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sexta-feira, 30 de maio de 2014

"OS ANJOS SE FAZEM NOTAR APENAS PARA AQUELES QUE ACREDITAM EM SUA EXISTÊNCIA, EMBORA SEMPRE ESTEJAM POR PERTO." PAULO COELHO---NUNCA É TARDE PARA RECOMEÇAR. EVA IBRAHIM

UMA ROSA PARA GILDA

CAPÍTULO TRÊS.

        Gilda seguiu andando pela rua de cabeça baixa, estava muito triste por tudo que aconteceu ao seu filho; também sentia vergonha por estar com os pés descalços. Entretanto, havia uma paz estranha dentro dela, à ferida ainda estava aberta, mas já não sangrava tanto. Lá no fundo ela sabia que não estava só, alguém olhava por ela e por Sandro.

        Ao entrar em sua casa, sentiu um perfume de flores, entretanto, não havia nenhuma flor no ambiente, a sala estava na penumbra. Quando adentrou ao quarto, ela foi até o criado mudo e avistou uma rosa ao lado do remédio de feridas; o mesmo que cegou seu menino.

        Sentou-se na cama e pegou a rosa nas mãos, era apenas um botão vermelho, que exalava um perfume inebriante.
      -Quem teria colocado a flor ali?
       De repente ela sorriu, já sabia a resposta, foi o anjo que a amparou, a mulher negra. Franziu a testa e se lembrou de que não sabia o nome dela. Era muito estranha à situação vivida, pensou a mulher encabulada. Depois, levantou-se apressada adentrando ao banheiro. Tomou um banho rápido, estava se sentindo suja. Antes de sair, colocou a rosa em um copo de água e, com o vidro de remédio na mão seguiu para o Hospital.

      O vento frio da manhã batia em seu rosto e ela sentia que ainda estava viva, apesar de toda aquela loucura que ocorrera em sua vida. Teria que buscar forças para enfrentar a luta que se iniciava naquele dia.

       Sandro foi internado no Hospital de oftalmologia, teria um atendimento especializado; seu caso era grave e irreversível, dissera o médico. Gilda permanecia ao lado do filho, enquanto seu marido levava à notícia aos parentes, que a condenaram impiedosamente.

      Seu coração já estava em frangalhos com a situação e ainda teria que suportar a indiferença do marido e o falatório dos parentes e conhecidos. Porém, ela recebeu apoio de uma prima distante, que viera para ajuda-la, assim que soube do ocorrido.
Sofia era filha de uma tia de Gilda e perdera o filho ainda pequeno; agora estava separada do marido. A criança teve meningite e morreu em três dias, a mulher sofreu muito e quando soube dos acontecimentos na casa da prima ficou nervosa e disse que iria ajuda-la.
       Estava disponível para aliviar as dores de Gilda e seu filho; eles não estavam sós. Curava sua dor da perda ajudando as pessoas necessitadas.

      Sofia cuidava da casa de Gilda enquanto ela acompanhava o filho internado.
      Passados dez dias, Sandro tivera alta do Hospital; as feridas dos olhos estavam cicatrizadas. Voltaria para casa, estava cego; um mundo escuro e difícil se iniciava para ele e sua mãe.

       O pai foi busca-los no Hospital e estava cheirando a álcool; Gilda estranhou, ele não gostava de bebidas.
      –Será que agora iria começar a beber?
Ele mal olhou para ela; pegou o filho no colo e abraçou. Uma coisa era certa, Danilo amava o menino e estava sofrendo muito com aquela situação. Todos da família estavam sofrendo de alguma maneira e a culpada era Gilda. Que fora julgada sem piedade, sem direito de defesa e condenada ao sofrimento eterno.

      O que menos importava para a família de Danilo era seu sofrimento, teria que ficar calada. Até sua família a condenava, ninguém queria ouvir suas explicações. Sua vida estava acabada desde o dia do acidente, agora viveria para diminuir o sofrimento de Sandro. Seria a luz dos olhos de seu filho, jamais o abandonaria.

      Ao chegar a sua casa ela viu a rosa no copo de água, ainda estava viva e com seu perfume espalhado pelo ambiente.
Sofia estava esperando a família com a casa limpa e a comida pronta; Gilda agradeceu a prima com um abraço. Depois pegou um envelope que estava sobre a mesa e abriu. Havia um pequeno pedaço de papel com a frase:
    “Boas vindas”, Dora.
     Não tinha remetente, nem endereço; somente o nome dela na frente. Gilda sorriu, era dela, seu anjo da guarda, a mulher nunca dissera seu nome, porém, ela tinha certeza que era dela o bilhete, tinha o cheiro da rosa vermelha.

     Ela beijou seu filho, Dora estava por perto, ela sentia sua presença.
      Sandro era um menino calmo e gostava de ouvir histórias que sua mãe lia em livros infantis. Gilda ainda não lhe dissera que nunca mais veria as coisas a sua volta, apenas dizia que seus olhos precisavam sarar. Ela e Sofia tiraram móveis e coisas do caminho para facilitar a locomoção do menino. As duas mulheres o guiavam pela casa, pegando em sua mão. Sofia cuidava da casa enquanto a mãe cuidava do menino e seu tratamento.

     Danilo chegava a sua casa já ao anoitecer e sempre cheirando a cachaça. Dava um beijo no filho e caia na cama, ignorando sua mulher.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 23 de maio de 2014

"SE A TUA VIDA DEPENDE DO MEU AMOR, VIVERÁS ALÉM DA VIDA, POIS, TE AMO ALÉM DO AMOR." AUTOR DESCONHECIDO-- NUNCA ESTAMOS SÓS..EVA IBRAHIM.



ALÉM DA VISÃO
                                 CAPÍTULO DOIS.

No dia anterior, Sandro o filho de Gilda, estava com febre decorrente de um forte resfriado. O menino de cinco anos apresentava os olhos purulentos, isto é, com conjuntivite bacteriana. O pequeno foi levado ao Pronto Socorro e medicado; a mãe foi orientada a lavar os olhos do filho e depois pingar um colírio de quatro em quatro horas, até melhorar.

Gilda medicou o menino e o colocou para dormir. Depois de algumas horas de sono, Pai e mãe acordaram assustados com tantos relâmpagos e trovões que clareavam a madrugada. Acabou a energia elétrica e Sandro acordou chorando, seus olhos estavam pregados de secreção. A mãe procurou uma vela e tateando foi até a cozinha para acender o fósforo. Depois, molhou na água, um chumaço de algodão para limpar os olhos do filho e pegou o vidro de colírio, deixando-o sobre o criado mudo, entre outras coisas. O menino estava com medo e a cada relâmpago ele se agarrava a ela, queria abrir os olhos e não conseguia.       
A mulher estava ficando nervosa, a vela apagou quando o vento passou pela fresta da porta e ela tateando pegou o vidro, que estava em cima do criado mudo e pingou nos olhos de Sandro. Dois pingos em cada olho e o menino começou á gritar.

 Danilo, o pai, correu para ajudar; acendeu a vela e olhando o rosto do menino ele também gritou, havia sangue no rosto da criança ou parecia ser isto. Gilda ainda estava segurando o remédio que pingara nos olhos da criança, era iodo, um remédio para curar machucados. O medicamento estava ali porque usara para passar no joelho de Sandro, quando ele caiu da bicicleta. A mulher estarrecida ficou sem ação. Ela não viu que havia outra medicação ali e no escuro se confundiu; os frascos eram parecidos.

O pai pegou o menino e levou até a pia do banheiro, lavando desesperadamente os olhos do filho, porém, ele não parava de gritar; dizia que estava queimando. Gilda não sabia o que fazer e saiu correndo chamar o vizinho, para leva-los ao Pronto Socorro.

Entraram pela emergência, pai e mãe desesperados e o menino gritando que não via nada. O médico de plantão ficou espantado quando examinou os olhos da criança; balançou a cabeça e pediu para a enfermeira localizar o médico da oftalmologia que atendia ali.

 Lavou novamente os olhos de Sandro com água destilada e colocou uma compressa esterilizada para aguardar o especialista.
O médico foi duro quando disse que havia pouca esperança do menino voltar a enxergar; os olhos pareciam queimados, estavam esbranquiçados. Entretanto, aguardariam o exame do colega dele.

  Danilo olhou com ódio para sua mulher e disse que ela era a culpada daquilo tudo. Gilda queria gritar, chorar e saiu correndo da sala de observação. A mulher estava desesperada e não viu as escadas; tropeçou e caiu no chão molhado da chuva da noite. Perdeu os chinelos e saiu enlouquecida pela avenida, queria morrer; nada mais importava.

 A mulher negra ouvia impassível, parecia conhecer aquela história; vez ou outra balançava a cabeça, deixando Gilda desabafar. O silêncio tomou conta do lugar, a moça soluçava baixinho apoiada no ombro amigo. Depois de longos minutos, a ouvinte disse que a levaria até a porta do quarto; precisava ver o filho, que chamava por ela.

Com cuidado disse que Gilda deveria enfrentar a situação, o filho precisava dela e sempre haveria uma saída. Que se agarrasse com Deus, que jamais ele a abandonaria. Quando chegaram ao corredor, a mulher abraçou Gilda, passou a mão em seus cabelos, ajeitando-os, e disse que fosse em paz, depois conversariam.

 A moça, já mais calma, seguiu sem olhar para trás e adentrou a sala de observação onde o filho estava. O marido segurava a mão da criança tentando acalmá-lo. Danilo olhou com raiva e perguntou onde estava. Gilda não respondeu nada, se aproximou e beijou o rosto do filho, que se agarrou a ela.

O médico entrou e pediu que alguém fosse buscar o remédio que foi usado, precisavam saber do que se tratava. A mulher se afastou dizendo que iria até sua casa e voltaria logo. 
Ao descer a escada do Hospital Gilda pisou em uma folha de árvore e só então, viu que estava descalça; sentiu-se envergonhada.
- Estaria vivendo um pesadelo? Pensou, olhou à sua volta e concluiu que era tudo muito real, não poderia acordar.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 16 de maio de 2014

"BUSCAMOS NO OUTRO, NÃO A SABEDORIA DO CONSELHO, MAS O SILÊNCIO DA ESCUTA. NÃO A SOLIDEZ DO MÚSCULO, MAS O COLO QUE A ACOLHEU." RUBEM ALVES-- O MELHOR LUGAR AINDA É DENTRO DE UM ABRAÇO AMIGO. EVA IBRAHIM


A LUZ DE SEUS OLHOS

UM ANJO ME AMPAROU

CAPIÍTULO UM 
       A mulher corria descalça, com os cabelos revoltos, no meio da Avenida. Os carros desviavam e tocavam as buzinas insistentemente. Porém, ela continuava sem rumo, parecia possuída por alguma coisa muito ruim. Nada via e certamente seria atropelada, era um fato iminente.

      Um motociclista foi desviar da mulher e acabou caindo no asfalto; o caos fora instalado. O transito parou para que o rapaz fosse socorrido e a doida continuava no meio dos veículos. Pegava nos automóveis e seguia apalpando como se fossem corrimões, perdera a noção do perigo. Muitos pedestres pararam para ver aquela cena, era de arrepiar, a mulher havia enlouquecido.

      Tinha uma aparência jovem, de cerca de trinta anos; em situação normal, deveria ser bonita. Entretanto, com os cabelos despenteados e o rosto desfigurado parecia ter escapado do manicômio. Não ouvia ninguém, queria fugir de alguma coisa muito grave; parecia impossível detê-la.
      Viera da antiga vila de italianos que existia naquela região, alguém comentou em meio ao burburinho. Outros diziam que ela saíra do Hospital gritando e chorando até chegar ali; não queria falar com ninguém.
      - Queria sumir e nunca mais voltar, foi o que conseguiram ouvir quando ela gritava, entre lágrimas.

       Com tanta gente aglomerada, ninguém percebeu que outra mulher apareceu e abraçou a desvairada, tirando-a da rua. Era uma mulher de cor negra, alta e forte, talvez seja por isso que Gilda se intimidou e concordou em sair dali. A mulher a conduzia como se conduz uma criança, sem largar a mão. Foi levada até uma padaria, onde lhe deram água com açúcar para se acalmar. A mulher, desfigurada, soluçava e não olhava para ninguém, apenas fitava o chão.

      Depois de algum tempo, ela contou que seu nome era Gilda e estava desesperada, porque pingara remédio errado nos olhos de seu filho e o médico dissera que ele estava cego.
A mulher negra, que a socorrera, permanecia em pé ao seu lado, queria protegê-la, foi o que todos pensaram; tinha um olhar firme e profundo.

      Gilda não sabia o que fazer, dizia soluçando com a cabeça entre as mãos; queria sumir e apagar aquela visão de sua mente. Estava em meio ao pior pesadelo que poderia ser imaginado por alguém. Foi um acidente, ela não teve culpa, jamais faria mal ao seu filho. Ela queria morrer, só ainda estava ali porque alguém teria que cuidar de Sandro e ela era a mãe dele.

       A mulher que a acompanhava nem sequer dissera seu nome, entretanto, transmitia uma paz à Gilda, como ela nunca sentira antes. As duas mulheres caminharam abraçadas e sentaram-se no banco da praça em frente ao Hospital onde o menino estava.  E, com a cabeça recostada no ombro amigo da estranha, Gilda começou a voltar á realidade; seu marido ficara lá dentro, depois de acusá-la de cegar o filho. Então, ela voltou a chorar e esconder o rosto com as mãos.

      - Nunca mais teria sossego, sua vida terminava ali; estava muito cansada. Gilda lamentava enquanto as lágrimas corriam pelo seu rosto. A mulher afagava seus cabelos como se fosse sua mãe. Gilda sentia-se amparada pelos braços fortes e a ternura que emanava daquele olhar.
       - Desabafe minha filha, pode chorar, estou aqui para ouvi-la, sussurrou a estranha.
       Então, ela sentiu muita vontade de abrir seu coração e começou a contar o que havia acontecido naquela madrugada.
Um texto de Eva Ibrahim,

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

"AQUELES QUE PASSAM POR NÓS, NÃO VÃO SÓS, NÃO NOS DEIXAM SÓS. DEIXAM UM POUCO DE SI, LEVAM UM POUCO DE NÓS." ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY---ALGUM DIA A GENTE SE ENCONTRA NOVAMENTE. EVA IBRAHIM



                   UMA NOVA VIDA.
                      CAPÍTULO DEZ.
        Clésio se mudara de cidade, sua esposa andava desconfiada de que fora traída e ele não queria mais problemas; era covarde demais para assumir qualquer coisa, preferiu fugir.
       Letícia ainda pensava nele com saudades, pois, tinha consigo um pedacinho dele; o grande amor de sua vida, seu filho André. Um menino bonito, saudável e brincalhão. Clésio não se esquecera de Letícia; por diversas vezes ele a procurara, queria saber do menino.
       Ela promoveu o encontro de pai e filho, dizendo que era um amigo e o menino não percebeu nada, almoçaram juntos. Foi uma despedida, disse Letícia, iria se casar e não queria que ele a procurasse mais. Clésio se foi sem prometer nada, não aceitara bem à notícia. Seu filho iria chamar outro homem de pai, partiu de cara amarrada.
       Agenor gostava de Júlio e fazia gosto no casamento da filha.
      - A menina tivera sorte, o rapaz era bom e trabalhador; seria um ótimo pai para André. Dizia Agenor para sua mulher, que concordava com a cabeça. O casamento fora marcado para o mês de dezembro, no dia do aniversário de cinco anos de André. A família faria uma grande festa; estavam muito felizes.       
      Uma semana antes do casamento Clésio foi esperar Letícia na saída do serviço; queria ficar com o menino. Estava visivelmente bêbado, falava alto gesticulando. A menina ficou assustada e tratou de tirá-lo da rua; entraram em uma Igreja.
      Os dois tiveram uma longa conversa, ela se casaria e ele continuava sua vida com a mulher e as duas filhas. A conversa foi difícil, pois, ele não queria nem uma coisa e nem outra; gostava das duas mulheres e dos filhos também. Ele se agarrou a ela e chorou. Ainda a amava; as lágrimas se fundiram, ela também chorou. Depois ele saiu apressado, não poderia detê-la. Letícia ficou olhando seu amor impossível partir; teria que se conformar.
      André e o irmãozinho de Letícia, seriam os pajens do casamento, pareciam gêmeos; estavam bonitos e felizes. Clésio fazia parte do passado, sua vida iria mudar. Júlio e André, essa era sua família; não poderia decepcionar mais ninguém.
       O casamento aconteceu tranquilamente e na hora dos cumprimentos, na porta da Igreja, ela viu o Clésio. Ele estava lá, queria vê-la vestida de noiva. No meio dos convidados ele passou despercebido, porém, Letícia o viu e acenou com a mão, dando adeus. Ali acabava sua história de amor proibido, agora tinha marido. Trataria de esquecer seu primeiro amor, que aconteceu forte, bonito, inesquecível, porém, impossível.
       A menina e seu marido saíram da festa para a viagem de lua-de-mel, deixando o filho com sua mãe. Quando os convidados saíram e as crianças foram dormir, Agenor abraçou Dora e sussurrou:
       -Estou feliz, casamos nossa menina, mas vou sentir muita falta dela. Quando vejo o André, preciso ver Letícia, os dois formam o corpo e a alma, devem sempre ficar juntos.
      Alguns anos se passaram e André ganhou um casal de irmãos, que ele ajuda a mãe a cuidar. Clésio nunca mais apareceu e o casamento de Letícia vai muito bem. Júlio é um ótimo pai para os três filhos, pois, ele reconheceu André como sendo seu filho.
     Aqui termina a história de Letícia, a menina que escondeu a gravidez até o bebê nascer.
       Um texto de Eva Ibrahim.
Iniciaremos outra história na próxima semana.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

"PROS ERROS, PERDÃO. PROS FRACASSOS, CHANCE. PROS AMORES IMPOSSÍVEIS, TEMPO." LUÍS FERNANDO VERISSÍMO--- AMAR É O SEGREDO DE UMA VIDA FELIZ. EVA IBRAHIM.

PASSANDO A LIMPO.
CAPÍTULO NONO.
        A menina voltou para casa com seu filho e todos os acolheram com carinho. Dora estava feliz e agradecida por seu marido ter perdoado a filha, que estava sinceramente arrependida por ter escondido sua gravidez. Entretanto, ela temia que Agenor fosse tirar satisfações com o pai de André. O marido não sossegaria até esclarecer os fatos, disso ela tinha certeza.
       Letícia continuava trabalhando na padaria e Dora ficava com seu neto. Parecia que estava tudo bem naquela casa; porém, haviam notado a presença de um veículo rondando por ali todas as tardes; era o Clésio querendo ver o filho.
       O pai, preocupado, disse a Letícia que não iria tolerar que ela falasse com aquele cafajeste, ele iria espera-lo para conversar. Agenor fez sinal ao veículo de Clésio para que parasse, queria colocar as coisas em pratos limpos. Não permitiria que aquele homem rondasse a sua casa.
      Clésio desceu do automóvel e com cara de pau disse que queria ver seu filho e ajudar a cria-lo. A vontade de Agenor era pular no pescoço daquele safado, mas, prometera a filha que iria ter calma. O homem disse a Clésio que se afastasse de Letícia ou contaria tudo à sua esposa, não queria e não precisava de ajuda para nada. Se ele insistisse iria chamar a polícia, o menino pertencia a sua família e a mais ninguém.
      O rapaz não tinha argumentos para insistir e foi saindo cabisbaixo. Agenor entrou em sua casa avisando à sua esposa que nunca mais queria ouvir falar naquele homem. André era de Letícia e deles; o menino seria criado junto com seus outros filhos.
       Clésio não desistira, procurava ver a moça quando ela saia do trabalho, não se conformava em ficar longe da criança. Queria conhecer o menino, pegá-lo no colo. Letícia se comovia com os argumentos de Clésio e combinou um encontro.  Iria levar o menino para tomar vacina e deixaria que ele visse André.
       O pai pode, então, conhecer o filho, a menina não queria negar esse direito a ele; ainda o amava. Depois, Clésio se foi com um jeito triste, não poderia reconhecer o menino como seu filho, nem lhe dar o nome.
      Nice ajudava sua irmã a cuidar das crianças, que cresciam como irmãos. Agenor se apegara ao menino com amor de pai.  André saia com o avô e o tio, o irmãozinho mais novo de Letícia. Pareciam irmãos, além de parecidos eram do mesmo tamanho.
      O tempo corria e quando Agenor chegava à sua casa e não via o neto, ficava nervoso. Dizia que mãe e filho pareciam o corpo e a alma; queria vê-los sempre juntos.
      Quando André estava com três anos, Letícia conheceu o Júlio; um mineiro recém-chegado de Uberlândia, com quem fizera amizade. Ela o tinha como amigo, porém, ele a amava e dizia que iria se casar com ela. Letícia ria alto, não pensava em se casar; tinha um filho para criar. A menina estava feliz no seio de sua família; o pai e a mãe lhe davam o apoio necessário e de vez em quando ela via o Clésio, que ainda balançava seu coração.
      Letícia sabia que deveria se manter afastada daquele homem, mas ainda o amava e ele também gostava dela. Então, ela se contentava em sonhar com ele. Júlio era insistente, queria namorar a menina.
      -Letícia continuava obesa como sempre e assim mesmo encontrava pretendente, comentou sua irmã mais velha em conversa com a tia Nice.
      -Pudera! Era vistosa e tinha um sorriso alegre; uma menina cheia de vida; Argumentava Nice.
      Durante dois anos Júlio procurou aproximar-se de Letícia, que já aceitara o namoro com ele. Não era um grande amor, mas um amor tranquilo, que lhe fazia bem.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

"A BELEZA AGRADA AOS OLHOS, MAS É A DOÇURA DAS AÇÕES QUE ENCANTA A ALMA." VOLTAIRE--- A VIDA É ASSIM, O AMOR SEMPRE VENCE. EVA IBRAHIM.

PAI HERÓI.
CAPÍTULO OITO.
  Agenor estava sentado na varanda descansando e ouvindo o seu canário do reino cantar, enquanto esperava Dora preparar o almoço; vez ou outra se levantava para mudar a gaiola de lugar. O homem gostava de ouvir seu passarinho cantar; ficava com o coração mais leve, dizia aos amigos.
     Letícia com André no colo abriu o portão e entrou; quando viu o pai parou, estava com muitas saudades dele, queria lhe dar um beijo. Os dois sempre foram muito ligados; tinham afinidades e gostavam das mesmas coisas. Letícia vivia grudada no pai quando ele estava em casa ou saia para passear de automóvel. Agenor dizia, carinhosamente:
     - Vamos minha “bambina”. E, a menina entrava no veículo toda prosa e saltitante.
      Não guardava rancor dele; queria abraça-lo e pedir perdão; entendia que a surpresa o deixou desnorteado.
      O pai quando viu a filha ficou paralisado, muitas vezes sonhara com aquela situação, porém, agora era realidade. O homem não conseguia tirar os olhos do neto; parecia encantado. Em seguida seu irmão entrou com a mulher, estavam com Letícia; queriam ajuda-los promovendo a reconciliação entre pai e filha.
      Letícia se aproximou e com os olhos cheios de lágrimas disse:
     - Eu errei e o enganei, perdoa-me pai, eu preciso de você.
     A filha ali parada com o bebê no colo e seu irmão olhando para ele o emocionou; precisava respirar, seu coração estava disparado. Como negar perdão à sua menina, que agora era mãe e lhe pedia guarida com o seu neto no colo. Pensava o homem sem ação.
     Que monstro ele seria se não a perdoasse, também era um pecador. Então, Agenor estendeu os braços e pegou o bebê no colo. Ele sempre gostara de crianças e aquele era um menino especial. Dos seus olhos escorriam lágrimas e seu coração só se acalmou quando Letícia o abraçou e beijou; aquele era seu pai.
      Dora ouviu o barulho e foi ver quem havia chegado. Quando presenciou a cena entre pai e filha, a mulher parou e agradeceu a Deus por ter ouvido suas preces; estava feliz com sua família reunida novamente.
     Agenor sentia-se constrangido diante da filha, porém, tentou parecer o mais natural possível. Quando seu irmão e cunhada saíssem ele queria saber quem era o pai de André. Perdoava a filha, mas tinha o direito de saber quem se aproveitara dela.
     Letícia sabia que o pai iria lhe perguntar do pai de seu filho, era inevitável a explicação final. E, ela não poderia mentir se quisesse voltar à casa de seus pais.
     O almoço de domingo transcorreu normalmente e André dormiu na antiga cama de Letícia, que continuava intacta, a espera dela. A família estava alegre com a presença de mãe e filho naquela casa. Teriam que ficar morando ali, pediram os irmãos de Letícia ao pai.
      Agenor chamou a filha para conversar. Ela poderia voltar para casa, mas teria que dizer quem era o responsável por tudo aquilo.
      Letícia abaixou a cabeça e disse ao seu pai que não iria mentir mais. Ela fora culpada, juntamente com Clésio, se apaixonara pelo homem que a cortejava e nunca perguntou se era casado ou solteiro. Entregou-se a ele sem pensar nas consequências, era imatura e inexperiente. Somente quando ficou grávida ela ficou sabendo que ele era um homem casado, por isso se calou. Não queria provocar um aborto como Clésio sugerira, não mataria o próprio filho; preferia morrer. Então, duas lágrimas desceram pelo rosto da menina.
      O pai se comoveu com a sinceridade da filha e prometeu não fazer nenhuma besteira.
Um texto de Eva Ibrahim.

Continua na próxima semana.
MEU MUNDO REINVENTADO.

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