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quarta-feira, 19 de junho de 2019

"NOSSA SENHORA" "(...) SANTA MÃE DE DEUS, TEM PIEDADE DE NÓS, DE JOELHOS AOS VOSSOS PÉS, ESTENDEI A NÓS VOSSAS MÃOS. ROGAI POR TODOS, NÓS VOSSOS FILHOS, MEUS IRMÃOS. NOSSA SENHORA ME DÊ A MÃO, CUIDA DO MEU CORAÇÃO. DA MINHA VIDA, DO MEU DESTINO, DO MEU CAMINHO, CUIDA DE MIM". ERASMO CARLOS E ROBERTO CARLOS

BONECO DE PANO

CAPÍTULO DEZ
             Marcelo se classificou em terceiro lugar para as finais da montaria em cavalos, na modalidade Cutiano. Jiló se portara magnificamente, pulou e corcoveou para todos os lados, o rapaz estava satisfeito com seu cavalo. Vislumbrava a possibilidade de sair vencedor da prova final.

            Terminados os trabalhos de classificação para as provas de cavalos e touros, os presentes se dirigiram para o espaço de shows de músicas sertanejas. Os pais do rapaz e o casal de namorados, também se dirigiram para o local do show de uma famosa dupla sertaneja.

              Havia uma satisfação plena entre os quatro, naquele evento. O melhor aconteceu, Marcelo provou que estava recuperado e pronto para a competição, que teria sua final no dia seguinte. Já era muito tarde quando se separaram, o peão foi para o camping, Angel e os pais do rapaz para o hotel.

            Voltariam a se encontrar ao cair da noite na arena de rodeios. Ali seria decidido o novo campeão de montaria a cavalo, no rodeio de Barretos. Dez foram os classificados, todos veteranos e capacitados para vencer; seria um páreo duro.

            Marcelo ficaria concentrado até chegar a hora da competição, precisava descansar. A luta para manter Jiló controlado fora intensa, seu punho doía, apesar da munhequeira usada. Mas, mesmo assim acalentava em seu peito uma esperança de vitória, queria que Angel sentisse orgulho dele. Embora a esperança fosse tênue, criara força depois das eliminatórias.  Dependia somente dele e de Jiló levar o prêmio para casa, uma caminhonete possante.

                 Angel estava deslumbrada com tantas novidades presenciadas. O trabalho dos salva-vidas ao abordar o animal a deixou surpresa, eram verdadeiros heróis ao se colocarem para proteger os peões. Assim, muitas vidas foram poupadas dos cascos de animais pesados, violentos e descontrolados.

              O dia amanheceu brilhante e prometia muitas conquistas na arena. Depois do almoço, os pais e a namorada deixaram o hotel, para passear e conhecer a cidade. A moça ganhou uma linda bota e um chapéu de boiadeiro da futura sogra, que usaria para assistir à competição.

           Conheceram o Hospital de amor e ficaram perplexos e extasiados pela grandiosidade da instituição e calor humanos existentes no local. É um hospital moderno, enorme e abençoado, pois todos que necessitam de tratamento são acolhidos e assistidos da melhor maneira possível. São centenas de pessoas que passam por ali todos os dias, provenientes de todos os estados brasileiros.

              A festa de peões de boiadeiro de Barretos é cheia de muita fé, alegria, caridade e principalmente amor pelos doentes. Por sua própria condição de lidar com sertanejos, que são homens de fé e respeito aos ensinamentos de Deus, emana dessa simplicidade a vontade de contribuir para o bem-estar do próximo.

              A noite chegou estrelada e brilhante, propícia para eventos ao ar livre. Angel e os pais de Marcelo se dirigiram à arena, onde ele já se encontrava. Sentaram-se bem perto das baias dos cavalos, queriam ver os competidores de perto.

            A festa começou com o narrador fazendo uma oração a Nossa Senhora de Aparecida e todos os peões de cabeça baixa e com o chapéu nas mãos, fizeram a sua oração. Depois dos fogos de artifício e do desfile dos competidores foi dada a largada para a grande final. O berrante tocou mais uma vez e a arena se calou para assistir a contenda.

              O primeiro cavaleiro saiu com seu cavalo xucro, pulando desembestado e seu condutor parecia um boneco de pano, solto sobre o lombo do animal. De uma carreira rápida, ele foi atirado ao chão. Foi aplaudido e socorrido pelos salva-vidas, estava eliminado. Assim, foram surgindo os próximos candidatos, até que chegou a vez de Marcelo. A pontuação ficava entre setenta e oitenta, ninguém chegara a noventa até o momento.

              O coração de Angel batia tão rapidamente, que parecia saltar do peito. Puxou o lenço do pescoço e cobriu os olhos, temia por seu amor.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

"NOSSA SENHORA" "(...) SEMPRE QUE O MEU PRANTO ROLAR, PONHA SOBRE MIM SUAS MÃOS. AUMENTA MINHA FÉ E ACALMA O MEU CORAÇÃO. GRANDE É A PROCISSÃO A PEDIR, A MISERICÓRDIA, O PERDÃO. A CURA DO CORPO E PRA ALMA, A SALVAÇÃO. POBRES PECADORES, OH! MÃE, TÃO NECESSITADOS DE VÓS" (...). ERASMO CARLOS E ROBERTO CARLOS

DE JOELHOS NA ARENA

CAPÍTULO NOVE
A noite chegou e Angel acompanhada dos pais de Marcelo foi assistir as eliminatórias, para as finais de montarias de cavalos e touros. Jiló, o cavalo de Marcelo, era amargoso e xucro, corcoveava e rodopiava ao mesmo tempo, quando alguém tentava montá-lo. Várias vezes, Marcelo foi lançado para fora de seu dorso pelo animal enfurecido, que chacoalhava até o cavaleiro cair. Muito treino e teimosia estavam relacionados com Jiló e Marcelo.

    - Esse animal nunca será um cavalo manso e obediente, não adianta você insistir, diziam seus companheiros.

 Quando Romeu, o pai do rapaz, comprou o cavalo para dar ao filho, pensou que seria utilizado para transporte, no pequeno sítio de sua propriedade. Porém, o animal era rebelde e não gostava de amarras ou montarias. Jiló era altivo e mal-humorado e foi o causador do acidente, que quase aniquilou seu dono. O coice desferido na cabeça de Marcelo, poderia tê-lo matado. Entretanto, sua vida foi preservada, mas o marcou para sempre, com uma enorme cicatriz na testa.

O pai, enfurecido, queria vender o cavalo causador de muitas aflições, mas Marcelo implorou por uma última chance.

              O rapaz não guardava mágoas de Jiló, dizia que fora imprudente.

              - Ele faz o que sabe, quando não gosta de alguma coisa, se defende dando coices. Eu deveria ter tomado cuidado ao me abaixar atrás dele. Vou leva-lo para o rodeio, lá ele poderá pular e corcovear à vontade. Irei montá-lo e fazer o meu melhor. Concluiu o rapaz, para desespero de sua mãe.

              Havia muita gente na arena para assistir as eliminatórias. Todos, nas arquibancadas e camarotes estavam com os olhos pregados nos cavalos e cavaleiros. Um dos competidores teve uma queda de mal jeito e precisou ser levado ao hospital de ambulância. Foi uma correria e Angel ficou mais nervosa ainda, queria tirar o namorado dali, mas a festa estava apenas começando.

              Uma festa grandiosa, que envolve centenas de pessoas, para que sua programação seja efetiva e agrade a maioria dos presentes. Os peões se destacam pelas roupas características e muitos já são famosos, pelos desempenhos ao longo dos anos. Desfilam com suas caminhonetes, que valem cerca de duzentos e cinquenta mil reais, cada uma. Em cada evento, são distribuídos cerca de um milhão de reais aos vencedores de todas as etapas.

              A família, sentada na arquibancada, não aguentava a ansiedade, enquanto Marcelo aguardava sua vez de participar das eliminatórias. Finalmente, o narrador anunciou a prova seguinte, dizendo:

              - Esta será uma prova nos moldes brasileiros; a modalidade Cutiano, que existe oficialmente no Brasil, desde 1956. É uma prova conhecida por usar apenas uma mão, para o cavaleiro se segurar sobre o cavalo. O objetivo é demonstrar a habilidade do peão, em manter o equilíbrio somente com uma mão. É utilizado um arreio em forma de um V invertido. O competidor deve permanecer no lombo do animal por pelo menos oito segundos e ter estilo para saltar, quando descer do cavalo, que estará aos pulos.

              - Está de volta o peão Marcelo Magalhães, que sofreu um acidente com seu cavalo Jiló e, ambos estão participando, depois de uma longa ausência. Boa sorte e sejam bem-vindos! Concluiu o narrador.

              O coração de Angel parecia querer sair pela boca, de tão acelerado que estava.  A porta foi aberta, o cavalo saiu pulando feito doido e Marcelo grudado em seu dorso, corcoveava com o braço esquerdo erguido. Depois de dez segundos, Jiló atirou o homem ao chão; ele caiu em pé. Sua saída fora muito boa, seus pontos já tinham sido computados. Em seguida, o peão se ajoelhou no chão da arena, sabia que conseguira se classificar, e devia agradecer a sua santa de devoção.

              – Obrigado Nossa Senhora de Aparecida, imploro por sua proteção, estamos apenas começando, rezou baixinho, estava emocionado. Seu coração batia acelerado e procurou por Angel com os olhos cheios de lágrimas.

            A moça estava em pé, aplaudindo a performance de seu amor. Em seguida, Marcelo acenou para todos, estava muito feliz. Foi aplaudido pelo feito realizado e depois voltou ao salão de espera. O peão foi juntar-se aos outros concorrentes, para aguardar a classificação oficial.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 5 de junho de 2019

"NOSSA SENHORA" "(...) NOSSA SENHORA ME DÊ A MÃO, CUIDA DO MEU CORAÇÃO, DA MINHA VIDA, DO MEU DESTINO, DO MEU CAMINHO, CUIDA DE MIM". ERASMO CARLOS E ROBERTO CARLOS

COM LÁGRIMAS NOS OLHOS

CAPÍTULO OITO
            A jovem retornou para sua casa com os pais de Marcelo, mas prometeu voltar para assistir as finais na semana seguinte. O rapaz ficou alojado com sua comitiva, havia muitas coisas a serem realizadas nos próximos dias. Marcelo estava feliz, tinha alguém que vivia em seu coração, se importava com ele e isso o incentivava.

           O peão de boiadeiro estivera, por seis meses, afastado de todos os rodeios, durante a sua recuperação do acidente com seu cavalo Jiló. Este mesmo, que o ferira gravemente, estava ali e, Marcelo estava empenhado em competir com ele novamente. Seus pais tentaram dissuadi-lo, mas não obtiveram sucesso.

            Em meio a tantos peões estava o Roque, um peão vencedor da montaria de cavalos, em anos anteriores, agora ficava por conta das histórias contadas boca a boca. Os mais novos se reuniam para ouvir o homem experiente; nunca era demais saber dos segredos das arenas de touros e cavalos. O velho peão começou dizendo:

            - Uma vez peão, sempre peão, não importa onde vá, ou o tempo que passar. Essa arte fica entranhada na alma da gente, só a morte pode apagar. Então, diante do olhar de espanto dos rapazes, ele prosseguiu:

              - As comitivas ficam instaladas na área do camping, é muito grande o lugar reservado para recebê-las. É o local onde eles cozinham, preparam suas vestimentas, trocam ideias com os companheiros e conquistam amigos verdadeiros, que encontram em outros eventos e os acompanham por muito tempo. Os peões de boiadeiro e todos os sertanejos que frequentam os rodeios, têm um grande sentimento de solidariedade e fé em Deus.

           Angel estava inquieta, desde que Marcelo lhe mandou uma mensagem, dizendo que Jiló estava inscrito para participar do concurso. À noite, no silêncio do seu quarto, a menina ajoelhou e pediu à Nossa Senhora Aparecida para proteger o seu amor, já que não conseguiria impedi-lo de montar o animal perigoso.

              Roque tinha alma de sertanejo e a toda hora tirava o chapéu e se benzia, pedindo proteção a Nossa Senhora. Em seguida colocava o chapéu novamente na cabeça, tirava um pigarro da garganta e prosseguia:

           - Na hora do descanso no camping, muitos causos são compartilhados; histórias de peões que venceram por um triz, ou que morreram lutando por uma vitória. Esse evento grandioso, que movimenta milhões, tem um lado social muito importante, o “Hospital de Amor” para o tratamento do câncer.

            - Uma instituição conhecida mundialmente e referência no Brasil para o tratamento de tão grave patologia. O governo repassa uma parte da verba e o restante é coberto por doações. Os cantores sertanejos contribuem com boa parte das despesas do hospital de amor. Existem alas com nomes de seus benfeitores, que promovem shows, cuja renda vai para o hospital.

           - A programação da festa se estende por todos os dias da semana. A rainha do rodeio é escolhida com antecedência e faz as apresentações relevantes, para a promoção da festa do peão de boiadeiro. Nas aberturas dos trabalhos, a rainha monta a cavalo e com a bandeira da cidade, que acolhe o evento, desfila orgulhosamente. A jovem é muito aplaudida, enquanto dá voltas na arena acompanhada dos peões, que irão se apresentar naquela noite.

            - Em seguida, o narrador faz a oração pedindo proteção e, somente depois disso, que o berrante toca firme e forte para iniciar os trabalhos. Todas as noites, ocorrem shows de cantores sertanejos, depois das apresentações na arena. Esses locais estão sempre lotados, com pessoas de todas as partes do Brasil e também do exterior.

            - Há, também nas arenas, as seleções para as apresentações finais das montarias e concursos paralelos, tais como, o concurso de berrantes para homens e no dia seguinte, para mulheres. O famoso pau de sebo, para ver quem consegue chegar no topo e alcançar o prêmio. Um dos concursos mais concorrido é o da dança folclórica da ‘Catira” disputada por homens e, o concurso dos três tambores exclusivo para mulheres.

          - Esses homens destemidos diante de um cavalo xucro, ou um touro enraivecido pelas amarras em seu ventre, podem ser vistos ajoelhados e com o chapéu nas mãos. Agem assim, em respeito à Nossa Senhora Aparecida durante a oração, que precede a grande final.

             - A arena, com sessenta mil pessoas nas arquibancadas, se cala para ouvir a oração de agradecimento e pedidos de proteção. Muitos vão as lágrimas de emoção, os homens são sensíveis aos pedidos, pois vão enfrentar a morte em cima de animais bravios, muito mais fortes do que eles, assim que o berrante tocar.

              Na sexta-feira, os pais de Marcelo passaram na casa de Angel, para leva-la com eles para Barretos. Na chegada, o rapaz já os aguardava, estava feliz por rever sua família e principalmente sua namorada. Naquele dia, começariam as eliminatórias para a final de domingo.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa.


quarta-feira, 29 de maio de 2019

"NOSSA SENHORA" (...) "MESMO FERIDO DE ESPINHOS ME AJUDE A PASSAR. SE FICARAM MÁGOAS EM MIM, MÃE TIRA DO MEU CORAÇÃO. E AQUELES QUE EU FIZ SOFRER, PEÇO PERDÃO. SE EU CURVAR MEU CORPO NA DOR, ME ALIVIA O PESO DA CRUZ, INTERCEDA POR MIM MINHA MÃE, JUNTO A JESUS." (...) ERASMO CARLOS E ROBERTO CARLOS.

A QUEIMA DO ALHO

CAPÍTULO SETE
             Marcelo e Angel obtiveram a aprovação dos pais da menina, para irem com a família dele, na festa do peão de Barretos. Uma cidade do interior de São Paulo com cerca de cento e vinte mil habitantes, que chega a receber milhares de pessoas durante a festa do peão de boiadeiro.

            O rapaz queria que sua namorada conhecesse um pouco daquele evento grandioso. Começou dizendo que a festa acontece por dez dias, durante o mês de agosto e no domingo, que antecede a grande final do rodeio, é festejada a queima do alho. O evento ocorre com um grande concurso entre as comitivas.

             Faltavam três meses para o maior evento sertanejo e regional da festa do peão de boiadeiro de Barretos e, as comitivas já se organizavam para participar. Os apetrechos e mantimentos são preparados com bastante antecedência, pois, as comitivas são compostas de, mais ou menos, trinta pessoas. Quinze homens são diretamente envolvidos com os concursos e apresentações, dez são apoiadores, além de familiares do responsável pela comitiva.

             Marcelo continuou contando, estava empolgado, sobre o famoso rodeio no interior de São Paulo.

            - A festa se inicia na quinta-feira e se estende até o domingo da outra semana. São dez dias de eventos na arena do rodeio e logo após o término dos trabalhos com os animais, acontecem os shows de cantores sertanejos famosos, que avançam madrugada a dentro.

              Durante as festas de rodeio, no decorrer do ano, que são realizadas por todo o país, são classificadas vinte comitivas para participar da queima do alho, na festa de Barretos.

            - Marcelo, o que é a queima do alho, para que serve? Angel disse olhando fixamente para ele; estava curiosa.

              - Segundo alguns peões mais antigos, essa tradição vem do século passado. Os tropeiros saiam no lombo de cavalos, levando boiadas, tropas de cavalos ou burros e ficavam dias nas estradas, até chegarem ao destino. Era assim que acontecia o comércio de animais, no início do século passado. Esses homens enfrentavam as chuvas, o frio, muitas dificuldades e precisavam de alimentos fortes, para aguentar as intempéries.

             - Nem sempre tinham lugar para comer e descansar, então, os tropeiros que sabiam cozinhar, preparavam um fogão feito no chão de terra e colocavam os alimentos no fogo, que carregavam nos lombos dos cavalos. O jantar era composto de feijão gordo com carne seca, arroz de carreteiro feito, também, com carne seca, bacon, muito tempero e paçoca de carne, além de churrasco na chapa.

             E, para avisar os demais que estavam cuidando da tropa, de que o jantar estava pronto, queimavam alho. Depois da comilança, ficavam tocando viola e cantando músicas sertanejas.

              - Dizem que o cheiro forte do alho, tomava conta de uma distância de mil metros e envolvia as pessoas, que voltavam rapidamente para comer, pois, a essa altura já estavam famintos. Essa prática se espalhou e passou a fazer parte da cultura sertaneja. Homens de pouco estudo, em sua maioria, mas, ágeis com os animais e tementes a Deus. Assim eram os peões de boiadeiro em tempos passados.

            Marcelo sentia-se à vontade para falar e conviver com todas essas tradições e histórias de peões de boiadeiro. Angel mantinha-se envolvida pelas coisas que seu amado dizia e, vez ou outra fazia uma observação, ou perguntava alguma coisa.

          O avô materno do rapaz, foi peão em uma fazenda de gado no interior do estado de São Paulo e sempre contava histórias e causos sobre touros bravos, cavalos indomáveis e perigosos. Havia alguns fatos que deixavam o menino com medo. Seu avô dizia que aconteceram casos, em que o peão caiu de mal jeito e morreu na arena do rodeio; quedas terríveis, tanto de cavalos como de touros. Marcelo tremia de medo quando ouvia essas histórias. E, não contou para Angel, ficou com medo, de que ela quisesse voltar para casa.

             Finalmente, chegou o dia da competição e os trabalhos começaram cedo. Em cada galpão é preparado o café dos componentes da comitiva e depois começam a preparar os alimentos para a hora do concurso. Os três cozinheiros, dentro de cada quadrado, identificado com o nome de sua comitiva, se revezam nas tarefas. Os homens cozinham em fogão improvisado com chapas de ferro, no chão de terra, como faziam os antigos tropeiros, essa é uma exigência do concurso.

           Mas, o evento começa, somente após o berrante dar o toque  para a abertura do concurso. Ganha quem preparar o melhor almoço, no menor tempo possível. São três jurados que provam e escolhem a melhor comida e, a que foi mais fiel a tradição sertaneja.

              Marcelo fazia parte da comitiva “Por do Sol” e todos os anos tinha seu lugar garantido. O rapaz e sua namorada chegaram com a comitiva e estavam passeando entre os galpões. Cada grupo tinha suas bandeiras hasteadas balançando ao vento. As bandeiras do Brasil, do estado a que pertence cada comitiva e do município também.

             Para Angel tudo era novidade, um mundo antes desconhecido. Ali havia muita gente, muita comida, muitos apetrechos de montaria e rapadura de cana de açúcar para adoçar a boca, sobre os balcões de madeira.

              Enquanto aguardavam o almoço ser servido, os homens se ocupavam de treinamentos, cada um em sua área. Um grupo dançava a “Catira” como treinamento para a apresentação no concurso de dança regional. O casal de namorados ficou parado, ouvindo músicas sertanejas de raiz, enquanto os homens batiam os pés sobre as tábuas dispostas lado a lado. Angel estava admirada por ver os homens cozinhando e dançando, enquanto as mulheres passeavam. 

             Nesse momento, um forte cheiro de alho inundou o ambiente, era o sinal; o almoço estava pronto.

             Marcelo explicou, que nas fazendas de gados são os homens que fazem a maioria dos trabalhos de sobrevivência. E, adoram reviver o passado, mantendo a tradição de seus antecessores. Em seguida, foram pegar o prato feito dos quitutes, da tradição sertaneja.

           Angel se fartou com um prato cheio e ficou admirada pela delícia de almoço, preparado pelos cozinheiros da comitiva dos peões de boiadeiro.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 22 de maio de 2019

"NOSSA SENHORA" "CUBRA-ME COM SEU MANTO DE AMOR, GUARDA-ME NA PAZ DESSE OLHAR. CURA-ME AS FERIDAS E A DOR, ME FAZ SUPORTAR. QUE AS PEDRAS DO MEU CAMINHO MEUS PÉS SUPORTEM PISAR" (...) ERASMO CARLOS E ROBERTO CARLOS.

LAÇOS DE CARINHO

CAPÍTULO SEIS
            Alguns dias se passaram e Angel pensava o tempo todo em Marcelo, não iria procurá-lo para não parecer oferecida, mas seu coração ansiava por ele. Era sábado e ela estava triste, nenhuma notícia do peão de boiadeiro, que se tornara seu bem maior. Ele tomara conta de seus pensamentos, de um jeito antes desconhecido.

               A jovem, que estava no último ano do segundo grau e estava se preparando para prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), não conseguia ter foco nos estudos. É um exame muito importante, pois dá direito ao aluno que for bem classificado, de cursar uma faculdade sem pagar nada. Os pais cobram dos filhos um bom desempenho nesse exame, que seleciona os melhores por competência.

             Olga ficava preocupada com a filha, que demonstrava estar no mundo da lua, isto é, pensativa e sem interesse nos estudos. Assim, chamou a menina para uma conversa.

              - Angel, se você quer namorar o Marcelo, terá que fazer uma boa prova, ou não haverá namoro nenhum.

               - Eu vou passar mãe, eu lhe prometo isso, mas deixa eu sair com o Marcelo. Retrucou a moça.

               -Vamos ver, se ele aparecer, vamos conversar. Completou a mãe, visivelmente preocupada.

           O sábado terminou e Marcelo não apareceu. Angel foi dormir chorando e amanheceu com os olhos inchados, estava triste e solitária.

        - Com certeza, ele já arrumara outra pessoa. Pensou tristonha. Naquele meio, o assédio por parte das moças aos peões é grande; ela sabia disso.

             O dia amanheceu e Angel permaneceu deitada, estava desanimada. Não pensava em se levantar, apesar de já ser quase dez horas da manhã de domingo. A fossa estava apenas em andamento, quando ela ouviu uma buzina conhecida.

            – Não pode ser, estou horrível, o Marcelo vai me odiar. Em seguida, levantou-se e espiou pela janela. Era ele, vestido de peão de boiadeiro.

          –Meu Deus, o que eu faço agora? Havia uma única saída e correu para o banheiro.

               Olga abriu a porta do quarto para chamar a filha e viu que ela estava tomando banho. Percebeu que Angel estava em apuros e resolveu ajudar.  

           Assim, pediu para o rapaz entrar e ofereceu café, enquanto aguardava a menina.

Angel tomou um banho muito rápido e se vestiu mais depressa ainda, pois estava com medo que o rapaz fosse embora. E, depois apareceu na porta, toda cheirosa e sorrindo. Marcelo levantou-se e foi ao seu encontro com um beijo no rosto.

Formavam um belo casal, pensou a mãe orgulhosa. Aquele peão era um rapaz muito bonito. Estava vestido a caráter, de botas de cano alto com esporas reluzentes. Na cintura da calça jeans, tinha um cinto com fivela larga e a carranca de um touro esculpida. Para completar o figurino, vestia uma camisa xadrez e entre os botões abertos, ostentava o cordão com a medalha de Nossa Senhora Aparecida. Na cabeça, o chapéu de boiadeiro trazia a medalha de sua santa de devoção, pregada em destaque. Era sedutor e cheio de carisma; a mãe compreendia a ansiedade da filha.

A menina se aproximou dele e suspirou, estava feliz, aquele era o seu príncipe encantado. Em seguida, saíram dizendo que iriam dar uma volta. Sentaram-se no banco da praça com um sorvete na mão, estavam alegres. E, entre risos, o rapaz explicou que passara a semana em uma cidade do sul de Minas Gerais, para participar do rodeio local. Estava chegando e passara para vê-la, sentira sua falta. Sentia-se melhor, as dores de cabeça estavam desaparecendo e deveria voltar ao trabalho aos poucos.

Depois, disse a ela que ambos iriam ao rodeio de Barretos, havia tempo suficiente para sua recuperação e poderia competir naquele evento. A menina sorriu, Marcelo fazia planos e ela estava incluída, isso era um bom sinal.

  – Angel, eu te quero muito bem, cresceu em mim laços de carinho em relação a você. Em seguida a beijou, ficavam felizes quando estavam juntos.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.


quarta-feira, 15 de maio de 2019

"ROMARIA" (...) "ME DISSERAM, PORÉM, QUE EU VIESSE AQUI. PRA PEDIR EM ROMARIA E PRECE, PAZ NOS DESAVENTOS. COMO EU NÃO SEI REZAR, SÓ QUERIA MOSTRAR MEU OLHAR, MEU OLHAR, MEU OLHAR." RENATO TEIXEIRA

ROGAI POR NÓS

CAPÍTULO CINCO
           Marcelo encostou o automóvel em uma pracinha e retribuiu o beijo. Este foi diretamente na boca de Angel; eles já estavam prontos para trocar carícias. Brotava, naquele momento, um sentimento de amor, que vinha sendo germinado desde o dia, em que se encontraram no P.S.

Ficaram ali se entreolhando e trocando beijos durante algum tempo, depois saíram em direção à casa de Angel. Ela desceu do veículo, estava andando nas nuvens, lhe faltava o chão firme. Estava emocionada com a chegada do primeiro amor; um sentimento que surgia forte e promissor.

A menina se mostrava ansiosa para a chegada do domingo de manhã, porque seguiriam para a cidade de Aparecida do Norte, no vale do Paraíba. Estava eufórica para a viagem com os pais de Marcelo. Uma visita de agradecimentos à santa de devoção dos peões de boiadeiro, de quem agora ela, também, se tornara devota.

             Ainda estava escuro, quando a caminhonete encostou para levar mãe e filha para a viagem programada. Marcelo estava sentado no banco da frente com seu pai e atrás iam as três mulheres. A mãe do rapaz, Olga e Angel, estavam alegres e conversavam amistosamente.

             Após uma parada para esticar as pernas e tomar um café, a viagem alcançava seu destino. Ainda estavam na entrada, quando avistaram a Basílica, altiva e imponente. O pai parou o veículo e todos desceram para apreciar a paisagem maravilhosa. Uma vista única, onde o destaque era a imensa Basílica de Aparecida. Situada em um plano elevado e tendo a cidade aos seus pés, com toda a estrutura de estacionamentos ao redor de sua sede, parecia reinar e abençoar toda a região.

             Extasiados, seguiram viagem e entraram na cidade, que tem seu comércio todo voltado para os romeiros e turistas que visitam o santuário. Aos domingos, desde as primeiras horas da madrugada, os visitantes começam a chegar em ônibus e, aos poucos tomam conta de todas as ruas e estacionamentos existentes por ali.

             O Sol apareceu dando brilho a fachada da Basílica e anunciando um domingo luminoso. Os novos romeiros seguiram a pé as escadarias da igreja. Entraram e se surpreenderam com a quantidade de pessoas que havia lá dentro. Uma multidão pronta para assistir à missa das dez horas e render homenagens à santa.

             O tempo passou rápido, envolvido pelos cânticos e louvores à Nossa Senhora; um clima de amor e paz reinava entre os fiéis. Uma fila enorme se formou, para receber a comunhão das mãos do bispo e padres, que entregavam a hóstia aos comungantes.

           Quando a missa terminou, a fila se formou em frente a imagem original da santa, aquela que foi encontrada pelos pescadores no rio Paraíba do Sul, no Estado de São Paulo em 1717. Exposta em um nicho dourado na parte alta da igreja e protegida por vidros blindados, era o foco principal de todos os romeiros. Cada um se ajoelhava e rezava à virgem, em agradecimento por graças recebidas ou até por um pedido urgente e necessário.

            A imagem original da Santa, que ficava exposta no altar, sofreu um ataque, que a despedaçou e teve que ser restaurada. Depois desse fato, a imagem só pode ser contemplada, mas não pode ser tocada.

             Depois do grupo se ajoelhar diante da imagem, em agradecimento aos livramentos recebidos, foram até a sala de milagres. Um verdadeiro arsenal de velas, partes do corpo humano confeccionados pelos mais variados materiais, lembranças de todos os tipos e vindas de todas as partes do país, testemunham a fé e os milagres recebidos.

             Marcelo e Angel se deslocavam mais rapidamente que seus pais e ele a levou a uma barraca de lembranças de Aparecida. Lá ele escolheu uma corrente com medalha da santa e deu de presente à Angel. Disse que era para protege-la de qualquer mal que se aproximasse. Ela sorriu e colocou no pescoço, depois o beijou na boca.

            No entanto, teriam que levá-la para ser benzida e o casal voltou à igreja, enquanto os pais ficavam descansando em uma lanchonete. Procuraram um padre e a medalha foi benzida com água benta e colocada novamente no pescoço da menina.

             Angel estava orgulhosa do presente recebido e ostentava em seu colo a imagem da santa, estava feliz da vida. Almoçaram na lanchonete e ao adentrar o veículo, todos olharam para trás e pediram.

          - Rogai por nós, Santa Mãe de Deus!

E, seguiram a viagem de volta, envolvidos por sentimentos de amor e paz, depois de um dia de devoção e muita fé.  
    
 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

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