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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

"E, AS HORAS LÁ SE VÃO, LOUCAS OU TRISTES... MAS, É TÃO BOM, EM MEIO AS HORAS TODAS, PENSAR EM TI; SABER QUE TU EXISTES." MARIO QUINTANA-- VIRE A PÁGINA E RECOMECE A ESCRITA. EVA IBRAHIM!

A ENCRUZILHADA

                                                  CAPÍTULO ONZE
         Olívia guardaria aquele segredo enquanto pudesse; ainda tinha alguns meses pela frente.  Não diria nada a ninguém, apenas contaria a novidade ao seu amor, ele ficaria feliz e o laço que os unia se tornaria mais forte. Ela precisava sentir o amor e o apoio de João Paulo, para decidir o que fazer de sua vida; estava em uma encruzilhada.

Passados quinze dias, D. Estela pediu à vizinha que a acompanhasse ao presídio, pois não tinha segurança em viajar sozinha. Era uma senhora idosa e precisava de companhia, além do que, seu filho ficaria feliz em vê-la, argumentou a velha senhora. Olívia sorriu, também queria vê-lo, estava ansiosa; muito mais do que a vizinha poderia imaginar. Não contaria sobre a gravidez à D. Estela para não deixa-la preocupada.

          Antônio viajou e ela se preparou para contar a novidade ao seu amante. A reação de João Paulo seria determinante para sua decisão de contar sobre seu estado ao marido. Olívia estava ansiosa para reencontrar João Paulo; seu coração batia aceleradamente. Ele a cativara e passara a ser o homem que ela sempre imaginara. Ao rever o seu amor, a mulher teve a certeza de que, o amor que sentia por ele estava acima de tudo; não hesitaria em abandonar o marido e os filhos para viver com ele.

      Depois de um longo abraço, ela disse que trazia uma grande novidade para ele e, depois que a velha mãe se afastou e ficaram a sós, Olívia fez a revelação inesperada. Eles teriam um filho juntos e ela esperava que fosse parecido com ele.

 O rapaz ficou pálido, não sabia o que pensar; era uma situação inusitada. Ele gostava da mulher, entretanto, precisava refazer sua vida antes de assumir compromisso sério. João Paulo sempre desejou ter um filho, porém, em outra situação. Queria acompanhar a gestação e dar toda a assistência a sua mulher. Aquele não era o melhor momento, teria que cumprir o restante de sua pena e não daria tempo de ver seu filho nascer.

Entre abraços e lágrimas ele a fez prometer que esperaria até o dia das mães para tomar uma atitude. João Paulo tinha bom comportamento e por isso acreditava que sairia da prisão novamente, para passar o feriado com sua mãe. Por ela ser uma mulher idosa, seria possível conseguir o indulto, argumentou o rapaz.

Olívia nada pode resolver; se abrisse a boca, seria expulsa de casa e não saberia o que fazer. Mal dormia à noite, que eram povoadas de pesadelos horríveis. Comia pouco para não engordar e dar na vista. A criança já mexia em seu ventre e ela tinha curiosidade em saber o sexo do bebê, porém, nunca fora ao médico, temia que alguém descobrisse o seu segredo.

A mulher sempre arrumava brigas com Antônio, para que ele não a tocasse, entretanto, ele andava desconfiado do jeito de sua esposa. Ela estava engordando e sempre indisposta, teria que pressioná-la para saber o que a fazia agir assim. Olívia sempre fora uma mulher tranquila e cordata, agora vivia na defensiva; algumas vezes parecia odiá-lo.

Ela não poderia tirar a roupa diante de Antônio, pois ele perceberia sua barriga protuberante. Durante esse tempo o casal teve três relações sexuais, que Olívia não conseguiu evitar, mas estava escuro e o marido não percebeu nada.

Certo dia, a gestante foi ao açougue comprar carne e teve uma queda de pressão. Olívia desfaleceu e foi levada ao Pronto Socorro da cidade. Lá chamaram o marido, que ficou boquiaberto ao ouvir o médico dizer, que sua esposa estava grávida de cinco meses.

Um texto de Eva Ibrahim.


Continua na próxima semana.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

"JAMAIS SE DESESPERE EM MEIO AS MAIS SOMBRIAS AFLIÇÕES DE SUA VIDA, POIS DAS NUVENS MAIS NEGRAS CAI ÁGUA LÍMPIDA E FECUNDA." PROVÉRBIO CHINÊS---AMAR, TALVEZ, SEJA ISSO. EVA IBRAHIM.

           SEM PERDÃO

                                CAPÍTULO DEZ
        Olívia tinha que aceitar o marido, não por escolha, mas por obrigação; esperava ele dormir para deitar-se. Fazia aquilo como se fosse um ritual, silenciosamente se enfiava na cama e permanecia imóvel; depois se levantava antes dele. Na maioria das vezes dava certo, entretanto, algumas vezes ela tinha que ceder; Antônio forçava a situação. João Paulo perguntou à Olívia se ela e Antônio mantiveram relação sexual e a mulher negou; tornara-se mentirosa também.

         Aquele era um caminho sem volta; Olívia caminhava para a decadência moral. Seus valores se reduziram a quase nada, tinha um caso com um detento da Penitenciária, que fora preso por tráfico de drogas. Se alguém descobrisse seria apontada na rua, pois, Antônio a expulsaria de casa. Pensava nos filhos e sentia-se envergonhada, entretanto, o amor que tinha dentro do peito falava mais alto e lhe dava coragem para enfrentar o mundo.

O marido saiu para acertar novas viagens e ela correu à casa de D. Estela, queria se despedir de João Paulo. Trancaram-se no quarto onde aconteceu mais uma entrega de amor. Uma relação tão forte que o casal não queria mais sair dali; era um ninho perfeito, apenas os pássaros estavam errados.

Olívia voltou a si quando ouviu o ronco do caminhão de Antônio, parando do outro lado da rua. Então, ela disse um “até breve” ao seu amor e esgueirando-se pelo muro foi para casa. O marido estava no banheiro e ela aproveitou para lavar seu rosto no tanque; queria tirar o sabor dos beijos de João Paulo ou acabaria contando ao marido a sua traição.

O marido nem percebeu que a mulher estava nervosa; ele disse alguma coisa e saiu sem esperar a resposta. Olívia respirou fundo, sua consciência estava pesada; era muita culpa por tanta felicidade obtida de maneira pecaminosa. Estava muito envolvida, jamais conseguiria voltar a ser aquela mulher simples e ingênua de algum tempo atrás.

               A ansiedade não deixara a mulher dormir; queria, ao menos, ouvir quando João Paulo saísse para retornar ao presídio. E, quando ouviu o portão fechar ela chorou baixinho; seu amor partira sem data para voltar. Os dias perderam a luz, nada mais tinha sentido. Olívia tornara-se uma flor murcha, não queria conversa com ninguém; estava deprimida.

               Antônio, em suas idas e vindas não dava muita importância à frieza da mulher. Ele pensava que a menopausa estava mexendo com o humor de sua esposa, afinal, ela era uma mulher de quarenta e cinco anos, que não tinha mais o viço das jovens de vinte.

               O mês de janeiro passou e quando fevereiro chegou Olívia estava com problemas estomacais; vivia vomitando pelos cantos. Suas regras de menstruação não apareceram, entretanto, o médico disse que era normal a menstruação diminuir quando a mulher está no climatério.
               O tempo corria e durante uma visita à Penitenciária, João Paulo reparou que Olívia estava diferente, isto é, mais magra, pálida e com um olhar diferente. Com ar de preocupação pediu que ela procurasse o médico; poderia estar doente mesmo e não apenas fingindo. Ela concordou, iria ao médico, pois não se sentia nada bem, vivia vomitando.
               A mulher foi submetida a vários exames e depois recebeu o diagnóstico, que quase a enfartou; estava grávida. Ela foi levada ao céu e depois ao inferno, o filho era de João Paulo, que era mulato escuro, teria que contar a verdade ao marido.

Quando a criança nascesse, todos saberiam de sua traição. A data provável de quando engravidara, não deixava nenhuma dúvida, pois não tivera relação sexual com Antônio, portanto, tinha certeza de que o pai era João Paulo. Antônio era branco, descendente de italianos e não aceitaria um filho mulato, sem duvidar da honestidade da mulher.

Olívia teria que pensar muito e tomar uma decisão; queria muito aquele filho, fruto de muito amor.

Um texto de Eva Ibrahim. 

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

"E, QUE A MINHA LOUCURA SEJA PERDOADA. PORQUE METADE DE MIM É AMOR E A OUTRA METADE, TAMBÉM..." FERNANDO PESSOA-- NÃO HÁ MEDIDA PARA O AMOR. EVA IBRAHIM.

AMOR BANDIDO
                                              CAPÍTULO NOVE
          Quando Antônio saiu para trabalhar ainda estava escuro, era sábado de manhã; as festas para ele continuariam nas estradas. Estaria de volta somente na sexta-feira seguinte, após o ano novo; era a forma de prover o sustento de sua família. Ele já estava acostumado, era um velho lobo da estrada, que passava muitos dias fora de casa. 

       Partiu preocupado com Olívia, a mulher estava arredia, não aceitou seus carinhos; dizia estar doente. Antônio gostava dela, a chama dos primeiros tempos havia se apagado, entretanto, ficara o afeto, o companheirismo; Olívia era seu porto seguro. Ele não imaginava que ao viajar, fazia dela uma mulher feliz.

Durante alguns dias ela poderia desfrutar do amor de João Paulo. Olívia não se reconhecia mais, tornara-se uma nova mulher, muito mais astuta. Estava apaixonada e louca para estar ao lado de seu novo amor. Mesmo sabendo que corria riscos de ser descoberta pelos filhos ou algum vizinho. Era um sentimento tão profundo que parecia sufoca-la de ansiedade; tinha que contar até dez para não dar na vista.

O amor torna a pessoa imprudente, pondo em risco a própria reputação, João Paulo alertava a mulher. Além do que ele teria que voltar a prisão e, consequentemente, não poderia assumir compromisso oficial com ela. Ainda tinha três anos de pena para cumprir, então, quando saísse queria ficar com ela, porém, agora ela deveria ter cautela.

Aquele amor precisava permanecer em segredo para o bem dela; dariam tempo ao tempo para descobrir o melhor caminho a seguir. Ele poderia receber a liberdade condicional se tivesse bom comportamento e assim, sair mais cedo da cadeia. Ela precisava da proteção do marido, o amor dos filhos e o abrigo da casa, para ele poder ter tranquilidade. Depois da liberdade conquistada voltariam a conversar, disse João Paulo, com uma ruga de preocupação na testa.

D. Estela já estava entregue a degeneração natural que acompanha a velhice e ia deitar-se logo ao escurecer. Então, Olívia aguardava os filhos saírem de casa para cair nos braços de João Paulo. Aninhada naqueles braços fortes, sentia-se a mulher mais feliz desse mundo. Os dias passavam rapidamente e o casal se preocupava com o retorno do marido e a volta de João à Penitenciária.

A sexta-feira chegou e Olívia sentiu seu coração pular no peito, estava desconsolada, queria que Antônio nunca mais voltasse para casa. Então, pensou em Deus, vivia em pecado e estava desejando a morte do marido; em seguida se arrependeu.

- Perdão, meu Deus, não me castigue, pois, ninguém precisa morrer para eu viver; há de se dar um jeito. Um arrepio subiu pelo corpo da mulher. Sua condição de traidora começava a pesar em seus ombros.

–Como iria encarar o marido? E se ele quisesse toca-la? Não poderia trair João Paulo e aquela história da doença não se sustentaria por muito tempo. Sua cabeça chegava a doer de tanto pensar, estava desolada. Seu amor voltaria à prisão na segunda-feira e com Antônio em casa ela não poderia dizer adeus, amando-o pela última vez.

            Logo cedo, ela ouviu o ronco do caminhão de Antônio e ele desceu do veículo sorridente; trazia nas mãos um saco de mangas. Ele sabia que ela gostava daquela fruta e sempre lhe trazia algumas; era uma forma de agradá-la. Entregou o saco com uma mão e com a outra a puxou para si, beijando-a de surpresa. Depois perguntou se ela havia melhorado, estava preocupado com sua saúde.

            Olívia percebeu que Antônio não aceitaria desculpas, estava sedento de amor. Ele a puxou para o quarto, tinha urgência em amá-la. A mulher sentiu repulsa pelo marido, não queria trair seu novo amor, entretanto, não teve forças para resistir.

          Antônio possuiu sua mulher enquanto ela pensava em João Paulo, depois a deixou e foi para o banho. Olívia sentiu o gosto salgado das lágrimas que corriam pelo seu rosto; cometera a traição da traição e sentia-se suja e miserável.

Um texto de Eva Ibrahim.
 Continua na próxima semana.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

"UM DIA DESCOBRIMOS QUE APAIXONAR-SE É INEVITÁVEL E, QUE AS MELHORES HISTÓRIAS DE AMOR SÃO, NA VERDADE, AS MAIS SIMPLES." MÁRIO QUINTANA-- NÃO DESISTA, SORRIA. EVA IBRAHIM

COM MUITO AMOR
                                            CAPÍTULO OITO
         O jantar foi mágico, olho no olho com o coração disparado. Ao mais leve toque, o corpo de Olívia se incendiava, estava pronta para o amor de João Paulo. Ele a abraçou e, lentamente a conduziu ao seu quarto; Olívia estava enfeitiçada e não opôs resistência. Em seguida, com muitos beijos, afagos e carinhos ele a despiu. Depois se deitou ao seu lado na cama e viveram horas de muito amor, nada mais importava; estavam felizes e completos.

        Os dois adormeceram abraçados, o amor venceu quase todas as barreiras; poderiam ficar ali para sempre. Entretanto, o pior ainda estava por vir, o marido traído era a realidade de Olívia. Antônio não poderia desconfiar do que estava acontecendo ou viraria um assassino. A mulher acordou assustada e olhando o relógio viu que já estava tarde. Eram três horas da manhã, teria que voltar para sua casa. Seus filhos logo voltariam e ela deveria estar lá, junto do marido, que dormia profundamente.

        João Paulo resistiu em deixa-la sair de seus braços, fazia tempo que ele não tinha uma mulher e aquela era especial, pois despertara o amor que estava adormecido dentro dele. O rapaz queria se regenerar e viver com Olívia, ela sabia cuidar dele; era amante e mãe ao mesmo tempo.

        Ela saiu na calada da noite e esgueirando-se junto ao muro entrou em sua casa, estava feliz, porém, com medo que alguém percebesse sua traição. Olhou no espelho e viu que seu rosto estava corado; sentiu-se envergonhada, tornara-se amante de um rapaz mais novo que ela. Então, ouviu a conversa dos filhos, Renato e Raquel entravam pelo portão rindo e brincando. Olívia correu para deitar-se ao lado de Antônio.  Ficou quieta, mal respirava para que eles pensassem que estava adormecida. O filho abriu a porta e disse a sua irmã que os pais estavam dormindo e foram dormir também.

         Olívia olhava o marido roncando e pensava que não o amava mais, queria a separação para ficar com João Paulo. No entanto, ela sabia que ele nunca aceitaria a separação; em diversas ocasiões ele dissera que a mataria se fosse traído. Não sabia qual seria o seu futuro, mas tinha a certeza que não desistiria de viver aquele amor.

Aos quarenta e cinco anos de vida e vinte e cinco de casamento, era de se esperar que Olívia se comportasse como uma dona de casa tradicional. Seus dois filhos, Renato e Raquel eram adultos, já não davam trabalho; ela tinha todo o tempo que quisesse disponível.

           Antônio acreditava que sua esposa cuidava da família, frequentava a Igreja e ficava a espera dele, pronta para amá-lo sem questionamentos. Entretanto, ultimamente ela não queria saber dele, mas estava doente; isso explicava a situação estabelecida.

           O dia de Natal amanheceu com uma luz diferente, havia um brilho especial e Olívia tinha vontade de dançar, estava muito feliz. Depois do almoço foi à casa de D. Estela para levar uma travessa de comida e um presente. Gostava muito da velha senhora, que já não tinha disposição nem saúde para os afazeres domésticos e, também queria ver o seu amor. Antônio fazia a sesta enquanto ela se encontrava com o vizinho. Trocaram abraços e beijos furtivos, entre muitas promessas de amor.

         Naquele dia Olívia não poderia encontra-lo, porém, seu marido viajaria no dia seguinte e ela teria vários dias para viver aquele amor louco. Com relutância ela voltou para sua casa, mas seu pensamento ficaria ali, dissera para João Paulo ao se despedir. Amava aquele homem apaixonadamente como nunca amara ninguém antes.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana. 

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

"AS MELHORES E AS MAIS LINDAS COISAS DO MUNDO, NÃO SE PODE VER NEM TOCAR. ELAS DEVEM SER SENTIDAS COM O CORAÇÃO." CHARLIE CHAPLIN--- OLHE DENTRO DOS MEUS OLHOS. EVA IBRAHIM

COISAS DO CORAÇÃO
CAPÍTULO SETE
         Olívia estava eufórica, fizera muitos planos para ela e o João Paulo; estava apaixonada como nunca estivera. Ela vivia a “idade da loba” com ousadia e queria muito viver aquele amor tardio, porém, intenso. Sua vida que antes era vazia, agora estava cheia de emoções contidas. Bastava deitar-se e fechar os olhos que se transportava para os braços de João Paulo e como uma menina fazia planos para os dois. Seu universo era aquele homem, que chegara como um Deus, ressuscitando o que havia de mais bonito dentro dela.

Seus filhos perguntaram se havia acontecido alguma coisa diferente, pois ela andava estranha, ausente e sempre cantarolando. Parecia que não se importava mais com eles e nem com a bagunça que faziam. Olívia sorriu e negou que estivesse diferente, apenas se cansara de ser chata com a família. Por um momento sentiu-se envergonhada. Seu coração disparou e ela sentiu um calor subir pelo seu corpo.

 - Como conseguia ser tão dissimulada diante de seus próprios filhos?  Surpreendeu-se a mulher.

O amor a transformara para o bem e para o mal, queria a felicidade para o mundo inteiro e aprendera a mentir, dissimular e planejar traições. Não ia mais à Igreja, pois, se sentia impura com tantos pensamentos de amor fora do casamento. Não namorava o marido fazia um bom tempo e ele não se importava, também carregava traições nas costas; era um caminhoneiro, que estava sempre viajando. Entretanto, Antônio confiava cegamente na mulher, pensava que ela, realmente estava doente e indisposta; nunca poderia supor que Olívia fosse capaz de traí-lo. Sua esposa era caseira, amorosa e confiável, pensava Antônio. Marcaria uma consulta para leva-la ao médico, poderia ser coisa séria. Concluiu seu pensamento com uma ruga de preocupação na testa.

No entanto, sua esposa estava planejando uma noite de amor com outro homem e na noite de Natal. Antônio jamais poderia imaginar que ganharia alguns galhos na cabeça, ainda naquela noite. Olívia prepararia a ceia mais cedo, alegando estar indisposta, pois, para todos estava doente. Durante todo o dia iria incentivar o marido para tomar a bebida que ele mais gostava, muita cerveja. E, depois do jantar, serviria vinho. Essa mistura faria Antônio cair no sono e os filhos iriam comemorar a noite de Natal com os amigos até o amanhecer. Ela sabia do efeito das bebidas porque em outras ocasiões, com essa mistura o marido dormira e roncara como um porco; no dia seguinte não se lembrava de nada. Esperaria ele dormir e iria terminar a noite na casa de D. Estela.

         João Paulo lhe telefonou avisando que já estava em sua casa e ela disse que o veria à noite, que a esperasse. Olívia parecia outra pessoa, era uma estrategista nata, só agora percebera isso. Com seu amor tão perto, ela parecia enfeitiçada, não parava de pensar no que poderia acontecer naquela noite. Para Olívia aquele dia representava um marco em sua vida, estaria se jogando em uma aventura que não tinha futuro, porém, inevitável. Coisas do coração, que disparava só em pensar.

Olívia colocara cervejas na mesa durante o almoço e deixou a geladeira cheia de garrafas geladas. Assim, o marido não conseguia resistir, tomava uma após a outra e quando escureceu Antônio já estava bêbado; mal conseguia ficar em pé. As vinte e duas horas a mulher serviu a ceia e o marido tomou um cálice de vinho, depois disse que iria descansar um pouco. Seus filhos saíram para a casa de amigos e ela ficou sozinha sentada no sofá, ouvindo o ronco do marido. Antônio estava embriagado e só acordaria no dia seguinte, por isso ela foi tomar banho, queria ficar bonita e cheirosa para o grande encontro de sua vida.

   Às onze horas da noite de Natal ela adentrou a porta da casa de João Paulo, que a estava esperando. Olívia levava uma travessa com comida para ele e D. Estela, que já estava dormindo. A mulher arrumou a mesa e sentou-se diante do seu amor de perdição. Enquanto comiam seus olhares não se desgrudavam e embaixo da mesa, um pé esfregava no pé do outro e vice versa, despertando muitas emoções. Era uma noite mágica, que estava apenas começando. A noite, ainda, era apenas uma .esperança.

Um texto de Eva Ibrahim

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

VIVER É ISTO, FICAR O TEMPO TODO SE EQUILIBRANDO ENTRE ESCOLHAS E CONSEQUÊNCIAS." JEAN PAUL SARTRE-- DÊ ASAS AOS SEUS SONHOS. EVA IBRAHIM

                  FASCINAÇÃO

                                       CAPÍTULO SEIS
A porta foi aberta e Olívia adentrou ao recinto, era a primeira vez que ela ficaria sozinha com João Paulo. Ele estava sentado em um banco no pátio da instituição prisional e quando a viu, abriu um sorriso e se afastou para que ela se sentasse. Lindo, charmoso e envolvente, ela sentiu um arrepio percorrer seu corpo; estava vulnerável.

          Sentou-se ali, bem perto de João Paulo, que pegou suas mãos e perguntou-lhe como estava a mãe dele. Olívia balbuciou que D. Estela machucara o joelho, mas ficaria bem; estava sob seus cuidados. O rapaz agradecido beijou suas mãos e apertando-as disse que ela era muito importante para ele.

Olívia estava entregue, cativa do olhar e do sorriso de João Paulo, ele a ganhara com doçuras e gentilezas; nada mais importava. Estava disposta a fazer qualquer coisa para receber amor daquele homem. Ele a puxou para si e recostou sua cabeça na dela enquanto alisava seus cabelos; depois ergueu seu queixo e a beijou. Uma, duas, três e ai perdeu a conta, estava encantada, nunca mais queria sair dali. Aqueles braços foram feitos para ela se aconchegar.

Naquele momento apareceu o monitor dos prisioneiros e os repreendeu, dizendo que poria a visita para fora, e ele ficaria detido na solitária, pois, não eram permitidos contatos físicos no pátio de socialização da instituição. Se quisessem se agarrar, o prisioneiro deveria fazer um requerimento e comprovar união, para desfrutar do recebimento de visita íntima.

Uma mulher apaixonada é fácil de ser manejada. Olívia sabia que se encontrava à beira de um precipício, porém, não tinha forças e não queria se afastar. Aquela poderia ser sua última chance de ser feliz plenamente.

Ela possuía a carteirinha de visita de acompanhante de idosa, que era a mãe de João Paulo, entretanto, não poderia comprovar união com ele, pois, era casada com Antônio. Teria que se conter e esperar o desenrolar dos acontecimentos. Sentia-se mais jovem, pensava em voltar aos estudos e arrumar um emprego para se tornar independente. Entretanto, o marido não queria ouvir falar que sua mulher queria estudar ou trabalhar, ficava furioso e dizia aos berros:

      - Lugar de mulher é dentro de casa e aqui não falta nada.

       Olívia ficava com muita raiva quando ele dizia isso; o marido tornara-se um empecilho. Se ele soubesse que ela fazia visitas ao presídio, provavelmente a mataria, pensava a mulher temerosa.

Na semana seguinte ela foi visitar João Paulo novamente e, percebeu muitas promessas no ar. Ela vivia um sonho maluco, que a fazia desprezar o marido. Antônio andava desconfiado, pois sua mulher parecia uma pedra de gelo, não queria contatos físicos com ele; dizia estar doente.

         A mulher estava com seu coração ocupado e não havia mais lugar para Antônio. Então, quando ele viajava ela ia visitar João Paulo e quando ele estava em casa ela se fingia de doente. O afastamento do casal foi inevitável, apenas mantinham as aparências. Para os filhos ela dizia estar frequentando uma Igreja evangélica, por isso saia sempre arrumada.

      Os meses passaram lentamente, entretanto, o amor crescia cada vez mais. Eram toques furtivos que atingiam a alma de Olívia, que se sentia fascinada por João Paulo. D. Estela ia visitar o João uma vez ou outra, deixando a mulher e o filho viverem o amor. A velha senhora compactuava com aquela situação, pois, queria ver o filho feliz.

         A boa notícia chegou perto das festas de fim de ano, João Paulo sairia da cadeia no indulto de Natal e ela teria seu amor ao lado de sua casa. A mulher ficou eufórica, parecia uma adolescente, Teria que arrumar um jeito de ficar com João Paulo sem o marido perceber. Os filhos eram jovens e saiam muito para se divertir, não notariam nada. O maior problema seria seu marido, que ficaria em casa no Natal.

Um texto de Eva Ibrahim.

 Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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