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quarta-feira, 10 de outubro de 2018

"O CORRER DA VIDA EMBRULHA TUDO. A VIDA É ASSIM: ESQUENTA E ESFRIA, APERTA E DAÍ AFROUXA, SOSSEGA E DEPOIS DESINQUIETA. O QUE ELA QUER DA GENTE É CORAGEM". GUIMARÃES ROSA

O ARCO ÍRIS

CAPÍTULO NOVE
            Em parte, a noite foi tranquila, pois os fantasmas de Marília se afastaram ou deram um tempo. Ela sentia-se muito feliz por saber que Fernando estava consciente; ele voltara à vida. Dormiu, mas, na madrugada teve um sono tribulado, acordou sobressaltada e sentou-se na cama. Respirou fundo, ainda bem que estava em sua casa, tivera um pesadelo com Fernando.

           O dia passou rápido e a esposa esperançosa se enfeitou para ver o marido novamente. Queria que ele percebesse quanta falta fizera durante todo aquele tempo, em que estivera ausente. Esperava encontra-lo bem ou, quem sabe, já na enfermaria.

           Estava ansiosa para entrar na UTI, mas se deteve ao ver aquele senhor que visitava a esposa todos os dias. Ela tivera um Acidente Vascular Cerebral e estava, também, na UTI.  O marido estava chorando com as mãos cobrindo o rosto. Parecia um pássaro ferido, sentado no canto da sala.

              Marília ficou condoída com a situação e aproximou-se:

          - O que houve? Por que o senhor está chorando?

           O homem olhou para ela com os olhos cheios de lágrimas e disse:

           - A minha velha me deixou. Ela faleceu, estou sozinho nesta vida.

           A mulher precisava fazer alguma coisa para amenizar a situação. Então, foi até o bebedouro, que estava na sala de espera e, trouxe um copo de água para o companheiro de desgraças. O viúvo agradeceu constrangido. Depois, sorveu a água e saiu para a rua, precisava de ar puro para diluir tamanha tristeza.

            Por um momento, Marília ficou triste ao ver o sofrimento daquele homem, que estava quebrantado pela dor da perda. No entanto, pensou em Fernando e sentiu-se abençoada e alegre, pois, o seu marido estava de volta. Em seguida, tratou de adentrar ao recinto, precisava ver seu esposo.

              Fernando estava recostado na cama, aguardando a chegada dela. Quando os seus olhares se encontraram, ambos abriram largos sorrisos acolhedores. Depois de beijá-lo, Marília sentou-se na cadeira ao lado da cama. Então, ele disse:

           - O médico me avisou que amanhã serei transferido para o quarto na enfermaria. Estou melhorando e logo estarei caminhando pelo corredor.

            – Que bom meu amor, não sei viver sem você. Ela afirmou sorridente.

           - Marília, que dia é hoje? Quanto tempo faz que estou aqui? Retrucou o paciente.

              - Faz trinta e cinco dias que ocorreu o acidente, você não se lembra de nada?

              - Lembro-me de um grande arco íris no horizonte. Eu ficava sentado embaixo de uma árvore descansando e olhando todas aquelas cores mergulhando nas águas do rio. Depois, eu me levantava e andava por entre uma plantação de lírios brancos. Todos os dias eu caminhava por aqueles campos, era lindo e, dele emanava um perfume de flores.

            Fernando deu um longo suspiro, parecia buscar mais informações no seu subconsciente, depois prosseguiu:

          - Era um lugar cheio de luz e sons indescritíveis. Eu sabia que havia gente por ali, mas eu nunca vi ninguém, apenas sentia que nunca estava só.

           - Aquele era um local onde as pessoas ficam, até que seu destino seja decidido ou, talvez seja a entrada do paraíso, finalizou o paciente.

              A mulher sentiu um forte arrepio e seus olhos se arregalaram, estampando no rosto muitas surpresas com aquelas afirmações. Precisava conhecer mais detalhes daquela história.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

"EU OLHO PARA VOCÊ COMO SE NÃO TIVESSE MAIS NADA AO REDOR, PARA ME ALEGRAR. OLHO PARA VOCÊ, MESMO QUANDO ESTOU DE OLHOS FECHADOS. TENHO PENSADO EM VOCÊ, MESMO SEM PENSAR. PROTEGIDO VOCÊ, MESMO SEM TE TOCAR. AMADO VOCÊ SEM AO MENOS TE BEIJAR". AUTOR DESCONHECIDO


PASSO A PASSO

CAPÍTULO OITO
        Marília não poderia se deixar deprimir, teria que se manter firme para ajudar Fernando. Ele precisaria muito de sua força, ela sabia disso. Desde que ocorreu o acidente de Fernando, todas as coisas eram ditas em termos vagos, cheios de suposições.

            Se ele ficar bem, se ele recuperar a consciência, se ele voltar a ser o mesmo homem de antes e outras alusões futuras, sem nenhuma certeza. A vida da família tornara-se um grande ponto de interrogação, que já durava quase um mês.

 Fazia muitos dias, que sua rotina era a mesma, visitar o marido na UTI.  Naquela manhã, ela chegou ao Hospital e encontrou o marido semiconsciente, mas ainda estava na máquina de respiração artificial.

 – Fernando acorda, sou eu, sua esposa. Estou esperando por você, não me decepcione por favor. Em seguida, apertou as mãos dele.

 Ele ouviu a voz dela, então, mexeu com as mãos, mas voltou a dormir, parecia que seus olhos estavam muito pesados. Marília ficou ali rezando ao lado da cama de Fernando, precisava muito do acolhimento de Deus.

E, no dia seguinte ele já tinha saído da máquina, mas estava com a máscara de oxigênio. Fernando estava com a cabeça elevada no leito, recostado e apoiado com travesseiros. No entanto, mal conseguia mexer sua cabeça e abrir os olhos; mas respirava o suficiente para ficar fora do respirador artificial. Apertou a mão de Marília e depois adormeceu novamente, recostado na cama. Parecia cansado e sem interesse na vida.

 A visita acabou e Marília voltou para casa, estava tristonha. Sentia-se meio amortecida quanto as suas expectativas de futuro, embora os médicos lhe dissessem que ele estava se recuperando bem. Entretanto, os fatos não eram muito animadores, seu esposo parecia letargico.

Nesses avanços lentos, Fernando se estabilizava fisicamente. Depois de vários dias fora do respirador, Marília o encontrou recostado na cama e consciente. Ainda estava no oxigênio, mas acordado e totalmente carente.

        Ela ficou feliz e, com o sorriso estampado no rosto se abaixou para beijar as bochechas de Fernando, que retribuiu o sorriso. Ele estava visivelmente enfraquecido, pálido e carente, no entanto, estava consciente e de volta à vida. Então, as lágrimas rolaram pelo rosto da mulher, que não conseguiu conter sua emoção.

             O enfermeiro se aproximou e disse que ele estava indo bem, logo seria transferido para a enfermaria e lá teria mais tempo para visitas. Marília agradeceu e logo se despediu do marido, acabara a visita na UTI.

           Saiu com a alma leve, estava se sentindo feliz, esperançosa em ter sua vida restabelecida. Somente agora ela entendeu, que é preciso ter paciência, que todas as coisas têm um tempo certo para acontecer. A recuperação de seu marido estava ocorrendo passo a passo.

            Parou sua caminhada por um instante, então, ergueu as mãos para os céus e agradeceu a Deus, seu amor estava de volta. Isso foi um milagre e ela nunca se cansaria de agradecer.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

"MESMO QUANDO TUDO PARECE DESABAR, CABE A MIM DECIDIR ENTRE RIR OU CHORAR, IR OU FICAR, DESISTIR OU LUTAR; PORQUE DESCOBRI NO CAMINHO INCERTO DA VIDA, QUE O MAIS IMPORTANTE É O DECIDIR". CORA CORALINA

AMANHÃ, TALVEZ

CAPÍTULO SETE
           A mulher, com o coração cheio de esperanças, passou o dia bem melhor. Cuidou dos afazeres domésticos e até cantou debaixo do chuveiro; precisava acreditar que Fernando estava se recuperando bem. Aquele foi o primeiro dia de muitos, que ela não chorou. Colocou uma roupa leve e florida, precisava aliviar o peso dos dias mais escuros.

             Antes de sair pegou um terço, que havia ganhado de sua avó e saiu com a intenção de passar na igreja, antes de ir visitar seu esposo. Ajoelhou-se no genuflexório em frente ao Sacrário e com muita devoção seguiu as contas do rosário. Não era de sua rotina rezar o terço, mas tinha a impressão que sabia interpretar cada conta ali disposta e, o fez com muita fé. Depois, seguiu a pé até o hospital onde Fernando se encontrava.

Quando chegou na sala de espera da UTI encontrou Lorenzo, que também queria ver o pai. Ela entrou e o filho ficou esperando ela sair, para visitar o pai. Ao se postar junto a cama de Fernando, Marilia percebeu que ele fazia alguns movimentos com as mãos. E, logo veio um enfermeiro lhe dizer que ele estava acordando, pois, a sedação fora suspensa. Aquele tempo de coma fora um período muito importante para a recuperação dele.

- A partir desse momento, ele já começa a brigar com o aparelho, movendo a cabeça também.  Um bom sinal, ele estava apenas dormindo e voltará à vida, assim que os medicamentos forem eliminados pelo corpo. Todos estamos atentos para o momento da retirada do tubo traqueal de Fernando, que esperamos aconteça nas próximas horas. Explicou com segurança, o profissional da saúde.

                 Marília segurou as mãos de Fernando, que faziam leves movimentos sem direção certa. Ele não estava consciente ainda, mas estava perdido num mundo alheio a tudo aquilo. Fazia oito dias, que Fernando estava no aparelho de respiração artificial em coma induzido.

          Prostrado num leito de hospital, não parecia o mesmo homem. Fernando estava emagrecido e pálido.

         - Ele precisa tomar Sol, pensou Marília.

           Seu coração não estava feliz com aquela situação; tinha pressa em ver seu marido brincando alegre, como sempre fazia.

Saiu do hospital com o filho, que também acompanhava o drama do pai. Os dois caminharam em silêncio, se abrissem a boca iriam chorar; estavam decepcionados. Pensaram que o encontrariam acordado; pura ilusão.

 - Ninguém sai de um coma sem atravessar etapas importantes de recuperação da consciência e sinais vitais estáveis fora da máquina. O paciente precisa voltar a respirar espontaneamente. Um caso grave como o de Fernando, é prematuro fazer planos, devemos aguardar os acontecimentos. Explicou o médico, ao ser interpelado por Lorenzo. Depois continuou:
                 - É preciso manter a calma, temos esperanças que o paciente, em breve, sairá bem dessa situação. Afirmou o médico se afastando rapidamente.

                 Mãe e filho chegaram em casa como se tivessem murchado. Lorenzo foi para a pizzaria ajudar o tio e Marília se recolheu, estava desapontada e triste. Talvez ela tivesse feito poucas orações, então, voltou a rezar pedindo a cura de Fernando. Acabou adormecendo sobre o terço que rezava chorosa. 

          Lorenzo e o tio fecharam a pizzaria por volta da meia-noite e foram para casa. Viram a porta do quarto de Marília entreaberta e foram ver se ela estava bem. Sentiram pena ao ver o terço caído ao lado de sua mão. Em seguida, puxaram a coberta sobre o corpo adormecido e o tio sussurrou para o sobrinho:

- Amanhã, talvez Fernando esteja acordado.

         Em seguida, apagaram a luz e fecharam a porta, desejando um dia melhor para todos. 
Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

"...NUNCA SE ENTREGUE, NASÇA SEMPRE COM AS MANHÃS, DEIXE A LUZ DO SOL BRILHAR NO CÉU DO SEU OLHAR. NÓS PODEMOS TUDO, NÓS PODEMOS MAIS, VAMOS LÁ SABER O QUE SERÁ..." GONZAGUINHA


MANHÃ DE LUZ

CAPÍTULO SEIS
Os dias eram todos iguais e depois de uma semana, a mulher, desolada, procurou o médico que atendia o seu marido naquela unidade de recuperação. Precisava conversar e ouvir o médico responsável, para entender algumas coisas ou ficaria doida com tantos maus pensamentos.

A UTI era um grande salão com onze leitos: a sala de espera, o posto de enfermagem, o expurgo, o almoxarifado, a copa e quatro sanitários.  Dez leitos eram dispostos dos dois lados do salão em boxes individuais.

Ali ficavam distribuídos os pacientes graves, que precisavam de cuidados intensivos. Era uma UTI para pessoas adultas de ambos os sexos e patologias diferentes. O décimo primeiro era um boxe destinado a pacientes com patologias que exigiam isolamento. Um lugar limpo, amplo e impessoal; podia-se ouvir apenas o barulho dos aparelhos ligados nos pacientes. Deles saiam sons cadenciados, que formavam uma música tristonha e sem fim.

 No horário de visitas havia muitas pessoas aflitas, querendo a atenção do médico intensivista. Ele era solicitado o tempo todo por familiares dos pacientes, para dar esperanças ou tirá-las de uma vez. Suas palavras tinham o poder de colocar um sorriso no rosto ou, provocar lágrimas de dor.

O médico, que estava conversando com o familiar de outro paciente, atendeu prontamente o chamado e explicou à Marília, que seu marido estava em sono profundo. Um coma induzido por drogas, para descansar e estabilizar o cérebro. Procedimento muito usado em casos semelhantes, com bons resultados.

Fernando não estava em coma pelo trauma recebido, mas em coma necessário à sua recuperação, induzido por sedação.

- Amanhã de manhã, se ele estiver mantendo o quadro, será iniciado o desmame das drogas e ele deverá acordar lentamente. O médico afirmou com um olhar preocupado e depois de um minuto de silêncio prosseguiu.

 - Assim, quando ele acordar ficaremos sabendo, se ele ficará bem ou não. Tudo o que for dito antes disso, será pura especulação. Estamos empenhados em seu restabelecimento, mas precisamos de tempo para isso. Explicou o médico calmamente.

Marilia não conseguiu dizer nada, o médico disse tudo com firmeza e segurança, que ela apenas aquiesceu com a cabeça, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. Outra pessoa solicitou a presença do profissional, que se afastou deixando a mulher envergonhada.

     Ela que sempre fora desenvolta e falante, agora se transformara em uma mulher chorona. Na última semana já despejara um rio de lágrimas no mundo. Então, voltou para perto do marido, que permanecia estático.

A visita na UTI foi encerrada e Marília precisou deixar o recinto. Saiu com a cabeça baixa, estava desolada; não sabia o que esperar de tudo aquilo.

               Chegou em sua casa e foi se deitar, estava com dor de cabeça, mas, antes tomou um analgésico. O seu sono foi cheio de pesadelos e acordou assustada, havia sonhado que Fernando tinha morrido. Então, esperou o dia clarear e o plantão diurno ser iniciado para telefonar para Eloisa. Queria pedir a ela que fosse saber de Fernando, queria notícias dadas pela amiga.

               - Marília, foi iniciado o processo de desmame do aparelho de respiração. Seu marido deverá acordar nas próximas horas ou mais tardar em um ou dois dias. Explicou a moça, com alegria.

               A mulher não conseguiu responder, começou a chorar novamente. Mas, agora o choro era de esperança em ver o seu esposo acordado novamente. Esperaria o horário de visitas com alegria no coração.

             Aquela manhã, já podia ser considerada uma manhã de luz. Tudo o que Marília desejava era levar seu marido para casa e, viver novamente sem aquelas nuvens negras no horizonte. Esquecer todos aqueles dias de muitas dores, incertezas e valorizar a vida cada dia mais. Precisava sair da escuridão e voltar para a luz.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

"EU NÃO EXISTO SEM VOCÊ" - "EU SEI E VOCÊ SABE, JÁ QUE A VIDA QUER ASSIM. QUE NADA NESSE MUNDO LEVARÁ VOCÊ DE MIM. EU SEI E VOCÊ SABE QUE A DISTÂNCIA NÃO EXISTE. QUE TODO GRANDE AMOR SÓ É BEM GRANDE SE FOR TRISTE. POR ISSO MEU AMOR NÃO TENHA MEDO DE SOFRER. QUE TODOS OS CAMINHOS ME ENCAMINHAM PRA VOCÊ". TOM JOBIM E VINÍCIUS DE MORAES

SAUDADES DE VOCÊ

CAPÍTULO CINCO
          Marília sentia uma profunda dor na alma; um sentimento triste e melancólico. A visão de seu marido na cama do hospital respirando com a ajuda de aparelhos, tinha o poder de desestabilizá-la emocionalmente. Precisava de ajuda espiritual, isto é, procurar auxílio dos céus. Saiu de sua casa com duas horas de antecedência do horário de visitas na UTI.

          Seu destino era a Igreja da Boa Morte, que ficava bem no alto do morro. Uma igreja onde havia relatos de muitos milagres recebidos e que tinha uma energia poderosa. Ela era católica, mas poucas vezes ia à missa, punha a culpa no trabalho da pizzaria. No entanto, sempre fazia suas orações.

         Todas as vezes em que esteve na igreja, presenciara pessoas ajoelhadas em frente a imagem da Virgem Maria. Certamente, pedindo misericórdia para amenizar suas tragédias, ou simplesmente, fazendo suas orações com devoção e agradecimento. Aquele desejo de procurar a igreja estava crescendo em seu coração, desde quando soube do acidente.

           Depois de uma caminhada concentrada no seu intuito, entrou de mansinho na igreja quase vazia. Era meio da tarde e havia poucas pessoas fazendo suas orações. Aquela era a casa do pai de todos, Deus, que transmitia paz e esperança para o seu coração. Olhou para a cruz e intimamente pensou:

            - Pai, eu voltei com o coração em frangalhos, me acolha por favor. Em seguida, baixou o olhar como se estivesse pedindo perdão, por estar ausente durante tanto tempo.

          Marília se ajoelhou no genuflexório diante da imagem da Virgem Maria, chorosa, implorando por clemência e misericórdia. Ela havia lido em algum lugar, que nenhum pedido sincero feito a mãe de Jesus, ficaria sem resposta. Era uma mãe piedosa e estava sempre pronta para atender aos necessitados.

            - Estou aqui para implorar pela recuperação do Fernando, ele é meu marido e preciso dele para viver. Ela desejava que seu marido se recuperasse sem sequelas do trauma na cabeça.

               Em seguida, baixou a cabeça e com lágrimas nos olhos fez suas orações. Ficou ali esperando uma luz para aliviar sua alma triste e abalada. O tempo não importava naquele lugar e, ela foi se acalmando. Em seu íntimo surgira uma paz cercada de ânimo, que tomou conta de seu coração; precisava lutar pela recuperação do seu amor. Então, voltou a realidade com a certeza de que seu amor ficaria bem.

            Olhou no relógio e ficou surpresa, fazia uma hora e meia que estava ali; deveria se apressar. Beijou a fita azul que descia das mãos da imagem de Maria e se levantou para ir ao hospital visitar Fernando.

            Chegou esbaforida, pois a caminhada foi grande. Adentrou ao hospital e viu o senhor cuja esposa tivera um derrame. Ele também a viu e cumprimentou com a cabeça. Então, ela retribuiu acenando discretamente.  

         – Estamos juntos nessa situação triste. Pensou com o coração aflito, queria ver Fernando.

          Em seguida, a porta de vidro da UTI foi aberta e cada um, com sua identificação, se dirigiu ao leito de seu familiar. Marília beijou a testa do marido, que estava exatamente como o havia deixado no dia anterior, mas, ela estava diferente; trazia no peito esperanças renovadas. Então, disse baixinho no pé do ouvido do marido:

          - Estou com saudades de você, volta para mim. E, duas lágrimas rolaram pelo seu rosto, salgando sua boca.

 Mais uma vez, ele não reagiu.

 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

"EMBORA MEU OBJETIVO SEJA COMPREENDER O AMOR, E EMBORA SOFRA POR CAUSA DAS PESSOAS A QUEM ENTREGUEI MEU CORAÇÃO, VEJO QUE AQUELES QUE ME TOCARAM A ALMA NÃO CONSEGUIRAM DESPERTAR MEU CORPO, E AQUELES QUE TOCARAM MEU CORPO, NÃO CONSEGUIRAM ATINGIR MINHA ALMA". PAULO COELHO

COM LÁGRIMAS NOS OLHOS

CAPÍTULO QUATRO
            Os dois irmãos chegaram à pizzaria e Marília deixou Celso conversando com os funcionários do estabelecimento. Ele assumiria o comando de tudo até a situação se resolver, por isso ele precisava conhecer o local e os funcionários. Por sorte, Celso estava de férias e poderia ajuda-la neste momento difícil.

            Depois das apresentações, Marília entrou em sua casa, que ficava ao lado da pizzaria. Uma casa pequena, mas aconchegante e muito bem arrumada. Foi construída com esforço e carinho pelo casal; um lugar onde foram felizes.

 Era noite de sexta-feira e havia bastante movimento no local, as mesas estavam cheias de gente comendo e bebendo. A música era mantida com som alto e todos pareciam felizes. No entanto, o coração de Marília estava sangrando, ela sentia um nó na garganta. O que ela mais desejava naquele momento, era que seu marido estivesse atrás daquele balcão, alegre e brincalhão como sempre.

             A mulher precisava de um banho para se livrar daquela sensação de sujeira, que a estava entristecendo ainda mais. Entrou em embaixo do chuveiro e ficou imóvel, precisava de um momento de paz, que a vida lhe roubara nos últimos dias.

          A água tépida caia em sua cabeça, rolando pelo rosto e levando suas lágrimas para o ralo. Ela trazia no peito uma tristeza e uma mágoa sem fim, que chegava a doer fisicamente.

        Estava revoltada com aquela situação, que para ela fora injusta com Fernando, não se conformava em ver o marido naquela cama de hospital. Marília nunca foi religiosa, mas era cristã e acreditava que Deus estava sempre presente cuidando e protegendo seus filhos. Fernando era um homem bom, alegre e brincalhão, não merecia aquilo, pensava Marília.

              - Por que ele foi abatido dessa forma? Preciso entender os desígnios desse Deus, que acreditamos ser nosso pai. Lamentou a mulher chorosa.

             O acidente aconteceu em um momento de esperanças; parecia que iriam superar a crise econômica. A situação esteve tão ruim, que o casal pensou em fechar as portas do estabelecimento. Mas, estavam conseguindo contornar a crise, era só uma questão de tempo. As lágrimas teimavam em se misturar com a água do chuveiro e ela aproveitava para lavar sua alma também.

           Então, percebeu que ela e Fernando eram muito felizes e não sabiam, nunca brigavam, apenas se amavam. Tinham Lorenzo, que era um bom menino. Agora seu amor estava na UTI, não tinha noção de nada e ela estava morrendo por dentro.

            Marília foi se deitar, precisava dormir e recuperar as forças, para poder voltar ao hospital. Tinha um compromisso com a vida de Fernando, teria que ajudá-lo a se recuperar até ficar bom novamente. Ainda bem que seu irmão estava lá para ajudar e tomar conta de tudo, era um problema a menos para ela se preocupar.

             Estava tão cansada que adormeceu logo e, acordou assustada durante a madrugada. Então, olhou para o lugar vazio na cama e a triste realidade voltou a atormentá-la. Marília começou a rezar pedindo pela recuperação de Fernando e assim, ela viu o dia nascer.

               Quando saiu do quarto, viu Celso jogado no sofá com a roupa que estava na noite anterior. Sentiu pena dele, ela se esquecera de arrumar um lugar para ele dormir, no quarto de Lorenzo. Fez café e colocou a mesa para quando os dois homens acordassem. Seu filho estava no período de férias de fim de ano e poderia ajudar na pizzaria.  
         
             Pegou o telefone e ligou para Eloisa, queria notícias do seu marido.

           – Por favor Eloisa, preciso ter notícias de Fernando.

             - Fui vê-lo, assim que cheguei, está estável, mantém o quadro. Marília, não venha fora do horário de visitas, eles não a deixarão entrar. Foi o recado que sua amiga lhe deu.

A visita seria somente as dezesseis horas e ela teria o dia todo para resolver suas coisas e esperar. Saiu para fazer compras e depois fez almoço, mas não tinha fome, então, comeu algumas colheres de arroz e foi se arrumar para ir visitar seu marido. Mas, antes passaria na Igreja, queria pedir pela recuperação de seu esposo, de joelhos e na casa de Deus.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa



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