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sexta-feira, 26 de setembro de 2014

"PORQUE EU SÓ PRECISO DE PÉS LIVRES, DE MÃOS DADAS E DE OLHOS BEM ABERTOS." GUIMARÃES ROSA.---SE O DIA NÃO ESTÁ BOM, PACIÊNCIA, OUTROS MELHORES VIRÃO. EVA IBRAHIM

        DE MÃOS DADAS...
                 CAPÍTULO SETE
Com os olhos arregalados ela tratou de pegar a toalha e correu para ver a mão que sangrava. Alcir estava pálido, suando frio e com os olhos cheios de lágrimas, então, ele murmurou:
 - Eu queria cortar o peixe para adiantar o almoço de amanhã, desculpe-me, não queria assustá-la.

Ela pegou sua mão e abriu a toalha para ver o tamanho do ferimento. O corte era no polegar e tinha uns três centímetros de comprimento; pequeno, porém, profundo. E, como a mão estava pendurada, sangrava muito. Sila tratou de embrulhar a mão de Alcir novamente e pediu para ele comprimir, que iriam para o Pronto Socorro.

Enquanto ela ligava para seu pai vir ajuda-los, Alcir sentou-se na cadeira da cozinha, estava satisfeito, ela não iria à escola naquele dia. Alguns minutos se passaram e Sila entrou na cozinha de calças jeans e uma blusinha preta. O marido gostou do que viu, a escola tinha ido para o ralo... Segurando a mão na altura do coração, gemeu alto para comovê-la ainda mais. Lá no fundo ele se achava o máximo, conseguira seu intento, sucesso total.

O sogro chegou para leva-los ao PS, era caso de urgência, até a sogra estava com ele, lamentando o ocorrido. Depois de duas horas de espera e três pontos no polegar, Alcir foi liberado e os quatro retornaram à casa do casal. A sogra se prontificou para preparar uma sopa ou um chá, “pobre genro”, queria ajudar sua filha e sofreu um acidente.

Alcir olhou as horas, vinte e uma, tarde demais para ir à escola, sorriu baixinho, precisava de amor e carinho. Sila demonstrava preocupação com sua mão e parecia uma gueixa de tão prestativa que estava; ela o atendia ao menor gemido. Depois, condoída com a ocorrência, ela fez cafuné em sua cabeça até ele pegar no sono e quando Alcir acordou, ela já havia saído para trabalhar. Entretanto, Sila deixara o café preparado sobre a mesa com um bilhete.  Pedindo para ele comer e descansar, que ela voltaria na hora do almoço para vê-lo; o marido estava de atestado médico.

Alcir comeu e depois voltou para a cama, ligou a televisão e ficou cismando ali deitado, como um lobo aguardando a sua presa. Pouco antes de sua amada chegar ele tomou banho e ficou na espreita debaixo das cobertas. Não era um pequeno corte no dedo que o impediria de amar e ser amado; estava pronto para puxar Sila para seus braços; era um homem sedento de amor.
Estava alegre, era jovem, tinha a mulher que amava, portanto fora abençoado por Deus, pensava feliz. A faculdade era somente uma pedra em seu caminho, que ele daria um jeito, sem magoar sua mulher.

A chegada de Sila aconteceu exatamente como ele planejou, sobrou carinho e amor ao pobre acidentado! Depois almoçaram e ela saiu para trabalhar, porém, antes de sair para o trabalho, ela disse que iria à escola de ônibus, como sempre. Alcir tentou argumentar, mas ela não queria ouvir e continuou caminhando.

Ele deu um soco na parede e sentiu a dor no corte do dedo. Gemeu alto esbravejando, teria que aceitar ou ela se zangaria de verdade.

A tarde corria lenta, Alcir saiu para dar uma volta e foi à casa de sua mãe desabafar; não queria que sua mulher continuasse a estudar. Sua mãe, mais uma vez, tentou acalmar o filho dizendo que, se insistisse nisso perderia Sila. Ela estava para se formar e não sairia da escola, ele sabia disso; deveria se conformar. Ele saiu cantando pneu, estava muito estressado...

Depois do jantar ficou esperando sua mulher para leva-la até o ponto do ônibus, estava visivelmente contrariado, não queria conversar. Ela o beijou e correu para dentro do veículo, estava feliz por rever os amigos. O ônibus saiu e Alcir foi seguindo o coletivo, mantinha certa distância para que ninguém o visse. Ele foi até a cidade vizinha, onde ficava a faculdade de Sila.

Ficou um longo tempo em frente à escola, depois voltou para sua cidade, teria que segurar a onda até ela voltar. Parou em um bar e ficou conversando com velhos conhecidos. Quando olhou no relógio viu que estava na hora de esperar sua mulher, estava ansioso e meio bêbado, havia tomado bebida alcoólica. O ônibus encostou e Sila desceu sorridente, Alcir ficou irritado.
- Estava feliz com o quê? Teria visto o passarinho verde? Perguntou o rapaz irado.
 Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

'EU SEM VOCÊ, SOU SÓ DESAMOR, UM BARCO SEM MAR, UM CAMPO SEM FLOR." VINICIUS DE MORAES--- NÃO DESISTA JAMAIS, HÁ SEMPRE UMA LUZ NO FINAL DO TÚNEL.EVA IBRAHIM

AMOR SEM MEDIDA
CAPÍTULO SEIS
      Em clima de festa, o casal foi recebido pelos pais, que procuraram ajudar a suprir as necessidades da nova casa. Sila e Alcir irradiavam alegria, parecia que a felicidade se instalara naquele local para ficar brincando de amor. Arrumaram a casa, guardaram os presentes e com eles uma parte da magia do casamento ficou suspensa no ar; era hora de se conhecerem melhor.

     Entre beijos e abraços a rotina foi se instalando naquela casa, não dá para viver só de amor, essa é a grande verdade. Sila e Alcir voltaram ao trabalho, tinham muitos projetos em mente e precisavam de dinheiro. Alcir vendeu a moto e comprou um automóvel, pensava em ter filhos e a moto não era apropriada.

    Sila não se pronunciou a respeito da conversa sobre ter filhos, não queria desiludir o marido, pois, filho estava fora de questão naquele momento. Teriam tempo para conversar e decidir sobre muita coisa a respeito do futuro, pensou a moça com uma pitada de preocupação.

    Com o passar dos dias foram surgindo às divergências, Alcir não queria que sua mulher estudasse à noite; tinha ciúmes. Entretanto ele sabia que ela não deixaria a Escola. Era um sonho antigo terminar a faculdade para arrumar um emprego melhor. Seus pais sempre a incentivaram para concluir os estudos e ela queria dar esse gosto a eles.

      Em apenas um mês, o casal já havia discutido seriamente por duas vezes. Ambos tinham gênio forte e não abriam mão de suas ideias. As aulas tinham data marcada para começar e Alcir já estava sofrendo por antecipação. Na verdade, ele queria que sua mulher ficasse em casa cuidando dele, porém, ela não deixaria o trabalho e muito menos a escola. Ele sabia disso e temia a própria reação.

     Ele odiava a ideia de ficar em casa sozinho esperando por seu amor; Alcir sabia que estava em seu limite, tinha o pavio curto. Foi se aconselhar com sua mãe, que tentou amenizar a situação mostrando a ele que a moça tinha razão, precisava terminar os estudos. 

Quando ela chegava do serviço, os dois se abraçavam e ele ficava alegre; depois do jantar ele se aninhava naqueles braços tão queridos e dormia feliz. Bastava à presença de sua mulher para Alcir se esquecer de seus temores; tentava se acalmar para Sila não perceber o drama que estava vivendo.

     Depois de alguns dias, ela chegou contente, trazia nos braços os cadernos que comprara para voltar às aulas na faculdade.  Uma campainha disparou dentro dele; sua saga iria começar. Deu um sorriso amarelo e mal correspondeu ao beijo que recebeu; tinha uma faca, chamada faculdade, cravada em seu peito.

     Alcir lutava contra seu sentimento de revolta enquanto Sila tomava banho. Pela primeira vez pensou em impedir sua mulher de sair, porém, ela poderia não gostar e até abandoná-lo. Teria que usar de diplomacia e pensar em uma estratégia para prendê-la em casa. Precisava agir rápido ou teria que leva-la ao ponto do ônibus.

    Abriu o freezer e pegou um peixe congelado, depois o colocou sobre a tábua de cortar carne e sem titubear pegou a faca mais afiada que havia ali e mandou sobre seu próprio dedo. O grito foi lancinante e verdadeiro; a dor foi insuportável.

    Quando Sila ouviu o grito saiu do banheiro só de toalha, o marido estava encostado na pia da cozinha. Alcir ficara pálido, em meio a uma poça de sangue. O rapaz segurava a mão enrolada em um guardanapo branco, sujo de sangue, parecia que iria desfalecer a qualquer momento.

     A moça parou estarrecida, deixando a toalha cair no chão e ficou olhando aquela cena dantesca. Não sabia se gritava, corria ou vestia sua roupa, estava nua e impotente.
Um texto de Eva Ibrahim. 

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

"BUSCAMOS, NO OUTRO, NÃO A SABEDORIA DO CONSELHO, MAS O SILÊNCIO DA ESCUTA; NÃO A SOLIDEZ DO MÚSCULO, MAS O COLO QUE ACOLHE." RUBEM ALVES---A VIDA É UM MISTÉRIO A SER VIVIDO. EVA IBRAHIM



O BEM MAIS PRECIOSO

 CAPÍTULO CINCO
        Alcir abaixou a cabeça, a emoção tomou conta de sua voz, então, ele começou a gaguejar e as lágrimas desceram fartas de seus olhos. Dirceu levantou-se e pegou um copo com água da moringa, que ficava na mesinha perto do beliche, dentro da cela. Enquanto o companheiro sorvia o líquido, Dirceu perguntou se ele queria parar por ali.

       –Não, de jeito nenhum. Gaguejou o rapaz com a voz embargada.
Ele precisava contar tudo para se livrar do peso que trazia na alma. O sofrimento reprimido por oito anos e a armadura que usava para se apresentar a todos, estava lhe fazendo muito mal; iria contar tudo até o final.
      Respirando fundo, Alcir continuou sua história.

      - Amava a sua mulher com toda a força de seu coração. Respirou fundo e tomando fôlego, continuou.
      Era um sentimento verdadeiro, que viera de um jeito que doía seu peito, o coração disparava quando pensava nela. Ela representava a luz do Sol, a alegria de viver; um sorriso dela encantava seu dia. Desde o momento que a viu pela primeira vez, Sila tornou-se o centro de seu Universo. Gostava de vê-la caminhar em sua direção, balançando seus fartos cabelos louros e quando se aninhava em seus braços ele ficava completo; era seu bem mais precioso.

     Os dois saíram da casa nova com o Sol brilhando alto e, quando chegaram à casa de Sila, a mãe dela os estava esperando, sentada na varanda da casa. A mulher apresentava as feições endurecidas pelo semblante fechado. Levantou-se e com as mãos na cintura perguntou se tinha cara de palhaço. Alcir abaixou a cabeça dizendo que não e Sila começou a chorar.

      - Com certeza estavam pensando que o mal feito ficaria escondido. Disse a mulher irada, em seguida prosseguiu.
     Por enquanto, somente ela sabia que os dois tornaram-se amantes, mas, Alcir teria que marcar a data do casamento naquele mesmo dia, ou ela contaria ao pai e aos filhos, que certamente tomariam providências danosas para ambos.

     Enquanto a moça chorava, o noivo aquiesceu.
     - Casaria com Sila a qualquer momento, já tinham casa para morar.
      Diante de tanta veemência, a mulher depôs as armas, esperaria até a noite para acertarem as datas. Contava com a presença dos pais dele, para se certificar de que estava falando sério.

      Alcir não cabia em si de tamanha felicidade, Sila era seu bem mais precioso e a levaria para o altar com muito amor. Os pais do noivo foram pegos de surpresa e pediram um prazo de dois meses para que tudo fosse arrumado para o casamento. A data foi marcada para a véspera do carnaval, assim eles poderiam viajar e curtir a lua de mel.

      A mãe chamou a atenção da filha com dureza, para a realidade que a aguardava.
     –Será que ela não estaria jogando sua sorte pela janela? Era muito jovem, ainda não estava formada e o noivo parecia muito ciumento. Temia que ele não deixasse ela terminar os estudos, enfatizou a mulher.

     Sila ouviu calada, a mãe poderia ter razão, porém, não queria pensar nisso naquele momento. Estava feliz com a novidade, também amava Alcir e queria desfrutar dessa fase de sua vida, o casamento.

      O dia do casamento chegou e a felicidade estava estampada no rosto dos noivos. Tudo saiu perfeito, a cerimônia, a festa e a saída estratégica do casal de noivos para a viagem ao litoral; Sila queria aproveitar o calor para curtir a praia.

      O carnaval acontecia nas ruas e salões e os dois passeavam agarradinhos pela orla marítima, depois iam dormir de conchinha. Alcir nunca foi tão feliz, queria permanecer ali para sempre. Foi uma semana inteira de muito amor, depois voltaram para casa. Era chegada a hora de enfrentar a realidade que os esperava, cheia de novos compromissos.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

"O CAMINHO QUE EU ESCOLHI, É O DO AMOR... NO MEU CAMINHO, O ABRAÇO É APERTADO, O APERTO DE MÃO É SINCERO... É SÓ ASSIM QUE EU ENXERGO A VIDA E, É SÓ ASSIM QUE EU ACREDITO QUE VALHA A PENA VIVER..." CLARICE LISPECTOR--- O AMOR ESQUENTA O CORPO E A ALMA . EVA IBRAHIM

UM BRINDE AO AMOR
CAPÍTULO QUATRO
       Ninguém percebeu nada; era dia de festa. A maioria dos presentes estava de ressaca, passaram a noite comemorando. Alcir parecia uma sombra atrás de Sila, entretanto, não despertou suspeitas, ninguém imaginava que a moça se entregara a ele na noite de Natal. Alcir era um homem apaixonado e todos sabiam disso, estava zelando pela mulher amada.

     Era natural o noivo ficar agarrado a sua noiva, ainda mais agora que ela se tornara sua mulher. Este pensamento o deixava excitado, ele queria ficar a sós com ela novamente, seu corpo tinha necessidade dela. Sila o afastou dizendo que estava toda dolorida e que ele segurasse a onda, teriam a vida toda para se amar. Ele emburrou, não poderia compreender a frieza dela.
      -Será que ela estava arrependida? Ele perguntou baixinho.
  -Não, não estava arrependida, mas, queria um amor tranquilo, sem promessas e urgências; os encontros deveriam acontecer naturalmente, como o da noite anterior.

     Sila o beijou e afagou seus cabelos, depois saiu para ajudar sua mãe. Alcir ficou sentado no sofá, sentindo-se rejeitado; o pior dos sentimentos, que o magoava muito. Agora ele era seu senhor, teriam que se casar logo ou ele não teria mais sossego. Não suportava a ideia de deixa-la na casa dos pais e voltar para sua casa. O rapaz vivia dentro de um turbilhão de pensamentos contraditórios; hora sentia-se feliz, em seguida um derrotado.

     Iria se mudar para a casa que arrumara para ser um ninho de amor; ficaria lá até poder morar com Sila para sempre. Naquela noite ele dormiu sozinho na casa nova; estava deprimido. Demorou a pegar no sono, a cama estava vazia; ele a queria ali novamente. Planos, aquele coração quase não cabia em seu peito, ele ficava deitado fazendo planos com sua amada. Ela o enfeitiçara, não conseguia imaginar a vida longe dela. Alcir chorou baixinho, nada poderia fazer, senão esperar.

     Uma semana e a moça não voltou àquela casa; ela dizia que seus pais não poderiam saber do ocorrido, por isso teriam que tomar cuidado. Alcir contava com a passagem de ano para ser feliz novamente. Sila também queria passar a noite com ele, ela o amava e lhe daria mais uma noite de prazer.

     No último dia do ano, o rapaz estava eufórico, chegava a sentir dor no peito quando pensava em sua noiva. Aquela seria outra noite de muito amor. A casa estava limpa e pronta para receber os dois; ficariam um pouco na casa dos pais de Sila. E, depois diriam que os pais dele os estavam esperando e iriam para seu ninho de amor...

    Tudo aconteceu como ele planejara, depois do brinde, Sila o acolheu em seus braços com todo carinho, até o dia amanhecer. Quando o dia clareou ele estava enrolado no corpo dela. Alcir sorriu, estava muito feliz; aquela era a vida que ele queria viver. 

A moça acordou sobressaltada, sua mãe estava desconfiada desde o dia de Natal; eles teriam que se explicar ou ela quebraria o silêncio. Uma nuvem negra pairou dentro do quarto.

Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

"TE AMO, NÃO POR QUEM TU ÉS, MAS POR QUEM SOU QUANDO ESTOU CONTIGO." GABRIEL GARCIA MARQUES---SAUDADE É A AUSÊNCIA QUE INCOMODA. EVA IBRAHIM

ALÉM DAS ESTRELAS
CAPÍTULO TRÊS
       Sila tinha outras prioridades, antes de pensar em casamento, entretanto, Alcir tinha pressa; parecia que pressentia algo de ruim se não agarrasse a moça de uma vez. Discutiram, algumas vezes, por esse motivo. Ela queria terminar os estudos, arrumar um emprego melhor e depois montar sua casa do jeito que sempre sonhou.

       –Não, de jeito nenhum, ele não conseguiria esperar tanto tempo, ela faria tudo isso estando junto dele, dizia o rapaz com convicção.

       Conversa vai, conversa vem e muita pressão de Alcir que ela acabou cedendo.
        – Iria ficar noiva, porém, o casamento teria que esperar.

       Alcir ficou radiante, depois de noivos tudo seria mais fácil; Sila cederia aos poucos, até se tornar sua mulher. Esse pensamento povoava sua cabeça, não conseguia focar em outra coisa. Ser feliz, para ele, era uma necessidade urgente.

       Sua avó construíra uma casa, com dinheiro de uma herança, para alugar e completar sua aposentadoria. Era uma construção simples, mas bem feita e ficava perto da casa de seus pais, então, Alcir foi pedir à sua avó se poderia alugar para ele e ela concordou. A noiva não gostou da pressa do rapaz, ele estava atropelando os seus planos e ela não iria se submeter aos seus caprichos, seria melhor dar um tempo.

        A discussão foi fervorosa e Alcir saiu da casa de Sila muito bravo, ela não o amava, por isso não queria se casar. Passou em um bar, encontrou uns amigos e beberam até o bar fechar. No dia seguinte ele não foi trabalhar, estava com enxaqueca e de mal com o mundo; não queria ver ninguém.

       Sila não o procurou, queria um tempo para pensar; casamento era coisa séria e ela só tinha vinte anos de idade. Amava seu noivo, porém, ele teria que entender que ela queria o melhor para ambos e casar as pressas não estava em seus planos.

Alguns dias se passaram e Alcir não resistiu, foi à procura de Sila; não poderia viver longe dela. Conversaram muito e ele concordou em esperar o ano acabar para falar em casamento novamente, estavam no mês de maio.

       Ele não disse nada à noiva, mas tinha um plano para ela se entregar a ele, mesmo sem se casar. Os dois, sempre conversavam sobre a futura casa e como seriam os móveis. Um dia eles estavam passeando e ela parou em frente a uma loja de móveis mostrando a ele as coisas que ela queria comprar. Foi o suficiente para ele se antecipar e colocar os móveis na casa que ele mantinha sem ela saber. De maio a dezembro ele economizou tudo que pode e o restante financiou. Na véspera de Natal a casa estava toda mobiliada, como ela queria e ele suspirou aliviado.

      Alcir estava feliz e convidou sua noiva para ver a casa que ele pretendia comprar e como uma teia ele foi envolvendo a moça. Ela ficou surpresa com o empenho dele, além de gostar da casa percebeu o grande amor que Alcir lhe dedicava. Na casa tinha vinho e salgados, que ele levara mais cedo para que a surpresa fosse completa.

      Os dois ficaram vendo televisão e bebericando até tarde, a conversa fluía fácil; estava tudo perfeito. Já era tarde para sair e eles foram ficando ali, inebriados pela bebida; depois foram levados pela paixão até o quarto, onde ela se esqueceu de seus propósitos e se rendeu ao amor.

      O dia amanheceu com Alcir fungando em meio aos cabelos louros de sua amada, estava realizado; Sila se tornara sua para sempre. Quando a moça acordou, deu um salto.

      - Como iria se explicar? Seus pais ficariam furiosos. Alcir ponderou que:

      - Seria melhor não dizer nada para não magoá-los; diga que dormiu na casa de uma amiga; a festa acabou tarde e todos estavam bêbados.

      Ela concordou, afinal, era dia de Natal e os familiares de Alcir  iriam comemorar com um almoço na casa dos pais de Sila. Aconteceria à reunião das duas famílias, uma aproximação necessária para a felicidade dos filhos. O amor desfrutado seria um segredo entre os dois, um presente de Natal, que os conduziu além das estrelas.

       Foi ai que o rapaz teve que engolir seco e limpar as lágrimas que caiam de seus olhos. Dirceu o abraçou, entendeu a emoção do companheiro, tinha sentimentos parecidos. Entretanto, tanto um como o outro usavam uma armadura para mostrar à sociedade.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

"AH! O AMOR... QUE NASCE NÃO SEI ONDE, VEM NÃO SEI COMO E DÓI NÃO SEI PORQUÊ. LUÍS DE CAMÕES---SONHE, POIS, LÁ O MUNDO É TODO SEU! EVA IBRAHIM

Ah! O AMOR É LINDO...
Capítulo dois.
       Alcir conheceu Tarsila em um show de músicas sertanejas. O clima era de alegria e o público jovem cantava a plenos pulmões, dançava e agitava os braços demonstrando total entrega. No palco acontecia o tributo à dor de cotovelo, cantada em versos românticos pelas duplas de cantores conhecidos. Ela passou por ele rebolando e balançando seus cabelos dourados, estava acompanhada de uma amiga. Ele ficou olhando até ela desaparecer em meio à multidão, parecia enfeitiçado. 

      A moça chamou sua atenção de um jeito que ele ficou extático, então, apareceu seu amigo Dinho e lhe deu um susto. Espantado ele recobrou a lucidez e disse que uma “deusa” havia passado por ali. Dinho retrucou dizendo que ele conhecia a moça e se Alcir quisesse poderia ser apresentado a ela. E, foi assim que ele conheceu Tarsila; uma linda jovem com um nome estranho.

     Ela lhe explicou que seu pai estava folheando uma revista, em um consultório dentário, enquanto aguardava ser atendido e viu a foto de um quadro que lhe chamou a atenção. Era um quadro de Tarsila do Amaral, uma pintora famosa. Seu pai guardou aquele nome e quando a filha nasceu ele não perguntou a sua esposa o nome que ela daria ao bebê, pois, ele já tinha o nome: Tarsila.

       A mãe não gostou e passou a chama-la de Sila, portanto, ele também poderia chama-la de Sila. Ele sorriu, o nome era apropriado, bonito como a dona; queria conhece-la, estava encantado. A partir desse dia Alcir só tinha olhos para Sila, que correspondia ao seu amor. A moça era a filha de número cinco do casal e os outros quatro filhos eram homens. Além de ser paparicada pelos quatro irmãos, era a caçula e os pais a mimavam. Então, ele percebeu que ali, naquela família, ele teria que ser correto. Se quisesse a Sila, teria que se casar ou seria massacrado pelos irmãos dela.

     A moça trabalhava em uma loja de departamentos e estudava à noite; queria ser Assistente Social para ajudar muita gente. Alcir ficava furioso em pensar que ela poderia falar com outros rapazes. A primeira briga surgiu por conta de seus ciúmes exagerados. Ele viu sua namorada trocando algumas palavras com um colega da escola em frente ao seu trabalho. Alcir quase bateu em Sila de tão furioso que ficou; não aceitou suas explicações e saiu cantando pneus. 

      Foram dias difíceis para ele, mal conseguia trabalhar; teria que resolver a situação, amava aquela mulher. Ela reunia todos os desejos de seus sonhos mais íntimos; era perfeita para ele. Depois de alguns dias ele não resistiu e foi pedir perdão à sua amada. Foi perdoado com um longo beijo; ela também o amava.

      Alcir trabalhava em uma revendedora de motos, que era a segunda mais importante paixão de sua vida, depois de Sila. Ele possuía uma moto vermelha, que chamava a atenção de todos e a Sila adorava passear agarradinha em sua cintura. O rapaz ficava feliz em exibir seus dois troféus, a moto e seu amor.  Ele estava empenhado em construir uma família com aquela jovem, seria o único jeito de tê-la em seus braços e chama-la de sua.

      Os dois se amavam, entretanto, quando ele ia avançar o sinal ela o brecava; prometera aos pais que se casaria virgem. Ela sonhava em se casar vestida de noiva com véu e grinalda, como mandava o figurino. Queria ter uma noite de núpcias com tudo que a tradição envolvia. Alcir ficava maluco, não conseguiria esperar muito tempo, queria fazer dela a sua mulher. Porém, eram muito jovens e seus pais não concordariam com o casamento apressado.

      À noite, Alcir sonhava com ela lhe fazendo carinhos, acordava suando. Iria à casa de Sila pedir permissão aos seus pais para ficarem noivos. O aniversário dela estava próximo e seria um belo dia para firmar um compromisso. Pensava nela o tempo todo, para ele o mundo se reduzira à sua Sila e nada mais importava; estava muito feliz. Precisava apressar os preparativos para o casamento e viver plenamente todos os seus sonhos com a mulher de sua vida.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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