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sábado, 18 de março de 2017

"HÁ OLHOS QUE AGRADAM E ACARICIAM A GENTE COMO SE FOSSEM MÃOS". RUBEM ALVES

CASCA DURA

ELOISA, MEU AMOR
        O General Benjamin, homem grosseiro, muitas vezes cruel, acostumado a ser obedecido, muçulmano fervoroso, que servia ao exército de seu país, estava viúvo a quase uma década e andava muito triste. Alguns amigos já haviam notado e tinham sugerido que arrumasse outra mulher ou outras mulheres, se ele quisesse.

          Para um General do exército tudo era concedido, já que sua religião permitia até quatro mulheres. No entanto, ele trabalhava muito e não tinha paciência para gerenciar mulheres ciumentas, barulhentas e invejosas. Era assim que justificava sua solidão para os amigos e familiares.

           Gostava de sossego, fumar seu charuto em paz; era seu momento de lazer. A cada baforada, Benjamim afagava seu cão de estimação, que só obedecia a ele; Furacão era seu nome. Jejuava frequentemente e cumpria as obrigações do Ramadã. Fora conhecer a Meca e ostentava as fotografias penduradas nas paredes do escritório. Aquela viagem fora o maior feito de sua vida e seu maior orgulho.

            Benjamin tinha apenas 53 anos de idade, homem curtido pela vida, que estava sempre em risco. Um piloto de helicóptero que já estivera diante da morte por diversas vezes. Tinha uma cicatriz grande na perna direita, que puxava quando ele andava provocando um forte claudicar, mas que não o impedia de exercer sua função de piloto. Era sequela de estilhaços de bomba, que o atingira em um ataque rebelde.

          No entanto, seu corpo rijo precisava vibrar; sentia necessidade de manter relações sexuais com uma mulher. Ainda era jovem e o prazer da carne era forte em sua mente. Entretanto, tinha fama de durão e não queria manchar sua imagem namorando alguma mulher interesseira. Seria motivo para comentários desairosos entre seus subordinados, que ele mantinha rigidamente em seus postos.

          Num país conservador onde ele poderia ter várias esposas, ele não queria expor suas filhas e netos a uma ou mais mulheres estranhas dentro de sua casa. O país vivia em guerra e ele não conseguiria assumir outros compromissos além de sua família, pois se dedicava integralmente as regras rígidas estabelecidas pelo governo. Precisava somente se divertir um pouco, no entanto, não queria que ninguém soubesse; tinha que ser um segredo bem guardado.

Entrou em um site de relacionamentos com a única intenção de satisfazer seus desejos, ainda que pela internet. Demorou para encontrar uma mulher que lhe agradasse. Então, certo dia viu a foto que mexeu com seus sentidos; morena bonita, que estava dentro de seus padrões para uma amante.

         Fez contato e passou dias esperando a resposta.
          – Sim, podemos conversar, a moça respondeu.

          No mesmo dia, começaram a conversar trocando ideias. Benjamim queria vê-la no Skype; foi amor à primeira vista. Com um tradutor ele conversava com sua amada, mas eram seus olhos azuis que ele mais admirava.
            - Duas contas da cor do céu, pensava o homem apaixonado. 

         O General altivo, se tornava manso e amoroso diante da escolhida. Não se cansava de dizer que a moça era linda e que sentia atração por ela, era amor verdadeiro; queria estar junto dela todos os dias. Ficava eufórico só em pensar que ela estaria esperando por ele.

Uma paixão avassaladora que se desenvolvia do outro lado do mundo. Eloisa era seu nome e morava no Brasil. Uma mulher pouco indicada para ele, bonita, cristã e moderna. O general vivia em um país fechado ao turismo, porque estava sempre em guerra contra os rebeldes separatistas. No entanto, amor não tem fronteira e ele pensava o dia todo em Eloisa.
 – É o meu amor, dizia baixinho.

Um texto de Eva Ibrahim. 

sábado, 11 de março de 2017

"SE UM DIA A RAZÃO TE PEDIR PARA DESISTIR E O CORAÇÃO TE MANDAR LUTAR, ENTÃO, LUTE. POIS, NÃO É A RAZÃO QUE BATE PARA VOCÊ VIVER E SIM O CORAÇÃO". C, MENEZES

OLHOS VERMELHOS
CAPÍTULO OITO
          Marília abriu a carta e leu que deveria se apresentar com documentos em lugar e hora determinados para assumir seu cargo. Ela sonhara com aquele momento e precisava do emprego mais que tudo em sua vida, tinha dois filhos para criar, então, ela desabou.

      Chorou muito, até seus olhos ficarem inchados, depois foi tomar banho; queria lavar a alma para se livrar de tantas angustias passadas. Encerrar aquele capítulo triste de sua vida e iniciar outro menos sofrido.

             As crianças chegaram da escola e encontraram uma mãe mais alegre, cheia de planos para o futuro. Estava arrumando os documentos e planejando como faria para cuidar da casa, das crianças e trabalhar. Sentia-se pronta para lutar, uma verdadeira leoa para defender sua casa e seus filhotes.

             Enquanto mexia em seus documentos encontrou uma foto de seu casamento, um dia feliz, cheio de sonhos de amor e agora implorava a Deus para afastar o marido dali.

           – Que ironia! O amor não é eterno se não for cultivado com amizade e respeito, pensou a moça entre lágrimas.

           Com os olhos vermelhos de tanto chorar guardou a foto e lembrou-se do ditado que a fizera estudar até a exaustão. “Colhemos, infalivelmente, resultados proporcionais aos nossos esforços”. Sim, Marília sentia-se abençoada com um emprego fixo tão almejado por muita gente; funcionária pública. Estava feliz pela conquista, mas uma nostalgia pelo passado a deixava triste.

          Ela sabia que sua vida seria difícil, porém, com um futuro que dependia somente dela; não se submeteria mais as exigências de um marido alcoólatra.

No entanto, demorou alguns dias para ela escolher aonde iria trabalhar. Finalmente o grande dia chegou, fora empossada em caráter experimental, mas faria tudo para passar na experiência. Iria trabalhar em um Posto de Saúde e estava muito feliz com o novo emprego. Começava ali uma nova vida para Marília, que acreditou em um ditado popular e se esforçou ao máximo para passar no exame.

             Seu primeiro dia de trabalho terminou e na volta para casa ela entrou na Igreja para agradecer a Deus pelo futuro promissor. E, quando saiu tinha os olhos vermelhos de tanto chorar, mas era um choro de alegria.

           O importante era o fato de ela ter resistido ao vendaval que assolara sua vida. Sendo assim, ela seguiria em frente com o que o vento não levou ou ela não deixou que levasse. Estava íntegra, permanecera dígna e segura para viver sua vida.

Um texto de Eva Ibrahim

sábado, 4 de março de 2017

"NO LIMITE DAS MINHAS FORÇAS ESTÁ TODA A NATUREZA DA DOR, DO MEDO,DA FÚRIA, DA BONDADE, DO ÓDIO E DO AMOR E, NADA EXCEDE MAIS QUE ISTO". HELENILSON PERSI


A CARTA DE ALFORRIA
CAPÍTULO SETE
             As dificuldades só aumentavam, não havia dinheiro para nada; a situação era desesperadora. Marília fez mais dois concursos e passou em todos. No entanto, havia demora na convocação dos classificados, apesar de todas as orações e promessas diárias, nada acontecia; parecia que o mundo estava contra ela.

           Leandro ainda conseguia ganhar algum dinheiro, ajudava seu irmão na loja de autopeças e pagava as contas mais urgentes, tais como: água, luz, gás de cozinha. A comida vinha dos irmãos de Marília, que já não aguentava mais a longa espera para conseguir trabalho. Acordava no meio da noite e conversava com Deus, para pedir misericórdia e não entrar em depressão.

             - A maior angustia de uma pessoa é não saber o que será o seu amanhã, dizia choramingando, a mulher desesperada.

           Mas, o pior ainda estava por vir. Leandro, depois de uma festa regada a álcool, deu carona a uma amiga e os dois filhos dela no seu automóvel. E, quando fez uma curva fechada, perdeu o controle subindo na calçada e batendo com o veículo no muro.

             O carro foi guinchado, as crianças levadas ao Hospital e Leandro autuado em flagrante por dirigir bêbado. Passou a noite na delegacia e, no dia seguinte, seu irmão pagou fiança para ele sair e responder ao processo em liberdade. Para sua sorte, ninguém se feriu gravemente, mas ele ficou a pé, pois não pagava o seguro do veículo já fazia tempo, então, passou a beber ainda mais.

             Os irmãos de Leandro, juntamente com sua mãe, decidiram interna-lo em uma clínica de recuperação. A princípio ele resistiu, mas acabou concordando, pois estava seriamente doente. Ele não se alimentava e a bebida o havia enfraquecido, ele mal conseguia parar em pé.

            Logo em seguida, fora encontrado caído na rua e foi socorrido pela ambulância municipal; estava no último estágio da decadência. E no dia seguinte, foi encaminhado à uma clínica de recuperação pela sua família.

Com o marido internado e incomunicável por pelo menos trinta dias, Marília respirou aliviada. Porque assim, ele não apareceria ali para atormentá-la e ela poderia esperar sua convocação em paz. Acreditava que tudo o que fizera teria um retorno infalível e que Deus olhava por ela.

Passou janeiro e quando chegou fevereiro, Marília teve notícias de que a prefeitura estava convocando os concursados para assumir seus postos. Foram dias de muita angustia, a chegada do carteiro era a coisa mais importante do mundo. Muitas decepções e novas esperanças, até o dia em que o carteiro gritou seu nome no portão; era a sua carta de alforria; a convocação para o trabalho.

Ela adentrou a casa com o seu tesouro nas mãos; as lágrimas corriam pelo seu rosto e ela não conseguia ler o que dizia a missiva. Então, foi lavar o rosto para se acalmar e poder seguir as instruções para se apresentar ao local indicado.

Um texto de Eva Ibrahim

sábado, 25 de fevereiro de 2017

"NÃO HÁ NADA QUE POSSA SER EVITADO E, SIM AMENIZADO COM PACIÊNCIA, FÉ E TOLERÂNCIA". AUTOR DESCONHECIDO

UM DIA DE CADA VEZ

CAPÍTULO SEIS

            Marília não sabia como conviver com tantas incertezas, seu futuro estava cheio de dúvidas. Precisava trabalhar para se sustentar e ficar livre da opressão exercida por Leandro. Ela sabia que enquanto dependesse dele para alimentar os filhos, estaria presa aos seus desatinos. Suas noites eram terríveis, o pouco que dormia tinha pesadelos e acordava assustada. Vivia rezando para afastar tantos pensamentos ruins, que ficavam martelando em sua cabeça.

           Finalmente saiu o resultado do concurso e ela ficou feliz, fora muito bem classificada, mas tinha urgência em trabalhar e não sabia quando iriam chamar os novos concursados. A informação que tinha era, de que somente no início do ano seguinte a prefeitura iria convocar os novos funcionários.

           Estavam em novembro e ela sentia-se desanimada, pois ainda teria que suportar aquela situação por alguns meses. Os dias se arrastavam lentamente e ela continuava com sua vida monótona. Tremia só em imaginar que o marido pudesse chegar e ameaça-la novamente.

           Para esquecer a situação estabelecida, ela se enfiava nos livros, principalmente a Bíblia, que lhe trazia algum conforto. Pedia misericórdia a Deus e ficava à espera de algum acontecimento bom em sua vida. O Natal chegou e a comemoração foi simples ao lado dos dois filhos; Leandro apareceu, mas estava tão bêbado que pouco falou e quando saiu ela deu graças a Deus.

               E, o ano novo chegou sem nenhuma novidade. Amanheceu um novo dia e Marília não pretendia fazer nada diferente, estava em compasso de espera. Faria um almoço para as crianças e ficariam em casa, mas o seu marido apareceu trazendo consigo um amigo dos bares. Leandro trazia nas mãos uma sacola com bebidas e o amigo outra sacola com carnes. Entrou dizendo que iriam fazer churrasco para comemorar o ano novo.

               A mulher tremeu, lembrando-se da última vez em que ele esteve ali com o revolver nas mãos.
            - O que farei para afastá-lo daqui?

               Os dois homens já estavam bêbados, sujos e fedidos; um nó parecia tomar conta de sua garganta. Ela tentou protestar, mas o som não saiu de sua boca, ela queria chorar.

             - Como o homem com quem me casei se tornou neste ser tão abominável? Ela não se conformava em ver aquela situação diante dos filhos. A decadência do marido era visível e a companhia lamentável.

           As crianças, Laura e João, tinham medo do pai e foram ver TV no quarto e quando ele as chamava, elas atendiam e saiam rapidinho. O ano novo estava irremediavelmente estragado; o jeito era rezar e esperar.

           Os dois homens saíram no meio da tarde e Marília ficou limpando a sujeira que deixaram. Seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar, parecia que nunca mais teria sossego na vida. Não tinha mais ilusões, viveria um dia de cada vez.


Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

"UM DIA, A SAUDADE DEIXA DE SER DOR E VIRA HISTÓRIA PARA CONTAR E GUARDAR PARA SEMPRE. ALGUMAS PESSOAS SÃO SIM, ETERNAS DENTRO DA GENTE". AUTOR DESCONHECIDO

NO LIMITE

CAPÍTULO CINCO
            Marília foi prestar o concurso, com a certeza de que daria o seu melhor e de fato fez uma prova impecável, mas ainda dependia da entrevista e da classificação, portanto não poderia cantar vitórias antes da hora. Ficou calada, porque Leandro não poderia saber de nada ou tentaria prejudicá-la.

              Foram dias de solidão, medo e muitas dúvidas, mas a fé em Deus e a certeza da recompensa pelos esforços, a levavam adiante. Então, chegou a semana de finados, onde quase todos prestam homenagens aos seus mortos. Marília estava sensível e saudosa de seus entes queridos. Seus pais faleceram com diferença de dois anos; primeiro foi o pai e depois a mãe, era muito recente e a saudade estava viva ainda doía muito.

          Leandro levara o automóvel da família quando saiu de casa, deixando a mulher e os filhos a pé. Gostava de zombar da mulher dizendo para andar de “Buzão”, que era o lugar dela. Marília gostava de andar de ônibus, isso não tinha importância, dizia, mas estava sem dinheiro e decidira não comparecer ao cemitério:

           - Já estava triste o suficiente, pensou a moça conformada. Mas, logo na primeira hora da tarde Leandro apareceu. Estava com bebida no corpo, pois o cheiro era inconfundível, e foi logo dizendo:

       - Tomei somente uma cerveja no almoço, não estou bêbado, e foi adentrando a sua antiga casa. O coração da moça parecia querer saltar fora do peito, mas ela precisava manter a calma.

       O ex-marido parecia calmo e propôs a ela que ambos fossem ao cemitério visitar o túmulo dos pais, dele e dela também. Marília sentiu medo, mas não teve como recusar e sentou-se no banco do carona, iria ao cemitério com Leandro, afinal os mortos ficariam contentes ao serem lembrados.

         O carro estava em péssimo estado de conservação. Quando ele pisava na embreagem o banco se movia para trás, parecia estar solto no piso do veículo. Ela tentou alertá-lo para o perigo de dirigir daquele jeito, mas ele zombou dela.

- Sou motorista até dormindo, você está com medo de que? Então, ele acelerou, fazendo a mulher se agarrar no pegador e começar a orar pedindo misericórdia a Deus.

                 Finalmente chegaram ao cemitério; Marília ainda não entendia porque havia aceitado aquela carona. Entraram no portão inicial e fariam as visitas aos túmulos seguindo a proximidade de cada um. Finalmente ela disse que deveriam seguir para o local onde não havia túmulos, somente a grama com a placa do nome do defunto. Lá estava enterrada sua mãe.

           Leandro concordou com a cabeça e subiu no túmulo da frente diante da surpresa da mulher, que protestou, dizendo ser pecado fazer aquilo. Com uma gargalhada ele prosseguiu, passando por cima dos túmulos que estavam em sua frente.

         Ela se calou fazendo de conta que ele não estava com ela. Marília estava ruborizada e, rapidamente depositou uma flor no túmulo de sua mãe saindo em seguida; não suportava mais ver a atitude de seu marido. Parecia enlouquecido faltando com o respeito aos mortos.

         O automóvel saiu cantando pneu e ela começou a rezar novamente. Jurava que nunca mais sairia com Leandro, estivesse ele bêbado ou não. Em uma certa altura do caminho, ele disse que iriam ao cemitério da cidade vizinha onde a mãe dele estava enterrada.

        Marília quase gritou de desespero, mas sabia que era isso que ele queria, amedronta-la. Então, resolveu pedir para passar em sua casa para pegar um maço de velas para a sogra.

            Quando ele parou, o banco do carro foi lançado para trás e ela desceu rapidamente do veículo, dizendo para ele ir sozinho. Entrou em sua casa com o coração disparado e tratou de fechar a porta com muito medo que ele estivesse atrás dela.

                 Alguns segundos se passaram e ela ouviu o carro sair em disparada, então respirou aliviada; estivera em seu limite de terror.


Um texto de Eva Ibrahim Continua na próxima semana.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

"NÃO ENTENDO, APENAS SINTO. TENHO MEDO DE UM DIA ENTENDER E DEIXAR DE SENTIR". CLARICE LISPECTOR


O ASSÉDIO

CAPÍTULO QUATRO
          Com uma motivação real, Marília mergulhou nos livros; estava empenhada em garantir um trabalho digno. Passar no concurso tornou-se uma obsessão, raramente saia de casa. Leandro não se conformava com a ideia de que a sua mulher pudesse sobreviver sem ele. Comprava o essencial, isto é, uma cesta básica e mandava entregar, dizendo que era para as crianças. Pagou a água, luz e a deixou sem nenhum dinheiro.

           - Que ela fosse trabalhar, dizia para quem quisesse ouvir.

         Em um domingo de manhã, Leandro apareceu bêbado e estava acompanhado de um amigo, também embriagado. Parecia determinado a mostrar para sua ex-mulher, quem mandava ali. Estava irado por ter descoberto que ela trocara a fechadura. Entrou dizendo que iria fazer um churrasco e foi para o quintal com uma sacola na mão. Jairo, o amigo, o seguia com um riso irônico.

          Antes de acender a churrasqueira, Leandro tirou um revolver de dentro da sacola e começou a atirar em direção a um pé de mamão. Conseguiu derrubar uns dois mamões verdes e furou outros. Marília, então, foi pedir para ele parar com aquilo, que estava assustando as crianças e ele rindo alto respondeu:

           - Você quer ver? Agora vou matar aquele gato que anda sobre o muro, é só ele aparecer.

          A mulher viu um prazer mórbido no olhar do ex-marido. Ele poderia matá-la também. Pensou e logo tratou de entrar, estava com o coração nas mãos, temia por ela e pelos filhos.

         Durante toda a manhã, os dois homens permaneceram ali, aterrorizando a mulher, que tentava disfarçar para os filhos não perceberem a situação. O revolver em cima da mesa e a churrasqueira a gás ligada, dourando os espetos de carne, dava um ar de tragédia ao local.

          As crianças comeram carne que o pai havia dado, mas Marília não almoçou, estava muito nervosa. E, quando eles começaram a juntar as coisas, ela respirou fundo; estavam de saída. Naquela noite ela chorou desesperadamente; estava com medo do futuro.

         - O que seria de sua vida dali para a frente? Como se livrar daquela situação?

           Ela sabia que não poderia esmorecer e lembrou-se do ditado que dizia: “Colhemos, infalivelmente, resultados proporcionais aos nossos esforços”, ela estava focada naquilo. Mas, não seria fácil, muita coisa ainda iria acontecer até ela conseguir o que pretendia.

         Um mês inteiro decorreu e Leandro vigiava a casa onde estavam sua ex-mulher e os dois filhos. Durante a noite, muitas vezes bêbado, costumava andar pelo quintal da casa, assustando sua família.

 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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