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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

"EU GOSTO DE OLHOS QUE SORRIEM, DE GESTOS QUE SE DESCULPAM, DE TOQUES QUE SABEM CONVERSAR E DE SILÊNCIOS QUE SE DECLARAM". MACHADO DE ASSIS

UMA BONECA

CAPÍTULO SEIS
            Daniela foi conduzida à sala de parto e o bebê veio ao mundo antes da hora. Mateus não pode presenciar o parto, pois o médico pediu que aguardasse na sala de espera. A situação era delicada e ele poderia ficar nervoso e comprometer, ainda mais, aquele momento difícil. Ele compreendeu, estava tremendo de ansiedade, seria melhor esperar lá fora.

            Andou pelos corredores do hospital e foi parar em frente à lanchonete, tomou um copo de água, depois sentou-se em um banco. Em dado momento, ficou olhando para o céu, precisava de ajuda. Fez uma oração, estava perdido em pensamentos controversos, queria fugir dali. No entanto, voltou para a sala de espera, não tinha sossego.

           Havia mais pessoas naquele local; um senhor perguntou o que ele estava aguardando. Foi bom, ele se distraiu contando o que estava acontecendo e ouvindo a história do outro. Estavam solidários com o sofrimento de cada um, afinal, ninguém escapa de problemas, apenas deveriam aprender a contornar a ansiedade e aumentar a fé em Deus. Os dois concordaram com isso.

            Depois de algum tempo, recebeu a notícia do nascimento da filha. A enfermeira que trouxe a novidade, o conduziu até a sala de recuperação, onde estava Daniela. A moça parecia dormir, ainda estava sob o efeito da anestesia.

           Mateus se aproximou e sentiu um carinho imenso por aquela mulher, que dividia a vida com ele. Ela estava pálida e com um cateter de oxigênio no nariz, então ele se abaixou e depositou um beijo em seu rosto.

           Nesse momento, o médico entrou e olhando para o rapaz, que aparentava nervosismo disse:

             - Foi um parto difícil, mas as duas vão ficar bem.

Mateus arregalou os olhos e perguntou do bebê:

            - Onde está a minha filha?

           – Ela foi levada para a incubadora, precisa de cuidados especiais, pois nasceu prematura e com baixo peso. Concluiu o médico.

          - Posso vê-la? O rapaz perguntou, estava ansioso.

            – Sim, a enfermeira vai conduzi-lo até a Unidade de Terapia Intensiva, lá está sua filha.

             O novo papai olhava pelo vidro, não poderia chegar perto, era um bebê muito pequeno e estava envolto em aparelhos. A menina parecia uma boneca cor de rosa e pesava, somente, um quilo e duzentos gramas. Foi a enfermeira que informou ao pai.

            O rapaz sentiu medo, não saberiam como cuidar de uma criança tão pequena. Saiu dali e foi até a Capela, precisava rezar, nada mais poderia fazer. Ficou lá durante um bom tempo e depois voltou à sala de espera. Teria que aguardar Daniela ser transferida para o quarto, então ficaria mais tranquilo. 

          Já estava escurecendo quando a enfermeira disse, que ele poderia ficar com sua esposa. Seu estômago roncava, não se alimentara durante todo o dia, na verdade, nem pensara nisso. Precisava ver sua mulher, depois comeria alguma coisa.

Ele sabia que passariam por momentos difíceis, mas estava desesperado, queria sair dali com as duas mulheres da sua vida. No entanto, isso parecia impossível, sua bebê ficaria no hospital, precisava ganhar peso e aprender a mamar. O médico obstetra foi categórico, disso dependia a vida dela. Sendo assim, Mateus foi conversar com o pediatra, precisava de respostas para dar à Daniela.

 - A sua liberação levará algumas semanas ou até meses, precisa de cuidados intensivos e oxigênio ou não resistirá. Falou o médico da UTI.

Em seguida, ele entrou no quarto, onde sua esposa estava. Ela sorriu e perguntou da filha. Ele respondeu dizendo:

- É uma boneca pequenina. Mas, ficará bem, disse o doutor.

 - Meu amor, eu quero colocar o nome de Vitória em nossa filha, pois poderíamos ter ficado sem ela. Foi Deus que a salvou. E, duas lágrimas rolaram do rosto da jovem mãe.
Mateus, então completou:

 - Vitória Cristina, filha de um casal de cristãos tementes a Deus.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

"A FELICIDADE" "(...) A MINHA FELICIDADE ESTÁ SONHANDO NOS OLHOS DA MINHA NAMORADA. É COMO ESTA NOITE, PASSANDO, PASSANDO, EM BUSCA DA MADRUGADA. FALEM BAIXO, POR FAVOR PRA QUE ELA ACORDE ALEGRE COM O DIA, OFERECENDO BEIJOS DE AMOR". VINÍCIUS DE MORAES

BATE CORAÇÃO

CAPÍTULO CINCO
              Os dias se sucediam e os enjoos e vômitos se multiplicavam. Daniela já perdera alguns quilos nos dois primeiros meses da gestação e até precisou ficar internada, para controlar a hiperemese gravídica. Mas não reclamava, fazia tudo que o médico mandava. Deitada, apalpava a pequena barriga, que despontava em seu ventre, queria muito sentir a presença do bebê.

            O casal chegou à conclusão de que não poderiam esperar mais, ou todos iriam perceber a gravidez prematura da jovem. Mateus tinha apenas um irmão, que morava em outra cidade com sua esposa e dois filhos. Então, marcaram o enlace para a pequena cidade do interior de Minas Gerais, onde morava a família de Daniela.

            O enlace aconteceu no domingo, antes do Natal. A noiva entrou na igreja pelos braços de seu pai, estava muito bonita em seu vestido branco. Ninguém percebeu nada, pois estava mais magra do que o costume. Essa condição era devida aos constantes enjoos e vômitos no início da gestação.

                Na hora de receber os cumprimentos na porta da igreja, Daniela ficou pálida, sentiu a visão turva e teve que ser amparada para não desmaiar. Algumas convidadas cochicharam.  
           
                – Será que a noiva está gravida?  E outras afirmaram:

              - Não, ela não teria coragem de fazer isso com seus pais, que são conservadores ao extremo.

            No entanto, agora estava casada e seus pecados seriam perdoados, era assim que sempre acontecia por aquelas bandas. O pai poderia ficar algum tempo sem falar com ela, mas quando visse a carinha do bebê, seu coração perdoaria tudo e Daniela sabia disso. Acreditava que seus pais a amavam e não a abandonariam por seu deslize, por isso estava tranquila.

               A cada dia que passava ela temia que, mais uma vez, sua gestação não desse certo. A gravidez corria cheia de apreensões, pois a moça não ganhava peso e continuava com vômitos frequentes. Mateus se desdobrava para atender a todos os seus pedidos. A futura mamãe carregava a frustração da primeira gravidez e o peso das incertezas da segunda gestação.

              Ela estava ansiosa para saber o sexo da criança, pois com o primeiro filho ficou uma grande interrogação, o bebê nem sequer tinha nome. A moça pensava nele como sendo um anjo, apenas isso.

              Finalmente chegaram ao terceiro mês e os enjoos diminuíram, ao ponto de ela ganhar alguns quilos. Daniela estava melhorando e já começara a comprar roupinhas para o recém-nascido. Mateus a acompanhava às compras e as consultas médicas, estavam esperançosos.

                Logo foi marcado o primeiro ultrassom, poderiam ver o sexo do bebê. O casal estava empolgado e foi emocionante ouvir o coraçãozinho, batendo dentro de sua barriga. A gestante não conseguiu conter as lágrimas, enquanto isso o marido segurava suas mãos. Em dado momento o médico, sorriu e perguntou:

              -Querem saber o sexo do bebê?

             - Por favor doutor, estamos ansiosos. Respondeu Mateus.

            – É uma menina e está tudo bem com ela, afirmou o médico.

           Daniela não conseguiu segurar as lágrimas, estava muito feliz. Faria tudo para que sua filha nascesse com saúde, já a amava intensamente.

           E, assim foram passando os dias, alguns piores e outros melhores. Daniela precisou ficar internada mais duas vezes, por vômitos persistentes. A gestante já estava no sexto mês e mal aparentava sua gestação, tinha um pequeno volume aumentado na região do abdômen. Fazia quatro meses que se casara e somente agora, seus pais ficaram sabendo que seriam avós.

            Na última visita, o médico disse estar preocupado, pois o desenvolvimento do bebê estava aquém do esperado. Passou vitaminas para Daniela tomar e incentivou uma alimentação mais frequente, depois marcou retorno em quinze dias, para um novo ultrassom.

             A gestação completara vinte e oito semanas e o bebê apresentava baixo peso, deixando todos apreensivos. O médico demonstrara sua preocupação e o casal saiu dali, bastante abatido. Mais cinco semanas se passaram e quando a gestante entrou na trigésima semana, surgiu uma dor na região lombar.

             Dois, três dias e as dores tornaram-se constantes. A moça foi internada para analgesia e observação. Mais uma semana se passou e ela teve alta hospitalar. Foi afastada do trabalho e em casa passava a maior parte do tempo em repouso.

              Assim, a moça conseguiu levar a gestação mais um pouco. Com trinta e uma semanas, ela amanheceu com cólicas e um pequeno sangramento. Daniela estava aflita, não poderiam perder a filha, precisavam de ajuda.

            Mateus a levou para o hospital, onde ficou internada, com início de trabalho de parto prematuro.

            O médico disse que a criança era muito pequena e teria que ficar na incubadora, mas tinha possibilidades de ficar bem. Enquanto cuidavam de sua esposa, ele sentou-se na sala de espera e começou a rezar, precisava do olhar bondoso do pai celestial. Clamava baixinho por misericórdia, precisavam daquela criança para continuar a vida, pois Daniela não aguentaria outro golpe.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

"A FELICIDADE" "(...) A FELICIDADE É UMA COISA BOA E TÃO DELICADA TAMBÉM. TEM FLORES E AMORES DE TODAS AS CORES. TEM NINHOS DE PASSARINHOS, TUDO DE BOM ELA TEM. E É POR ELA SER ASSIM, TÃO DELICADA, QUE EU TRATO DELA SEMPRE MUITO BEM. TRISTEZA NÃO TEM FIM, FELICIDADE SIM". '(..) VINÍCIUS DE MORAES

COMO UMA PLUMA

CAPÍTULO QUATRO

            Foi a primeira noite que Daniela dormiu em paz, depois do aborto. As palavras do padre caíram como um bálsamo em seu coração. No dia seguinte, a moça foi com Mateus buscar seus pertences no apartamento, onde morava com uma amiga. Então, passou a morar com seu noivo, que assim poderia ficar mais tranquilo, sabendo que ela estava bem. Todos os dias saiam juntos para o trabalho.

            Daniela precisava de apoio, para se recuperar do trauma sofrido ao perder o bebê. Era uma dor sem muita consistência, um sonho de acalentar o filho, que nunca viu ou sentiu. O aborto aconteceu prematuramente e não havia lembranças físicas de sua presença.

            O noivo agia como um psicólogo em relação ao assunto, para ele o bebê ficou no passado e ele queria sua mulher de volta, pois a amava muito. Precisava reconstruir a relação de cumplicidade, que havia entre eles, antes do episódio traumático.

            Aos poucos e com muito carinho e compreensão, Daniela voltava a sorrir, apesar de algumas vezes, dormir chorando. A tristeza tomava conta da moça, especialmente quando via crianças com suas mães, ou quando parava em frente a vitrines de lojas especializadas em roupas para recém-nascidos. Mateus evitava lugares onde a moça pudesse ficar emocionada.

            Assim, a vida continuava e o casamento estava adiado, para quando a noiva se sentisse recuperada. Disseram ao pai dela, que a situação estava difícil e iriam esperar mais um pouco para o enlace. Portanto, ganhavam tempo para arrumar as coisas necessárias para as bodas.

                Pouco a pouco, ela foi voltando a ser a mesma moça alegre, que Mateus conhecera e se apaixonara. O final do ano se aproximava e eles faziam planos para o casamento e, quem sabe, uma nova gravidez. Havia se passado cinco meses do aborto e decidiram que já estava na hora de regularizar a situação.

             Voltaram à casa dos pais da jovem e combinaram o casamento para o final de dezembro, queriam iniciar o ano casados. Havia planos para uma lua de mel em Caraguatatuba. Precisavam voltar ao lugar onde Daniela perdeu seu primeiro filho, para passar uma borracha naquele sofrimento.

            Na prática, já estavam casados, apenas a família da moça não sabia que moravam juntos. Tudo resolvido e eles se acomodaram, deixando de lado os cuidados para não engravidar.

           A jovem estava no trabalho, quando olhou para o calendário sobre sua mesa, então, de um estalo percebeu, que sua menstruação estava atrasada. Na hora do almoço, falou de suas suspeitas para Mateus, que prometeu passar na farmácia para comprar um teste de gravidez.

                Chegando em sua casa, o rapaz entregou o teste para sua noiva, ambos estavam ansiosos. E, quando a fita coloriu dois risquinhos, ambos se abraçaram. Daniela estava grávida novamente e a esperança apareceu estampada nos olhos dos dois. O choro foi inevitável, a emoção envolveu o casal. No entanto, uma pergunta ficou no ar.

               Será que teriam forças para reviver toda aquela situação de medo e incertezas? A ferida ainda estava aberta, precisavam da ajuda de um profissional.

            No dia seguinte, foram ao ginecologista, precisavam de esclarecimentos ou ficariam doidos. O médico, que conhecia toda aquela história, sorriu e deu os parabéns ao casal.

             - Você precisa se submeter a alguns exames, ficar atenta a qualquer sinal de dor ou sangramento, no mais terá que seguir as orientações e, com certeza, tudo correrá bem. Foi o que o médico disse.

                O profissional experiente foi convincente, acalmou o casal, que saiu dali com muitas esperanças, de ter o filho tão desejado. A alegria voltou ao rosto de Daniela, que nesse momento se lembrou de sua professora dizendo, que precisamos praticar a resiliência.

               Saíram abraçados, já não estavam sós, a moça trazia um novo ser em seu ventre. Mateus, então disse:

           - Precisamos contar para todos os familiares, nosso filho já está a caminho.

                - Sim meu amor, mas, antes vamos regularizar nossa situação, meus pais ficarão alegres com nosso casamento. Depois receberão a notícia de que serão avós. Respondeu a moça sorrindo.

            O rapaz não se conteve e a beijou no meio da rua, estava muito feliz.

            Pessoas que passavam pelo local, pararam para admirar a manifestação de amor em público. Em seguida, o casal saiu do local rindo, nada importava naquele momento; estavam leves como uma pluma pairando no ar.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

"FELICIDADE" "(...) TRISTEZA NÃO TEM FIM, FELICIDADE SIM. A FELICIDADE É COMO A GOTA DE ORVALHO NUMA PÉTALA DE FLOR. BRILHA TRANQUILA, DEPOIS DE LEVE OSCILA E CAI COMO UMA LÁGRIMA DE AMOR. (...)" VINÍCIUS DE MORAES.

CHORAR DE VEZ EM QUANDO

CAPÍTULO TRÊS

              O casal voltou para sua cidade de origem, moravam no interior do estado de São Paulo, na cidade de Campinas. Mateus preferiu levar a noiva para sua casa, na periferia da cidade. Ele morava sozinho em uma pequena casa, deixada por seus pais. Temia que ela passasse mal e que ele não pudesse socorrê-la. Ela morava com uma amiga, num apartamento no centro da cidade.

            Naquela noite, Daniela dormiu profundamente, ainda estava sob o efeito dos medicamentos, que tomara no hospital. O dia amanheceu, Mateus levantou-se, fez café, andou pelo quintal e quando voltou para dentro da casa, ouviu a moça chorar. Consternado, arrumou uma bandeja com café, leite, biscoitos e levou para ela, na cama. A moça olhou o noivo carregando a bandeja e soluçando disse:

             - Eu não fui capaz de segurar nosso filho, então você fica livre para me deixar. Não precisa manter nosso compromisso, eu vou entender.    
        
            O rapaz protestou:

           - Como você pode dizer uma coisa dessas? Eu nunca vou abandoná-la por causa de um aborto espontâneo, que ninguém teve culpa. Toma seu café e depois vá para o banho, que precisamos conversar seriamente. Concluiu o rapaz, estava aborrecido.

              Daniela saiu do banho e depois de vestir-se foi a procura de Mateus, que estava sentado na área externa da casa. As casas na periferia ainda têm na frente uma área de descanso e um pequeno quintal nos fundos. Quando a viu, ergueu-se e foi abraça-la dizendo.

               – Hoje é domingo e você está muito bonita! Vamos dar um passeio de automóvel.

                O casal saiu para espairecer um pouco, estavam tristes e abatidos dentro de casa, que mais parecia uma prisão. Andaram bastante, sem rumo, apenas com a brisa da janela no rosto. Trocaram poucas palavras, o diálogo estava difícil de acontecer, havia uma mágoa inexplicável dentro de cada um; era uma dor, que vinha da alma.

            Em dado momento, Mateus parou o automóvel em frente a uma igreja. Havia muitas pessoas saindo, parecia que a missa havia terminado. Então o rapaz teve uma ideia.

           – Vamos conversar com o padre, ele poderá nos ajudar.

            Daniela ia protestar, mas desistiu, precisava de ajuda. Depois que a maioria dos paroquianos deixou o recinto, o casal foi até a sacristia. O padre estava conversando com algumas pessoas. Eles ficaram esperando a uma certa distância, depois se aproximaram e pediram ao padre um pouco de atenção.

           Daniela ficou de cabeça baixa enquanto o noivo contava ao velho pároco os últimos acontecimentos. Baixinho, ela começou a chorar. Então, o santo homem levantou-se da cadeira, foi até onde ela estava e pegando em sua mão a conduziu até uma poltrona. Sentou-se em frente a moça e começou a falar.

                 - Em primeiro lugar devemos agradecer a Deus por estarmos com saúde e pedir que nos ilumine, em todos os nossos caminhos. Minha filha, nada acontece sem o consentimento do nosso pai celestial. Seu bebê foi requisitado para viver no paraíso e um dia você irá encontra-lo no céu. Fez uma pausa, enquanto avaliava o impacto de suas palavras. Depois prosseguiu:

             - O seu filho é um anjo, que velará por você enquanto viver. Pense nele com carinho, com amor e deixe a vida cumprir seu papel. Você é muito jovem e em pouco tempo poderá engravidar novamente e ter outro filho.

                 - Procure levar a vida um pouco mais leve, pode sentir saudades e até chorar de vez em quando, mas deixe o sofrimento no passado. Sorria, nada está perdido, sua condição de mãe não se apagou, mas foi apenas adiada. Tenha fé em Deus, que dias melhores virão. Pegou a água benta e fez o sinal da cruz na testa da moça.

                 O casal se despediu do padre, sentiram que ainda havia esperanças para eles. Voltaram para casa e Mateus ao descer do automóvel tropeçou e quase caiu, andou alguns metros catando cavaco. E quando olhou para Daniela, ela estava sorrindo. Em seguida, ela correu para ajudá-lo a se manter em pé. A cena foi hilária e terminou num longo abraço; estavam com saudades um do outro.

             Ainda havia muito amor entre eles, entraram na casa dispostos a recomeçar.

Um texto de Eva Ibrahim.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

"A FELICIDADE" (...) "A FELICIDADE DO POBRE PARECE A GRANDE ILUSÃO DO CARNAVAL. A GENTE TRABALHA O ANO INTEIRO, POR UM MOMENTO DE SONHO, PRA FAZER A FANTASIA DE REI OU DE PIRATA OU JARDINEIRA, PRA TUDO SE ACABAR NA QUARTA-FEIRA". (...) VINICIUS DE MORAES

MÃE DE ANJO

CAPÍTULO DOIS
          Daniela permanecia no leito da enfermaria de ginecologia. Apesar de estar tomando medicação para aliviar as dores, as cólicas vinham com força, uma atrás da outra. Fazia duas horas que chegaram ao hospital e a moça estava triste e chorosa o tempo todo. Enquanto isso, Mateus tentava aliviar a situação dizendo, que a amava muito.

O dia amanheceu e encontrou o casal no hospital, onde Daniela estava perdendo seu filho, que ainda não sabia o sexo. Foram horas de verdadeiro caos, ela sofria dores em cólicas, que iam e vinham deixando-a desesperada. E num certo momento, a dor ficou muito mais forte, insuportável mesmo. A paciente arregalou os olhos e gritou chamando a atenção de todos. A enfermeira entrou no quarto, queria saber o que houve?

A moça gritou novamente e alguma coisa se desprendeu de dentro dela. O feto saiu em meio a sangue e líquido amniótico, então, as dores se acalmaram; a gestante respirou fundo. Estava muito triste, mas livre daquelas cólicas insuportáveis.

Permanecia uma sensação de vazio, como se tivesse ficado oca por dentro e tinha  uma ferida aberta na alma. Minutos se passaram e parecia que estava tudo bem, a paciente estava sendo cuidada pela enfermeira, enquanto o médico se aproximava; ela já conseguia respirar aliviada.

 Porém, depois de algum tempo, apareceu outra cólica enorme, que a moça se contorceu toda. Mateus ficou perplexo e disse:

- Não pode ser, vai começar isso novamente?

Daniela gritou, em seguida ela sentiu que outra coisa saiu de dentro dela, a placenta se desprendeu naturalmente, após uma cólica. Era uma gestante inicial e ainda não entendia bem a situação em que estava, por isso ficou surpresa.

Trouxeram a maca e ela foi levada para a sala cirúrgica. Depois de ser examinada constataram que o aborto tinha sido completo, mas ainda deveria ficar em observação, até a manhã seguinte.

Foi um dia muito triste para o casal, que fazia planos para o casamento e contavam com o bebê, que viria completar a vida deles.

                 Daniela voltou para o quarto, então ela perguntou ao médico qual era o sexo do bebê e ele respondeu:

             - O feto é muito pequeno e não é possível saber o sexo, pense que era apenas um anjo. Anjos não tem sexo.

  Lágrimas correram dos olhos de Daniela e Mateus a abraçou dizendo: 
              - Você é mãe de anjo e, eu sou pai dele também.

                 A noite foi relativamente calma. A moça teve algumas dores, que foram sanadas com medicamentos. O dia amanheceu e o médico passou dando alta para a paciente, com recomendações de repouso absoluto por alguns dias. Os dois voltaram para a casa do Rui, estavam desolados e as férias arruinadas.

                 Os dias, que deveriam ser de muito riso e alegria, tornaram-se feios e cinzentos. Mateus confirmava seu desejo de casamento com a noiva, que dizia não ser mais necessário, poderiam esperar mais um tempo. Ela estava de luto, era mãe de anjo, não tinha sexo e nem nome, apenas um anjo.

                 O rapaz se desdobrava para melhorar as condições psicológicas de sua noiva, que estava sentindo-se muito infeliz. Não entendia porque perdera o bebê, que já fazia parte de sua vida. Quando a semana terminou, o casal voltou para casa, deveriam voltar a rotina diária. Daniela tinha uma dor latejante em seu coração, era amor de mãe frustrado.

              - Eu preciso de muita oração, disse chorosa ao entrar no carro.

            – Juntos venceremos essa etapa de nossas vidas,  afirmou o rapaz, seguindo em frente. 

Um texto de Eva Ibrahim Sousa 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

"A FELICIDADE" "TRISTEZA NÃO TEM FIM, FELICIDADES SIM. A FELICIDADE É COMO A PLUMA, QUE O VENTO VAI LEVANDO PELO AR, VOA TÃO LEVE, MAS TEM A VIDA BREVE, PRECISA QUE HAJA VENTO SEM PARAR." (...) VINÍCIUS DE MORAES

VITÓRIA É O SEU NOME


PRECISO DE AJUDA

CAPÍTULO UM
            Mateus estava preocupado, dirigia devagar, para que Daniela pudesse observar a paisagem. Ela estava empolgada com a situação, pois ficaram noivos na sexta-feira à noite e receberam de um amigo, a chave da casa dele, para passarem uma semana na praia. Os dois estavam de férias, que juntos haviam planejado para descansar e se divertir muito.

      Trabalhavam na mesma indústria farmacêutica, ele na administração e ela no Recursos Humanos. Conheceram-se nos corredores do refeitório, no horário do almoço. Fazia seis meses que estavam namorando e a moça havia descoberto uma gravidez inesperada.

             Daniela fez o teste de farmácia em sua casa e quando deu positivo, ela chorou.
          Depois, não se cansava de olhar os dois riscos vermelhos na fita do teste. Dormiu chorando, seus pensamentos voavam entre seu amor por Mateus e seus familiares.

             No dia seguinte, contou para o namorado e mostrou a fita com o resultado positivo. Mateus ficou sério, estava surpreso. Ela esperou sua reação com lágrimas nos olhos, estava temerosa e emocionalmente fragilizada.

            Então, o rapaz a abraçou e simplesmente disse:

           - Tenha calma meu amor, estamos juntos para o que der e vier.

            - Ela se aninhou em seus braços e chorou todas as lágrimas, que estavam presas na garganta. Depois voltaram ao trabalho, conversariam mais tarde.

           O médico dissera, após uma ecografia, que ela estava gestante de oito semanas. A moça queria dar a notícia aos seus pais somente depois do casamento, ou sofreria severa censura. Os pais eram pessoas do interior de Minas Gerais e não gostariam que sua caçula fosse mãe solteira, a filha sabia disso.

            Quando Daniela se mudara para a cidade grande, foi alertada por todos, sobre os perigos que encontraria longe de casa. No entanto, a moça insistiu, queria trabalhar, estudar e vencer na vida. Por isso, não poderia voltar para sua família grávida e solteira.  Ela não queria dar nenhum desgosto aos pais já idosos, e os dois namorados resolveram se casar.

             A região era belíssima, Caraguatatuba é uma cidade turística, no litoral norte do estado de São Paulo. Um lugar onde o mar azul fica em frente as montanhas, lá há casas luxuosas com acesso ao mar, formando praias particulares. A casa onde se hospedaria o casal, ficava em uma pequena vila a uns vinte quilômetros dali: Maresias, um lugar famoso, por suas belas praias.

           A casa do Rui, o amigo de Mateus, não era luxuosa, mas um pequeno sobrado situado nos arredores da cidade. E, nas encostas dos morros podia-se observar casas de invasão, crescendo por ali. As montanhas tiveram as encostas desmatadas para construções e havia perigo de deslizamentos de terra e desabamentos de casas, já que havia muitas construções em área de risco.

           - A civilização avança nesse paraíso de maneira desordenada, é uma pena! Daniela fez essa observação com desapontamento.

           - É a maneira, que os menos favorecidos encontram para viver nesse lugar lindo! Respondeu Mateus.

            E, seguiram em frente extasiados com a beleza do lugar.

                    O verão se aproximava e os dias estavam muito quentes. Com altas temperaturas, as nuvens negras se formavam rapidamente e despejavam muita água na região. Os pequenos agricultores de verduras e hortaliças ficavam animados com a possibilidade de boas colheitas. Era um local que enchia as vistas com suas belezas naturais, e estava sempre cheio de turistas.

                         Chegaram e logo começou a chover forte. Trataram de tomar banho e comer um lanche, que compraram no caminho e depois foram se deitar. A energia foi interrompida, por causa de raios e trovões assustadores. A chuva caia torrencialmente e Daniela se agarrou em Mateus, eram muitos relâmpagos e trovões. Apesar do barulho da tormenta, acabaram adormecendo, pois estavam cansados.

           Já era tarde da noite, quando a moça acordou gritando, estava com fortes dores abdominais. Mateus acordou assustado e perguntou o que estava acontecendo. Daniela disse que estava com muitas dores no pé da barriga, enquanto isso, de seus olhos despencavam lágrimas de dor. Depois ela relatou, que estava perdendo algum líquido, que molhava sua roupa.

                Em meio ao escuro, o rapaz pegou o celular e acendeu a luz traseira, para ver o que era o líquido referido. A cama estava suja de sangue vivo, então ele levou a moça para o banheiro, queria que ela tomasse um banho. Depois chamou a polícia, pois não sabia o número da emergência local. Em dez minutos, a viatura estava diante da casa para socorrer a moça.

                Enrolada em uma coberta, Daniela foi levada pela viatura a caminho do Pronto Socorro mais próximo. O percurso foi interrompido por uma queda de árvore na estrada. Ficaram cerca de uma hora esperando que os bombeiros desobstruíssem o caminho. A moça se contorcia em cólicas no banco de trás do veículo. Mateus segurava a noiva nos braços, mas nada podia fazer.

               Finalmente, quando chegaram ao Pronto Socorro foi constatado um processo de aborto em curso, a paciente deveria ficar internada no hospital.

            A moça não se aguentava de cólicas e nem conseguiu protestar, apenas queria que parassem aquela dor. Mateus permanecia ao seu lado segurando suas mãos, era tudo o que conseguia fazer naquele momento; estava assustado. A gestante foi conduzida ao quarto, onde deveria ficar em observação, até que expelisse o feto; pois o aborto fora confirmado. 

           Foram aplicados analgésicos e coletados exames de sangue, enquanto aguardavam o desfecho do quadro apresentado. A moça chorando, pedia ajuda ao namorado, que estava apreensivo e consternado.
           A chuva torrencial continuava firme e forte lá fora.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa


MEU MUNDO REINVENTADO.

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