MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

"COISA RARA E BONITA É A GENTE PODER SE COMUNICAR POR MEIO DA ALMA, SEM QUE PALAVRA ALGUMA NECESSARIAMENTE ACONTEÇA". ANA JÁCOMO. - SE ENCANTAR ELEVA SEU PODER DE CONCENTRAÇÃO. EVA IBRAHIM

MILAGRE
CAPÍTULO SEIS
Alda precisava encontrar um caminho para tirar o marido daquela situação. As crianças estavam com medo do pai, pois, ele andava maltrapilho, barbudo, cabeludo e sempre embriagado. Ana tinha saudades de quando ele a maltratava, agora nem olhava para ela; parecia um morto vivo.

Sua mãe andava desesperada procurando o pai pelas redondezas e sempre acabava por encontra-lo caído nas portas dos bares. Voltava para casa arrastando o marido e se expondo aos falatórios da vizinhança. 

Vitório aguardava o inquérito ser concluído para saber qual seria seu destino. O advogado dissera que se as testemunhas depusessem a seu favor, ele poderia ser considerado inocente e ficaria livre das acusações. Entretanto, ele se considerava culpado e queria ser castigado por ter tirado a vida de uma criança. Estava com depressão e ideias suicidas.

Dois longos meses se passaram e a situação só piorava. Certo dia, Alda estava chorando debruçada na mureta do muro, que dava para a rua; estava cansada de viver de favor na casa da sogra. Não tinham dinheiro para nada e a mãe dele gastava toda sua aposentadoria, para manter a casa com muitas dificuldades. A velha senhora estava adoentada pelo sofrimento que presenciava todos os dias.

Alda queria trabalhar, arrumar uma casa e tocar a vida para a frente. E, logo começariam as aulas dos filhos, que precisavam voltar à escola. Em meio a tantas incertezas, a mulher não via saída.

A vizinha da sogra, que morava ao lado, se aproximou e perguntou por que chorava. Alda enxugou as lágrimas e lhe disse que sua vida estava complicada demais, perdera as esperanças. Então, a mulher a chamou para irem à Igreja.

Ela se surpreendeu com o convite, pois mal conhecia a vizinha. Entretanto, respondeu prontamente que aceitava o convite. Alda percebeu que foi um impulso e acabou sentindo um arrepio pelo corpo.

- Seria a vontade de Deus lhe mostrando uma saída?

Seu coração dizia que sim e acabou combinando com a mulher a ida à Igreja Evangélica. Levaria a sogra e os filhos e pediria muito a Deus pela saúde de Vitório. Ele precisava trabalhar para poderem retomar à vida e deixar a casa da mãe dele, que merecia sossego.

Sibele, a vizinha, estava em frente à casa na hora marcada e com a Bíblia na mão. Alda, a sogra e os três filhos se juntaram a ela para irem à Igreja. Vitório estava jogado na cama roncando, mais uma vez o álcool o dominara. Não seria desta vez que levariam o Vitório até uma Igreja; quem sabe algum dia ele iria por vontade própria.

O grupo foi andando até o local; um grande salão onde aconteceria o culto. O órgão começou a tocar e uma cantora jovem se pôs a cantar músicas que falavam do milagre de Deus. Alda suspirou:

 - Só um milagre poderia dar jeito naquela situação, pensou a mulher incrédula.

Porém, seu coração trazia uma esperança. Sibele havia plantado uma pequena semente em seu coração quando disse:

 - Para Deus nada é impossível. Ele é o Deus dos milagres.

Sibele acreditava que o seu Deus tinha poder para ajudar a família de Alda e ela se agarrara aquela possibilidade. Estava ali pronta a pedir ajuda aos céus. Abaixou a cabeça, fechou os olhos e se deixou levar pela energia do lugar. Ela precisava se conectar com os anjos, para obter ajuda no pedido que faria ao pai.
- “Um milagre em sua vida”.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

ENCARAR A REALIDADE PODE SER O CAMINHO PARA UM RECOMEÇO. EVA IBRAHIM

SEM RUMO
CAPÍTULO CINCO
             Valmir tratou de arrumar um advogado para tirar o irmão da cadeia, porém, quando chegaram a delegacia constataram que Vitório não estava mais lá. Fora transferido emergencialmente, pois a população se preparava para invadir o local; queriam mata-lo a qualquer preço.

            Ao redor da delegacia a cena era de um campo de guerra, havia uma quebradeira geral. Os vidros das portas e vidraças foram todos quebrados com pedras e paus. A rua estava interditada, tudo nas imediações fora saqueado. Atos de puro vandalismo, que deveriam ser apurados posteriormente.

           Aquela parecia a revolta de uma população descontente, que acaba se envolvendo em uma desgraça para demonstrar sua insatisfação à sociedade. O fato ocorrido era uma situação estabelecida, uma vez que o menino já estava morto. Portanto, nada mais poderia ser feito, então, todos os presentes tomaram as dores da família e começaram a quebradeira.

           Valmir ficou paralisado com a situação, ainda mais que o delegado o aconselhou a sumir por uns dias, poderiam querer pegá-lo também. Vitório ficaria na delegacia da cidade vizinha para sua própria segurança. Depois dos primeiros depoimentos, sua prisão seria relaxada e ele responderia ao processo em liberdade.

        O advogado e Valmir iriam ao encontro de Vitório, mas, antes passariam na casa dele para pegar algumas roupas e objetos de uso pessoal. Entretanto, ao avistar a casa perceberam que ali também houvera um ataque. A residência da família estava toda pichada e com os vidros quebrados. No muro podia-se ler: “Assassino”, “Monstro” e outros nomes equivalentes.

           Os dois homens adentraram a casa com receio de serem surpreendidos e atacados. No entanto, não havia ninguém ali e assim que pegaram documentos e objetos de uso pessoal do Vitório saíram e, foram até a cidade vizinha.

         O encarcerado estava desesperado, não aceitou comida e nem queria conversar com ninguém; queria morrer. Era evidente que houvera um acidente e que aquele homem era inocente. Apesar de estar cheirando a bebida, era um trabalhador e pai de família. O delegado disse que iria interroga-lo e ouvir as testemunhas e depois ele poderia aguardar o inquérito em liberdade. 

        Diante da gravidade da situação, o advogado orientou Valmir a retirar os móveis da casa do irmão e entregar a propriedade ao dono. Aquele lugar não poderia mais abrigar aquela família, que estava marcada pelos últimos acontecimentos. Seria melhor que a esposa e filhos de Vitório não voltassem mais ali, ou poderiam receber represálias dos parentes da vítima.

         Depois de alguns dias, Valmir retirou toda a mobília da casa de Vitório debaixo de xingamentos dos vizinhos, que sabiam que ele nada tinha a ver com o ocorrido. No entanto, não se conformavam com o acidente e queriam acabar com o "assassino", que fora se juntar à  família na casa de sua mãe.

        O homem estava em estado lastimável, nunca mais fizera a barba ou cortara o cabelo. Andava sujo e não queria conversa com ninguém. Se entregara à bebida, nada mais lhe importava, nem mesmo os filhos. Deixara de implicar com a Ana e nunca mais brigou com Alda.

         - Estava com depressão; precisava se tratar ou acabaria fazendo alguma besteira, dissera o médico.

Em apenas duas semanas, Alda e a sogra não sabiam mais o que fazer, Vitório não queria trabalhar e vivia caído nas sarjetas; tornara-se um mendigo.

 Um texto de Eva Ibrahim. 
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

"AQUILO QUE PARECE SER O FIM, PODE SER O INÍCIO DE UMA NOVA VIDA, POIS, A VIDA RESERVA MUDANÇAS INESPERADAS". EVA IBRAHIM

O DRAMA
CAPÍTULO QUATRO
             Valmir gaguejou, seus olhos ficaram cheios de lágrimas; estava muito preocupado. O homem parecia assustado, tinha a voz embargada; entretanto, mesmo emocionado conseguiu falar:

          - Aconteceu uma desgraça; o Vitório foi dar ré no caminhão para ir para casa e atingiu um menino de 11 anos que estava aprendendo a andar com sua bicicleta nova, que ganhara de presente de Natal.

                Alda ficou pálida e perguntou se o menino estava muito ferido. Valmir gaguejou e baixando o olhar disse:

            - Morreu na hora, debaixo da roda do caminhão. Ainda está lá aguardando a perícia. Há uma multidão revoltada no local e a polícia de prontidão.

             - E onde está o Vitório? Perguntou a mulher receosa.

             - Juntou muita gente no local do acidente e quase lincharam o meu irmão. Então, a polícia chegou e conseguiu tirá-lo das mãos da população revoltada. Ele tomou alguns socos e pontapés. Está com um olho roxo e algumas escoriações, aparentemente nada muito grave. Em seguida, foi levado para a delegacia escoltado pela polícia, eu não pude fazer nada. Em meio ao tumulto havia algumas pessoas dizendo que iriam pegar os filhos do Vitório para se vingar, por isso estamos aqui.

             - Vou leva-los para a casa de minha mãe até os ânimos se acalmarem. Depois veremos o que fazer, concluiu o rapaz.
           Alda começou a chorar. E, entre soluços ela se lamentava:

           - Pobre mãe, que tristeza perder um filho no dia de Natal! O que será dessa família agora?
            E, também se preocupava com o marido.

           – Com certeza ele não fizera de propósito, deve ter sido uma fatalidade. Era um homem grosseiro e estúpido com a família, no entanto, jamais atropelaria uma criança. Vitório, no início do casamento, fora um marido amoroso com a mulher e os filhos; depois começou a beber e se tornou violento.

          O cunhado explicou que o menino estava aprendendo a andar de bicicleta e caiu justamente quando Vitório afastava o veículo, sendo esmagado pela roda do caminhão; havia testemunhas.

          Na delegacia Vitório contou ao delegado sua versão do fato. Alegou que só percebeu que havia algo errado quando começaram a gritar. Então, engatou a primeira e tirou o caminhão do que ele pensou ser um cachorro. Desceu do veículo e foi tentar prestar socorro. No entanto, quando viu o menino ficou desesperado com a cena e seu primeiro impulso foi fugir dali. Deu alguns passos e foi seguro pelos populares, que queriam mata-lo. E, também havia uma agravante, ele estava cheirando a bebida. Todos o xingavam de “bêbado”.

           - Teriam que ficar longe do local, até a situação se acalmar, enfatizou Valmir.

           Alda concordou, ficariam na casa da sogra, que morava na cidade vizinha, esperando notícias do marido. Valmir voltaria para ajudar o irmão e tentar relaxar a prisão contratando um advogado para isso. Ele sabia que não seria fácil, pois, Vitório havia sido preso em flagrante.

          - Talvez fosse mais seguro para Vitório ficar preso na delegacia; a população exaltada queria vingança e seria muito difícil conter o povo. Disse o tio abraçando as crianças, que choravam assustadas.

          Depois, todos tomaram assento no veículo e partiram em direção à casa da avó. Ana não gostava do pai, porém, não queria vê-lo preso. Sentia-se culpada por ter desejado mal a ele. A mãe e a menina começaram a rezar em voz alta.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

"SE DER MEDO... FINGE QUE TEM CORAGEM E VAI COM MEDO MESMO". AUTOR DESCONHECIDO-- NÃO DESISTA JAMAIS! EVA IBRAHIM

A FUGA
CAPÍTULO TRÊS
Vitório chegou depois do jantar, pois havia passado no bar para tomar um aperitivo com os amigos. Quando resolveu ir para casa já estava bêbado e de mau humor. Deixou o caminhão em frente à sua residência e entrou gritando o nome da filha. Ana tremeu de medo.
- Será que haviam contado para ele sobre o fogaréu no pasto?

No bar não se falava em outra coisa. Elas souberam no dia seguinte. E, quando ela se aproximou, o pai tirou o cinto e lhe deu diversas lambadas nas pernas enquanto gritava:

– Menina vagabunda, que me envergonha diante dos amigos.

Alda ouviu o barulho, então correu para acudir a filha e, tentando puxa-la das mãos do marido, levou um soco nos olhos. Em seguida, o homem bêbado cambaleou até o quarto, se jogou na cama sem tomar banho e logo estava roncando igual a um porco.    
              
Mãe e filha choraram abraçadas, desejando que ele morresse. Só assim poderia acabar com o sofrimento de apanhar depois de tantas bebedeiras. Entretanto, Vitório era um homem forte e tinha muita saúde, elas teriam que se conformar. Alda queria deixar o marido e sumir com os três filhos. No entanto, ela tinha certeza que ele iria atrás deles e a mataria.

No dia seguinte, ele se levantou e como se nada houvesse acontecido se aproximou de Alda, então, a puxou para um beijo. Ela se esquivou e ele a empurrou.

– Irá se arrepender, mulher maldita; blasfemou o homem irado.

Depois ligou o caminhão e saiu para mais uma viagem; dessa vez foi sem dizer até logo. Ele saia para viajar com o caminhão, quase sempre, na segunda feira, então, mãe e filha tinham dois ou três dias de paz; depois começava tudo novamente. Com muita sorte ele demoraria até o fim da semana. 

       Alda e Ana não tinham vontade de cuidar da beleza, viviam com hematomas pelo corpo; tornaram-se duas mulheres desmazeladas. Os vizinhos já estavam acostumados com as brigas e os gritos daquela família; certa vez precisaram chamar a polícia.

A menina não estudava, vivia metida em bagunças e brigas; faltava as aulas quando queria acompanhar a turma em suas traquinagens. O final do ano chegou e Ana foi reprovada.

- Era de se esperar, aquele fora um ano muito difícil, disse a mãe à professora.

O Natal se aproximava, os dois irmãos de Ana estavam eufóricos, iriam ganhar bicicletas. No entanto, ela não ganharia nada, uma vez que fora reprovada na escola. A menina estava conformada, detestava o pai.

A noite de Natal passou com Vitório bêbado, estava cansado e foi dormir antes da meia noite. Logo depois foi a mãe e os filhos. Ana demorou a pegar no sono, estava muito infeliz. No dia seguinte acordaram tarde, passava das onze horas. Vitório bateu a porta dizendo que iria ao bar comprar mais cervejas e saiu com o caminhão.

Passava do meio dia quando Vilmar, o irmão mais novo de Vitório, chegou esbaforido gritando para Alda pegar as crianças e acompanha-lo.

 - Aconteceu uma desgraça, pega as crianças e vamos embora, gritava o rapaz.

A mulher chamou os filhos, pegou a bolsa e entraram no automóvel do cunhado, ela pensava que o marido tivesse sofrido um acidente. Vilmar corria como se tivesse fugindo de alguma coisa muito grave; não queria explicar nada.

- Depois, depois eu digo. Dizia nervoso.

Quando já estavam fora da cidade Alda pediu para ele parar e contar o que acontecera. Ele estacionou o automóvel em uma praça da cidade vizinha; depois respirou fundo para poder se acalmar. Alda estava muito preocupada.
 - Afinal, diga logo o que aconteceu?
 - Onde está o Vitório?
 - Por que estamos fugindo?
 Ana e os irmãos estavam de olhos arregalados, foi uma corrida e tanto. Nunca tinham andado em um automóvel que corresse daquele jeito. Valmir pediu calma a Alda e saiu do automóvel, depois abriu a porta para ela e as crianças descerem. A mulher e os filhos sentaram-se no banco da praça, então, o tio começou a falar.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

"SE VOCÊ OBEDECE TODAS AS REGRAS, ACABA PERDENDO A DIVERSÃO". BOB MARLEY -- FÉ ACIMA DE TUDO. EVA IBRAHIM

MOLECAGENS
CAPÍTULO DOIS
No quarto dia, Ana foi à escola sem tomar banho e depois do recreio estava suada e cheirando a suor. Então, a professora a levou para a diretoria e a diretora lhe deu um limão para esfregar nas axilas. Depois, sentou-se em frente a menina e lhe explicou a necessidade de asseio e o quanto era bonito uma adolescente limpa e cheirosa. Ana concordou. 

- Nunca mais viria à escola sem tomar banho. Prometeu a menina, mas é claro que não cumpriu a promessa.

Ela fazia parte de uma turma de moleques onde havia somente duas meninas, ela e a Gisela. No entanto, ela e a companheira tinham uma convivência difícil; era raro o dia em que não discutiam. Torresmo, o líder da turma era um moleque mestiço, tinha a pele morena, os cabelos enrolados e um jeito astuto de ser. Estava sempre ligado e arrumando confusão.

Na saída da escola ele convidou a turma para nadar na represa, o calor estava intenso; fazia meses que não chovia naquele local. A turma seguiu em frente, eram quatro meninos e as duas meninas. Deixaram as mochilas em baixo de uma árvore e caíram na água. Depois de um bom tempo de diversão resolveram voltar para casa, estavam com fome; já passava de uma hora da tarde. Estavam alegres e seguiam cantando. De repente, o Torresmo parou, tinha avistado um despacho de macumba e foi ver o que havia ali; todos o seguiram curiosos.

 Galinha preta, farofa, garrafas de bebidas, velas e uma caixa de fósforo. Então o menino chutou o despacho e pegou a caixa de fósforos, saindo dali dando risadas. Ana se encolheu, tinha medo de macumba e a Gisela que nada temia, também chutou o despacho se pondo a rir de Ana.

 – Ana Banana, chupa cana e mija na cama!!! A provocação deu resultado e a Ana gritava:

 - Gisela Cadela, chupa osso e fica banguela!!!

Por fim as duas rolaram na terra. Enquanto isso, os meninos riscavam o fósforo incendiando o capinzal seco do pasto. A fogueira tomou volume e eles correram assustados. Quando saíram do pasto o fogaréu já se alastrava por uma grande extensão e, assustados não sabiam o que fazer. Torresmo, que era o dono da arte, pela primeira vez ficou com medo e foi até o bar pedir para o dono chamar os bombeiros, temia o agravo da situação.

Houve uma grande aglomeração de pessoas, que ficaram sabendo que o responsável era a turma do Torresmo, que correram para suas casas com medo da polícia. Ana chegou em casa parecendo uma maltrapilha suja e sua mãe lhe deu uns tabefes logo no portão. Aos gritos, Alda queria saber porque demorara e onde tinha ido.

               Ela contou que estavam vendo o pasto pegar fogo e a mãe, de olhos arregalados, saiu atrás da novidade, pois não é todo dia que se tem um pasto pegando fogo. Os homens da comunidade se uniram aos bombeiros e, depois de duas horas de trabalho intenso conseguiram apagar o fogo.

Um texto de Eva Ibrahim

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

"ELA ACREDITAVA EM ANJOS. E, PORQUE ACREDITAVA, ELES EXISTIAM..." CLARICE LISPECTOR - DEVEMOS SORRIR SEMPRE, MESMO ESTANDO TRISTE. EVA IBRAHIM

ANA BANANA
CAPÍTULO UM
            A menina fora encaminhada à diretoria; teria que se explicar mais uma vez. Depois do intervalo ela adentrou à classe com a roupa suja e um arranhão no rosto, foi a reclamação da professora. Hermínia, a diretora, estava acostumada a receber a Ana em sua sala. Era uma menina mal arrumada, que brincava com moleques na rua e tinha pouco interesse nos estudos. Muito magra, alta para sua idade, tinha os cabelos castanhos sempre despenteados e uma aparência de desleixo.

Quando a inspetora de alunos entrou na sala, segurando no braço da menina de doze anos, percebeu que já havia outra aluna sentada na cadeira, ela estava aguardando a Ana para se explicarem diante da diretora. As duas estavam sujas e com arranhões, por isso seriam suspensas das aulas por três dias. Hermínia não conseguiu retirar delas o motivo da desavença, eram reincidentes.

Ficaram sentadas na diretoria até a sineta tocar para irem para casa. Levavam na mochila uma carta de suspensão, que deveriam trazer assinada pelo pai ou não entrariam na sala de aulas. Quando saíram, a diretora ligou para as mães das duas alunas, contando sobre a briga ocorrida no intervalo e pedindo providências.

Alda, a mãe de Ana, estava na porta e recebeu a filha com dois safanões, que a jogaram dentro do banheiro. A menina tomou um banho e saiu enrolada na toalha indo para seu quarto. E, Alda gritou da cozinha:

- Depois do jantar, seu pai acerta as contas com você.

A menina tremeu; o pai batia pesado. Era melhor colocar calças compridas e blusão, pois, com certeza levaria algumas cintadas. Ela já tinha marcas de outras sovas no corpo, o pai era violento. No entanto, apesar de saber disso, ela não tomava jeito; estava sempre metida em encrencas.

Vitório, o pai, era um caminhoneiro ríspido, intolerante, grosseiro e gostava de beber. Quando chegava do trabalho bêbado, ameaçava a mãe e as vezes batia nela também. Os meninos se escondiam e sempre sobrava uns tabefes para a filha, que o enfrentava para defender sua mãe.

A menina magricela trazia dentro de si uma revolta contra o pai e quanto mais apanhava, mais molecagens fazia. Não tinha vaidade, na escola ela brincava com os meninos e participava das bagunças que eles faziam, ela e sua amiga Gisela. Certo dia as duas se desentenderam e a Gisela passou a chama-la de Ana Banana, até o dia em que a Ana revidou e passou a chama-la de Gisela Cadela, então a amizade acabou. Mas, essa história correu boca a boca e ambas passaram a ser conhecidas, no meio em que viviam, pelo apelido: Ana Banana e Gisela Cadela.

Naquela noite não foi diferente, o pai chegou bêbado e a filha apanhou para valer. E, depois de um empurrão ela caiu e raspou o braço no muro de cimento, causando-lhe mais um ferimento. A menina chorou de raiva até pegar no sono. O castigo foi duro, ficaria trancada em casa durante os três dias que estaria suspensa da escola.

O pai não a queria sentada na mesa do jantar; parecia odiar a filha. Alda sofria com as agressões do marido e temia pela sorte da menina. Vitório dizia que a maioria das mulheres não prestavam, por isso ele batia na filha para ela não pensar em sair da linha.

 - Que comesse sozinha, longe dele, dizia o homem irado.

A situação naquela casa era insuportável, Alda tinha medo do marido e sentia por não conseguir defender a filha, no entanto, com os meninos ele não implicava. O foco principal de Vitório era a filha, que recebia as grosserias do pai diariamente.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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