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sexta-feira, 14 de novembro de 2014

"PARA OS ERROS; PERDÃO. PARA OS FRACASSOS; UMA NOVA CHANCE. PARA OS AMORES IMPOSSÍVEIS; TEMPO." LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO--- O AMOR É ASSIM... EVA IBRAHIM

                     PAIXÃO PROIBIDA

                     CAPÍTULO TRÊS

         Olívia morava naquele local há muitos anos e tinha D. Estela como vizinha à somente três anos. O casal de idosos mudou-se para aquele local com o filho mais novo, João Paulo; os outros três filhos estavam casados e viviam em outra cidade. O pai de João Paulo estava seriamente doente e em seis meses faleceu, deixando a viúva e o filho sozinhos.

         João Paulo, um mestiço forte de 35 anos, que levava a vida na esperteza; sua mãe temia que algum mal lhe acontecesse. Ele perdeu o emprego em uma grande empresa e se separou da amásia; ainda bem que não tinha filhos, pensou a velha senhora. Então, o rapaz passava muitas horas em bares com outros desocupados, até que conheceram um traficante de drogas, que os convenceu a participar do negócio. O filho disse à sua mãe que estava trabalhando e trazia muito dinheiro para casa; a mãe andava desconfiada.

       Seu filho parecia estranho; não poderia estar trabalhando, pois, levantava tarde e andava com gente mal encarada. A velha mãe pediu a ele, por diversas vezes, que trocasse de amigos, aqueles não eram gente boa. Porém, o filho não ouviu e certo dia a polícia apareceu e o levou preso. O grupo todo foi acusado de tráfico de drogas, depois condenados a cinco anos de prisão cada um.

         D. Estela ficou sozinha e passou momentos de muita aflição. A mulher vivia com a pensão do marido e procurava dar apoio ao filho indo visita-lo na delegacia de polícia. Vivia muito só e procurou fazer amizade com sua vizinha; as duas conversavam muito, Olívia tinha pena da mulher.

        Com a condenação houve a transferência para a Penitenciária do Estado, que ficava em outra cidade e  a velha senhora tinha medo de viajar sozinha. A mulher foi uma vez, porém, disse que temia passar mal no ônibus, então, convidou Olívia para acompanha-la e a mulher concordou, afinal, eram amigas. As duas vizinhas se apoiavam mutuamente.

        Olívia quando viu o filho de D.Estela, ela o reconheceu, já o vira outras vezes, porém, nunca prestara atenção no rapaz. Quando ele lhe estendeu a mão e apareceu um colar de pérolas quando ele abriu o sorriso, ela perdeu a fala. Custou para sair um grunhido que queria dizer “muito prazer”. Parecia um Deus moreno, da cor de pinhão, pensou a mulher embevecida. Pinhão, que ela gostava tanto, que estranha comparação, ela devia estar muito sozinha para ter esses pensamentos. Mas que ele era bonito ninguém poderia negar.

       - Será por isso que se encantou daquela maneira?

         A mulher saiu acompanhada da mãe do moço, que estava alegre, pois, seu filho estava bem. Olívia não parava de pensar em João Paulo, estava enfeitiçada.  Aquilo era loucura, ela estava casada, não poderia pensar em outro homem, ainda mais aquele, que estava preso.

        A semana demorou a passar e seu marido chegou de viagem, ela cumpriu sua obrigação de mulher casada, entretanto, fechou os olhos e imaginou estar naqueles braços moreno. O marido até estranhou, pois, perguntou se ela estava com saudades. Olívia aquiesceu, ele que pensasse o que quisesse.
       
       Antônio sairia para outra viagem no domingo a tarde e ela teria de demovê-lo da ideia. Seu marido teria que viajar pela manhã, porque à tarde ela iria visitar seu amor com a vizinha. Para sua sorte e colaboração dos céus, choveu a noite toda e o marido resolveu viajar antes do almoço, para chegar ao destino antes de anoitecer.

          Olívia parecia uma adolescente, estava muito feliz, tratou de ficar bem bonita e disse aos filhos que iria à Igreja com a vizinha. Mal conseguia controlar sua ansiedade, queria ver aquele sorriso novamente; precisava sentir se fora apenas uma ilusão. Ela comprara frutas para João Paulo, queria agradá-lo de alguma maneira. Sentia-se ridícula, porém, havia uma força que a empurrava para aquele lugar.

Ela sempre ouvira dizer que os homens, na meia idade, ficam assanhados com as meninas mais novas e isso tem um nome: "Idade do Lobo".

- Será que ela estaria na Idade da Loba? Pensou, cismada, a mulher.

Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.      

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

"FECHEI OS OLHOS E PEDI UM FAVOR AO VENTO. LEVE TUDO QUE FOR DESNECESSÁRIO. ANDO CANSADA DE BAGAGENS PESADAS. DAQUI PARA FRENTE, APENAS O QUE COUBER NO BOLSO E NO CORAÇÃO." CORA CORALINA-- QUE A FELICIDADE VIRE ROTINA. EVA IBRAHIM.

          MOMENTOS DIFÍCEIS
               CAPÍTULO DOIS
           A ambulância adentrou ao pátio do Hospital com a sirene ligada e logo apareceram os enfermeiros para levar a mulher para dentro. Ela foi conduzida à sala de emergência e teve um atendimento rápido, pois, seu caso inspirava cuidados. Estava em trabalho de parto prematuro com fortes contrações e níveis pressóricos elevados. Apresentava um quadro de pré-eclâmpsia; um caso crítico que exigia atitudes médicas emergenciais.

        Olívia foi conduzida parra o Centro Obstétrico, onde ficaria em rigorosa vigilância, aguardando os medicamentos agirem. O médico foi categórico ao explicar à paciente, que seu filho poderia nascer prematuro e ficar na incubadora por tempo indeterminado. Tentariam inibir o trabalho de parto, porém, se o quadro se agravasse o parto teria que acontecer, para o bem de mãe e filho.

         A gestante sentiu medo, não poderia perder aquele filho, que já era muito amado. Pediu à presença da assistente social, precisava avisar a avó do bebê, que posteriormente avisaria o pai da criança. Algumas horas depois, D. Estela, chegou ao Hospital, estava esbaforida. A velha senhora precisava ter notícias da mulher de seu filho e do neto também.

         A mulher idosa estava nervosa e ficou pior ainda quando soube que Olívia estava na sala de cirurgia; o bebê estava nascendo. Ela procurou a capela do Hospital, precisava conversar com Deus; somente ele poderia ajuda-la. Olívia se envolvera com seu filho por intermédio dela e ela sentia-se culpada pelo desenrolar da situação.

          Finalmente, o pequeno bebê veio ao mundo e foi levado para a Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Era prematuro e de baixo peso; inspirava cuidados. Olívia foi conduzida à Unidade de Terapia Intensiva de adultos, também necessitava de cuidados especializados. D. Estela viu o neto, por um instante, quando foi levado para a incubadora. Depois, a mulher foi caminhando cabisbaixa para sua casa. Havia uma nuvem parada no ar, tamanha era sua preocupação. Aquele bebê era muito pequeno, talvez não vingasse, pensou a mulher com o semblante fechado.

         Enquanto Olívia se recuperava da cesariana, alguém se preocupava com a falta de notícias. João Paulo sentia que alguma coisa estava errada, Olívia não fora visita-lo no domingo e sua mãe dissera que a mulher não estava passando bem. Durante a noite ele tivera um sonho ruim, por isso estava apreensivo.

          De dentro da Penitenciária ele não poderia se comunicar com ninguém, teria que pedir à assistente social que entrasse em contato com sua mãe. O detento aguardou ansiosamente notícias de sua família. E, quando a notícia chegou, ele suspirou fundo, sabia que alguma coisa ruim estava acontecendo.

         Não era um homem de fé, pelo contrário, andara por caminhos tortuosos, por isso estava ali cumprindo pena. Porém, agora que encontrara o amor, não poderia perdê-lo, então, a única coisa que poderia fazer era pedir a Deus que os guardasse, a mãe e o filho, que ele queria conhecer.

         Alguns dias se passaram até que Olívia foi para o quarto, estava fora de perigo. Durante os dias que passara na UTI, somente D. Estela a visitara, agora a visita fora liberada. A Cida, a dona da loja, queria ver a mulher e continuar a conversa que fora interrompida. A comerciante gostava de uma fofoca e essa parecia ser das boas, iria visitar a cliente.

         Olívia parecia bem disposta, depois de tudo que passara e ficou feliz com a presença de Cida, precisava conversar com alguém para desabafar. Sentia saudades de Renato e de Raquel, mas eles não queriam saber dela; isso a magoava muito. Entretanto, agora ela tinha o Pedro, seu pequeno menino, que logo o levaria para casa, assim esperava; disse a mulher esperançosa.

         Logo que D. Estela saiu, Cida sentou-se ao lado da cama, queria ouvir aquela história; estava pronta, disse sorrindo para Olívia. Então, a mulher começou a contar sua história. Estava casada fazia vinte e cinco anos, ela e o marido saíram para comemorar as bodas de prata; estava feliz. Antônio, o marido, era caminhoneiro e estava sempre viajando. Os filhos trabalhavam durante o dia e à noite frequentavam a faculdade.  

          Ela ficava muito tempo só, até gostava; saia quando queria. Vivia tranquila, não lhe faltava nada, disse Olívia com um sorriso maroto e certa malícia no olhar.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

"(...) NÓS SOMOS CÚMPLICES, NÓS DOIS SOMOS CULPADOS. NO MESMO INSTANTE EM QUE TEU CORPO TOCA O MEU, JÁ NÃO EXISTE NEM O CERTO NEM O ERRADO, SÓ O AMOR, QUE POR ENCANTO ACONTECEU." "DESLIZES"- FAGNER.

A IDADE DA LOBA

UM DESLIZE 
                             capítulo um
         A mulher andava uns vinte metros e parava, levava as mãos às ancas e se contorcia para trás. Seu rosto fechava e o suor escorria pelos cantos da boca. Olhava ao redor e via uma porção de pessoas passando sem olhar para os lados; cada um focado em seu problema, ninguém via ninguém. 

        Olívia, em seguida, levou as duas mãos ao pé da barriga, eram contrações fortes e fora de hora; chegaram sem avisar, ainda não era hora, pensou a mulher aflita. Queria parar aquela dor a qualquer custo, já não se lembrava de como era um trabalho de parto, mas sabia que precisava de ajuda.

        Ela estava gestante de sete para oito meses, sua barriga endurecia e a dor lancinante chegava como se quisesse abrir suas costas. Das costas para à barriga e da barriga para as costas, parecia a central da dor do ser humano.

        A mulher nunca imaginara que teria outro filho aos quarenta e quatro anos de idade, pois Renato, seu primogênito, estava com vinte e dois anos e Raquel, a mais nova com vinte anos; pensava ter “aposentado as chuteiras.” Porém, estava ali morrendo de dores e caminhando pelo centro da cidade. Pela manhã, levantou-se inquieta com sua situação, então, saiu para dar uma volta no comércio e ver as novidades.

        Dores constantes nas mãos, pés e coluna, além do inchaço por todo o corpo, denunciavam uma gestação com muitos problemas. E, ela estava sozinha, fora posta para fora de sua casa; sua família não a queria mais.

         Nos últimos três meses, desde a descoberta de sua gravidez, ela estava na casa da vizinha e avó da criança. Os filhos não queriam conversa com Olívia, diziam que a mãe estava morta e o marido pediu o divórcio.

        - Não ficaria casado com aquela traidora, que só o envergonhara, disse o marido traído para o juiz, na audiência de conciliação.

        Ele teve sua separação deferida por justa causa, ela que se virasse dali para à frente. Os filhos não quiseram ouvir suas explicações, pois eram inexplicáveis.

         Olívia aceitou calada, era culpada e teria que assumir seus atos, que todos criticavam. Entretanto, foi nesse deslize que ela conheceu o verdadeiro amor. Nunca se sentiu tão amada como naqueles momentos em que esteve nos braços de João Paulo.

          Era uma mulher de grande coragem por ter cometido tamanho desatino ou estaria sofrendo das faculdades mentais, disseram seus parentes. Não, ponderou Olívia, não tinha grande coragem e também não estava louca, apenas, estava perdidamente apaixonada. O amor chegou tarde, entretanto, ela o acolheu com todo o coração e Deus lhe deu um presente, que estava em sua barriga. Ela já amava aquele pequeno ser, fruto de muito amor. Não se importava com os falatórios, um dia se cansariam de falar. Dizia a mulher sorrindo.

         O corpo pesado e aquelas dores intensas deixavam-na lenta. O esforço para se movimentar sob aquele calor escaldante era enorme e sua cabeça latejava.

         Andou mais um pouco e entrou na loja da Cida, sua conhecida, que ao vê-la se admirou e perguntou-lhe se estava prenha. Olívia, antes de responder perguntou se podia sentar-se e tomar um copo de água. Depois que o líquido fresco entrou pela sua garganta parecia que as dores diminuíram. Então, ela se dispôs a contar sua história.

         Ela viera para assuntar o preço das roupinhas de bebê, já que teria que comprar tudo de novo. Enquanto descansava um pouco e tomava novo fôlego, iria lhe contar como descobriu o verdadeiro amor. Porém, as dores voltaram fortes e a mulher perdeu a cor, parecia desesperada. Olívia, entre um gemido e outro, disse que teriam que adiar aquela conversa, as dores estavam insuportáveis e alguém deveria chamar a ambulância.

         - Rápido for favor, não aguento mais. Olívia disse se contorcendo e suando muito, o bebê quer nascer aqui mesmo.
         A Cida pegou o telefone e gritando que era urgência implorou uma ambulância; ela não era parteira e não podia ver sangue, que alguém acudisse.

         Em cinco minutos a ambulância chegou e levou a gestante ao Hospital mais próximo. Cida ficou olhando da porta, estava inconformada, precisava saber do ocorrido, deveria ter sido coisa grave para acabar com um casamento de tantos anos. Iria visitar a freguesa no Hospital e até lhe levaria umas roupinhas, como pretexto.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua no próximo capítulo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

"QUANDO SOMOS ABANDONADOS PELO MUNDO, A SOLIDÃO É SUPERÁVEL. QUANDO SOMOS ABANDONADOS POR NÓS MESMOS, A SOLIDÃO É QUASE INCURÁVEL." AUGUSTO CURY-- VIVER SÓ, TAMBÉM É OPÇÃO. EVA IBRAHIM

OMEM FRIO 

CAPÍTULO ONZE
        Na entrada da cidade vizinha havia uma batida policial, que estava à espera de Alcir. O delegado avisara a delegacia vizinha da ocorrência na casa do rapaz e de sua fuga naquela direção. Quando ele avistou os policiais não opôs nenhuma resistência, parou a moto e, tremendo de frio, foi ao encontro dos policiais, que lhe deram voz de prisão; algemando-o em seguida. Alcir foi jogado no fundo do camburão, afinal, acabara de matar sua mulher, não merecia piedade. Ninguém ouviu sua voz, ele permaneceu calado no trajeto até a delegacia.

       A noite estava fria e ele tremia, estava enregelado, pois dirigira a motocicleta por trinta quilômetros, sem camisa. Algemado, Alcir foi colocado em frente ao delegado, estava mudo e distante. Um policial jogou sobre ele um cobertor velho ou ele acabaria morrendo de hipotermia. Alcir se enrolou no trapo velho e não abriu a boca para nada, tinha o olhar fixo no infinito; nada do que diziam parecia lhe interessar. Pensava em tirar a própria vida, assim que a oportunidade surgisse. O que aquele homem dizia, não lhe interessava; nada mais importava. 

     Cansado de esperar as explicações do rapaz, o delegado mandou coloca-lo em uma cela especial, temia que ele tentasse se suicidar. O delegado, homem experiente, sabia que o rapaz estava prestes a cometer uma loucura. Alcir passou a primeira noite preso, sentado no fundo da cela da delegacia. E, pela manhã não comeu nada e não quis ver ninguém, nem seus pais. Só pensava em Sila morta e no seu enterro, que ele não veria. Ele queria morrer também; a vida sem ela de nada valia.

Entretanto, Dirceu, que ouvia sua história, pediu que parasse, pois o restante ele já conhecia. Era hora de dormir, no dia seguinte ele sairia por aquela porta e seria um homem livre para recomeçar a vida. Teria que esquecer o passado e pensar no futuro. Alcir estava emocionado e com os olhos cheios de lágrimas, agradeceu ao amigo por ouvi-lo; sentia-se aliviado.

Mantivera aquela história guardada no fundo de seu coração e ainda doía muito. Para o mundo, que o julgava, ele criara uma armadura. Essa armadura era feita de agressividade, irresponsabilidade e descaso com o mundo. Alguns diziam que ele era louco, porém, ninguém sabia avaliar a intensidade do amor que ele sentia por Sila. Depois de oito anos, aquele amor, ainda doía em seu peito.

     Foi impossível pegar no sono, Alcir estava muito agitado, ficava imaginando como estaria o mundo lá fora. Seus pais iriam busca-lo na Penitenciária e leva-lo para casa, porém, ele temia voltar àquele lugar, que lhe trazia tantas lembranças. E, ele não queria rever a família de Sila, não queria afrontá-los com sua presença. Teria que tomar outro rumo na vida. Deixar aquela cidade e tentar viver longe dali; seria melhor para todos, disse à sua mãe.

     Sua mãe prometera segredo sobre sua liberdade condicional; juntos decidiriam o que fazer. Alcir arrumou sua mochila, era tudo que acumulara durante oito longos anos. Queria ir à Igreja, a mesma que foi palco de seu casamento. Alguma coisa lhe dizia que ali estaria a ajuda de que precisava. Queria pedir perdão e consolo a Deus, para poder seguir sua vida em paz. Sentia-se morto por dentro, perdera a capacidade de amar outra mulher.

     Teria a culpa que trazia no peito como companheira e a saudade de Sila em cada momento de sua vida. Ele fora culpado por tudo que aconteceu, porém, não poderia apagar o passado. Então, tentaria viver com todas as suas cicatrizes internas e externas que adquirira.

      Às nove horas da manhã, o carcereiro foi busca-lo na cela para leva-lo até o Diretor da Penitenciária. Os pais de Alcir estavam presentes e receberam as recomendações de praxe. O detento deveria se apresentar regularmente às autoridades e pedir autorização para mudar de endereço.

       Chegando a sua cidade ele estranhou os lugares, havia muita mudança por ali.  Novas construções, muitos automóveis, um comércio intenso e muita gente estranha circulando por ali.  O progresso chegara à pequena cidade, seria fácil andar disfarçado por entre tanta gente. Alcir ficou feliz, poderia visitar o túmulo de Sila.

     Ele não saiu de casa durante uma semana, deixou a barba crescer, comprou óculos escuros e um boné. Foi se apresentar ao delegado de sua cidade e pediu autorização para morar no interior do Estado na casa de um tio. Precisava trabalhar e lá o tio lhe daria emprego, tentaria reconstruir sua vida.

     Depois de cinco dias ele recebeu a autorização para sua mudança, porém, antes ele tinha uma coisa muito importante a fazer. O rapaz se preparou para a mudança e depois se vestiu para seu último encontro. Barbudo, de óculos escuros e boné, ninguém o reconheceria. Estacionou o automóvel de seu pai na porta do cemitério e com um ramalhete de flores adentrou ao recinto. O zelador, que acabara de abrir os portões, estranhou a presença do jovem, tão cedo, no local.

     O rapaz seguiu pela alameda central, parecia saber pra onde estava se dirigindo. O zelador o seguiu de longe, queria saber o que ele iria fazer. Chegou à frente do túmulo da moça assassinada pelo marido e depositando as flores sobre o túmulo ele se ajoelhou. 

      Aquele era o túmulo de Tarsila Azevedo, o zelador conhecia bem a história e ficou à espreita. O rapaz parecia encantado diante da foto colocada no túmulo. Fazia muito tempo que ele não via aquele sorriso, que mexia com todos os seus sentimentos. Alcir chorou muito, ficou ali durante quarenta minutos, ajoelhado no cimento e com a cabeça recostada no mármore frio do túmulo da moça. Depois, levantou-se e sem olhar para trás, seguiu até o automóvel, partindo em seguida.
O zelador coçou a barba, 
UM Hseria aquele o matador?
- Parecia tão triste e chorou muito! Pobre rapaz!

      Alcir passou em sua casa e revestido com sua armadura partiu para uma nova vida. Um homem frio e duro em suas decisões, que mantinha um silêncio que o condenava.

 Termina aqui a história de Sila e Alcir, mais um crime passional movido pelas drogas.

Um texto de Eva Ibrahim.


Iniciaremos uma nova história na próxima semana.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

"AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER; É FERIDA QUE DÓI E NÃO SE SENTE; É UM CONTENTAMENTO DESCONTENTE; É DOR QUE DESATINA SEM DOER." LUIS VAZ DE CAMÕES--SÓ SOBRARAM LEMBRANÇAS...EVA IBRAHIM


SEM VOLTA
CAPÍTULO DEZ
A decadência de Alcir estava evidente, depois que Sila foi embora, ele tornou-se um rapaz desleixado. Sua casa vivia desarrumada e suja; havia roupas e panelas jogadas por toda parte, nada mais importava. Se não estivesse no bar, com certeza, estaria jogado em algum canto, dopado. Tornara-se um farrapo humano, pouco restara do rapaz bonito e cheiroso que se apaixonara por Sila. Muitas coisas que havia na casa foram vendidas para comprar drogas. Por último ele vendeu o automóvel, precisava pagar as contas da casa e de seu fornecedor. Ainda lhe restara à motocicleta, que ganhara no jogo de cartas.

Seus pais tentaram leva-lo para morar com eles novamente, porém, ele não aceitava falar sobre isso. Lá no fundo ele ainda tinha esperanças de que sua mulher voltasse para casa. Alcir sentia que se ele deixasse a casa, seria como se estivesse rompendo definitivamente com seu amor. E, essa ideia o deixava louco, preferia morrer a ver Sila acompanhada de outro homem. A moça era sua para sempre e ninguém a tiraria dele; seu peito doía quando pensava nela.

Depois de três meses de separação, Alcir estava emagrecido; não comia, vivia nos bares. Sua mãe queria interna-lo em uma clínica de recuperação para drogados. Quando soube disso, ele ficou uma fera, até a mãe que ele gostava tanto, não entendia o que ele estava passando, lamentava o rapaz.

 - Que ela nunca mais tocasse no assunto, ele pararia de usar drogas quando quisesse, disse o filho indignado para a mãe sofrida.

A mulher seguiu para sua casa, estava desolada, não sabia que atitude tomar diante da rebeldia de seu menino. Então, a mulher foi procurar a nora, quem sabe ela conseguiria que Alcir se tratasse. Sila se recusou a falar com ele, tinha medo dele. O marido estava transtornado e ela queria sossego, não voltaria para ele, pois se revelara um homem violento, que não confiava nela. Desde que ele jogara a moto em cima dela e de Celso, que era somente um colega de escola, ela desistira dele definitivamente.

Sila saia de casa somente para trabalhar e ir à escola, ela queria dar um tempo para Alcir esquecê-la e assinar o divórcio. Seu casamento fora precipitado, ela tinha muita coisa para fazer antes de se prender a alguém. Não voltaria atrás, para ela o assunto estava encerrado.
Mais um mês se arrastou e sua formatura estava próxima, então, ela se deu conta de que alguns de seus documentos ficaram na casa de Alcir. Teria que pegá-los quando ele não estivesse lá; aproveitaria para apanhar o restante de suas roupas, que ficaram na casa.

Às seis horas da tarde, quando saiu do serviço, Sila resolveu passar em sua antiga casa; iria resolver aquela situação de uma vez. Se o marido não estivesse lá, ela entraria na casa com sua chave; era coisa rápida, ele nem iria perceber que ela esteve lá.

Era um fim de tarde de inverno, estava frio e escurecendo depressa, então ela se aproximou da casa e viu que estava às escuras. A moto não estava na garagem e a moça concluiu que o marido havia saído. Abriu o portão e entrou sem fazer barulho, pegaria suas coisas e sairia rapidamente. Entrou na sala, e acendeu a luz; ficou horrorizada com a sujeira e o abandono do lugar, que ela gostava e tinha boas lembranças. Em seguida foi até o quarto, os documentos estavam na gaveta da cômoda.

Quando Sila abriu a porta do quarto, Alcir deu um pulo da cama, estava só de bermuda e parecia drogado. Agarrou sua mulher pelo braço tentando beijá-la; ela o empurrou, estava cheirando a álcool e devia fazer tempo que não tomava banho, disse a moça indignada. Não estava ali para reatar o casamento, viera apenas pegar uns documentos, que estava precisando. Ele tentou segurá-la, porém, ela foi saindo e Alcir pediu para que ela voltasse para pegar suas coisas, não iria agarrá-la mais.

Ele foi para a cozinha enquanto ela pegava os documentos no quarto. Ao sair ele estava na sala e disse que iria perguntar somente mais uma vez.

 - Você pode voltar para mim? Eu amo você.
Ela retrucou horrorizada.
 - Nunca mais, você está perdido nas drogas.

Alcir sentiu-se desprezado e humilhado, em seguida tirou as mãos das costas onde escondia o revolver, que apanhara no armário da cozinha. Com muito ódio ele retrucou:
- Se não for minha, não será de mais ninguém.

E, antes dela abrir a boca, ele deu cinco tiros à queima roupa no peito de Sila, que surpresa caiu ao chão.
Em segundos o sangue tomou conta de sua boca e entre rápidos espasmos a moça ficou sangrando caída no chão da sala da casa, que um dia fora sua também.

Alcir ficou parado olhando o que fizera; não podia acreditar que matara o amor de sua vida. Abaixou-se e tentou levantá-la; ela estava inerte em meio a uma poça de sangue. Horrorizado o rapaz afastou-se, o que fizera não tinha perdão, teria que fugir para longe, onde ninguém o alcançasse.

Sua moto estava atrás da casa, por isso Sila não viu. Pulou em cima da motocicleta, estava de meias e bermuda, nada mais. Enquanto os vizinhos saiam para ver o que fora aqueles estampidos, Alcir passava por eles desesperado e ganhava a rodovia que o levaria até a cidade vizinha, deixando para trás o corpo inerte de seu amor.

Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

"SEMPRE HÁ UMA OUTRA CHANCE, UMA OUTRA AMIZADE, UM OUTRO AMOR, UMA NOVA FORÇA. PARA TODO O FIM, UM RECOMEÇO." O PEQUENO PRÍNCIPE--- AMOR SÓ EXISTE À DOIS. EVA IBRAHIM

        AS FERIDAS DA ALMA!

                                                                         CAPÍTULO NOVE
Do outro da linha telefônica somente o tu, tu se fazia ouvir, o que deixava Alcir furioso, pois tinha vagas lembranças da besteira que fizera. Ele percebeu que havia sangue na cabeça de Sila, porém, estava tão “chapado”, que não conseguiu ajuda-la a se levantar, antes disso ele caiu no sofá e apagou. Alcir havia misturado bebida com cocaína, estava alucinado e perdera a consciência, mergulhando num sono profundo. Acordou assustado, pegou o telefone e novamente tentou comunicação com a casa da sogra.

O dia estava amanhecendo e ele não conseguia efetuar a ligação. Das duas uma, ou ela não queria atende-lo ou estavam no Hospital.
 -Como saber para onde levaram sua mulher? Estava muito preocupado, não queria perder seu amor.

Depois que amanheceu ele pegou a moto que havia ganhado no jogo e saiu para ir à casa da sogra. Encontrou a casa fechada e depois de haver tocado a campainha por diversas vezes, chegou à conclusão de que não havia ninguém ali. Então, sentou-se na sarjeta e ficou esperando que alguém aparecesse; estava decidido a pedir perdão à Sila e leva-la para casa novamente.

Já passava das dez horas quando o automóvel do sogro apareceu na esquina. Alcir deu um pulo, eram eles que chegavam do Hospital, onde a moça ficara em observação com três pontos na cabeça. O sogro desceu dizendo para Alcir ficar longe de sua filha ou ele chamaria a polícia.

Sila saiu do veículo e nem olhou para ele. Ainda bem que os cunhados não se encontravam ali, porque Alcir poderia ser agredido por eles. A sogra saiu blasfemando que ele era um sem vergonha e desocupado, pois, até o emprego já havia perdido. Que ficasse longe deles, sua filha não voltaria àquela casa.

Alcir não conseguiu abrir a boca, estavam todos contra ele e com razão. Então, ficou algum tempo parado ali na frente da casa e depois resolveu ir se queixar para sua mãe; ela poderia ajuda-lo. Ver o amor de sua vida passar e não falar com ele o deixou abalado, teria que reverter à situação ou morreria de remorso.

A mãe de Alcir, dona Rosa, ligou para a casa dos pais de Sila, queria saber da nora. Foi mal atendida e ainda teve que ouvir desaforos, pois, seu filho estava demonstrando ser um canalha, disse a mãe da moça do outro lado do telefone. Assustada a mulher sentou-se no sofá e perguntou ao filho o que havia acontecido. Ele desconversou e saiu rapidamente, estava envergonhado e foi parar no bar; precisava afogar suas mágoas. Saiu dali quando o estabelecimento fechou.  

Sila foi à sua casa quando o marido não estava, pegou algumas roupas e objetos pessoais; pegaria o restante depois. Os dias corriam lentamente para Alcir que passava a maior parte do tempo no bar com seus amigos e a noite ia esperar Sila para tentar reatar seu casamento. Porém, a moça estava cada dia mais distante dele e não queria conversar. Ela queria a separação, pois Alcir andava drogado e em más companhias.                                                                                                                        
Quando o advogado de Sila procurou Alcir para tratar da separação, o homem quase apanhou.
 –Nunca daria o divórcio a sua esposa, só a morte o separaria dela, enfatizou o rapaz.
O causídico saiu assustado e pediu que a moça tomasse cuidado; o marido parecia perigoso, além de alucinado. Alcir ficava, todas as noites, esperando sua esposa chegar da faculdade e a seguia até a casa dos sogros. Sila sentia medo dele e não queria conversar.

Uma pessoa conhecida contou para Sila que seu marido estava vendendo os eletrodomésticos da casa deles. A moça ficou furiosa, aqueles aparelhos também lhe pertenciam e na casa ainda havia objetos pessoais dela. Ela teria que retirar o restante de suas coisas que haviam ficado na casa ou seriam vendidos. Teria que ir até lá quando Alcir estivesse ausente.

Sila não disse nada a seus pais para não aborrecê-los, teria que resolver aquela situação sozinha. Pensava que depois de formada iria morar na capital, na casa de uma tia, assim ficaria longe de Alcir e poderia reconstruir sua vida.

A tarde, quando saiu do serviço ela pensou que seria uma boa hora para buscar suas coisas, o marido, provavelmente estava no bar se embebedando. Entretanto seu colega de classe, o Celso, a viu na rua e parou para conversarem. Nesse momento Alcir estava passando de moto e viu sua mulher conversando com o colega de escola e jogou a moto em cima do casal, que pulou para os lados para não ser atingido.

Houve uma aglomeração de pessoas ali no local e Alcir tratou de fugir, deixando Sila assustada. Ninguém se machucou, porém, ficou claro que o marido não estava para brincadeiras; se tornara um homem violento. Mas, o pior é que a partir desse dia ele passou a andar armado e Sila não sabia de nada. Alcir criara uma armadura no lugar de seu amor, não tinha mais sentimentos; era uma fera ferida.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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