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quarta-feira, 9 de maio de 2018

"LUA DE CRISTAL" - XUXA - "...TUDO QUE EU FIZER, EU VOU TENTAR MELHOR DO QUE EU JÁ FIZ. ESTEJA O MEU DESTINO ONDE ESTIVER, EU VOU BUSCAR A SORTE E SER FELIZ" MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS

A LUA SE ESCONDEU


CAPÍTULO SEIS
            Maria Alcina ficou com pena de sua mãe, pois, aquela era mais uma prova do imenso amor que Doralice tinha pelos filhos. Com lágrimas nos olhos a menina abraçou a mãe, que soluçou em seus braços, então, a filha prometeu tomar mais cuidado para não lhe dar preocupações.

          Com a passagem do ano novo e o início de uma nova década, parecia que algo novo despontava para o mundo. Era como se fosse a primavera após o inverno severo. Raios de Sol brilhavam no horizonte da década de setenta. Promessas de mudanças políticas, culturais, sociais, éticas e morais despontavam, pipocando para todos os lados com acenos de bons augúrios. No entanto, no interior, nada disso era bem-vindo, temiam pela perda da moral e bons costumes. Os acontecimentos eram assustadores.

                 Depois de uma década de opressão e muito medo, as novidades apareciam para mudar tudo. Surgiram as discotecas, os hippies, as calças pantalonas, os cabelos black power, as mini-saias e com a popularização da pílula anticoncepcional, a revolução feminina tomou força. As mulheres saíram as ruas queimando os soutiens e assustando as famílias mais tradicionais.

Com tantas mudanças acontecendo, os pais de moças entraram em desespero. Seria melhor casar as donzelas, antes que se perdessem pelo caminho. Os rapazes ficaram mais ariscos e as mulheres perderam a credibilidade, sendo pressionadas a dar a tão famosa prova de amor para os namorados. Muitas se deram mal e acabaram em uma situação ruim. Algumas ficaram grávidas e outras foram abandonadas depois de ceder à prova de amor.

        No entanto, o caso mais marcante ocorrido na pequena cidade foi a devolução de uma recém-casada para seu pai. 

Cecília morava perto da casa de Maria Alcina, eram amigas desde criança. Davi era apaixonado por Cecília, que aceitava sua companhia por falta de opção. Era inconsequente, alegre e brincalhona; seu desejo era apenas se divertir.

Havia uma marcha para o progresso, até então estagnado; muitas atitudes foram tomadas para que as mudanças fossem implantadas naquela região. A pequena cidade foi contemplada com um projeto de preservação do meio ambiente, dos rios e matas ciliares com novos plantios de mata nativa e apoio à agricultura. Precisavam, então, de um suporte técnico e o fornecimento de mudas de um viveiro próprio. Para tanto, seria necessário a construção de uma casa da lavoura para acolher um engenheiro agrônomo, seus assessores e todos os implementos necessários.

              Para a realização da obra chegou uma construtora da capital, com uma porção de rapazes novos, que ficavam alojados no anexo da construção. Entre eles estava Nélio, um rapaz alto, bonito e de olhos verdes, que se encantou com Cecília. Ela tratou de se afastar de Davi e começou a sair com Nélio as escondidas.

            Ele era mais esperto do que os rapazes daquela pequena comunidade e conhecia a pílula anticoncepcional. Com sua capacidade de sedução envolveu a menina, que se deixou encantar. Então, Nélio fez uso de toda sua lábia para convencer Cecília, a fazer uso da novidade. E, foi pelas mãos de Nélio que ela se tornou mulher.   

         Entre mil juras de amor resolveram guardar segredo, pois, ele dizia que iriam se casar brevemente e ninguém precisaria saber do ocorrido.

Os encontros furtivos duraram alguns meses e nada do rapaz querer assumir o namoro oficialmente.  Até que, em uma noite de lua cheia, Cecília flagrou o seu amor com outra moça conhecida. Andou chorosa durante dias, se lamentando que havia sido traída pela vida. Acreditava que amava aquele rapaz e nunca mais se apaixonaria por ninguém.

              Cecília, abandonada e traída, não poderia ficar sozinha, precisava dar o troco para aquele manipulador. Fez isso voltando para o Davi, que ainda a amava.   
          
            A construção terminou e Nélio foi embora, deixando uma moça ferida para trás, que logo concordou em se casar com o antigo namorado. Davi nada desconfiava e se casara acreditando na virgindade de sua noiva, porém, na noite de núpcias a situação ficou insustentável. Cecília não era a moça pura que ele esperava.

           A recém-casada não teve como negar e chorou o resto da noite pedindo clemência. No entanto, Davi pegou as malas da moça e a arrastou até a casa de seus pais, devolvendo-a em plena madrugada.

            – Faço isso para não cometer uma loucura e me tornar um assassino, disse o marido ferido ao pai estupefato. Este, coberto de vergonha, jogou a filha no quarto, trancou a porta tirando a chave; depois guardou no bolso.

           Lá no céu uma nuvem encobriu a lua, ou quem sabe, foi ela que se escondeu com vergonha do ocorrido.
Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 2 de maio de 2018

"LUA DE CRISTAL" - XUXA "...FAZ DE MIM ESTRELA, QUE EU JÁ SEI BRILHAR. LUA DE CRISTAL, NOVA DE PAIXÃO, FAZ DA MINHA VIDA CHEIA DE EMOÇÃO..." MICHEL SULIVAN E PAULO MASSADAS



         SOB O LUAR DE SÁBADO A NOITE


CAPÍTULO CINCO
          Para os costumes da época Maria Alcina já era uma moça feita e poderia namorar para se casar. A revolução feminista ainda não havia começado e a sociedade patriarcal dominava as famílias. E, nessa linha de pensamento os pais queriam casar as filhas o mais rápido possível, para não correr o risco de ter alguma surpresa desagradável.

           Ser mãe solteira, ou cair na boca do povo por um namoro mais íntimo, significava que nenhum homem desposaria a moça em questão para ser mãe de seus filhos. Recebia o codinome de “mulher da vida” e as portas se fechavam para ela.

            A virgindade e a ingenuidade ainda faziam parte dos dotes exigidos para as moças casadoiras. Para ser considerada ultrapassada ou coroa, bastava ter passado dos vinte anos sem estar compromissada seriamente.

            Então, a aproximação acontecia com olhares furtivos na praça, onde as moças andavam em círculos, enquanto os rapazes ficavam de braços cruzados, observando-as. Muitas vezes, quando ficavam interessados, ofereciam músicas no serviço de alto falantes, que havia no coreto da praça.

        Essa paquera acontecia aos sábados à noite na praça principal. As moças ficavam sentadas no caramanchão, ou circulando ao redor do chafariz, que volteava suas águas ao farfalhar do vento e ao som das músicas românticas. Depois de olhares e sinais de aprovação, os envolvidos passavam a semana inteira querendo rever o objeto de seus sentimentos, mas tinham que esperar o sábado seguinte.

As moças tinham horário para sair e voltar para casa. Saiam as dezenove horas e deveriam estar em casa as vinte e uma horas, salvo as terças-feiras, que havia uma sessão de cinema para as moças. Era gratuito para quem estivesse acompanhada de um rapaz. Todas as moças arrumavam um par para adentrar ao cinema, mesmo que fosse somente para entrar, depois se separavam.

            Certo dia, na casa da Maria Alcina, chegou uma visita, era sua avó materna, que viera para passar uns tempos com a família da filha. Na casa havia muitas crianças, oito filhos, pai, mãe e uma tia velha, que ajudava a criar os pequenos; consequentemente, havia pouco espaço. Por esse motivo, a avó foi dormir no sofá da sala e todos se ajeitaram.

            Maria Alcina, que estava de namorico com o Fred, saiu com uma vizinha de sua idade e foram a uma quermesse no largo da Igreja local. Ao sair, foi alertada para retornar à casa as vinte e uma horas, sob pena de ser castigada se houvesse atraso.

             No horário marcado o Fred a acompanhou até o portão de sua casa, onde se despediram com o primeiro beijo furtivo. Meio atordoada com a nova experiência, a menina bateu na porta da sala e sua avó levantou-se e foi abrir para ela entrar, retornando ao sofá posteriormente. Maria Alcina foi dormir com mil sonhos na cabeça e apagou profundamente.

As vinte e três horas, houve um pequeno alvoroço na casa, que acordou a avó. Mas como ninguém disse nada, ela voltou a pegar no sono, mesmo com o barulho do velho automóvel DKV e seu som característico: PU, PU, PU, PU, PU.... saindo em disparada.

             Quando o relógio bateu meia noite, o automóvel retornou acordando a avó novamente, que assustada ao perceber que sua filha estava chorando, perguntou:

             - O que aconteceu? Quem morreu?

             - A Maria Alcina sumiu, respondeu aos prantos Doralice, a mãe da menina.

             A velha senhora, espantada, disse que estavam doidos, pois a neta voltara para casa fazia tempo.

 – Foram olhar no quarto? Na cama?

          Então, Doralice cheia de esperanças, correu para o quarto e teve uma crise nervosa ao ver a filha dormindo. Pegou o chinelo e começou a bater em Maria Alcina, mesmo ela estando coberta. A menina pulou da cama, com os olhos arregalados e perguntou?

               - Por que a senhora está me batendo? Então, a avó que estava na soleira da porta respondeu:

             - Porque são dois loucos, que primeiro vão procurar a filha na rua, que já estava dormindo fazia tempo, ao invés de olhar no quarto.

            - Fui eu quem abriu a porta para ela quando chegou da rua. Por que não me perguntaram? Esbravejou a velha senhora olhando para a filha.

             – Não pensei nisso, sempre sou eu quem abre a porta para ela entrar, respondeu a mãe da menina, rindo e chorando ao mesmo tempo.
 Um texto de Eva Ibrahim Sousa

quarta-feira, 25 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL"- XUXA- "...VAMOS COM VOCÊ, NÓS SOMOS INVENCÍVEIS, PODE CRER. O SONHO ESTÁ NO AR. O AMOR ME FAZ CANTAR. LUA DE CRISTAL, QUE ME FAZ SONHAR..." MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS


DE OLHOS NA LUA

CAPÍTULO QUATRO 
          Maria Alcina e as outras meninas adolescentes, também foram atingidas pela história do lobisomem. Quando a lua aparecia grande e brilhante, elas ficavam com medo e temiam que aparecesse um lobisomem, então, não saiam de suas casas. Fechavam as portas, janelas e mantinham um terço pendurado na guarda de cada cama, para afastar o coisa ruim. E, debaixo das cobertas rezavam ao anjo da guarda, pedindo proteção.

            As histórias do jagunço Raimundo correram as redondezas e mudou o hábito das pessoas simples do lugarejo. Era um povo crédulo e temente a Deus, mas lá no fundo, eram muito supersticiosos.

          Logo chegou a luz elétrica naquela região e, em seguida a televisão em algumas casas. Assim, a solidariedade e a amizade juntavam os vizinhos para assistir ao cinema em casa; aquela novidade encantava a todos. Havia muito menos crianças nas ruas, ficavam mais tempo dentro das casas.

         Tempos de medos e muitos sonhos; havia um romantismo herdado dos anos cinquenta, que eram tidos como anos dourados. A década de sessenta foi de muitas mudanças políticas no país e na sociedade brasileira. Com a tomada do poder pelos militares em 1964, houve repressão e a censura a liberdade de expressão foi sentida por todos.

           O medo estava no olhar das pessoas. A resistência atuava na clandestinidade das grandes cidades e a repressão era cruel. Os professores se mantinham em silêncio sobre questões políticas, pois temiam represálias. As pessoas tidas como suspeitas eram retiradas de suas casas, presas e muitas vezes desapareciam. Todos viviam calados, pensavam antes de falar qualquer coisa; desconfiavam de qualquer pessoa conhecida ou não.

           Decorria o ano de 1967 e foi nessa época que apareceram as músicas de protesto. Surgiram os festivais de música popular brasileira, MPB, que ficaram famosos por seu valor musical, com participantes de grandes talentos. A televisão já fazia parte do dia a dia das pessoas; tornara-se indispensável.

       O povo se reunia para assistir os grandes eventos pela televisão nos bares e clubes. A censura estava presente nos meios de comunicação, então, passava somente o que fora aprovado previamente, tais como: Jogos de futebol, competições importantes, festivais e programas variados na televisão.

           As músicas, que foram vencedoras nos festivais, tornaram-se famosas e são lembradas até hoje, por sua qualidade e mensagens políticas veladas em suas letras. Fazem parte do acervo de uma época de repressão e intensa produção de músicas populares no país, com destaque para suas letras de impacto político. O sucesso se repetiu no ano seguinte, mas decaiu no posterior.

              E, para fechar a década, em 1969 todos assistiram boquiabertos a descida do primeiro homem na lua. As meninas olhavam atentas para ver se o astronauta americano se encontraria com São Jorge. Esperavam ver o santo empunhando a lança montado em seu cavalo branco, aguardando o dragão surgir para abatê-lo.

           Elas temiam que o dragão avançasse no astronauta e São Jorge ficasse indeciso diante daquela roupa estranha, que para ele seria muito esquisita. Mas, quando viram o astronauta planando suavemente na lua, elas tiveram uma grande decepção e a lua perdeu parte de seu encanto. Assim, uma pergunta ficou no ar:

           - Será que o santo e o dragão ficaram com medo do astronauta, por isso não apareceram? Mas não importa, o sonho não acabou, a lua continua lá, esplêndida como sempre. Disse Maria Alcina em voz alta com tom de desabafo.

             Nesse contexto repressivo, precisava haver um meio de promover a alegria como válvula de escape. Era tempo dos grandes bailes com orquestras ao vivo e dos bailinhos nas garagens e salas das casas dos jovens adolescentes. Surgiu, nessa época, o movimento da Jovem Guarda, que embalou a juventude daquele final de década.

          Aconteceu em um bailinho na casa da Sandra, foi onde a Maria Alcina conheceu o Frederico. Foi paixão à primeira vista; sentiram uma atração instantânea. Trocaram olhares e promessas veladas, depois dançaram de rosto colado durante uma tarde inteira. Em seguida, saíram cada um com um amigo e foram para suas casas. Era muito cedo para se mostrarem em público.

         Com a chegada do primeiro amor, Fred se tornou o centro da vida da menina. Maria Alcina estava com dezesseis anos e tinha muitos sonhos para realizar. Queria conhecer seu príncipe encantado e viver um grande amor. Era tempo de sonhar de mãos dadas a luz do luar.

         Desde pequena estava sendo preparada para o casamento. As meninas aprendiam com suas mães como se comportar depois de casadas, cuidar da casa e do marido.
Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 18 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL" - XUXA - "...ME DAR TODA CORAGEM QUE PUDER, QUE NÃO ME FALTE FORÇAS PRA LUTAR. VAMOS COM VOCÊ, NÓS SOMOS INVENCÍVEIS, PODE CRER. TODOS SOMOS UM, E JUNTOS NÃO EXISTE MAL NENHUM..." MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS

O LOBISOMEM

CAPÍTULO TRÊS
             Com a plateia acomodada e quieta para ouvir a história do lobisomem, Raimundo limpou a garganta com um forte pigarro seguido de uma cusparada e, depois começou falando:

            - Em uma noite de quinta para sexta feira da paixão de Cristo, dois pescadores ficaram até tarde na beira do rio. Pretendiam obter alguns peixes para o almoço do dia seguinte. Era pecado comer carnes, podiam ser consumidos apenas peixes.

         Com a luz forte da lua cheia iluminando o rio, que mais parecia um grande espelho, os dois amigos se concentraram na pesca. Fazia horas que tentavam fisgar alguns lambaris e nada conseguiam. Não poderiam desistir, pois tinham prometido às suas esposas levar mistura para o almoço.

          O tempo passou e eles não perceberam, mas ao dar meia noite, eles ouviram um estrondo estarrecedor e saíram correndo de medo. Ficaram escondidos atrás do terreiro onde ficava o barraco de Tião Bento. Havia mato alto e eles adentraram em meio a algumas moitas de cipreste.

           Com a respiração presa e morrendo de medo, viram quando um enorme cachorro, mais parecido com um lobo, saiu dos fundos do casebre, espantando as galinhas. Ali era o galinheiro e o animal enraivecido olhava para trás, arreganhando os dentes. Ele tinha os olhos vermelhos como sangue e espumava pela boca.

           Os dois homens ficaram paralisados temendo pela própria vida, escondidos atrás das moitas. Eles não podiam sair, pois, o bicho corria ao redor do barraco, ia até o rio e voltava enraivecido. De vez em quando, soltava uns sons, que mais pareciam urros de raiva.

          A noite foi longa e os dois pescadores não fecharam os olhos. Quando estava para o Sol nascer, o animal enfurecido adentrou ao galinheiro e, com um urro ensurdecedor voltou a sua forma primitiva de ser humano.

            Tião Bento, um homem simples, todo sujo de fezes e penas de galinhas, saiu dali mancando e foi tomar banho no rio. Então, os dois pescadores puderam escapar das moitas e voltar para suas casas. Chegaram de mãos vazias, mas juraram por todos os santos, que nunca mais sairiam de casa nas noites de sextas-feiras e muito menos nas sextas-feiras de lua cheia.

- Por hoje chega, vão dormir e amanhã continuaremos, disse o jagunço com um olhar de satisfação. Ele tinha prazer em provocar medo nas pessoas, principalmente nas crianças.

As pessoas trataram de se levantar e as crianças se agarraram a elas. Depois seguiram para suas casas, tremendo de medo. Ninguém queria dormir no escuro e as lamparinas arderam a noite toda.

Depois dessa história houve mudança na educação das crianças.  As mães se apegaram ao temor dos filhos e quando desobedeciam, elas diziam que iriam chamar o lobisomem; imediatamente todas elas se aquietavam. Era uma maneira grotesca de manter a ordem entre os pequenos.
Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 11 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL" - XUXA - "...TUDO QUE EU FIZER, EU VOU TENTAR MELHOR DO QUE EU JÁ FIZ. ESTEJA O MEU DESTINO ONDE ESTIVER, EU VOU BUSCAR A SORTE E SER FELIZ. TUDO O QUE EU QUISER, O CARA LÁ DE CIMA VAI ME DAR..." MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS



                    HISTÓRIAS DE ARREPIAR

CAPÍTULO DOIS

        Nessa época, havia muitas histórias fantasiosas, que corriam boca a boca, influência dos contos de fadas dos irmãos Grimm. As casas ainda não tinham televisão, nem as pessoas possuíam celular, então, conversava-se muito mais olhando nos olhos do interlocutor. Em sua maioria eram histórias macabras, criadas pela imaginação dos camponeses ou quem sabe, algumas histórias verdadeiras, que deixavam as crianças com muito medo. Ainda persiste a dúvida sobre a veracidade de certas histórias, que compõem o acervo do senso comum.

 O carnaval havia terminado e a quaresma começara na quarta-feira de cinzas. Era tempo de resguardo e silêncio em respeito ao período reservado à penitencia. Observava-se o jejum e a abstinência de carne as quartas e sextas-feiras.

 Era proibido ouvir músicas ou dançar, todos se recolhiam logo após o escurecer; quarenta dias de respeito e reflexão às coisas da religião e principalmente a Deus. Quem se recusasse a obedecer às recomendações da Igreja e desrespeitar as orientações do padre, corria o risco de ser excomungado.

      Certo dia, chegou de viagem com a jardineira, o tio de Maria Alcina; o jagunço Raimundo. A jardineira era um precursor do ônibus, que era o meio de transporte para as outras pequenas cidades do interior paulista. Fazia tempo que não se tinha notícias da família, que ficara em Alagoas e agora chegava o tio com fama de valentão.

                 Ele era calado e bastante desconfiado, mas, um dia sentou-se no tronco da árvore em frente à casa e chamou as crianças, que brincavam na rua.

          – Vou contar para vocês histórias da minha terra, pois conheci Lampião, até andei um tempo acompanhando o bando dele.

          O nome de Lampião surtia efeito na mesma hora, o jagunço era o terror do sertão e Raimundo sabia disso.

         Em seguida, juntaram-se ao seu redor uma porção de crianças das redondezas e alguns adultos, que estavam por ali. Queriam ouvir suas histórias sobre o rei do cangaço, o Lampião, temido por todos. Raimundo contou tantas atrocidades cometidas pelo bando de jagunços e outras coisas fantasiosas envolvendo fatos macabros de terror. As crianças ficaram boquiabertas e morrendo de medo.

          Na noite seguinte, ele começou dizendo que iria contar uma história sobre um lobisomem e as crianças se juntaram novamente, pareciam hipnotizadas, para ouvir os relatos sobre um homem, que virava lobisomem. O fato acontecia as sextas-feiras de lua cheia, quando o relógio batia meia-noite. E, especialmente um caso que aconteceu em uma noite de lua cheia numa sexta-feira santa.

           Todos se espremeram, ali vinha outra história de arrepiar, ainda mais que a sexta-feira da paixão se aproximava. A plateia era cada vez maior, juntaram-se as mulheres e os vizinhos também.

          Ele sabia como prender a atenção das crianças e adultos; todos ficavam embevecidos ao ouvir o jagunço contar fatos de sua terra. Então, ele começou dizendo que perto do rio, lá no sertão nordestino, morava um homem temido por todos na região.

             Chamava-se Tião Bento e era manco de uma perna. Diziam que tinha sido mordido por uma cobra cascavel, que o deixara vivo, mas com um grande aleijão em forma de ferida permanente e, que por essa razão ele tinha conluio com o demonio. Ninguém antes sobrevivera a uma picada de cobra cascavel naquelas redondezas. A história que envolvia o Tião Bento era de arrepiar e as crianças tremiam de medo, mas não arredavam pé do lugar.

           Acomodaram-se de qualquer jeito, sentadas no chão ou em pé mesmo. A expectativa era grande, pois o assunto era interessante e assustador.

Um texto de Eva Ibrahim


quarta-feira, 4 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL"- XUXA - "TUDO PODE SER, SE QUISER SERÁ. O SONHO SEMPRE VEM PRA QUEM SONHAR. TUDO PODE SER, SÓ BASTA ACREDITAR. TUDO QUE TIVER QUE SER SERÁ..." COMPOSITORES: MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS.


 LUA QUE ME FAZ SONHAR

A LUZ DO LUAR

CAPÍTULO UM
As meninas não se misturavam com os meninos, era feio ser moleca naqueles idos de um mil novecentos e sessenta e poucos. Ainda havia ética e moral vigente nas famílias brasileiras. Embora hoje em desuso, os filhos obedeciam aos pais, que outrora eram tidos como sábios e detinham o poder de resolver todas as questões, até as mais difíceis e arrasadoras. Os adultos e as pessoas mais idosas, não tinham diploma universitário, mas conseguiam resolver tudo; eram formadas na escola da vida.

As meninas se vestiam de meninas e os meninos jogavam bola. Enquanto elas sonhavam com um príncipe encantado, eles sonhavam com os super-heróis das revistas em quadrinhos.  Frequentavam as missas aos domingos e temiam o coisa ruim, tanto que se recusavam em dizer seu nome.

 Telefone era coisa rara e quem tinha era poderoso e invejado pelos cidadãos comuns. Somente o médico, o farmacêutico ou o prefeito que se gabavam de tamanho luxo. O primeiro fusca foi trazido pelo dono da farmácia, que era um alquimista, um mágico curador. Com suas poções tratava a maioria da população, pois, o único médico das redondezas só era chamado em último caso. Ninguém tinha dinheiro para pagar uma consulta médica.

Os bebês nasciam pelas mãos das parteiras, que, geralmente, eram grandes e fortes para enfrentar qualquer parada, durante o dia ou a noite. Chuva, barro ou lamaçal, nada as detinham, enfrentavam qualquer perigo, para socorrer uma mãe sofrida. E, também aceitavam qualquer coisa em forma de pagamento, desde animais, ovos, frutas, verduras e outras quinquilharias quaisquer.

Nas festas cívicas todos participavam, ficavam nas ruas aplaudindo ou desfilando na avenida. No carnaval, os homens vestidos com a carcaça de bois avançavam em direção aos seus amigos e até aos inimigos, pois, estavam camuflados. A ninguém era permitido saber quem estava dentro daquele corpo de sacos de estopa pintados. As crianças agarravam nas saias de suas mães, para se protegerem das investidas dos bois malandros, que assustavam até os adultos.

Uma vez por ano, havia um baile, que movimentava todas as pequenas cidades da região; o baile das debutantes. As meninas mais bonitas e de famílias com certo poder aquisitivo, eram convidadas a serem apresentadas à sociedade em uma grande festa de gala. Todas deveriam ter quinze anos, feitos ou a fazer naquele ano, antes do baile.

 A primeira dama da cidade tomava conta de tudo, era ela quem dava a última palavra para todas as questões referentes ao evento. Havia um clima de camaradagem e respeito entre as pessoas, todos se ajudavam dentro do possível. A dor de um era a dor de todos, os vizinhos e parentes estavam sempre prontos para qualquer emergência.

Nesse clima de camaradagem era muito difícil alguém roubar ou matar outra pessoa. Então, as mulheres se juntavam em frente aos portões e as crianças brincavam na rua até tarde da noite. As mães, sentadas em troncos de árvores feitos bancos, trocavam receitas, faziam fofocas veladas ou confidências íntimas, enquanto as crianças corriam na rua e os pais batiam papo no bar.

Já os adolescentes jogavam bola no campinho improvisado na rua de chão batido de terra e as meninas cismavam ao ver a lua brilhando no céu. Muitos iam dormir com os pés sujos de terra de tanto cansaço, apenas desmaiavam nas camas.

É nesse contexto que Maria Alcina e suas vizinhas amigas sentavam-se em um barranco, em frente a uma das casas e ficavam sonhando acordadas. Olhavam a lua enorme, que sempre aparecia em noites de verão e chegavam a ver são Jorge e o dragão. Elas juravam que a lua era a casa do santo milagreiro. Era uma lua feita de cristal, que reluzia iluminando a noite escura e fazendo as meninas sonharem.
 Um texto de Eva Ibrahim

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.