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sexta-feira, 30 de junho de 2017

"A VIDA É UM MOMENTO, É UM SOPRO. E, A GENTE SÓ LEVA DAQUI O AMOR QUE DEU E RECEBEU, A ALEGRIA, O CARINHO E NADA MAIS".AUTOR DESCONHECIDO

AH! O AMOR

         O casal surgiu no corredor do passeio, que fora desenhado para atravessar o parque. Era um fim de tarde de horário de verão e uma onda de calor imperava em toda a região. As pessoas saiam para passear e aproveitar a fresca dos lugares abertos sombreados por arvoredos.

           Naquela tarde, havia muitas famílias, mulheres com crianças e alguns namorados sentados nos bancos da praça ao redor do lago. As crianças brincavam de pique esconde, jogavam bola na grama e alguns meninos andavam de bicicleta. Um cenário alegre, onde até os cães brincavam de correr com as crianças.

          A mulher, segurando o braço do companheiro, andava a passos lentos; estavam passeando e conversando amistosamente. Ele, um homem alto, loiro, de origem nórdica e ela baixa, gorda de cabelos longos escuros; eram tão diferentes que se completavam. Estavam na meia idade, já passavam dos cinquenta anos. Um casal que fazia parte da paisagem, costumeiramente visto de braços dados pelas ruas do bairro, na Igreja, nas praças e jardins.

A fonte luminosa estava acesa e suas águas dançavam ao sabor do vento quente, que anunciava chuva para mais tarde. O calor era intenso e poucos permaneciam dentro de casa. O verão convidava as pessoas a saírem para caminhadas, sempre no final da tarde. Ora um sorria ora o outro, estavam felizes como dois pombinhos, então, de repente um cachorro surgiu correndo atrás de uma bicicleta e passou esbarrando na mulher, que caiu batendo com a cabeça no chão.

Com um grito ela ficou estirada no cimento duro e da cabeça surgiu um filete de sangue, que descia pela têmpora direita, percorrendo o rosto até as orelhas. Rapidamente o sangue descia formando uma poça do líquido empapando os cabelos. O homem, de nome Ede, se desesperou pedindo ajuda:

- Por favor, levantem a minha mulher, implorava e chorava de correr lágrimas pelo seu rosto. Havia uma dor da alma estampada em seus olhos. Parecia que ele iria ter um ataque súbito, então, em meio a aglomeração formada, apareceu um homem dizendo ter chamado a ambulância, não poderiam mexer na vítima. Era um enfermeiro que estava de folga e permaneceu ao lado da mulher.

                  Outra mulher, com um bebê no colo, ofereceu uma fralda para estancar o sangue do ferimento que havia na cabeça da mulher. Com cuidado, o enfermeiro ergueu a cabeça para ver onde estava o ferimento e, involuntariamente deu um suspiro. Seu rosto demonstrava preocupação; o ferimento fora profundo. Ela batera com a cabeça em uma pedra pontiaguda e o sangramento era intenso. A vítima estava desacordada, não respondia aos chamados, mas tinha pulso e respiração fraca.

                  Com a sirene ligada a ambulância surgiu e todos se afastaram para que a vítima fosse socorrida. Ede, o marido, estava desfigurado, seus olhos vermelhos de tanto chorar, mas não poderia abandonar sua esposa e subiu na ambulância com o coração partido.

                  A ambulância arrancou com a sirene ligada, era uma emergência. Todos se calaram, havia uma tristeza no ar. A tarde estava arruinada e as pessoas começaram a se dispersar; logo começaria a chover. Os relâmpagos começaram a riscar o céu e os estrondos dos trovões a espantar os cães.

          No dia seguinte, algumas notícias de boca a boca surgiram nas redondezas, davam conta de que a mulher sofrera uma intervenção cirúrgica no cérebro, para estancar a hemorragia provocada pelo ferimento. Outros queriam ir à prefeitura pedir a carrocinha para tirar os cães das ruas; já que eram um perigo em potencial. E, um deles fora o causador do acidente.
                  Alguns meses se passaram e ninguém mais se lembrava do ocorrido. No entanto, o tempo trouxera a primavera de volta e para alegria dos frequentadores do parque, a mulher apareceu com o marido Ede. Mas, agora ele empurrava a cadeira de rodas onde ela estava sentada. Ela sobreviveu, mas a lesão no cérebro fora importante e limitava seus movimentos

                  Havia um sorriso no rosto de Ede, que empurrava seu amor com todo o carinho. Ele sentou-se em um banco em frente a fonte luminosa, no mesmo lugar do acidente e pegando nas mãos da mulher a beijou calorosamente; o amor continuava o mesmo.

                  Então, passou uma carrocinha vendendo sorvetes e ele passou a dividir um sorvete com a sua amada. A cada lambida uma nova promessa de amor; eles se bastavam. Ah! O amor, o sentimento que nos faz humanos.

 Um texto de Eva Ibrahim

sexta-feira, 23 de junho de 2017

"DEUS SEMPRE SOPRA ALGO BOM EM NOSSA DIREÇÃO, BASTA VOCÊ SENTIR ESTE TOQUE, SEJA NA ALMA OU NO CORAÇÃO" CLAUDIA ROMANOLI

LADO A LADO
 CAPÍTULO CINCO
            Jardel saiu satisfeito de sua casa, as suas coisas e as coisas de Lídia estavam bem cuidadas. Ele não pensava em se desfazer de nada que havia ali, apenas pediu à sua sogra que doasse as roupas e objetos pessoais de sua finada mulher, pois ele ficava triste ao ver tudo aquilo. Os móveis e eletrodomésticos foram pouco usados, estavam intactos ainda. O casal passou muito tempo no hospital, por isso tudo ali tinha aparência de novo.

Ele seguiu andando e quando deu por si estava cantarolando, sentiu culpa por estar alegre, seu luto era recente. Jardel ia muito pouco à sua casa, pois não queria que pensassem mal dele, ou comprometer a reputação de Larissa. No entanto, quase todos os dias dava uma passada no hospital para ver se estava tudo bem. Adorava a companhia da moça e tinha carinho por João.

O menino se recuperava rapidamente e o médico disse que logo ele teria alta da fonoaudióloga, poderia seguir para sua terra e continuar o tratamento lá mesmo. Larissa ficou triste, estava muito bem na casa de Jardel, mas teria que voltar ao trabalho e a sua rotina. Depois de quarenta dias convivendo com o rapaz, ela sabia que sentiria sua falta; ele já era muito importante para ela.

Na segunda feira de manhã ela se foi, depois de abraçar o rapaz e lhe dar um beijo tímido. Ele entendeu o recado, mas ainda era muito cedo para se manifestar. Daria tempo ao tempo, tinha o endereço dela e dentro de um mês ela retornaria ao hospital. A separação faria bem aos dois, que poderiam avaliar a importância que tinham um para o outro.

                 Jardel ficou muito solitário, acumulou duas perdas seguidas. Foi algumas vezes ao cemitério e outras à Igreja, mas nada preenchia aquele vazio que se tornara sua vida. Pensava em Larissa com um sentimento de carinho e, em Lídia com saudades. Lá no fundo guardava mágoa por ela tê-lo deixado tão cedo. Não viveram a vida de casados que haviam planejado, ficou uma lacuna no coração de Jardel.

                 Suas noites eram cheias de pesadelos. Algumas vezes, acordava suando e tremendo com medo de que sua mulher morresse, fato já acontecido. Então, sentava-se na cama e desejava que Larissa estivesse ali; precisava da companhia da amiga, que estivera ao seu lado naquele momento tão difícil de sua vida.

          O mês passou rápido e a moça com o filho chegaram a cidade novamente, tinham consulta de retorno com o médico otorrino. Ele sabia de sua chegada e tratou de convidá-la para jantar. Depois do jantar foram para a casa de Jardel, o menino precisava dormir, já estava tarde para uma criança.

Ficaram assistindo televisão e a moça acabou adormecendo no sofá. Jardel ficou penalizado em vê-la dormir ali e a acordou para ir dormir na cama dele. Os dois deitaram-se lado a lado e quando se viram tão perto se beijaram e a noite foi um sonho de amor para ambos.

Quando o dia amanheceu eles sabiam que não se separariam mais. O encontro foi preparado por Deus e eles ficariam juntos para sempre. Tinham duas crianças para criar e um grande sentimento de amor crescendo entre eles. Estavam predestinados para viver lado a lado e encontrar a felicidade tão desejada.

Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

"DEUS NOS DÁ PESSOAS E COISAS, PARA APRENDERMOS A ALEGRIA... DEPOIS RETOMA COISAS E PESSOAS PARA VER SE JÁ SOMOS CAPAZES DA ALEGRIA SOZINHOS... ESSA É A ALEGRIA QUE ELE QUER..." JOÃO GUIMARÃES ROSA.

FONTE DE LUZ

CAPÍTULO QUATRO
            Jardel saiu sem rumo, trazia um vazio em seu coração. O Sol continuava a brilhar, as flores estavam em seus lugares, mas seu mundo parecia escuro e sem brilho. Pensou em ver a filha pequena, que estava com a avó. Rebeca era uma criança esperta com apenas seis meses de idade e já perdera a mãe. Pensou em Lídia que não veria a menina crescer e duas lágrimas caíram de seus olhos.

              Chegou a casa de sua mãe e pegou a menina no colo, então, sentiu o peso de sua responsabilidade. Aquele pequeno ser dependia dele, que estava acabado emocionalmente, depois de tantos sofrimentos. Teria que buscar forças para recuperar-se.

            Passou a tarde ali, sentia-se seguro na casa de sua mãe e ao lado da filha querida. Já estava escurecendo quando ele saiu dizendo que iria caminhar um pouco. Queria tomar a fresca da noite para pôr as ideias no lugar.

                 Seus passos o levaram instintivamente ao Hospital e quando viu onde estava, sentiu um arrepio, sua mulher estava morta. No entanto, lembrou-se de Larissa e seu filho, precisava saber deles. Já conhecia o caminho, pois estivera ali nos últimos três meses.

             O rapaz hesitou por um instante, mas, em seguida entrou e bateu na porta do quarto da criança. Ninguém atendeu, então abriu a porta devagar; Larissa e o filho estavam adormecidos; ela estava na poltrona e o menino na cama. Jardel ficou olhando com pena de acordá-la; porém, ela pressentiu sua presença e abriu os olhos.
Levantou-se e o abraçou carinhosamente.

                - Está melhor? Descansou? Disse com um leve sorriso, estava feliz em vê-lo novamente.
                - Sim, vim agradecer pelo café; você foi muito gentil. Obrigada.
                 O menino acordou e Jardel se dirigiu a ele.
                - Qual é o seu nome?
                - João Luís e distraiu-se com um brinquedo no berço.

                Larissa estava feliz, seu filho iria ter alta na manhã seguinte, porém havia uma ruga de preocupação em sua testa.

               - Qual é o seu problema? Posso ajuda-la?

                A moça então lhe disse que teria que ir para sua casa em outra cidade. E, voltar três vezes por semana, durante um mês, para fazer fonoaudiologia no Hospital. Morava longe e ficaria muito caro para ela fazer tantas viagens.

                Jardel lembrou-se da solidariedade da moça e ofereceu a ela para se hospedar em sua casa, ele ficaria na casa de sua mãe enquanto durasse o tratamento do João. Não queria que pensassem mal deles, pois acabara de enterrar Lídia.

                Alguns dias se passaram e quando Jardel voltou a sua casa para pegar uma ferramenta de trabalho, ficou admirado ao ver a limpeza e arrumação, que a moça tinha realizado em sua casa. Havia um vaso com flores sobre a mesa, comida feita no fogão e um cheiro agradável de perfume por toda parte. O viúvo respirou fundo, sua casa voltara à vida e ele ainda precisava viver o luto, que a morte de Lídia deixara em seu coração.

             Cumprimentou Larissa com um abraço e um beijo na testa, depois perguntou sobre a saúde de João e ela lhe agradeceu novamente; estava tudo bem. Quando deixou a casa teve a sensação de que ali estava sua fonte de luz, para voltar a viver.
Um texto de Eva Ibrahim.
               

sexta-feira, 9 de junho de 2017

"É CLARO QUE A CULPA É SUA, POIS FOI O SEU ABRAÇO, QUE TIROU A GRAÇA DE TODOS OS OUTROS" AUTOR DESCONHECIDO

RECOLHENDO OS CACOS
CAPÍTULO TRÊS
Dentro daqueles braços ele sentia-se seguro e desabou a chorar; precisava do colo da amiga. Uma amizade recente, mas nascida da solidariedade e muito importante para ambos. A moça estava ali para lhe dar o que ele mais precisava naquele momento, carinho e silêncio. Jardel tinha um nó na garganta e não conseguia falar nada; estava tomado pela emoção.

Dirigiu seu automóvel entre lágrimas e vez ou outra um soluço era sentido; o único som humano que havia ali. Nenhuma palavra foi dita durante o trajeto; era desnecessário. Quando chegaram a sua casa, que estava fechada, ele pediu que Larissa entrasse com ele. Ela concordou, não poderia deixa-lo sozinho naquele momento.

O rapaz, desfigurado pela dor que trazia na alma, jogou-se no sofá; estava exausto. Ela olhou ao redor e sentiu pena de tudo aquilo. Uma casa nova, bem arrumada, cheia de poeira e com jeito de abandono. Um lar destruído pela doença; perdera a função, era apenas uma casa.

Enquanto ela foi até a cozinha e olhou a geladeira para ver se havia algum alimento para servir ao amigo, Jardel adormeceu, as emoções foram muitas. Não havia quase nada para comer naquele local e ela se preocupou em comprar alguma coisa para ele comer quando acordasse. Saiu sem fazer barulho e voltou rapidamente, pois, havia uma padaria na esquina da casa de Jardel.

O telefone tocou e ela ficou sem saber se iria atender ou não; finalmente resolveu atender. Era a mãe do rapaz, queria saber como estava e convidá-lo para jantar. Ela se apresentou como uma amiga e disse que ele adormecera. Iria fazer alguma coisa para ele comer quando acordasse e depois voltaria ao Hospital ver o filho, que estava internado se recuperando da cirurgia. A mãe agradeceu e disse que ele já havia falado do caso do filho dela durante o velório e contando do apoio recebido.

                Larissa comprou pães, frios e fez café; preparou a mesa para quando Jardel acordasse. Deixou um bilhete dizendo que estaria no Hospital caso precisasse dela. Ajeitou um cobertor sobre ele, apagou as luzes, saiu e jogou as chaves por debaixo da porta.

                  O cansaço era grande e Jardel dormiu sem se movimentar. Acordou quando o Sol bateu em seu rosto pela fresta da vidraça. De um pulo, sentou-se no sofá, então, a realidade surgiu nua, trazendo todo aquele sofrimento de volta. Estava tudo acabado, sua esposa se fora e agora ele tinha uma filha para criar e muitos cacos para recolher. 
   
          Sentiu-se sujo, ainda estava com as roupas do dia anterior e lembrou-se do cemitério e de sua caminhada até o túmulo, onde o corpo de Lídia ficara enterrado. Pensou na filha, que estava com a avó e desejou que estivesse bem; outra hora iria ver a menina. Agora precisava tomar um banho, comer alguma coisa, seu estômago estava vazio e dolorido. Em seguida levantou-se, olhou e viu o bilhete, a mesa posta e sorriu, alguém pensara nele.

Lembrou-se de Larissa e do abraço que recebera, depois iria até o Hospital para saber do menino. A moça lhe inspirava carinho, havia um sentimento bom crescendo em relação a ela. No entanto, precisava recolher os cacos de sua vida antes de qualquer outra coisa.

 Um texto de Eva Ibrahim

sexta-feira, 2 de junho de 2017

"AS VEZES, DEUS ACALMA AS TEMPESTADES, OUTRAS VEZES, ELE ACALMA O MARINHEIRO OU, AINDA, NOS ENSINA A NADAR". AUTOR DESCONHECIDO

NO SILÊNCIO DA DOR

CAPÍTULO DOIS
           Todos saíram e deixaram o marido se despedir da esposa; era um momento único, onde a vida se confunde com a morte. Jardel chorou contido, pediu para Lídia não o abandonar, que tinham uma filha para criar; precisava dela. Como ela não respondia, revoltou-se contra Deus, blasfemou e depois chorou mais um pouco, abraçado ao corpo inerte da mulher amada.

          Ficou assim por algum tempo, até quando os familiares chegaram. Seu irmão tomou as atitudes práticas sobre o velório e o enterro; ele estava sem cabeça, disse ao se justificar. Jardel sentia-se perdido, em estado de choque. Mal conseguia coordenar seus pensamentos; havia um turbilhão de sentimentos dentro de seu coração e, todos em atritos.

            Seu irmão tratou de tirá-lo dali e o conduziu à sua casa, deveria tomar banho e se alimentar, porque a seguir viriam horas difíceis para todos, mas principalmente para o viúvo.
- Viúvo! Que palavra horrível, exclamou Jardel.

          - Sim, agora você está sozinho e com uma criança para cuidar, concluiu seu irmão.

               O rapaz sentou-se, parecia ter sido chacoalhado até juntar as emoções e cair na realidade. Foi então, que um nó se formou em sua garganta e o choro saiu fácil; em soluços de dor e lágrimas, há muito contidas. Lembrou-se de Lídia estirada na cama, estava pálida e fria, parecia um corpo de cera. Uma amargura tomou conta de seu pensamento.

              – Que vida ingrata! Suspirou Jardel. Lhe dera um amor e o tirara tão rapidamente e de uma maneira tão triste, que seu coração gemia como um lamento. Havia um silêncio de dor em sua alma. Aquele dia ficaria gravado em sua vida como sendo o mais cinzento de todos já vividos.

           Ainda não tinham completado três anos de casados e já tinham vivido alegrias e tristezas. A alegria do casamento, a lua de mel, a notícia da gravidez e depois o nascimento da filha, eram lembranças que clareavam seu coração e o sorriso brotava em sua boca.

            No entanto, a notícia da doença de Lídia, a quimioterapia, radioterapia, a inutilidade do tratamento e a evolução rápida da doença o deixavam destruído e no chão. Não conseguia entender porque a sua mulher, que era tão jovem, partira deixando uma criança tão pequena, sozinha. E, ele também não queria ficar só e viúvo. Essa tarja imposta a ele, parecia tão pesada, que tinha vontade de sumir.

               Tomou café e comeu um pedaço de pão, que desceu raspando em sua garganta; havia uma aversão aos alimentos quando se lembrava da situação em que se encontrava. Teria que ficar ao lado do caixão e depois acompanhar o cortejo até o túmulo, era seu último adeus à Lídia.

               Jardel pensou em Larissa, queria que ela estivesse ao seu lado naquele momento. No entanto, foi a própria moça quem o alertou para o falatório que surgiria se ela ficasse ao seu lado.

           – Não vou ao velório, mesmo que puder, os parentes e amigos da defunta vão interpretar mal a nossa amizade. Afirmou Larissa, dando um longo abraço em Jardel.

O viúvo ficou olhando baixar o caixão e sua mãe lhe colocou uma flor nas mãos, dizendo para que jogasse sobre o caixão. Ele se virou surpreso.

 –Para que isso?  E, sua mãe respondeu.

 –É seu último adeus à Lídia.

Ele atirou a flor em meio a muitas outras e ficou parado olhando o coveiro atirar terra sobre o ataúde. Enquanto isso, o Sol se punha no horizonte enquanto as pessoas consternadas, iam se retirando do local. E, a paz com tons de tristeza tomava conta do ambiente, então, o coveiro bateu em seu ombro convidando-o a segui-lo.

- Vou fechar o cemitério, já é tarde.

Jardel acompanhou o homem e quando se aproximou do automóvel viu que havia uma pessoa esperando por ele. Era Larissa, que o acolheu de braços abertos e com as mãos foi afagando seus cabelos.

Um texto de Eva Ibrahim

sexta-feira, 26 de maio de 2017

"A VIDA ME AFASTOU DE PESSOAS QUE EU PENSAVA QUE SERIAM PARA SEMPRE E ME APROXIMOU DE OUTRAS QUE EU NUNCA IMAGINEI CONHECER". AUTOR DESCONHECIDO

COISAS DE DEUS
 UM ANJO
CAPÍTULO UM
 O homem andava de cabeça baixa, parecia muito mais velho do que era na realidade. Havia uma tristeza no olhar e um peso nos ombros que o deixavam encurvado e lento. Andava em meio aos trilhos da estrada de ferro e, lá no fundo de seu coração desejava que o trem passasse por cima de seu corpo, para acabar com todo aquele sofrimento. Não tinha coragem de dar cabo da própria vida, esperava que isso acontecesse ocasionalmente.

Deixara seu automóvel no estacionamento do Hospital e saíra a pé, estava sem rumo; muito descontrolado para dirigir. Precisava de ar puro e paz na alma, que a muito tempo perdera. Jardel sabia que nunca mais veria os olhos que o encantara um dia; seriam apenas lembranças. Andou até sentir cansaço, então, avistou uma estação onde o trem parava e como estava com sede, resolveu entrar. Sua garganta estava seca.

 Viu uma torneira na parede do lado de fora e se aproximou para tomar água. Uma mulher o alertou dizendo:

 - Não tome desta água, pode estar contaminada, peça lá no balcão.

Ele agradeceu e estendendo as mãos sorveu a água sob o olhar de censura da mulher. Então, ele sorriu, fazia um bom tempo que não ria, achou graça na preocupação da mulher. Ela não poderia imaginar o drama que ele estava vivendo e que morrer seria a melhor opção.

 - Tomara que esteja cheia de bichos e que eu tenha a sorte de morrer contaminado. Pensou Jardel, com o coração apertado. Desejava morrer, mas não queria causar mais sofrimentos e tinha uma pequena princesa para cuidar. Isso o mantinha um morto vivo, que se arrastara nos últimos meses, fingindo ser forte.

Sentou-se no banco, estava sem destino, não queria voltar para os seus problemas. Em meio a tantas pessoas estranhas, ele sentia-se um pouco melhor. Uma moça aproximou-se, trazia nos braços um menino de uns dois anos de idade, que dormia com a cabeça nos ombros da mãe. Ela trazia consigo duas bolsas grandes, que pareciam pesadas e Jardel levantou-se para ajudá-la a sentar-se. Em seguida, ele se acomodou no restante do banco.

                O trem surgiu no horizonte e o rapaz perguntou a moça se ela iria subir no trem, porque ele a ajudaria com as bolsas. Ela sorriu com um olhar doce e disse que iria ao Hospital levar o filho para uma cirurgia.

            Com o barulho da locomotiva a criança acordou e olhou para Jardel, que deu um passo para trás; era uma criança feia. Então, Larissa, a mãe do menino, disse que ele nascera com lábio leporino e depois de três cirurgias na parte interna, agora iriam corrigir os lábios e ela estava muito feliz. Agradeceria se a ajudasse, porque estava sozinha e o menino era pesado.

O rapaz, por um momento se esqueceu de seus problemas e censurou o pai, que não estava presente para ajudar aquela mãe. Em seguida, prontamente pegou as bolsas e subiu no trem também, voltaria ao Hospital; a moça precisava de ajuda.

                A boca da criança o incomodava, mas ele queria parecer natural e perguntou onde estava o marido dela.

- Eu sou o pai e a mãe, pois quando o meu namorado soube da gravidez, tratou de desaparecer. Eu cuido dele sozinha e minha mãe fica com ele para eu trabalhar. E, fez um carinho na cabeça do menino, que se aconchegou ao peito dela.

Jardel sentiu-se envergonhado, pois ali estava uma mulher guerreira que não reclamava de seus problemas; estava resignada. No entanto, ele queria fugir da vida porque não lhe era favorável. Imaginou o trabalho que o filho doente dava aquela mãe sozinha e, ela continuava firme em seu amor pelo pequeno menino.

 A locomotiva seguia cadenciada e Larissa lhe perguntou para onde ia e ele começou a falar como se ela fosse sua amiga de muito tempo. Sua esposa estava morrendo e ele queria fugir e não presenciar nada daquilo. Tinha uma filha de seis meses de idade, que não iria conhecer a mãe; aquele pensamento cortava seu coração.

Foi durante a gravidez que descobriram um tumor no ovário de Lídia. Nada poderiam fazer antes da criança nascer, disseram os médicos. Assim mesmo fizeram uma cesárea antes do tempo, para tentar salvar a mãe, mas todas as tentativas foram inúteis. Lídia reagiu mal à quimioterapia e a doença ganhou força. E, nos últimos quinze dias piorou de vez. As esperanças de cura se foram e a espera da morte o estava matando também.

Sua filha estava com a avó, pois ele estava sempre com Lídia no Hospital. Vivia do trabalho ao Hospital e vice e versa; ia para sua casa somente para tomar banho e trocar as roupas. Apesar de todo o tratamento, não havia melhora, Lídia definhava a olhos vistos. Arruinou muito durante a noite e o médico disse que ela estava morrendo.

- Entrou em coma e é questão de horas para ela nos deixar, o médico foi categórico.
          - Então, eu me acovardei, não queria ver a minha mulher morrer, e duas lágrimas rolaram de seu rosto sofrido. Larissa o abraçou dizendo.

– Estou aqui e vou ajuda-lo, do jeito que me ajudou. Estamos juntos nesta situação.
                 A moça entrou com a criança no consultório médico e Jardel foi ver sua mulher. Estava do mesmo jeito que a deixara, mas ele ganhara um fôlego extra, já não estava tão desanimado. O encontro com Larissa e o filho lhe fizera bem, não era somente ele que tinha problemas. Havia um sentimento de conforto, que emanava da moça.

            – Seria coisa de Deus para lhe dar forças quando Lídia partisse? Afastou o pensamento que teimava em lembra-lo do que sua mãe sempre dizia:

             - “Deus usa as pessoas menos prováveis para falar conosco”.

           Quando a noite chegou, os dois se encontraram na recepção. O menino estava na sala de cirurgia e Jardel saíra para tomar um café. Conversaram e ele a levou para ver sua esposa e foi ali que ele deu seu último adeus a Lídia, que se foi suavemente. O aparelho começou a apitar indicando que havia algo de errado, então, foi constatado o óbito de Lídia.

            Jardel já não estava só, agora tinha um ombro para chorar. Sua dor foi acolhida e suas lágrimas puderam rolar até desabafar, pois, alí havia um anjo a lhe apoiar com seu abraço.

Um texto de Eva Ibrahim
MEU MUNDO REINVENTADO.

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