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quarta-feira, 18 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL" - XUXA - "...ME DAR TODA CORAGEM QUE PUDER, QUE NÃO ME FALTE FORÇAS PRA LUTAR. VAMOS COM VOCÊ, NÓS SOMOS INVENCÍVEIS, PODE CRER. TODOS SOMOS UM, E JUNTOS NÃO EXISTE MAL NENHUM..." MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS

O LOBISOMEM

CAPÍTULO TRÊS
             Com a plateia acomodada e quieta para ouvir a história do lobisomem, Raimundo limpou a garganta com um forte pigarro seguido de uma cusparada e, depois começou falando:

            - Em uma noite de quinta para sexta feira da paixão de Cristo, dois pescadores ficaram até tarde na beira do rio. Pretendiam obter alguns peixes para o almoço do dia seguinte. Era pecado comer carnes, podiam ser consumidos apenas peixes.

         Com a luz forte da lua cheia iluminando o rio, que mais parecia um grande espelho, os dois amigos se concentraram na pesca. Fazia horas que tentavam fisgar alguns lambaris e nada conseguiam. Não poderiam desistir, pois tinham prometido às suas esposas levar mistura para o almoço.

          O tempo passou e eles não perceberam, mas ao dar meia noite, eles ouviram um estrondo estarrecedor e saíram correndo de medo. Ficaram escondidos atrás do terreiro onde ficava o barraco de Tião Bento. Havia mato alto e eles adentraram em meio a algumas moitas de cipreste.

           Com a respiração presa e morrendo de medo, viram quando um enorme cachorro, mais parecido com um lobo, saiu dos fundos do casebre, espantando as galinhas. Ali era o galinheiro e o animal enraivecido olhava para trás, arreganhando os dentes. Ele tinha os olhos vermelhos como sangue e espumava pela boca.

           Os dois homens ficaram paralisados temendo pela própria vida, escondidos atrás das moitas. Eles não podiam sair, pois, o bicho corria ao redor do barraco, ia até o rio e voltava enraivecido. De vez em quando, soltava uns sons, que mais pareciam urros de raiva.

          A noite foi longa e os dois pescadores não fecharam os olhos. Quando estava para o Sol nascer, o animal enfurecido adentrou ao galinheiro e, com um urro ensurdecedor voltou a sua forma primitiva de ser humano.

            Tião Bento, um homem simples, todo sujo de fezes e penas de galinhas, saiu dali mancando e foi tomar banho no rio. Então, os dois pescadores puderam escapar das moitas e voltar para suas casas. Chegaram de mãos vazias, mas juraram por todos os santos, que nunca mais sairiam de casa nas noites de sextas-feiras e muito menos nas sextas-feiras de lua cheia.

- Por hoje chega, vão dormir e amanhã continuaremos, disse o jagunço com um olhar de satisfação. Ele tinha prazer em provocar medo nas pessoas, principalmente nas crianças.

As pessoas trataram de se levantar e as crianças se agarraram a elas. Depois seguiram para suas casas, tremendo de medo. Ninguém queria dormir no escuro e as lamparinas arderam a noite toda.

Depois dessa história houve mudança na educação das crianças.  As mães se apegaram ao temor dos filhos e quando desobedeciam, elas diziam que iriam chamar o lobisomem; imediatamente todas elas se aquietavam. Era uma maneira grotesca de manter a ordem entre os pequenos.
Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 11 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL" - XUXA - "...TUDO QUE EU FIZER, EU VOU TENTAR MELHOR DO QUE EU JÁ FIZ. ESTEJA O MEU DESTINO ONDE ESTIVER, EU VOU BUSCAR A SORTE E SER FELIZ. TUDO O QUE EU QUISER, O CARA LÁ DE CIMA VAI ME DAR..." MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS



                    HISTÓRIAS DE ARREPIAR

CAPÍTULO DOIS

        Nessa época, havia muitas histórias fantasiosas, que corriam boca a boca, influência dos contos de fadas dos irmãos Grimm. As casas ainda não tinham televisão, nem as pessoas possuíam celular, então, conversava-se muito mais olhando nos olhos do interlocutor. Em sua maioria eram histórias macabras, criadas pela imaginação dos camponeses ou quem sabe, algumas histórias verdadeiras, que deixavam as crianças com muito medo. Ainda persiste a dúvida sobre a veracidade de certas histórias, que compõem o acervo do senso comum.

 O carnaval havia terminado e a quaresma começara na quarta-feira de cinzas. Era tempo de resguardo e silêncio em respeito ao período reservado à penitencia. Observava-se o jejum e a abstinência de carne as quartas e sextas-feiras.

 Era proibido ouvir músicas ou dançar, todos se recolhiam logo após o escurecer; quarenta dias de respeito e reflexão às coisas da religião e principalmente a Deus. Quem se recusasse a obedecer às recomendações da Igreja e desrespeitar as orientações do padre, corria o risco de ser excomungado.

      Certo dia, chegou de viagem com a jardineira, o tio de Maria Alcina; o jagunço Raimundo. A jardineira era um precursor do ônibus, que era o meio de transporte para as outras pequenas cidades do interior paulista. Fazia tempo que não se tinha notícias da família, que ficara em Alagoas e agora chegava o tio com fama de valentão.

                 Ele era calado e bastante desconfiado, mas, um dia sentou-se no tronco da árvore em frente à casa e chamou as crianças, que brincavam na rua.

          – Vou contar para vocês histórias da minha terra, pois conheci Lampião, até andei um tempo acompanhando o bando dele.

          O nome de Lampião surtia efeito na mesma hora, o jagunço era o terror do sertão e Raimundo sabia disso.

         Em seguida, juntaram-se ao seu redor uma porção de crianças das redondezas e alguns adultos, que estavam por ali. Queriam ouvir suas histórias sobre o rei do cangaço, o Lampião, temido por todos. Raimundo contou tantas atrocidades cometidas pelo bando de jagunços e outras coisas fantasiosas envolvendo fatos macabros de terror. As crianças ficaram boquiabertas e morrendo de medo.

          Na noite seguinte, ele começou dizendo que iria contar uma história sobre um lobisomem e as crianças se juntaram novamente, pareciam hipnotizadas, para ouvir os relatos sobre um homem, que virava lobisomem. O fato acontecia as sextas-feiras de lua cheia, quando o relógio batia meia-noite. E, especialmente um caso que aconteceu em uma noite de lua cheia numa sexta-feira santa.

           Todos se espremeram, ali vinha outra história de arrepiar, ainda mais que a sexta-feira da paixão se aproximava. A plateia era cada vez maior, juntaram-se as mulheres e os vizinhos também.

          Ele sabia como prender a atenção das crianças e adultos; todos ficavam embevecidos ao ouvir o jagunço contar fatos de sua terra. Então, ele começou dizendo que perto do rio, lá no sertão nordestino, morava um homem temido por todos na região.

             Chamava-se Tião Bento e era manco de uma perna. Diziam que tinha sido mordido por uma cobra cascavel, que o deixara vivo, mas com um grande aleijão em forma de ferida permanente e, que por essa razão ele tinha conluio com o demonio. Ninguém antes sobrevivera a uma picada de cobra cascavel naquelas redondezas. A história que envolvia o Tião Bento era de arrepiar e as crianças tremiam de medo, mas não arredavam pé do lugar.

           Acomodaram-se de qualquer jeito, sentadas no chão ou em pé mesmo. A expectativa era grande, pois o assunto era interessante e assustador.

Um texto de Eva Ibrahim


quarta-feira, 4 de abril de 2018

"LUA DE CRISTAL"- XUXA - "TUDO PODE SER, SE QUISER SERÁ. O SONHO SEMPRE VEM PRA QUEM SONHAR. TUDO PODE SER, SÓ BASTA ACREDITAR. TUDO QUE TIVER QUE SER SERÁ..." COMPOSITORES: MICHEL SULLIVAN E PAULO MASSADAS.


 LUA QUE ME FAZ SONHAR

A LUZ DO LUAR

CAPÍTULO UM
As meninas não se misturavam com os meninos, era feio ser moleca naqueles idos de um mil novecentos e sessenta e poucos. Ainda havia ética e moral vigente nas famílias brasileiras. Embora hoje em desuso, os filhos obedeciam aos pais, que outrora eram tidos como sábios e detinham o poder de resolver todas as questões, até as mais difíceis e arrasadoras. Os adultos e as pessoas mais idosas, não tinham diploma universitário, mas conseguiam resolver tudo; eram formadas na escola da vida.

As meninas se vestiam de meninas e os meninos jogavam bola. Enquanto elas sonhavam com um príncipe encantado, eles sonhavam com os super-heróis das revistas em quadrinhos.  Frequentavam as missas aos domingos e temiam o coisa ruim, tanto que se recusavam em dizer seu nome.

 Telefone era coisa rara e quem tinha era poderoso e invejado pelos cidadãos comuns. Somente o médico, o farmacêutico ou o prefeito que se gabavam de tamanho luxo. O primeiro fusca foi trazido pelo dono da farmácia, que era um alquimista, um mágico curador. Com suas poções tratava a maioria da população, pois, o único médico das redondezas só era chamado em último caso. Ninguém tinha dinheiro para pagar uma consulta médica.

Os bebês nasciam pelas mãos das parteiras, que, geralmente, eram grandes e fortes para enfrentar qualquer parada, durante o dia ou a noite. Chuva, barro ou lamaçal, nada as detinham, enfrentavam qualquer perigo, para socorrer uma mãe sofrida. E, também aceitavam qualquer coisa em forma de pagamento, desde animais, ovos, frutas, verduras e outras quinquilharias quaisquer.

Nas festas cívicas todos participavam, ficavam nas ruas aplaudindo ou desfilando na avenida. No carnaval, os homens vestidos com a carcaça de bois avançavam em direção aos seus amigos e até aos inimigos, pois, estavam camuflados. A ninguém era permitido saber quem estava dentro daquele corpo de sacos de estopa pintados. As crianças agarravam nas saias de suas mães, para se protegerem das investidas dos bois malandros, que assustavam até os adultos.

Uma vez por ano, havia um baile, que movimentava todas as pequenas cidades da região; o baile das debutantes. As meninas mais bonitas e de famílias com certo poder aquisitivo, eram convidadas a serem apresentadas à sociedade em uma grande festa de gala. Todas deveriam ter quinze anos, feitos ou a fazer naquele ano, antes do baile.

 A primeira dama da cidade tomava conta de tudo, era ela quem dava a última palavra para todas as questões referentes ao evento. Havia um clima de camaradagem e respeito entre as pessoas, todos se ajudavam dentro do possível. A dor de um era a dor de todos, os vizinhos e parentes estavam sempre prontos para qualquer emergência.

Nesse clima de camaradagem era muito difícil alguém roubar ou matar outra pessoa. Então, as mulheres se juntavam em frente aos portões e as crianças brincavam na rua até tarde da noite. As mães, sentadas em troncos de árvores feitos bancos, trocavam receitas, faziam fofocas veladas ou confidências íntimas, enquanto as crianças corriam na rua e os pais batiam papo no bar.

Já os adolescentes jogavam bola no campinho improvisado na rua de chão batido de terra e as meninas cismavam ao ver a lua brilhando no céu. Muitos iam dormir com os pés sujos de terra de tanto cansaço, apenas desmaiavam nas camas.

É nesse contexto que Maria Alcina e suas vizinhas amigas sentavam-se em um barranco, em frente a uma das casas e ficavam sonhando acordadas. Olhavam a lua enorme, que sempre aparecia em noites de verão e chegavam a ver são Jorge e o dragão. Elas juravam que a lua era a casa do santo milagreiro. Era uma lua feita de cristal, que reluzia iluminando a noite escura e fazendo as meninas sonharem.
 Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 28 de março de 2018

"DEUS MUDOU O TEU CAMINHO ATÉ JUNTARES COM O MEU E GUARDOU A TUA VIDA SEPARANDO-A PARA MIM. PARA ONDE FORES, IREI; ONDE TU REPOUSARES, REPOUSAREI. TEU DEUS SERÁ O MEU DEUS. TEU CAMINHO O MEU SERÁ". ( RUTE 1: 16- 17) BIBLIA SAGRADA.

VOCÊ É MEU AMADO

CAPÍTULO NOVE
          O ano começou com muita chuva, as pessoas permaneciam muito tempo dentro de casa. Havia um clima de nostalgia no ar, precisavam do Sol para dissipar aquela nuvem cinzenta, que teimava em permanecer cobrindo os céus e deprimindo as pessoas.

           Serena estava com sintomas de depressão, andava chorando pelos cantos da casa. A mãe agradeceu a Deus quando chegou o dia da filha voltar ao trabalho. O retorno fez bem a ela, pois, rever os colegas de trabalho lhe devolvera o ânimo, para aguardar o retorno de Vitor.

          Cristal ficava com a avó; crescia firme e forte. Tornara-se a alegria da casa, uma criança risonha e calma; adormecia cedo e não dava trabalho. Mas, as noites de Serena eram de muita solidão, faltava o seu amor para compartilhar os momentos felizes com a filha.

Vitor era constante em suas mensagens, queria muito estar presente, mas teria que esperar o desligamento de toda a tropa, que servia no Haiti. E, quando voltasse iria se casar com a mãe de sua filha e os três viveriam felizes para sempre; era o que mais desejava.

Serena ansiava por esse dia, queria ter uma vida em família de verdade com pai, mãe e filha juntos. Ela se preparava diariamente para receber seu amor. Comprara enxoval para montar sua casa e fazia planos para viver com seu marido.

Os meses corriam rápido e nada acontecia. Vítor queria voltar e ficar em seu país com sua mulher e filha juntos para sempre. Ele temia vir apenas na folga e não querer voltar mais, porque se tornaria um desertor. Então, evitava pedir folgas para visitar a família, sonhava retornar definitivamente ao seu país.

Em uma apresentação da tropa, por ocasião das comemorações do dia do trabalho, foi lida uma nota oficial. No comunicado as autoridades diziam, que aquela tropa voltaria ao Brasil no começo do mês de setembro. Os soldados se entreolharam e alguns deixaram lágrimas rolarem pelo rosto, sem que exprimissem qualquer movimento visível.

 Permaneceram em sentido, mas com o coração dando pulos de alegria. A maioria deles estavam exaustos de tudo aquilo; queriam, desesperadamente, voltar para casa.

Vítor mandou uma mensagem para Serena contando a novidade e ela gritou de alegria. Estava muito feliz e começaria os preparativos para o casamento. Faltavam quatro meses, mas agora tinham uma data para aguardar e poderiam fazer planos. Com a esperança de um retorno próximo, Vitor estava animado para rever Serena e conhecer sua filha.

O dia da volta ao lar fora fixada no mural para ciência de todos os envolvidos. Dia seis de setembro eles chegariam para se unir as suas famílias. Cristal estaria com dez meses de idade quando seu pai chegasse. A menina, com apenas seis meses, já conhecia as pessoas, sorria, engatinhava; era uma criança saudável e bonita, que faria a alegria de seu pai.

Serena não se aguentava de felicidade, queria muito rever seu amor. A chegada do avião estava prevista para as doze horas do dia seis de setembro no aeroporto de Brasília, no mesmo local onde embarcaram para a missão de paz. O local de desembarque estava cheio de gente; ali havia parentes amigos e conhecidos dos soldados Boinas Azuis.

Quando o avião taxiou na pista, Serena pensou que iria enfartar; seu coração disparou e ela precisou dar a filha para sua mãe segurar. O avião da força aérea brasileira se aproximou lentamente da área restrita e, depois de algum tempo foi colocada a escada para os integrantes da missão de paz descerem. Todos chegavam ao topo da escada e davam uma paradinha para respirar o ar puro de seu país. Depois, desciam ansiosos com a mochila nas costas, olhando atentamente para reencontrar os seus familiares.

Serena, com a Cristal no colo, parecia desesperada com o pescoço esticado, para rever seu amor. Os soldados estavam mais morenos, pareciam queimados de Sol. Passou um, dez, quinze e nada de Vítor; então, Serena queria chorar, havia um nó em sua garganta. Finalmente, lá no meio ela vislumbrou a figura inconfundível de seu amor.

Vitor se aproximou e duas lágrimas rolaram de seu rosto, em seguida, abraçou as duas mulheres em um único abraço. Depois pegou a filha no colo dando a mochila para Serena, que olhava extasiada para a situação tão desejada. Ela se recostou em seu ombro e lhe disse:

 - Você é meu amado.

Trocaram beijos e sorrisos, depois, Vitor aproximou-se dos pais da moça, cumprimentando-os e agradecendo por terem cuidado das suas preciosidades. Todos entraram no automóvel e seguiram para uma nova vida de muito amor. Finalmente a família estava completa: pai, mãe e filha. 
E, uma vida feliz os esperava.
 Um texto de Eva Ibrahim




quarta-feira, 21 de março de 2018

"VIDA CIGANA"- "SOU NÚVEM NOVA QUE VEM PRA MOLHAR ESSA NOIVA QUE É VOCÊ. PRA MIM VOCÊ É LINDA, A DONA DO MEU CORAÇÃO, QUE BATE TANTO QUANDO TE VÊ. È A VERDADE QUE ME FAZ VIVER." RAÇA NEGRA - COMPOSITOR: GERALDO ESPINDOLA



MOMENTOS DE LUZ

CAPÍTULO OITO
         O automóvel adentrou ao pátio da emergência e logo surgiu um enfermeiro com uma cadeira de rodas, para acolher a gestante. Serena, acompanhada de sua mãe, estava nervosa diante da situação, que era esperada e temida ao mesmo tempo.

          Ela era uma moça esclarecida, que se informara sobre o trabalho de parto e os procedimentos que antecediam ao mesmo. No entanto, a vivência se apresentava diferente da literatura ou conselhos das comadres.

             Era seu corpo e a vida de sua filha que contavam naquele momento. Avivado os temores acalentados durante os nove meses de gestação, o parto parecia um monstro, que a queria destruir. A gestante caminhava como se fosse para um sacrifício.

            No hospital foi acolhida com presteza e atenção pela enfermeira, que a conduziu ao consultório médico. Depois de examinada foi encaminhada ao Centro Obstétrico, onde esperaria a evolução do trabalho de parto. As contrações começaram devagar e a futura mamãe sentiu-se aliviada e comentou:

             - São dores perfeitamente suportáveis, e olhando para sua mãe sorriu.

             A mãe ficou apreensiva, sabia que era somente o começo do trabalho de parto. Ela sentia leves dores nas costas, que desciam até a púbis, enquanto a barriga endurecia. À medida que as horas passavam, as dores aumentavam e a barriga ficava dura por mais tempo.

             As onze horas, Serena já não aguentava mais de tantas contrações e começou a se desesperar. Queria que Vitor estivesse ali para segurar suas mãos; já não suportava mais e começou a gritar. A enfermeira saiu rapidamente procurando o médico, que precisava acalmar a parturiente, que estava assustando as demais pacientes.

              O médico, então, a encaminhou para a sala de parto, onde recebeu analgesia. Com a dor amenizada, Serena respirou fundo, queria que sua filha nascesse o mais rápido possível. Sua mãe estava ao lado de sua cabeceira, acalmando-a e esperando o momento de sua neta nascer.

              Estava tudo preparado e a criança chorou depois de uma longa contração. Cristal veio à luz ao meio dia e Serena viu seu rostinho vermelho e inchado, quando a enfermeira aproximou a recém-nascida dela.

             Emocionada, a nova mamãe não resistiu e deixou cair duas lágrimas de amor por sua filha. Em seguida, Cristal foi colocada sobre seu peito, conhecendo pela primeira vez o aconchego do calor materno fora do útero.

Enquanto sentia aquele corpinho junto ao seu colo, Serena pensava em seu amor, que fazia tanto tempo que não via. A saudade doeu naquele momento de luz e amor familiar. Vitor era seu amor, pai de Cristal e nada poderia suprir sua ausência.

Muito longe dali, Vitor orava pelas duas mulheres, a mãe e a filha. Pedia a Deus proteção para ambas, que eram a sua família. Desejava vê-las o mais rápido possível, porém, nada poderia fazer quanto a isso; tinha uma missão a cumprir.

 Ele recebeu fotos da filha e da mãe na sala de parto, então, chorou feito criança. O isolamento estava pesado, mas ele tinha um compromisso com o seu país e iria até o fim.

                Havia notícias de que nos primeiros meses do novo ano, os Boinas Azuis voltariam para casa. No entanto, nada estava certo. Então, ele se contentava em ver sua filha crescendo através de fotografias e mensagens, que Serena mandava diariamente.

                O Natal chegou e Cristal estava com quase um mês de idade. Uma criança bonita de cabelos pretos, parecida com o pai. Vitor era moreno claro de cabelos escuros, enquanto Serena tinha os cabelos loiros. Ele ficava muito orgulhoso quando diziam que a menina se parecia com ele.

                Vitor conseguiu falar com Serena pelo Skype na véspera do Natal e pode ver sua filha pela primeira vez. Ficou feliz em saber que havia duas mulheres aguardando sua volta; queria muito estar com elas. O novo ano se aproximava e novas esperanças surgiam para todos.
 Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 14 de março de 2018

"VIDA CIGANA"...LONGE DE VOCÊ, LONGE DO SEU CARINHO E DO SEU OLHAR, QUE ME ACOMPANHA JÁ TEM MUITO TEMPO. PENSO EM VOCÊ A CADA MOMENTO. SOU ÁGUA DE RIO QUE VAI PARA O MAR..." - "RAÇA NEGRA" COMPOSITOR: GERALDO ESPINDOLA.

INSPIRAÇÃO

CAPÍTULO SETE
      Os meses foram passando e Serena foi ganhando peso. Cada dia descobria uma emoção diferente, sentia-se plena como mulher. O pequeno ser crescia forte em seu ventre, modificando seu corpo e deixando-a mais e mais apaixonada pela criança. Ela não via a hora de pegar seu bebê nos braços.

         A gestante já estava com o enxoval da filha praticamente pronto. Ela e sua mãe trataram de comprar todas as coisas, que um recém-nascido poderia precisar. O berço e o carrinho foram presentes dos avós paternos.

         Vitor não se conformava em não poder participar da gestação da filha. Mas, foi a carreira que escolheu, então, nada tinha a reclamar. Além do que, amava o que fazia e não poderia imaginar como seria sua vida fora do exército.

       Serena mandava fotos para ele acompanhar o desenvolvimento da bebezinha. Vitor tinha um verdadeiro álbum de fotografias, que ficava olhando todas as noites. Eram fotos da barriga de Serena, que crescia volumosa a cada mês. Mesmo estando longe, formaram uma família, onde havia muito amor para ser usufruído juntos.

          Depois de muitas conversas e pesquisas chegaram a um acordo, a filha receberia o nome de Cristal. Uma pedra preciosa que surgira como um presente de Deus. Uma inspiração para a vida dos dois e a consolidação do amor, que sentiam um pelo outro.

          A gestação foi tranquila, um pré-natal impecável. Serena chegou a trinta e nove semanas, estava pesada, com os pés inchados e uma leve, mas persistente dor lombar. O médico dissera que o bebê estava pesando em seu ventre, por isso ela sentia dores nas costas.

Na quinta feira da primeira semana de dezembro, Serena não conseguiu dormir, pois passara a noite no banheiro, estava com diarreia. Ligou para o médico e ele disse que poderia ser um sinal de que seu corpo se preparava para o parto.  Disse também, que deveria se hidratar bastante e manter repouso; era hora de observar e manter a calma.

Serena já estava usufruindo da licença maternidade e com as malas prontas para seguir para o hospital, assim que começassem as contrações. Na sexta feira a noite, ela acordou toda molhada e sua cama estava com um cheiro diferente. Ficou assustada, então levantou-se e foi chamar sua mãe. Esta ao verificar o ocorrido  assustou-se e exclamou:

 - É a bolsa das águas que estourou, está na hora de irmos para o hospital.

Porém, a moça sentia-se suja com todo aquele líquido escorrendo por suas pernas e entrou embaixo do chuveiro, precisava tomar banho. No entanto, sua mãe ficou pedindo para ela sair, tinha medo que o bebê nascesse no banheiro. Ela queria proteger a filha, ainda mais que o pai da criança estava tão longe e nada poderia fazer.

             A futura mamãe com uma toalha no meio das pernas andava igual a um robô, a água continuava a escorrer por suas pernas. Sua mãe apanhou as malas e ela se encarregou da bolsa com os documentos. Antes de sair, olhou para o berço e com um suspiro desejou estar de volta com sua filha nos braços.

          O pai tirou o automóvel e estacionou em frente à casa para leva-las ao hospital. Mas já avisara, que ele ficaria do lado de fora do hospital, tinha pressão alta e não poderia se emocionar. Enquanto as duas mulheres tomavam assento, o pai olhou no relógio e exclamou:    
                 
          - São cinco horas da manhã, este será um longo dia. Espero que minha neta nasça logo, para podermos relaxar um pouco. Estavam muito tensos, era inevitável.
Um texto de Eva Ibrahim

MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.