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quarta-feira, 18 de julho de 2018

"PRECISO BUSCAR O AMOR ONDE ESTIVER, MESMO QUE ISSO SIGNIFIQUE HORAS, DIAS, SEMANAS DE DECEPÇÃO E TRISTEZA. PORQUE NO MOMENTO EM QUE PARTIMOS EM BUSCA DO AMOR, ELE TAMBÉM PARTE AO NOSSO ENCONTRO". PAULO COELHO


SOU TODO SEU
CAPÍTULO CINCO
          A situação ficou tensa, mas Clara, a filha de Milena, que observava tudo com surpresa, levantou-se e pegou as flores, para colocar no vaso grande da sala de jantar. A moça ficou com o cartão na mão e finalmente conseguiu perguntar:

            - O que está acontecendo, qual o significado disso tudo?

           Otávio levantou-se, estava nervoso; no entanto, conseguiu falar em meio a gaguejos e pausas.
           - É tudo o que está escrito aí, estou apaixonado por você e resolvi lutar para ter uma chance. Faz seis meses que eu fico olhando você da janela do meu apartamento. Abaixou os olhos, estava mais tímido do que de costume, mas precisava se fazer entender.

                 Milena não esperava viver aquela situação inusitada e não sabia o que dizer diante da sinceridade do rapaz. Então, fez uma cara de surpresa, precisava sair dali e respirar ar puro. Em seguida, pediu licença, foi até a cozinha e tomou um copo de água gelada.

            Depois de algum tempo, voltou trazendo uma toalha, uma faca e alguns pratos de sobremesa com garfos. Arrumou tudo e colocou o bolo para ser cortado, depois, chamou o filho para comerem juntos. Aquela reunião, parecia a de uma família tradicional, sentados à mesa comendo bolo. Milena percebeu isso.

                 Não havia muitas coisas para serem ditas, mal se conheciam. Otávio perguntou ao garoto se gostava de futebol e este sorriu fazendo comentários sobre os jogos mais recentes. Clara comia prazerosamente e Milena curtia um pedaço do bolo, enquanto observava toda aquela cena. Fazia tempo que estava sozinha e quase nunca recebiam visitas.

                 A moça estava com uma sensação estranha, não sabia se era boa ou ruim; era, no mínimo, surpreendente. Estar sentada em sua sala de jantar com um estranho, que dizia estar apaixonado por ela, a transportava ao passado. As lembranças de seu casamento, o amor que sentia por Leandro e toda a decepção que lhe causara. Não queria nenhum relacionamento, estava, ainda, muito ferida. 

              Queria perguntar muitas coisas para o vizinho, no entanto, não poderia falar diante das crianças, poderia assusta-las. Milena manteve-se calada, enquanto observava o entrosamento de Otávio com seus filhos. Ele era uma pessoa comum, ela nunca havia reparado nele como homem; era apenas o vizinho da janela. Jamais poderia imaginar que ele ficava na janela para vê-la.

                 Nos últimos cinco anos, ela não tivera nenhum relacionamento, temia pela segurança dos filhos. Entretanto, aquele homem parecia deixar a casa e seus filhos muito mais seguros. Estavam alegres e sorridentes; o bolo estava uma delícia e as flores enfeitavam o ambiente. Otávio fizera daquela noite, uma data especial.

           Ficaram entretidos em frente à televisão, enquanto Milena abria uma garrafa de licor, que estava guardada fazia tempo. Era uma bebida doce e todos poderiam tomar, até mesmo as crianças. Então, beberam e brindaram pela saúde de todos, depois, o rapaz levantou-se e disse que iria deixá-los descansar. Mas, antes de sair queria seu número de celular para poder conversar.

            Milena sorriu e disse o número pausadamente, estava gostando daquela situação inesperada. Queria que ele saísse logo, pois, precisava ficar sozinha. Tinha muito o que pensar naquela noite; estava viva para o amor e não se dera conta disso. Otávio saiu deixando um leve perfume de colônia masculina no ar, aquele cheiro mexia com os sentimentos de Milena.

            Depois de uma hora, ela e as crianças já estavam deitadas; seria uma longa noite dos namorados. Então, o celular tocou. Ela pegou e havia uma mensagem:

           - Sou todo seu... Otávio
 A moça sorriu, sua noite dos namorados estava salva.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa.

quarta-feira, 11 de julho de 2018

"A MATURIDADE ME PERMITE OLHAR COM MENOS ILUSÕES, ACEITAR COM MENOS SOFRIMENTOS, ENTENDER COM MAIS TRANQUILIDADE E QUERER COM MAIS DOÇURA". LIA LUFT


                     AO AMOR, COM CARINHO

                                          CAPÍTULO QUATRO
            Otávio passou a manhã do dia dez de junho trabalhando, parecia meio alheio ao que estava acontecendo na farmácia. Saiu apressado, assim que foi rendido pelo seu colega; o destino era a padaria, que ficava no final da avenida. Entrou e foi até a atendente do estabelecimento. Depois de um leve cumprimento, pediu que ela lhe dissesse qual era o bolo que o rapaz, na semana anterior, havia encomendado para sua namorada. Otávio era frequentador assíduo do lugar e a moça já o conhecia, por isso a conversa fluiu fácil.

            - Por favor, eu quero um bolo igual ao dele e com morangos em cima. A moça tomou nota do pedido e marcou para ser retirado na tarde do dia seguinte, véspera do dia dos namorados. O rapaz saiu alegre, estava confiante, iria se declarar à Milena.

                 Seguiu andando pela avenida, que estava cheia naquele horário, entretanto, ele parecia flutuar e não percebia o movimento ao seu redor; estava feliz. Um estado de espírito há muito tempo esquecido. Então, avistou uma floricultura, era o que estava procurando. Otávio queria encomendar um ramalhete de rosas vermelhas e deixar um cartão para ser entregue com as flores. Estas, deveriam estar nas mãos de Milena ao cair da noite do dia onze; exatamente as dezenove horas, precisou o rapaz.

                 “Ao amor, com carinho.
Milena, para mim você representa o amor e a felicidade; me dê uma chance por favor. Beijos”
                Otávio

                 Pagou e saiu andando, precisava respirar ar puro para se acalmar. A sorte fora lançada e agora era só esperar o dia seguinte.

                 Em sua cabeça passou um filme e reviu o seu casamento, o nascimento de suas duas filhas e todos os desentendimentos que culminaram com a separação do casal. Maria, sua esposa, se dissolvera em alguma parte do seu passado. Hoje em dia, era apenas a mãe das meninas. Não sentia nenhuma emoção, carinho, nada; tornara-se uma estranha para ele.

             Otávio não acreditava que algum dia voltasse a amar, mas, agora estava apaixonado. Sentia o mesmo frio na espinha de quando era jovem ou até com mais intensidade. Tinha experiência e sabia quais erros evitar, completara cinquenta anos e sentia que tinha muita vida pela frente. No entanto, precisava de uma nova oportunidade para provar que o amor é importante, porque a solidão deprime e mata.

                 Naquela noite, Otávio rolou na cama durante algumas horas, estava muito ansioso e não conseguia dormir. Já na madrugada ele adormeceu e acabou acordando com o Sol na vidraça da sala, que refletia em seu quarto; não ouviu o despertador.  Chegou esbaforido em seu trabalho, suscitando espanto por parte de seus colegas. Era um homem correto demais, para chegar atrasado no serviço.

         - Otávio está diferente, com um brilho no olhar, será que está apaixonado? Cochicharam as atendentes do local.

              À tarde, saiu do trabalho e passou na padaria para pegar o bolo, teria que entregar pouco antes das dezenove horas, queria estar lá, quando as flores chegassem.

                 As dezoito e quarenta e cinco ele já estava pronto, e postado em frente ao espelho. Otávio estava limpo e cheiroso, precisava demonstrar asseio para a moça que queria conquistar.  

             Chegou na portaria do prédio de Milena com a caixa nas mãos. Pediu ao porteiro para perguntar se ele poderia subir, para levar um bolo para ela e as crianças. A moça estranhou, mas, educadamente disse que poderia subir:
            - Por que será que o vizinho vai trazer bolo para mim e as crianças? O que estará acontecendo? Não teve tempo para mais nada, ele já estava ali; a campainha tocou.

            Milena, que acabara de chegar do trabalho foi atender a porta. A situação era estranha, ela conhecia o vizinho de vê-lo na janela, apenas isso. E, agora ele estava ali com uma caixa nas mãos. A moça ficou vermelha e o convidou a entrar, não poderia fazer diferente; era uma moça educada. Ele entregou o bolo dizendo:

              - Milena, eu trouxe um bolo para você e as crianças, para comemorar o dia dos namorados.

            Ela ficou sem jeito e o convidou a sentar-se; não esperava passar por aquela situação. Passou alguns minutos e o interfone tocou novamente. Era o porteiro avisando que estava subindo um entregador de flores. Ela ficou parada, meio paralisada com tantas novidades.

            A campainha tocou e ela recebeu um lindo ramalhete de rosas vermelhas com um cartão. A moça, trêmula, abriu o cartão e ficou de queixo caído. O cartão era do vizinho, que estava sentado em seu sofá.

           Otávio ficou olhando e sorrindo para a moça, que estava espantada com as flores e o cartão nas mãos.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 4 de julho de 2018

"ENCONTREI EM VOCÊ TUDO O QUE SONHEI, TUDO QUE EU SEMPRE QUIS. NÃO QUERO QUE TUDO PASSE DE UM SONHO. DO MEU MELHOR SONHO, QUERO A REALIDADE, COM ESSE ENREDO E COM UM FINAL FELIZ". FERNANDO TAYRONE

NAS MÃOS DE DEUS

CAPÍTULO TRÊS
           Otávio retornou à sua casa cheio de esperanças, faria tudo para conquistar aquela mulher, que o inspirava tanto. Milena era muito importante para ele e a queria de qualquer maneira. Terminaria de criar seus filhos e providenciaria irmãos para eles. Então, sorriu com aquele pensamento tão gentil. No entanto, coçou a cabeça e reconheceu que estava sonhando acordado.

          – E se ela tivesse outros planos? Algum amor secreto, ou talvez, desistido do amor? Onde estaria o pai das crianças?  Por que estava sozinha?

            Otávio caiu em si e percebeu que era prematuro sonhar com uma moça, que somente conhecia de vista. Teria que planejar o encontro, para ter uma ideia melhor da situação. Conhecer o terreno em que estava querendo adentrar, se era firme ou pantanoso.

           Certamente, Milena deveria ter outros pretendentes, pois, era uma mulher vistosa e muito bonita. Otávio fechou a cara, não poderia deixar pensamentos obscuros tomar conta do seu dia, precisava confiar em Deus e seguir com seus planos.

               Foi à igreja, que costumava frequentar e onde tocava violino para o coro cantar. Precisava conversar com alguém que o orientasse, então, depois do culto, procurou o pastor, para uma conversa reservada. 

             Conhecia o pastor e sentia que ele tinha autoridade e sabedoria para uma conversa tão importante. Este o conduziu para uma sala cheia de livros e o convidou a sentar-se; depois, saiu pedindo para o rapaz aguardar alguns minutos. Otávio ficou admirado por estar em uma verdadeira biblioteca e por um momento se distraiu.

              - Será que o pastor já leu todos esses livros? É muita coisa para qualquer pessoa, mas, ele é um homem culto, todos sabem disso.
               Sentiu-se muito pequeno diante de tudo aquilo e sua admiração, por aquele homem da igreja, aumentou. Em seguida, ouviu passos e tratou de se endireitar na poltrona.

            O velho pastor retornou com duas xícaras de café em suas mãos, entregou uma ao rapaz e sorriu com um olhar paterno. Otávio sentiu-se amedrontado, mas não poderia desistir, já que o homem de Deus o estava fitando. Esperava que tomasse o café, para depois, ouvir o seu problema. Tinha um olhar profundo, que encorajava Otávio a abrir seu coração.

               O rapaz abaixou a cabeça e começou a falar. Disse que havia escolhido uma mulher para se casar, mas estava com medo de ser rejeitado. Saíra de um casamento desastroso e temia cometer os mesmos erros, por isso precisava de alguns conselhos.

            - O que devo fazer? Balbuciou o rapaz.

           Em seguida, suspirando em busca de mais oxigênio, levantou a cabeça olhando para o alto. Parecia buscar ajuda divina, depois sussurrou.

            - Não sei como chegar até ela e, cabisbaixo, falou sobre a ideia de levar o bolo e as flores no dia dos namorados.

               O pastor sorriu e fez que sim com a cabeça. Com tantos anos de experiência, sabia reconhecer um homem apaixonado.
            – O amor é lindo, pensou e continuou ouvindo a explanação do rapaz.  
           – Milena é minha esperança de um futuro melhor, não saberia viver sem ela, já faz parte dos meus dias. E, calou-se constrangido. Então, o pastor retomou.

             - Tudo o que é feito com amor, agrada a Deus. Assim, se existe verdade em suas palavras, vá em frente, meu filho. Ninguém fica insensível à uma gentileza.

               - Sim senhor, eu amo aquela mulher e pretendo fazê-la feliz.

              - Meu rapaz, vá com calma e lembre-se, que existe a possibilidade de você se decepcionar, então, esteja preparado. Entre em oração e peça a Deus que aconteça o melhor para vocês. 

           Otávio concordou com a cabeça e agradeceu ao pastor pela atenção dispensada, estava comovido.

          Depois, os dois homens levantaram-se e com um abraço se despediram.

           O rapaz saiu da igreja mais calmo, o pastor parecia um pai amoroso, que lhe passou segurança e a certeza de que Deus nos quer felizes. No dia seguinte iria escolher o bolo e as flores para o dia dos namorados; sentia-se nas mãos de Deus.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa


quarta-feira, 27 de junho de 2018

"E, QUANDO OLHEI EM SEUS OLHOS, O AMOR NASCEU EM MIM E MEUS DIAS SE TORNARAM CHEIOS DE TERNURA. O MEU CORAÇÃO NUNCA MAIS FOI O MESMO, VIVE PULSANDO APAIXONADO". IRMA JARDIM


COM OLHOS DE AMOR

CAPÍTULO DOIS
           O rapaz não pregou o olho a noite toda, estava ansioso; precisava saber mais a respeito da moça, que o instigava tanto. Muitas vezes, foi até a janela para ver se conseguia alguma pista, mas era impossível; o prédio tinha dez andares e todos, em algum momento, estavam acesos.

          No dia seguinte, Otávio foi conversar com o porteiro do prédio em frente ao seu. Cordialmente, usou algumas desculpas e sem grande esforço, conseguiu que o homem falasse da moça e das crianças. Disse que ela se chamava Milena, morava com os filhos no segundo andar, Clara a menina adolescente e Rafael, o irmão mais novo. E, que a mãe trabalhava em uma universidade.

Otávio estava satisfeito, era o que ele precisava saber; saiu cheio de esperanças. Nos seus mais remotos sonhos nunca pensou em se apaixonar novamente, mas, sentia-se queimar por dentro, quando pensava em Milena.

Ele passara a vigiar o prédio em frente, para saber os horários que a moça saia e voltava do trabalho. Descobriu que ela saia muito cedo e deixava as crianças prontas, esperando a perua para a escola. Ele podia vê-las da janela, todos os dias.

Do apartamento dele, no terceiro andar, ele via quando ela acendia a luz, as quatro e trinta horas da manhã. Às vezes, ele cochilava e acordava assustado, quando percebia que ela já havia saído para o trabalho. Otávio descobrira que ela saia as seis e trinta horas e retornava à sua casa, quase sempre, por volta das quatorze horas.

            Ele fez tudo para adequar seu trabalho aos horários de Milena. Chegava a sua casa a tempo de vê-la chegar do trabalho. E o dia em que ela demorava, ele ficava angustiado e de olho na janela. Sossegava quando ouvia o automóvel entrar na garagem, então, ia descansar um pouco.

            A janela tornou-se a parte mais importante da casa, o local onde ele passava grande parte do tempo. Ele conseguia ver a sala de Milena e quando a janela estava aberta, ele podia ver a moça assistindo televisão. Então, mantinha as luzes apagadas para não ser descoberto. Ficava embevecido olhando para ela, estava apaixonado.

            A cada dia ele ficava mais tempo olhando Milena chegar e sair, sentia ciúmes quando percebia que estava arrumada para alguma festa. Ficava nervoso, tinha insônia e só ia se deitar quando ela chegava. Sentia-se traído e ficava imaginando quem seria o objeto da traição; queria mata-lo com muitos socos e pontapés.

          Algumas vezes, ela percebeu que ele estava olhando para ela, no entanto, olhou como se ele estivesse sempre ali. Nem se tocou que ele estava ali para vê-la. Otávio debruçado na janela fazia parte do cotidiano, logo, Milena desviava o olhar e seguia em frente.

Aquela história já se alongava por três meses e o rapaz queria uma definição. O dia dos namorados se aproximava e ele queria fazer uma surpresa para Milena, mas temia ser rejeitado. Pensou em como chegar e falar com ela, sem parecer grosseiro ou intrometido. Passava o tempo todo imaginando como iria se aproximar dela.

               Certa manhã, ele foi até a padaria para comprar pães e ouviu um rapaz pedir um bolo de chocolate confeitado e com morangos em cima. Completou dizendo, que era para comemorar o aniversário de sua namorada. Depois, disse sorrindo:

          - Esse é o melhor jeito de agradá-la, um bolo de chocolate e um ramalhete de rosas vermelhas, não tem como errar. Todas as mulheres do mundo se comovem com essa atitude.

           Então, Otávio pensou nas crianças e decidiu, que levaria bolo para Milena, no dia dos namorados.

           – Vou agradar à mãe e os filhos de uma só vez, perfeito.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 20 de junho de 2018

"EU OLHO PARA VOCÊ COMO SE NÃO TIVESSE MAIS NADA AO REDOR, PARA ME ALEGRAR. TE OLHO, MESMO QUANDO ESTOU DE OLHOS FECHADOS. TENHO PENSADO EM VOCÊ, MESMO SEM PENSAR. PROTEGIDO VOCÊ, MESMO SEM TE TOCAR.AMADO VOCÊ SEM AO MENOS TE BEIJAR". EDUARDA MORGADO

       OS CAMINHOS DO CORAÇÃO

CAPÍTULO UM
DE OLHO EM VOCÊ
Otávio olhava em seu relógio a cada minuto, tinha que se apressar, pois, Milena não poderia chegar antes dele; precisava vê-la, mesmo que fosse por alguns minutos. Estava ansioso, queria fazer uma surpresa para a moça e não sabia qual seria a reação dela.

Fazia três meses, que ele a atendera na farmácia. A moça entrou apressada e lhe entregou a receita, depois, trocaram as palavras necessárias e ela se foi com o antibiótico e um antitérmico nas mãos. Parecia nervosa, disse que o filho estava acamado e com febre.

Otávio ficou olhando ela sair apressada e pensou que era uma mulher bonita, deveria ser casada. Ficou chateado, era jeitosa e tinha um jeito de andar, que o cativava. Ele poderia se interessar por ela; uma moça loura com grandes olhos negros, parecia perfeita.

 Ele se mudara para aquele apartamento fazia dois anos. Saia todas as manhãs para seu novo emprego; era farmacêutico em uma grande drogaria, bastante conhecida. Um bom emprego, que lhe rendia o suficiente para mandar a pensão para sua ex esposa, as duas filhas e sua manutenção. Para ele não precisava de muita coisa, saia apenas para ir à igreja e ao supermercado; era um homem de Deus, professava a fé evangélica. Otávio era amante da música e tocava violino nos cultos da igreja.

Nos últimos anos, sua vida se tornara um verdadeiro inferno. Ele e Maria não se entendiam mais e mal se falavam. O relacionamento amoroso há muito deixara de existir. Mantiveram as aparências pelas meninas adolescentes enquanto puderam, mas chegou uma hora, que não dava mais e resolveram pela separação. Fazia tempo que dormiam com cobertas separadas e ficavam imóveis, cada um em seu canto; uma tortura desnecessária.

          Assim, ele deixou a casa para elas e se mudou de cidade indo para o apartamento, que ficava perto da drogaria, na cidade vizinha. Otávio queria ter segurança e desde muito jovem se preocupava em ter uma casa própria. Então, comprara aquele apartamento pelo programa de habitação do governo, para ter uma renda a mais na velhice. E, veio bem a calhar, pelo menos não precisava pagar aluguel.

               Estava muito desiludido com o casamento e resolvera que ficaria sozinho para sempre. Um ano inteiro de fossa e tristeza com a situação vivida. Noites solitárias e a obrigação de lavar, passar e cozinhar o estava deixando depressivo. Em algumas noites, chegou a sentir saudades de Maria ou do tempo em que foram felizes. As duas meninas sempre iam vê-lo aos domingos, a mãe as deixava na porta e depois ia busca-las. Ficavam com o pai enquanto Maria visitava uma irmã, que morava perto dali.

           Mas, o tempo é bom companheiro e sua ferida foi cicatrizando, deixando um vazio em seu peito. Muitas vezes, ele parava para olhar casais abraçados ou de mãos dadas; sentia inveja dessas pessoas. A solidão estava pesada, não tinha vontade de sair ou se divertir. Ansiava por uma companhia feminina, que pudesse alegrar os seus dias.

               Milena foi a primeira moça que chamou sua atenção, mas não sabia onde ela morava ou o que fazia.  

            – Devo estar maluco, não conheço a moça e estou sonhando acordado, pensou e foi atender outra cliente, que acabara de entrar.

               Alguns dias se passaram e Otávio nem se lembrava mais de Milena, mas quando parou no farol vermelho, emparelhou seu carro com o dela; seu coração disparou.  Ela estava na direção e trazia duas crianças no banco de trás, uma adolescente e um menino.

              – Devem ser seus filhos, o menino tenho certeza, pois, ela fora clara na farmácia, quando disse que o filho estava acamado, pensou Otávio.

               Milena nem olhou para o lado, estava brava com as crianças, dava para perceber. Mesmo fazendo bico era muito bonita, pensou o rapaz, ela poderia fazê-lo feliz. E, quando o farol abriu e ela arrancou, foi seguida por Otávio. Iria descobrir onde ela morava e depois descobriria se era casada ou não. E, para sua surpresa ela entrou na garagem do prédio em frente ao seu. Ele ficou parado imaginando porque nunca a tinha visto antes, se eram vizinhos.

               Ela deixou o carro na garagem e saiu seguida pelas crianças. Levavam algumas sacolas de supermercado nas mãos e foram caminhando,  depois entraram no prédio. Otávio ficara intrigado, daria um jeito de descobrir o andar que ela morava e qual era seu nome. Montaria uma estratégia para abordar o porteiro. Assim, ele poderia ficar de olho nela.

Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 13 de junho de 2018

"LIBERDADE É UMA PALAVRA QUE O SONHO HUMANO ALIMENTA, NÃO HÁ NINGUÉM QUE EXPLIQUE E NINGUÉM QUE NÃO ENTENDA". CECÍLIA MEIRELES

OS CARAS PINTADAS ESTÃO DE VOLTA

CAPÍTULO ONZE
             No sábado, após o jantar, a família de Alberto se reuniu para a preparação de suas vestimentas e acessórios, que usariam no dia seguinte. A família iria participar do movimento contra a corrupção, que acontece em grande escala no governo brasileiro. Houve uma convocação geral nas redes sociais e nas mídias para o protesto, que aconteceria no domingo 15 de março de 2015.

          A mãe e os três filhos pediram ao pai que lhes contasse como fora o movimento dos “caras-pintadas” contra o governo de Fernando Collor de Melo, uma vez que ele participara da grande passeata, que mobilizou o país em meados de 1992. E, que posteriormente culminou com sua renúncia em 29 de dezembro de 1992, horas antes de sua cassação.

         Alberto gostava de contar as lutas que presenciara e participara durante os anos difíceis da Ditadura Militar. Queria ensinar aos filhos o valor da democracia e o temor que sentia quando ouvia alguém dizer que queria a ditadura de volta. Assim, ele deixava claro aos seus filhos, que a coisa mais importante do mundo é a liberdade: imprensa livre, ter paz para trabalhar, poder ir e vir sem medo. Lutar pelos seus direitos e cumprir com seus deveres. Nossos avós e pais lutaram para formar uma sociedade de direito e devemos preservá-la, custe o que custar.

              Alberto, então, começou a contar a história que ele vivenciara como cara pintada e que trazia na memória com muito orgulho.

             - A passeata dos caras pintadas no início da década de noventa, se espalhou pelo Brasil. Consistia num movimento contra os desmandos do governo do Presidente Collor, que assumira o governo com muitas promessas de lutas contra a corrupção, ajustes fiscais, econômicos e amparo aos descamisados. Porém, suas atitudes e decisões demonstraram que todas as suas promessas eram falsas. E, que por trás havia um grande esquema de corrupção. Depois do confisco da poupança, o que deixou a população perplexa e as decisões tomadas pelo governo, que não favoreciam os interesses da nação, houve uma tomada de consciência geral.  Então, houve a maior mobilização de protesto popular contra um governo, já visto no Brasil.

            A massa popular era composta de pessoas de todas as idades e principalmente por adolescentes, que munidos de sua mais poderosa arma, a Bandeira do Brasil, gritavam palavras de ordem. Grupos saíram às ruas vestidos de preto, outros com as cores do país e muitos com os rostos pintados para a guerra. Uma luta em prol da democracia, de um país mais justo e contra um governo corrupto.

            Diante de tantos clamores e mobilização popular, que procurava de alguma forma se proteger, para impedir o retrocesso aos anos de repressão da ditadura, a voz do povo se fez ouvir. Enfatizou o homem, emocionado.    
       
           As crianças prestavam atenção ao que o pai dizia e de vez em quando faziam alguma pergunta, pois, ainda não compreendiam bem o que era uma ditadura ou um governo corrupto.

             – Preciso contar um pouco da história dessa época, para que vocês entendam os fatos como eles aconteceram. Disse Alberto, compenetrado.

             Sua esposa e os filhos estavam atentos, queriam estar bem informados, para entender o movimento ao qual participariam no dia seguinte.

            - Desde os anos sessenta, depois da instauração da ditadura militar e seu regime de censura e repressão, o povo brasileiro ansiava pelo direito à liberdade. Então, houve muitas lutas subversivas contra o poder militar, que oprimia a sociedade civil com mão de ferro.

            Um dos grandes momentos de luta pela democracia foram os movimentos estudantis do final dos anos sessenta, em plena Ditadura Militar, onde jovens universitários saíam as ruas para protestar abertamente contra o governo, expressando ideias, geralmente, de esquerda. Muitos desapareceram e outros foram presos e exilados; foi uma fase obscura da política brasileira, “A DITADURA MILITAR”. Nessa luta apareceram algumas lideranças e entre elas o ex-Presidente Lula e a atual Presidente Dilma Roussef, que lutavam na clandestinidade.

           A ditadura durou 21 anos, de 1964 a 1985. O primeiro presidente eleito pelo povo foi Fernando Color de Melo que assumiu em 1990 e renunciou em 1992, assumindo seu vice, Itamar Franco. Com o fim de seu mandato foi eleito Fernando Henrique Cardoso, que cumpriu dois mandatos seguidos.

           Em 2002 assumiu o novo Presidente eleito, Luís Inácio Lula da Silva. Seria a primeira vez que a esquerda assumiria o poder e nas primeiras medidas tomadas, o governo anunciou um projeto social: a campanha “Fome Zero”. Seu primeiro mandato foi de encontro as expectativas do povo carente de mudanças e melhoria nas condições de vida da população de baixa renda.

           Entretanto, depois da esquerda assumir o governo e mostrar uma nova maneira de assistir aos mais necessitados, levando o país a uma estabilidade aparente, vieram à tona uma enxurrada de decepções e corrupções em todos os escalões do governo, acordando o gigante que estava adormecido.

E, na eleição de 2014 com uma disputa acirrada, a presidente Dilma conseguiu se manter no poder em meio a muitas denúncias de corrupção. Depois de sua posse ela tomou medidas impopulares e contrárias as suas promessas de campanha, o que levou o povo a se posicionar contra seu governo e pedir a sua saída através do impeachment. 

              - Portanto, é para esse movimento que estamos nos preparando, frisou Alberto. O movimento em prol da ética, da moral e da cidadania. Por mais saúde, segurança, educação e transportes, que estão sucateados em nosso país

           Diante desse cenário confuso “os caras-pintadas” retornarão às ruas; os mais velhos, que participaram da primeira versão, os filhos e netos deles, todos unidos para mais uma vez defender o seu país de um governo corrupto.

          Os filhos de Alberto estavam em idade escolar e os dois mais velhos já tinham ouvido falar sobre essa história. Mas, a menina Ana Clara, que estava no primeiro ano do ensino fundamental, ainda não conhecia essa história, que seu pai contava com tanto entusiasmo e patriotismo.

       Alberto continuava contando que, “os caras-pintadas” tornaram-se ícones de uma nova maneira, que o povo descobriu, de se fazer democracia; forçar a queda de dirigentes corruptos e incompetentes. Em seguida, todos foram dormir, precisavam descansar para cumprir seu dever cívico no dia seguinte.

          O domingo amanheceu ensolarado depois de vários dias de chuva, no entanto, uma brisa fresca deixava o dia perfeito para a passeata. Logo após o almoço, a família de Alberto se preparou e saiu para cumprir seu dever cívico em defesa de um Brasil melhor. Todos vestidos com roupas nas cores da Bandeira do Brasil, apitos, chapéus, bandeiras e as caras pintadas de verde, amarelo, azul e branco; estavam alegres e felizes.

             Saíram do bairro do Ipiranga e tomaram o ônibus em direção ao Vale do Anhangabaú, no centro da cidade de São Paulo. O local foi escolhido como ponto de encontro para uma das maiores manifestações do movimento contra a corrupção, os aumentos de tarifas abusivos e a instabilidade do atual governo da presidente Dilma.

           Chegando ao local, eles foram se juntar a outros grupos, que estavam se organizando para iniciar a passeata.  Um dos líderes do grupo pegou o microfone e começou a falar qual a diferença entre os caras pintadas antigos e os atuais. Em 1992, o povo queria tirar um político da Presidência, baseados em suas atitudes impopulares e provas de corrupção. Nos dias atuais a luta é contra um partido, Partido dos Trabalhadores e a disseminação da corrupção em todas as esferas do governo.

          Para Alberto, a decepção e revolta do povo é o que existe de comum entre os dois momentos. Ele acredita que contra o PT a revolta é ainda maior do que com o Collor; o sentimento está na cara das pessoas e é maior do que em 1992.

            Alberto conta, com um certo saudosismo, que em 1992 os jovens eram mais comprometidos e atuantes, mesmo sem acesso à internet e as redes sociais. Hoje em dia, com acesso a todo tipo de tecnologia, os jovens demonstram menos interesse. Os caras-pintadas atuais são pessoas mais velhas e experientes, levando os jovens para um compromisso com a democracia. São idosos, cadeirantes, artistas, jogadores de futebol e muitas crianças acompanhando os pais. A população está muito mais informada do que antes e querem um país livre e sem corrupção. Os caras-pintadas da atualidade estão fartos de corrupção e falcatruas; pedem a prisão dos corruptos e a queda do governo.

           O líder do grupo que estava reunido permanecia com o microfone na mão e continuava seu discurso:

           -Não adianta ir para uma manifestação e achar que já fez a sua parte e se acomodar. Agora é a hora de iniciar uma longa luta. Nesse primeiro momento servirá de alerta para os governantes saberem que o povo não é bobo, e unidos tem muita força. A corrupção não está somente em todos os partidos, faz parte do sistema. As pessoas precisam ir às ruas brigar pelas reformas política, tributária e jurídica.

Em seguida, saíram em passeata cantando o Hino Nacional Brasileiro e gritando palavras de ordem; foi uma festa da liberdade de expressão e fortalecimento da democracia. A manifestação ocorreu em âmbito nacional e quando a família de Alberto regressou a sua casa, já estava escurecendo e as crianças, apesar de felizes, estavam exaustas. Depois do banho e de um lanche foram dormir e marido e mulher se abraçaram, tinham ensinado aos filhos um sentimento muito importante: o amor e respeito a Pátria. O valor dos símbolos do país, que é a Bandeira e o Hino Nacional, que devem representar seu povo em todos os momentos, apresentações, lutas e competições que participarem.

Portanto, as crianças aprenderam em um dia, muito mais do que em um ano de estudos, pois, vivenciaram um momento importante de civismo. Os filhos de Alberto e os filhos de milhares de famílias que participaram de tão importante manifestação, criaram dentro do peito uma semente de patriotismo. Coisa antiga, meio adormecida diante de tanta modernidade e tecnologia, que tomou conta da nova geração. Eles estão aprendendo o valor da presença física e do som da voz em uma luta contra um inimigo gigante: um governo corrupto. As ruas estavam pintadas, as caras pintadas, e as casas pintadas de verde e amarelo A manifestação ocorreu em âmbito nacional e a mobilização assustou quem não acreditava no movimento.

- Sair detrás do computador e gritar a plenos pulmões o orgulho de ser brasileiro, não tem preço. É sentir a liberdade no rosto, pois, os caras-pintadas estão de volta, concluiu Alberto, satisfeito.

           Então, Maria Alcina que estava na sacada da casa do filho, olhou para o céu e com um suspiro murmurou.

          – Boa noite lua, você ainda me faz sonhar e agora, com um país mais justo.           
          - Ah! Eu quero registrar que tenho certeza, que São Jorge e o dragão ainda moram na lua... Em seguida entrou e foi descansar.


Um texto de Eva Ibrahim Sousa
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