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quarta-feira, 5 de junho de 2019

"NOSSA SENHORA" "(...) NOSSA SENHORA ME DÊ A MÃO, CUIDA DO MEU CORAÇÃO, DA MINHA VIDA, DO MEU DESTINO, DO MEU CAMINHO, CUIDA DE MIM". ERASMO CARLOS E ROBERTO CARLOS

COM LÁGRIMAS NOS OLHOS

CAPÍTULO OITO
            A jovem retornou para sua casa com os pais de Marcelo, mas prometeu voltar para assistir as finais na semana seguinte. O rapaz ficou alojado com sua comitiva, havia muitas coisas a serem realizadas nos próximos dias. Marcelo estava feliz, tinha alguém que vivia em seu coração, se importava com ele e isso o incentivava.

           O peão de boiadeiro estivera, por seis meses, afastado de todos os rodeios, durante a sua recuperação do acidente com seu cavalo Jiló. Este mesmo, que o ferira gravemente, estava ali e, Marcelo estava empenhado em competir com ele novamente. Seus pais tentaram dissuadi-lo, mas não obtiveram sucesso.

            Em meio a tantos peões estava o Roque, um peão vencedor da montaria de cavalos, em anos anteriores, agora ficava por conta das histórias contadas boca a boca. Os mais novos se reuniam para ouvir o homem experiente; nunca era demais saber dos segredos das arenas de touros e cavalos. O velho peão começou dizendo:

            - Uma vez peão, sempre peão, não importa onde vá, ou o tempo que passar. Essa arte fica entranhada na alma da gente, só a morte pode apagar. Então, diante do olhar de espanto dos rapazes, ele prosseguiu:

              - As comitivas ficam instaladas na área do camping, é muito grande o lugar reservado para recebê-las. É o local onde eles cozinham, preparam suas vestimentas, trocam ideias com os companheiros e conquistam amigos verdadeiros, que encontram em outros eventos e os acompanham por muito tempo. Os peões de boiadeiro e todos os sertanejos que frequentam os rodeios, têm um grande sentimento de solidariedade e fé em Deus.

           Angel estava inquieta, desde que Marcelo lhe mandou uma mensagem, dizendo que Jiló estava inscrito para participar do concurso. À noite, no silêncio do seu quarto, a menina ajoelhou e pediu à Nossa Senhora Aparecida para proteger o seu amor, já que não conseguiria impedi-lo de montar o animal perigoso.

              Roque tinha alma de sertanejo e a toda hora tirava o chapéu e se benzia, pedindo proteção a Nossa Senhora. Em seguida colocava o chapéu novamente na cabeça, tirava um pigarro da garganta e prosseguia:

           - Na hora do descanso no camping, muitos causos são compartilhados; histórias de peões que venceram por um triz, ou que morreram lutando por uma vitória. Esse evento grandioso, que movimenta milhões, tem um lado social muito importante, o “Hospital de Amor” para o tratamento do câncer.

            - Uma instituição conhecida mundialmente e referência no Brasil para o tratamento de tão grave patologia. O governo repassa uma parte da verba e o restante é coberto por doações. Os cantores sertanejos contribuem com boa parte das despesas do hospital de amor. Existem alas com nomes de seus benfeitores, que promovem shows, cuja renda vai para o hospital.

           - A programação da festa se estende por todos os dias da semana. A rainha do rodeio é escolhida com antecedência e faz as apresentações relevantes, para a promoção da festa do peão de boiadeiro. Nas aberturas dos trabalhos, a rainha monta a cavalo e com a bandeira da cidade, que acolhe o evento, desfila orgulhosamente. A jovem é muito aplaudida, enquanto dá voltas na arena acompanhada dos peões, que irão se apresentar naquela noite.

            - Em seguida, o narrador faz a oração pedindo proteção e, somente depois disso, que o berrante toca firme e forte para iniciar os trabalhos. Todas as noites, ocorrem shows de cantores sertanejos, depois das apresentações na arena. Esses locais estão sempre lotados, com pessoas de todas as partes do Brasil e também do exterior.

            - Há, também nas arenas, as seleções para as apresentações finais das montarias e concursos paralelos, tais como, o concurso de berrantes para homens e no dia seguinte, para mulheres. O famoso pau de sebo, para ver quem consegue chegar no topo e alcançar o prêmio. Um dos concursos mais concorrido é o da dança folclórica da ‘Catira” disputada por homens e, o concurso dos três tambores exclusivo para mulheres.

          - Esses homens destemidos diante de um cavalo xucro, ou um touro enraivecido pelas amarras em seu ventre, podem ser vistos ajoelhados e com o chapéu nas mãos. Agem assim, em respeito à Nossa Senhora Aparecida durante a oração, que precede a grande final.

             - A arena, com sessenta mil pessoas nas arquibancadas, se cala para ouvir a oração de agradecimento e pedidos de proteção. Muitos vão as lágrimas de emoção, os homens são sensíveis aos pedidos, pois vão enfrentar a morte em cima de animais bravios, muito mais fortes do que eles, assim que o berrante tocar.

              Na sexta-feira, os pais de Marcelo passaram na casa de Angel, para leva-la com eles para Barretos. Na chegada, o rapaz já os aguardava, estava feliz por rever sua família e principalmente sua namorada. Naquele dia, começariam as eliminatórias para a final de domingo.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa.


quarta-feira, 29 de maio de 2019

"NOSSA SENHORA" (...) "MESMO FERIDO DE ESPINHOS ME AJUDE A PASSAR. SE FICARAM MÁGOAS EM MIM, MÃE TIRA DO MEU CORAÇÃO. E AQUELES QUE EU FIZ SOFRER, PEÇO PERDÃO. SE EU CURVAR MEU CORPO NA DOR, ME ALIVIA O PESO DA CRUZ, INTERCEDA POR MIM MINHA MÃE, JUNTO A JESUS." (...) ERASMO CARLOS E ROBERTO CARLOS.

A QUEIMA DO ALHO

CAPÍTULO SETE
             Marcelo e Angel obtiveram a aprovação dos pais da menina, para irem com a família dele, na festa do peão de Barretos. Uma cidade do interior de São Paulo com cerca de cento e vinte mil habitantes, que chega a receber milhares de pessoas durante a festa do peão de boiadeiro.

            O rapaz queria que sua namorada conhecesse um pouco daquele evento grandioso. Começou dizendo que a festa acontece por dez dias, durante o mês de agosto e no domingo, que antecede a grande final do rodeio, é festejada a queima do alho. O evento ocorre com um grande concurso entre as comitivas.

             Faltavam três meses para o maior evento sertanejo e regional da festa do peão de boiadeiro de Barretos e, as comitivas já se organizavam para participar. Os apetrechos e mantimentos são preparados com bastante antecedência, pois, as comitivas são compostas de, mais ou menos, trinta pessoas. Quinze homens são diretamente envolvidos com os concursos e apresentações, dez são apoiadores, além de familiares do responsável pela comitiva.

             Marcelo continuou contando, estava empolgado, sobre o famoso rodeio no interior de São Paulo.

            - A festa se inicia na quinta-feira e se estende até o domingo da outra semana. São dez dias de eventos na arena do rodeio e logo após o término dos trabalhos com os animais, acontecem os shows de cantores sertanejos famosos, que avançam madrugada a dentro.

              Durante as festas de rodeio, no decorrer do ano, que são realizadas por todo o país, são classificadas vinte comitivas para participar da queima do alho, na festa de Barretos.

            - Marcelo, o que é a queima do alho, para que serve? Angel disse olhando fixamente para ele; estava curiosa.

              - Segundo alguns peões mais antigos, essa tradição vem do século passado. Os tropeiros saiam no lombo de cavalos, levando boiadas, tropas de cavalos ou burros e ficavam dias nas estradas, até chegarem ao destino. Era assim que acontecia o comércio de animais, no início do século passado. Esses homens enfrentavam as chuvas, o frio, muitas dificuldades e precisavam de alimentos fortes, para aguentar as intempéries.

             - Nem sempre tinham lugar para comer e descansar, então, os tropeiros que sabiam cozinhar, preparavam um fogão feito no chão de terra e colocavam os alimentos no fogo, que carregavam nos lombos dos cavalos. O jantar era composto de feijão gordo com carne seca, arroz de carreteiro feito, também, com carne seca, bacon, muito tempero e paçoca de carne, além de churrasco na chapa.

             E, para avisar os demais que estavam cuidando da tropa, de que o jantar estava pronto, queimavam alho. Depois da comilança, ficavam tocando viola e cantando músicas sertanejas.

              - Dizem que o cheiro forte do alho, tomava conta de uma distância de mil metros e envolvia as pessoas, que voltavam rapidamente para comer, pois, a essa altura já estavam famintos. Essa prática se espalhou e passou a fazer parte da cultura sertaneja. Homens de pouco estudo, em sua maioria, mas, ágeis com os animais e tementes a Deus. Assim eram os peões de boiadeiro em tempos passados.

            Marcelo sentia-se à vontade para falar e conviver com todas essas tradições e histórias de peões de boiadeiro. Angel mantinha-se envolvida pelas coisas que seu amado dizia e, vez ou outra fazia uma observação, ou perguntava alguma coisa.

          O avô materno do rapaz, foi peão em uma fazenda de gado no interior do estado de São Paulo e sempre contava histórias e causos sobre touros bravos, cavalos indomáveis e perigosos. Havia alguns fatos que deixavam o menino com medo. Seu avô dizia que aconteceram casos, em que o peão caiu de mal jeito e morreu na arena do rodeio; quedas terríveis, tanto de cavalos como de touros. Marcelo tremia de medo quando ouvia essas histórias. E, não contou para Angel, ficou com medo, de que ela quisesse voltar para casa.

             Finalmente, chegou o dia da competição e os trabalhos começaram cedo. Em cada galpão é preparado o café dos componentes da comitiva e depois começam a preparar os alimentos para a hora do concurso. Os três cozinheiros, dentro de cada quadrado, identificado com o nome de sua comitiva, se revezam nas tarefas. Os homens cozinham em fogão improvisado com chapas de ferro, no chão de terra, como faziam os antigos tropeiros, essa é uma exigência do concurso.

           Mas, o evento começa, somente após o berrante dar o toque  para a abertura do concurso. Ganha quem preparar o melhor almoço, no menor tempo possível. São três jurados que provam e escolhem a melhor comida e, a que foi mais fiel a tradição sertaneja.

              Marcelo fazia parte da comitiva “Por do Sol” e todos os anos tinha seu lugar garantido. O rapaz e sua namorada chegaram com a comitiva e estavam passeando entre os galpões. Cada grupo tinha suas bandeiras hasteadas balançando ao vento. As bandeiras do Brasil, do estado a que pertence cada comitiva e do município também.

             Para Angel tudo era novidade, um mundo antes desconhecido. Ali havia muita gente, muita comida, muitos apetrechos de montaria e rapadura de cana de açúcar para adoçar a boca, sobre os balcões de madeira.

              Enquanto aguardavam o almoço ser servido, os homens se ocupavam de treinamentos, cada um em sua área. Um grupo dançava a “Catira” como treinamento para a apresentação no concurso de dança regional. O casal de namorados ficou parado, ouvindo músicas sertanejas de raiz, enquanto os homens batiam os pés sobre as tábuas dispostas lado a lado. Angel estava admirada por ver os homens cozinhando e dançando, enquanto as mulheres passeavam. 

             Nesse momento, um forte cheiro de alho inundou o ambiente, era o sinal; o almoço estava pronto.

             Marcelo explicou, que nas fazendas de gados são os homens que fazem a maioria dos trabalhos de sobrevivência. E, adoram reviver o passado, mantendo a tradição de seus antecessores. Em seguida, foram pegar o prato feito dos quitutes, da tradição sertaneja.

           Angel se fartou com um prato cheio e ficou admirada pela delícia de almoço, preparado pelos cozinheiros da comitiva dos peões de boiadeiro.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 22 de maio de 2019

"NOSSA SENHORA" "CUBRA-ME COM SEU MANTO DE AMOR, GUARDA-ME NA PAZ DESSE OLHAR. CURA-ME AS FERIDAS E A DOR, ME FAZ SUPORTAR. QUE AS PEDRAS DO MEU CAMINHO MEUS PÉS SUPORTEM PISAR" (...) ERASMO CARLOS E ROBERTO CARLOS.

LAÇOS DE CARINHO

CAPÍTULO SEIS
            Alguns dias se passaram e Angel pensava o tempo todo em Marcelo, não iria procurá-lo para não parecer oferecida, mas seu coração ansiava por ele. Era sábado e ela estava triste, nenhuma notícia do peão de boiadeiro, que se tornara seu bem maior. Ele tomara conta de seus pensamentos, de um jeito antes desconhecido.

               A jovem, que estava no último ano do segundo grau e estava se preparando para prestar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), não conseguia ter foco nos estudos. É um exame muito importante, pois dá direito ao aluno que for bem classificado, de cursar uma faculdade sem pagar nada. Os pais cobram dos filhos um bom desempenho nesse exame, que seleciona os melhores por competência.

             Olga ficava preocupada com a filha, que demonstrava estar no mundo da lua, isto é, pensativa e sem interesse nos estudos. Assim, chamou a menina para uma conversa.

              - Angel, se você quer namorar o Marcelo, terá que fazer uma boa prova, ou não haverá namoro nenhum.

               - Eu vou passar mãe, eu lhe prometo isso, mas deixa eu sair com o Marcelo. Retrucou a moça.

               -Vamos ver, se ele aparecer, vamos conversar. Completou a mãe, visivelmente preocupada.

           O sábado terminou e Marcelo não apareceu. Angel foi dormir chorando e amanheceu com os olhos inchados, estava triste e solitária.

        - Com certeza, ele já arrumara outra pessoa. Pensou tristonha. Naquele meio, o assédio por parte das moças aos peões é grande; ela sabia disso.

             O dia amanheceu e Angel permaneceu deitada, estava desanimada. Não pensava em se levantar, apesar de já ser quase dez horas da manhã de domingo. A fossa estava apenas em andamento, quando ela ouviu uma buzina conhecida.

            – Não pode ser, estou horrível, o Marcelo vai me odiar. Em seguida, levantou-se e espiou pela janela. Era ele, vestido de peão de boiadeiro.

          –Meu Deus, o que eu faço agora? Havia uma única saída e correu para o banheiro.

               Olga abriu a porta do quarto para chamar a filha e viu que ela estava tomando banho. Percebeu que Angel estava em apuros e resolveu ajudar.  

           Assim, pediu para o rapaz entrar e ofereceu café, enquanto aguardava a menina.

Angel tomou um banho muito rápido e se vestiu mais depressa ainda, pois estava com medo que o rapaz fosse embora. E, depois apareceu na porta, toda cheirosa e sorrindo. Marcelo levantou-se e foi ao seu encontro com um beijo no rosto.

Formavam um belo casal, pensou a mãe orgulhosa. Aquele peão era um rapaz muito bonito. Estava vestido a caráter, de botas de cano alto com esporas reluzentes. Na cintura da calça jeans, tinha um cinto com fivela larga e a carranca de um touro esculpida. Para completar o figurino, vestia uma camisa xadrez e entre os botões abertos, ostentava o cordão com a medalha de Nossa Senhora Aparecida. Na cabeça, o chapéu de boiadeiro trazia a medalha de sua santa de devoção, pregada em destaque. Era sedutor e cheio de carisma; a mãe compreendia a ansiedade da filha.

A menina se aproximou dele e suspirou, estava feliz, aquele era o seu príncipe encantado. Em seguida, saíram dizendo que iriam dar uma volta. Sentaram-se no banco da praça com um sorvete na mão, estavam alegres. E, entre risos, o rapaz explicou que passara a semana em uma cidade do sul de Minas Gerais, para participar do rodeio local. Estava chegando e passara para vê-la, sentira sua falta. Sentia-se melhor, as dores de cabeça estavam desaparecendo e deveria voltar ao trabalho aos poucos.

Depois, disse a ela que ambos iriam ao rodeio de Barretos, havia tempo suficiente para sua recuperação e poderia competir naquele evento. A menina sorriu, Marcelo fazia planos e ela estava incluída, isso era um bom sinal.

  – Angel, eu te quero muito bem, cresceu em mim laços de carinho em relação a você. Em seguida a beijou, ficavam felizes quando estavam juntos.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.


quarta-feira, 15 de maio de 2019

"ROMARIA" (...) "ME DISSERAM, PORÉM, QUE EU VIESSE AQUI. PRA PEDIR EM ROMARIA E PRECE, PAZ NOS DESAVENTOS. COMO EU NÃO SEI REZAR, SÓ QUERIA MOSTRAR MEU OLHAR, MEU OLHAR, MEU OLHAR." RENATO TEIXEIRA

ROGAI POR NÓS

CAPÍTULO CINCO
           Marcelo encostou o automóvel em uma pracinha e retribuiu o beijo. Este foi diretamente na boca de Angel; eles já estavam prontos para trocar carícias. Brotava, naquele momento, um sentimento de amor, que vinha sendo germinado desde o dia, em que se encontraram no P.S.

Ficaram ali se entreolhando e trocando beijos durante algum tempo, depois saíram em direção à casa de Angel. Ela desceu do veículo, estava andando nas nuvens, lhe faltava o chão firme. Estava emocionada com a chegada do primeiro amor; um sentimento que surgia forte e promissor.

A menina se mostrava ansiosa para a chegada do domingo de manhã, porque seguiriam para a cidade de Aparecida do Norte, no vale do Paraíba. Estava eufórica para a viagem com os pais de Marcelo. Uma visita de agradecimentos à santa de devoção dos peões de boiadeiro, de quem agora ela, também, se tornara devota.

             Ainda estava escuro, quando a caminhonete encostou para levar mãe e filha para a viagem programada. Marcelo estava sentado no banco da frente com seu pai e atrás iam as três mulheres. A mãe do rapaz, Olga e Angel, estavam alegres e conversavam amistosamente.

             Após uma parada para esticar as pernas e tomar um café, a viagem alcançava seu destino. Ainda estavam na entrada, quando avistaram a Basílica, altiva e imponente. O pai parou o veículo e todos desceram para apreciar a paisagem maravilhosa. Uma vista única, onde o destaque era a imensa Basílica de Aparecida. Situada em um plano elevado e tendo a cidade aos seus pés, com toda a estrutura de estacionamentos ao redor de sua sede, parecia reinar e abençoar toda a região.

             Extasiados, seguiram viagem e entraram na cidade, que tem seu comércio todo voltado para os romeiros e turistas que visitam o santuário. Aos domingos, desde as primeiras horas da madrugada, os visitantes começam a chegar em ônibus e, aos poucos tomam conta de todas as ruas e estacionamentos existentes por ali.

             O Sol apareceu dando brilho a fachada da Basílica e anunciando um domingo luminoso. Os novos romeiros seguiram a pé as escadarias da igreja. Entraram e se surpreenderam com a quantidade de pessoas que havia lá dentro. Uma multidão pronta para assistir à missa das dez horas e render homenagens à santa.

             O tempo passou rápido, envolvido pelos cânticos e louvores à Nossa Senhora; um clima de amor e paz reinava entre os fiéis. Uma fila enorme se formou, para receber a comunhão das mãos do bispo e padres, que entregavam a hóstia aos comungantes.

           Quando a missa terminou, a fila se formou em frente a imagem original da santa, aquela que foi encontrada pelos pescadores no rio Paraíba do Sul, no Estado de São Paulo em 1717. Exposta em um nicho dourado na parte alta da igreja e protegida por vidros blindados, era o foco principal de todos os romeiros. Cada um se ajoelhava e rezava à virgem, em agradecimento por graças recebidas ou até por um pedido urgente e necessário.

            A imagem original da Santa, que ficava exposta no altar, sofreu um ataque, que a despedaçou e teve que ser restaurada. Depois desse fato, a imagem só pode ser contemplada, mas não pode ser tocada.

             Depois do grupo se ajoelhar diante da imagem, em agradecimento aos livramentos recebidos, foram até a sala de milagres. Um verdadeiro arsenal de velas, partes do corpo humano confeccionados pelos mais variados materiais, lembranças de todos os tipos e vindas de todas as partes do país, testemunham a fé e os milagres recebidos.

             Marcelo e Angel se deslocavam mais rapidamente que seus pais e ele a levou a uma barraca de lembranças de Aparecida. Lá ele escolheu uma corrente com medalha da santa e deu de presente à Angel. Disse que era para protege-la de qualquer mal que se aproximasse. Ela sorriu e colocou no pescoço, depois o beijou na boca.

            No entanto, teriam que levá-la para ser benzida e o casal voltou à igreja, enquanto os pais ficavam descansando em uma lanchonete. Procuraram um padre e a medalha foi benzida com água benta e colocada novamente no pescoço da menina.

             Angel estava orgulhosa do presente recebido e ostentava em seu colo a imagem da santa, estava feliz da vida. Almoçaram na lanchonete e ao adentrar o veículo, todos olharam para trás e pediram.

          - Rogai por nós, Santa Mãe de Deus!

E, seguiram a viagem de volta, envolvidos por sentimentos de amor e paz, depois de um dia de devoção e muita fé.  
    
 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 8 de maio de 2019

"ROMARIA" (...) SOU CAIPIRA PIRAPORA NOSSA, SENHORA DE APARECIDA, ILUMINA A MINA ESCURA E FUNDA O TREM DA MINHA VIDA. SOU CAIPIRA PIRAPORA NOSSA, SENHORA DE APARECIDA. ILUMINA A MINA ESCURA E FUNDA O TREM DA MINHA VIDA". (...) RENATO TEIXEIRA

CONVERSA VAI, CONVERSA VEM

CAPÍTULO QUATRO
            Marcelo reclamava de dores de cabeça o tempo todo, apesar dos remédios administrados pela equipe de enfermagem. Foram realizados novos exames de imagem e nada foi encontrado de mais grave. No entanto, o impacto do coice abriu uma lesão, que deixou o osso da calota craniana a mostra e ali era o ponto frágil da dor relatada. Nesse local havia dois pontos inflamados e dolorosos.

               A lesão fora costurada pelo cirurgião plástico, porque o corte chegava até bem perto da sobrancelha. A queixa era natural, dizia o médico, temos que aguardar os efeitos dos antibióticos e mantê-lo em observação.

           Após doze dias da ocorrência, Marcelo recebeu alta hospitalar, estava relativamente bem. Havia cumprido o tempo de antibióticos prescritos e poderia convalescer em sua casa. O rapaz que era moreno queimado de Sol, estava pálido e fraco ao se levantar. Angel estava ali para ampará-lo, depois de todos aqueles dias de internação e com as visitas frequentes da moça, tornaram-se amigos.

            Passaram-se mais alguns dias, sem que Angel se encontrasse com Marcelo. E, grande foi seu espanto, quando ele foi até sua casa.

                - Precisamos conversar, disse com um largo sorriso.   

            Angel ficou muito feliz ao vê-lo fora do hospital, ele estava bonito, mas um pouco abatido e a cicatriz recente na testa o deixava vulnerável. Então, ela disse:
               - Sim, vamos entrar, minha mãe vai gostar de vê-lo bem. O rapaz desceu do automóvel e entrou pelos fundos da casa, onde a mãe estava lavando roupas.

                – Olha mãe, quem está aqui? A filha falou sorrindo.

            Olga cumprimentou o rapaz se desculpando pelas mãos molhadas. Entraram e, ela se dispôs a fazer um café para a visita inesperada. O rapaz protestou, mas de nada adiantou e sentaram se à mesa para conversar.

              Marcelo estava um pouco acanhado, mas, assim mesmo começou a falar:

             - No domingo, meus pais querem ir á Basílica de Aparecida agradecer pelo meu livramento e eu queria convidar Angel e a senhora também, para nos acompanhar. A caminhonete é grande e podemos viajar confortavelmente, durante os trezentos quilômetros que nos separam.

              A mulher pensou rápido, seria a realização de um sonho, fazia tempos, desejava conhecer aquele lugar. Mas, deveria conversar com o marido, antes de aceitar. Angel fazia que sim com a cabeça, estava ansiosa e Olga respondeu:

               - Estou lisonjeada pela sua lembrança, mas eu preciso falar com o meu marido, antes de confirmar com vocês.

              - Está bem, eu aguardo, mas faça uma força, pois Angel também deve agradecer por estar bem. Depois, levantou-se e saiu acompanhado da menina. Havia uma atração evidente entre eles.

              - Quer dar uma volta de carro? Voltamos logo, disse Marcelo.

            – Sim, vou avisar minha mãe. Angel correu para dentro.

               Em seguida, saíram no automóvel de Marcelo, estavam alegres, eram jovens e prontos para viver. Enquanto dirigia ele falou:

            - Este carro eu ganhei como prêmio, na arena do rodeio de Barretos. Foi a noite mais feliz da minha vida, afirmou o rapaz.

              - Verdade? Você não caiu do touro bravo?

              - Caí sim, mas fui eu que permaneci no lombo do animal, durante o maior tempo na prova.

             – Assim que eu puder voltar a montar, vou leva-la para assistir um rodeio importante. A festa do peão de boiadeiros de Barretos, fica no interior do estado de São Paulo. É a maior festa de rodeios do país; todos os peões sonham em vencer naquela arena e ganhar o prêmio máximo. São verdadeiros momentos de glória.

            O rapaz contou o fato emocionado e seus olhos brilharam lindamente; um acontecimento marcante em sua vida.

             - A festividade acontece todos os anos no mês de agosto e arrasta multidões de todo o Brasil e até do estrangeiro. Os eventos de música sertaneja dão o tom artístico na festa. A cidade fica em polvorosa, quando acontecem os eventos, que atravessam a madrugada. Ele concluiu, emocionado.

            Angel ficou agradecida pelas palavras carinhosas dele. E, passou as mãos entorno do seu ombro e o beijou na bochecha. Ele sorriu, estava confortável nos braços dela.

              Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 1 de maio de 2019

"ROMARIA" (...) "O MEU PAI FOI PEÃO, MINHA MÃE, SOLIDÃO. MEUS IRMÃOS PERDERAM-SE NA VIDA, A CUSTA DE AVENTURAS. DESCASEI, JOGUEI, INVESTI, DESISTI. SE HÁ SORTE EU NÃO SEI, NUNCA VI". (...) RENATO TEIXEIRA

COM MUITA FÉ

CAPÍTULO TRÊS
            A tarde chegou e a menina estava eufórica, nunca estivera fazendo visitas em hospitais. Era uma grande novidade e se arrumou com mais afinco. Apesar da dor de cabeça intermitente, que a fazia sentir um pequeno coração na altura da testa, Angel queria rever o rapaz, que estava ferido no hospital.

              Deixou seus cabelos negros e encaracolados soltos ao vento, assim encobria parcialmente o curativo e acentuava sua beleza natural. Ela tinha grandes olhos esverdeados, olhos de camaleão, diziam em sua casa.

            - Cada vez que olho para ela, estão de uma cor diferente. Sua mãe dizia e completava, que eram olhos incisivos e desconcertantes. As vezes eram verdes, outras vezes, cor de mel. Quando sua dona ficava irada, eles escureciam a um tom de marrom escuro, profundo e misterioso. Seus irmãos saiam de perto, pois era sinal de agressividade, na certa. Angel era uma menina brava, mas tinha um bom coração, que fora tocado pelo acidente de Marcelo.

                Sua mãe arrumou uma sacola com algumas frutas e acompanhou a menina até o hospital. Lá estavam a mãe, o pai e uma irmã do rapaz, esperando para visitá-lo. Pareciam ansiosos e Angel se apresentou, dizendo da sua preocupação com a saúde do rapaz. Depois, mostrou sua cabeça costurada debaixo do curativo e, que estava ali para dar apoio ao colega de desventura. A família do rapaz ficou surpresa e acabaram sorrindo para a moça.

                 - Ele teve muita sorte mesmo, disse o pai de Marcelo. E a mãe completou:       
                     
                - Graças a proteção de Nossa Senhora Aparecida, o nosso menino está vivo. Em seguida, o casal se abraçou, estavam comovidos.

              Quando a porta foi aberta para as visitas, entraram os pais do paciente e depois iriam as duas moças. Celina, a irmã de Marcelo e Angel companheira ocasional do atendimento no pronto socorro. Olga e as duas moças ficaram aguardando a vez. A mãe estava ali apenas para acompanhar a filha, não pretendia atrapalhar as visitas.

                Algum tempo depois, os pais de Marcelo saíram e as duas meninas adentraram ao recinto.
               Celina abraçou seu irmão e seus olhos se encheram de lágrimas, estava emocionada, não conseguia falar; tinha um nó na garganta. Ficou alguns minutos olhando para ele e, depois sentou-se na poltrona dando lugar à Angel.

            A nova amiga chegou perto da cama e pegou nas mãos do rapaz, que continuavam quentes e cheias de calos. Foi somente naquele momento que ela percebeu, que as mãos dele estavam cheias de áreas grossas. Então, o rapaz explicou, orgulhoso.

             - Eu seguro o touro bravo com essas mãos e a força é tamanha, que formam calosidades, pelo atrito com a corda do cabresto.

                Angel sabia pouca coisa sobre peões de boiadeiro, mas, já o admirava como se admira a um herói. Era o homem e o animal, numa luta desconcertante e fora do normal, dentro de uma arena. Uma demonstração de poder humano, perigoso, grotesco e que arrasta multidões em suas apresentações. Os músicos e cantores vestidos à caráter, apresentam verdadeiros shows de músicas sertanejas, depois da contenda dentro das arenas.

              Os palcos são montados ao lado das arenas e as apresentações se estendem até a madrugada. São eventos que tem um poder milionário e turístico, proporcionando progresso aos locais de suas apresentações. Aquele mundo desconhecido a atraia, a ponto de querer ficar por perto do rapaz.

Na mesinha de cabeceira estava uma imagem de Nossa senhora Aparecida, que a mãe do rapaz colocara ali. Angel depositou suas frutas ao lado da imagem. No peito de paciente, que tinha a blusa do pijama aberta, brilhava a medalha da santa, agora limpa e polida.

 - Marcelo está bem protegido, eu também quero uma medalha dessas! Pensou Angel.

              Havia uma certeza de sua recuperação, apesar de todos os exames feitos e a preocupação externada pelos médicos. O coice poderia trazer consequências desastrosas, pois o impacto no cérebro fora grande. No entanto, a confiança e certeza da proteção recebida da santa, os deixavam tranquilos.
              Ali estavam pessoas de muita fé.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

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