MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

"E, DE REPENTE, NUM DIA QUALQUER, ACORDAMOS E PERCEBEMOS QUE JÁ PODEMOS LIDAR COM AQUILO QUE JULGÁVAMOS MAIOR QUE NÓS MESMOS. NÃO FORAM OS ABISMOS QUE DIMINUÍRAM, MAS, NÓS QUE CRESCEMOS". FABÍOLA SIMÕES

A DURAS PENAS
CAPÍTULO DOZE
          A primeira cirurgia aconteceu em uma manhã de segunda feira, com todo o suporte cirúrgico adequado e com o acompanhamento da mãe, que não arredou pé da sala de espera. Só Deus sabe quantas orações foram feitas por aquela mãe, que cansada de sofrer colocou tudo nas mãos de Deus e se calou a espera do término da cirurgia.

         Passava do meio dia quando o médico apareceu para dizer que a cirurgia havia terminado e estava tudo bem. Então, Clara saiu para comer alguma coisa e voltar em seguida para ver a filha. 

           Depois de uma hora ela pode entrar e ver Valentina, que estava agitada reclamando de dores. O coração de Clara se aquietou, depois que a filha tomou uma injeção e dormiu novamente. A mãe previa dias difíceis, pois Valentina era de pouca paciência e chorona por natureza.

             Demorou quarenta e cinco dias para Valentina andar ereta depois da cirurgia; até então, andava segurando a barriga com as mãos e o corpo mantinha encurvado. Não houve intercorrências e a cicatrização foi boa, mas, houveram muitas queixas e lamúrias. Várias visitas ao médico e finalmente fora marcada a próxima cirurgia contra a vontade de Valentina, que nos piores momentos dizia:

            - Não vou fazer mais nada, pois tenho muitas dores e vou morrer solteira, quero ficar feia para sempre. E, saia de cara feia batendo portas.

             Clara chorava em silêncio, pois sabia que a filha já havia sofrido muito e ainda não terminara; havia muita coisa a ser feita. Então, se ajoelhava no chão e pedia a ajuda de Deus; era tudo o que poderia fazer.

           Com seis meses da primeira cirurgia era hora de fazer as mamas. Valentina estava bem e concordou em colocar silicone, sua barriga estava ótima. Feita a correção mamária e observada todas as orientações médicas parecia que, finalmente, o complexo de inferioridade a deixara em paz; ela já não fugia do espelho.

          Tornara-se uma moça bonita e tomara gosto pelo espelho. Valentina começara um namoro com o Ferrugem, que era apaixonado por ela. Dali para o resto das correções foi fácil, havia total colaboração da paciente.

          Em dois anos, todas as correções foram feitas e apareceu uma nova mulher, que queria se casar e ser feliz, como toda jovem. Clara sorria, quando ouvia elogios à sua menina, que um dia tentara o suicídio por ser gorda e se achar feia. Finalmente, a duras penas, se revelara uma beleza pura, todos diziam.

Um texto de Eva Ibrahim.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

"CADA CICATRIZ QUE TEMOS É A CONFIRMAÇÃO DE QUE UMA FERIDA SARA. CICATRIZES SÃO MARCAS DE SUPERAÇÃO QUE SÓ UM VERDADEIRO GUERREIRO POSSUI". AUTOR DESCONHECIDO


RETALHAR O CORPO

CAPÍTULO ONZE
           Quando Valentina completou dois anos da cirurgia bariátrica, e com o peso estabilizado por seis meses, era hora de enfrentar a nova etapa, em busca da beleza corporal. A moça estava com setenta e oito quilos, mas não poderia ficar de biquíni ou roupa decotada e sem mangas. A magreza trouxera novos problemas para ela, e acentuou o complexo de inferioridade, já existente. Ganhou em leveza, agilidade, saúde, mas estava longe de se achar bonita.

            As peles ficavam penduradas nos braços, nos peitos, nas coxas e na barriga, formando uma pochete sobre a púbis; ela evitava olhar-se no espelho. Odiava aquilo tudo, ainda era virgem e jamais tiraria a roupa diante de um rapaz.

           - Morreria invicta, pensava com raiva do mundo.

           Muitas noites passara chorando, ela não tinha mais jeito. Tratava de se cobrir rapidamente com roupas largas; sentia-se pior do que antes de perder peso.

          Valentina, acompanhada da mãe, saiu do consultório médico com os olhos cheios de lágrimas. A colocação do médico assustou a paciente. Ele disse que para ela tirar todo aquele excesso de pelancas teria que:

          - Retalhar o corpo para tirar todo as sobras de peles, então, se tornará uma moça magra e muito bonita. Afirmou o médico com uma ponta de ironia.

              A mãe ficou na defensiva, tinha medo daquelas palavras, parecia o gado no açougue sendo retalhado depois de abatido. Sentia-se ofendida, mas o médico foi objetivo e claro em sua explanação. Disse que era assim que ele queria, que a sua paciente tomasse um choque de realidade e, então, estaria pronta para iniciar as novas cirurgias.

         Clara conversou com o marido e lhe explicou tudo; Rui concordou em levar Valentina para concluir o que haviam começado. A filha estava magra, porém continuava com complexos de inferioridade, pois vivia de roupas largas e soltas em seu corpo; parecia uma assombração. E, continuava motivo de chacotas dos colegas e conhecidos. Apenas o Ferrugem a acompanhava e a defendia das bocas malditas.

         - Agora, estamos na reta final e ela deve se submeter ao que for preciso para se livrar das peles, que sobram em seu corpo. Afirmou a mãe preocupada.

          O plano cirúrgico foi montado pelo médico. Quatro cirurgias reparadoras no mínimo, em primeiro lugar a abdominoplastia. Em seguida a mamoplastia com colocação de silicone, pois as mamas de Valentina simplesmente sumiram, deixando dois trapinhos murchos pendurados. Quando estivesse recuperada seria feita a intervenção nos braços e por último nas pernas.

         - Mais um ano de lutas com o bisturi, e só restarão cicatrizes em pontos pré-determinados, afirmou o médico para a mãe e a filha, que se mostravam ansiosas.

         Somente então, Valentina poderá dizer que está magra e pronta para a vida, foi a conclusão a que Clara chegou. Havia ainda, um longo caminho a ser percorrido.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

"NÃO SOU SEMPRE FLOR. AS VEZES ESPINHO ME DEFINE MELHOR. MAS SÓ ESPETO OS DEDOS DE QUEM ACHA QUE ME TEM NAS MÃOS". CLARICE LISPECTOR.

PASSO A PASSO
CAPÍTULO DEZ
        A cada dia uma nova luta se apresentava, novas conquistas e retrocessos também. Dias de euforia e outros de depressão, e os resultados foram surgindo gradativamente. Cinco, seis meses e a balança continuava a diminuir no seu marcador; trinta, quarenta quilos foram se perdendo e uma linda moça despontava naquela pessoa, que vivia de mal com o mundo.

          Valentina, arrastada por Ferrugem, que ia busca-la em sua casa, passara a frequentar uma academia para fortalecer os músculos e dar forma ao corpo desleixado. A cada visita ao médico era hora de avaliar os ganhos. Ganhos em saúde, autoestima e estética.

         Os seus cabelos, antes desgrenhados, agora diminuíram de volume, pois sofreu uma queda prevista, devido à grande perda de nutrientes impostos ao seu corpanzil. Para Valentina a queda foi benéfica, pois, agora os cabelos adquiriram forma e passaram a ser cuidados. A transformação era visível e a cada dia surgia uma nova faceta daquela figura de moça bonita.

          Até o Ferrugem melhorou sua aparência, agora tinha um corpo delineado e sarado; tornara-se um belo rapaz. Ele exercia influência positiva sobre Valentina, que passara a ver sua vida com outros olhos, pois sua baixa estima foi se dissipando. Ana sua irmã, ajudava com a compra de roupas novas e a melhor maneira de usá-las.  Parecia que ela estava aprendendo a se cuidar, a ter postura e se portar como uma moça. 

             Abandonara hábitos terríveis de desmazelo e relaxo quanto ao seu visual. Os dois amigos frequentavam o mesmo curso, um ajudava o outro. Tomaram gosto pelos estudos e mais um ano estariam formados.

         Quando fez um ano da cirurgia a família festejou feliz. Valentina estava pesando oitenta e cinco quilos; uma vitória para quem pesava cento e quarenta e cinco quilos. Com o acompanhamento médico, da nutricionista e os exercícios físicos, os resultados estavam evidentes e a moça despontava com uma beleza pura.

Mas, havia uma nuvem rondando a cabeça de Valentina. Com a perda de tantos quilos era natural que sobrassem peles em todo seu corpo. E, assim que seu peso estabilizasse, ela teria que se submeter à várias cirurgias para retirar todo o excesso de pele. Somente, então, poderiam descansar e viver uma nova vida. Tinham, pela frente, mais dois anos de lutas para comemorar a vitória completa.

 Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

"NÃO ESPERE O INCENTIVO DE OUTRAS PESSOAS, O PRIMEIRO A ACREDITAR EM SEUS SONHOS TEM QUE SER VOCÊ" AUTOR DESCONHECIDO

      
                       CHORUMELAS

CAPÍTULO NOVE
           Valentina recebeu alta Hospitalar, teria que se recuperar em sua casa. Então, começou o sofrimento de Clara, que tinha que aguentar as chorumelas da filha. A paciente saiu do hospital apoiando o estômago com as mãos e andando vagarosamente; naquele momento dava para perceber que sua recuperação seria lenta e complicada.

A nutricionista, que a acompanhava, entregou as instruções no momento da alta. Nos primeiros quinze dias, deveria se alimentar a cada trinta minutos e, em pequenas quantidades. Cinquenta ml somente de líquidos, para não sentir desconforto e dores estomacais.

Entretanto, ela era uma paciente intolerante e a cada gole soltava uma blasfêmia, que a mãe tinha que aguentar calada. A família não podia se alimentar diante de Valentina, pois ela começava um drama, com direito a choro, lamentações e acusações contra a mãe:

 - Você é a culpada de ter-me feito gorda e os outros não; eu te odeio. Não vou aguentar esta vida, prefiro a morte rápida do que morrer de fome.

Então, não jantavam mais juntos, a família reunida; cada um comia sozinho na cozinha para ela não se estressar. Clara aguentava calada, tinha pena de sua filha. Cada dia, parecia mais complicado que o outro. Durante quinze dias ela teria que tomar o suco fracionado, que  era intercalado com água na mesma proporção e uma sopa de carne com legumes coada em guardanapo de pano, que ela odiava.

Deveria também, ingerir suplementos alimentares em pó, dissolvidos em água, que na maioria das vezes, ela cuspia esbravejando. Os dias foram passando e Valentina estava mais magra, perdera alguns quilos, embora ainda não dava para ser notado.

Quinze terríveis dias se passaram e na visita à nutricionista, mãe e filha constataram que a cirurgia fora um sucesso; mas ainda estava apenas começando, havia muita luta pela frente.

Na segunda quinzena, foram introduzidos alimentos pastosos, que Valentina comia descontente, porém não havia alternativa e ela foi se acalmando, pois já sentia seu corpo mais leve. No segundo mês, foram introduzidos alimentos sólidos, porém, bem cozidos e em pequenas quantidades a cada três horas.  

Com quinze quilos a menos, Clara acompanhou a filha ao cabeleireiro, depois às lojas, queria que ela se sentisse bonita. O Natal estava próximo e ela deveria tomar uma injeção de ânimo. Ferrugem à acompanhava e estava contente que a sua melhor amiga estava ficando bonita e atraente.

No Natal a família pode se reunir em volta da mesa e comer sem os protestos de Valentina. Estava bem arrumada e parecia com sua irmã Ana; as duas eram moças bonitas. Clara sorriu e, pela primeira vez, depois de três meses, ela respirou aliviada dizendo a Rui:

- Nossa filha está ficando bonita! Já perdeu vinte quilos e agora está deixando as chorumelas de lado, louvado seja Deus.

Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.

sábado, 15 de outubro de 2016

"A APARÊNCIA PODE ATÉ FAZER A DIFERENÇA, MAS ELA NÃO É NADA, PERTO DA BELEZA QUE VEM DO CORAÇÃO'. AUTOR DESCONHECIDO

COMER, COMER...

CAPÍTULO OITO
           Mas, o que todos temiam estava para se concretizar; Valentina teria que cair na realidade. O dia seguinte amanheceu e a paciente estava com a boca seca, acordou da anestesia querendo comida e um refrigerante gelado, do jeito que estava acostumada. Estava agitada e impaciente, tentou se levantar, porém sentiu dor e voltou a posição original.

            Então, a enfermeira explicou que sua dieta seria líquida e em pequenos goles, de seis a oito porções diárias. Valentina arregalou os olhos e disse irritada:

           - Estou morrendo de fome e sede, preciso de comida e refrigerante!!!. Em seguida gemeu de dor, levando a mão ao local da cirurgia.

A enfermeira, então, disse que ela só iria iniciar a alimentação sólida, após dois meses da cirurgia. Exatamente para evitar a dor e o desconforto estomacal e depois ponderou:

- Você recebeu todas as orientações necessárias antes da cirurgia e deveria saber disso. Seu estômago foi reduzido e precisa de um tempo para cicatrizar.

- No entanto, ela não levara as orientações como coisa séria, ignorou todas as explicações recebidas. Interviu sua mãe apreensiva.

Enquanto isso a paciente se contorcia de dor precisando ser medicada e logo depois, adormeceu; ainda estava sob o efeito dos anestésicos.

 - A alimentação ficaria para depois, disse a enfermeira para Clara, que parecia assustada com o seu futuro e o de sua filha.

A profissional sentiu que a mãe estava aflita e lhe explicou que Valentina tomaria suplementos alimentares e vitaminas para evitar a queda de cabelos, o enfraquecimento geral e das unhas. Clara concordou com a cabeça, nada poderia mudar o que estava feito. No segundo dia, logo pela manhã chegou a dieta de Valentina, que esperava outra coisa para comer. A decepção estava visível em seu rosto espantado.

          Em uma bandeja estavam dois copinhos pequenos, aqueles em que são servidos cafezinho. Um continha chá e o outro um suco amarelo, ambos estavam até a metade; aquele era o desjejum de Valentina. Como estava faminta ela apanhou o suco e levou à boca de uma só vez, caiu como uma pedra em seu estômago e ela se contorceu levando a mão ao estômago.

               Mais uma vez a dor a incomodava e enquanto gemia questionava se seria sempre assim. O médico foi chamado e explicou à sua paciente que nos primeiros dias aquela dor era esperada e aos poucos tudo voltaria ao normal; precisava ter paciência e aprender a comer. Por ora teria que se levantar, tomar banho e caminhar um pouco, pois logo teria alta e deixaria o Hospital.
               Clara, que a tudo assistia ficou atenta a reação da filha, que veio imediatamente.


             – E o que eu vou comer? Estou morrendo de fome e não posso comer, que dói meu estômago. E, duas lágrimas rolaram de seus olhos indo morrer em sua boca, seguidas de um gemido doido. Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

"DIREI DO SENHOR: ELE É O MEU DEUS, O MEU REFÚGIO, A MINHA FORTALEZA, E NELE CONFIAREI". SALMOS 91 DA BÍBLIA SAGRADA


                              NAS MÃOS DE DEUS 
                    
CAPÍTULO SETE

Clara tinha muito medo da cirurgia de Valentina, porque o médico dissera que toda cirurgia, sempre, envolve riscos de vida. E, aquela filha já lhe trouxera muitas preocupações, então, suas noites tornaram-se povoadas de pesadelos; aquele pensamento sobre morte, a deixava inquieta.

Desde que o médico autorizou os exames pré-operatórios, que ela não dormia direito; parecia que vivia com uma sombra assustando seus dias e deixando a ansiedade tomar conta dela. Seu coração de mãe estava apertado, acelerado e nada conseguia acalmá-lo.

             Ela intensificara suas idas à Igreja e consequentemente suas orações, precisava se agarrar com Deus. Valentina não se importava com a cirurgia, não demonstrava nenhuma preocupação. Não dava importância à sua vida ou não entendia direito do que se tratava.

          Com certeza, pensava ser apenas um passe de mágica, sem levar em conta o sofrimento e as privações a que seria submetida posteriormente. Clara estava ciente de tudo isso, no entanto, para Valentina era a única saída para se livrar do complexo de inferioridade e dar a ela a oportunidade de se sentir igual aos irmãos, isto é, magra e esbelta.

           Ultimamente havia engordado mais ainda, seus tornozelos viviam inchados de carregar tanto peso. Chegara a pesar cento e quarenta quilos; seu corpo pesado lhe valia cansaço e falta de ar. Chegara ao seu limite; só o bisturi para dar jeito na situação, dissera o médico desanimado. Todos sabiam disso, a moça estava cada dia mais gorda. Valentina estava serena, iria para a forca sem pensar no cadafalso, pensava sua mãe quando olhava a filha obesa.

           E, finalmente o dia da cirurgia chegou para desespero de Clara, que acompanhou a filha até o Hospital. Valentina mostrava-se tranquila, parecia não se importar com a situação. E, quando vieram busca-la para o centro cirúrgico, a mãe ficou rezando para que sua cirurgia corresse bem.

          Foi uma manhã inteira de aflições e medos para aquela pobre mãe; embora Rui, o marido, estivesse ali, ele era impotente e só servia para dar o ombro para Clara chorar. Ela não saberia dizer quantas vezes pediu aos Santos e a Deus pela filha. O casal estava exausto, quando a porta se abriu e chegou a notícia de que a cirurgia havia acabado e a paciente estava na sala de recuperação.

          Os dois se abraçaram, agora começava uma nova etapa na vida da família, talvez a mais difícil de todas; conter a fome de Valentina. Sem dúvida, agora todos, estavam nas mãos de Deus. Pensou a mãe consolada pela notícia alvissareira. Valentina sobrevivera à cirurgia bariátrica...

        Um texto de Eva Ibrahim. Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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