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sexta-feira, 10 de outubro de 2014

"SEMPRE HÁ UMA OUTRA CHANCE, UMA OUTRA AMIZADE, UM OUTRO AMOR, UMA NOVA FORÇA. PARA TODO O FIM, UM RECOMEÇO." O PEQUENO PRÍNCIPE--- AMOR SÓ EXISTE À DOIS. EVA IBRAHIM

        AS FERIDAS DA ALMA!

                                                                         CAPÍTULO NOVE
Do outro da linha telefônica somente o tu, tu se fazia ouvir, o que deixava Alcir furioso, pois tinha vagas lembranças da besteira que fizera. Ele percebeu que havia sangue na cabeça de Sila, porém, estava tão “chapado”, que não conseguiu ajuda-la a se levantar, antes disso ele caiu no sofá e apagou. Alcir havia misturado bebida com cocaína, estava alucinado e perdera a consciência, mergulhando num sono profundo. Acordou assustado, pegou o telefone e novamente tentou comunicação com a casa da sogra.

O dia estava amanhecendo e ele não conseguia efetuar a ligação. Das duas uma, ou ela não queria atende-lo ou estavam no Hospital.
 -Como saber para onde levaram sua mulher? Estava muito preocupado, não queria perder seu amor.

Depois que amanheceu ele pegou a moto que havia ganhado no jogo e saiu para ir à casa da sogra. Encontrou a casa fechada e depois de haver tocado a campainha por diversas vezes, chegou à conclusão de que não havia ninguém ali. Então, sentou-se na sarjeta e ficou esperando que alguém aparecesse; estava decidido a pedir perdão à Sila e leva-la para casa novamente.

Já passava das dez horas quando o automóvel do sogro apareceu na esquina. Alcir deu um pulo, eram eles que chegavam do Hospital, onde a moça ficara em observação com três pontos na cabeça. O sogro desceu dizendo para Alcir ficar longe de sua filha ou ele chamaria a polícia.

Sila saiu do veículo e nem olhou para ele. Ainda bem que os cunhados não se encontravam ali, porque Alcir poderia ser agredido por eles. A sogra saiu blasfemando que ele era um sem vergonha e desocupado, pois, até o emprego já havia perdido. Que ficasse longe deles, sua filha não voltaria àquela casa.

Alcir não conseguiu abrir a boca, estavam todos contra ele e com razão. Então, ficou algum tempo parado ali na frente da casa e depois resolveu ir se queixar para sua mãe; ela poderia ajuda-lo. Ver o amor de sua vida passar e não falar com ele o deixou abalado, teria que reverter à situação ou morreria de remorso.

A mãe de Alcir, dona Rosa, ligou para a casa dos pais de Sila, queria saber da nora. Foi mal atendida e ainda teve que ouvir desaforos, pois, seu filho estava demonstrando ser um canalha, disse a mãe da moça do outro lado do telefone. Assustada a mulher sentou-se no sofá e perguntou ao filho o que havia acontecido. Ele desconversou e saiu rapidamente, estava envergonhado e foi parar no bar; precisava afogar suas mágoas. Saiu dali quando o estabelecimento fechou.  

Sila foi à sua casa quando o marido não estava, pegou algumas roupas e objetos pessoais; pegaria o restante depois. Os dias corriam lentamente para Alcir que passava a maior parte do tempo no bar com seus amigos e a noite ia esperar Sila para tentar reatar seu casamento. Porém, a moça estava cada dia mais distante dele e não queria conversar. Ela queria a separação, pois Alcir andava drogado e em más companhias.                                                                                                                        
Quando o advogado de Sila procurou Alcir para tratar da separação, o homem quase apanhou.
 –Nunca daria o divórcio a sua esposa, só a morte o separaria dela, enfatizou o rapaz.
O causídico saiu assustado e pediu que a moça tomasse cuidado; o marido parecia perigoso, além de alucinado. Alcir ficava, todas as noites, esperando sua esposa chegar da faculdade e a seguia até a casa dos sogros. Sila sentia medo dele e não queria conversar.

Uma pessoa conhecida contou para Sila que seu marido estava vendendo os eletrodomésticos da casa deles. A moça ficou furiosa, aqueles aparelhos também lhe pertenciam e na casa ainda havia objetos pessoais dela. Ela teria que retirar o restante de suas coisas que haviam ficado na casa ou seriam vendidos. Teria que ir até lá quando Alcir estivesse ausente.

Sila não disse nada a seus pais para não aborrecê-los, teria que resolver aquela situação sozinha. Pensava que depois de formada iria morar na capital, na casa de uma tia, assim ficaria longe de Alcir e poderia reconstruir sua vida.

A tarde, quando saiu do serviço ela pensou que seria uma boa hora para buscar suas coisas, o marido, provavelmente estava no bar se embebedando. Entretanto seu colega de classe, o Celso, a viu na rua e parou para conversarem. Nesse momento Alcir estava passando de moto e viu sua mulher conversando com o colega de escola e jogou a moto em cima do casal, que pulou para os lados para não ser atingido.

Houve uma aglomeração de pessoas ali no local e Alcir tratou de fugir, deixando Sila assustada. Ninguém se machucou, porém, ficou claro que o marido não estava para brincadeiras; se tornara um homem violento. Mas, o pior é que a partir desse dia ele passou a andar armado e Sila não sabia de nada. Alcir criara uma armadura no lugar de seu amor, não tinha mais sentimentos; era uma fera ferida.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

"O AMOR É ISSO, NÃO PRENDE, NÃO APERTA, NÃO SUFOCA... PORQUE QUANDO VIRA NÓ, JÁ DEIXOU DE SER UM LAÇO." MÁRIO QUINTANA--- UM DIA TODOS MUDAM...EVA IBRAHIM


O TEMPO FECHOU

CAPÍTULO OITO
Alcir estava visivelmente alterado, Sila ficou espantada ao ver seu marido tão exaltado. Ele fechou a cara e disse que não gostava de vê-la rindo alto como se fosse uma mulher qualquer. Era sua esposa e deveria se comportar, ou ele a impediria de frequentar as aulas. Ela retrucou dizendo que ninguém a tiraria da escola e se tivesse que escolher, não seria ele o escolhido. Pronto, o tempo fechou; os dois estavam emburrados. Ela entrou no automóvel e ele arrancou cantando pneus. Não se falaram mais depois disso.

À noite, enquanto Sila dormia, Alcir andava pela casa, estava inquieto. Não poderia deixa-la sair sem fazer as pazes, ele a amava e teria que ter paciência ou a perderia. Sila ficara furiosa com o ataque de ciúmes do marido. Depois de uma noite de insônia, Alcir resolveu arriscar e abraçou sua mulher antes dela se levantar; ela se aconchegou em seus braços. O marido ficou surpreso, pensou que seria repelido.

Ela o tratou com naturalidade, depois disse que percebeu que ele havia bebido, por isso não levaria em conta a discussão da noite anterior. Porém, esperava que ele não bebesse mais, pois, ninguém aguenta bebedeira, nem ela.

A partir daquele dia ele bebia com os amigos e depois comia alguma coisa, lavava o rosto e escovava os dentes para ela não perceber, então ia espera-la. Ele se continha para não magoá-la, detestava aquela escola e os colegas de curso de Sila.

E, quando ela começou a falar em fazer trabalhos de escola, nas casas dos colegas, ele surtou. Ela não iria participar de trabalho nenhum; reunião de homens e mulheres não poderia ser coisa boa. Se não houvesse outro jeito de fazer trabalhos, então, eles teriam que vir à sua casa. Ele ficaria vigiando o tempo todo, pensou o rapaz desconfiado.

Foi um verdadeiro fiasco, Alcir ficou sentado ao lado de Sila, durante a reunião. O grupo, que era composto de três mulheres e dois rapazes, não conseguiu se entrosar e acabaram por transferir a reunião para outro dia. Naquela casa não voltariam mais; aquele marido era um chato, só atrapalhava a reunião, que não deu em nada, decidiram os integrantes do grupo.

A cada reunião marcada para realizar os trabalhos, Alcir arrumava briga com Sila, tinha ciúmes de Celso, um dos rapazes do grupo e o mais esperto. Entretanto, ele ficava calado desde que ela o ameaçou dizendo que voltaria para a casa dos pais, se ele a impedisse de estudar. Ele recuou e enquanto ela estudava ele ficava no bar bebendo e jogando. Certa noite ele se esqueceu de busca-la e apareceu em sua casa de madrugada, estava muito bêbado. Mais uma vez houve discussão, foram três dias sem conversar; havia mágoa entre eles.

Em oito meses de casamento a situação só piorava, havia muitos desentendimentos. Alcir estava enturmado com gente ligada às drogas. O rapaz ficava no bar e foi sendo conquistado pelas piores coisas, bebida, jogos e drogas. Sila andava descontente com o rumo que as coisas estavam tomando. O marido não parava mais em casa, vivia acompanhado dos novos amigos. O dinheiro não dava para as despesas da casa, simplesmente desaparecia ou estava sendo desviado para coisas erradas. Sila estava desconfiada de que, o marido jogava partidas de carteado valendo dinheiro.

Certa noite ele chegou bastante alterado, parecia drogado e Sila o repreendeu, então, ele avançou e lhe deu um empurrão. A moça caiu e bateu com a cabeça na quina da porta. Em seguida ela se levantou e levou a mão à cabeça, que latejava como se ali tivesse um coração. Olhou para sua mão que estava suja de sangue. Depois a moça saiu correndo para a casa de seus pais. Alcir se jogou no sofá, estava entorpecido; precisava descansar.

Durante a madrugada, ele acordou assustado. Tinha vagas lembranças do ocorrido na noite anterior. Procurou por Sila, que não estava. Lembrou-se da queda e da pancada na porta e, mais nada.

 - Será que ela se machucou e a levaram ao Hospital? Onde estaria sua mulher?
Pensou e se desesperou, precisava saber e ligou para a casa da sogra.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"PORQUE EU SÓ PRECISO DE PÉS LIVRES, DE MÃOS DADAS E DE OLHOS BEM ABERTOS." GUIMARÃES ROSA.---SE O DIA NÃO ESTÁ BOM, PACIÊNCIA, OUTROS MELHORES VIRÃO. EVA IBRAHIM

        DE MÃOS DADAS...
                 CAPÍTULO SETE
Com os olhos arregalados ela tratou de pegar a toalha e correu para ver a mão que sangrava. Alcir estava pálido, suando frio e com os olhos cheios de lágrimas, então, ele murmurou:
 - Eu queria cortar o peixe para adiantar o almoço de amanhã, desculpe-me, não queria assustá-la.

Ela pegou sua mão e abriu a toalha para ver o tamanho do ferimento. O corte era no polegar e tinha uns três centímetros de comprimento; pequeno, porém, profundo. E, como a mão estava pendurada, sangrava muito. Sila tratou de embrulhar a mão de Alcir novamente e pediu para ele comprimir, que iriam para o Pronto Socorro.

Enquanto ela ligava para seu pai vir ajuda-los, Alcir sentou-se na cadeira da cozinha, estava satisfeito, ela não iria à escola naquele dia. Alguns minutos se passaram e Sila entrou na cozinha de calças jeans e uma blusinha preta. O marido gostou do que viu, a escola tinha ido para o ralo... Segurando a mão na altura do coração, gemeu alto para comovê-la ainda mais. Lá no fundo ele se achava o máximo, conseguira seu intento, sucesso total.

O sogro chegou para leva-los ao PS, era caso de urgência, até a sogra estava com ele, lamentando o ocorrido. Depois de duas horas de espera e três pontos no polegar, Alcir foi liberado e os quatro retornaram à casa do casal. A sogra se prontificou para preparar uma sopa ou um chá, “pobre genro”, queria ajudar sua filha e sofreu um acidente.

Alcir olhou as horas, vinte e uma, tarde demais para ir à escola, sorriu baixinho, precisava de amor e carinho. Sila demonstrava preocupação com sua mão e parecia uma gueixa de tão prestativa que estava; ela o atendia ao menor gemido. Depois, condoída com a ocorrência, ela fez cafuné em sua cabeça até ele pegar no sono e quando Alcir acordou, ela já havia saído para trabalhar. Entretanto, Sila deixara o café preparado sobre a mesa com um bilhete.  Pedindo para ele comer e descansar, que ela voltaria na hora do almoço para vê-lo; o marido estava de atestado médico.

Alcir comeu e depois voltou para a cama, ligou a televisão e ficou cismando ali deitado, como um lobo aguardando a sua presa. Pouco antes de sua amada chegar ele tomou banho e ficou na espreita debaixo das cobertas. Não era um pequeno corte no dedo que o impediria de amar e ser amado; estava pronto para puxar Sila para seus braços; era um homem sedento de amor.
Estava alegre, era jovem, tinha a mulher que amava, portanto fora abençoado por Deus, pensava feliz. A faculdade era somente uma pedra em seu caminho, que ele daria um jeito, sem magoar sua mulher.

A chegada de Sila aconteceu exatamente como ele planejou, sobrou carinho e amor ao pobre acidentado! Depois almoçaram e ela saiu para trabalhar, porém, antes de sair para o trabalho, ela disse que iria à escola de ônibus, como sempre. Alcir tentou argumentar, mas ela não queria ouvir e continuou caminhando.

Ele deu um soco na parede e sentiu a dor no corte do dedo. Gemeu alto esbravejando, teria que aceitar ou ela se zangaria de verdade.

A tarde corria lenta, Alcir saiu para dar uma volta e foi à casa de sua mãe desabafar; não queria que sua mulher continuasse a estudar. Sua mãe, mais uma vez, tentou acalmar o filho dizendo que, se insistisse nisso perderia Sila. Ela estava para se formar e não sairia da escola, ele sabia disso; deveria se conformar. Ele saiu cantando pneu, estava muito estressado...

Depois do jantar ficou esperando sua mulher para leva-la até o ponto do ônibus, estava visivelmente contrariado, não queria conversar. Ela o beijou e correu para dentro do veículo, estava feliz por rever os amigos. O ônibus saiu e Alcir foi seguindo o coletivo, mantinha certa distância para que ninguém o visse. Ele foi até a cidade vizinha, onde ficava a faculdade de Sila.

Ficou um longo tempo em frente à escola, depois voltou para sua cidade, teria que segurar a onda até ela voltar. Parou em um bar e ficou conversando com velhos conhecidos. Quando olhou no relógio viu que estava na hora de esperar sua mulher, estava ansioso e meio bêbado, havia tomado bebida alcoólica. O ônibus encostou e Sila desceu sorridente, Alcir ficou irritado.
- Estava feliz com o quê? Teria visto o passarinho verde? Perguntou o rapaz irado.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

'EU SEM VOCÊ, SOU SÓ DESAMOR, UM BARCO SEM MAR, UM CAMPO SEM FLOR." VINICIUS DE MORAES--- NÃO DESISTA JAMAIS, HÁ SEMPRE UMA LUZ NO FINAL DO TÚNEL.EVA IBRAHIM

AMOR SEM MEDIDA
CAPÍTULO SEIS
      Em clima de festa, o casal foi recebido pelos pais, que procuraram ajudar a suprir as necessidades da nova casa. Sila e Alcir irradiavam alegria, parecia que a felicidade se instalara naquele local para ficar brincando de amor. Arrumaram a casa, guardaram os presentes e com eles uma parte da magia do casamento ficou suspensa no ar; era hora de se conhecerem melhor.

     Entre beijos e abraços a rotina foi se instalando naquela casa, não dá para viver só de amor, essa é a grande verdade. Sila e Alcir voltaram ao trabalho, tinham muitos projetos em mente e precisavam de dinheiro. Alcir vendeu a moto e comprou um automóvel, pensava em ter filhos e a moto não era apropriada.

    Sila não se pronunciou a respeito da conversa sobre ter filhos, não queria desiludir o marido, pois, filho estava fora de questão naquele momento. Teriam tempo para conversar e decidir sobre muita coisa a respeito do futuro, pensou a moça com uma pitada de preocupação.

    Com o passar dos dias foram surgindo às divergências, Alcir não queria que sua mulher estudasse à noite; tinha ciúmes. Entretanto ele sabia que ela não deixaria a Escola. Era um sonho antigo terminar a faculdade para arrumar um emprego melhor. Seus pais sempre a incentivaram para concluir os estudos e ela queria dar esse gosto a eles.

      Em apenas um mês, o casal já havia discutido seriamente por duas vezes. Ambos tinham gênio forte e não abriam mão de suas ideias. As aulas tinham data marcada para começar e Alcir já estava sofrendo por antecipação. Na verdade, ele queria que sua mulher ficasse em casa cuidando dele, porém, ela não deixaria o trabalho e muito menos a escola. Ele sabia disso e temia a própria reação.

     Ele odiava a ideia de ficar em casa sozinho esperando por seu amor; Alcir sabia que estava em seu limite, tinha o pavio curto. Foi se aconselhar com sua mãe, que tentou amenizar a situação mostrando a ele que a moça tinha razão, precisava terminar os estudos. 

Quando ela chegava do serviço, os dois se abraçavam e ele ficava alegre; depois do jantar ele se aninhava naqueles braços tão queridos e dormia feliz. Bastava à presença de sua mulher para Alcir se esquecer de seus temores; tentava se acalmar para Sila não perceber o drama que estava vivendo.

     Depois de alguns dias, ela chegou contente, trazia nos braços os cadernos que comprara para voltar às aulas na faculdade.  Uma campainha disparou dentro dele; sua saga iria começar. Deu um sorriso amarelo e mal correspondeu ao beijo que recebeu; tinha uma faca, chamada faculdade, cravada em seu peito.

     Alcir lutava contra seu sentimento de revolta enquanto Sila tomava banho. Pela primeira vez pensou em impedir sua mulher de sair, porém, ela poderia não gostar e até abandoná-lo. Teria que usar de diplomacia e pensar em uma estratégia para prendê-la em casa. Precisava agir rápido ou teria que leva-la ao ponto do ônibus.

    Abriu o freezer e pegou um peixe congelado, depois o colocou sobre a tábua de cortar carne e sem titubear pegou a faca mais afiada que havia ali e mandou sobre seu próprio dedo. O grito foi lancinante e verdadeiro; a dor foi insuportável.

    Quando Sila ouviu o grito saiu do banheiro só de toalha, o marido estava encostado na pia da cozinha. Alcir ficara pálido, em meio a uma poça de sangue. O rapaz segurava a mão enrolada em um guardanapo branco, sujo de sangue, parecia que iria desfalecer a qualquer momento.

     A moça parou estarrecida, deixando a toalha cair no chão e ficou olhando aquela cena dantesca. Não sabia se gritava, corria ou vestia sua roupa, estava nua e impotente.
Um texto de Eva Ibrahim. 

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

"BUSCAMOS, NO OUTRO, NÃO A SABEDORIA DO CONSELHO, MAS O SILÊNCIO DA ESCUTA; NÃO A SOLIDEZ DO MÚSCULO, MAS O COLO QUE ACOLHE." RUBEM ALVES---A VIDA É UM MISTÉRIO A SER VIVIDO. EVA IBRAHIM



O BEM MAIS PRECIOSO

 CAPÍTULO CINCO
        Alcir abaixou a cabeça, a emoção tomou conta de sua voz, então, ele começou a gaguejar e as lágrimas desceram fartas de seus olhos. Dirceu levantou-se e pegou um copo com água da moringa, que ficava na mesinha perto do beliche, dentro da cela. Enquanto o companheiro sorvia o líquido, Dirceu perguntou se ele queria parar por ali.

       –Não, de jeito nenhum. Gaguejou o rapaz com a voz embargada.
Ele precisava contar tudo para se livrar do peso que trazia na alma. O sofrimento reprimido por oito anos e a armadura que usava para se apresentar a todos, estava lhe fazendo muito mal; iria contar tudo até o final.
      Respirando fundo, Alcir continuou sua história.

      - Amava a sua mulher com toda a força de seu coração. Respirou fundo e tomando fôlego, continuou.
      Era um sentimento verdadeiro, que viera de um jeito que doía seu peito, o coração disparava quando pensava nela. Ela representava a luz do Sol, a alegria de viver; um sorriso dela encantava seu dia. Desde o momento que a viu pela primeira vez, Sila tornou-se o centro de seu Universo. Gostava de vê-la caminhar em sua direção, balançando seus fartos cabelos louros e quando se aninhava em seus braços ele ficava completo; era seu bem mais precioso.

     Os dois saíram da casa nova com o Sol brilhando alto e, quando chegaram à casa de Sila, a mãe dela os estava esperando, sentada na varanda da casa. A mulher apresentava as feições endurecidas pelo semblante fechado. Levantou-se e com as mãos na cintura perguntou se tinha cara de palhaço. Alcir abaixou a cabeça dizendo que não e Sila começou a chorar.

      - Com certeza estavam pensando que o mal feito ficaria escondido. Disse a mulher irada, em seguida prosseguiu.
     Por enquanto, somente ela sabia que os dois tornaram-se amantes, mas, Alcir teria que marcar a data do casamento naquele mesmo dia, ou ela contaria ao pai e aos filhos, que certamente tomariam providências danosas para ambos.

     Enquanto a moça chorava, o noivo aquiesceu.
     - Casaria com Sila a qualquer momento, já tinham casa para morar.
      Diante de tanta veemência, a mulher depôs as armas, esperaria até a noite para acertarem as datas. Contava com a presença dos pais dele, para se certificar de que estava falando sério.

      Alcir não cabia em si de tamanha felicidade, Sila era seu bem mais precioso e a levaria para o altar com muito amor. Os pais do noivo foram pegos de surpresa e pediram um prazo de dois meses para que tudo fosse arrumado para o casamento. A data foi marcada para a véspera do carnaval, assim eles poderiam viajar e curtir a lua de mel.

      A mãe chamou a atenção da filha com dureza, para a realidade que a aguardava.
     –Será que ela não estaria jogando sua sorte pela janela? Era muito jovem, ainda não estava formada e o noivo parecia muito ciumento. Temia que ele não deixasse ela terminar os estudos, enfatizou a mulher.

     Sila ouviu calada, a mãe poderia ter razão, porém, não queria pensar nisso naquele momento. Estava feliz com a novidade, também amava Alcir e queria desfrutar dessa fase de sua vida, o casamento.

      O dia do casamento chegou e a felicidade estava estampada no rosto dos noivos. Tudo saiu perfeito, a cerimônia, a festa e a saída estratégica do casal de noivos para a viagem ao litoral; Sila queria aproveitar o calor para curtir a praia.

      O carnaval acontecia nas ruas e salões e os dois passeavam agarradinhos pela orla marítima, depois iam dormir de conchinha. Alcir nunca foi tão feliz, queria permanecer ali para sempre. Foi uma semana inteira de muito amor, depois voltaram para casa. Era chegada a hora de enfrentar a realidade que os esperava, cheia de novos compromissos.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"O CAMINHO QUE EU ESCOLHI, É O DO AMOR... NO MEU CAMINHO, O ABRAÇO É APERTADO, O APERTO DE MÃO É SINCERO... É SÓ ASSIM QUE EU ENXERGO A VIDA E, É SÓ ASSIM QUE EU ACREDITO QUE VALHA A PENA VIVER..." CLARICE LISPECTOR--- O AMOR ESQUENTA O CORPO E A ALMA . EVA IBRAHIM

UM BRINDE AO AMOR
CAPÍTULO QUATRO
       Ninguém percebeu nada; era dia de festa. A maioria dos presentes estava de ressaca, passaram a noite comemorando. Alcir parecia uma sombra atrás de Sila, entretanto, não despertou suspeitas, ninguém imaginava que a moça se entregara a ele na noite de Natal. Alcir era um homem apaixonado e todos sabiam disso, estava zelando pela mulher amada.

     Era natural o noivo ficar agarrado a sua noiva, ainda mais agora que ela se tornara sua mulher. Este pensamento o deixava excitado, ele queria ficar a sós com ela novamente, seu corpo tinha necessidade dela. Sila o afastou dizendo que estava toda dolorida e que ele segurasse a onda, teriam a vida toda para se amar. Ele emburrou, não poderia compreender a frieza dela.
      -Será que ela estava arrependida? Ele perguntou baixinho.
  -Não, não estava arrependida, mas, queria um amor tranquilo, sem promessas e urgências; os encontros deveriam acontecer naturalmente, como o da noite anterior.

     Sila o beijou e afagou seus cabelos, depois saiu para ajudar sua mãe. Alcir ficou sentado no sofá, sentindo-se rejeitado; o pior dos sentimentos, que o magoava muito. Agora ele era seu senhor, teriam que se casar logo ou ele não teria mais sossego. Não suportava a ideia de deixa-la na casa dos pais e voltar para sua casa. O rapaz vivia dentro de um turbilhão de pensamentos contraditórios; hora sentia-se feliz, em seguida um derrotado.

     Iria se mudar para a casa que arrumara para ser um ninho de amor; ficaria lá até poder morar com Sila para sempre. Naquela noite ele dormiu sozinho na casa nova; estava deprimido. Demorou a pegar no sono, a cama estava vazia; ele a queria ali novamente. Planos, aquele coração quase não cabia em seu peito, ele ficava deitado fazendo planos com sua amada. Ela o enfeitiçara, não conseguia imaginar a vida longe dela. Alcir chorou baixinho, nada poderia fazer, senão esperar.

     Uma semana e a moça não voltou àquela casa; ela dizia que seus pais não poderiam saber do ocorrido, por isso teriam que tomar cuidado. Alcir contava com a passagem de ano para ser feliz novamente. Sila também queria passar a noite com ele, ela o amava e lhe daria mais uma noite de prazer.

     No último dia do ano, o rapaz estava eufórico, chegava a sentir dor no peito quando pensava em sua noiva. Aquela seria outra noite de muito amor. A casa estava limpa e pronta para receber os dois; ficariam um pouco na casa dos pais de Sila. E, depois diriam que os pais dele os estavam esperando e iriam para seu ninho de amor...

    Tudo aconteceu como ele planejara, depois do brinde, Sila o acolheu em seus braços com todo carinho, até o dia amanhecer. Quando o dia clareou ele estava enrolado no corpo dela. Alcir sorriu, estava muito feliz; aquela era a vida que ele queria viver. 

A moça acordou sobressaltada, sua mãe estava desconfiada desde o dia de Natal; eles teriam que se explicar ou ela quebraria o silêncio. Uma nuvem negra pairou dentro do quarto.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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