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quarta-feira, 22 de novembro de 2017

"CANTIGAS POPULARES"- "SE ESSA RUA FOSSE MINHA" - "SE ESSA RUA, SE ESSA RUA FOSSE MINHA. EU MANDAVA, EU MANDAVA LADRILHAR. COM PEDRINHAS, COM PEDRINHAS DE BRILHANTE. PARA O MEU, PARA O MEU AMOR PASSAR..." MÁRIO LAGO E ROBERTO MARTINS.

VEJO AMOR NO SEU OLHAR 

UM PEDACINHO DO CÉU

CAPÍTULO UM
           Cirilo Artur sempre foi assíduo frequentador da igreja evangélica, ajudava no que fosse preciso e tocava violão para acompanhar os cantores de música gospel. Aprendeu a tocar o instrumento com seu tio, que percebendo o interesse do sobrinho, resolveu comprar um violão para ele. O menino ficava encantado ao observar o velho tio, tocar as músicas da igreja. E, agora era sua paixão, tocava com prazer para acompanhar os cantores da igreja.

          Não namorava ninguém, dizia que estava esperando a prometida de Deus para ele e, que quando ela chegasse ele saberia. Em seus sonhos ele via uma moça bonita, de cabelos longos e sorridente, que seria sua mulher para sempre. Levava a vida como um bom crente que era; sério, trabalhador e honesto. Se formara em administração de empresas e trabalhava em um escritório de contabilidade.

             Certo dia, sua igreja estava em festa e, esperavam receber uma caravana de irmãos da cidade vizinha para uma confraternização. O rapaz trabalhou, durante uma semana, todas as noites depois do expediente, para ajudar nos preparativos; estava eufórico, gostava de ver a igreja cheia de gente.

            No domingo, ele acordou cedo, vestiu sua melhor roupa para ir ao culto e receber à caravana de irmãos em Cristo. Havia preparativos de salgados, doces, bolos e refrescos no salão de festas da congregação, para oferecer aos visitantes.

             Logo cedo, chegaram dois ônibus cheios de moços e moças da cidade vizinha, que processavam a mesma fé. Entraram e foram sentando nas cadeiras reservadas a eles, eram cem pessoas ao todo. Em sua maioria jovens de todas as idades, alegres e curiosos.

             A música começou a tocar e só parou ao sinal do pastor, que iniciou a pregação dando as boas-vindas aos irmãos. Então, Cirilo Artur descansou o violão e ao mesmo tempo que prestava atenção nas palavras do pastor, corria seus olhos para ver os recém-chegados.

Parou quando viu uma jovem sentada na terceira fila, seu coração acelerou. Tinha que chegar perto dela, era do jeito que ele imaginava. Estava vestida de azul, tinha a aparência de um pedacinho do céu. Seu coração disparou e ele saiu de mansinho dizendo ao companheiro que precisava usar o banheiro.

Lavou o rosto com água fria para ver se melhorava um pouco e até tomou um gole da água da torneira. Em seguida, respirou fundo para voltar ao palco, onde ficava a banda e o púlpito.

          Entrou vitorioso quando percebeu que a moça o seguia com os olhos. Cirilo Artur não entendeu nenhuma palavra que o pastor dissera, estava com todos os sentidos pregados na terceira fila do auditório. Finalmente o culto terminara, na verdade durara um século pela avaliação da ansiedade do rapaz.  
              
           A última música foi tocada e ele tratou de guardar o violão e posicionar-se onde a jovem deveria passar. Ela estava acompanhada de outra jovem, que era sua irmã mais velha e sorriu quando viu Cirilo Artur. Ele todo atrapalhado foi logo dizendo:

         – Eu sou Cirilo Artur, muito prazer, qual é seu nome? E estendeu a mão para cumprimenta-la.

- Olívia, muito prazer. E, apertou a mão do rapaz.

- Preparamos uma mesa com lanches para vocês, vamos, que eu as acompanho. Não poderia existir um rapaz mais solícito do que Cirilo Artur. Esbanjava simpatia e felicidade, bem diferente do rapaz tímido que era.

As horas praticamente voaram, Cirilo Artur estava nas nuvens e não deixou Olívia sozinha em nenhum momento. Havia uma ligação entre eles, estavam encantados um com o outro. Parecia que eram velhos conhecidos, a conversa fluía fácil e havia um entrosamento estranho entre eles.

E, quando o ônibus partiu de volta à sua origem, Olívia e Cirilo Artur já estavam comprometidos, embora fosse apenas com o olhar. Ele ficou na calçada acenando para seu amor e já sentindo solidão ao ficar sozinho.

O rapaz disse a Olívia que iria visitar a sua igreja na semana seguinte e lá queria encontra-la novamente. Havia muitas promessas no ar.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

"O ANJO DO SENHOR ACAMPA-SE AO REDOR DOS QUE O TEMEM, E OS LIVRA. PROVAI, E VEDE QUE O SENHOR É BOM; BEM-AVENTURADO O HOMEM QUE NELE CONFIA". SALMOS: 34. 7, 8

NAS MÃOS DE DEUS

CAPÍTULO DEZ
        A menina já nasceu guerreira, uma criança prematura que mamava muito; estava sempre com fome. Os médicos explicaram à Cesane que a filha ficaria na incubadora até ganhar peso, isto é, ter dois quilos. Cristal nasceu com um quilo e seiscentos gramas, mas já perdera peso, então, depois de três dias, estava com um quilo e quatrocentos gramas.

          A pressão arterial de Cesane foi controlada depois do parto e, em alguns dias iria para casa. No entanto, ela queria ficar perto da filha e passou a queixar-se de dores aqui e ali. O médico percebeu que as queixas não condiziam com os exames e o estado físico da paciente. Ela estava muito bem e poderia ter alta; já não precisava ocupar um leito de Hospital.

 Fazia uma semana que Cristal viera ao mundo e uma pessoa inesperada apareceu para uma visita, era o pai da menina, Roger. Cesane, assustada, mal conseguiu manter-se em pé ao vê-lo parado na porta do quarto. Alda, rapidamente, amparou a filha e encarando o sujeito foi logo dizendo:

 - O que você está fazendo aqui? Quem deixou que entrasse?

- Estou aqui para conhecer a criança, que é minha também. É filho ou filha? Meu informante não soube dizer o sexo do bebê. Falou com a ironia de sempre. 

A moça sentou-se na poltrona, estava pálida, fraca e com medo do que aquele homem poderia fazer com Cristal. O amor, que um dia sentira por ele, agora se transformara em raiva e repulsa.

Ele ficou parado na porta esperando para saber onde estava a criança. Mas, para a sorte de todos o médico apareceu e, percebendo a situação, pediu ao rapaz que se retirasse ou chamaria a segurança.

              Ele saiu resmungando que voltaria para ver a criança, deixando atrás de si o medo estampado no rosto da mãe e da avó de Cristal. As duas abraçadas choraram pela infeliz situação vivida.

              - Será que nunca teriam sossego? Agora aquele inconsequente estava de volta e os problemas também. Alda murmurou entre lágrimas.

              Rui chegou mais tarde e prometeu proteger a filha e a neta daquele cafajeste. Nunca deixaria ele aproximar-se da sua família.

              Cesane precisou tomar um calmante para dormir e não queria deixar a filha ali e ir para casa. No entanto, ela estava bem e teve que deixar o hospital, não havia motivo para ocupar um leito de hospital, dissera o médico.

            Amparada pela mãe, ela se foi com lágrimas nos olhos e com a condição de poder estar ali todos os dias com a filha. A menina ficaria na neonatologia para conseguir o peso mínimo para ir para casa.

              Durante um mês as duas mulheres foram ao hospital diariamente e tinham a promessa do médico, de que Cristal poderia ir para casa, uma vez que ela estivesse com o peso exigido. Finalmente o dia tão esperado chegou; Cristal estava com dois quilos de peso.

              No domingo à tarde, Rui foi buscar as três mulheres de sua vida no hospital e nada poderia ofuscar aquela felicidade. Nem mesmo o temor do aparecimento do pai da criança. Roger se tornara um fantasma ameaçador para todos naquela casa, principalmente para Cesane, que temia por Cristal.

              Os meses passavam sem nenhuma novidade, a menina crescia forte e Cesane parecia mais calma e conformada em ser mãe solteira. Seus pais supriam toda e qualquer necessidade da mãe e da filha. Roger havia desaparecido novamente e eles esperavam que nunca mais aparecesse por ali.
           Cristal estava com seis meses de idade quando aconteceu uma fatalidade, que abalou Cesane mais uma vez. Um amigo de Rui apareceu ali para contar a triste novidade:

             - Roger sofreu um acidente e morreu no local, estava de motocicleta e bateu de frente com um caminhão, voando pelos ares. O fato aconteceu na cidade vizinha, por isso, pouca gente ficou sabendo da ocorrência, concluiu o rapaz.

              A moça precisou ser amparada, afinal ainda o amava e, Roger era o pai de Cristal. Alda e Rui se entreolharam e com um suspiro disseram:

            - Pelo amor de Deus, vamos esquecer esse rapaz e guardar somente uma lembrança boa para dar à Cristal. Que descanse em paz, morreu do jeito que viveu, loucamente.

          O casal lamentou formalmente e com um suspiro entreolharam-se; o sossego estava de volta àquele lar. Eles supririam a falta do pai para criar aquela pedra preciosa, que era a Cristal; estavam nas mãos de Deus.
            Um texto de Eva Ibrahim


quarta-feira, 8 de novembro de 2017

"SENHOR, TU ME SONDASTE, E ME CONHECES. TU SABES O MEU ASSENTAR E O MEU LEVANTAR; DE LONGE ENTENDES O MEU PENSAMENTO". SALMOS 139. 1,2

UM PINGO DE GENTE
CAPÍTULO NOVE
          Roger era o tipo de pessoa inconsequente, não se preocupava se iria ofender ou prejudicar alguém; fazia o que lhe dava na telha e pronto. Ele não viu Cesane no Shopping, mas queria saber da criança e no meio da noite, ligou no celular da menina.

              - Olá amor, como está o nosso filho? Você já sabe o que é? Eu sou o pai e quero ele para mim; é um direito meu.

               Cesane acordou assustada e gritou ao ouvir a afirmação de Roger. Depois ficou muda, estática e foi assim que Alda a encontrou. A mãe a abraçou perguntando o que havia acontecido e ela disse chorando:

              - Roger quer tirar a menina de mim.

              - Acalme-se, ele nunca vai conseguir tirar Cristal de você, nós estamos aqui para protege-la. Você não pode ficar nervosa porque sua pressão pode subir.

              O médico havia alertado as duas na última consulta. “Pressão alta não combina com gravidez”, dissera com um ar preocupado.

              Cesane não comeu nada e passou o dia trancada no quarto chorando; Alda não sabia o que fazer, estava desolada. Mais uma noite se passou e quando acordou, a gestante estava com a face e os pés muito inchados. A mãe ficou assustada e tratou de ligar para o médico, que mandou que fossem imediatamente para o Hospital.

              - Um quadro grave de hipertensão arterial, afirmou o médico. Ela está na iminência de ter uma eclampsia e vamos fazer alguns procedimentos para melhorar a pressão arterial. Se não der certo teremos que intervir com uma cesariana para salvar o bebê. Em seguida ele saiu, deixando Alda com o coração nas mãos. Muitas perguntas ficavam pulando em sua cabeça. 

         – A bebezinha é muito prematura, como será isso meu Deus?

A enfermeira pediu para Alda aguardar na recepção, enquanto cuidavam da paciente. A mulher estava muito nervosa e ligou para o marido lhe dar apoio naquele momento tão preocupante. O casal ficou sentado rezando para o melhor acontecer, que as duas ficassem bem; era tudo o que eles precisavam.

A manhã passou e nada de notícias da filha. As onze horas ela foi questionar junto à enfermagem; queria notícias. Então o médico veio e lhe deu as informações necessárias.

 – A gestante recebeu as doses da medicação recomendada e aguarda no centro obstétrico a evolução do quadro. A qualquer momento poderemos entrar para uma cesariana, depende da resposta à medicação que a jovem vai ter. E, olhando nos olhos da mãe aflita ele disse:

- Está autorizada a acompanhar a paciente, um de cada vez; ela precisa de tranquilidade.

             Alda agradeceu e o casal foi encaminhado ao CO. A mãe entrou e depois foi a vez do pai. Parecia que estava tudo bem e Rui voltou ao trabalho. Mas com o passar das horas, Cesane passou a referir dor de cabeça e foi o sintoma que faltava para leva-la para a cirurgia.

             Mais uma vez, Alda teve que aguardar na sala de espera. Enquanto isso, sua neta vinha ao mundo com apenas trinta e três semanas de gestação. Depois de duas horas e muita ansiedade o médico apareceu e disse que estava tudo bem.

           - Nasceu uma menina com um quilo e seiscentos gramas e deverá permanecer na incubadora para ganhar peso. Aparentemente é um bebê saudável, mas ficará em observação constante. Em seguida, disse que ela poderia ver a filha que se recuperava da anestesia.

Alda ergueu as mãos para o céu e agradeceu a Deus pela notícia alvissareira; seus olhos ficaram cheios de lágrimas. Primeiro foi ver a filha e depois a neta no centro neonatal.

             Ao ver a menina ela sentiu o amor aflorar em seu coração, era um pingo de gente, que chorava bravamente; então, ela sorriu, depois de muitas horas de sofrimento.

Um texto de Eva Ibrahim

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

"QUANDO PENSO: "VACILAM-ME OS PÉS" SUSTENTA-ME, SENHOR, A VOSSA GRAÇA. QUANDO EM MEU CORAÇÃO SE MULTIPLICAM AS ANGUSTIAS, VOSSAS CONSOLAÇÕES ALEGRAM MINHA ALMA". SALMOS 93. 18, 19.

UM APERTO NO CORAÇÃO
CAPÍTULO OITO
          Cesane ficava muito tempo trancada em seu quarto; estava quieta, depressiva. E, quando saia de casa era de automóvel com sua mãe, para ir ao médico ou escolher alguma peça do enxoval de Cristal. Este foi o nome que a jovem escolheu para dar à sua filha.

         Um dia, Roger disse a ela que gostaria de ter uma filha com o nome de Cristal e outra com nome de Rubi; duas pedras preciosas. E ela lembrou-se de fazer o gosto do pai, embora ele quisesse que ela abortasse. Então, uma tristeza cobriu o seu rosto ao lembrar-se do fato e, ele não sabia que a sua Cristal estava a caminho. Sua mãe aproximou-se com pena da filha, que disse chorosa:

            - Como Roger pode desejar a morte da filha, que mexe tanto dentro da minha barriga? Um soluço sentido escapou de seus lábios, e como um lamento ela prosseguiu:

           – Será que ele não se arrependeu? Será que não tem vontade de saber como estamos, se é ele ou ela? Dar sua opinião para o nome dela?

              A mãe tratou de mudar de assunto, não queria ver a filha sofrer mais e a convidou a fazer compras para o enxoval de Cristal. Cesane estava em um dia ruim, demonstrava estar deprimida.

           As duas mulheres estavam fazendo compras no Shopping e depois iriam comer na praça de alimentação. A futura mamãe estava com 32 semanas de gestação e precisava sentar-se um pouco, estava cansada. Então, Alda foi comprar sanduiches enquanto a filha ficava esperando na mesa.

           A mulher estava na fila do caixa, quando sentiu um calafrio percorrer o seu corpo; Roger estava na fila ao lado da sua, acompanhado de uma moça.

              Instintivamente ela sentiu vontade de correr e tirar sua filha dali, mas não poderia alarmar ou Cesane veria o rapaz. Começou a rezar sem parar, como se fosse um mantra. Chegou sua vez e ela tratou de pedir o mais rápido possível, tentaria passar despercebida.

              O rapaz estava tão concentrado em acariciar a moça que o acompanhava, que não reparou em Alda. Ela pegou os lanches e sentou-se de um jeito que a filha olhasse para o outro lado e não visse Roger. Entretanto, seu coração estava disparado e Cesane percebeu que a mãe não estava bem e propôs irem embora, comeriam em casa. Alda levantou-se e saíram sem serem vistas por Roger.

              No entanto, o que mais preocupava a mulher era saber que ele andava por perto e poderia aparecer a qualquer momento. Cesane não poderia saber que ele estava de volta, a mãe temia pela reação da futura mamãe. Temia pela estabilidade emocional da filha.

 Um texto de Eva Ibrahim





sexta-feira, 27 de outubro de 2017

"COMO É PRECIOSO O TEU AMOR, Ó DEUS! OS HOMENS ENCONTRAM REFÚGIO À SOMBRA DAS TUAS ASAS". SALMOS 36. 7

                                       ATÉ O ANO QUE VEM

CAPÍTULO SETE
          As festas de final de ano terminaram, o carnaval passou, as férias escolares estavam no final e Cesane deveria voltar à escola. No entanto, seu corpo estava pesado com seis meses de gestação e, a menina resistia a ideia de voltar e encontrar-se com suas colegas.

         No primeiro dia de aula, Cesane amanheceu cheia de dores e com os sentimentos aflorados, chorando atoa. Alda insistiu para ela ir à escola, ofereceu-se para lhe fazer companhia, mas ela trancou-se no quarto.

A mãe pedia que abrisse a porta e ela dizia choramingando:

- Não insiste mãe, eu não vou à escola neste ano, não posso acompanhar as outras alunas e prefiro voltar somente no ano que vem, depois que a bebê nascer. Estou pesada, lerda e com vontade de chorar sem motivo algum, me deixa ficar quieta no meu canto.

Alda já esperava por isso, a filha esquivava-se quando ela tocava no assunto. Então, ela disse:

 - Está bem, abre a porta e vamos conversar, para tudo existe uma solução.

Mãe e filha abraçaram-se e as lágrimas caíram dos olhos das duas, formando uma cascata de amor.

 - Não se fala mais no assunto, fica suspenso até o ano que vem, agora vamos cuidar da bebezinha que vem chegando, concluiu Alda.

A mãe foi à escola e conversou com a diretora, deixando tudo acertado para o ano que virá depois deste.

 - Quando Cesane estiver feliz com a filhinha nos braços, ela terá condições de voltar às aulas. É tempo de reflexão, até mesmo, para uma menina teimosa, ponderou Alda para a diretora.

Disse e foi saindo sem olhar para trás. Quanta concessão fizera ultimamente, quantos sonhos abortados e projetos desfeitos por uma situação inesperada, pensava com um aperto no coração.

Amava a filha e a neta, mas poderia ter sido diferente e, as lágrimas brotavam de seus olhos sem ela desejar. Pensava com raiva no causador de tantos problemas. Uma figura de sorriso debochado, que falava com ironia sobre um fato tão importante. A vinda de uma criança para Cesane, que era apenas uma adolescente.

Nunca mais souberam de Roger, no entanto, ele representava uma ameaça na vida da família. Ninguém sabia o quanto ele poderia desestabilizar a menina. Alda pensava em quantas preocupações e medos desenvolvera nos últimos tempos, precisava buscar Deus e consolo com o padre Chico.

Passou na igreja, estava fragilizada e precisava de forças para enfrentar seu dia a dia. Rezou aos pés da cruz e depois conversou com o pároco, que mais uma vez lhe transmitiu alento; precisava seguir em frente com um sorriso no rosto.

Era sua missão de mãe, apoiar e acolher a filha que estava em uma situação delicada. Cesane era jovem demais para assumir a maternidade sozinha, seus pais eram seu porto seguro.

Um texto de Eva Ibrahim

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

"MOSTRAI A SUA ADMIRÁVEL MISERICÓRDIA, VÓS, QUE SALVAIS DOS ADVERSÁRIOS OS QUE ACOLHEM À SUA DIREITA. GUARDAI-ME COMO A PUPILA DOS OLHOS, ESCONDEI-ME À SOMBRA DE VOSSAS ASAS,..." SALMO 16, 7. 8.

                                         
                            OLHOS CHEIOS DE LÁGRIMAS

 CAPÍTULO SEIS
          Roger desapareceu como por encanto, deve ter ficado agradecido por estar livre da responsabilidade de criar um filho; iria viver a vida. Não era homem para assumir responsabilidades; queria diversão e nada mais.

          Cesane ligou algumas vezes em seu celular, queria conversar, pois, para ela a situação ainda não estava clara. Amava aquele rapaz, entregara-se a ele por amor e no fundo do seu coração acalentava a esperança de tê-lo junto a si.

Alda e Rui não poderiam nem desconfiar das intenções da filha ou ficariam furiosos. A mãe passava o tempo todo tentando agradar Cesane, para compensá-la do desgaste de levar adiante a gravidez, sem ter o pai da criança presente. Muitas vezes, a noite ela ouvia os soluços sufocados da filha, que lhe cortavam o coração.

            Rui não queria ouvir o nome do cafajeste que desonrara sua filha, mas a mãe entendia que fora o primeiro amor de Cesane e, que a desilusão doía fundo no coração da menina. Com apenas dezesseis anos ela não tinha maturidade suficiente, para entender a responsabilidade de pôr um filho no mundo.

            A futura mamãe estava reclusa em sua casa, saia muito pouco e sempre em companhia dos pais. Com o corpo roliço ela não queria se expor e ser apontada na rua. E, lá no fundo temia e ao mesmo tempo desejava encontrar-se com Roger. Não sabia como iria reagir, mas este pensamento ficava pulando em sua mente.

          Estavam no final do ano letivo e ela conseguiria concluir o segundo ano do ensino médio, tinha boas notas e a gravidez ainda passava despercebida. No entanto, o terceiro ano seria muito difícil, tornara-se um ponto de interrogação. Alda não queria pensar em nada; viveria um dia de cada vez para proteger sua filha.

         As festas de fim de ano se aproximavam e Cesane já mostrava modificações em seu corpo. Era uma moça com uma cintura bem definida, entretanto, foi a primeira coisa que sumiu. Seu corpo perdia as formas para permitir o crescimento do bebê.

Com vinte semanas de gestação foi marcada a ultrassonografia e eles ficariam sabendo o sexo do bebê; mãe e filha estavam eufóricas, a criança tomava forma na cabeça das duas. Eram cristãs e acreditavam que toda criança trazia alegria e esperança para seu novo lar e já a amavam.

            E, quando o médico disse que Cesane esperava uma princesa, os olhos da mãe e da avó encheram-se de lágrimas. Uma menina para ser muito amada e mimada pela família.

         Depois, uma tristeza se abateu no semblante de Cesane, ela pensava em Roger, que nunca veria sua filha. Então, seus olhos ficaram cheios de lágrimas.
 Um texto de Eva Ibrahim
MEU MUNDO REINVENTADO.

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