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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

"NOITES TRAIÇOEIRAS" - GOSPEL/RELIGIOSO - "...E AINDA SE VIER NOITES TRAIÇOEIRAS, SE A CRUZ PESADA FOR, CRISTO ESTARÁ CONTIGO. O MUNDO PODE ATÉ FAZER VOCÊ CHORAR, MAS DEUS TE QUER SORRINDO..." PADRE MARCELO ROSSI

DEIXAR IR

CAPÍTULO DEZ
          O pastor acolheu o rapaz com um longo abraço, ele sabia o grande amor que unia o casal. Um casamento que ele celebrara com muito gosto. Cirilo Artur chorou no ombro do velho pastor, que estimava como a um segundo pai. Não conseguia falar, estava tomado pela emoção; precisava de colo.

          Abraçados, seguiram para a cozinha da casa pastoral; lá foi oferecido uma xícara de chá com biscoitos para Cirilo Artur, que nem se lembrava de comer. Depois do chá e um pouco mais calmo, conversaram sobre a passagem de Olívia.

         – Onde eu errei pastor, fiz tudo que pude para salvar minha mulher, e perdi a batalha. Deus não gosta de mim, por isso me quer triste e acabado. Disse o rapaz com os olhos marejados de lágrimas.

            – Não se revolte contra Deus, ele deve ter um propósito para você, por isso o deixou sozinho. Afirmou o velho homem, para consolar o irmão necessitado.

           Cirilo Artur simplesmente baixou sua cabeça e chorou.
             – Nunca irei blasfemar contra meu Deus e a minha igreja, me ajude pastor, estou perdido e sem rumo.

                 Os dois homens ficaram conversando, até que Cirilo Artur adormeceu sentado no sofá; não tinha ânimo para voltar para sua casa. Então, o pastor o deitou lentamente, depois jogou uma coberta sobre ele e foi deitar-se. Com olhar piedoso prometeu aos céus cuidar do rapaz. Seria o seu porto seguro e o ajudaria a vivenciar o seu luto, para atravessar a escuridão da solidão.

            Os primeiros dias foram os mais difíceis para Cirilo Artur; muito choro, muita mágoa e revolta também. Mas, uma coisa o fez sorrir em meio a tantas atribulações, precisava buscar a peruca de Olívia. Ela fora confeccionada com seus cabelos; era um pedaço dela que ficaria com ele.

                 Ele voltou com a caixa contendo o seu tesouro, uma peruca dos cabelos de Olívia. Aquilo foi um alento para suas angustias, conhecia aqueles cabelos sedosos, que tantas vezes acariciara.

            Cirilo Artur voltou ao trabalho que o distraia durante o dia, no entanto, as noites eram difíceis de suportar. O pastor, então, lhe propôs uma ocupação, ajuda-lo como seu assessor nos trabalhos da igreja. Teria que fazer um curso para tornar-se missionário.

           Sua missão seria dedicar-se aos muitos trabalhos do ministério e arrebanhar novas ovelhas. Começaria em suas férias e se gostasse teria que deixar o escritório para cumprir suas atividades em tempo integral. O velho pastor prosseguiu explicando o seu intento.

- O propósito do missionário é convidar as pessoas a se aproximarem da obra do evangelho. Servir a Deus incentivando e ajudando a população a conhecer a Bíblia, aumentando sua fé em Jesus Cristo. Aprender a expiar os seus pecados através do arrependimento e do batismo. E, quando receber o Espírito Santo, perseverar até o fim.

Cirilo Artur concordou, estava sem rumo e o convite lhe parecia uma maneira de fazer o que gostava, contribuindo para a aproximação das pessoas na igreja. Ficou três semanas no retiro se preparando para ajudar o pastor e quando voltou estava diferente, havia um brilho em seu olhar.

            Os seus companheiros e irmãos ficaram felizes em ver, que o rapaz se recuperava a olhos vistos. Depois do sermão, que Cirilo Artur assistira embevecido, já no pátio da igreja, o pastor aproximou-se e disse:

            - Vejo amor em seu olhar. Isso me deixa feliz filho.
 Cirilo Artur, imediatamente olhou para cima e lá havia uma estrela brilhando, destacando-se das demais.  

          Ele fez uma prece, com certeza era o seu amor, que o guardava lá de cima. Estas foram as últimas palavras de Olívia: “Vejo amor em seu olhar”.

         - Sim, agora vou deixar ir o meu amor, ficarei com as saudades e as lembranças, para seguir minha missão; a evangelização dos meus irmãos em Cristo. Serei um missionário simples, humilde e dedicado.

 Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

"NOITES TRAIÇOEIRAS" - GOSPEL/RELIGIOSO - "...SEJA QUAL FOR O SEU PROBLEMA, FALE COM DEUS. ELE VAI AJUDAR VOCÊ. APÓS A DOR VEM A ALEGRIA, POIS DEUS É AMOR E NÃO TE DEIXARÁ SOFRER..." PADRE MARCELO ROSSI

                    PÁSSARO FERIDO

CAPÍTULO NOVE 
         O viúvo, desfigurado, aproximou-se da defunta para despedir-se e constatou a frieza da morte. Ali estava um pobre corpo inchado, sofrido, endurecido e frio; em nada se parecia com aquela mulher quente e amável que fora sua amada. Olívia não estava ali, disso ele tinha certeza. 
               - Onde ela estaria?

          Olhou à sua volta e viu algumas pessoas sentadas velando o corpo, outras do lado de fora, que pareciam cochichar. Todas com um olhar estarrecido diante daquele fato triste, que é a morte de uma pessoa tão jovem.

           - Quem sou eu para querer descobrir o maior mistério do mundo? Para onde vamos? Pensou e caiu em si, só lhe restava chorar e pedir perdão ao Deus que ele amava.

           Se Olívia se foi, deve ter sido para alegrar o reino dos céus e ele teria que se conformar e nunca blasfemar. Respirou fundo e quando o cortejo seguiu até a cova, ele foi segurando na alça do caixão; acompanhou a esposa até sua última morada.  
              
          O pastor encomendou o corpo e Cirilo Artur se manteve impassível, para não desabar ali mesmo. Em seguida, todos os parentes e amigos jogaram flores das coroas sobre o caixão no fundo da cova. Entretanto, Cirilo Artur escolheu uma margarida, uma flor que Olívia gostava e jogou sobre o caixão; junto dela, jogou também o seu coração.

                 Depois, amparado por familiares, ele deixou o cemitério; sua alma estava vazia. Não tinha fome e nem sentimentos, apenas um grande vazio. Quis dormir em sua casa, apesar dos protestos de sua mãe. Cirilo Artur precisava ficar sozinho para chorar e aliviar a sua dor, que era da alma. Um sentimento de impotência, de perda irreparável, de angustia, de pena de si mesmo.

                 Deitado no sofá, chorou todas as lágrimas possíveis, até adormecer como um pássaro ferido de morte. Passou a noite ali, sem sonhos ou pesadelos, mergulhou na escuridão do sono reparador.  O Sol já estava alto quando ele acordou. Dormiu 18 horas, precisava recuperar-se um pouco, para manter-se vivo, depois de tantas noites mal dormidas.

                 Assim, a vida continua e ele acordou com a claridade que entrava pelo vitro da sala. Sentou-se no sofá e voltando à realidade ele viu que estava sujo de suor e de tantas dores sofridas; sentiu nojo de si mesmo. Precisava tomar banho, fazer a barba e aprender a conviver com sua dor. Era um homem de fibra e como tal agiria dali para a frente.

                 Vestiu uma camisa preta, que é o que mais combinava com seu estado de espírito e depois fez um café, que tomou como se fosse um remédio para mantê-lo vivo. Cirilo Artur tornou-se um pássaro ferido, que tinha duas opções; ou se escondia do mundo ou procurava a sua família e a igreja para conseguir ajuda e levar a vida adiante.

            Tinha muitas chamadas de sua mãe no celular, mas ele apenas respondeu dizendo que estava bem e precisava ficar sozinho. Cirilo Artur queria pensar em Olívia e entender por que a vida dela fora tão curta. O Deus que ele conhecia era um Deus de amor, mas por que ele o deixara sozinho?

             Buscava respostas para não enlouquecer. Esperou escurecer, não queria encontrar nenhum conhecido, depois seguiu para a sua igreja.

                 Ficou do lado de fora esperando o culto acabar, em seguida, entrou para conversar com o pastor, precisava de ajuda espiritual.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

"NOITES TRAIÇOEIRAS" GOSPEL/RELIGIOSO "...DEUS TE TROUXE AQUI PARA ALIVIAR O TEU SOFRIMENTO. É ELE O AUTOR DA FÉ DO PRINCÍPIO AO FIM, EM TODOS OS SEUS TORMENTOS. E AINDA SE VIER NOITES TRAIÇOEIRAS, SE A CRUZ PESADA FOR, CRISTO ESTARÁ CONTIGO. O MUNDO PODE ATÉ FAZER VOCÊ CHORAR, MAS DEUS TE QUER SORRINDO..." PADRE MARCELO ROSSI

LUGAR NENHUM

CAPÍTULO OITO
            Andou a esmo, atravessou uma feira livre e esbarrou em uma banca de verduras. O dono das verduras olhou feio para Cirilo Artur, que saiu pedindo desculpas e foi sentar-se em um banco do jardim, que ficava em frente a uma igreja católica.

           Não queria pensar em nada, estava entorpecido pela dor da perda da mulher amada. A vida para ele terminava ali; não saberia viver sem Olívia. Foram felizes durante três anos; muito pouco para quem tinha imensos projetos de vida a dois.

            Dentro da igreja havia um alarido de crianças e outras tantas chegando a todo momento, trazidas pelos parentes. Entravam acenando com as mãos para os familiares, que as deixavam ali.

           Crianças! Eles planejavam ter uma também. Despertou sua curiosidade e ele foi verificar, precisava ocupar a mente para não começar a gritar desesperado. Ele tinha um nó na garganta que o sufocava.

           Eram crianças aprendendo o catecismo; então, Cirilo Artur sentou-se no banco logo na entrada e ficou observando. Ele nunca estivera em uma igreja católica e ali havia uma energia contagiante, pensou o rapaz. E, como se tivesse orando começou a balbuciar:

             - Deus está em todos os lugares e aqui dentro também; esta é sua casa. Não importa a religião, Deus é único e vive presente em cada um de nós. Assim dizendo, as lágrimas vieram e ele chorou baixinho, depois suspirando continuou:

            - Meu Deus receba a minha amada esposa e olhe por mim, porque sou fraco e preciso de sua ajuda.

           A igreja era um lugar grande e alto, onde as vozes das crianças faziam eco, quando cantavam.  E, quando paravam de cantar, ficava no ar um burburinho de felicidade. Vez ou outra, para acompanhar o som do órgão, alguns pássaros davam voos rasantes, que quase atingiam o rapaz.

            Depois, pousavam em seus ninhos no cantinho da nave da igreja, que com seus afrescos e vitrais coloridos transmitia paz em sua grandeza. Diante de tanta beleza, Cirilo Artur chegou a esquecer-se, por um momento, que Olívia estava morta.

            No entanto, quando se lembrou do passamento ocorrido naquela manhã, deixou a igreja e voltou, cabisbaixo, para o hospital. Percebeu, então, que aquela dor era só dele e de sua família, pois, a vida continuava lá fora.  Seu coração estava ferido mortalmente, mas havia voltado a bater em ritmo normal. As crianças acalmaram seu coração, que vivia uma emoção intensa.

            Precisava ser forte, porque ele tinha o pior compromisso de sua vida, preparar o funeral de sua esposa. Entretanto, quando chegou, o irmão e um tio já haviam providenciado o velório e os trâmites legais do enterro. A ele restava esperar a liberação do corpo e fazer o seu papel de viúvo; palavra que ele já detestava.

           Sentou-se em frente ao necrotério para esperar o corpo de Olívia. Logo chegaram alguns amigos, parentes e irmãos da igreja e todos diziam para ele ir tomar um banho e comer alguma coisa, que o corpo iria demorar.

         Ele só fazia sinal com a cabeça, não poderia responder, havia uma obstrução em sua garganta. Parecia um bolo de emoção mal resolvida, que o impedia de falar. Não tinha fome e sua vida estava acabada, não precisava de banho, aliás, ele não precisava de nada. Era o dia mais triste de sua vida e seu futuro seria enterrado com sua esposa. 

          O corpo chegou e Cirilo Artur se postara estático ao lado do caixão. O pessoal do escritório também foi prestar solidariedade ao colega. Ele recebia os pêsames e agradecia como se fosse um robô. Seu coração estava morto e seu futuro seria em lugar nenhum.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

"NOITES TRAIÇOEIRAS"- GOSPEL/RELIGIOSO - "DEUS ESTÁ AQUI NESTE MOMENTO. SUA PRESENÇA É REAL EM MEU VIVER. ENTREGUE SUA VIDA E SEUS PROBLEMAS. FALE COM DEUS, ELE VAI AJUDAR VOCÊ..." PADRE MARCELO ROSSI

QUERO DORMIR

CAPÍTULO SETE
            A primeira quimioterapia de Olívia não teve reações significativas. Um mal-estar estomacal, pouco apetite e uma apatia natural devido a fraqueza já estabelecida. No dia seguinte, outra sessão de radioterapia e alternadamente a quimioterapia.

          Tamanha carga de medicação foi minando as forças de Olívia e, em duas semanas ela já não comia e nauseava quando falavam sobre comida. Além das quimioterapias, ela tomava corticoides e isso a estava deixando inchada. Olívia estava cada dia mais empalidecida, fraca e desanimada. Vivia tomando soro e tinha pouca vontade de conversar.

            Durante o dia era sua mãe que lhe fazia companhia e a noite o marido fazia questão de ficar com ela. Ninguém estava contente com aquela situação e, o médico foi categórico ao conversar com Cirilo Artur.

         - A situação está se agravando, porque a doença não estacionou, pelo contrário, está ganhando força. Se continuar assim, logo perderemos o controle sobre ela. Na verdade, estamos perdendo a luta para o câncer, que está se espalhando pelo corpo. Teremos que procurar um doador para o transplante e, precisa ser o mais rápido possível. Coçou a cabeça, estava desolado, então, continuou:

            - O caso de Olívia já chegou complicado, com a doença em estado adiantado e ela está muito fragilizada; temo pelo seu futuro. Vou agilizar o banco de doadores de medula óssea, espero contar com a sorte, afirmou o médico.   
      
            Cirilo Artur prometeu trazer os parentes e amigos para fazerem o teste de compatibilidade; estava muito preocupado. Depois saiu e foi chorar lá fora, encostado em uma parede que dava para lugar nenhum; ninguém precisava ver a sua dor. Ficou ali durante algum tempo, pedindo a ajuda de Deus; ele estava com maus pressentimentos.

           Em seguida, tomou água e lavou o rosto, para que ninguém percebesse sua fraqueza. Na verdade, ele queria morrer para não ver o sofrimento de Olívia. No entanto, tinha que se mostrar forte para ela não desistir da vida, que estava por um fio. Ele havia programado uma surpresa para ela, seria, na semana seguinte, o aniversário de três anos do primeiro encontro. E, agora ela estava entrevada na cama; uma situação inesperada.

             Terceira semana e muitas pessoas se apresentaram para a pesquisa de compatibilidade. Amigos, parentes e irmãos da igreja, que não se cansavam de orar por Olívia. No entanto, ela piorava a olhos vistos, seus cabelos estavam caindo e seu corpo ficando mais inchado a cada dia.

            Quarta semana e a paciente parecia outra pessoa, o seu corpo dobrara de tamanho, já não se alimentava por boca, somente por sonda. O médico dissera ao marido que seus recursos estavam se esgotando e, a situação era tão grave, que não sabia se haveria tempo para o transplante.

            Trinta e dois dias e Olívia amanheceu com muita febre e falta de ar e, quando o médico chegou fez uma cara, que Cirilo Artur identificou como sendo desanimadora. Estava claro que ela estava muito pior.

            Olívia estava irreconhecível, lutava para respirar. Recebia os cuidados necessários, mas aparentava total desânimo A semana arrastou-se entre pequenas melhoras e muitas pioras; já não havia esperança; agora estava com pneumonia. Não respondia aos medicamentos para controlar a infecção.

            - É uma questão de tempo para ela nos deixar, dissera o médico consternado, para o marido desesperado.

           Na manhã de sexta-feira ela foi levada à sala de emergência, estava ofegante, apesar do oxigênio que recebia.

             Cirilo Artur segurava em suas mãos e ela balbuciou:

            - Vejo amor em seu olhar. Me perdoe, já não aguento mais. Quero dormir para descansar.

           E, em seguida, foi sedada e intubada, para ter um melhor suporte respiratório. No entanto, ela nunca mais acordou; seu óbito foi constatado na manhã de sábado, depois de quarenta dias internada. Estavam presentes, os pais, o irmão e o marido.

            Cirilo Artur saiu para a rua, precisava tomar ar ou morreria sufocado. Queria fugir daquela situação insuportável.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

"ANJOS DE DEUS" "...QUANDO OS ANJOS PASSEIAM A IGREJA SE ALEGRA. ELA CANTA, ELA CHORA, ELA RI E CONGREGA. ABALA O INFERNO E DISSIPA O MAL. SINTA O VENTO DAS ASAS DOS ANJOS AGORA. CONFIA IRMÃO, POIS É A TUA HORA. A BENÇÃO CHEGOU E VOCÊ VAI LEVAR..."

SEM REAÇÃO!

CAPÍTULO SEIS
        Olívia chorou durante a noite e Cirilo Artur ouviu, mas deixou que desabafasse; fingiu que estava dormindo. Pela manhã, depois da radioterapia, ela disse que estava preocupada com as sessões de quimioterapias. Então, contou o que ouviu de outra paciente mais antiga, que estava aguardando a vez para fazer a radioterapia.

- A mulher, de cerca de quarenta anos, já está careca porque seu tratamento está com quatro meses e os seus cabelos começaram a cair no final do primeiro mês. Ela tirou o turbante para eu ver e me disse que, assim que começa o ciclo de quimioterapias vermelhas, cresce a expectativa da queda de cabelo.
Suspirou fundo e prosseguiu:
- O que, geralmente, ocorre dentro de duas a três semanas após o seu início. Ela contou que o travesseiro amanhece cheio de cabelos e no banho, o ralo também fica cheio de fios de cabelos, enquanto a cabeça queima tipo uma inflamação. Me disse também, que caem todos os pelos do corpo, os pubianos e das axilas; ficamos lisas como bebês. Concluiu Olívia com uma nuvem de tristeza no olhar.

Depois, olhando nos olhos do marido, ela continuou:
-Meu amor, eu acho que vou cortar meus cabelos para fazer a peruca, porque depois eles não vão prestar mais, e deixou rolar duas lágrimas de seus olhos. 

Cirilo Artur não se conteve e a abraçou dizendo:
         - Sim, vou pedir a minha mãe que traga sua cabeleireira para cortar seus cabelos bem curtos. Depois que tudo isso passar ele crescerá novamente. Em seguida, a beijou com carinho.
        
        Na quinta-feira à noite, a cabeleireira chegou; no dia seguinte começariam as quimioterapias. A moça amarrou os cabelos longos de Olívia e foi cortando o mais curto possível. Em seguida, entregou ao marido o chumaço de cabelos da moça;

         - São valiosos, se quiser vender, pois nunca receberam tintas. Observou a cabeleireira. A paciente fez que não com a cabeça, não conseguiria falar, estava com um nó na garganta.

             A cabeleireira, então se ateve a acertar o corte dos cabelos que sobraram.

             Olívia quis olhar no espelho e chorou novamente; era de dar pena. A comoção foi geral e todos acabaram chorando, até a cabeleireira.

             O dia seguinte amanheceu e vieram colher o sangue de Olívia, queriam saber se ela estaria em condições de receber a primeira sessão de quimioterapia. Depois de uma hora, voltaram com uma cadeira de rodas e conduziram a moça à sala de quimioterapias.

             Cirilo Artur ficou em pé na soleira da porta de entrada, parecia estar com medo de adentrar ao local. Tinha uma sensação de que aquele lugar faria muito mal à Olívia.

             Depois da medicação instalada, ele foi convidado a sentar-se perto de sua esposa; ela precisava de seu apoio. Cirilo Artur ficou sentado ao lado de Olívia, segurando um lenço nas mãos, para o caso dela nausear.

           Ele não tirava os olhos de sua amada, enquanto o líquido penetrava na veia de sua mão, postada sobre o braço da poltrona.
           Não parecia ser tão terrível, era apenas um soro colorido; um xarope de groselha, pensou o rapaz.

           Quando acabou o soro e a punção foi retirada, ele percebeu que o medo da quimioterapia era um fantasma criado na cabeça das pessoas; nada havia de estranho. As enfermeiras, as pacientes, o ambiente nada tinha de hostil; faziam parte de um conjunto acolhedor à novos integrantes. Tudo muito claro e as pessoas sorriam cordiais enquanto conversavam.

           A enfermeira aproximou-se de Olívia e deu-lhe um pacote dizendo para ela fazer uso dele. Foi o primeiro presente que Olívia ganhou, um turbante colorido, doado pelas voluntárias. Todas as pacientes de quimioterapia tinham um turbante vistoso e colorido. Cirilo Artur sorriu, estava sem reação.

 Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

"ANJOS DE DEUS" - REFRÃO: "...TEM ANJOS VOANDO NESTE LUGAR. NO MEIO DO POVO E EM CIMA DO ALTAR. SUBINDO E DESCENDO EM TODAS AS DIREÇÕES. NÃO SEI SE A IGREJA SUBIU OU SE O CÉU DESCEU. SÓ SEI QUE ESTÁ CHEIO DE ANJOS DE DEUS. PORQUE O PRÓPRIO DEUS ESTÁ AQUI..."PADRE MARCELO ROSSI


                                  PRECISO DE VOCÊ

                             CAPÍTULO CINCO
         Quando Cirilo Artur voltou ao quarto, Olívia não havia chegado, demorou um pouco para voltar da radioterapia. Então, ele sentou-se na poltrona enquanto aguardava. O quarto estava na penumbra e Cirilo Artur ficou imaginando o que poderia fazer para animar sua esposa. Olívia estava triste e parecia definhar a cada dia. Aquela situação estava deixando-o arrasado.

            A moça chegou cansada, trazia as marcas em tinta azul na região da clavícula, parecia um mapa mal traçado. Cirilo Artur olhou e perguntou se estava doendo, mas, diante da negativa ele se absteve de comentários. Aproximou-se e fez carinho em seus cabelos longos, depois beijou sua mulher; ela era seu maior tesouro.

Em seguida, vencido pelo cansaço, recostou-se no sofá e acabou por adormecer, também estava exausto. Dormiu um sono agitado e sonhou com aquele rapaz careca, Jonas, que não saia de sua cabeça. Acordou quando o carrinho de comida entrou no quarto e fez barulho.

 No sonho, teve uma sensação muito boa e lembrou-se de sua infância. Sua mãe sempre dizia, que Deus fala com os seus filhos através de outras pessoas, por isso deveriam prestar atenção quando alguém falava com eles. Tinha convicção nisso.

- O Jonas seria um mensageiro de Deus? Pensou Cirilo Artur.

  Depois do encontro, ele estava com algumas ideias que poderiam ajudar sua amada; teria que pensar e dar corpo à sua imaginação. Pediria à sua mãe para fazer companhia a Olívia e, depois do trabalho iria ao centro da cidade, para investigar a possibilidade de concretizar sua ideia.

            Retornou alegre, porque o seu desejo era de fácil conclusão. Só teria que convencer sua mulher, a cortar seus cabelos na altura do pescoço. Quando estavam sentados jogando conversa fora, ele resolveu falar. Aproximou-se e pegando em suas mãos foi dizendo:

- Olívia, hoje eu fui ao cabeleireiro que fabrica perucas e expus o seu caso. Ele disse que pode fazer uma peruca do seu próprio cabelo, que ninguém vai desconfiar que não está implantado no seu couro cabeludo. Precisamos cortar o cabelo bem curto e levar para ele tratar, que até os seus cabelos caírem, a peruca já estará pronta.

- Não quero cortar meus cabelos, ela respondeu, enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto. 
- Não tenho lembrança da última vez que cortei os cabelos, deveria ser muito pequena; soluçou a moça.

A mãe do rapaz fez sinal para ele dar um tempo para Olívia pensar.

- Foi só uma ideia, se você não quiser, nada faremos, fique calma meu amor, e a abraçou com carinho.

No dia seguinte foram iniciadas as sessões de radioterapia e em seguida viriam as quimioterapias, que levariam à queda dos cabelos de Olívia. Ela teria algum tempo para decidir o que faria, pensou Cirilo Artur.

O primeiro dia da quimioterapia seria na sexta-feira e ele faria uma surpresa para seu amor. A mãe de Olívia passou a quinta-feira com ela e no final da tarde, o marido iria busca-la para Cirilo Artur passar a noite ali. Então, entraram no quarto, o seu pai, o irmão e Cirilo Artur, todos de cabeça raspada.
A surpresa foi tão grande que ela gritou.

 – Que loucura! Por que fizeram isso?

  - Em solidariedade a você, porque a amamos e não queremos que sofra.
            Olívia não conteve as lágrimas e agradeceu a todos; seriam quatro carecas e não apenas ela.

            Os dias passaram e ela já ostentava queimaduras na pele por causa da radioterapia. Sentia-se enfraquecida e com náuseas. E, a tendência era piorar com o início da quimioterapia, todos sabiam disso.

 Um texto de Eva Ibrahim
MEU MUNDO REINVENTADO.

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