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quarta-feira, 7 de novembro de 2018

"TENHO-VOS DITO ISTO, PARA QUE EM MIM TENHAIS PAZ. NO MUNDO TEREIS AFLIÇÕES, MAS TENDE BOM ÂNIMO, EU VENCI O MUNDO". JOÃO 16.33

TEMPOS ESCUROS

CAPÍTULO TRÊS
    O Sol forte com sua luz brilhante deixava a situação menos sinistra, mas o nervosismo do pai era evidente. Havia muitas perguntas no ar e uma delas era: 

- Será que aquele posto médico, daria conta de curar um ferimento tão profundo na coxa do filho? Em sua simplicidade, o homem, ainda assim, conseguia ter essa dúvida.

 Mais uma hora se passou, então, o médico apareceu na porta em busca de Dirceu. Prontamente ele atendeu e entrou no consultório para conversar com o doutor. Este estava abatido e preocupado com a situação do paciente. Foi logo dizendo ao pai aflito:

  - Fizemos uma limpeza no ferimento e estabilizamos a perna fraturada, no entanto, não temos recursos suficientes para mantê-lo aqui. Ele precisa de uma cirurgia na perna e somente um ortopedista pode fazer esse tipo de procedimento.

 Vou telefonar para a Santa Casa de Misericórdia da capital e ver se consigo uma vaga, para manda-lo a um hospital maior. No momento, ele está clinicamente estabilizado e poderá ser transferido em ambulância.

             Dirceu gaguejou e não conseguiu protestar, o médico fora direto e definitivo. Ele já temia isso. Em seguida, foi levado ao quarto e ficou ao lado do filho, enquanto o amigo se prontificou a buscar a mãe para ver o menino.

          E finalmente, no final da tarde a ambulância partiu levando Benjamim, acompanhado do pai e de um enfermeiro. O destino era a Santa Casa da cidade grande, uma esperança de recuperação.

         Tereza ficou olhando o veículo partir, junto do filho seguia o seu coração. Ela teria que cuidar da casa e da família, não poderia deixar os outros dois filhos e o marido sozinhos. A vida teria que continuar, ela sabia disso. No entanto, uma tristeza infinita tomou conta daquela mãe.

          Havia um nó na garganta e este cresceu tanto, que ela deixou seu desespero correr pelo rosto em forma de lágrimas de dor. Então, quedou-se na escada do posto médico, cobriu o rosto com as mãos e por meia hora ouviram-se soluços dolorosos.

         O amigo que a trouxera se aproximou dizendo que era tarde, precisavam retornar. A mulher concordou e voltou para sua casa, estava abalada, porém resignada, nada poderia fazer naquele momento.

             Depois de três horas de estrada chegaram à Santa Casa da cidade grande e lá ficou instalado o novo paciente. Dirceu voltou para sua rotina, mas seu pensamento ficara com Benjamim. De vez em quando, ele parava com seu trabalho na terra e ficava olhando o infinito, rezando pelo menino.

            Havia apenas um posto telefônico na cidade mais próxima e era a telefonista quem realizava as ligações. A população de toda a região procurava o local somente em casos urgentes. O telefone ainda era um aparelho novo, rústico e poucos tinham acesso a ele.

          Tereza não comia e chorava todas as noites desde o acidente de Benjamim. Dirceu estava preocupado com sua esposa e com o menino também, precisava de notícias urgentes. Ele temia que sua mulher adoecesse, a tristeza era demais; nunca mais ela sorriu.

         No sábado, depois de dez dias, o homem tomou a decisão de telefonar para obter notícias do filho. O casal subiu na carroça e, decididos foram até o posto telefônico. Aqueles eram tempos escuros e de recolhimento espiritual para aquela família.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa
    

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

"PORQUE EU ESTOU BEM CERTO DE QUE NEM A MORTE, NEM A VIDA, NEM OS ANJOS, NEM OS PRINCIPADOS, NEM AS COISAS DO PRESENTE, NEM DO PORVIR, NEM OS PODERES, NEM A ALTURA, NEM A PROFUNDIDADE, NEM QUALQUER OUTRA CRIATURA PODERÁ SEPARAR-NOS DO AMOR DE DEUS, QUE ESTÁ EM CRISTO JESUS, NOSSO SENHOR." PAULO DE TARSO


 A CORRERIA PELA VIDA

CAPÍTULO DOIS
          O menino, com apenas treze anos de idade, era valente e destemido, mas tinha uma estatura mediana e um corpo franzino; na verdade, era um magricela fraco. Essa condição física não ajudava muito em ocasiões especiais.

           Benjamim deu muito trabalho para seus pais, foi uma criança doente e, na adolescência sua saúde não era das melhores. A mãe vivia preocupada com o filho, era seu foco principal.

         Esse acidente com o cavalo aconteceu em um mil novecentos e sessenta e seis, então, no interior de Minas Gerais, as estradas eram de terra e os hospitais bastante precários.  A cidade ficava a uma hora de carroça daquela localidade, com dois bons cavalos e tempo firme.

           Dirceu e o pai de Saulo, com a ajuda de outros companheiros, colocaram Benjamim na caçamba de uma carroça, cujo dono aparecera ali para ajudar. Ele foi colocado sobre a manta da sela de Corisco, coberto com o paletó do pai e um pedaço de encerado de cobertura de terreiro de café. Depois, seguiram rápido pelas estradas estreitas e tortuosas; não poderiam perder tempo.

           O menino tremia desesperadamente, estava febril, consequência do trauma sofrido e da friagem da noite. Rui, o irmão mais velho de Benjamim, ficou encarregado de avisar a mãe e acalmar seu coração. Voltou para sua casa correndo com notícias do irmão.

A carroça, finalmente, chegou ao pequeno hospital da cidade de Toledo e adentraram à emergência com o menino estropiado nos braços. Os dois homens estavam cansados, empoeirados e aflitos, mal conseguiam contar ao médico sobre o fato ocorrido. As estradas esburacadas e a poeira formada pelo tempo seco, só atrapalharam o socorro ao acidentado. Demoraram mais do que o costume e o menino parecia morto; estava desfalecido.

 Dois enfermeiros, com o olhar de consentimento do velho médico e, diante da situação do menino, se apoderaram da maca onde o menino fora colocado. Em seguida, desapareceram com ele corredor a fora. Havia urgência naquele atendimento.

 O doutor seguiu com passos rápidos devido à gravidade da situação. Mais uma vez, a sua competência seria testada e ele precisava da ajuda de Deus. Naquela casa de saúde faltavam muitos aparelhos necessários, mas a figura de Cristo na Cruz estava por toda parte, guardando os desvalidos.

Dirceu e o amigo ficaram parados na porta sem saber o que fazer, depois saíram para tomar um pouco de ar puro. O Sol já tomava conta de tudo; mais um dia começava e as pessoas chegavam para o trabalho diário.

              O tempo corria, já fazia quase três horas e nenhuma notícia do menino, então, Dirceu foi até o guichê da recepção para saber do filho. A resposta veio seca e definitiva:

            - Estão em cirurgia até agora, por isso toda esta gente está aguardando o médico.

              O homem, que era tímido, se afastou e foi ter com o companheiro, que disse:

              - Ele estava muito mal, por isso está demorando tanto, vamos fazer uma oração. E os dois homens simples baixaram as cabeças e rezaram o “Pai Nosso”; eram tementes a Deus.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

"DEUS COLOCOU AO MEU LADO PESSOAS LINDAS. ANJOS ESPECIAIS COMO VOCÊ. AMIGOS QUE TRAGO EM MEU CORAÇÃO E LEVO COMIGO POR ONDE EU FOR" SUELI MATOCHI

O SEMIDEUS

                    UMA NOITE ESCURA

CAPÍTULO UM
          A escuridão já tomava conta do ambiente, não havia nem mesmo a luz da lua para nortear os caminhos. O tempo nublado acobertava até as estrelas e, a escuridão se apresentava severa naquela região de pequenos sítios e chácaras. Lá ainda não havia chegado a energia elétrica e nem a água encanada; a vida era simples e as pessoas tementes a Deus.

           Nas casas já brilhavam as lamparinas de querosene e todas as crianças se recolhiam para o jantar. No entanto, Tereza, a mãe de Benjamim estava aflita, não sabia o motivo da demora do menino.  Ele tinha apenas treze anos e saíra a cavalo dizendo que iria a casa de Saulo, que ficava a cerca de três quilômetros dali. Combinara com o colega, que iriam fazer o dever de matemática juntos. Benjamim deixara sua casa logo após o almoço e já deveria estar de volta.

               Tereza estava com o coração apertado, não saberia dizer quantas vezes havia pedido para Deus guardar seu filho. Ficara esperando o marido chegar da cidade, para procurar o menino. Benjamim estava acostumado com o animal e nunca se atrasava; era um menino obediente. E, prometera à sua mãe, que chegaria em casa antes do pôr do Sol. Montava um cavalo manso, o Corisco, que trotava com o menino aonde quer que ele fosse, eram amigos.

            A mãe estava na porta quando Dirceu, o pai, adentrou ao portão. Tereza foi logo despejando sua preocupação e pedindo para ele ir procurar o menino.

           O homem franziu a testa e em seguida, tomou um gole de café, pegou um farolete, chamou o filho mais velho para acompanha-lo e saíram em meio a escuridão. Iriam a pé, pois os animais poderiam cair em alguma valeta e dar mais trabalho.

           A família era composta de cinco pessoas: pai, mãe, Rui, Benjamim e Marília, com quinze, treze e onze anos de idades. Gente boa e modesta, viviam da terra e criavam alguns animais para uso e outros para a alimentação da família. Os filhos frequentavam a escola rural, que havia na região. O transporte usual era o cavalo, a charrete ou a bicicleta. Não havia carros por ali, era artigo de luxo.

            Pai e filho foram à casa de Saulo, que assustado, disse:

             - Benjamim saiu daqui faz duas horas, o Sol ainda brilhava no céu.

             Dirceu ficou pálido, precisou ser amparado, quase desmaiou.

            - Deve ter acontecido alguma desgraça, Benjamim é muito responsável.

            Então, depois de um copo de água servido ao homem abalado, o pai de Saulo se prontificou a acompanhar o vizinho nas buscas. Percorreram o caminho que o menino deveria fazer para regressar à casa.  Pararam em todas as casas em busca de notícias do menino, mas nada conseguiram.

           Já tarde da noite e ainda continuavam as buscas A situação era desesperadora, a cada hora que passava a tensão aumentava e o grupo também. Alguns homens se uniram ao pai nas buscas do pequeno Benjamim.

           Andaram por todos os lugares da região e nada encontraram na escuridão da noite. Quando todos já estavam desolados e o Sol surgia no horizonte, puderam avistar o Corisco ao longe. O cavalo estava em pé a beira de um barranco, a uns duzentos metros da estrada. Então, se aproximaram esperançosos de encontrar Benjamim.

            O menino estava caído em meio a algumas pedras no fundo do barranco. Tinha um ferimento na perna com uma fratura exposta.

            Trataram de retirar o menino dali e leva-lo para o Hospital da vila mais próxima. A carroça corria pelas estradas de terra levando o menino assustado e com dores. Estivera na friagem do tempo a noite toda e precisava de cuidados urgentes.

           No caminho, o menino contou que encontraram uma cobra na volta para casa.  O cavalo se assustou, corcoveou e fugiu em desabalada carreira, derrubando-o no barranco, quando parou repentinamente.

            A cobra se afastou, mas o cavalo ficou ali guardando o companheiro, parecia desolado pelo acontecido. Era um amigo para todas as horas.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

"SONHOS SÃO DELICADAS BORBOLETAS DE LONGAS ASAS AZUIS. SILENCIOSAS E SONHADORAS DORMEM EM SEUS DELICADOS CASULOS, ESPERANDO O MOMENTO DA GRANDE CONCENTRAÇÃO, PARA CONQUISTAREM A IMENSIDÃO DO CÉU, UM INFINITO SEM FIM". EDNA FRIGATO

 A BORBOLETA

CAPÍTULO DEZ
            Fernando parecia sereno ao contar os fatos vividos enquanto estava em coma; para ele parecia natural relatar onde estivera. No entanto, Marília ficara espantada e não sabia como reagir àquela história. Não poderia demonstrar incredulidade ou menosprezar o que ele dizia naquele momento, mas era difícil aceitar sem fazer perguntas.

              Ela foi salva pela campainha, que determinava o final do horário de visitas. Teria até o dia seguinte para enfrentar Fernando e tentar entender aquilo tudo. Saiu atordoada e andou rapidamente, parecia querer fugir de alguma coisa. E, quando percebeu, já estava em frente à sua casa.

             Sentia-se realmente preocupada, precisava contar para o seu irmão e ouvir seus conselhos. Estava acuada, não sabia se cortava ou incentivava aquela história, que seu marido insistia em contar.

              O conselho recebido do irmão era para ela ouvir e não contrariar. Fernando estava em um processo de recuperação e retorno à vida. Marília pediu perdão a Deus por ser tão incrédula, no entanto, ouviria com atenção as histórias que seu marido contasse; seu irmão estava certo. E, por mais difícil que fosse, tentaria entender, para ajudar na recuperação do seu amor.

              Voltou ao hospital e encontrou o marido na enfermaria. Lá ela poderia ficar durante uma hora inteira com Fernando. Demonstrou toda sua satisfação em ver os progressos do marido, estava feliz. No entanto, Marília procurava não entrar naquele assunto novamente, temia ouvir aquela história, que para ela era fantasiosa.

O lanche da tarde chegou e ela ajeitou o marido para comer, Fernando ainda precisava de ajuda; estava debilitado e se cansava atoa. O paciente comia, lentamente, alguns biscoitos e ela, vez ou outra, levava a xícara até sua boca para que sorvesse o chá.

 Não falavam, apenas se olhavam, para que Fernando pudesse engolir os biscoitos. Sua garganta estava sensível pelo longo tempo que estivera com um tubo na garganta. Entretanto, quando terminou de tomar o chá morno ele falou:

- Interessante, eu não me lembro de ter comido qualquer coisa, enquanto estava no campo dos lírios. Também não me lembro de sentir fome ou sede; estava satisfeito com tudo naquele lugar. Afirmou o paciente, pensativo. Depois prosseguiu:

 - Um dia eu segui uma borboleta, que estava sempre por perto e fui até a beira do rio. Fiquei cansado, deitei e dormi embaixo de uma árvore. Não senti medo nem desconforto, estava tudo bem. Lá era tudo muito natural, não havia medos nem sobressaltos.

            Marília ficou mais assustada, ele falava de uma realidade que não existia. Então, ela concordou com a cabeça e tratou de mudar de assunto. O esforço para se alimentar o deixou sonolento e Fernando dormiu.

           Ela levantou-se da cadeira e foi até a janela para olhar a vista. Marília quase caiu para trás, quando viu uma borboleta azul do lado de fora do vidro da janela.     
        
            – Meu Deus! Exclamou e deu um passo para trás. – Seria a mesma borboleta que Fernando dissera ter seguido?

            Em seguida, começou a rezar pedindo a Deus para proteger seu amor. Não contaria a Fernando, que tinham uma visita na janela, para que não ficasse impressionado.

            Os dias foram passando e na maioria deles a borboleta estava lá. Tornara-se um segredo incontável, nunca diria a ninguém sobre aquele fato. Depois de quinze dias na enfermaria, ela recebeu a notícia de que Fernando estava de alta para casa.

            Antes de sair do hospital ela foi até a janela e lá estava a visitante. Mentalmente, ela implorou a Deus que aquela história terminasse ali. Nunca mais queria ver aquela borboleta, sentia medo dela.

            Seu marido saiu do hospital andando com alguma dificuldade, precisava de tempo para sua total recuperação.

            – Fernando está vivo e sem sequelas neurológicas, por um milagre de Deus. Dissera o médico para a mulher emocionada.

           Marília abraçou o marido, estava pronta para ajudá-lo a seguir em frente, o restante ficaria no passado. A única certeza que ela tinha é que seu marido esteve entre a vida e a morte, aguardando uma decisão dos céus. Fernando estivera entre os lírios na companhia de uma borboleta azul.   
        
             A borboleta fora uma espécie de anjo salvador, que zelava pela sua recuperação e, agora sua missão terminava ali. Fernando estava bem e retornando à vida.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

"O CORRER DA VIDA EMBRULHA TUDO. A VIDA É ASSIM: ESQUENTA E ESFRIA, APERTA E DAÍ AFROUXA, SOSSEGA E DEPOIS DESINQUIETA. O QUE ELA QUER DA GENTE É CORAGEM". GUIMARÃES ROSA

O ARCO ÍRIS

CAPÍTULO NOVE
            Em parte, a noite foi tranquila, pois os fantasmas de Marília se afastaram ou deram um tempo. Ela sentia-se muito feliz por saber que Fernando estava consciente; ele voltara à vida. Dormiu, mas, na madrugada teve um sono tribulado, acordou sobressaltada e sentou-se na cama. Respirou fundo, ainda bem que estava em sua casa, tivera um pesadelo com Fernando.

           O dia passou rápido e a esposa esperançosa se enfeitou para ver o marido novamente. Queria que ele percebesse quanta falta fizera durante todo aquele tempo, em que estivera ausente. Esperava encontra-lo bem ou, quem sabe, já na enfermaria.

           Estava ansiosa para entrar na UTI, mas se deteve ao ver aquele senhor que visitava a esposa todos os dias. Ela tivera um Acidente Vascular Cerebral e estava, também, na UTI.  O marido estava chorando com as mãos cobrindo o rosto. Parecia um pássaro ferido, sentado no canto da sala.

              Marília ficou condoída com a situação e aproximou-se:

          - O que houve? Por que o senhor está chorando?

           O homem olhou para ela com os olhos cheios de lágrimas e disse:

           - A minha velha me deixou. Ela faleceu, estou sozinho nesta vida.

           A mulher precisava fazer alguma coisa para amenizar a situação. Então, foi até o bebedouro, que estava na sala de espera e, trouxe um copo de água para o companheiro de desgraças. O viúvo agradeceu constrangido. Depois, sorveu a água e saiu para a rua, precisava de ar puro para diluir tamanha tristeza.

            Por um momento, Marília ficou triste ao ver o sofrimento daquele homem, que estava quebrantado pela dor da perda. No entanto, pensou em Fernando e sentiu-se abençoada e alegre, pois, o seu marido estava de volta. Em seguida, tratou de adentrar ao recinto, precisava ver seu esposo.

              Fernando estava recostado na cama, aguardando a chegada dela. Quando os seus olhares se encontraram, ambos abriram largos sorrisos acolhedores. Depois de beijá-lo, Marília sentou-se na cadeira ao lado da cama. Então, ele disse:

           - O médico me avisou que amanhã serei transferido para o quarto na enfermaria. Estou melhorando e logo estarei caminhando pelo corredor.

            – Que bom meu amor, não sei viver sem você. Ela afirmou sorridente.

           - Marília, que dia é hoje? Quanto tempo faz que estou aqui? Retrucou o paciente.

              - Faz trinta e cinco dias que ocorreu o acidente, você não se lembra de nada?

              - Lembro-me de um grande arco íris no horizonte. Eu ficava sentado embaixo de uma árvore descansando e olhando todas aquelas cores mergulhando nas águas do rio. Depois, eu me levantava e andava por entre uma plantação de lírios brancos. Todos os dias eu caminhava por aqueles campos, era lindo e, dele emanava um perfume de flores.

            Fernando deu um longo suspiro, parecia buscar mais informações no seu subconsciente, depois prosseguiu:

          - Era um lugar cheio de luz e sons indescritíveis. Eu sabia que havia gente por ali, mas eu nunca vi ninguém, apenas sentia que nunca estava só.

           - Aquele era um local onde as pessoas ficam, até que seu destino seja decidido ou, talvez seja a entrada do paraíso, finalizou o paciente.

              A mulher sentiu um forte arrepio e seus olhos se arregalaram, estampando no rosto muitas surpresas com aquelas afirmações. Precisava conhecer mais detalhes daquela história.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

"EU OLHO PARA VOCÊ COMO SE NÃO TIVESSE MAIS NADA AO REDOR, PARA ME ALEGRAR. OLHO PARA VOCÊ, MESMO QUANDO ESTOU DE OLHOS FECHADOS. TENHO PENSADO EM VOCÊ, MESMO SEM PENSAR. PROTEGIDO VOCÊ, MESMO SEM TE TOCAR. AMADO VOCÊ SEM AO MENOS TE BEIJAR". AUTOR DESCONHECIDO


PASSO A PASSO

CAPÍTULO OITO
        Marília não poderia se deixar deprimir, teria que se manter firme para ajudar Fernando. Ele precisaria muito de sua força, ela sabia disso. Desde que ocorreu o acidente de Fernando, todas as coisas eram ditas em termos vagos, cheios de suposições.

            Se ele ficar bem, se ele recuperar a consciência, se ele voltar a ser o mesmo homem de antes e outras alusões futuras, sem nenhuma certeza. A vida da família tornara-se um grande ponto de interrogação, que já durava quase um mês.

 Fazia muitos dias, que sua rotina era a mesma, visitar o marido na UTI.  Naquela manhã, ela chegou ao Hospital e encontrou o marido semiconsciente, mas ainda estava na máquina de respiração artificial.

 – Fernando acorda, sou eu, sua esposa. Estou esperando por você, não me decepcione por favor. Em seguida, apertou as mãos dele.

 Ele ouviu a voz dela, então, mexeu com as mãos, mas voltou a dormir, parecia que seus olhos estavam muito pesados. Marília ficou ali rezando ao lado da cama de Fernando, precisava muito do acolhimento de Deus.

E, no dia seguinte ele já tinha saído da máquina, mas estava com a máscara de oxigênio. Fernando estava com a cabeça elevada no leito, recostado e apoiado com travesseiros. No entanto, mal conseguia mexer sua cabeça e abrir os olhos; mas respirava o suficiente para ficar fora do respirador artificial. Apertou a mão de Marília e depois adormeceu novamente, recostado na cama. Parecia cansado e sem interesse na vida.

 A visita acabou e Marília voltou para casa, estava tristonha. Sentia-se meio amortecida quanto as suas expectativas de futuro, embora os médicos lhe dissessem que ele estava se recuperando bem. Entretanto, os fatos não eram muito animadores, seu esposo parecia letargico.

Nesses avanços lentos, Fernando se estabilizava fisicamente. Depois de vários dias fora do respirador, Marília o encontrou recostado na cama e consciente. Ainda estava no oxigênio, mas acordado e totalmente carente.

        Ela ficou feliz e, com o sorriso estampado no rosto se abaixou para beijar as bochechas de Fernando, que retribuiu o sorriso. Ele estava visivelmente enfraquecido, pálido e carente, no entanto, estava consciente e de volta à vida. Então, as lágrimas rolaram pelo rosto da mulher, que não conseguiu conter sua emoção.

             O enfermeiro se aproximou e disse que ele estava indo bem, logo seria transferido para a enfermaria e lá teria mais tempo para visitas. Marília agradeceu e logo se despediu do marido, acabara a visita na UTI.

           Saiu com a alma leve, estava se sentindo feliz, esperançosa em ter sua vida restabelecida. Somente agora ela entendeu, que é preciso ter paciência, que todas as coisas têm um tempo certo para acontecer. A recuperação de seu marido estava ocorrendo passo a passo.

            Parou sua caminhada por um instante, então, ergueu as mãos para os céus e agradeceu a Deus, seu amor estava de volta. Isso foi um milagre e ela nunca se cansaria de agradecer.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

MEU MUNDO REINVENTADO.

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