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quarta-feira, 21 de novembro de 2018

"NÃO FUI EU QUE ORDENEI A VOCÊ? SEJA FORTE E CORAJOSO! NÃO SE APAVORE NEM DESANIME, POIS O SENHOR, O SEU DEUS, ESTARÁ COM VOCÊ, POR ONDE VOCÊ ANDAR". JOSUÉ 1:9

ATÉ AS LÁGRIMAS

CAPÍTULO CINCO
           Depois de um longo tempo, a jardineira estacionou em frente à rodoviária da cidade grande, finalmente, chegaram ao destino. Os passageiros começaram a descer do veículo, entre eles estava o casal de pais ansiosos. No local havia um fluxo grande de gente e muitos veículos transitando por ali, o que deixava Teresa assustada.

          O lugar era estranho para ambos, Dirceu já estivera na cidade, mas viera com a ambulância, então, não sabia se localizar. Puxando a mulher pela mão, foi ao balcão perguntar onde ficava a Santa Casa de Misericórdia. E, lá foi orientado a pegar um carro de aluguel, para chegar até o hospital.

A mulher foi empurrada para subir e sentar no banco de trás do veículo, estava extática diante de tantas novidades. Na verdade, Teresa pouco viu dos caminhos por onde passara, pois estava rezando o terço de olhos fechados. Sua mente estava focada no filho, que fazia tempo que não via. 

 A saudade, que queimava em seu peito, doía como fogo.
- Preciso acalmar esta dor, que trago no meu coração, para conseguir um pouco de sossego. Pensava enquanto as lágrimas desciam pelo seu rosto.

Depois de muitas voltas, que para Teresa parecia uma eternidade, chegaram em frente ao hospital onde estava o menino. A mulher desceu do carro de aluguel e ficou esperando o marido, que acertava a corrida. Em seguida, o casal parou para olhar o prédio daquela casa de saúde; era grande e majestoso.

Marido e mulher, que já eram tímidos por natureza, agora sentiam-se pequenos e envergonhados, diante de tanto progresso. No entanto, precisavam ver o filho e, isso os impulsionava para dentro do prédio. Dirceu viu um guarda na entrada e perguntou como faria para ver o paciente.

            - Não está na hora de visitas, deverão retornar após o almoço. O horário de visitas se inicia as catorze horas e termina as quinze e trinta horas. Disse o guarda friamente.

            - Tudo bem, obrigado. Respondeu Dirceu desapontado.

            Teresa fez cara de choro e o marido tratou de puxá-la para fora, não queria se indispor com o guarda; voltariam mais tarde.

             O casal saiu a procura de um lugar para comer e encontraram uma pensão familiar perto dali. Dirceu tratou de alugar um quarto, pois pernoitariam naquela cidade durante duas noites, uma vez que, a jardineira retornaria para a vila somente no domingo.

             Trataram de almoçar e depois foram descansar no quarto. A hora não passava e Teresa não parava quieta, estava nervosa. Dirceu ficou bravo com ela.
             - Já estamos aqui mulher, então, precisa ter um pouco de paciência. Esbravejou irritado.

             No horário marcado, os dois se apresentaram para visitar Benjamim. Quando abriram as portas e entregaram um papel com o nome e número do quarto do menino, a mãe começou a chorar. O pai cutucou a mulher, e foi logo dizendo:
            - Acalme-se ou não voltaremos mais aqui. A mulher engoliu o choro e seguiu em frente.

Dirceu também estava emocionado, mas se manteria firme ou aquele lugar se tornaria um vale de lágrimas. Seguiram o fluxo de gente até avistar o número que tinham em mãos. As mãos de Teresa tremiam, balançando as coisas que trouxera para o filho, estava nervosa por demais.

             O menino estava deitado na cama pensativo, pois o paciente que estava na cama ao lado, já estava recebendo visitas. Parecia aborrecido por não ter ninguém para vê-lo. Mas, quando viu os pais, sentou-se na cama com um grande sorriso nos lábios. Teresa o abraçou e não conseguiu evitar as lágrimas.

         Foi um choro dolorido e contido de dor e saudade do menino. Demorou para soltar o filho e retornar a fala normal. E, quando olhou para o marido viu que ele também foi até as lágrimas.

         – Touro bravo também chora, pensou vingada pelas grosserias sofridas.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

"PORTANTO, EU DIGO: TUDO O QUE VOCÊS PEDIREM EM ORAÇÃO, CREIAM QUE JÁ O RECEBERAM E ASSIM SUCEDERÁ". MARCOS 11, 24

UM POUCO DE AMOR

CAPÍTULO QUATRO
           A linha telefônica foi conectada ao hospital, enquanto isso Teresa rezava baixinho para que as notícias fossem boas. O seu marido estava dentro da cabine telefônica e ela nada podia ouvir, no entanto, não tirava os olhos de Dirceu.

           Foi com alívio que o pai de Benjamim ouviu a voz do outro lado dizer, que o menino já havia operado. Imediatamente a mãe reconheceu que as notícias eram boas e seu coração se aliviou. A expressão do marido era inconfundível, havia alegria nos olhos de Dirceu.

             No entanto, Benjamim teria que ficar internado até o osso da perna crescer e preencher o vão da fratura. E isso só Deus poderia prever quando aconteceria. Era o enfermeiro dando notícias de Benjamim.

- Eu nada mais posso dizer, porém se o senhor quiser saber mais detalhes, terá que vir aqui e falar com o doutor. Enfatizou o rapaz.

O pai, com um sorriso estampado no rosto, disse que faria o possível para visitar o filho.

 - Por favor, avise o Benjamim que os pais e irmãos dele estão com saudades e o amam muito, obrigada. Concluiu o pai com o coração mais leve. 
Em seguida, deixou a cabine e abraçou sua esposa dizendo que o filho estava bem. Os olhos de Teresa ficaram marejados de lágrimas e ambos choraram de alegria. Em seguida, passaram no armazém e na igreja, para depois voltar para casa.

Dirceu e Teresa se ajoelharam diante da Virgem Maria e agradeceram por Benjamim estar se recuperando. A luta estava apenas começando, pois levaria tempo para que o menino retornasse à casa, isso ficara claro.

Seguiram em frente com alegria no coração, mas, antes passaram na casa de Saulo, o amigo de Benjamim. Precisavam avisar a todos que ajudaram no resgate, que o filho estava bem.

A partir daquele dia o casal só pensava em fazer uma visita ao hospital onde estava Benjamim. Era uma grande e cansativa viagem de jardineira, um ônibus antigo, que transportava as pessoas entre vilas e cidades naquela época. Em sua maioria eram estradas de terra esburacadas e poeirentas.

 Teresa nunca havia saído das redondezas, era mulher simples da roça. No entanto, pelos filhos faria qualquer coisa, até viajar numa jardineira. Toda a vez que ela pensava nisso, fazia o sinal da cruz, como se aquilo pudesse livrá-la do perigo das estradas.

Dirceu, na segunda-feira, foi montado em seu cavalo até a vila, para assuntar e saber quando teria condução para a cidade grande.

- Tem somente uma viagem por semana e a jardineira sai, bem cedo, na sexta-feira e retorna no domingo. Para garantir os lugares já deixei reservados e pagos. Disse o marido exibindo as passagens. A mulher assustada, não conseguiu dizer nada.

Ela ficou trêmula diante do fato consumado, teria que se preparar. Em primeiro lugar poria o terço em sua bolsa; precisaria muito dele. Uma muda de roupas para cada um, biscoitos e água para comerem no caminho. Levaria também: roupas para o Benjamim, a mochila da escola e algumas frutas e doces. Era tudo o que precisavam.

Na sexta-feira, Teresa madrugou, colocou sua roupa de domingo e chamou o marido. O vizinho já estava com a carroça pronta para irem até a vila mais próxima, pegar a jardineira. Antes mesmo do Sol nascer já estavam na estrada, levavam no coração muitas saudades do filho.

Quando o estranho veículo encostou na plataforma, ela sentiu medo e uma vontade de retornar à casa, mas precisava levar um pouco de amor ao filho doente. Então, com a passagem na mão procurou o assento. Depois fez uma oração, pedindo proteção a Deus.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 7 de novembro de 2018

"TENHO-VOS DITO ISTO, PARA QUE EM MIM TENHAIS PAZ. NO MUNDO TEREIS AFLIÇÕES, MAS TENDE BOM ÂNIMO, EU VENCI O MUNDO". JOÃO 16.33

TEMPOS ESCUROS

CAPÍTULO TRÊS
    O Sol forte com sua luz brilhante deixava a situação menos sinistra, mas o nervosismo do pai era evidente. Havia muitas perguntas no ar e uma delas era: 

- Será que aquele posto médico, daria conta de curar um ferimento tão profundo na coxa do filho? Em sua simplicidade, o homem, ainda assim, conseguia ter essa dúvida.

 Mais uma hora se passou, então, o médico apareceu na porta em busca de Dirceu. Prontamente ele atendeu e entrou no consultório para conversar com o doutor. Este estava abatido e preocupado com a situação do paciente. Foi logo dizendo ao pai aflito:

  - Fizemos uma limpeza no ferimento e estabilizamos a perna fraturada, no entanto, não temos recursos suficientes para mantê-lo aqui. Ele precisa de uma cirurgia na perna e somente um ortopedista pode fazer esse tipo de procedimento.

 Vou telefonar para a Santa Casa de Misericórdia da capital e ver se consigo uma vaga, para manda-lo a um hospital maior. No momento, ele está clinicamente estabilizado e poderá ser transferido em ambulância.

             Dirceu gaguejou e não conseguiu protestar, o médico fora direto e definitivo. Ele já temia isso. Em seguida, foi levado ao quarto e ficou ao lado do filho, enquanto o amigo se prontificou a buscar a mãe para ver o menino.

          E finalmente, no final da tarde a ambulância partiu levando Benjamim, acompanhado do pai e de um enfermeiro. O destino era a Santa Casa da cidade grande, uma esperança de recuperação.

         Tereza ficou olhando o veículo partir, junto do filho seguia o seu coração. Ela teria que cuidar da casa e da família, não poderia deixar os outros dois filhos e o marido sozinhos. A vida teria que continuar, ela sabia disso. No entanto, uma tristeza infinita tomou conta daquela mãe.

          Havia um nó na garganta e este cresceu tanto, que ela deixou seu desespero correr pelo rosto em forma de lágrimas de dor. Então, quedou-se na escada do posto médico, cobriu o rosto com as mãos e por meia hora ouviram-se soluços dolorosos.

         O amigo que a trouxera se aproximou dizendo que era tarde, precisavam retornar. A mulher concordou e voltou para sua casa, estava abalada, porém resignada, nada poderia fazer naquele momento.

             Depois de três horas de estrada chegaram à Santa Casa da cidade grande e lá ficou instalado o novo paciente. Dirceu voltou para sua rotina, mas seu pensamento ficara com Benjamim. De vez em quando, ele parava com seu trabalho na terra e ficava olhando o infinito, rezando pelo menino.

            Havia apenas um posto telefônico na cidade mais próxima e era a telefonista quem realizava as ligações. A população de toda a região procurava o local somente em casos urgentes. O telefone ainda era um aparelho novo, rústico e poucos tinham acesso a ele.

          Tereza não comia e chorava todas as noites desde o acidente de Benjamim. Dirceu estava preocupado com sua esposa e com o menino também, precisava de notícias urgentes. Ele temia que sua mulher adoecesse, a tristeza era demais; nunca mais ela sorriu.

         No sábado, depois de dez dias, o homem tomou a decisão de telefonar para obter notícias do filho. O casal subiu na carroça e, decididos foram até o posto telefônico. Aqueles eram tempos escuros e de recolhimento espiritual para aquela família.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa
    

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

"PORQUE EU ESTOU BEM CERTO DE QUE NEM A MORTE, NEM A VIDA, NEM OS ANJOS, NEM OS PRINCIPADOS, NEM AS COISAS DO PRESENTE, NEM DO PORVIR, NEM OS PODERES, NEM A ALTURA, NEM A PROFUNDIDADE, NEM QUALQUER OUTRA CRIATURA PODERÁ SEPARAR-NOS DO AMOR DE DEUS, QUE ESTÁ EM CRISTO JESUS, NOSSO SENHOR." PAULO DE TARSO


 A CORRERIA PELA VIDA

CAPÍTULO DOIS
          O menino, com apenas treze anos de idade, era valente e destemido, mas tinha uma estatura mediana e um corpo franzino; na verdade, era um magricela fraco. Essa condição física não ajudava muito em ocasiões especiais.

           Benjamim deu muito trabalho para seus pais, foi uma criança doente e, na adolescência sua saúde não era das melhores. A mãe vivia preocupada com o filho, era seu foco principal.

         Esse acidente com o cavalo aconteceu em um mil novecentos e sessenta e seis, então, no interior de Minas Gerais, as estradas eram de terra e os hospitais bastante precários.  A cidade ficava a uma hora de carroça daquela localidade, com dois bons cavalos e tempo firme.

           Dirceu e o pai de Saulo, com a ajuda de outros companheiros, colocaram Benjamim na caçamba de uma carroça, cujo dono aparecera ali para ajudar. Ele foi colocado sobre a manta da sela de Corisco, coberto com o paletó do pai e um pedaço de encerado de cobertura de terreiro de café. Depois, seguiram rápido pelas estradas estreitas e tortuosas; não poderiam perder tempo.

           O menino tremia desesperadamente, estava febril, consequência do trauma sofrido e da friagem da noite. Rui, o irmão mais velho de Benjamim, ficou encarregado de avisar a mãe e acalmar seu coração. Voltou para sua casa correndo com notícias do irmão.

A carroça, finalmente, chegou ao pequeno hospital da cidade de Toledo e adentraram à emergência com o menino estropiado nos braços. Os dois homens estavam cansados, empoeirados e aflitos, mal conseguiam contar ao médico sobre o fato ocorrido. As estradas esburacadas e a poeira formada pelo tempo seco, só atrapalharam o socorro ao acidentado. Demoraram mais do que o costume e o menino parecia morto; estava desfalecido.

 Dois enfermeiros, com o olhar de consentimento do velho médico e, diante da situação do menino, se apoderaram da maca onde o menino fora colocado. Em seguida, desapareceram com ele corredor a fora. Havia urgência naquele atendimento.

 O doutor seguiu com passos rápidos devido à gravidade da situação. Mais uma vez, a sua competência seria testada e ele precisava da ajuda de Deus. Naquela casa de saúde faltavam muitos aparelhos necessários, mas a figura de Cristo na Cruz estava por toda parte, guardando os desvalidos.

Dirceu e o amigo ficaram parados na porta sem saber o que fazer, depois saíram para tomar um pouco de ar puro. O Sol já tomava conta de tudo; mais um dia começava e as pessoas chegavam para o trabalho diário.

              O tempo corria, já fazia quase três horas e nenhuma notícia do menino, então, Dirceu foi até o guichê da recepção para saber do filho. A resposta veio seca e definitiva:

            - Estão em cirurgia até agora, por isso toda esta gente está aguardando o médico.

              O homem, que era tímido, se afastou e foi ter com o companheiro, que disse:

              - Ele estava muito mal, por isso está demorando tanto, vamos fazer uma oração. E os dois homens simples baixaram as cabeças e rezaram o “Pai Nosso”; eram tementes a Deus.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

"DEUS COLOCOU AO MEU LADO PESSOAS LINDAS. ANJOS ESPECIAIS COMO VOCÊ. AMIGOS QUE TRAGO EM MEU CORAÇÃO E LEVO COMIGO POR ONDE EU FOR" SUELI MATOCHI

O SEMIDEUS

                    UMA NOITE ESCURA

CAPÍTULO UM
          A escuridão já tomava conta do ambiente, não havia nem mesmo a luz da lua para nortear os caminhos. O tempo nublado acobertava até as estrelas e, a escuridão se apresentava severa naquela região de pequenos sítios e chácaras. Lá ainda não havia chegado a energia elétrica e nem a água encanada; a vida era simples e as pessoas tementes a Deus.

           Nas casas já brilhavam as lamparinas de querosene e todas as crianças se recolhiam para o jantar. No entanto, Tereza, a mãe de Benjamim estava aflita, não sabia o motivo da demora do menino.  Ele tinha apenas treze anos e saíra a cavalo dizendo que iria a casa de Saulo, que ficava a cerca de três quilômetros dali. Combinara com o colega, que iriam fazer o dever de matemática juntos. Benjamim deixara sua casa logo após o almoço e já deveria estar de volta.

               Tereza estava com o coração apertado, não saberia dizer quantas vezes havia pedido para Deus guardar seu filho. Ficara esperando o marido chegar da cidade, para procurar o menino. Benjamim estava acostumado com o animal e nunca se atrasava; era um menino obediente. E, prometera à sua mãe, que chegaria em casa antes do pôr do Sol. Montava um cavalo manso, o Corisco, que trotava com o menino aonde quer que ele fosse, eram amigos.

            A mãe estava na porta quando Dirceu, o pai, adentrou ao portão. Tereza foi logo despejando sua preocupação e pedindo para ele ir procurar o menino.

           O homem franziu a testa e em seguida, tomou um gole de café, pegou um farolete, chamou o filho mais velho para acompanha-lo e saíram em meio a escuridão. Iriam a pé, pois os animais poderiam cair em alguma valeta e dar mais trabalho.

           A família era composta de cinco pessoas: pai, mãe, Rui, Benjamim e Marília, com quinze, treze e onze anos de idades. Gente boa e modesta, viviam da terra e criavam alguns animais para uso e outros para a alimentação da família. Os filhos frequentavam a escola rural, que havia na região. O transporte usual era o cavalo, a charrete ou a bicicleta. Não havia carros por ali, era artigo de luxo.

            Pai e filho foram à casa de Saulo, que assustado, disse:

             - Benjamim saiu daqui faz duas horas, o Sol ainda brilhava no céu.

             Dirceu ficou pálido, precisou ser amparado, quase desmaiou.

            - Deve ter acontecido alguma desgraça, Benjamim é muito responsável.

            Então, depois de um copo de água servido ao homem abalado, o pai de Saulo se prontificou a acompanhar o vizinho nas buscas. Percorreram o caminho que o menino deveria fazer para regressar à casa.  Pararam em todas as casas em busca de notícias do menino, mas nada conseguiram.

           Já tarde da noite e ainda continuavam as buscas A situação era desesperadora, a cada hora que passava a tensão aumentava e o grupo também. Alguns homens se uniram ao pai nas buscas do pequeno Benjamim.

           Andaram por todos os lugares da região e nada encontraram na escuridão da noite. Quando todos já estavam desolados e o Sol surgia no horizonte, puderam avistar o Corisco ao longe. O cavalo estava em pé a beira de um barranco, a uns duzentos metros da estrada. Então, se aproximaram esperançosos de encontrar Benjamim.

            O menino estava caído em meio a algumas pedras no fundo do barranco. Tinha um ferimento na perna com uma fratura exposta.

            Trataram de retirar o menino dali e leva-lo para o Hospital da vila mais próxima. A carroça corria pelas estradas de terra levando o menino assustado e com dores. Estivera na friagem do tempo a noite toda e precisava de cuidados urgentes.

           No caminho, o menino contou que encontraram uma cobra na volta para casa.  O cavalo se assustou, corcoveou e fugiu em desabalada carreira, derrubando-o no barranco, quando parou repentinamente.

            A cobra se afastou, mas o cavalo ficou ali guardando o companheiro, parecia desolado pelo acontecido. Era um amigo para todas as horas.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

"SONHOS SÃO DELICADAS BORBOLETAS DE LONGAS ASAS AZUIS. SILENCIOSAS E SONHADORAS DORMEM EM SEUS DELICADOS CASULOS, ESPERANDO O MOMENTO DA GRANDE CONCENTRAÇÃO, PARA CONQUISTAREM A IMENSIDÃO DO CÉU, UM INFINITO SEM FIM". EDNA FRIGATO

 A BORBOLETA

CAPÍTULO DEZ
            Fernando parecia sereno ao contar os fatos vividos enquanto estava em coma; para ele parecia natural relatar onde estivera. No entanto, Marília ficara espantada e não sabia como reagir àquela história. Não poderia demonstrar incredulidade ou menosprezar o que ele dizia naquele momento, mas era difícil aceitar sem fazer perguntas.

              Ela foi salva pela campainha, que determinava o final do horário de visitas. Teria até o dia seguinte para enfrentar Fernando e tentar entender aquilo tudo. Saiu atordoada e andou rapidamente, parecia querer fugir de alguma coisa. E, quando percebeu, já estava em frente à sua casa.

             Sentia-se realmente preocupada, precisava contar para o seu irmão e ouvir seus conselhos. Estava acuada, não sabia se cortava ou incentivava aquela história, que seu marido insistia em contar.

              O conselho recebido do irmão era para ela ouvir e não contrariar. Fernando estava em um processo de recuperação e retorno à vida. Marília pediu perdão a Deus por ser tão incrédula, no entanto, ouviria com atenção as histórias que seu marido contasse; seu irmão estava certo. E, por mais difícil que fosse, tentaria entender, para ajudar na recuperação do seu amor.

              Voltou ao hospital e encontrou o marido na enfermaria. Lá ela poderia ficar durante uma hora inteira com Fernando. Demonstrou toda sua satisfação em ver os progressos do marido, estava feliz. No entanto, Marília procurava não entrar naquele assunto novamente, temia ouvir aquela história, que para ela era fantasiosa.

O lanche da tarde chegou e ela ajeitou o marido para comer, Fernando ainda precisava de ajuda; estava debilitado e se cansava atoa. O paciente comia, lentamente, alguns biscoitos e ela, vez ou outra, levava a xícara até sua boca para que sorvesse o chá.

 Não falavam, apenas se olhavam, para que Fernando pudesse engolir os biscoitos. Sua garganta estava sensível pelo longo tempo que estivera com um tubo na garganta. Entretanto, quando terminou de tomar o chá morno ele falou:

- Interessante, eu não me lembro de ter comido qualquer coisa, enquanto estava no campo dos lírios. Também não me lembro de sentir fome ou sede; estava satisfeito com tudo naquele lugar. Afirmou o paciente, pensativo. Depois prosseguiu:

 - Um dia eu segui uma borboleta, que estava sempre por perto e fui até a beira do rio. Fiquei cansado, deitei e dormi embaixo de uma árvore. Não senti medo nem desconforto, estava tudo bem. Lá era tudo muito natural, não havia medos nem sobressaltos.

            Marília ficou mais assustada, ele falava de uma realidade que não existia. Então, ela concordou com a cabeça e tratou de mudar de assunto. O esforço para se alimentar o deixou sonolento e Fernando dormiu.

           Ela levantou-se da cadeira e foi até a janela para olhar a vista. Marília quase caiu para trás, quando viu uma borboleta azul do lado de fora do vidro da janela.     
        
            – Meu Deus! Exclamou e deu um passo para trás. – Seria a mesma borboleta que Fernando dissera ter seguido?

            Em seguida, começou a rezar pedindo a Deus para proteger seu amor. Não contaria a Fernando, que tinham uma visita na janela, para que não ficasse impressionado.

            Os dias foram passando e na maioria deles a borboleta estava lá. Tornara-se um segredo incontável, nunca diria a ninguém sobre aquele fato. Depois de quinze dias na enfermaria, ela recebeu a notícia de que Fernando estava de alta para casa.

            Antes de sair do hospital ela foi até a janela e lá estava a visitante. Mentalmente, ela implorou a Deus que aquela história terminasse ali. Nunca mais queria ver aquela borboleta, sentia medo dela.

            Seu marido saiu do hospital andando com alguma dificuldade, precisava de tempo para sua total recuperação.

            – Fernando está vivo e sem sequelas neurológicas, por um milagre de Deus. Dissera o médico para a mulher emocionada.

           Marília abraçou o marido, estava pronta para ajudá-lo a seguir em frente, o restante ficaria no passado. A única certeza que ela tinha é que seu marido esteve entre a vida e a morte, aguardando uma decisão dos céus. Fernando estivera entre os lírios na companhia de uma borboleta azul.   
        
             A borboleta fora uma espécie de anjo salvador, que zelava pela sua recuperação e, agora sua missão terminava ali. Fernando estava bem e retornando à vida.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.