MOSTRAR VISUALIZAÇÕES DE PÁGINAS

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

"AH! O AMOR... QUE NASCE NÃO SEI ONDE, VEM NÃO SEI COMO E DÓI NÃO SEI PORQUÊ. LUÍS DE CAMÕES---SONHE, POIS, LÁ O MUNDO É TODO SEU! EVA IBRAHIM

Ah! O AMOR É LINDO...
Capítulo dois.
       Alcir conheceu Tarsila em um show de músicas sertanejas. O clima era de alegria e o público jovem cantava a plenos pulmões, dançava e agitava os braços demonstrando total entrega. No palco acontecia o tributo à dor de cotovelo, cantada em versos românticos pelas duplas de cantores conhecidos. Ela passou por ele rebolando e balançando seus cabelos dourados, estava acompanhada de uma amiga. Ele ficou olhando até ela desaparecer em meio à multidão, parecia enfeitiçado. 

      A moça chamou sua atenção de um jeito que ele ficou extático, então, apareceu seu amigo Dinho e lhe deu um susto. Espantado ele recobrou a lucidez e disse que uma “deusa” havia passado por ali. Dinho retrucou dizendo que ele conhecia a moça e se Alcir quisesse poderia ser apresentado a ela. E, foi assim que ele conheceu Tarsila; uma linda jovem com um nome estranho.

     Ela lhe explicou que seu pai estava folheando uma revista, em um consultório dentário, enquanto aguardava ser atendido e viu a foto de um quadro que lhe chamou a atenção. Era um quadro de Tarsila do Amaral, uma pintora famosa. Seu pai guardou aquele nome e quando a filha nasceu ele não perguntou a sua esposa o nome que ela daria ao bebê, pois, ele já tinha o nome: Tarsila.

       A mãe não gostou e passou a chama-la de Sila, portanto, ele também poderia chama-la de Sila. Ele sorriu, o nome era apropriado, bonito como a dona; queria conhece-la, estava encantado. A partir desse dia Alcir só tinha olhos para Sila, que correspondia ao seu amor. A moça era a filha de número cinco do casal e os outros quatro filhos eram homens. Além de ser paparicada pelos quatro irmãos, era a caçula e os pais a mimavam. Então, ele percebeu que ali, naquela família, ele teria que ser correto. Se quisesse a Sila, teria que se casar ou seria massacrado pelos irmãos dela.

     A moça trabalhava em uma loja de departamentos e estudava à noite; queria ser Assistente Social para ajudar muita gente. Alcir ficava furioso em pensar que ela poderia falar com outros rapazes. A primeira briga surgiu por conta de seus ciúmes exagerados. Ele viu sua namorada trocando algumas palavras com um colega da escola em frente ao seu trabalho. Alcir quase bateu em Sila de tão furioso que ficou; não aceitou suas explicações e saiu cantando pneus. 

      Foram dias difíceis para ele, mal conseguia trabalhar; teria que resolver a situação, amava aquela mulher. Ela reunia todos os desejos de seus sonhos mais íntimos; era perfeita para ele. Depois de alguns dias ele não resistiu e foi pedir perdão à sua amada. Foi perdoado com um longo beijo; ela também o amava.

      Alcir trabalhava em uma revendedora de motos, que era a segunda mais importante paixão de sua vida, depois de Sila. Ele possuía uma moto vermelha, que chamava a atenção de todos e a Sila adorava passear agarradinha em sua cintura. O rapaz ficava feliz em exibir seus dois troféus, a moto e seu amor.  Ele estava empenhado em construir uma família com aquela jovem, seria o único jeito de tê-la em seus braços e chama-la de sua.

      Os dois se amavam, entretanto, quando ele ia avançar o sinal ela o brecava; prometera aos pais que se casaria virgem. Ela sonhava em se casar vestida de noiva com véu e grinalda, como mandava o figurino. Queria ter uma noite de núpcias com tudo que a tradição envolvia. Alcir ficava maluco, não conseguiria esperar muito tempo, queria fazer dela a sua mulher. Porém, eram muito jovens e seus pais não concordariam com o casamento apressado.

      À noite, Alcir sonhava com ela lhe fazendo carinhos, acordava suando. Iria à casa de Sila pedir permissão aos seus pais para ficarem noivos. O aniversário dela estava próximo e seria um belo dia para firmar um compromisso. Pensava nela o tempo todo, para ele o mundo se reduzira à sua Sila e nada mais importava; estava muito feliz. Precisava apressar os preparativos para o casamento e viver plenamente todos os seus sonhos com a mulher de sua vida.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

"A SAUDADE SE PARECE MUITO COM A FOME. A FOME TAMBÉM É UM VAZIO. O CORPO SABE QUE ALGUMA COISA ESTÁ FALTANDO. A FOME É A SAUDADE DO CORPO. A SAUDADE É A FOME DA ALMA." RUBEM ALVES-- OS FANTASMAS ESTÃO POR TODA PARTE. EVA IBRAHIM

                  A ARMADURA
                   ATRÁS DAS GRADES                                                                            CAPÍTULO UM
       O Diretor da Penitenciária mandou chamar o detento, que estava sentado no pátio tomando Sol. Precisava lhe dar uma notícia boa, mas ele temia que o detento não pensasse da mesma maneira. Era um preso jovem, quando chegou tinha somente vinte e cinco anos; introspectivo, mal humorado e briguento. Depois de sete anos de rebeldia, ele teve uma melhora de comportamento no último ano, por isso seu advogado pediu que lhe fosse concedida a liberdade condicional.
       Alcir teria sua liberdade provisória depois de oito anos de prisão, dos quais muitos dias e noites passados na solitária. Quando chegou ali parecia alucinado, agressivo, exaltado e dando pouca importância ao futuro. Alguns dias depois, tentou se suicidar fazendo cordas de lençol para se enforcar, mas foi impedido pelo colega de cela.
       - Chegara do inferno e nada mais importava em sua vida, que valia menos que um toco de cigarro, confidenciou ao colega de cela. Depois se fechou, não comia, não falava e não queria conversa com ninguém, nem mesmo com seus pais.
        A mãe insistia em vê-lo, porém, ele não queria ver ninguém, estava morto por dentro; desistira de viver. A mulher não se dava por vencida e sempre levava cigarros para seu filho. Ficava sentada no pátio até acabar o horário de visitas à espera de seu menino; depois entregava o pacote ao carcereiro. Alcir não saia da cela, entretanto, aceitava os cigarros deixados por sua mãe.
       O rapaz emagrecera vinte quilos no primeiro ano que passou na penitenciara. Ficou um mês na enfermaria da instituição, tomando medicamentos para se recuperar da fraqueza que fora acometido. Sua família fora chamada, temiam pela sua vida; então, ele passou a aceitar a presença de sua mãe nos dias de visitas. A mãe amava o filho incondicionalmente, nunca questionava sua conduta e assim foi ganhando sua confiança.
       Quando melhorou e pode voltar à sua cela, ele pediu a ela um rádio para ouvir músicas. O aparelho se tornou seu melhor companheiro; Alcir passava horas ouvindo músicas sertanejas, seu colega de cela também gostava do rádio e durante o dia, os dois ouviam rádio juntos. À noite, Alcir passava a maior parte do tempo com o radio na mão e o fone no ouvido.
       Quando saia para tomar Sol, ele acabava se envolvendo em brigas e por causa disso passou dias na enfermaria curando suas lesões, que se tornaram cicatrizes no corpo e na alma. Outras vezes ia parar na solitária, pois, não queria trabalhar e vivia desacatando os funcionários do local; era tido como um caso perdido.
       Ele passava as horas deitado no colchão, que ficava no fundo de sua cela; um corpo imóvel jogado na vida. Na cadeia não há o que fazer e o tempo demora a passar, por isso, depois de dois longos anos, ele concordou em trabalhar para ganhar algum dinheiro e dar para sua mãe comprar livros, revistas, cigarros, chocolates entre outras coisas. Precisava de uma ocupação ou enlouqueceria, disse à psicóloga, que acompanhava seu caso.
       Com o trabalho de ajudante na lavanderia ele conheceu outras pessoas e arrumou um amigo e confidente. Os dois tinham histórias parecidas, mataram suas esposas. Dirceu tinha cinquenta anos e estava preso há seis anos, não recebia visitas. Os filhos o desprezavam, nunca o perdoaram pela morte da mãe.
      Alcir estava sendo forjado a ferro e fogo no pior lugar do mundo, a cadeia, onde ele usava uma armadura para encobrir a culpa e a saudade que trazia no peito. Durante as noites de insônia ele chorava baixinho, com o rosto enfiado no travesseiro para ninguém ouvir. Durante o dia era um presidiário carrancudo e violento com seus desafetos; assim ele se escondia do mundo atrás de uma armadura agressiva e perigosa.
       Procurava esquecer que havia vida lá fora e quando recebeu o aviso de sua liberdade condicional, chorou como criança para surpresa do diretor do presídio. Dirceu tentou consolá-lo e se dispôs a ouvir sua história.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

"A BELEZA DAS PESSOAS ESTÁ NA CAPACIDADE DE AMAR E ENCONTRAR NO PRÓXIMO A CONTINUIDADE DE SEU SER. E, TAMBÉM EM RECONHECER QUE NESSA VIDA, VOCÊ ESTARÁ SEMPRE PRECISANDO DE ALGUÉM E SEMPRE TERÁ ALGUÉM PRECISANDO DE VOCÊ. AUTOR DESCONHECIDO---SE ANOITECER PROCURE A LUZ DAS ESTRELAS. EVA IBRAHIM.

COM MUITO AMOR
CAPÍTULO TREZE

        A correria começou na madrugada quando a bolsa de águas estourou e Celina acordou a sogra. Em seguida as contrações começaram e a moça passou a gemer de dor; chegara a hora de Bruna nascer. Gilda parecia abobalhada, não sabia o que fazer tamanha era sua ansiedade. Sandro pediu que ela chamasse uma ambulância para conduzi-los à maternidade. Trêmula, a mulher discou o número que estava na lista, depois foi pegar as malas para acompanhar o casal à maternidade.

       O Sol estava nascendo quando adentraram ao Hospital e logo apareceu uma enfermeira, que conduziu Celina porta adentro, deixando Gilda e Sandro apreensivos. O rapaz parecia perdido naquele local estranho. Sua mãe o conduziu até uma poltrona e ambos ficaram aguardando notícias do nascimento do bebê.

       Gilda olhava seu filho que estava para ser pai e lembrou-se de Danilo. A alegria de ter a neta em seus braços, ele jamais sentiria; então, a nostalgia do passado voltou, era uma mulher solitária em se tratando de amor. Uma lágrima silenciosa rolou pelo seu rosto e, ela tratou de enxugar com o dorso de sua mão para que Sandro não percebesse.

      Depois de uma hora de angustia e muita oração apareceu o médico dizendo que a criança nascera bem e eles poderiam entrar. Sandro não se cansava de tocar o pequeno rostinho de sua filha; era muito bonita, dizia comovido. Gilda segurava o bebê no colo para Celina poder tocá-la e seu pensamento corria solto, estava sentindo muita alegria, como há muito tempo não sentia. Aquela pequena criança tomaria conta dos pais e ela poderia morrer tranquila. Em seus piores pesadelos ela deixava o casal sozinho no mundo e depois acordava suando frio.

      Os meses passavam rápidos e Bruna crescia forte e feliz. Desde pequena aprendera a conduzir o pai e a mãe segurando em suas mãos. A avó a ensinava a cuidar dos dois; Bruna sorria feliz e ganhava muitos beijos de seus pais.

       A menina entrou na escola e Gilda ou Sofia a acompanhavam até à entrada da sala de aulas. As duas mulheres tinham muito cuidado para ensiná-la a conhecer os lugares e os perigos que a rua apresentava para seus transeuntes. Logo ela poderia acompanhar os pais aos lugares conhecidos e posteriormente guia-los por toda parte.

      O casal já adquirira o controle para se locomover dentro de casa, isto é, tomaram o poder de suas próprias vidas e somente na rua precisavam de acompanhante. Mais do que qualquer um, as pessoas com deficiência visual podem e querem tomar suas próprias decisões, assumindo a responsabilidade por seus atos; foi assim que Gilda criara seu filho.

Sofia estava sempre presente na casa de sua prima; dizia ser impossível viver longe deles. O sonho de Gilda era fazer com que a neta servisse de guia para seus pais, assim ela poderia descansar; estava ficando velha. Com dez anos de idade, Bruna já acompanhava a mãe ao comércio, ajudava nas compras e no pagamento. A menina era inteligente e esperta; aprendia rápido tudo que lhe era ensinado.

       Ela pegava no braço da mãe e a guiava por calçadas esburacadas, degraus, buracos, pisos escorregadios e obstáculos. Conversava muito e ia descrevendo tudo que via nas ruas. Celina dizia confiar muito na filha, ela tornara-se a luz de seus olhos.

       Bruna completou dezoito anos e passara no vestibular; queria ser enfermeira. A moça gostava de prestar cuidados aos pais e a avó, era amorosa e interessada em tudo que dizia respeito a sua família.
Gilda tinha orgulho da neta e queria prepara-la para a vida. Então, lhe ensinou todos os procedimentos bancários e pagamentos que deveria fazer, para que seus pais pudessem ter uma vida tranquila. Durante meses ela acompanhou os passos da neta e só descansou quando sentiu que poderia confiar plenamente nela.

Gilda adoeceu, estava com pressão alta e diabetes, quase não saia de casa, somente para ir ao médico. Passava horas deitada na cadeira de balanço e quando via a neta dar o braço ao pai e a mãe para sair a passeio, sentia-se realizada. Bruna ficava no meio e os três seguiam felizes.

A mulher fechava os olhos e se reportava para a mulher negra, que esteve presente em seus piores momentos; então sorria, sabia que havia um anjo protegendo a todos. Sua missão fora cumprida e uma alegria muito grande tomava conta de seu coração; poderia morrer em paz...  
Um texto de Eva Ibrahim
Termina aqui a história da mãe, que involuntariamente cegara seu único filho.

Na próxima semana iniciaremos outra história.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

"AS PESSOAS NÃO SE PRECISAM, ELAS SE COMPLETAM... NÃO POR SEREM METADES, MAS POR SEREM INTEIRAS, DISPOSTAS A DIVIDIR OBJETIVOS COMUNS, ALEGRIAS E VIDA." MÁRIO QUINTANA---O AMOR ILUMINA A VIDA. EVA IBRAHIM

                                                     
UM TOQUE DE CARINHO
                            CAPÍTULO DOZE 
Gilda lembrou-se da felicidade de Sandro e agradeceu a Deus por ter conseguido fazer de seu menino um homem de verdade, apesar de sua cegueira. Seu filho tornara-se um homem culto e de bom gosto, amoroso e de bons sentimentos; estava preparado para seguir seu caminho. Ser cego não o privou de crescer, se desenvolver, amar e ser feliz.

Celina era uma moça com formação em piano pelo Conservatório da capital; a música fazia parte de sua vida desde criança e poderia ajudar o marido em seus arranjos musicais. O gosto pela música era um elo forte entre ambos, além do amor que os unia.

Sandro estava casado e isso bastava para sua vida ter valido a pena, pensava Gilda olhando o piano que os pais de Celina mandaram para a filha. O casal ficaria morando na casa dela, assim, ela seria a luz que faltava para ambos até o fim de seus dias.

Sofia estava feliz, encontrara o amor ali perto, na figura do padeiro Luís. Ele a pedira em casamento e ela aceitara, pois, poderia ficar vivendo perto de Sandro e Gilda, que se tornaram sua família. Sandro sempre dizia que tinha duas mães, Gilda e Sofia, as mulheres de sua vida.

O casal voltou da lua de mel e a casa ganhou alegria e muita música. Quando Sandro e Celina não estavam no quarto, estavam tocando instrumentos musicais. Os dois riam muito, pareciam duas crianças; estavam muito felizes juntos, um completava o outro.

Gilda orientava a nora nos afazeres da casa e a acompanhava sempre que ela precisava sair. Era uma visita ao médico, uma ida ao Supermercado, a compra de um presente ou uma visita ao dentista.

Com o passar dos dias Celina ganhava segurança e já se virava sozinha dentro da casa de Gilda. Sandro saia com seus músicos para ensaios e vistorias em lugares de novas apresentações, tinha os dias cheios de compromissos. E, em algumas noites tocava nos eventos e só retornava com o Sol nascendo.

Alguns meses se passaram e Sandro estava tranquilo e feliz; sua esposa estava grávida. Foi à notícia mais importante de sua vida, dizia abraçando sua mulher. Gilda saiu para chorar longe dos ouvidos do filho, estava emocionada.

Sofia se casou em uma cerimônia simples, celebrada pelo padre Bento, em seguida viajou com seu marido. Antes do casamento a mulher se mudara para a casa de Luís, deixando o quarto que ocupava na casa de Gilda, para a criança que estava a caminho.

Gilda imaginava a criança como uma bênção recebida de Deus; ela tomaria conta dos pais quando ela partisse desse mundo. Era a peça que faltava naquele quebra cabeça chamado vida. A ecografia desvendou o sexo da criança, era uma menina, dissera o médico. A partir daquele dia tudo girava em torno da chegada do bebê.

Celina era uma moça fina e a sogra a orientava quanto às cores e beleza das coisas, que ela escolhia para a pequena Bruna; assim se chamaria a neta de Gilda, disseram seus pais.

A moça escolhia todas as peças do enxoval do bebê pelo tato, ela tinha uma sensibilidade extraordinária na ponta dos dedos. Gilda ficava admirada pelo bom gosto da nora; tudo que ela escolhia era de qualidade além de bonito, por isso era fácil orientá-la.

O tempo passava rápido e Celina ganhava peso; logo teriam o bebê nos braços para enfeitar aquela casa. O quarto estava arrumado esperando a chegada de Bruna. Gilda sentia-se muito feliz, a alegria voltara ao seu lar.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

"A VIDA SÓ É VIDA QUANDO É VIVIDA POR DUAS VIDAS EM UMA SÓ VIDA." AUTOR DESCONHECIDO---QUE HAJA LUZ, NESTE DIA, DENTRO DOS SEUS CORAÇÕES." EVA IBRAHIM

O CASAMENTO 
DE 
SANDRO E CELINA.

                                                                 CAPÍTULO ONZE
       Depois de seis meses e com a casa reformada, estava tudo pronto para o casamento de Sandro e Celina. O casal de noivos vivia um conto de fadas, estava tudo perfeito. A Igreja do padre Guima, que já não estava mais lá, fora se encontrar com Deus, estava inteira florida de branco e amarelo.

       O novo pároco era o padre Bento, que realizaria o casamento com muito gosto, dissera, quando soube que o casal era cego. O padre Bento era novo e bem intencionado, ficou feliz em realizar o casamento de um paroquiano que o padre Guima estimava muito. Foi o velho pároco que lhe contara a história triste da cegueira de Sandro e o empenho da mãe em seu desenvolvimento e inserção na sociedade. Gilda não media esforços para levar o filho à escola e as aulas de música, era o motivo de vida para ela.

       Gilda convidou alguns parentes que não via desde o acidente de Sandro; na época muitos se afastaram criticando e condenando a pobre mãe. Seria uma satisfação apresentar seu filho em uma situação de grande felicidade. Alguns confirmaram presença; a maioria queria satisfazer sua curiosidade em relação ao casal de cegos. Entre os convidados estavam os amigos de Sandro e de Celina, alguns conhecidos de Gilda e de Sofia e os parentes das duas famílias.

      Sandro estava vestido impecavelmente com seu terno preto; ele se postara entre os padrinhos, no altar da Igreja, que estava toda decorada com flores brancas e amarelas. Quando foi aberta a porta central, a Igreja foi tomada pela música tocada e cantada pelo coro da paróquia. Celina escolheu a canção “Ave Maria” para sua entrada na igreja. O noivo se mantinha impassível esperando a presença da noiva no altar.

      Celina entrou acompanhada de seu pai, seguindo lentamente rumo ao altar. Enquanto isso, Sandro escutava seus passos, eram leves e macios, porém, ele tinha o ouvido aguçado e o que passava despercebido para as outras pessoas, para ele era nítido. E, quando ela se aproximou ele desceu os degraus do altar para recebê-la das mãos de seu sogro, sem ajuda de ninguém.

       Nesse momento Gilda, olhando para os convidados, viu entre eles Dora, a mulher negra, que a amparou no dia do acidente de Sandro. Seu primeiro impulso foi correr até ela, entretanto, não poderia deixar o altar, pois, o casamento iria começar. Quando ela sentiu que poderia sair dali, não encontrou mais o rosto tão conhecido; a mulher sumiu. Ela tinha certeza de que Dora viera para assistir a cerimônia de casamento de Sandro. Em seu íntimo sentiu uma sensação de segurança; Deus nunca a abandonara.

       O casal ouvia atentamente a explanação que padre Bento fazia sobre o sucesso de uma vida a dois. Depois, foi iniciado o ritual da cerimônia de compromisso entre os nubentes. Quando o padre disse:
-“Estão casados, pode beijar a noiva”.
       Sandro beijou Celina com todo amor do mundo. Formavam a figura da própria felicidade; depois seguiram de braços dados até a porta de entrada da Igreja. Ali, no topo da escadaria, o casal receberia os cumprimentos dos convidados. Gilda e Sofia choraram abraçadas com o sentimento de vitória no coração. Elas cumpriram à missão de fazer de Sandro um homem forte e feliz.

       A festa foi realizada no Salão Paroquial e lá pelas tantas o casal saiu de fininho com a ajuda do irmão de Celina, que os levou até o Hotel reservado para a noite de núpcias. 

Gilda sabia que de onde Danilo estivesse, presente ali no casamento ou lá no céu e se pudesse vê-los, ele estaria feliz, pois, amava o filho. Ela também sentia a falta do marido, foi o único homem que amara em sua vida; naquele momento a solidão lhe pareceu pesada e triste.
Um texto de Eva Ibrahim.
Continua na próxima semana

sexta-feira, 18 de julho de 2014

"PREFIRO A MÚSICA, PORQUE ELA OUVE O MEU SILÊNCIO E AINDA O TRADUZ SEM QUE EU PRECISE ME EXPLICAR." AUTOR DESCONHECIDO---A FÉ É A RESPOSTA PARA TODAS AS DÚVIDAS. EVA IBRAHIM.

A CELEBRAÇÃO.
CAPÍTULO DEZ

      Gilda estava eufórica, finalmente um pouco de alegria para colorir a vida naquela casa. Sandro parecia estar vivendo um sonho, estava alegre e brincalhão. O pequeno menino indefeso, agora, era um belo rapaz de vinte e cinco anos. Um músico que se mantinha tocando em seu conjunto, que era formado por cinco músicos e um cantor. Sandro tocava órgão e acordeão; gostava de teclado, dizia aos companheiros, por isso estudava piano.

       Há vinte anos ele estava cego, mal se lembrava das coisas antes vistas; seu mundo se reduzira ao que podia sentir com as mãos ou com os ouvidos. O restante ele imaginava lendo livros em braile. Tornara-se um rapaz culto, porém, perdera o poder de colorir as coisas. Às vezes reclamava com a mãe que já não se lembrava da diferença de azul ou rosa, vermelho ou verde; seu mundo era cinzento e só a música o tirava da escuridão.

       Sua mãe se anulara como pessoa para cuidar do filho querido; ela já não se lembrava de como era sair para se divertir. Estava com cinquenta anos, sozinha desde que Danilo faleceu e seu maior sonho era ver o filho feliz. Trazia em seu coração a culpa por ele estar cego e faria tudo para vê-lo contente com o seu amor; era um bom menino e merecia ser feliz. Sandro nunca acusara a mãe por sua cegueira, embora ela tenha lhe contado a verdade por diversas vezes.

      Sofia também era uma cinquentona e ultimamente andava saindo com o dono da padaria da esquina, parecia que estavam namorando; Gilda dava a maior força. Sofia ajudou a prima com o menino e foi o apoio que ela precisava para sobreviver à tamanha desgraça.

Em momentos de nostalgia, Gilda pensava na mulher negra e pressentia que Sofia fora induzida, por uma força maior, para ajuda-la. Agora, a prima poderia refazer sua vida, já cumprira sua missão. Sandro já era um homem e iria se casar, então, ela poderia seguir o seu caminho.

      Gilda queria preparar um jantar com muito esmero para receber Celina, seus pais e irmãos. A moça também vinha de uma história triste, era a filha mais velha de três irmãos; sua mãe tivera “rubéola” na gravidez e a criança nascera com deficiência visual, que se agravou posteriormente, deixando-a cega.

      Celina gostava de música e tocava piano desde criança, seus pais a incentivavam e lhe deram um piano de presente. Sandro a conheceu durante as aulas no Conservatório e se apaixonou pela sua doçura; era uma moça tranquila e sensível. Ao contrário dele ela nunca viu a luz, nasceu com catarata congênita e não foi possível reverter o quadro.

       Os dois jovens formavam um casal muito bonito, um apoiava o outro, gerando segurança e fortalecendo os laços amorosos. Era a liberdade que Sandro precisava para construir sua vida, uma companheira compreensiva que compartilhava de seus projetos.

       Houve a reunião das duas famílias e Celina estava muito bonita; parecia apaixonada por Sandro. Era tudo o que Gilda sonhara para seu filho, a moça estava aprovada pelas duas mulheres que cuidavam do rapaz. Antes do início do almoço Sandro pediu para dizer algumas palavras, queria ficar noivo de Celina. Pegando nas mãos de sua namorada ele pediu aos pais dela que abençoasse as alianças, que ele trocaria com Celina. Era a celebração do amor e um pedido de casamento.

       Quando Celina e seus familiares deixaram a casa, ficou a certeza de que aquele acontecimento seria o início de uma nova vida para todos. Sandro e Celina estavam noivos.
      O rapaz dizia estar preparado para se casar e queria continuar a morar com sua mãe, ainda precisava de sua ajuda e orientação. Começava, então, um planejamento para acomodar o casal e iniciar os preparativos do casamento.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

UM BLOG PARA POSTAR CONTOS CURTOS E EM CAPÍTULOS.