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sexta-feira, 4 de agosto de 2017

"A CURA ESTÁ NOS PEQUENOS GESTOS, FEITOS POR LAÇOS FORTE S, ENCONTRADOS EM CORAÇÕES DE RARA BELEZA". AUTOR DESCONHECIDO

ASA QUEBRADA

CAPÍTULO TRÊS
           Quinze longos minutos se arrastaram até que o resgate estacionasse rente à guia. Parou bem em frente à moça caída no chão, para facilitar o socorro. Enquanto o médico procurava outras lesões pelo corpo da vítima, o enfermeiro fazia um curativo compressivo no local do ferimento.

 Em seguida, fixaram o membro superior em uma tala larga, para coloca-la na maca sem correr riscos de agravos ao quadro estabelecido. Renato estava desesperado e correu para fechar a porta da clínica, teria que acompanhar seu amor.

 - As dores são insuportáveis, a moça dizia chorando, enquanto lágrimas salgadas iam morrer nos seus lábios; estava desesperada. Recebeu um analgésico para se acalmar e colaborar com seu atendimento.

O veículo saiu cantando pneus em meio à aglomeração de pessoas curiosas; tratava-se de uma urgência médica. Havia suspeita de fratura no membro superior da jovem, pois estava inchando e apresentando manchas roxas, em um local muito dolorido.

Alice foi conduzida à radiologia, onde constataram a fratura no braço esquerdo após um RX. A vítima apresentava além da fratura e do corte profundo na coxa direita, algumas escoriações em seu corpo. Então, entrou em cirurgia para fechar o ferimento na perna e, em seguida reposicionar e imobilizar o osso do antebraço. Alice estava pálida e gemendo de dor.

O rapaz ficou na sala de recepção juntamente com os pais da moça, que mal trocavam algumas palavras. O nervosismo impedia um diálogo calmo; estavam desolados.

- Alice estava feliz para iniciar os preparativos para o seu casamento, lamentava-se a mãe e o pai concordava balançando a cabeça.

Depois de três horas apareceu o médico para conversar com a família. Estava tudo bem, porém, a moça deveria ficar alguns dias internada para receber antibioticoterapia na veia, devido ao corte profundo na coxa. Renato não se conformava, pois sentia ser o causador daquela tragédia. Foi em sua clínica o fato ocorrido, lamentava o rapaz.

Deixaram que ele entrasse um pouquinho, entretanto, a paciente dormia profundamente. Então, ele beijou seus lábios e depois saiu para deixar os pais verem a moça. Voltaria no dia seguinte, disse com lágrimas nos olhos. Seu amor estava doente com a asa quebrada e, ele muito triste com tudo aquilo.

Enquanto dirigia, as lágrimas corriam pelo seu rosto, embaçando seus olhos. Ele estava apaixonado e faria com que Alice tivesse a melhor recuperação possível. Encostou o veículo e foi tomar uma bebida para diminuir sua angustia.

 Um texto de Eva Ibrahim

sábado, 29 de julho de 2017

"EU QUERO ESTAR COM VOCÊ, NÃO PORQUE EU DEVA ESTAR OU PORQUE TODOS QUEIRAM, MAS PORQUE EU PREFIRO ESTAR CONTIGO A ESTAR EM QUALQUER OUTRO LUGAR NO MUNDO INTEIRO". AUTOR DESCONHECIDO

JEITO DE AMAR

CAPÍTULO DOIS

             A moça não via a hora de chegar o dia de encontrar-se com Renato, queria agradá-lo. Ela sentia que faltava alguma coisa, como se tivesse ficado uma dívida de gratidão para trás. Parecia ser a primeira vez que se interessava por alguém; estava mexida por dentro. Comprou roupas novas e marcou cabeleireiro, estava ansiosa para vê-lo.

           Finalmente estava pronta, esperando por Renato, que chegou na hora marcada para felicidade da moça. Em seguida, saíram sorrindo para uma noite de diversão. Jantaram em uma danceteria e depois dançaram até as duas horas da manhã, quando Renato a levou para casa, então, já estavam apaixonados.

            E, assim os dias eram contados para os encontros dos dois namorados. O interesse mútuo no bem-estar dos animais tratados na clínica, faziam Alice passar muitas horas auxiliando Renato nos cuidados gerais. Em pouco tempo ela estava trabalhando ao lado dele, tratando dos animais.

          Certo dia, apareceu uma jovem com um cãozinho queimando de febre, que precisava de cuidados intensivos. O casal passou grande parte da noite na sala de observação, cuidando do animal. Quando a febre cedeu, ambos deitaram no sofá e adormeceram juntinhos. Foi uma noite de lutas para preservar a vida do pequeno animal. 
            Alice não se continha, tinha uma profunda admiração por Renato, queria estar ao seu lado para sempre. Então, ele a convidou para ir conhecer seus pais, que moravam no sul do país.
           - Uma viagem encantada para as serras de Santa Catarina, disse Alice para sua mãe, quando retornou.

Os pais de Renato moravam em Bom Jardim da Serra, porta de entrada para a serra catarinense. Foi muito bem recebida pelo casal de agricultores, que a trataram como filha, debaixo de um frio congelante. Passaram as noites sentados em frente à lareira, em um clima de puro aconchego.

Foi ali, em frente à lareira, que Renato pediu Alice em casamento. E, com um longo beijo selaram o compromisso de amor. Passaram o fim de semana na casa dos pais de Renato, contemplando as belezas das montanhas catarinense.

           Voltaram ao interior de São Paulo com um grande sorriso nos lábios; iriam começar os preparativos para o casamento. Os pais de Alice ofereceram uma pequena casa, que haviam comprado como investimento, para o casal iniciar sua nova vida. Com tantas coisas a favor, eles eram somente alegria, até que um acidente os paralisou.

             Em um sábado de manhã, um automóvel em uma velocidade muito grande para o local, adentrou ao estacionamento derrubando o sinaleiro e o latão de lixo. No volante estava uma senhora visivelmente nervosa. E, quando abriu a porta para sair, o cão que vinha no banco do passageiro saltou para a rua.

           Alice, que estava em frente a porta de entrada, correu para apanhar o animal, que fugiu rapidamente. Na corrida brusca ela não viu uma motocicleta, que a apanhou e jogou longe. Renato saiu correndo ao seu encontro quando ouviu o barulho da moto derrapando.

Enquanto a moça se contorcia de dores com um grande ferimento em sua perna esquerda, muitas pessoas que estavam nas imediações se aproximaram. Renato, desesperado, gritava para chamarem uma ambulância; era uma emergência com Alice. Ele se abaixou e pediu para ela se acalmar, então, tirou a blusa e comprimiu o ferimento na coxa, que jorrava sangue.


Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

"AMO VOCÊ PORQUE ME FAZ FELIZ E ME COMPLETA, POIS VOCÊ TROUXE AQUELE PEDAÇO DE MIM, QUE EU NEM SABIA QUE ESTAVA FALTANDO". AUTOR DESCONHECIDO

FLORES PARA ALICE

O ENCONTRO

CAPÍTULO UM
          Alice estava eufórica, finalmente chegara o dia do seu casamento. Era uma balzaquiana inveterada, afirmava que nunca iria se casar. Tivera um péssimo exemplo dentro de casa; seus pais brigavam todos os dias e ela ia deitar-se chorando, na maioria das noites. Tinha vergonha dos vizinhos, colegas e amigos, pois a gritaria era um dos principais falatórios das fofoqueiras da rua.

Cresceu assistindo à derrocada do casamento dos pais. Apesar disso tornou-se uma moça bonita e namoradeira, mas quando o namorado falava em casamento ela o dispensava; não queria compromisso. Sua mãe, agora viúva, já desistira de vigiar a moça; era livre para decidir sobre sua vida. Quando ninguém mais esperava, ela começou a namorar um rapaz formado em medicina veterinária.

Ela o conheceu quando seu cão adoeceu; era um cachorro da raça pastor alemão. Ele tinha apenas oito meses, mas era gordo e viçoso. Quando a moça viu seu amigo desmaiado e espumando pela boca, ficou desesperada.  Chegou a clínica veterinária com Platão no colo.

 Alice mal conseguia andar com o cachorro no colo, pois, além de pesado era comprido e balançava suas patas que batiam no joelho da moça. Renato, o novo veterinário, avistou a cena pela vidraça e saiu para ajudar a moça com o animal.

Platão estava comatoso e babando e, a moça, com os olhos cheios de lágrimas, dizia que não sabia o que havia acontecido para ele ficar daquele jeito. Renato pegou o cachorro no colo e o levou para dentro dizendo que ele poderia estar envenenado, se ela sabia de algum bicho que ele poderia ter comido ou algum inseticida que poderia ter sido ingerido.

                A moça ficou pálida e disse que viram um sapo na grama do jardim na noite anterior. Seu irmão tentara apanhá-lo, mas ele sumiu na escuridão. Sim, ele poderia ter atacado o batráquio e até comido, ela não saberia precisar. Renato pegou uma veia da perna de Platão, em seguida colocou soro com remédios e depois foi amparar a cabeça dele, que começou a vomitar.

                Ficou sério e disse para Alice, que era muito bom que vomitasse bastante, assim se livrava de ter que passar uma sonda e sofrer uma lavagem estomacal. Injetou algumas medicações na borracha do soro e depois sentou-se ao lado da moça, que agradeceu a sua atenção.

           O cão vomitou muito, uma baba amarela. Renato disse que era quase certo que Platão comera o sapo. Depois de duas horas e com a visível melhora do cão ele dispensou a moça, dizendo que voltasse pela manhã para ver se poderia dar alta ao animal.

Platão ficara internado na clínica para ser hidratado e se recuperar do agravo sofrido. Alice ficara impressionada com o atendimento dado ao seu cão.   
    
- Renato fora maravilhoso, dissera para sua mãe.

E, com a recuperação do animal ela não tinha mais nada que fazer na clínica. No entanto, o veterinário não saia da cabeça da moça, andava ansiosa para vê-lo. Depois de alguns dias, ela o encontrou na padaria e ele sorriu para ela. Ela se aproximou e após algumas perguntas sobre o cachorro, ele a convidou para sair no sábado.

– Poderiam jantar e depois dançar, disse o rapaz persuasivo.

 Alice concordou sorrindo, era o que mais desejava.

 Um texto de Eva Ibrahim

sexta-feira, 14 de julho de 2017

"CADA PESSOA É AQUILO QUE CRÊ, FALA DO QUE GOSTA, RETÉM O QUE PROCURA, ENSINA O QUE APRENDE, TEM O QUE DÁ E VALE O QUE FAZ..." CHICO XAVIER

AVE DE MAU AGOURO
             O Sol se punha no horizonte, a escuridão aos poucos se instalava no local e mais uma vez, uma coruja grande pousava no galho da mangueira, que ficava ao lado do quarto do casal. Era o terceiro dia seguido que a ave pousava ali e Artur, o marido, pegou a máquina digital e bateu duas fotos da ave, que assustada voou. Luiza disse temer a presença da coruja, pois sempre ouviu dizer que eram aves de péssimo agouro, para os moradores da casa. Artur deu de ombros e sorrindo entrou para mostrar as fotos para as crianças.

           O casal morava na chácara dos pais de Artur, em uma pequena casa ao lado da casa grande. Tinham uma vida tranquila, os dois trabalhavam e a sogra sempre dava uma mão com as crianças, dois meninos. O maior tinha 12 e o menor 02 anos, eram crianças fortes e saudáveis. Eles gostavam de brincar no grande espaço que havia no quintal. Uma chácara cheia de aves, cães, gatos e muitas frutas. Artur era um marido atencioso e bom pai, mas, um tanto nervoso e birrento, dizia Luiza censurando o modo de ser do marido.

            Por diversas vezes voltaram de passeios, que deveriam fazê-los felizes, de cara amarrada um com o outro. Artur discutia e dizia palavrões no trânsito por qualquer motivo e sua esposa sentia medo. Ele era o “machão” que não levava desaforos para casa. Agindo assim, muitas vezes punha em risco a integridade física dele e de sua família. Sua esposa temia sair de casa com ele levando os filhos; as brigas eram constantes.

           Estavam na primavera e o horário de verão deixava as tardes mais longas, demorava a escurecer e, as crianças dormiam mais tarde. Luiza trabalhava em uma padaria e levava o filho menor para a creche, o maior ia para a escola e Artur saia de moto para o trabalho, que ficava em uma concessionaria de automóveis na cidade vizinha. O homem seguia por uma estrada movimentada, com trânsito pesado e palco de muitos acidentes, para chegar ao trabalho.

          Naquele dia corria tudo bem, a mulher com a criança entrou no ônibus e o filho maior saiu andando a pé a caminho da escola. Artur estava atrasado e saiu apressado, teria que acessar a rodovia estadual. Naquele horário da manhã parecia que todos saiam ao mesmo tempo para o trabalho, era o horário de pico.

          O homem seguia concentrado na pista, quando de repente uma perua Kombi encostou-se à motocicleta fechando a sua frente e jogando-o para o acostamento; Artur só não caiu porque não estava correndo. O homem, enfurecido, foi atrás da Perua ofendendo e fazendo gestos obscenos ao motorista. Artur, então, percebeu que havia três homens na condução e não tinham cara de bons amigos, era melhor sair dali ou poderia correr risco; ele ficou com medo.

           O trânsito estava carregado, intenso e logo chegariam ao pedágio, era melhor acelerar. Artur pensou que a situação estava resolvida e respirou fundo; precisava se controlar e lembrou-se de sua família. Passou o pedágio, olhou pelo retrovisor e viu a perua Kombi crescendo atrás de si. Não teve tempo de correr e foi abalroado pelo veículo. Quando Artur caiu, eles fizeram uma manobra para atingir o rapaz e passaram sobre o abdômen dele. Havia ódio nos olhos do motorista da perua; seu propósito era matar Artur.

            A sensação era de morte iminente, diria Artur mais tarde. Por ora, gemia e pedia ajuda a Deus. Ele estava deitado na pista de rolamentos com uma dor lancinante na barriga. A perua saiu disparada em direção à capital e um enorme caminhão brecou quase atingindo a cabeça do rapaz.

            O motorista do caminhão desceu assustado e quando viu o jovem caído na pista se ajoelhou no chão agradecendo á Nossa Senhora Aparecida por ter permitido que o caminhão parasse. A possibilidade de parar de repente era quase nula para o tamanho do veículo. O caminhoneiro ficou ali agradecendo e repetindo que presenciara um milagre.

           Uma moça com vestimenta da concessionária do pedágio sinalizava o local acenando uma bandeira amarela, desviando o trânsito para permitir que o socorro chegasse até ele. Artur sentia dores insuportáveis em sua barriga e percebia que ela crescia muito; ele tinha a sensação que iria estourar, disse depois para sua esposa. Quando sentiu um gosto amargo na boca e o vômito chegou com um líquido amarelo, ele pensou que iria morrer.

            Logo a seguir, apareceu o socorro da concessionária da rodovia que o transferiu à emergência do Hospital.  Com o abdômen distendido foi levado para uma cirurgia de emergência, pois havia muito sangue na cavidade abdominal.

          Deixou o centro cirúrgico e foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva, correndo sério risco de morte, pois tivera duas paradas cardíacas na mesa de cirurgia. Luiza chegou ao Hospital esbaforida pela notícia recebida. E, somente ali ficou sabendo o que realmente havia acontecido. Por muito pouco não se transformou em uma viúva; tremeu de medo, tinha dois filhos para criar. Passou à noite esperando o marido voltar da anestesia, velando seu sono induzido.

          Sua vida toda passou como um filme em sua cabeça, seu medo se tornara realidade. Desejava do fundo do coração que ele nunca mais se envolvesse em brigas de trânsito.

           Amanheceu o dia e a mulher foi para casa dar assistência às crianças e retornou ao Hospital após o almoço. O marido já estava acordado, choroso e cheio de dores. O médico disse que Artur era um homem de muita sorte, pois, por cerca de centímetros não ficaria paraplégico. Estava em um momento difícil, mas ficaria bem.

           Luiza estava sentada ao lado de Artur e comentou a aparição da coruja na árvore ao lado do quarto do casal. Estava explicada a estranha aparição, ela queria avisá-los de que haveria uma desgraça na família. Quando Artur melhorou disse à Luiza que tivera uma estranha experiência na sala de cirurgia.

            Por duas vezes ele viu pessoas fazendo massagens em seu tórax, ele estava fora do corpo. Assustado, ele queria sair dali, mas alguém o empurrava de volta para o corpo inerte na mesa de cirurgia. Artur disse que não sentia dores, apenas queria sair daquele local, mas alguém o mandava de volta, empurrando-o para o corpo cheio de sangue; depois não se lembrava de mais nada.

            Não era hora de morrer, foi à conclusão que o casal chegou. A coruja sumiu, no entanto, mais uma vez, ela fez seu papel de ave de mau agouro.

Um texto de Eva Ibrahim

sábado, 8 de julho de 2017

"SONHAR É VIVER. TRABALHE PELOS SEUS SONHOS; VIVA OS SEUS SONHOS MAIS SECRETOS E ATINJA A FELICIDADE, MESMO QUE SEJA POR APENAS ALGUNS MOMENTOS". AUTOR DESCONHECIDO

ERA UM PISO DE ALGODÃO

             Ainda estava escuro quando o táxi adentrou o pátio do Aeroporto de Viracopos em Campinas, São Paulo; levava apenas uma passageira no banco de trás. Rapidamente o veículo parou junto a guia da plataforma de embarque e a moça abriu a porta, era Veridiana, uma bela mulher de quarenta anos. Estava ansiosa, mal dormira á noite, iria voar pela primeira vez. Tremia só em pensar.

         — Será que o medo vai me impedir de subir no avião? O que a trouxera até ali foi o amor que sentia por Samuel, ele a esperava no fim da linha; tinha que ir ou ele pensaria que ela desistira de tudo.

             Nos últimos dez anos a mulher se dedicara ao trabalho e a criação do casal de gêmeos, que agora eram adolescentes. Artur, seu marido, a abandonara para tentar a sorte no Tio Sam e raramente mandava notícias. Era uma mulher divorciada, solitária e conformada. Mas, um dia conheceu Samuel, ele foi ao escritório em que ela trabalhava e seus olhares se cruzaram de um jeito especial; foi amor à primeira vista. O rapaz voltou outras vezes, até se declarar. A vida parecia mais bonita e tudo mudou para ela, queria ser feliz.

            Seiscentos quilômetros os separavam e o jeito mais rápido de encontrar seu amor era o avião, por isso estava ali, no aeroporto de Viracopos. Na verdade, estava com muito medo, mas, decidida a ir em frente. Seu voo teria duas conexões, era o único que iria até seu destino, a cidade mineira.
             Passou pelo chek in e sua bagagem foi levada pela esteira, agora não poderia desistir. Adentrou a sala de espera e viu muita gente esperando a chamada para o embarque. No salão, bem iluminado, estavam homens, mulheres, crianças, jovens e velhos de diversos lugares e raças diferentes; todos atentos e agindo naturalmente.

          Veridiana procurou um lugar perto de duas mulheres, que conversavam banalidades sobre crianças e seu coração foi se acalmando. A moça sentou-se e fez uma oração aos anjos, prometendo a si mesma que faria uma viagem feliz.

            Alguns aviões subiram e quando chamaram seu voo ela deu um salto e seguiu os passageiros, que se dirigiam ao micro-ônibus que estacionara em frente a saída. Entrou e ficou entre aquelas pessoas se deixando levar. Uma aeromoça sorridente a cumprimentou indicando o caminho. Ao seu lado sentou um Japonês com cara de poucos amigos; certamente voariam calados, pensou a mulher.

            O avião parecia um peixe, comprido e fino; estava lotado. Para atender os clientes havia duas aeromoças muito bonitas; a comissária deu as boas-vindas aos passageiros que estavam a bordo da aeronave. Veridiana pensou que não queria ser mãe de aeromoça ou mulher de piloto, pois, certamente viveria aflita e com o coração nas mãos.

           A mulher ouvia as instruções que o comandante dava pelo microfone antes de levantar voo, mas, lá no fundo estava decepcionada. Pensava que avião era um lugar luxuoso, para gente “chik” e artistas de cinema. Aquele parecia um ônibus comum, com gente comum se preparando para voar; era tudo muito apertado.

           — Onde estaria a magia e o encantamento que sempre imaginou?

          — A aviação perdeu o glamour de Hollywood e passou a ser transporte do povão. A mulher tirava suas conclusões quando o comandante avisou que iriam decolar.

           A aeronave começou a andar lenta, seguia devagar e de repente, vum, subiu rapidamente. Parecia um coletivo interestadual voando, Veridiana esticou o pescoço para olhar as construções diminuírem de tamanho até desaparecer. Sentiu um frio na espinha, era assustador. O japonês recostou na janela impedindo a visão da mulher e logo vieram as aeromoças com os comes e bebes, para distrair os ocupantes do aerobus. Mal acabaram de comer e o comandante avisava da chegada a Curitiba.

           O tempo estava nublado e a temperatura três graus a menos que Campinas; todos os passageiros foram levados ao salão de espera do aeroporto. Depois de uma hora fizeram a chamada para o embarque em outro avião, que os levaria ao Rio de Janeiro. A mulher estava surpresa por não sentir medo, a situação parecia natural; vivia um sonho estranho e real.

            O avião era maior e não poderia ser comparado a um peixe como o primeiro, era mais espaçoso, parecia um ônibus de turismo ou um Tubarão jovem. O comandante avisou que estavam atrasados e por isso voaria em uma velocidade maior. Rapidamente chegaram a região de Angra dos Reis e foram orientados a olhar para ver suas belezas naturais.

          Havia um barulho nos ouvidos da moça, que os cobriu com as mãos; o japonês quebrou o silêncio dizendo que era a velocidade e altitude que provocavam aquela sensação de subida de Serra. Chegaram ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, num voo perfeito.

             Veridiana pensava na situação que se encontrava, passageira de primeira viagem, e chegou à conclusão de que voar é rápido e perigoso, pois aquilo parecia uma panela de pressão. Ali estavam os passageiros e Deus, nada mais importava, não havia saída. Mas, tinha que admitir ser muito bom ser conduzida ás alturas, como os pássaros, planando no ar.

            Lembrou-se da Guerra nas Estrelas, filme que seus pais assistiam quando era pequena. Rapidamente foram orientados a subir em uma Perua e seguir até o outro avião que já estava esperando os passageiros. Veridiana apenas seguia e obedecia aos comandos, parecia um robô, mas quando olhou pela janela do pequeno avião, este era o menor de todos, viu que uma turbina estava preta e comentou com o vizinho de banco, agora um jovem cabeludo.

          — Parece que já pegou fogo. O rapaz fez que sim com a cabeça e enfrentaram outra subida.

           O voo fora estimado em trinta minutos e ficaram admirando a paisagem do Grande Rio; lugares lindos, belezas naturais a encher os olhos. Enquanto eram servidos os lanches foram para cima das nuvens. A moça olhou pela janela e viu um grande piso de algodão branquinho e fofo; havia muita paz e tranquilidade na paisagem.

          — Só pode ser Deus aqui presente, pensou a mulher.

          Naquele momento ela sentiu que a vida é concessão divina e a fragilidade humana não é compatível com a soberba e arrogância dos terrestres. Uma energia superior pairava naquela imensidão de algodão e os passageiros do aerobus apenas observavam calados. Coisas de Deus estavam naquela paisagem linda, inclusive a permissão para seres humanos contemplar aquilo tudo. Veridiana ficara inerte e embevecida com aquele momento mágico, devia isto á Samuel, pois, foi seu amor que a fez subir na aeronave.

             Estava viva e feliz voando por esse mundão azul; a violência está em terra, no alto reina a paz e o silêncio; Veridiana parecia hipnotizada. Voltou a si com a turbulência que ocorreu quando a aeronave baixou das nuvens. Foi anunciada a chegada a Juiz de Fora e a moça agradeceu aos anjos aquela oportunidade.

            Seu coração disparou e a ansiedade aumentou, iria reencontrar Samuel, o homem de sua vida. O avião pousou e quando ela desceu, ele estava acenando na porta de acesso do desembarque. A distância era pequena e Veridiana caiu nos braços do seu amor com muitos beijos e abraços. Seguiram abraçados e ela disse ter feito uma boa viagem, mas, o que ele não sabia é que agora ela era uma nova mulher; mais espiritualizada.

          Uma pessoa mais ciente da presença de Deus e da magia que envolve a vida. Aquele foi um voo para descobertas interiores, que mudaram sua maneira de pensar, porém, naquele momento ela trazia o coração transbordando de amor e só queria ser feliz.

          Depois pensaria com calma naquela visão do paraíso. Uma coisa ficou definida, toda vez que alguém falasse a palavra Céu, ela pensaria naquele piso de algodão tendo a certeza que Deus existe e reina sobre tudo, com muito amor.

UM TEXTO DE EVA IBRAHIM, QUE ESTÁ PUBLICADO NO SITE DO RELEITURAS E NO LIVRO "OUÇA O BARULHO DO VENTO".

sexta-feira, 30 de junho de 2017

"A VIDA É UM MOMENTO, É UM SOPRO. E, A GENTE SÓ LEVA DAQUI O AMOR QUE DEU E RECEBEU, A ALEGRIA, O CARINHO E NADA MAIS".AUTOR DESCONHECIDO

AH! O AMOR

         O casal surgiu no corredor do passeio, que fora desenhado para atravessar o parque. Era um fim de tarde de horário de verão e uma onda de calor imperava em toda a região. As pessoas saiam para passear e aproveitar a fresca dos lugares abertos sombreados por arvoredos.

           Naquela tarde, havia muitas famílias, mulheres com crianças e alguns namorados sentados nos bancos da praça ao redor do lago. As crianças brincavam de pique esconde, jogavam bola na grama e alguns meninos andavam de bicicleta. Um cenário alegre, onde até os cães brincavam de correr com as crianças.

          A mulher, segurando o braço do companheiro, andava a passos lentos; estavam passeando e conversando amistosamente. Ele, um homem alto, loiro, de origem nórdica e ela baixa, gorda de cabelos longos escuros; eram tão diferentes que se completavam. Estavam na meia idade, já passavam dos cinquenta anos. Um casal que fazia parte da paisagem, costumeiramente visto de braços dados pelas ruas do bairro, na Igreja, nas praças e jardins.

A fonte luminosa estava acesa e suas águas dançavam ao sabor do vento quente, que anunciava chuva para mais tarde. O calor era intenso e poucos permaneciam dentro de casa. O verão convidava as pessoas a saírem para caminhadas, sempre no final da tarde. Ora um sorria ora o outro, estavam felizes como dois pombinhos, então, de repente um cachorro surgiu correndo atrás de uma bicicleta e passou esbarrando na mulher, que caiu batendo com a cabeça no chão.

Com um grito ela ficou estirada no cimento duro e da cabeça surgiu um filete de sangue, que descia pela têmpora direita, percorrendo o rosto até as orelhas. Rapidamente o sangue descia formando uma poça do líquido empapando os cabelos. O homem, de nome Ede, se desesperou pedindo ajuda:

- Por favor, levantem a minha mulher, implorava e chorava de correr lágrimas pelo seu rosto. Havia uma dor da alma estampada em seus olhos. Parecia que ele iria ter um ataque súbito, então, em meio a aglomeração formada, apareceu um homem dizendo ter chamado a ambulância, não poderiam mexer na vítima. Era um enfermeiro que estava de folga e permaneceu ao lado da mulher.

                  Outra mulher, com um bebê no colo, ofereceu uma fralda para estancar o sangue do ferimento que havia na cabeça da mulher. Com cuidado, o enfermeiro ergueu a cabeça para ver onde estava o ferimento e, involuntariamente deu um suspiro. Seu rosto demonstrava preocupação; o ferimento fora profundo. Ela batera com a cabeça em uma pedra pontiaguda e o sangramento era intenso. A vítima estava desacordada, não respondia aos chamados, mas tinha pulso e respiração fraca.

                  Com a sirene ligada a ambulância surgiu e todos se afastaram para que a vítima fosse socorrida. Ede, o marido, estava desfigurado, seus olhos vermelhos de tanto chorar, mas não poderia abandonar sua esposa e subiu na ambulância com o coração partido.

                  A ambulância arrancou com a sirene ligada, era uma emergência. Todos se calaram, havia uma tristeza no ar. A tarde estava arruinada e as pessoas começaram a se dispersar; logo começaria a chover. Os relâmpagos começaram a riscar o céu e os estrondos dos trovões a espantar os cães.

          No dia seguinte, algumas notícias de boca a boca surgiram nas redondezas, davam conta de que a mulher sofrera uma intervenção cirúrgica no cérebro, para estancar a hemorragia provocada pelo ferimento. Outros queriam ir à prefeitura pedir a carrocinha para tirar os cães das ruas; já que eram um perigo em potencial. E, um deles fora o causador do acidente.
                  Alguns meses se passaram e ninguém mais se lembrava do ocorrido. No entanto, o tempo trouxera a primavera de volta e para alegria dos frequentadores do parque, a mulher apareceu com o marido Ede. Mas, agora ele empurrava a cadeira de rodas onde ela estava sentada. Ela sobreviveu, mas a lesão no cérebro fora importante e limitava seus movimentos

                  Havia um sorriso no rosto de Ede, que empurrava seu amor com todo o carinho. Ele sentou-se em um banco em frente a fonte luminosa, no mesmo lugar do acidente e pegando nas mãos da mulher a beijou calorosamente; o amor continuava o mesmo.

                  Então, passou uma carrocinha vendendo sorvetes e ele passou a dividir um sorvete com a sua amada. A cada lambida uma nova promessa de amor; eles se bastavam. Ah! O amor, o sentimento que nos faz humanos.

 Um texto de Eva Ibrahim
MEU MUNDO REINVENTADO.

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