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sábado, 8 de julho de 2017

"SONHAR É VIVER. TRABALHE PELOS SEUS SONHOS; VIVA OS SEUS SONHOS MAIS SECRETOS E ATINJA A FELICIDADE, MESMO QUE SEJA POR APENAS ALGUNS MOMENTOS". AUTOR DESCONHECIDO

ERA UM PISO DE ALGODÃO

             Ainda estava escuro quando o táxi adentrou o pátio do Aeroporto de Viracopos em Campinas, São Paulo; levava apenas uma passageira no banco de trás. Rapidamente o veículo parou junto a guia da plataforma de embarque e a moça abriu a porta, era Veridiana, uma bela mulher de quarenta anos. Estava ansiosa, mal dormira á noite, iria voar pela primeira vez. Tremia só em pensar.

         — Será que o medo vai me impedir de subir no avião? O que a trouxera até ali foi o amor que sentia por Samuel, ele a esperava no fim da linha; tinha que ir ou ele pensaria que ela desistira de tudo.

             Nos últimos dez anos a mulher se dedicara ao trabalho e a criação do casal de gêmeos, que agora eram adolescentes. Artur, seu marido, a abandonara para tentar a sorte no Tio Sam e raramente mandava notícias. Era uma mulher divorciada, solitária e conformada. Mas, um dia conheceu Samuel, ele foi ao escritório em que ela trabalhava e seus olhares se cruzaram de um jeito especial; foi amor à primeira vista. O rapaz voltou outras vezes, até se declarar. A vida parecia mais bonita e tudo mudou para ela, queria ser feliz.

            Seiscentos quilômetros os separavam e o jeito mais rápido de encontrar seu amor era o avião, por isso estava ali, no aeroporto de Viracopos. Na verdade, estava com muito medo, mas, decidida a ir em frente. Seu voo teria duas conexões, era o único que iria até seu destino, a cidade mineira.
             Passou pelo chek in e sua bagagem foi levada pela esteira, agora não poderia desistir. Adentrou a sala de espera e viu muita gente esperando a chamada para o embarque. No salão, bem iluminado, estavam homens, mulheres, crianças, jovens e velhos de diversos lugares e raças diferentes; todos atentos e agindo naturalmente.

          Veridiana procurou um lugar perto de duas mulheres, que conversavam banalidades sobre crianças e seu coração foi se acalmando. A moça sentou-se e fez uma oração aos anjos, prometendo a si mesma que faria uma viagem feliz.

            Alguns aviões subiram e quando chamaram seu voo ela deu um salto e seguiu os passageiros, que se dirigiam ao micro-ônibus que estacionara em frente a saída. Entrou e ficou entre aquelas pessoas se deixando levar. Uma aeromoça sorridente a cumprimentou indicando o caminho. Ao seu lado sentou um Japonês com cara de poucos amigos; certamente voariam calados, pensou a mulher.

            O avião parecia um peixe, comprido e fino; estava lotado. Para atender os clientes havia duas aeromoças muito bonitas; a comissária deu as boas-vindas aos passageiros que estavam a bordo da aeronave. Veridiana pensou que não queria ser mãe de aeromoça ou mulher de piloto, pois, certamente viveria aflita e com o coração nas mãos.

           A mulher ouvia as instruções que o comandante dava pelo microfone antes de levantar voo, mas, lá no fundo estava decepcionada. Pensava que avião era um lugar luxuoso, para gente “chik” e artistas de cinema. Aquele parecia um ônibus comum, com gente comum se preparando para voar; era tudo muito apertado.

           — Onde estaria a magia e o encantamento que sempre imaginou?

          — A aviação perdeu o glamour de Hollywood e passou a ser transporte do povão. A mulher tirava suas conclusões quando o comandante avisou que iriam decolar.

           A aeronave começou a andar lenta, seguia devagar e de repente, vum, subiu rapidamente. Parecia um coletivo interestadual voando, Veridiana esticou o pescoço para olhar as construções diminuírem de tamanho até desaparecer. Sentiu um frio na espinha, era assustador. O japonês recostou na janela impedindo a visão da mulher e logo vieram as aeromoças com os comes e bebes, para distrair os ocupantes do aerobus. Mal acabaram de comer e o comandante avisava da chegada a Curitiba.

           O tempo estava nublado e a temperatura três graus a menos que Campinas; todos os passageiros foram levados ao salão de espera do aeroporto. Depois de uma hora fizeram a chamada para o embarque em outro avião, que os levaria ao Rio de Janeiro. A mulher estava surpresa por não sentir medo, a situação parecia natural; vivia um sonho estranho e real.

            O avião era maior e não poderia ser comparado a um peixe como o primeiro, era mais espaçoso, parecia um ônibus de turismo ou um Tubarão jovem. O comandante avisou que estavam atrasados e por isso voaria em uma velocidade maior. Rapidamente chegaram a região de Angra dos Reis e foram orientados a olhar para ver suas belezas naturais.

          Havia um barulho nos ouvidos da moça, que os cobriu com as mãos; o japonês quebrou o silêncio dizendo que era a velocidade e altitude que provocavam aquela sensação de subida de Serra. Chegaram ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, num voo perfeito.

             Veridiana pensava na situação que se encontrava, passageira de primeira viagem, e chegou à conclusão de que voar é rápido e perigoso, pois aquilo parecia uma panela de pressão. Ali estavam os passageiros e Deus, nada mais importava, não havia saída. Mas, tinha que admitir ser muito bom ser conduzida ás alturas, como os pássaros, planando no ar.

            Lembrou-se da Guerra nas Estrelas, filme que seus pais assistiam quando era pequena. Rapidamente foram orientados a subir em uma Perua e seguir até o outro avião que já estava esperando os passageiros. Veridiana apenas seguia e obedecia aos comandos, parecia um robô, mas quando olhou pela janela do pequeno avião, este era o menor de todos, viu que uma turbina estava preta e comentou com o vizinho de banco, agora um jovem cabeludo.

          — Parece que já pegou fogo. O rapaz fez que sim com a cabeça e enfrentaram outra subida.

           O voo fora estimado em trinta minutos e ficaram admirando a paisagem do Grande Rio; lugares lindos, belezas naturais a encher os olhos. Enquanto eram servidos os lanches foram para cima das nuvens. A moça olhou pela janela e viu um grande piso de algodão branquinho e fofo; havia muita paz e tranquilidade na paisagem.

          — Só pode ser Deus aqui presente, pensou a mulher.

          Naquele momento ela sentiu que a vida é concessão divina e a fragilidade humana não é compatível com a soberba e arrogância dos terrestres. Uma energia superior pairava naquela imensidão de algodão e os passageiros do aerobus apenas observavam calados. Coisas de Deus estavam naquela paisagem linda, inclusive a permissão para seres humanos contemplar aquilo tudo. Veridiana ficara inerte e embevecida com aquele momento mágico, devia isto á Samuel, pois, foi seu amor que a fez subir na aeronave.

             Estava viva e feliz voando por esse mundão azul; a violência está em terra, no alto reina a paz e o silêncio; Veridiana parecia hipnotizada. Voltou a si com a turbulência que ocorreu quando a aeronave baixou das nuvens. Foi anunciada a chegada a Juiz de Fora e a moça agradeceu aos anjos aquela oportunidade.

            Seu coração disparou e a ansiedade aumentou, iria reencontrar Samuel, o homem de sua vida. O avião pousou e quando ela desceu, ele estava acenando na porta de acesso do desembarque. A distância era pequena e Veridiana caiu nos braços do seu amor com muitos beijos e abraços. Seguiram abraçados e ela disse ter feito uma boa viagem, mas, o que ele não sabia é que agora ela era uma nova mulher; mais espiritualizada.

          Uma pessoa mais ciente da presença de Deus e da magia que envolve a vida. Aquele foi um voo para descobertas interiores, que mudaram sua maneira de pensar, porém, naquele momento ela trazia o coração transbordando de amor e só queria ser feliz.

          Depois pensaria com calma naquela visão do paraíso. Uma coisa ficou definida, toda vez que alguém falasse a palavra Céu, ela pensaria naquele piso de algodão tendo a certeza que Deus existe e reina sobre tudo, com muito amor.

UM TEXTO DE EVA IBRAHIM, QUE ESTÁ PUBLICADO NO SITE DO RELEITURAS E NO LIVRO "OUÇA O BARULHO DO VENTO".

sexta-feira, 30 de junho de 2017

"A VIDA É UM MOMENTO, É UM SOPRO. E, A GENTE SÓ LEVA DAQUI O AMOR QUE DEU E RECEBEU, A ALEGRIA, O CARINHO E NADA MAIS".AUTOR DESCONHECIDO

AH! O AMOR

         O casal surgiu no corredor do passeio, que fora desenhado para atravessar o parque. Era um fim de tarde de horário de verão e uma onda de calor imperava em toda a região. As pessoas saiam para passear e aproveitar a fresca dos lugares abertos sombreados por arvoredos.

           Naquela tarde, havia muitas famílias, mulheres com crianças e alguns namorados sentados nos bancos da praça ao redor do lago. As crianças brincavam de pique esconde, jogavam bola na grama e alguns meninos andavam de bicicleta. Um cenário alegre, onde até os cães brincavam de correr com as crianças.

          A mulher, segurando o braço do companheiro, andava a passos lentos; estavam passeando e conversando amistosamente. Ele, um homem alto, loiro, de origem nórdica e ela baixa, gorda de cabelos longos escuros; eram tão diferentes que se completavam. Estavam na meia idade, já passavam dos cinquenta anos. Um casal que fazia parte da paisagem, costumeiramente visto de braços dados pelas ruas do bairro, na Igreja, nas praças e jardins.

A fonte luminosa estava acesa e suas águas dançavam ao sabor do vento quente, que anunciava chuva para mais tarde. O calor era intenso e poucos permaneciam dentro de casa. O verão convidava as pessoas a saírem para caminhadas, sempre no final da tarde. Ora um sorria ora o outro, estavam felizes como dois pombinhos, então, de repente um cachorro surgiu correndo atrás de uma bicicleta e passou esbarrando na mulher, que caiu batendo com a cabeça no chão.

Com um grito ela ficou estirada no cimento duro e da cabeça surgiu um filete de sangue, que descia pela têmpora direita, percorrendo o rosto até as orelhas. Rapidamente o sangue descia formando uma poça do líquido empapando os cabelos. O homem, de nome Ede, se desesperou pedindo ajuda:

- Por favor, levantem a minha mulher, implorava e chorava de correr lágrimas pelo seu rosto. Havia uma dor da alma estampada em seus olhos. Parecia que ele iria ter um ataque súbito, então, em meio a aglomeração formada, apareceu um homem dizendo ter chamado a ambulância, não poderiam mexer na vítima. Era um enfermeiro que estava de folga e permaneceu ao lado da mulher.

                  Outra mulher, com um bebê no colo, ofereceu uma fralda para estancar o sangue do ferimento que havia na cabeça da mulher. Com cuidado, o enfermeiro ergueu a cabeça para ver onde estava o ferimento e, involuntariamente deu um suspiro. Seu rosto demonstrava preocupação; o ferimento fora profundo. Ela batera com a cabeça em uma pedra pontiaguda e o sangramento era intenso. A vítima estava desacordada, não respondia aos chamados, mas tinha pulso e respiração fraca.

                  Com a sirene ligada a ambulância surgiu e todos se afastaram para que a vítima fosse socorrida. Ede, o marido, estava desfigurado, seus olhos vermelhos de tanto chorar, mas não poderia abandonar sua esposa e subiu na ambulância com o coração partido.

                  A ambulância arrancou com a sirene ligada, era uma emergência. Todos se calaram, havia uma tristeza no ar. A tarde estava arruinada e as pessoas começaram a se dispersar; logo começaria a chover. Os relâmpagos começaram a riscar o céu e os estrondos dos trovões a espantar os cães.

          No dia seguinte, algumas notícias de boca a boca surgiram nas redondezas, davam conta de que a mulher sofrera uma intervenção cirúrgica no cérebro, para estancar a hemorragia provocada pelo ferimento. Outros queriam ir à prefeitura pedir a carrocinha para tirar os cães das ruas; já que eram um perigo em potencial. E, um deles fora o causador do acidente.
                  Alguns meses se passaram e ninguém mais se lembrava do ocorrido. No entanto, o tempo trouxera a primavera de volta e para alegria dos frequentadores do parque, a mulher apareceu com o marido Ede. Mas, agora ele empurrava a cadeira de rodas onde ela estava sentada. Ela sobreviveu, mas a lesão no cérebro fora importante e limitava seus movimentos

                  Havia um sorriso no rosto de Ede, que empurrava seu amor com todo o carinho. Ele sentou-se em um banco em frente a fonte luminosa, no mesmo lugar do acidente e pegando nas mãos da mulher a beijou calorosamente; o amor continuava o mesmo.

                  Então, passou uma carrocinha vendendo sorvetes e ele passou a dividir um sorvete com a sua amada. A cada lambida uma nova promessa de amor; eles se bastavam. Ah! O amor, o sentimento que nos faz humanos.

 Um texto de Eva Ibrahim

sexta-feira, 23 de junho de 2017

"DEUS SEMPRE SOPRA ALGO BOM EM NOSSA DIREÇÃO, BASTA VOCÊ SENTIR ESTE TOQUE, SEJA NA ALMA OU NO CORAÇÃO" CLAUDIA ROMANOLI

LADO A LADO
 CAPÍTULO CINCO
            Jardel saiu satisfeito de sua casa, as suas coisas e as coisas de Lídia estavam bem cuidadas. Ele não pensava em se desfazer de nada que havia ali, apenas pediu à sua sogra que doasse as roupas e objetos pessoais de sua finada mulher, pois ele ficava triste ao ver tudo aquilo. Os móveis e eletrodomésticos foram pouco usados, estavam intactos ainda. O casal passou muito tempo no hospital, por isso tudo ali tinha aparência de novo.

Ele seguiu andando e quando deu por si estava cantarolando, sentiu culpa por estar alegre, seu luto era recente. Jardel ia muito pouco à sua casa, pois não queria que pensassem mal dele, ou comprometer a reputação de Larissa. No entanto, quase todos os dias dava uma passada no hospital para ver se estava tudo bem. Adorava a companhia da moça e tinha carinho por João.

O menino se recuperava rapidamente e o médico disse que logo ele teria alta da fonoaudióloga, poderia seguir para sua terra e continuar o tratamento lá mesmo. Larissa ficou triste, estava muito bem na casa de Jardel, mas teria que voltar ao trabalho e a sua rotina. Depois de quarenta dias convivendo com o rapaz, ela sabia que sentiria sua falta; ele já era muito importante para ela.

Na segunda feira de manhã ela se foi, depois de abraçar o rapaz e lhe dar um beijo tímido. Ele entendeu o recado, mas ainda era muito cedo para se manifestar. Daria tempo ao tempo, tinha o endereço dela e dentro de um mês ela retornaria ao hospital. A separação faria bem aos dois, que poderiam avaliar a importância que tinham um para o outro.

                 Jardel ficou muito solitário, acumulou duas perdas seguidas. Foi algumas vezes ao cemitério e outras à Igreja, mas nada preenchia aquele vazio que se tornara sua vida. Pensava em Larissa com um sentimento de carinho e, em Lídia com saudades. Lá no fundo guardava mágoa por ela tê-lo deixado tão cedo. Não viveram a vida de casados que haviam planejado, ficou uma lacuna no coração de Jardel.

                 Suas noites eram cheias de pesadelos. Algumas vezes, acordava suando e tremendo com medo de que sua mulher morresse, fato já acontecido. Então, sentava-se na cama e desejava que Larissa estivesse ali; precisava da companhia da amiga, que estivera ao seu lado naquele momento tão difícil de sua vida.

          O mês passou rápido e a moça com o filho chegaram a cidade novamente, tinham consulta de retorno com o médico otorrino. Ele sabia de sua chegada e tratou de convidá-la para jantar. Depois do jantar foram para a casa de Jardel, o menino precisava dormir, já estava tarde para uma criança.

Ficaram assistindo televisão e a moça acabou adormecendo no sofá. Jardel ficou penalizado em vê-la dormir ali e a acordou para ir dormir na cama dele. Os dois deitaram-se lado a lado e quando se viram tão perto se beijaram e a noite foi um sonho de amor para ambos.

Quando o dia amanheceu eles sabiam que não se separariam mais. O encontro foi preparado por Deus e eles ficariam juntos para sempre. Tinham duas crianças para criar e um grande sentimento de amor crescendo entre eles. Estavam predestinados para viver lado a lado e encontrar a felicidade tão desejada.

Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

"DEUS NOS DÁ PESSOAS E COISAS, PARA APRENDERMOS A ALEGRIA... DEPOIS RETOMA COISAS E PESSOAS PARA VER SE JÁ SOMOS CAPAZES DA ALEGRIA SOZINHOS... ESSA É A ALEGRIA QUE ELE QUER..." JOÃO GUIMARÃES ROSA.

FONTE DE LUZ

CAPÍTULO QUATRO
            Jardel saiu sem rumo, trazia um vazio em seu coração. O Sol continuava a brilhar, as flores estavam em seus lugares, mas seu mundo parecia escuro e sem brilho. Pensou em ver a filha pequena, que estava com a avó. Rebeca era uma criança esperta com apenas seis meses de idade e já perdera a mãe. Pensou em Lídia que não veria a menina crescer e duas lágrimas caíram de seus olhos.

              Chegou a casa de sua mãe e pegou a menina no colo, então, sentiu o peso de sua responsabilidade. Aquele pequeno ser dependia dele, que estava acabado emocionalmente, depois de tantos sofrimentos. Teria que buscar forças para recuperar-se.

            Passou a tarde ali, sentia-se seguro na casa de sua mãe e ao lado da filha querida. Já estava escurecendo quando ele saiu dizendo que iria caminhar um pouco. Queria tomar a fresca da noite para pôr as ideias no lugar.

                 Seus passos o levaram instintivamente ao Hospital e quando viu onde estava, sentiu um arrepio, sua mulher estava morta. No entanto, lembrou-se de Larissa e seu filho, precisava saber deles. Já conhecia o caminho, pois estivera ali nos últimos três meses.

             O rapaz hesitou por um instante, mas, em seguida entrou e bateu na porta do quarto da criança. Ninguém atendeu, então abriu a porta devagar; Larissa e o filho estavam adormecidos; ela estava na poltrona e o menino na cama. Jardel ficou olhando com pena de acordá-la; porém, ela pressentiu sua presença e abriu os olhos.
Levantou-se e o abraçou carinhosamente.

                - Está melhor? Descansou? Disse com um leve sorriso, estava feliz em vê-lo novamente.
                - Sim, vim agradecer pelo café; você foi muito gentil. Obrigada.
                 O menino acordou e Jardel se dirigiu a ele.
                - Qual é o seu nome?
                - João Luís e distraiu-se com um brinquedo no berço.

                Larissa estava feliz, seu filho iria ter alta na manhã seguinte, porém havia uma ruga de preocupação em sua testa.

               - Qual é o seu problema? Posso ajuda-la?

                A moça então lhe disse que teria que ir para sua casa em outra cidade. E, voltar três vezes por semana, durante um mês, para fazer fonoaudiologia no Hospital. Morava longe e ficaria muito caro para ela fazer tantas viagens.

                Jardel lembrou-se da solidariedade da moça e ofereceu a ela para se hospedar em sua casa, ele ficaria na casa de sua mãe enquanto durasse o tratamento do João. Não queria que pensassem mal deles, pois acabara de enterrar Lídia.

                Alguns dias se passaram e quando Jardel voltou a sua casa para pegar uma ferramenta de trabalho, ficou admirado ao ver a limpeza e arrumação, que a moça tinha realizado em sua casa. Havia um vaso com flores sobre a mesa, comida feita no fogão e um cheiro agradável de perfume por toda parte. O viúvo respirou fundo, sua casa voltara à vida e ele ainda precisava viver o luto, que a morte de Lídia deixara em seu coração.

             Cumprimentou Larissa com um abraço e um beijo na testa, depois perguntou sobre a saúde de João e ela lhe agradeceu novamente; estava tudo bem. Quando deixou a casa teve a sensação de que ali estava sua fonte de luz, para voltar a viver.
Um texto de Eva Ibrahim.
               

sexta-feira, 9 de junho de 2017

"É CLARO QUE A CULPA É SUA, POIS FOI O SEU ABRAÇO, QUE TIROU A GRAÇA DE TODOS OS OUTROS" AUTOR DESCONHECIDO

RECOLHENDO OS CACOS
CAPÍTULO TRÊS
Dentro daqueles braços ele sentia-se seguro e desabou a chorar; precisava do colo da amiga. Uma amizade recente, mas nascida da solidariedade e muito importante para ambos. A moça estava ali para lhe dar o que ele mais precisava naquele momento, carinho e silêncio. Jardel tinha um nó na garganta e não conseguia falar nada; estava tomado pela emoção.

Dirigiu seu automóvel entre lágrimas e vez ou outra um soluço era sentido; o único som humano que havia ali. Nenhuma palavra foi dita durante o trajeto; era desnecessário. Quando chegaram a sua casa, que estava fechada, ele pediu que Larissa entrasse com ele. Ela concordou, não poderia deixa-lo sozinho naquele momento.

O rapaz, desfigurado pela dor que trazia na alma, jogou-se no sofá; estava exausto. Ela olhou ao redor e sentiu pena de tudo aquilo. Uma casa nova, bem arrumada, cheia de poeira e com jeito de abandono. Um lar destruído pela doença; perdera a função, era apenas uma casa.

Enquanto ela foi até a cozinha e olhou a geladeira para ver se havia algum alimento para servir ao amigo, Jardel adormeceu, as emoções foram muitas. Não havia quase nada para comer naquele local e ela se preocupou em comprar alguma coisa para ele comer quando acordasse. Saiu sem fazer barulho e voltou rapidamente, pois, havia uma padaria na esquina da casa de Jardel.

O telefone tocou e ela ficou sem saber se iria atender ou não; finalmente resolveu atender. Era a mãe do rapaz, queria saber como estava e convidá-lo para jantar. Ela se apresentou como uma amiga e disse que ele adormecera. Iria fazer alguma coisa para ele comer quando acordasse e depois voltaria ao Hospital ver o filho, que estava internado se recuperando da cirurgia. A mãe agradeceu e disse que ele já havia falado do caso do filho dela durante o velório e contando do apoio recebido.

                Larissa comprou pães, frios e fez café; preparou a mesa para quando Jardel acordasse. Deixou um bilhete dizendo que estaria no Hospital caso precisasse dela. Ajeitou um cobertor sobre ele, apagou as luzes, saiu e jogou as chaves por debaixo da porta.

                  O cansaço era grande e Jardel dormiu sem se movimentar. Acordou quando o Sol bateu em seu rosto pela fresta da vidraça. De um pulo, sentou-se no sofá, então, a realidade surgiu nua, trazendo todo aquele sofrimento de volta. Estava tudo acabado, sua esposa se fora e agora ele tinha uma filha para criar e muitos cacos para recolher. 
   
          Sentiu-se sujo, ainda estava com as roupas do dia anterior e lembrou-se do cemitério e de sua caminhada até o túmulo, onde o corpo de Lídia ficara enterrado. Pensou na filha, que estava com a avó e desejou que estivesse bem; outra hora iria ver a menina. Agora precisava tomar um banho, comer alguma coisa, seu estômago estava vazio e dolorido. Em seguida levantou-se, olhou e viu o bilhete, a mesa posta e sorriu, alguém pensara nele.

Lembrou-se de Larissa e do abraço que recebera, depois iria até o Hospital para saber do menino. A moça lhe inspirava carinho, havia um sentimento bom crescendo em relação a ela. No entanto, precisava recolher os cacos de sua vida antes de qualquer outra coisa.

 Um texto de Eva Ibrahim

sexta-feira, 2 de junho de 2017

"AS VEZES, DEUS ACALMA AS TEMPESTADES, OUTRAS VEZES, ELE ACALMA O MARINHEIRO OU, AINDA, NOS ENSINA A NADAR". AUTOR DESCONHECIDO

NO SILÊNCIO DA DOR

CAPÍTULO DOIS
           Todos saíram e deixaram o marido se despedir da esposa; era um momento único, onde a vida se confunde com a morte. Jardel chorou contido, pediu para Lídia não o abandonar, que tinham uma filha para criar; precisava dela. Como ela não respondia, revoltou-se contra Deus, blasfemou e depois chorou mais um pouco, abraçado ao corpo inerte da mulher amada.

          Ficou assim por algum tempo, até quando os familiares chegaram. Seu irmão tomou as atitudes práticas sobre o velório e o enterro; ele estava sem cabeça, disse ao se justificar. Jardel sentia-se perdido, em estado de choque. Mal conseguia coordenar seus pensamentos; havia um turbilhão de sentimentos dentro de seu coração e, todos em atritos.

            Seu irmão tratou de tirá-lo dali e o conduziu à sua casa, deveria tomar banho e se alimentar, porque a seguir viriam horas difíceis para todos, mas principalmente para o viúvo.
- Viúvo! Que palavra horrível, exclamou Jardel.

          - Sim, agora você está sozinho e com uma criança para cuidar, concluiu seu irmão.

               O rapaz sentou-se, parecia ter sido chacoalhado até juntar as emoções e cair na realidade. Foi então, que um nó se formou em sua garganta e o choro saiu fácil; em soluços de dor e lágrimas, há muito contidas. Lembrou-se de Lídia estirada na cama, estava pálida e fria, parecia um corpo de cera. Uma amargura tomou conta de seu pensamento.

              – Que vida ingrata! Suspirou Jardel. Lhe dera um amor e o tirara tão rapidamente e de uma maneira tão triste, que seu coração gemia como um lamento. Havia um silêncio de dor em sua alma. Aquele dia ficaria gravado em sua vida como sendo o mais cinzento de todos já vividos.

           Ainda não tinham completado três anos de casados e já tinham vivido alegrias e tristezas. A alegria do casamento, a lua de mel, a notícia da gravidez e depois o nascimento da filha, eram lembranças que clareavam seu coração e o sorriso brotava em sua boca.

            No entanto, a notícia da doença de Lídia, a quimioterapia, radioterapia, a inutilidade do tratamento e a evolução rápida da doença o deixavam destruído e no chão. Não conseguia entender porque a sua mulher, que era tão jovem, partira deixando uma criança tão pequena, sozinha. E, ele também não queria ficar só e viúvo. Essa tarja imposta a ele, parecia tão pesada, que tinha vontade de sumir.

               Tomou café e comeu um pedaço de pão, que desceu raspando em sua garganta; havia uma aversão aos alimentos quando se lembrava da situação em que se encontrava. Teria que ficar ao lado do caixão e depois acompanhar o cortejo até o túmulo, era seu último adeus à Lídia.

               Jardel pensou em Larissa, queria que ela estivesse ao seu lado naquele momento. No entanto, foi a própria moça quem o alertou para o falatório que surgiria se ela ficasse ao seu lado.

           – Não vou ao velório, mesmo que puder, os parentes e amigos da defunta vão interpretar mal a nossa amizade. Afirmou Larissa, dando um longo abraço em Jardel.

O viúvo ficou olhando baixar o caixão e sua mãe lhe colocou uma flor nas mãos, dizendo para que jogasse sobre o caixão. Ele se virou surpreso.

 –Para que isso?  E, sua mãe respondeu.

 –É seu último adeus à Lídia.

Ele atirou a flor em meio a muitas outras e ficou parado olhando o coveiro atirar terra sobre o ataúde. Enquanto isso, o Sol se punha no horizonte enquanto as pessoas consternadas, iam se retirando do local. E, a paz com tons de tristeza tomava conta do ambiente, então, o coveiro bateu em seu ombro convidando-o a segui-lo.

- Vou fechar o cemitério, já é tarde.

Jardel acompanhou o homem e quando se aproximou do automóvel viu que havia uma pessoa esperando por ele. Era Larissa, que o acolheu de braços abertos e com as mãos foi afagando seus cabelos.

Um texto de Eva Ibrahim
MEU MUNDO REINVENTADO.

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