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quarta-feira, 25 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL"- XUXA- "...VAMOS COM VOCÊ, NÓS SOMOS INVENCÍVEIS, PODE CRER. O SONHO ESTÁ NO AR. O AMOR ME FAZ CANTAR. LUA DE CRISTAL, QUE ME FAZ SONHAR..." MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS


DE OLHOS NA LUA

CAPÍTULO QUATRO 
          Maria Alcina e as outras meninas adolescentes, também foram atingidas pela história do lobisomem. Quando a lua aparecia grande e brilhante, elas ficavam com medo e temiam que aparecesse um lobisomem, então, não saiam de suas casas. Fechavam as portas, janelas e mantinham um terço pendurado na guarda de cada cama, para afastar o coisa ruim. E, debaixo das cobertas rezavam ao anjo da guarda, pedindo proteção.

            As histórias do jagunço Raimundo correram as redondezas e mudou o hábito das pessoas simples do lugarejo. Era um povo crédulo e temente a Deus, mas lá no fundo, eram muito supersticiosos.

          Logo chegou a luz elétrica naquela região e, em seguida a televisão em algumas casas. Assim, a solidariedade e a amizade juntavam os vizinhos para assistir ao cinema em casa; aquela novidade encantava a todos. Havia muito menos crianças nas ruas, ficavam mais tempo dentro das casas.

         Tempos de medos e muitos sonhos; havia um romantismo herdado dos anos cinquenta, que eram tidos como anos dourados. A década de sessenta foi de muitas mudanças políticas no país e na sociedade brasileira. Com a tomada do poder pelos militares em 1964, houve repressão e a censura a liberdade de expressão foi sentida por todos.

           O medo estava no olhar das pessoas. A resistência atuava na clandestinidade das grandes cidades e a repressão era cruel. Os professores se mantinham em silêncio sobre questões políticas, pois temiam represálias. As pessoas tidas como suspeitas eram retiradas de suas casas, presas e muitas vezes desapareciam. Todos viviam calados, pensavam antes de falar qualquer coisa; desconfiavam de qualquer pessoa conhecida ou não.

           Decorria o ano de 1967 e foi nessa época que apareceram as músicas de protesto. Surgiram os festivais de música popular brasileira, MPB, que ficaram famosos por seu valor musical, com participantes de grandes talentos. A televisão já fazia parte do dia a dia das pessoas; tornara-se indispensável.

       O povo se reunia para assistir os grandes eventos pela televisão nos bares e clubes. A censura estava presente nos meios de comunicação, então, passava somente o que fora aprovado previamente, tais como: Jogos de futebol, competições importantes, festivais e programas variados na televisão.

           As músicas, que foram vencedoras nos festivais, tornaram-se famosas e são lembradas até hoje, por sua qualidade e mensagens políticas veladas em suas letras. Fazem parte do acervo de uma época de repressão e intensa produção de músicas populares no país, com destaque para suas letras de impacto político. O sucesso se repetiu no ano seguinte, mas decaiu no posterior.

              E, para fechar a década, em 1969 todos assistiram boquiabertos a descida do primeiro homem na lua. As meninas olhavam atentas para ver se o astronauta americano se encontraria com São Jorge. Esperavam ver o santo empunhando a lança montado em seu cavalo branco, aguardando o dragão surgir para abatê-lo.

           Elas temiam que o dragão avançasse no astronauta e São Jorge ficasse indeciso diante daquela roupa estranha, que para ele seria muito esquisita. Mas, quando viram o astronauta planando suavemente na lua, elas tiveram uma grande decepção e a lua perdeu parte de seu encanto. Assim, uma pergunta ficou no ar:

           - Será que o santo e o dragão ficaram com medo do astronauta, por isso não apareceram? Mas não importa, o sonho não acabou, a lua continua lá, esplêndida como sempre. Disse Maria Alcina em voz alta com tom de desabafo.

             Nesse contexto repressivo, precisava haver um meio de promover a alegria como válvula de escape. Era tempo dos grandes bailes com orquestras ao vivo e dos bailinhos nas garagens e salas das casas dos jovens adolescentes. Surgiu, nessa época, o movimento da Jovem Guarda, que embalou a juventude daquele final de década.

          Aconteceu em um bailinho na casa da Sandra, foi onde a Maria Alcina conheceu o Frederico. Foi paixão à primeira vista; sentiram uma atração instantânea. Trocaram olhares e promessas veladas, depois dançaram de rosto colado durante uma tarde inteira. Em seguida, saíram cada um com um amigo e foram para suas casas. Era muito cedo para se mostrarem em público.

         Com a chegada do primeiro amor, Fred se tornou o centro da vida da menina. Maria Alcina estava com dezesseis anos e tinha muitos sonhos para realizar. Queria conhecer seu príncipe encantado e viver um grande amor. Era tempo de sonhar de mãos dadas a luz do luar.

         Desde pequena estava sendo preparada para o casamento. As meninas aprendiam com suas mães como se comportar depois de casadas, cuidar da casa e do marido.
Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 18 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL" - XUXA - "...ME DAR TODA CORAGEM QUE PUDER, QUE NÃO ME FALTE FORÇAS PRA LUTAR. VAMOS COM VOCÊ, NÓS SOMOS INVENCÍVEIS, PODE CRER. TODOS SOMOS UM, E JUNTOS NÃO EXISTE MAL NENHUM..." MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS

O LOBISOMEM

CAPÍTULO TRÊS
             Com a plateia acomodada e quieta para ouvir a história do lobisomem, Raimundo limpou a garganta com um forte pigarro seguido de uma cusparada e, depois começou falando:

            - Em uma noite de quinta para sexta feira da paixão de Cristo, dois pescadores ficaram até tarde na beira do rio. Pretendiam obter alguns peixes para o almoço do dia seguinte. Era pecado comer carnes, podiam ser consumidos apenas peixes.

         Com a luz forte da lua cheia iluminando o rio, que mais parecia um grande espelho, os dois amigos se concentraram na pesca. Fazia horas que tentavam fisgar alguns lambaris e nada conseguiam. Não poderiam desistir, pois tinham prometido às suas esposas levar mistura para o almoço.

          O tempo passou e eles não perceberam, mas ao dar meia noite, eles ouviram um estrondo estarrecedor e saíram correndo de medo. Ficaram escondidos atrás do terreiro onde ficava o barraco de Tião Bento. Havia mato alto e eles adentraram em meio a algumas moitas de cipreste.

           Com a respiração presa e morrendo de medo, viram quando um enorme cachorro, mais parecido com um lobo, saiu dos fundos do casebre, espantando as galinhas. Ali era o galinheiro e o animal enraivecido olhava para trás, arreganhando os dentes. Ele tinha os olhos vermelhos como sangue e espumava pela boca.

           Os dois homens ficaram paralisados temendo pela própria vida, escondidos atrás das moitas. Eles não podiam sair, pois, o bicho corria ao redor do barraco, ia até o rio e voltava enraivecido. De vez em quando, soltava uns sons, que mais pareciam urros de raiva.

          A noite foi longa e os dois pescadores não fecharam os olhos. Quando estava para o Sol nascer, o animal enfurecido adentrou ao galinheiro e, com um urro ensurdecedor voltou a sua forma primitiva de ser humano.

            Tião Bento, um homem simples, todo sujo de fezes e penas de galinhas, saiu dali mancando e foi tomar banho no rio. Então, os dois pescadores puderam escapar das moitas e voltar para suas casas. Chegaram de mãos vazias, mas juraram por todos os santos, que nunca mais sairiam de casa nas noites de sextas-feiras e muito menos nas sextas-feiras de lua cheia.

- Por hoje chega, vão dormir e amanhã continuaremos, disse o jagunço com um olhar de satisfação. Ele tinha prazer em provocar medo nas pessoas, principalmente nas crianças.

As pessoas trataram de se levantar e as crianças se agarraram a elas. Depois seguiram para suas casas, tremendo de medo. Ninguém queria dormir no escuro e as lamparinas arderam a noite toda.

Depois dessa história houve mudança na educação das crianças.  As mães se apegaram ao temor dos filhos e quando desobedeciam, elas diziam que iriam chamar o lobisomem; imediatamente todas elas se aquietavam. Era uma maneira grotesca de manter a ordem entre os pequenos.
Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 11 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL" - XUXA - "...TUDO QUE EU FIZER, EU VOU TENTAR MELHOR DO QUE EU JÁ FIZ. ESTEJA O MEU DESTINO ONDE ESTIVER, EU VOU BUSCAR A SORTE E SER FELIZ. TUDO O QUE EU QUISER, O CARA LÁ DE CIMA VAI ME DAR..." MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS



                    HISTÓRIAS DE ARREPIAR

CAPÍTULO DOIS

        Nessa época, havia muitas histórias fantasiosas, que corriam boca a boca, influência dos contos de fadas dos irmãos Grimm. As casas ainda não tinham televisão, nem as pessoas possuíam celular, então, conversava-se muito mais olhando nos olhos do interlocutor. Em sua maioria eram histórias macabras, criadas pela imaginação dos camponeses ou quem sabe, algumas histórias verdadeiras, que deixavam as crianças com muito medo. Ainda persiste a dúvida sobre a veracidade de certas histórias, que compõem o acervo do senso comum.

 O carnaval havia terminado e a quaresma começara na quarta-feira de cinzas. Era tempo de resguardo e silêncio em respeito ao período reservado à penitencia. Observava-se o jejum e a abstinência de carne as quartas e sextas-feiras.

 Era proibido ouvir músicas ou dançar, todos se recolhiam logo após o escurecer; quarenta dias de respeito e reflexão às coisas da religião e principalmente a Deus. Quem se recusasse a obedecer às recomendações da Igreja e desrespeitar as orientações do padre, corria o risco de ser excomungado.

      Certo dia, chegou de viagem com a jardineira, o tio de Maria Alcina; o jagunço Raimundo. A jardineira era um precursor do ônibus, que era o meio de transporte para as outras pequenas cidades do interior paulista. Fazia tempo que não se tinha notícias da família, que ficara em Alagoas e agora chegava o tio com fama de valentão.

                 Ele era calado e bastante desconfiado, mas, um dia sentou-se no tronco da árvore em frente à casa e chamou as crianças, que brincavam na rua.

          – Vou contar para vocês histórias da minha terra, pois conheci Lampião, até andei um tempo acompanhando o bando dele.

          O nome de Lampião surtia efeito na mesma hora, o jagunço era o terror do sertão e Raimundo sabia disso.

         Em seguida, juntaram-se ao seu redor uma porção de crianças das redondezas e alguns adultos, que estavam por ali. Queriam ouvir suas histórias sobre o rei do cangaço, o Lampião, temido por todos. Raimundo contou tantas atrocidades cometidas pelo bando de jagunços e outras coisas fantasiosas envolvendo fatos macabros de terror. As crianças ficaram boquiabertas e morrendo de medo.

          Na noite seguinte, ele começou dizendo que iria contar uma história sobre um lobisomem e as crianças se juntaram novamente, pareciam hipnotizadas, para ouvir os relatos sobre um homem, que virava lobisomem. O fato acontecia as sextas-feiras de lua cheia, quando o relógio batia meia-noite. E, especialmente um caso que aconteceu em uma noite de lua cheia numa sexta-feira santa.

           Todos se espremeram, ali vinha outra história de arrepiar, ainda mais que a sexta-feira da paixão se aproximava. A plateia era cada vez maior, juntaram-se as mulheres e os vizinhos também.

          Ele sabia como prender a atenção das crianças e adultos; todos ficavam embevecidos ao ouvir o jagunço contar fatos de sua terra. Então, ele começou dizendo que perto do rio, lá no sertão nordestino, morava um homem temido por todos na região.

             Chamava-se Tião Bento e era manco de uma perna. Diziam que tinha sido mordido por uma cobra cascavel, que o deixara vivo, mas com um grande aleijão em forma de ferida permanente e, que por essa razão ele tinha conluio com o demonio. Ninguém antes sobrevivera a uma picada de cobra cascavel naquelas redondezas. A história que envolvia o Tião Bento era de arrepiar e as crianças tremiam de medo, mas não arredavam pé do lugar.

           Acomodaram-se de qualquer jeito, sentadas no chão ou em pé mesmo. A expectativa era grande, pois o assunto era interessante e assustador.

Um texto de Eva Ibrahim


quarta-feira, 4 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL"- XUXA - "TUDO PODE SER, SE QUISER SERÁ. O SONHO SEMPRE VEM PRA QUEM SONHAR. TUDO PODE SER, SÓ BASTA ACREDITAR. TUDO QUE TIVER QUE SER SERÁ..." COMPOSITORES: MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS.


 LUA QUE ME FAZ SONHAR

A LUZ DO LUAR

CAPÍTULO UM
As meninas não se misturavam com os meninos, era feio ser moleca naqueles idos de um mil novecentos e sessenta e poucos. Ainda havia ética e moral vigente nas famílias brasileiras. Embora hoje em desuso, os filhos obedeciam aos pais, que outrora eram tidos como sábios e detinham o poder de resolver todas as questões, até as mais difíceis e arrasadoras. Os adultos e as pessoas mais idosas, não tinham diploma universitário, mas conseguiam resolver tudo; eram formadas na escola da vida.

As meninas se vestiam de meninas e os meninos jogavam bola. Enquanto elas sonhavam com um príncipe encantado, eles sonhavam com os super-heróis das revistas em quadrinhos.  Frequentavam as missas aos domingos e temiam o coisa ruim, tanto que se recusavam em dizer seu nome.

 Telefone era coisa rara e quem tinha era poderoso e invejado pelos cidadãos comuns. Somente o médico, o farmacêutico ou o prefeito que se gabavam de tamanho luxo. O primeiro fusca foi trazido pelo dono da farmácia, que era um alquimista, um mágico curador. Com suas poções tratava a maioria da população, pois, o único médico das redondezas só era chamado em último caso. Ninguém tinha dinheiro para pagar uma consulta médica.

Os bebês nasciam pelas mãos das parteiras, que, geralmente, eram grandes e fortes para enfrentar qualquer parada, durante o dia ou a noite. Chuva, barro ou lamaçal, nada as detinham, enfrentavam qualquer perigo, para socorrer uma mãe sofrida. E, também aceitavam qualquer coisa em forma de pagamento, desde animais, ovos, frutas, verduras e outras quinquilharias quaisquer.

Nas festas cívicas todos participavam, ficavam nas ruas aplaudindo ou desfilando na avenida. No carnaval, os homens vestidos com a carcaça de bois avançavam em direção aos seus amigos e até aos inimigos, pois, estavam camuflados. A ninguém era permitido saber quem estava dentro daquele corpo de sacos de estopa pintados. As crianças agarravam nas saias de suas mães, para se protegerem das investidas dos bois malandros, que assustavam até os adultos.

Uma vez por ano, havia um baile, que movimentava todas as pequenas cidades da região; o baile das debutantes. As meninas mais bonitas e de famílias com certo poder aquisitivo, eram convidadas a serem apresentadas à sociedade em uma grande festa de gala. Todas deveriam ter quinze anos, feitos ou a fazer naquele ano, antes do baile.

 A primeira dama da cidade tomava conta de tudo, era ela quem dava a última palavra para todas as questões referentes ao evento. Havia um clima de camaradagem e respeito entre as pessoas, todos se ajudavam dentro do possível. A dor de um era a dor de todos, os vizinhos e parentes estavam sempre prontos para qualquer emergência.

Nesse clima de camaradagem era muito difícil alguém roubar ou matar outra pessoa. Então, as mulheres se juntavam em frente aos portões e as crianças brincavam na rua até tarde da noite. As mães, sentadas em troncos de árvores feitos bancos, trocavam receitas, faziam fofocas veladas ou confidências íntimas, enquanto as crianças corriam na rua e os pais batiam papo no bar.

Já os adolescentes jogavam bola no campinho improvisado na rua de chão batido de terra e as meninas cismavam ao ver a lua brilhando no céu. Muitos iam dormir com os pés sujos de terra de tanto cansaço, apenas desmaiavam nas camas.

É nesse contexto que Maria Alcina e suas vizinhas amigas sentavam-se em um barranco, em frente a uma das casas e ficavam sonhando acordadas. Olhavam a lua enorme, que sempre aparecia em noites de verão e chegavam a ver são Jorge e o dragão. Elas juravam que a lua era a casa do santo milagreiro. Era uma lua feita de cristal, que reluzia iluminando a noite escura e fazendo as meninas sonharem.
 Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 28 de março de 2018

"DEUS MUDOU O TEU CAMINHO ATÉ JUNTARES COM O MEU E GUARDOU A TUA VIDA SEPARANDO-A PARA MIM. PARA ONDE FORES, IREI; ONDE TU REPOUSARES, REPOUSAREI. TEU DEUS SERÁ O MEU DEUS. TEU CAMINHO O MEU SERÁ". ( RUTE 1: 16- 17) BIBLIA SAGRADA.

VOCÊ É MEU AMADO

CAPÍTULO NOVE
          O ano começou com muita chuva, as pessoas permaneciam muito tempo dentro de casa. Havia um clima de nostalgia no ar, precisavam do Sol para dissipar aquela nuvem cinzenta, que teimava em permanecer cobrindo os céus e deprimindo as pessoas.

           Serena estava com sintomas de depressão, andava chorando pelos cantos da casa. A mãe agradeceu a Deus quando chegou o dia da filha voltar ao trabalho. O retorno fez bem a ela, pois, rever os colegas de trabalho lhe devolvera o ânimo, para aguardar o retorno de Vitor.

          Cristal ficava com a avó; crescia firme e forte. Tornara-se a alegria da casa, uma criança risonha e calma; adormecia cedo e não dava trabalho. Mas, as noites de Serena eram de muita solidão, faltava o seu amor para compartilhar os momentos felizes com a filha.

Vitor era constante em suas mensagens, queria muito estar presente, mas teria que esperar o desligamento de toda a tropa, que servia no Haiti. E, quando voltasse iria se casar com a mãe de sua filha e os três viveriam felizes para sempre; era o que mais desejava.

Serena ansiava por esse dia, queria ter uma vida em família de verdade com pai, mãe e filha juntos. Ela se preparava diariamente para receber seu amor. Comprara enxoval para montar sua casa e fazia planos para viver com seu marido.

Os meses corriam rápido e nada acontecia. Vítor queria voltar e ficar em seu país com sua mulher e filha juntos para sempre. Ele temia vir apenas na folga e não querer voltar mais, porque se tornaria um desertor. Então, evitava pedir folgas para visitar a família, sonhava retornar definitivamente ao seu país.

Em uma apresentação da tropa, por ocasião das comemorações do dia do trabalho, foi lida uma nota oficial. No comunicado as autoridades diziam, que aquela tropa voltaria ao Brasil no começo do mês de setembro. Os soldados se entreolharam e alguns deixaram lágrimas rolarem pelo rosto, sem que exprimissem qualquer movimento visível.

 Permaneceram em sentido, mas com o coração dando pulos de alegria. A maioria deles estavam exaustos de tudo aquilo; queriam, desesperadamente, voltar para casa.

Vítor mandou uma mensagem para Serena contando a novidade e ela gritou de alegria. Estava muito feliz e começaria os preparativos para o casamento. Faltavam quatro meses, mas agora tinham uma data para aguardar e poderiam fazer planos. Com a esperança de um retorno próximo, Vitor estava animado para rever Serena e conhecer sua filha.

O dia da volta ao lar fora fixada no mural para ciência de todos os envolvidos. Dia seis de setembro eles chegariam para se unir as suas famílias. Cristal estaria com dez meses de idade quando seu pai chegasse. A menina, com apenas seis meses, já conhecia as pessoas, sorria, engatinhava; era uma criança saudável e bonita, que faria a alegria de seu pai.

Serena não se aguentava de felicidade, queria muito rever seu amor. A chegada do avião estava prevista para as doze horas do dia seis de setembro no aeroporto de Brasília, no mesmo local onde embarcaram para a missão de paz. O local de desembarque estava cheio de gente; ali havia parentes amigos e conhecidos dos soldados Boinas Azuis.

Quando o avião taxiou na pista, Serena pensou que iria enfartar; seu coração disparou e ela precisou dar a filha para sua mãe segurar. O avião da força aérea brasileira se aproximou lentamente da área restrita e, depois de algum tempo foi colocada a escada para os integrantes da missão de paz descerem. Todos chegavam ao topo da escada e davam uma paradinha para respirar o ar puro de seu país. Depois, desciam ansiosos com a mochila nas costas, olhando atentamente para reencontrar os seus familiares.

Serena, com a Cristal no colo, parecia desesperada com o pescoço esticado, para rever seu amor. Os soldados estavam mais morenos, pareciam queimados de Sol. Passou um, dez, quinze e nada de Vítor; então, Serena queria chorar, havia um nó em sua garganta. Finalmente, lá no meio ela vislumbrou a figura inconfundível de seu amor.

Vitor se aproximou e duas lágrimas rolaram de seu rosto, em seguida, abraçou as duas mulheres em um único abraço. Depois pegou a filha no colo dando a mochila para Serena, que olhava extasiada para a situação tão desejada. Ela se recostou em seu ombro e lhe disse:

 - Você é meu amado.

Trocaram beijos e sorrisos, depois, Vitor aproximou-se dos pais da moça, cumprimentando-os e agradecendo por terem cuidado das suas preciosidades. Todos entraram no automóvel e seguiram para uma nova vida de muito amor. Finalmente a família estava completa: pai, mãe e filha. 
E, uma vida feliz os esperava.
 Um texto de Eva Ibrahim




quarta-feira, 21 de março de 2018

"VIDA CIGANA"- "SOU NÚVEM NOVA QUE VEM PRA MOLHAR ESSA NOIVA QUE É VOCÊ. PRA MIM VOCÊ É LINDA, A DONA DO MEU CORAÇÃO, QUE BATE TANTO QUANDO TE VÊ. È A VERDADE QUE ME FAZ VIVER." RAÇA NEGRA - COMPOSITOR: GERALDO ESPINDOLA



MOMENTOS DE LUZ

CAPÍTULO OITO
         O automóvel adentrou ao pátio da emergência e logo surgiu um enfermeiro com uma cadeira de rodas, para acolher a gestante. Serena, acompanhada de sua mãe, estava nervosa diante da situação, que era esperada e temida ao mesmo tempo.

          Ela era uma moça esclarecida, que se informara sobre o trabalho de parto e os procedimentos que antecediam ao mesmo. No entanto, a vivência se apresentava diferente da literatura ou conselhos das comadres.

             Era seu corpo e a vida de sua filha que contavam naquele momento. Avivado os temores acalentados durante os nove meses de gestação, o parto parecia um monstro, que a queria destruir. A gestante caminhava como se fosse para um sacrifício.

            No hospital foi acolhida com presteza e atenção pela enfermeira, que a conduziu ao consultório médico. Depois de examinada foi encaminhada ao Centro Obstétrico, onde esperaria a evolução do trabalho de parto. As contrações começaram devagar e a futura mamãe sentiu-se aliviada e comentou:

             - São dores perfeitamente suportáveis, e olhando para sua mãe sorriu.

             A mãe ficou apreensiva, sabia que era somente o começo do trabalho de parto. Ela sentia leves dores nas costas, que desciam até a púbis, enquanto a barriga endurecia. À medida que as horas passavam, as dores aumentavam e a barriga ficava dura por mais tempo.

             As onze horas, Serena já não aguentava mais de tantas contrações e começou a se desesperar. Queria que Vitor estivesse ali para segurar suas mãos; já não suportava mais e começou a gritar. A enfermeira saiu rapidamente procurando o médico, que precisava acalmar a parturiente, que estava assustando as demais pacientes.

              O médico, então, a encaminhou para a sala de parto, onde recebeu analgesia. Com a dor amenizada, Serena respirou fundo, queria que sua filha nascesse o mais rápido possível. Sua mãe estava ao lado de sua cabeceira, acalmando-a e esperando o momento de sua neta nascer.

              Estava tudo preparado e a criança chorou depois de uma longa contração. Cristal veio à luz ao meio dia e Serena viu seu rostinho vermelho e inchado, quando a enfermeira aproximou a recém-nascida dela.

             Emocionada, a nova mamãe não resistiu e deixou cair duas lágrimas de amor por sua filha. Em seguida, Cristal foi colocada sobre seu peito, conhecendo pela primeira vez o aconchego do calor materno fora do útero.

Enquanto sentia aquele corpinho junto ao seu colo, Serena pensava em seu amor, que fazia tanto tempo que não via. A saudade doeu naquele momento de luz e amor familiar. Vitor era seu amor, pai de Cristal e nada poderia suprir sua ausência.

Muito longe dali, Vitor orava pelas duas mulheres, a mãe e a filha. Pedia a Deus proteção para ambas, que eram a sua família. Desejava vê-las o mais rápido possível, porém, nada poderia fazer quanto a isso; tinha uma missão a cumprir.

 Ele recebeu fotos da filha e da mãe na sala de parto, então, chorou feito criança. O isolamento estava pesado, mas ele tinha um compromisso com o seu país e iria até o fim.

                Havia notícias de que nos primeiros meses do novo ano, os Boinas Azuis voltariam para casa. No entanto, nada estava certo. Então, ele se contentava em ver sua filha crescendo através de fotografias e mensagens, que Serena mandava diariamente.

                O Natal chegou e Cristal estava com quase um mês de idade. Uma criança bonita de cabelos pretos, parecida com o pai. Vitor era moreno claro de cabelos escuros, enquanto Serena tinha os cabelos loiros. Ele ficava muito orgulhoso quando diziam que a menina se parecia com ele.

                Vitor conseguiu falar com Serena pelo Skype na véspera do Natal e pode ver sua filha pela primeira vez. Ficou feliz em saber que havia duas mulheres aguardando sua volta; queria muito estar com elas. O novo ano se aproximava e novas esperanças surgiam para todos.
 Um texto de Eva Ibrahim

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.