinaram o casamento para o final de dezembro, queriam iniciar o ano casados. Havia planos para uma lua de mel em Caraguatatuba. Precisavam voltar ao lugar onde Daniela perdeu seu primeiro filho, para passar uma borracha naquele sofrimento.

            Na prática, já estavam casados, apenas a família da moça não sabia que moravam juntos. Tudo resolvido e eles se acomodaram, deixando de lado os cuidados para não engravidar.

           A jovem estava no trabalho, quando olhou para o calendário sobre sua mesa, então, de um estalo percebeu, que sua menstruação estava atrasada. Na hora do almoço, falou de suas suspeitas para Mateus, que prometeu passar na farmácia para comprar um teste de gravidez.

                Chegando em sua casa, o rapaz entregou o teste para sua noiva, ambos estavam ansiosos. E, quando a fita coloriu dois risquinhos, ambos se abraçaram. Daniela estava grávida novamente e a esperança apareceu estampada nos olhos dos dois. O choro foi inevitável, a emoção envolveu o casal. No entanto, uma pergunta ficou no ar.

               Será que teriam forças para reviver toda aquela situação de medo e incertezas? A ferida ainda estava aberta, precisavam da ajuda de um profissional.

            No dia seguinte, foram ao ginecologista, precisavam de esclarecimentos ou ficariam doidos. O médico, que conhecia toda aquela história, sorriu e deu os parabéns ao casal.

             - Você precisa se submeter a alguns exames, ficar atenta a qualquer sinal de dor ou sangramento, no mais terá que seguir as orientações e, com certeza, tudo correrá bem. Foi o que o médico disse.

                O profissional experiente foi convincente, acalmou o casal, que saiu dali com muitas esperanças, de ter o filho tão desejado. A alegria voltou ao rosto de Daniela, que nesse momento se lembrou de sua professora dizendo, que precisamos praticar a resiliência.

               Saíram abraçados, já não estavam sós, a moça trazia um novo ser em seu ventre. Mateus, então disse:

           - Precisamos contar para todos os familiares, nosso filho já está a caminho.

                - Sim meu amor, mas, antes vamos regularizar nossa situação, meus pais ficarão alegres com nosso casamento. Depois receberão a notícia de que serão avós. Respondeu a moça sorrindo.

            O rapaz não se conteve e a beijou no meio da rua, estava muito feliz.

            Pessoas que passavam pelo local, pararam para admirar a manifestação de amor em público. Em seguida, o casal saiu do local rindo, nada importava naquele momento; estavam leves como uma pluma pairando no ar.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

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